6. DIAGNÓSTICO
AMBIENTAL DO MEIO FÍSICO
De
forma a atender o Termo de Referência Nº 017/99,
o diagnóstico ambiental do meio físico foi dividido
nos seguintes estudos específicos:
•
Meteorologia (item 6.1);
•
Geologia (item 6.2);
•
Geomorfologia (item 6.3);
•
Solos (item 6.4).
•
Recursos hídricos (item 6.5);
•
Qualidade do ar (item 6.6).
Todos os estudos, com base de dados primários e/ou secundários, caracterizaram as Áreas de Influência Direta (AID-5 km e AID-15 km) e a Área de Influência Indireta (AII-50km) definidas para este estudo (ver Volume 1, item 4. Áreas de Influência do Empreendimento, deste EIA).
Os
estudos específicos de Geologia, Geomorfologia, Solos,
Meteorologia, Qualidade do Ar e Recursos Hídricos foram
desenvolvidos pelo Instituto de Geociências (IGEO) do
Centro de Ciências Matemáticas da Natureza -
CCMN - da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. São
eles:
•
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da Central Nuclear Almirante
Álvaro Alberto (CNAAA) - Volume I - Eixo 1 - Meteorologia"
•
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da Central Nuclear Almirante
Álvaro Alberto (CNAAA) - Volume II - Eixo
2 - Geologia e Recursos Hídricos"
•
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da Central Nuclear Almirante
Álvaro Alberto (CNAAA) - Volume III - Eixo
3 - Geomorfologia e Solos"
Os estudos referentes à Oceanografia Física, sub-item do item 6.5 Recursos Hídricos, conforme Termo de Referência acima citado, foram desenvolvidos pelo Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Uerj. O documento-base para a elaboração deste diagnóstico foi o "Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final".
6.1. METEOROLOGIA
- topo
6.1.1.
Caracterização Climática e Condições
Meteorológicas
- topo
O continente sul-americano, em face de sua forma, posição e dimensão, é afetado por sistemas atmosféricos de origens tropical e polar. O comportamento médio desses sistemas determina a sua climatologia sinótica. A partir dessa visão, o entendimento dos fenômenos locais torna-se possível, justificando, por conseguinte, os comportamentos de diversos parâmetros meteorológicos e, por conseguinte, climatológicos.
Sistemas Atmosféricos
de Larga-Escala
A configuração do escoamento médio nos níveis mais baixos da troposfera, nas proximidades da superfície terrestre sobre a América do Sul e os oceanos circunvizinhos, reflete os mecanismos da circulação geral da atmosfera pela presença de dois anticiclones quase-estacionários: do Atlântico Sul e do Pacífico Sul. Esses dois anticiclones são responsáveis, em grande parte, pelas condições de tempo sobre o continente sul-americano, pois deles dependem os demais mecanismos de penetração de massas de ar provenientes do sul, entre outros fenômenos.
O Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), é um sistema quase-estacionário, que existe durante todo o ano, e apresenta variações em sua posição central e abrangência espacial. Em janeiro, seu centro posiciona-se próximo a 25°S/20°W, exercendo influência sobre a parte leste da América do Sul, mais precisamente sobre Caravelas - BA, penetrando até próximo a 42°W, passando sobre o Rio de Janeiro - RJ. Seu limite latitudinal é de 14°S a 33°S. O referido sistema é tratado também como "Alta de Santa Helena" ou "Alta de Ascension".
A circulação desse anticiclone atua durante todo o ano na parte leste do continente sulamericano, ocasionando, a exceção do oeste da Amazônia, ventos regionais predominantes de leste a nordeste. A temperatura em seu interior é relativamente elevada, principalmente no verão, pela intensa radiação solar incidente sobre o sistema.
Outra característica do ASAS é o elevado grau de umidade absoluta, devido a intensa evaporação que ocorre sobre a camada superficial oceânica. Sendo quente e úmido, poderia ser esperada a formação de extensas e bem desenvolvidas nuvens; no entanto, tal processo não ocorre devido aos movimentos verticais descendentes ("subsidência"), o que cria, adicionalmente, um elevado grau de estabilidade, principalmente nas sua porção mais central. O vapor d' água evaporado da superfície oceânica fica limitado à camada superficial, originando, por vezes, nuvens estratiformes baixas. Tais características, no entanto,
modificam-se no continente, principalmente no setor ocidental do Brasil. A inversão térmica superior, que limita a concentração da umidade nos níveis próximos à superfície, encontra-se mais elevada nessa região, haja vista a influência da corrente oceânica quente do Brasil.
Ao estudarem a importância dos processos advectivos na convecção amazônica, pesquisadores constataram a existência de um intenso fluxo de vapor d' água proveniente do Oceano Atlântico, de leste para oeste, na baixa e média troposfera, em Belém e em Manaus. Entretanto, esse fluxo não origina precipitações na região, pois o vapor d' água é transportado predominantemente na direção do interior do Brasil pela circulação do ASAS. Na sua borda oriental, o ASAS atinge a costa oriental da África, sobre a corrente oceânica de Benguela, proveniente das latitudes mais elevadas, o que concorre para uma maior estabilização do ar.
Pelo que foi exposto, conclui-se que a borda leste do ASAS apresenta características estáveis, enquanto a borda oeste apresenta condições instáveis. Devido às correntes descendentes, o seu centro apresenta domínio de estabilidade, inibindo qualquer formação de nebulosidade e, por conseguinte, qualquer fenômeno meteorológico que contenha precipitação. Por vezes, somente uma névoa seca é percebida sobre locais afastados dos grandes centros urbanos e na proximidade desses. Para uma atmosfera estável nota-se uma mistura de poluentes e de névoa seca, tornando o ar bastante contaminado.
Outro sistema de grande-escala de destaque na América do Sul é o Anticiclone Subtropical do Pacífico Sul (ASPS). Esse sistema não atua diretamente sobre o continente nos baixos e médios níveis devido ao bloqueio causado pela Cordilheira dos Andes, que o mantém exclusivamente sobre o Oceano Pacífico. A circulação atmosférica na sua borda leste é induzida pela orientação da Cordilheira, predominantemente na direção sul-norte, o que promove um escoamento induzido de ar frio no sentido sul-norte. Essa circulação troposférica fria e seca, associada com a circulação marítima - corrente fria de Humbolt - estabelece um elevado grau de estabilidade, resultando numa ausência de precipitações na costa oeste do
continente. Um papel relevante do ASPS em sua porção mais austral é o desvio, para leste, dos sistemas polares migratórios com trajetórias pelo Oceano Pacífico.
A exemplo do ASAS, o ASPS também sofre modificações sazonais em suas características, intensificando-se e deslocando-se para norte, no inverno, devido à variação havida no gradiente térmico do Hemisfério Sul. Nessa época, ainda, o "ASAS" exerce maior penetrabilidade continental, atuando nas partes leste e central do Brasil equatorial.
As oscilações sazonais do "ASAS" exercem um papel relevante sobre o clima do Brasil. O Rio de Janeiro fica sob seu domínio, principalmente no inverno, levando a condições predominantes de pouca ou nenhuma nebulosidade, além de ausência de precipitações - "período seco". O "ASPS", apesar de mais intensificado no inverno, não exerce tanta influência direta sobre as condições de tempo no continente sul-americano na baixa e média troposfera.
Um outro sistema, em menor escala que o "ASAS", mas que se mantém presente no verão sobre o continente sul-americano, é o Anticiclone Continental (AC) - um sistema também permanente nessa época do ano. Estende-se de 10°S a 25°S e de 52°W a 72°W, com centro localizado em 17°S e 62°W, aproximadamente.
Um sistema de destaque sobre a América do Sul é a denominada "Baixa do Chaco", localizada sobre o Chaco Paraguaio (17°S/65°W, aproximadamente). É formada em função do grande aquecimento continental no verão. Esse sistema de baixa pressão, puramente térmico, apresenta convergência do ar circunvizinho nos baixos níveis, liberando calor latente na alta troposfera pela convecção profunda no interior do continente. Essa situação apresenta uma grande modificação sazonal, não ocorrendo no inverno na região devido ao continente estar relativamente mais frio que os oceanos circunvizinhos. O sistema de baixa continental nessa época posiciona-se no extremo noroeste do continente sul-americano.
Avaliando a circulação de superfície, verifica-se também a ocorrência de uma maior penetração do "ASAS" sobre a parte leste do Brasil no mês de julho (inverno), o que leva a formação de "bom tempo" àquela região. Em janeiro, no interior do continente, a presença da Baixa do Chaco gera uma extensa faixa de convergência com a circulação proveniente do "ASAS", o que induz a uma maior penetração de umidade nos baixos níveis, transportada pelos Alíseos do Hemisfério Norte ao Oeste da Amazônia e pelos Alíseos do Hemisfério Sul na costa nordeste.
A chamada Zona de Convergência do Atlântico Sul ou Zona de Convergência da América do Sul (ZCAS) tem sido ultimamente apontada como um dos principais sistemas formadores de precipitação no verão nas Regiões Sul e Sudeste. A ZCAS é uma faixa de nebulosidade e precipitação, com orientação noroeste-sudeste, que se estende desde o sul da região Amazônica até a região central do oceano Atlântico Sul. É percebida com nitidez a partir de imagens de satélites meteorológicos, entre outros produtos.
Sistemas Transientes
Influenciadas pelos sistemas de grande-escala, as condições de tempo locais são determinadas por perturbações transientes, que migram e modificam-se enquanto transportadas pela circulação dominante. Esses sistemas apresentam durações variadas, desde horas até dias, e atuam em praticamente todas as latitudes.
As frentes frias, originadas do deslocamento das massas polares em direção às baixas latitudes, são os sistemas transientes dominantes nas latitudes médias. As frentes quentes e as linhas de instabilidade ocorrem também nas latitudes tropicais, embora essas regiões, por serem condicionalmente instáveis e essencialmente barotrópicas, estejam principalmente sujeitas aos mecanismos convectivos, tendo nas nuvens cumuliformes, seus agentes mais importantes na geração de precipitações.
Anticiclones Polares
e Frentes Frias
O anticiclone polar constitui-se numa massa de ar que tem origem na superfície gelada no continente Antártico. Como anticiclone, esse sistema polar apresenta circulação anti-horária, com ventos divergentes à superfície dirigidos para a zona depressionária subantártica, originando nessa região as chamadas massas de ar polar. Essas massas, chamadas de Anticiclones Polares Migratórios (APM), invadem periodicamente o continente sul-americano numa trajetória predominante de sudoeste (SW) para nordeste (NE). Desde sua origem o "APM" passa por várias regiões com características distintas, o que causa alterações nas suas propriedades. Na sua origem o "APM" apresenta forte inversão de temperatura, com ar frio e seco, sendo, portanto, muito estável. À medida que o sistema se desloca na direção do equador vai absorvendo calor e umidade da superfície do mar, relativamente mais quente, o que o torna gradualmente mais instável. Com essa estrutura, o "APM" invade o continente sul-americano entre os dois anticiclones quase-estacionários, o "ASAS" e o "ASPS", segundo trajetórias distintas: uma a oeste e a outra a leste dos Andes.
O "ASPS" e o "ASAS", no entanto, exercem um efeito bloqueador ao "APM", impedindo o seu deslocamento para as latitudes mais baixas e fazendo com que esses derivem para leste.
A sazonalidade é um fator importante, tanto para as características, como para as trajetórias adquiridas pelos "APM’s". Durante o inverno, um "APM" que se desloca em direção às latitudes mais baixas torna-se mais intenso e apresenta maiores dimensões espaciais do que nas demais épocas do ano. Sua freqüência, normalmente, também é pouco maior. Ao atingirem o continente, essas massas de origem polar sofrem, nos níveis mais baixos, um maior efeito do atrito face à topografia acidentada da superfície, sujeitando-se a freqüentes bloqueios em seu deslocamento. Se a frente fria (faixa de separação entre o ar polar e o ar tropical) é empurrada por uma intensa massa de ar, essa não será tão deformada quando atingir áreas de topografia mais acidentada, como a Serra do Mar, penetrando mais para o norte sem perdas significativas na sua forma original.
No verão, além das incursões de ar de origem polar serem menos freqüentes, os "APM’s" que avançam em direção ao norte apresentam relativamente menor intensidade e penetrabilidade continental. Apesar disso, resultam em condições de tempo mais severos do que no inverno, à medida que ultrapassam as latitudes de aproximadamente 30ºS. Em sua movimentação periódica para o equador, um "APM" é forçado a penetrar entre as duas células de alta pressão ("ASPS" e "ASAS"), percorrendo três trajetórias diferentes sobre a América do Sul.
As variações sazonais, em intensidade e tamanho, nas massas polares, no "ASPS" e no "ASAS", além de topografia do continente (notadamente a Cordilheira dos Andes e o Maciço Brasileiro), são fatores condicionantes ao deslocamento e trajetórias preferenciais dos "APM’s".
Uma trajetória preferencial dos "APM’s" e de suas frentes associadas é a que segue o Oceano Pacífico, denominada "trajetória do Pacífico". Devido a grande altura da Cordilheira dos Andes, sobretudo a partir de 30°S, as massas de ar que percorrem tal trajetória se apóiam na vertente oeste das montanhas, sem ultrapassá-la. No Peru, no entanto, com a mudança de direção da costa, já é possível distinguir frentes nas invasões excepcionalmente fortes do inverno, sem que a massa consiga ultrapasse a zona central do Chile. Sobre a Baixa Continental no interior do continente, a presença da "Alta da Bolívia" induz uma circulação de sudoeste (SW) que tende a conduzir um "APM" para o litoral do Atlântico, impedindo as trajetórias pelo continente, onde os ventos em altitude são de noroeste (NW). Os "APM’s" que percorrem a trajetória atlântica e atingem a zona tropical, chegam bastante transformados, de modo que se torna pouco sensível o seu efeito sobre a temperatura. Essas massas frias, ao se dirigirem às latitudes mais baixas, tendem a se opor à circulação de nor-nordeste da borda noroeste do "ASAS", formando frentes bem definidas. Essas frentes se deslocam para nordeste (NE) com o avanço de "APM’s" e apresentam ondulações ciclônicas, sobretudo sobre o oceano. A partir de 15°S , na região dos Alíseos de sudeste , um "APM" passa a perder suas características, uma vez que a trajetória é marítima, sendo incorporado ao sistema dinâmico "ASAS".
Na terceira trajetória, a massa polar segue pelo interior do continente entre a Cordilheira dos Andes e o Maciço Brasileiro, conduzindo ar frio através do Estado do Mato Grosso em direção ao Alto Amazonas. Num caso de uma forte invasão de inverno, a massa polar pode ocupar as três trajetórias simultaneamente e atingir o Alto Amazonas no fenômeno térmico conhecido localmente como "friagem". No verão, entretanto, devido à presença da baixa continental, com circulação de norte a noroeste pelo setor mais interior, a penetração dos "APM`s" pela trajetória continental passa a ser mais dificultada. Portanto, a terceira trajetória é, na verdade, a mais freqüentemente percorrida no inverno, sendo que nem sempre provoca o fenômeno da "friagem" em virtude das transformações ocorridas durante seus deslocamentos. Em alguns casos, durante o verão, as frentes frias tornam-se quaseestacionárias sobre a costa do Sudeste do Brasil, próximo a 20°S, devido ao chamado processo de "bloqueio". Uma convecção organizada surge então associada a essa frente, intensificando a atividade frontal sobre a região entre 15°S/20°S e 40°W/50°W, podendo ocasionar precipitações intensas e de maior duração.
Dependendo do tempo de atuação desses sistemas sobre a região, poderão surgir índices elevados de precipitações pluviométricas em determinados locais, o suficiente para originar grandes desvios positivos em relação à precipitação normal da época.
Ainda com relação a quase-estacionaridade de frente polar, destaca-se a condição peculiar pós-frontal, ou seja, na retaguarda da frente fria, a ocorrência de precipitações fracas e de caráter contínuo, e associada a uma nebulosidade estratiforme. Essa situação é denominada tecnicamente por "efeito de circulação marítima", em razão do bloqueio da massa polar pelo "ASAS", o que leva a manutenção da circulação leste ou mesmo sudeste em direção ao litoral. No Rio de Janeiro, esta situação pode criar uma situação de transporte de umidade e nuvens baixas pela Baía de Sepetiba, propiciando condições favoráveis à precipitação até mesmo na região de Itaguaí.
A Região Sudeste também está submetida a sistemas convectivos de mesoescala, devido ao aquecimento do ar na superfície, o que contribui sobremodo para a ocorrência de chuvas intensas nessa região.
Sistemas Convectivos
de Mesoescala
Os Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) são definidos como qualquer agrupamento de nuvens convectivas com forma linear ou circular e que em algum estágio do ciclo de vida contém núcleos convectivos e chuvas nas regiões adjacentes originárias ou não desses núcleos. No espectro dos "SCM" destacam-se as Linhas de Instabilidade (LI) e os Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM).
Linhas de Instabilidade
Tropicais
As linhas de instabilidade tropicais (LIT) são depressões barométricas, na forma de linhas alongadas, acopladas em pequenas dorsais pelos sistemas de altas pressões originários do interior do continente. São formadas sobre os Estados do Pará e Amazonas, como resultado do ciclo de aquecimento diurno e, enquanto tendem a um estágio de maturidade, deslocam-se para sudeste. Sua formação se dá normalmente entre 12:00 e 18:00 horas. Essas "LIT’s", que constituem, na verdade, um sistema dinâmico de convergência, causam uma ascensão do ar que, dependendo do grau de umidade e da força ascensional, levam a formação de chuvas e trovoadas de curta duração, acompanhadas de ventos com rajadas que podem atingir de 60 a 90 km/h. Tais fenômenos ocorrem especialmente no verão e são resultantes do decréscimo geral da pressão, motivado pelo forte aquecimento do interior do continente. Sua origem parece estar ligada ao movimento ondulatório que se verifica na frente polar, ao contato com o ar quente da zona tropical. A partir dessas ondulações, forma-se uma ou mais linhas de instabilidade tropicais ao norte da frente polar sobre o continente, que se desloca(m) para sudeste.
Observacionalmente tem-se verificado que quando uma frente fria está atuando na área do Rio de Janeiro ocorre um atraso no deslocamento da(s) "LIT’s". Esses sistemas são detectados em certas sinóticas diárias e imagens de satélite, podendo permanecer por um período de quatro a seis dias sem apresentar atividade, mas apenas nuvens do tipo Altocumulus, que migram inseridas na circulação dominante. Na situação em que essa descontinuidade tropical esteja a noroeste de Brasília-DF, por exemplo, observa-se a formação de um pequeno sistema de "alta pressão" localizado entre Brasília e Belo Horizonte, o que desfaz os grandes cúmulos e dá origem a nuvens Stratocumulus de mesma base e que se deslocam ao sabor do regime predominante de circulação. Essas linhas, em sua trajetória típica de noroeste-sudeste, atingem o estado de Minas Gerais e, por vezes, avançam e passam pelos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, provocando trovoadas/relâmpagos acompanhados, na maioria dos casos, por fortes precipitações.
Complexos Convectivos
de Mesoescala
Os Complexos Convectivos de Mesoescala são conjuntos de Cumulonimbos cobertos por densa camada de nuvens do tipo Cirrus, que podem ser facilmente identificados em imagens de satélite como sendo sistemas de nuvens aproximadamente circulares e com um crescimento explosivo num intervalo de tempo de 6 a 12 horas. Na Região Sudeste, durante o inverno, esses sistemas convectivos surgem com reduzida freqüência e se deslocam para leste, num comportamento mais zonal. Durante o verão, este deslocamento torna-se de sudoeste para nordeste, percorrendo uma distância relativamente maior que no inverno.
Os efeitos da topografia na precipitação podem variar desde a intensificação, dissipação ou formação de bandas de chuva associadas aos ciclones extratropicais, dependendo da forma e declividade do relevo, do escoamento do ar e do tipo de banda de chuva. Entretanto, é preciso mencionar que o efeito orográfico é diferente nos trópicos e nos extratrópicos. Enquanto nas latitudes médias, quanto mais alto, maior é a quantidade de precipitações, nos trópicos esse efeito é verificado apenas até elevações da ordem de 1.000 a 1.500 metros. Esse diferencial reside no fato de nos trópicos a umidade se concentrar nos baixos níveis e a advecção horizontal de vapor d' água ser relativamente reduzida, sendo os movimentos verticais predominantes como mecanismos de instabilização da atmosfera.
O relevo do Estado do Rio de Janeiro apresenta uma grande diversidade morfológica, variando entre regiões de baixadas (Baixada Litorânea), vales (Vale do Paraíba do Sul) e serras (Serra do Mar e Mantiqueira). Essas unidades topográficas exercem uma influência muito acentuada na distribuição da precipitação no Estado do Rio de Janeiro. A disposição da Serra do Mar e da Mantiqueira quase perpendicularmente ao escoamento médio na baixa troposfera associada às descontinuidades das perturbações extratropicais e tropicais provocam um aumento considerável das precipitações em função da altitude, quando comparada com as mesmas situações atmosféricas nas regiões do Vale do Paraíba e Baixada Litorânea.
Os gradientes térmicos associados com o tipo de superfície podem induzir às circulações locais tais como brisas marítimas e terrestres e circulações de vale e montanha. A topografia local e a distância da fonte de umidade (oceano, lago, etc.) influenciam na distribuição da precipitação, formando regiões de convergência de massa e umidade em superfície, que podem se propagar continente adentro. Pesquisas atuais têm mostrado alguma correlação entre o aumento de precipitações em áreas urbanas poluídas por partículas em suspensão, uma vez que essas partículas passam a atuar como núcleos de condensação que
podem levar a formação de gotas de chuva potencialmente precipitáveis.
Além dos mecanismos apontados acima, o regime de precipitação inter-anual na Região Sudeste como um todo é influenciado pelo mecanismo conjunto "El Niño/Oscilação Sul", denominado de fenômeno "ENOS" (ou "ENSO", do termo em inglês: "El Niño/Southern Oscillation". O fenômeno "EL Niño" refere-se a um aumento anômalo das temperaturas da superfície do mar no Pacífico Leste Equatorial durante o verão do Hemisfério Sul. O fenômeno da Oscilação Sul é caracterizado por uma oscilação da pressão ao nível do mar, observada entre as regiões da Indonésia e o Oceano Pacífico Leste. O "El Niño" ocorre durante a fase negativa da Oscilação Sul. Um exemplo da atuação desse fenômeno foram as chuvas intensas e enchentes ocorridas entre 1983, ano forte de "EL Niño".
Pelo panorama simplificado apresentado acima, vê-se que os mecanismos desencadeadores dos diversos fenômenos meteorológicos envolvem interações complexas entre as configurações de larga-escala e meso-escala, algumas das quais ocorrendo em muito curto intervalo de tempo.
O Brasil, por ser um país de grande extensão territorial, possui diferenciados climas, refletidos principalmente nos distintos regimes de precipitação e temperatura. De norte a sul constata-se a existência de uma grande variedade de climas com distintas características regionais. Na Região Norte do país verifica-se um clima equatorial chuvoso, praticamente sem estação seca. Na Região Nordeste, a estação chuvosa, com baixos índices pluviométricos, restringe-se a poucos meses, caracterizando um clima semi-árido. As Regiões Sudeste e Centro-Oeste sofrem influência tanto de sistemas tropicais como de latitudes médias e apresentam uma estação seca bem definida no inverno e uma estação chuvosa de chuvas convectivas no verão. Na Região Sul do Brasil, devido à sua localização latitudinal, sofre mais influência dos sistemas de latitudes médias, onde os sistemas frontais são os principais causadores de chuvas durante o ano.
A Região Sudeste, devido à sua posição latitudinal, caracteriza-se por ser uma região de transição entre os climas tropicais quentes e os climas do tipo temperado das latitudes médias. O sul da Região Sudeste é afetado pela maioria dos sistemas frontais que atinge o sul do país. Muitas vezes os sistemas frontais frios não chegam a atingir o norte da referida Região, vindo a percorrer uma trajetória marítima afastada do continente.
Vórtices ciclônicos em altos níveis, oriundos da região do Pacífico organizam-se com intensa convecção associada à instabilidade causada pelo jato subtropical. Linhas de instabilidade pré-frontais, geradas a partir da associação de fatores dinâmicos de grande escala e características de meso-escala, são responsáveis por intensas precipitações.
Especialmente sobre a Região Centro-Oeste, a Alta da Bolívia, gerada a partir do forte aquecimento convectivo (liberação de calor latente) da atmosfera durante os meses de verão do Hemisfério Sul, é considerada como um sistema tipicamente "semi-estacionário" da Região. Uma situação estacionária da circulação de grande escala em latitudes médias pode influir diretamente na precipitação e temperatura sobre a Região Sudeste, caso a referia Região esteja ou não sendo afetada por sistemas associados ao escoamento ondulatório da atmosfera. Esse tipo de situação é denominado de bloqueio e afeta, além do Sudeste, também a Região Sul do Brasil.
Fenômenos originados a longas distâncias do Brasil podem levar a alterações temporárias de grande magnitude, como é o caso do El Niño.
O fenômeno El Niño é caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial Oriental. O aquecimento e o subseqüente resfriamento num episódio típico de El Niño duram de 12 a 18 meses. A evolução típica do fenômeno mostra uma tendência de iniciar-se no começo do ano, atingindo sua máxima intensidade durante dezembro daquele mesmo ano e janeiro do ano seguinte, vindo a se enfraquecer na metade deste segundo ano.
Estudos recentes indicam que principalmente três regiões no Brasil - o semi-árido do Nordeste, as partes norte e leste da Amazônia, o sul do Brasil e suas vizinhanças são afetadas de maneira pronunciada pelas mudanças na circulação atmosférica durante episódios de El Niño. A Região Sul do Brasil é afetada por aumento de precipitação, particularmente durante a primavera no ano de surgimento do evento e, posteriormente, no fim do outono e início do inverno do ano seguinte. O norte e o leste da Amazônia e o Nordeste do Brasil são afetados pela diminuição da precipitação, principalmente, no último, entre fevereiro e maio, quando se tem a estação chuvosa do semi-árido. O Sudeste do Brasil apresenta temperaturas mais altas, tornando o inverno menos rigoroso. Já para as demais regiões do país os efeitos são menos pronunciados e variam de um episódio para o outro.
No episódio mais recente de El Niño (1997-98), considerado pela Organização Meteorológica Mundial, órgão vinculado à ONU - Organização das Nações Unidas, como o mais intenso da história, os mecanismos atmosféricos estabelecidos se mantiveram até abril/maio de 1998, com intenso vigor, impedindo que as massas polares ultrapassassem o Sul do Brasil, o que levou a inundações no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, bem como a alteração dos mecanismos de precipitação regular sobre o Nordeste Brasileiro, entre fevereiro e maio, levando a uma seca extrema à grande parte daquela região.
Numa retrospectiva histórica desde o início do século, os eventos El Niño e La Ninaocorreram conforme a Tabela 1.
Tabela
1 - Retrospectiva histórica dos eventos El Nino e La
Nina
EL NIÑO |
LA NIÑA |
EL NIÑO |
LA NIÑA |
EL NIÑO |
LA NIÑA |
1900-01 |
1903-04 |
1939-40 |
1949-50 |
1972-73 |
- |
1902-03 |
1906-07 |
1940-41 |
1954-55 |
1976-77 |
- |
1905-06 |
1908-09 |
1941-42 |
1964-65 |
1977-78 |
- |
1911-12 |
1916-17 |
1946-47 |
1970-71 |
1982-83 |
- |
1914-15 |
1920-21 |
1951-52 |
1973-74 |
1986-87 |
- |
1918-19 |
1924-25 |
1953-54 |
1975-76 |
1991-92 |
- |
1923-24 |
1928-29 |
1957-58 |
1988-89 |
1993-94 |
- |
1925-26 |
1931-32 |
1963-64 |
1998-99 |
1997-78 |
- |
1930-31 |
1938-39 |
1965-66 |
- |
- |
- |
1932-33 |
1942-43 |
1969-70 |
- |
- |
- |
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo
I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
Os eventos de El Niño de 1997-98 e o de 1982-83 foram, respectivamente, os dois mais intensos registrados até então. Para o La Niña, os registros dão conta de que o mais intenso ocorrido tenha sido o corrido em 1998-99, que sucedeu ao maior episódio histórico de El Niño (1997-98).
Neste último grande episódio do El Niño, em 1997 os seus efeitos já eram percebidos a partir de agosto, quando as chuvas situaram-se acima da média sobre o sul do País, com outubro e novembro sendo os meses mais chuvosos naquela região. Em outubro observaramse as maiores anomalias positivas de precipitação sobre o Sul, recebendo o noroeste do Rio Grande do Sul chuvas até 300% acima da média climatológica. Houve inundações localizadas nas bacias dos rios Uruguai e Iguaçu. Grandes extensões da Amazônia, notadamente o centronorte e leste receberam chuvas abaixo da média desde setembro. Esta estiagem provocou impactos adversos na geração hidrelétrica e no aumento do número de queimadas naquela região durante a estação seca.
A Região Sudeste é também caracterizada pela atuação de sistemas que associam características de sistemas tropicais com sistemas típicos de latitudes médias. Durante os meses de maior atividade convectiva, a "Zona de Convergência do Atlântico Sul - (ZCAS)" é um dos principais fenômenos que influenciam no regime de chuvas dessas Regiões. O fato da banda de nebulosidade e chuvas permanecerem semi-estacionárias por dias seguidos favorece a ocorrência de inundações em diversas áreas do Estado, como se tem visto em inúmeras
ocasiões.
Nas regiões serranas, localizadas na parte leste do Sudeste, são registrados os extremos mínimos de temperatura durante o inverno do Hemisfério Sul, enquanto as temperaturas mais elevadas são observadas no Estado de Mato Grosso. Essa região é caracterizada pela presença de intensa atividade convectiva nos meses de maior aquecimento radiativo. Um forte gradiente térmico no limite das Regiões Sudeste e Centro-Oeste também ocorre. Este gradiente é resultado do deslocamento das massas frias de altas latitudes, que afetam principalmente os estados do Sudeste e o Mato Grosso do Sul.
Em geral a precipitação distribui-se uniformemente nessas Regiões, com a precipitação média anual acumulada variando em torno de 1500 e 2000 mm. Dois núcleos máximos são registrados na região do Brasil Central e no litoral da Região Sudeste, enquanto que no norte de Minas Gerais verifica-se uma relativa escassez de chuvas ao longo do ano.
6.1.1.1.
Caracterização Climática no Estado do
Rio de Janeiro
- topo
É marcante a diversidade climática do Estado do Rio de Janeiro, sobretudo quando se consideram as dimensões de seu território.
As temperaturas médias são significativamente influenciadas pela combinação relevoaltitude, assim como o regime e a distribuição dos totais pluviométricos, que também depende da posição do local em relação a advecção de umidade.
As porções continentais fluminenses encontram-se imediatamente ao norte do Trópico de Capricórnio, o que garante um superávit energético de origem solar em praticamente todo o ano.
Outro elemento importante para a caracterização climática do Estado do Rio de Janeiro é a presença do Oceano Atlântico ao longo dos seus limites meridionais e orientais. O Oceano funciona como um poderoso regulador térmico e promove uma ampla suavização das temperaturas nas porções mais litorâneas. O aporte de vapor d' água continente à dentro é mantido na maior parte do ano pelas brisas marítimas e pela circulação de larga-escala associada a borda oeste do "Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul - ASAS". No entanto, este aporte é variável espacialmente, uma vez que as características de superfície (rugosidade) podem favorecer ou não a maior penetrabilidade dessas circulações para dentro do continente. Até o momento, são poucos os trabalhos que modelam com maior fidedignidade as características locais das brisas marítimas ao longo do litoral do Estado do Rio de Janeiro. De certo, elas ocorrem, mas podem apresentar peculiaridades em função das interações oceanoatmosfera-superfície continental, notadamente em relação às variações de contorno e orientação da linha-de-costa. A elevada umidade do ar e os elevados índices pluviométricos reinantes no Estado confirmam a influência da maritimidade no clima regional, mesmo em localidade mais afastadas do litoral.
O entendimento da diversidade climática do Rio de Janeiro passa pela combinação de uma série de fatores geográficos e atmosféricos. A interferência da topografia acidentada e compartimentada do Estado é marcante, as escarpas falhadas separam superfícies montanhosas, que mergulham para o interior, de outras planas a suavemente onduladas, que se estendem desde o Município do Rio de Janeiro até o Norte Fluminense, constituindo as baixadas litorâneas. A associação topografia-maritimidade é responsável pelo aumento da turbulência do ar, podendo induzir a formações de nuvens convectivas de grandes dimensões
verticais, que podem gerar chuvas orográficas nas cotas mais elevadas da Serra do Mar e da Mantiqueira.
Pode-se afirmar que a baixa atmosfera do Estado do Rio de Janeiro encontra-se submetido, ao longo do ano, aos ventos regionais de Leste e Nordeste, que sopram associados à borda ocidental do Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul. No entanto, há que se considerar o fato da interação e mudança desses regimes na camada mais baixa da troposfera pela interferência dos efeitos de meso-escala e mesmo local.
6.1.1.2.
Climatologia da Área de Influência Direta do
Empreendimento
- topo
Localizada ao Sul do Estado do Rio de Janeiro, a área onde se localiza a CNAAA possui um microclima típico de região litorânea tropical, influenciada por fatores, como latitude e longitude, proximidade do mar, topografia, natureza da cobertura vegetal e, sobretudo, as ações das circulações atmosféricas de larga e meso-escalas, como frentes frias brisas marítimas/terrestres, respectivamente.
São analisados, a seguir, os parâmetros mais relevantes para a caracterização climatológica em Angra dos Reis - RJ, por meio dos parâmetros: direção e velocidade do vento, temperatura do ar, umidade relativa do ar, pressão atmosférica, precipitação pluviométrica, evaporação, insolação, radiação solar e nebulosidade.
Numa primeira avaliação foram combinadas as diversas informações climatológicas oriundas do Instituto Nacional de Meteorologia - INMET (Mapas das médias de 1931-90 e Atlas Climatológico do Brasil - Versão 1969), além das Normais Climatológicas de 1961-90 de Seropédica (22º 46’S/43º 41’W), dos dados pluviométricos da Aneel e dos dados do período 1968-98 originados no National Center of Environmental Prediction - NPCEP dos Estados Unidos da América do Norte, o que permitiu caracterizar regionalmente os parâmetros meteorológicos mais relevantes da região onde se localiza o empreendimento e entorno.
Complementarmente, foram usadas as informações locais das quatro torres meteorológicas instaladas na área CNAAA, sendo que uma delas (a denominada Torre A) apresenta três níveis distintos (100 m, 60 m e 10 m), onde em cada um deles existe um sensor de vento (direção e velocidade) e de temperatura do ar. Nas demais torres (denominadas Torres B, C e D) apenas são medidas, as direções e velocidades dos ventos. A distribuição das torres meteorológicas existentes na área da CNAAA pode ser vista na Figura 1. Como se percebe, as torres meteorológicas encontram-se estrategicamente distribuídas no entorno das Unidades 1, 2 e 3, permitindo uma gestão ambiental mais eficaz por parte da Eletronuclear.

Figura 1 - Localização das torres meteorológicas
da CNAAA
Fonte: Angra 3 Preliminary Safety Analysis Report (PSAR)
- Rev 0 - Abril, 2002
6.1.1.2.1.
Programa de aquisição de dados de meteorologia
da CNAAA. -
topo
O programa de aquisição de dados de meteorologia consiste de instrumentação instalada no local da usina e uma estação central de aquisição automática que recebe, estoca e processa os dados coletados.
A instrumentação instalada mede vento, temperatura, umidade relativa do ar e precipitação pluviométrica. A torre principal esta localizada a norte-noroeste do sitio e possui três níveis de medição.
Três torres satélites adicionais de 15 metro de altura denominadas B, C e D estão instaladas na vizinhança do sítio medindo direção e velocidade do vento.
Cada torre possui um datalogger em sua base para coletar os sinais enviados dos sensores. Eles convertem os sinais em sinais digitais a intervalos de 5 segundos e estoca em sua memória.
Uma estação central, localizada na Sala de Controle da Unidade 1, recebe os dados dos dataloggers usando sinais de rádio enviado por modens em intervalos regulares.
Esta estação, um microcomputador industrial, coleta os dados das torres e estoca em disco. Nesta estação uma interface homem -máquina permite ao operador realizar várias funções, como verificar, em tempo real, os dados de todas as torres bem como dados passados.
Os
datalogers são microcomputadores que contem programas
internos que permitem estocar dados em sua memória
e realizar as seguintes funções:
1. Coleta dados dos sensores;
2.
Converter dados em unidades de engenharia;
3.
Estocar dados em sua memória interna;
4.
Calcular a cada 15 minutos a média e o desvio padrão(direção
do vento) de cada variável;
5.
Transmitir por radio os dados para a estação
central usando os modems;
A
estação central realiza as seguintes funções:
1.
Envia os dados de cada torre a cada 90 segundos para uma amostragem
em tempo real;
2.
Envia os dados de cada torre a cada 15 minutos para gravar
as médias;
3.
Estoca todos os dados de 15 minutos e grava em arquivos em
seu disco rígido.
4.
Envia os dados ao SICA para permitir ao operador verificar
os dados em tempo real para ser processado pelo SCA;
5.
Gera o histórico e a rosa dos ventos;
6.
Imprimi relatórios;
Todos os dados estocados no microcomputador devem ser transferidos para um disco de back-up.
Os técnicos da usina realizam manutenção preventiva de acordo com os manuais dos equipamentos.
Calibrações devem ser realizadas em intervalos regulares de acordo com os procedimentos da usina.
Um estoque das partes do sistema deve estar disponível de forma a atender a operação normal minimizando as interrupções.
Tabela
2 - Sistema de Meteorologia da Central Nuclear Almirante Álvaro
Alberto
INSTRUMENTO |
PARÂMETRO |
TORRE |
ALTURA DA BASE DA TORRE AO SENSOR (m) |
ALTITUDE DA BASE DA TORRE (m) AO NMM |
CARACTERíSTICAS DOS INSTRUMENTOS |
vento |
velocidade e direção |
A |
100/60/10 |
40 |
Modelo Met One 010C (Velocidade) anemômetro tipo três conchas de Robson com 0.27 m/s de vel. de partida, 165m de constante de distância e ± 1% de precisão.
Modelo Met One 020C (Direção) com 0.25 m/s de vel. de partida, constante de amortecimento de 0.4 a 0.6, a constante de distância menor que 1m e precisão de ± 3%. |
vento |
velocidade e
direção |
B |
15 |
12 |
(Como descrito acima) |
vento |
velocidade e
direção |
C |
15 |
166 |
(Como descrito acima) |
vento |
velocidade e
direção |
D |
15 |
290 |
(Como descrito acima) |
Temperatura |
Temperatura |
A |
100/60/10 |
40 |
Modelo Met One 062 com termistor aspirado e proteção a radiação solar.
Precisão de ± 0.1 graus. |
Temperatura |
T100-T10
T100-T60
T60-T10 |
A |
|
40 |
Diferença calculada pelo datalogger |
Umidade |
Umidade |
A |
10 |
40 |
Modelo Met One 083C. Precisão de ± 3% |
Precipitação |
Precipitação |
A |
2 |
42 |
Modelo Met One 370 Resolução de 0.25 mm. |
a) Pressão
Atmosférica
Sob o ponto de vista dinâmico, a pressão atmosférica é um importante elemento de caracterização dos sistemas migratórios e locais.
As variações temporais da pressão atmosférica se dão associadas a ciclos bem definidos e às incursões do ar com distintas características termodinâmicas. Numa base diária, pequenas variações ocorrem por conta da chamada "maré barométrica", resultando em dois momentos de máximos valores relativos entre dois outros momentos de mínimos relativos.
Sazonalmente, os valores de pressão atmosférica são maiores no inverno que no verão, graças à interação de diversos fatores, como os astronômicos, as maiores intensidades das massas polares migratórias, entre outros. No verão, o mais intenso aquecimento solar á superfície cria forças de flutuação que induzem a movimentos verticais ascendentes, com ou sem a formação de nuvens, reduzindo, portanto, os valores da pressão atmosférica à superfície. Em Itáguaí-Sepetiba, por exemplo, as pressões atmosféricas variam de cerca de 1007 hectoPascais no verão a 1015 hectoPascais no inverno, tendo uma média anual de 1010,9 hectoPascais.
Normalmente reduzida ao nível do mar para eliminar os efeitos de altitude e tornar o parâmetro comparável espacialmente, bem como para permitir a avaliação de condicionamento local/regional por parte dos sistemas atmosféricos, a pressão atmosférica em Angra dos Reis - RJ apresentam-se na faixa de 1011-1012 hectoPascais nos meses de verão, 1012,5-1016,5 hectoPascais no outono, 1017,5-1019,5 hectoPascais no inverno e 1012,5-1017 hectoPascais na primavera. Os maiores valores de pressão no inverno são devidos às incursões de massas polares mais intensa nesta época do que nas demais do ano.
Ao nível local, os comportamentos da pressão atmosférica evidenciam alternâncias a partir da aproximação de depressões, as quais correspondem às entradas de frentes frias. Ocorrem ainda pequenas oscilações de máximos e mínimos diários, devido à maré barométrica.
b) Temperatura do
Ar
A temperatura do ar constitui-se num parâmetro de interesse para os estudos que dizem respeito ao meio ambiente.
Basicamente, reflete os resultados dos impactos energéticos da radiação solar sobre o sistema solo-superfície-atmosfera combinados com aspectos astronômicos e dinâmicos de micro, meso e larga-escalas.
Regionalmente, verifica-se que as temperaturas do ar em Itáguaí-Sepetiba podem ser caracterizadas como estando na faixa média de 25-28 ºC no verão, de 22-26 ºC no outono, 20-21ºC no inverno e de 21-24ºC na primavera, tendo uma média anual em torno de 23 ºC, o que mostra um nítido efeito de sazonalidade.
Por situar-se próximo ao Oceano, o clima de Angra dos Reis e imediações sofre um grande efeito da maritimidade. Pode ser caracterizado como estando na faixa média de 23-26ºC no verão, de 22-26 ºC no outono, 20-21 ºC no inverno e de 21-24 ºC na primavera, tendo uma média anual em torno de 23 ºC, de acordo com as análises do NCEP.
Verifica-se ainda que em Angra dos Reis os valores das temperaturas médias compensadas variam de um máximo de 26,4 °C em fevereiro a um mínimo relativo de 20,2 °C em julho, para uma média anual próxima a 23°C. As temperaturas máximas médias variam de um máximo de 30,4 em fevereiro a um mínimo de 24,6 ºC em julho, com uma média anual de 27 ºC. Com relação às temperaturas médias mínimas, seus valores variam de um máximo de 23,1ºC em fevereiro a um mínimo de 16,5 ºC em julho, para uma média anual de 19,9 ºC.
Contudo, valores mais elevados podem ocorrer ao longo do ano, conforme pode ser percebido pelas apresentações dos valores máximos (Tabela 3) e mínimos (Tabela 4) absolutos registrados de 1961-90 nos meses tomados como representativos para o verão (janeiro), outono (abril), inverno (julho) e primavera (outubro), assim como no ano, em Angra dos Reis.
Tabela
3 - Temperaturas máximas absolutas registradas em Angra
dos Reis entre 1961 e 1990
Mês |
Temperatura Máxima Absoluta (ºC) |
Data |
JAN |
38,5 |
01/01/69 |
ABR |
35,3 |
01/04/87 |
JUL |
33,8 |
15/07/77 |
OUT |
35,8 |
26/10/77 |
ANO |
39,3 |
11/02/66 |
Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia - INMET
Tabela
4 - Temperaturas mínimas absolutas registradas em Angra
dos Reis entre 1961 e 1990
Mês |
Temperatura Máxima Absoluta (ºC) |
Data |
JAN |
15,3 |
17/01/63 |
ABR |
12,8 |
25/04/71 |
JUL |
10,1 |
28/07/64 |
OUT |
13,4 |
21/10/68 |
ANO |
9,4 |
12/08/88 |
Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia - INMET
Comparativamente, são apresentados os valores extremos (Tabela 5 e Tabela 6) registrados de 1961-90 em Seropédica nos meses tomados como representativos para o verão (janeiro), outono (abril), inverno (julho) e primavera (outubro), assim como no ano.
Tabela
5 - Temperaturas máximas absolutas registradas em Seropédica
entre 1961 e 1990
Mês |
Temperatura Máxima Absoluta (ºC) |
Data |
JAN |
40,6 |
22/01/88 |
ABR |
37,4 |
01/04/88 |
JUL |
35,2 |
21/07/63 |
OUT |
39,4 |
27/10/78 |
ANO |
41 |
11/02/73 |
Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia - INMET
Tabela
6 - Temperaturas mínimas absolutas registradas em Seropédica
entre 1961 e 1990
Mês |
Temperatura Máxima Absoluta (ºC) |
Data |
JAN |
15,6 |
15/01/79 |
ABR |
11,7 |
26/04/68 |
JUL |
8,3 |
14/07/68 |
OUT |
11,8 |
20/10/68 |
ANO |
6,5 |
01/06/79 |
Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia - INMET
Numa análise mais local, as informações oriundas da Torre A da CCNAA são detalhadas em bases mensais, sazonais e anuais para os três níveis de monitoramento: 10 m, 60 m e 100 m.
As temperaturas no nível de 10 m são aquelas referenciadas como climatológicas para o caso da CNAAA, representando as condições médias de toda a área que abrande as três usinas: Angra 1, 2 e, futuramente, 3.
Como se pode ver na Figura 2, um nítido comportamento sazonal ocorre para todos os parâmetros associados à temperatura. Para as temperaturas médias, vê-se que no verão o valor mais característico é de 25°C, baixando a 20°C no inverno - significa uma amplitude térmica anual média de 5°C.
Comparando-se os valores extremos, pode-se concluir que no mês mais quente (janeiro) a amplitude térmica média é de aproximadamente 5°C, contra cerca de 6°C no mês mais frio (julho). E comparando os valores extremos das temperaturas registradas no período de 1986 a 2001, constata-se que o mês de janeiro pode contemplar perfeitamente valores que podem variar de próximo a 40°C para a máxima e cerca de 17°C para a mínima. De certo, tais circunstâncias não ocorrem num mesmo episódio ou mesmo em episódios atmosféricos próximos. Normalmente se dão em anos distintos.

Figura 2 - Variações
mensais de temperatura do ar (máxima absoluta, máximas
médias, médias, mínimas médias
e mínimas absolutas) da estação meteorológica
localizada na Torre A da CNAAA - nível de 10 m - RJ
no período 1982-2003.
Fonte: Eletronuclear
A Figura 3 , por sua vez, mostra as temperaturas mensais verificadas durante os anos de 2002 e 2003.

Figura 3 - Variações
mensais da temperatura do ar (período 2002-2003).
Fonte: Eletronuclear
A temperatura média ao longo do ano varia entre 19°C e 26°C, e para o período 2002-2003 os valores permaneceram dentro desta faixa. Há de se destacar que as médias dos valores extremos ficaram mais próximas das temperaturas médias em relação aos valores históricos de 20 anos, o que indica que as amplitudes térmicas, de um modo geral foram menores nos últimos dois anos, entretanto, para os meses de fevereiro e outubro, as variações foram um pouco maiores. Este quadro ainda é mantido ao se observar as temperaturas extremas absolutas, pois as máximas nem sempre estiveram acima de 30°C. É comum em todos os meses do ano as temperaturas máximas mensais superarem este valor. Historicamente, janeiro e setembro foram os meses que registraram os valores máximos de temperatura, cerca de 41°C e 38°C, respectivamente. Para os dois anos mais recentes, a máxima absoluta, ocorrida no mês de setembro, não passou de 36°C. Os meses onde ocorreram períodos de frio mais intenso, foram abril, maio e outubro, na transição do outono para o inverno e inverno para primavera. Estas mínimas absolutas, fora da média de 20 anos, mais comuns no inverno.
Vale destacar que a posição da estação meteorológica (Torre A) encontra-se à sotavento de Angra 1 e Angra 2, o que, em pequena escala, pode significar que as fontes de calor regulares da operação e da própria dinâmica ocupacional da área possa corroborar para um pequeno acréscimo no valor da temperatura final registrada cotidianamente, em relação à mesma estação em uma posição a barlavento. De certo modo, a rugosidade do complexo gerador instalado e as fontes de calor criam uma relativa turbulência ao escoamento da porção mais baixa da atmosfera local, o que para efeitos de dispersão de poluentes seria favorável.
Destaca-se ainda a grande interação entre as águas oceânicas superficiais e os valores de temperatura local, as vezes imperceptível, haja vista a possibilidade de variações da temperatura da água do mar devido às correntes marítimas.
A avaliação seqüencial de dados locais das temperaturas médias (Figura 4), mínimas (Figura 5) e máximas (Figura 6) diárias, ao nível de 10 m da Torre A da CNAAA, no período de 1982 a 2001, permite identificar as oscilações ocorridas por conta basicamente da sazonalidade, muito embora possam ser percebidos num mesmo ano os efeitos de variações de temperatura devido às incursões frontais frias na região.

Figura 4 - Variações
da temperaturas médias diárias observadas na
estação meteorológica localizada na Torre
A da CNAAA - nível de 10 m no período de 1982-2001
Fonte: Eletronuclear

Figura 5 - Variações da temperaturas mínimas
diárias observadas na estação meteorológica
localizada na Torre A da CNAAA - nível de 10 m no período
de 1982-2001
Fonte: Eletronuclear

Figura 6 - Variações
da temperaturas máximas diárias observadas na
estação meteorológica localizada na Torre
A da CNAAA - nível de 10 m no período de 1982-2001
Fonte: Eletronuclear
A análise de tendências de temperatura requer particular atenção em função das possíveis mudanças na localização das estações, dos métodos de medições, da calibração dos termômetros e das influências locais, tais como o aquecimento urbano, pois podem exercer influência nos dados das estações. Partindo da premissa de que os sensores instalados nas torres meteorológicas A, B, C e D da CNAAA (Figura 1) tenham o rigor técnico-operacional desejado, pode-se então considerar os seus dados consistentes e confiáveis para o presente estudo.
Assim sendo, a avaliação da tendência pode considerar a equação da reta na forma:
y = m x + b
em que,
y é a imagem,
x é o domínio,
m o coeficiente angular da reta e
b a constante.
Uma vez a série representada por esta equação, seu ajuste, bem como seus erros, podem ser calculados a partir do método dos mínimos quadrados, resultando na curva de tendência baseada no valor de R². O valor de R², por se tratar de uma tendência linear, também passa a ser ajustado pelo método dos mínimos quadrados. Tendências logarítmicas, polinomiais, exponenciais e outras, necessitariam de um novo ajuste.
Tomando como base a série histórica de temperatura do nível de 10 m da Torre Meteorológica A e aplicando análise de tendência à curva formada, verifica-se pela Figura 7 que ao longo do período 1982-2001 surge uma nítida tendência de aumento das temperaturas médias em até 1°C, aproximadamente, o que pode ser interpretado em função do processo de urbanização da área onde se situam as Unidades 1 e 2 da CNAAA.

Figura 7 - Variações das temperaturas médias
anuais registradas pela estação meteorológica
localizada na Torre A da CNAAA - nível de 10 m no período
de 1982-2001
Fonte: Eletronuclear
Tomando
como referência o nível de 10 metros da Torre
A e desenvolvendo uma análise da variação
interanual dos seus valores médios registrados em cada
estação do ano, chega-se à situação
mostrada na Figura 8, onde se percebe as variações
ocorridas entre um ano e outro. Cabe destacar também
a hierarquia entra as diversas estações do ano,
indicando que, normalmente, as temperaturas de verão
são superiores às do outono e esta à
primavera e, por fim, todas superiores às temperaturas
dos meses de inverno. Entretanto, cabe ressaltar duas situações:
•
no ano de 2001 os valores médios das temperaturas em
todas as estações do ano foram mais elevados
do que nos anos anteriores e, além disso, foram muito
próximas entre si;
•
nos anos de 1982-83 e 1997-98, anos dos mais intensos episódios
de El Niño, com correspondentes impactos no Brasil,
as temperaturas entre o outono e a primavera foram praticamente
coincidentes, ou seja, o outono foi mais frio e a primavera
foi mais quente do que o normal.

Figura 8 - Variações anuais das temperaturas médias sazonais registradas pela estação meteorológica localizada na Torre A da CNAAA - nível de 10 m no período de 1982-2001
Fonte: Eletronuclear
Considerando-se a existência de três (3) níveis na Torre A da CNAAA, buscou-se avaliar o comportamento médio da temperatura do ar em cada mês, que resultou a Figura 9.
Pode-se
verificar que:
•
Os máximos e mínimos anuais ocorrem em fevereiro
e julho, respectivamente, três (3) estações
da Torre A;
•
As máximas temperaturas se situam entre 25 e 26°C,
enquanto as mínimas entre 19,5 e 20°C.
O comportamento hierárquico, sob o ponto de vista do perfil térmico vertical, é variável, e apresenta a seguinte configuração: Janeiro e fevereiro: T100 < T10 < T60; Março a agosto: T10 < T100 < T60; Setembro: (T10=T100) < T60; Outubro a dezembro: T100 < T60 < T10. O que significa dizer que na camada 10 m - 60 m ocorre inversão térmica (estabilidade) de janeiro a setembro e que nos meses de outubro a dezembro toda a camada 10 m - 100 m é instável.
Refinando a análise do perfil térmico de temperatura na Torre A, pode-se verificar, por exemplo, a situação do mês de março de 2001 (Figura 10), que revela inúmeros períodos em que as temperaturas no nível 10 m são inferiores às do nível 100 m e estas às do nível de 60 m, mesmo em horários diurnos, o que descaracterizaria o efeito de resfriamento radiativo. Em outras palavras, fica claro o surgimento de inversões térmicas na camada entre 10 m e 60 m.
Tais inversões podem então ter como causa principal a advecção de ar frio na camada mais baixa da torre em virtude de um mecanismo de recirculação local do escoamento do ar de procedência marinha, reforçado durante a noite por um suave vento de encosta das montanhas no entorno da área da CNAAA.

Figura 9 - Variações
mensais das temperaturas médias dos três níveis
(100, 60 e 10 metros) registradas pela estação
meteorológica localizada na Torre A da CNAAA no período
de 1982-2001
Fonte: Eletronuclear

Figura 10 - Variações
horárias das temperaturas dos três níveis
(100, 60 e 10 metros) registradas pela estação
meteorológica localizada na Torre A da CNAAA no mês
de março de 2001
Fonte: Eletronuclear
c) Umidade Relativa
Os valores de umidade relativa são inversamente proporcionais à temperatura do ar e dependentes, ainda, dos processos de aquecimento ou resfriamento do ar, transporte horizontal de vapor d' água e precipitações. Em situações transitórias, os valores de umidade relativa do ar na região podem sofrer significativas variações temporais, principalmente quando se compara às situações pré-frontais e frontais.
A região de Sepetiba, por exemplo, por estar muito próxima a linha-de-costa, recebe normalmente maior contribuição de umidade do ar de origem marinha face às circulações atmosféricas predominantes daquele setor. Quando de situações de céu claro e intensa radiação solar, sobretudo nos meses de primavera, verão e outono, a evaporação das águas do solo em combinação com a maior transpiração das plantas suprem de água a atmosfera local, embora o aquecimento solar induza um aumento de temperatura à superfície, este a diminuição da umidade relativa do ar.
A umidade relativa do ar pode ser avaliada numa base sazonal. Para o caso específico da região de Itáguaí-Sepetiba - RJ, extensivamente aos Municípios vizinhos, as variações intermensais podem atingir até 3%. As diferenças sazonais são relativamente marcantes, embora pouco acentuadas. Em Angra dos Reis e entorno, as variações intermensais são relativamente pequenas, da ordem de 1%, o que confere à região uma característica de umidade relativa média praticamente constante ao longo do ano, sem as marcantes diferenças sazonais como acontecem em muitas outras localidades. A razão para tal comportamento, ao que tudo indica, deve-se a proximidade do Oceano, que durante todo o ano, especialmente no período seco, supre a atmosfera local de umidade a partir das circulações atmosféricas estabelecidas.
Considerando os dados observados na estação meteorológica do Porto de Sepetiba durante o ano 2000, verificou-se que para o mês de janeiro uma grande oscilação dos valores diários consecutivos, com máximos de 85% (possivelmente em situações associadas com precipitações e/ou circulações frontais) e mínimos de 45% (sob condições de circulações préfrontais ou de domínio anticiclônico subtropical, com céu claro e baixa ventilação). A situação apresentada para o mês de abril foi praticamente similar a do mês de janeiro, com máximos de umidade em torno de 85% e mínimos registrados de 55%. De certo é um mês de transição de regimes, onde a umidade deveria tender a reduções em relação ao verão. O mês de julho caracteristicamente se situa no período seco e de menores temperaturas do ar devido às entradas de intensas massas de ar frio e o maior afastamento relativo do sol para o hemisfério norte. Como resultado, o maior suprimento de umidade para a atmosfera passa a ser conduzido pelas circulações com ou sem precipitações associadas aos sistemas frontais frios atuantes freqüentemente na região. A umidade relativa do ar manteve-se abaixo de 40% em todo o inverno, chegando a extremos mínimos de 15% em situações de céu claro, ausência de circulações marítimas dominantes e de precipitações de qualquer natureza. No mês de outubro, inserido no período de transição inverno-verão, os regimes pluviométricos passam climatologicamente a ser mais significativos, o que levou ao máximo de umidade relativa atingir valores próximos a 90%. Os mínimos nesse mês específico situaram-se próximos a 35%.
d) Precipitação
Pluviométrica
As precipitações pluviométricas atuam, causando entre outros benefícios, uma eficiente remoção de poluentes do ar, em maior ou menor grau, dependendo de suas intensidades.
Para representar a precipitação pluviométrica na área do empreendimento, buscou-se analisar os dados das estações meteorológicas existentes na região e que pudessem ser consideradas representativas para Angra dos Reis e entorno.
Climatologicamente, para a área de estudo, as precipitações estão associadas, principalmente, às perturbações de frentes frias e linhas de instabilidade, as quais promovem ainda intensificação dos ventos regionais e locais, gerando turbulência e mistura na camada de ar mais próximo à superfície. Em locais onde o escoamento do ar sofre obstruções por serras, montanhas, grandes edificações, etc., a precipitação pluviométrica passa a ser o mecanismo mais eficiente capaz de remover os poluentes do ar.
Também são típicas, na área de interesse, as formações convectivas, geradas nas regiões serranas e que se transformam em vigorosos cumulonimbos, cujas atividades (chuvas, trovoadas e rajadas) se manifestam em diversos locais do Estado do Rio de Janeiro, sobretudo, nos fins de tarde e início de noites desde a segunda metade da primavera, passando por todo o verão até a primeira metade do outono.
Algumas características das trovoadas são: a) praticamente, inexistem no inverno, mesmo em situações de frontais; b) ocorrem em dias muito quentes e, preferencialmente, quando um sistema frontal frio se aproxima da região e/ou ocorrem advecções de ar quente continental oriundo de nor-noroeste; c) são de curta-duração; d) podem ocorrer associadas às penetrações frontais frias na primavera, verão e outono e e) afetam diretamente a área da Angra 3 e entorno. Através de dados da estação pluviométrica localizada na Central Nuclear Álvaro Alberto - Angra dos Reis obteve-se os valores médios mensais acumulados para o período de 2002-2003, como pode ser visto na Figura 11.

Figura 11 - Valores médios
mensais de precipitação da estação
pluviométrica localizada na Torre A da Central Nuclear
Álvaro Alberto - Angra dos Reis - RJ. (Período
2002-2003).
Fonte: Eletronuclear
Na estação de Seropédica, pertencente ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), os registros das médias do período 1961-90 evidenciam a existência de um período mais chuvoso no verão, com cerca de 15 dias de chuvas, que tem nas perturbações frontais, pré-frontais e orográficas regionais as suas origens. No inverno, particularmente no mês de julho, os totais mensais decaem abaixo de 50 mm, tendo aproximadamente seis dias de chuvas - os menores dados de precipitação do ano - tendo nas frentes frias os únicos mecanismos geradores dessas precipitações.
As precipitações pluviométricas que atingem a região de Itáguaí-Sepetiba e entorno também estão associadas aos diversos mecanismos atmosféricos, tais como: frentes frias (todo o ano), linhas de instabilidade (primavera-verão) e formações convectivas regionais próximas (primavera, verão e outono) originadas de sistemas provenientes do setor norte-noroeste.
Tomando alguns meses representativos para cada estação do ano verifica-se que a variação climatológica anual de precipitação em Itáguaí pode ser assim caracterizada pelos valores médios: janeiro (verão): 195,1 mm; abril (outono): 109,2 mm; julho (inverno): 30,7 mm (período seco); outubro (primavera): 93,6 mm; total anual: 1.224,9 mm. O trimestre mais chuvoso, segundo os valores climatológicos, compreende os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, enquanto o trimestre menos chuvoso incorpora os meses de junho, julho e agosto.
O número de dias de chuva na região de Seropédica é variável e depende, sobretudo da dinâmica atmosférica. Climatologicamente pode-se estabelecer o seguinte cenário sazonal: verão: 43 dias totais; outono: 31 dias totais; inverno: 19 dias totais; primavera : 36 dias totais. Os meses com maior número de dias com ocorrência de precipitações são os de dezembro e janeiro, ou seja, com 16 e 15 dias, respectivamente. No ano, o número de dias fica em 129.
Uma análise complementar pode ser realizada a partir das informações mensais relativas aos totais pluviométricos no período 1931 a 1975 em Itáguaí, fornecidas pelo INMET (SECPLAN, 1978). Através da análise estatística, foram mensurados os valores médios da pluviosidade, bem como os respectivos desvio-padrão e coeficientes de variação. Nessa avaliação, fica também evidente que o período de precipitação pluviométrica máxima ocorre de dezembro a março (verão), enquanto o de mínimas precipitações se estende de junho a agosto (inverno). O mês mais seco é o de julho, apresentando precipitação total média mensal de aproximadamente 50 mm; o mês mais chuvoso é o de janeiro, com média mensal de 300 mm.
Verificou-se que os coeficientes de variação anual para a região de Itáguaí-Sepetiba apresentaram pequenas amplitudes entre os valores máximos e mínimos, ao passo que os valores totais mensais mostraram enormes variações, denotando, dessa maneira, uma irregularidade da distribuição mensal das chuvas. Observou-se, ainda, que os menores coeficientes ocorreram nos meses de dezembro e novembro (estação chuvosa), enquanto os maiores valores estariam associados aos meses de junho, julho e agosto (estação seca).
Foram observadas significativas variações espaciais na distribuição da precipitação pluviométrica no Estado do Rio de Janeiro, tendo os maiores valores dos coeficientes de variação localizados, de modo geral, nas áreas mais interiorizadas, situadas entre os contrafortes da Serra do Mar. Enquanto os menores foram registrados nas áreas litorâneas, mais abertas e expostas à circulação atmosférica que procede predominantemente do Oceano Atlântico.
O exame do comportamento mensal e anual da pluviosidade para a região de Sepetiba permitiu corroborar as conclusões anteriores, obtidas através da análise estatística. Verificouse que, normalmente, os maiores totais pluviométricos anuais ocorreram nas áreas litorâneas e mais expostas ao fator maritimidade, e, também, naquelas que, apesar de interiorizadas, localizavam-se em áreas de relevo movimentado e expostas à circulação atmosférica geral. Entretanto, as áreas interiorizadas e confinadas, menos expostas à circulação atmosférica regional, tendiam a apresentar menores índices pluviométricos anuais.
As
variações da pluviosidade da região de
Angra dos Reis podem ser explicadas:
•
pela sua posição geográfica, com grandes
porções da região expostas ao oceano
e sujeitas aos efeitos da circulação atmosférica
oriunda do Oceano Atlântico;
•
pela orientação e exposição do
relevo, fatores fundamentais na distribuição
espacial da pluviosidade, atuando como barreira aos sistemas
de circulação atmosférica;
•
e, finalmente, pelo afastamento do equador térmico
no solstício de verão do Hemisfério Norte,
facilitando a penetração de frentes frias, bem
como a sua aproximação no solstício de
verão do Hemisfério Sul, possibilitando a ocorrência
de chuvas de convecção.
As precipitações pluviométricas que atingem a região de Angra dos Reis e entorno estão associadas a diversos mecanismos atmosféricos, tais como: frentes frias (todo o ano), linhas de instabilidade (primavera-verão) e formação convectivas regionais (primavera, verão e outono) originadas de sistemas provenientes do setor norte-noroeste. As entradas de frentes frias, normalmente, são de caráter mais intenso para chuvas e, principalmente, ventos, após o sistema frontal passar por Parati e adentrar na Baía de Ilha Grande.
Sazonalmente, tomando alguns meses representativos para cada estação do ano, a variação climatológica anual de precipitação na região de Angra dos Reis pode ser assim caracterizada pelos valores médios: janeiro (verão): 276,4 mm; abril (outono): 189,5 mm; julho (inverno): 76,2 mm (período seco); outubro (primavera): 144,1 mm; total anual: 1.976,6 mm. O trimestre mais chuvoso, segundo os valores climatológicos, compreende os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, enquanto o trimestre menos chuvoso incorpora os meses de junho, julho e agosto.
O número de dias de chuva na região de Angra dos Reis é variável e depende, sobretudo da dinâmica atmosférica. Climatologicamente pode-se estabelecer o seguinte cenário sazonal: verão: 49 dias totais; outono: 38 dias totais; inverno: 26 dias totais; primavera: 45 dias totais. Os meses com maior número de dias com ocorrência de precipitações são os de dezembro e janeiro, ou seja, com 18 e 17 dias, respectivamente. No ano, o número de dias fica em 158.
Ao nível regional foram avaliados os comportamentos sazonais de precipitação a partir das informações históricas das estações pluviométricas situadas na área de influência da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, que inclui a estação da Eletronuclear localizada próxima a Torre A, bem como as estações pertencentes ao antigo DNAEE (Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica). A Tabela 7 apresenta a relação das estações pluviométricas utilizadas no estudo. Os períodos de dados avaliados foram diversificados, uma vez que cada estação apresentava um perfil histórico distinto.
Tabela 7 - Descrição das
estações pluviométricas usadas para avaliação
regional da precipitação pluviométrica
na área de influência do empreendimento.
Estação |
Nome |
Local |
Lat. (S) |
Long. (W) |
Alt. (m) |
Usina |
Eletronuclear |
Angra dos Reis-RJ |
|
|
|
02344009 |
Alto Serra do Mar |
Cunha-SP |
23°09'13• |
44°51'32• |
1050 |
02244149 |
Bracuí |
Angra dos Reis-RJ |
22°56'08• |
44°23'45• |
70 |
02244048 |
Campos de Cunha |
Cunha-SP |
22°55'16• |
44°49'20• |
750 |
02244148 |
Ibicuí |
Mangaratiba-RJ |
22°57'41• |
44°01'50• |
50 |
02344006 |
Patrimônio |
Parati/RJ |
23°13'19• |
44°45'48• |
90 |
02344008 |
São Roque |
Parati/RJ |
23°04'20• |
44°41'53• |
0 |
02244034 |
Ribeirão de São Joaquim |
Barra Mansa/RJ |
22°55'16• |
44°13'44• |
620 |
02244135 |
Fazenda das Garrafas |
São José do Barreiro/SP |
22°36'42• |
45°35'53• |
1485 |
02345067 |
Ponte Alta 1 |
São Luiz do Paraitinga/SP |
23°19'44• |
45°08'38• |
888 |
02345065 |
São Luiz do Paraitinga |
São Luiz do Paraitinga/SP |
23°14'22• |
45°18'19• |
760 |
02244044 |
Glicério |
Barra Mansa/RJ |
22°28'27• |
44°13'44• |
390 |
02245055 |
Estrada do Cunha |
Cunha-SP |
22°59'45• |
45°02'30• |
790 |
02344016 |
Vila Mambucaba |
Angra dos Reis-RJ |
23°01'33• |
44°31'05• |
0 |
|
Torre Principal - Torre A |
Angra dos Reis-RJ |
23º00’19" |
44º27’30" |
0 |
Fonte: Eletronuclear e Aneel
Para se ter um perfil quantitativo e distributivo das precipitações na região, foram calculados os totais pluviométricos médios dos meses de janeiro, abril, julho e dezembro, considerados nesta avaliação como representativos do verão, outono, inverno e primavera, respectivamente. Além disso, foram calculados os valores totais médios anuais de cada estação. Os valores típicos sazonais e anuais então calculados são apresentados na Tabela 8 e na Figura 12.
Tabela
8 - Precipitações médias mensais (em
mm) nos meses de janeiro, abril, julho e outubro e anual nas
estações pluviométricas localizadas na
área de influência do empreendimento.
Localização |
Janeiro |
Abril |
Julho |
Outubro |
Anual |
Alto Serra do Mar |
308,9 |
186,4 |
67,0 |
160,5 |
2112,3 |
Bracuí |
262,7 |
195,7 |
103,1 |
199,3 |
2306,1 |
Campos de Cunha |
231,4 |
94,3 |
35,8 |
109,9 |
1479,8 |
Ibicuí |
202,5 |
129,7 |
86,1 |
179,7 |
1645,3 |
Patrimônio |
274,3 |
182,2 |
88,3 |
184,4 |
2090,7 |
São Roque |
285,9 |
196,5 |
66,1 |
216,4 |
2203,7 |
Ribeirão de São Joaquim |
314,4 |
121,3 |
34,8 |
131,6 |
1814,2 |
Fazenda das Garrafas |
319,8 |
112,1 |
31,6 |
133,7 |
1870,0 |
Ponte Alta 1 |
282,7 |
181,7 |
65,2 |
148,5 |
2020,0 |
São Luiz do Paraitinga |
200,3 |
91,6 |
31,8 |
97,2 |
1300,7 |
Glicério |
273,2 |
112,8 |
26,2 |
105,0 |
1497,9 |
Estrada do Cunha |
220,5 |
93,6 |
38,1 |
130,5 |
1398,2 |
Vila Mambucaba |
281,4 |
123,7 |
70,3 |
188,8 |
2165,6 |
Fonte: Eletronuclear e Aneel

Figura 12 - Precipitações médias mensais
nos meses de janeiro, abril, julho e outubro nas estações
pluviométricas localizadas na área de influência
da CNAAA
Fonte: Eletronuclear e Aneel
Percebe-se, para a região, que o período mais chuvoso é o verão, enquanto o inverno representa o período menos chuvoso, o que se ajusta perfeitamente à climatologia das precipitações do Estado do Rio de Janeiro e da Região Sudeste do Brasil. No entanto, nos meses intermediários de abril e outubro, os índices pluviométricos são aparentemente mais próximos entre as estações, embora possa se verificar diferenças de mais de 40% entre uma localidade e outra, o que reflete uma relativa heterogeneidade devido às condições topográficas e da própria caracterização dos sistemas geradores dessas precipitações. Pode-se verificar, ainda, que as precipitações na faixa litorânea desde Angra dos Reis até Parati são muito próximas quantitativamente, sobretudo nos meses de verão e inverno, além da situação anual.
A distribuição espacial dos valores de precipitação na macro-região de entorno ao empreendimento podem ser vistas na Figura 13 (janeiro), Figura 14 (abril), Figura 15 (julho) Figura 16 (outubro) e Figura 17 (anual), onde foi indicado o correspondente valor de precipitação em cada estação pluviométrica para cada caso.

Figura 13 - Indicação das estações
pluviométricas e correspondentes valores totais mensais
médios para o mês de janeiro na macro-região
no entorno da CNAAA
Fonte: Eletronuclear e Aneel

Figura 14 - Indicação das estações
pluviométricas e correspondentes valores totais mensais
médios para o mês de abril na macro-região
no entorno da CNAAA
Fonte: Eletronuclear e Aneel

Figura 15 - Indicação das estações
pluviométricas e correspondentes valores totais mensais
médios para o mês de julho na macro-região
no entorno da CNAAA
Fonte: Eletronuclear e Aneel

Figura 16 - Indicação das estações
pluviométricas e correspondentes valores totais mensais
médios para o mês de outubro na macro-região
no entorno da CNAAA
Fonte: Eletronuclear e Aneel

Figura 17 - Indicação
das estações pluviométricas e correspondentes
valores totais anuais médios na macro-região
no entorno da CNAAA
Fonte: Eletronuclear e Aneel
Particularizando as análises de precipitação para a área da CNAAA, tomou-se como referência os dados pluviométricos da Torre A, cuja série histórica data da década de 80, de onde foram avaliadas as variações interanuais dos totais pluviométricos de cada estação do ano (Figura 18, Figura 19, Figura 20 e Figura 21), as variações interanuais dos totais anuais de precipitação (Figura 22) e as variações interanuais dos totais mensais de precipitação (Figura 23 a Figura 34).
As análises sazonais mostram, de modo geral, uma grande variabilidade interanual, o que é uma característica do regime pluviométrico. Para o verão (dezembro-janeiro-fevereiro) - Figura 18, observa-se que no episódio histórico de El Niño mais intenso, ocorrido no período 1997-98, as precipitações em Angra dos Reis (Torre A da CNAAA) sofreram uma significativa redução em relação à média de longo-período (~ 650 mm), chegando a aproximadamente 300 mm. Por outro lado, o ano de 1985 configurou-se como o mais chuvoso da região, registrando o total de 1.400 mm.
Para os meses de outono (março-abril-maio) - Figura 19, a precipitação média foi de cerca de 550 mm, com destaque ao máximo de cerca de 900 mm em 1996. A variação entre um ano e outro pode chegar a valores elevados, como, por exemplo, entre os anos de 1996 (~ 900 mm) e 1999 (~ 150 mm).
No período de inverno (junho-julho-agosto) - Figura 20, a média de precipitação gira em torno de 200 mm, muito embora a variações dos totais entre um ano e outro possa ser elevadas, como entre os anos de 1985 (~ 100 mm) e 1986 (~ 300 mm). Nos meses de primavera (setembro-outubro-novembro) - Figura 21, por seu turno, a média histórica se aproxima de 320 mm, com grande variabilidade ao longo dos anos.

Figura 18 - Variação interanual dos totais
pluviométricos dos meses de verão (dez-jan-fev)
na estação pluviométrica localizada na
Torre A da CNAAA no período 1982-2001
Fonte: Eletronuclear

Figura 19 - Variação interanual dos totais
pluviométricos dos meses de outono (março-abrilmaio)
na estação pluviométrica localizada na
Torre A da CNAAA no período 1982-2001
Fonte: Eletronuclear

Figura 20 - Variação interanual dos totais
pluviométricos dos meses de inverno (junho-julhoagosto)
na estação pluviométrica localizada na
Torre A da CNAAA no período 1982-2001
Fonte: Eletronuclear

Figura 21 - Variação
interanual dos totais pluviométricos dos meses de primavera
(setembrooutubro- novembro) na estação pluviométrica
localizada na Torre A da CNAAA no período 1982-2001
Fonte: Eletronuclear
No caso anual (Figura 22), cuja média é de aproximadamente 2.000 mm, a grande variabilidade nos totais pluviométricos também é marcante ao longo dos anos.

Figura 22 - Totais anuais e média anual de precipitação (em mm) registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA no período 1982-2001
Fonte: Eletronuclear

Figura 23 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de janeiro dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 24 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de fevereiro dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 25 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de março dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 26 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de abril dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 27 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de maio dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 28 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de junho dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 29 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de julho dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 30 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de agosto dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 31 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de setembro dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 32 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de outubro dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 33 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de novembro dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear

Figura 34 - Variação interanual dos totais pluviométricos (em mm) dos meses de dezembro dos anos de 1982-2001, registrados na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA - a linha vermelha indica a média desses valores.
Fonte: Eletronuclear
A avaliação das médias mensais de precipitação revelam uma variação sazonal bastante marcante, com os seguintes valores aproximados: janeiro: 255 mm; fevereiro: 225 mm; março: 270 mm; abril: 150 mm; maio: 110 mm; junho: 75 mm; julho: 70 mm; agosto: 65 mm; setembro: 170 mm; outubro: 170 mm; novembro: 190 mm e dezembro: 210 mm. Na verdade, os valores mais elevados de março, quebrando a tendência de redução das precipitações do verão para o inverno, deveu-se ao fato de terem ocorrido 4 meses de março (1986, 1991, 1994 e 1996) com totais pluviométricos anomalamente mais elevados, o que fez elevar a média no período. A Figura 35 revela tal comportamento.

Figura 35 - Precipitações médias mensais (em mm) no período de 1982-2001, registradas na estação pluviométrica localizada na Torre A da CNAAA.
Fonte: Eletronuclear
e) Nebulosidade
O interesse de se conhecer o regime de nebulosidade numa região diz respeito basicamente às possíveis interferências que estas possam causar ao recebimento/retenção de energia radiativa solar, bem como às características das precipitações.
A variação de nebulosidade média ao longo do ano em Seropédica, por exemplo, revela a existência de uma nítida variação sazonal, consoante às variações de precipitação. O mês de menor nebulosidade é julho, que apresenta também maior estabilidade e menor precipitação. De outubro a janeiro, porém, os valores de nebulosidade são máximos, chegando a 7/10, o que reflete a maior evaporação continental e também o forçamento dos sistemas transientes na formação e manutenção de nuvens na região. A média anual se situa em 5,9.
Para Angra dos Reis, a variação de nebulosidade média ao longo do ano também apresenta uma sazonalidade, associadas com as variações de precipitação. Verifica-se também que o período de menor nebulosidade compreende os meses junho e julho, de maior estabilidade e menor precipitação. De outubro e dezembro, porém, os valores de nebulosidade são máximos, chegando a 8/10, o que reflete a maior evaporação continental e também o forçamento dos sistemas transientes na formação e manutenção de nuvens na região. A média anual se situa em 6,8.
f) Insolação
O número de horas de brilho solar (insolação) em cada mês do ano é função não somente da nebulosidade existente, mas também da duração dos dias (mais longos no verão e mais curtos no inverno).
A insolação é concebida como o número de horas e décimos de horas de brilho solar incidente sobre um anteparo disposto horizontalmente à superfície. Depende, porém, além dos fatores astronômicos, da nebulosidade e do livre horizonte na trajetória solar do poente ao ocaso. Climatologicamente, a insolação total média para cada estação do ano em Itáguaí-Sepetiba-Seropédica, segundo as Normais Climatológicas do período 1961-90, é a seguinte: verão: 551,1 horas; outono: 590,8 horas; inverno: 594,5 horas; primavera: 459,5 horas. No ano, o número total médio de brilho solar é de 2.195,9 horas.
No
caso de Angra dos Reis, município onde se localiza
a CNAAA, as características médias de insolação,
segundo as Normais Climatológicas do período
1961-90, são:
•
verão: 478,4 horas;
•
outono: 477,6 horas;
•
inverno: 456,2 horas e
•
primavera: 369,5 horas.
No ano, o número total médio de brilho solar é de 1.781,7 horas.
g) Radiação
Solar
O monitoramento da radiação solar diz respeito à energia solar direta e difusa incidentes sobre uma superfície unitária ao nível do solo. A nebulosidade e a posição relativa do sol no horário do dia e no dia do ano, além do fator altitude, condicionam significativamente a energia que chega à superfície e que, em última instância, é em grande parte transformada em calor sensível.
A radiação solar é muito pouco medida no Estado do Rio de Janeiro, o que cria dificuldades em sua caracterização sob o ponto de vista climatológico. Entretanto, para o caso de Angra dos Reis, pode-se considerar as informações referentes ao Porto de Sepetiba do ano 2000 como sendo relativamente representativas. No mês de janeiro, a intensidade máxima de energia radiante (radiação solar global) atingiu valores de 1.000 W/m²; em abril, esses máximos se reduziram a cerca de 800 W/m²; em julho a 700 W/m2; retomando uma elevação a 900 W/m², em outubro.
Nas situações apresentadas pode-se perceber também as configurações diárias do nascer ao pôr-do-sol. Em algumas ocasiões em que a nebulosidade é total, associada a uma banda de nuvens frontais de grande espessura, a radiação solar sofre uma significativa redução, embora se mantenha com valores superiores a zero em virtude da passagem de radiação difusa.
h) Evaporação
Total
O parâmetro "evaporação total" dá indicações da transferência de água do meio físico para a atmosfera.
Para Itáguaí-Sepetiba e Seropédica, segundo estimativas a partir dos dados climatológicos normais do INMET, os valores de evaporação ao longo do ano são superiores a 40 mm e apresentam uma marcante sazonalidade. A máxima evaporação assinalada para os meses de verão está associada ao maior aquecimento. Os meses de inverno, ao contrário, apresentam os menores valores de evaporação em virtude, é claro, da menor forçante evaporativa - o aquecimento por radiação solar.
A evaporação, medida em tanque classe A do US Weather Bureau (USWH), instalado em Santa Cruz e operado pelo INMET, apresenta valores mais elevados de dezembro a março e menos elevados entre maio e julho, sendo de 700 mm a evaporação média anual.
Para Angra dos Reis, as estimativas, de acordo com as informações do NCEP, são de que os valores de evaporação ao longo do ano são superiores a 40 mm e apresentam uma marcante sazonalidade. A máxima evaporação assinalada para os meses de verão encontra-se associado ao maior aquecimento. Os meses de inverno, ao contrário, apresentam os menores
valores de evaporação em virtude, é claro, da menor demanda evaporativa.
i) Vento: Direção
e Velocidade
A direção e velocidade dos ventos estão associadas às diversas escalas de circulação atmosférica e que apresentam significativa interatividade espacial, bem como uma nítida variabilidade temporal. De modo geral predominam os regimes marítimos de circulação próxima ao nível da superfície na área litorânea, desde Sepetiba até o litoral de Parati, passando por Angra dos Reis, haja vista o surgimento de circulações termicamente induzidas pelo aquecimento diferencial continente-oceano, as quais são desfiguradas, principalmente, a partir da freqüente movimentação dos sistemas transientes de larga-escala, como as massas de ar polares e suas correspondentes áreas de convergência (frentes frias).
Trata-se de parâmetros de extrema relevância nas avaliações da poluição do ar nas diversas escalas (local, regional ou global), pois deles resultam, respectivamente, o sentido do deslocamento da pluma de poluição e a forma de dispersão da mesma.
Na atmosfera, os sistemas de escala climatológica interagem com os sistemas de meso-escala e estes, com os de micro-escala. Dada a referência local do estudo, que ainda tem uma complexa topografia em seu entorno, buscou-se avaliar as informações das Torres A, B, C e D, distribuídas pela área e proximidades da CNAAA (Figura 1), cujas séries históricas datam da década de 80; portanto, séries bem representativas e estatisticamente adequadas para avaliações de tal natureza.
Para a área de interesse, incluindo a localização das fontes emissoras (fixas e difusas) da Unidade 3 da CNAAA e os possíveis receptores potenciais, há que se considerar o fato de haver localmente regimes predominantes do setor sul, proveniente da área oceânica, e que pode ser melhor percebido nos pontos mais afastados da topografia acidentada e da área edificada das Unidades 1 e 2 da Central Nuclear.
Para se ter uma melhor visualização dos regimes nas diferentes torres de monitoramento meteorológico, foram elaboradas as rosas-dos-ventos, em diferentes modos de combinação, onde são indicadas as direções predominantes e seus respectivos percentuais de ocorrência, as velocidades correspondentes a cada direção e, ainda, o percentual de calmarias.
Numa primeira avaliação, é destacada a Torre A, por seu maior porte e capacidade de geração de informações em diversos níveis. As próximas páginas (Figura 36 a Figura 41) apresentam as rosas-dos-ventos de todos os meses do ano para o nível de 10 m, considerado como de melhor representatividade meteorológica pela Organização Meteorológica Mundial. Daí conclui-se que os ventos predominantes são oriundos do setor compreendido entre as direções N e NE (para S e SW, respectivamente), ao invés da presumida direção predominante do setor sul, que se estabelece como segunda predominância dos ventos para aquele local. Verifica-se, ainda, que nos meses de julho e agosto as direções N e NE passam a ser predominantes, com maior freqüência do que nos demais meses.

Figura 36 - Rosas-dos-ventos mensais (janeiro e fevereiro)
relativas ao nível de 10 metros da Torre A da CNAAA,
calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 37 - Rosas-dos-ventos mensais (março e abril)
relativas ao nível de 10 metros da Torre A da CNAAA,
calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 38 - Rosas-dos-ventos mensais (maio e junho) relativas
ao nível de 10 metros da Torre A da CNAAA, calculadas
com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 39 - Rosas-dos-ventos mensais (julho e agosto) relativas
ao nível de 10 metros da Torre A da CNAAA, calculadas
com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 40 - Rosas-dos-ventos mensais (setembro e outubro)
relativas ao nível de 10 metros da Torre A da CNAAA,
calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 41 - Rosas-dos-ventos mensais (novembro e dezembro)
relativas ao nível de 10 metros da Torre A da CNAAA,
calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear
No que se refere às calmarias, as distribuições de freqüência ao longo dos meses podem ser visualizadas pela Figura 42. Percebe-se uma variação sazonal do percentual de freqüência de cerca de cerca de 15% em fevereiro (verão) a quase 30% em setembro e outubro (primavera).

Figura 42 - Distribuição mensal dos percentuais de calmarias, calculados a partir do monitoramento meteorológico efetuado pela Torre A da CNAAA no período 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear
Considerando os diversos níveis da Torre A, foi possível elaborar um cenário conjunto das rosas-dos-ventos dos mesmos, para os meses de janeiro, abril, julho e outubro, considerados como representativos do verão, outono, inverno e primavera, respectivamente, conforme pode ser visto nas próximas páginas (Figura 43 a Figura 46).

Figura 43 - Rosas-dos-ventos dos meses de janeiro (mês representante do verão), referentes aos níveis de 10, 60 e 100 metros da Torre A da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 44 - Rosas-dos-ventos dos meses de abril (mês representante do outono), referentes aos níveis de 10, 60 e 100 metros da Torre A da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 45 - Rosas-dos-ventos dos meses de julho (mês representante do inverno), referentes aos níveis de 10, 60 e 100 metros da Torre A da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 46 - Rosas-dos-ventos dos meses de outubro(mês
representante do primavera), referentes aos níveis
de 10, 60 e 100 metros da Torre A da CNAAA, calculadas com
base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear
Se compararmos as rosas-dos-ventos sazonais referentes aos diferentes níveis (Figura 43 a Figura 46), é possível verificar que os níveis de 60 m e 100 m apresentam uma diferença marcante em relação ao nível de 10 m, com relação às direções dos ventos, ou seja, a não ocorrência de ventos denotados como do setor norte, além de indicarem a ocorrência dos ventos predominantes do setor sul-sudeste, seguidos, em segunda predominância, por ventos do setor norte-nordeste, para todos os meses evidenciados. Fica, então, evidente a ocorrência de um efeito muito localizado nas indicações dos ventos do nível de 10 m.
Comparativamente, podem ser verificados na Figura 47, os percentuais de calmarias nos três (3) níveis da Torre A da CNAAA. Pode-se ver que, de modo geral, os percentuais de clamarias são maiores nos níveis de 60 m e 100 m do que no nível de 10 m para todos os meses analisados. Nota-se, ainda, que os percentuais de clamarias aumentam nos meses de inverno (julho). Para os níveis de 60 e 100 m, enquanto isto somente ocorre em outubro para o nível de 10 m.

Figura 47 - Percentuais de calmarias nos níveis de 10 m, 60 m e 100 m da Torre A da CNAAA, calculados a partir do monitoramento meteorológico efetuado durante o período 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear
Considerando a base de período de análise como sazonal, conforme mostrado nas páginas a seguir (Figura 48 a Figura 51), vê-se que praticamente a mesma interpretação dada à analise anterior (Figura 43 a Figura 46) pode ser aplicada a esta.

Figura 48 - Rosas-dos-ventos dos períodos de verão, referentes aos níveis de 10, 60 e 100 metros da Torre A da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 49 - Rosas-dos-ventos dos períodos de outono, referentes aos níveis de 10, 60 e 100 metros da Torre A da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 50 - Rosas-dos-ventos dos períodos de inverno, referentes aos níveis de 10, 60 e 100 metros da Torre A da CNAAA, calculadas com
base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 51 - Rosas-dos-ventos dos períodos de primavera, referentes aos níveis de 10, 60 e 100 metros da Torre A da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear
As análises apresentadas a seguir (Figura 52 a Figura 55) referem-se, respectivamente às situações dos meses de janeiro, abril, julho e outubro e das suas correspondentes estações do ano, comparando quatro (4) torres meteorológicas existentes na CNAAA.

Figura 52 - Rosas-dos-ventos sazonais (considerando os
meses de janeiro como representativos das estações
de verão) referentes às torres A (10 m), B,
C e D (15 m) da CNAAA, calculadas com base no período
amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 53 - Rosas-dos-ventos sazonais (considerando os meses de abril como representativos das estações de outono) referentes às torres A (10 m), B, C e D (15 m) da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 54 - Rosas-dos-ventos sazonais (considerando os meses de julho como representativos das estações de inverno) referentes às torres A (10 m), B, C e D (15 m) da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 55 - Rosas-dos-ventos sazonais (considerando os meses de outubro como representativos das estações de primavera) referentes às torres A (10 m), B, C e D (15 m) da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear
Diferentemente das análises apresentadas nas páginas anteriores (Figura 52 a Figura 55), as que se seguem (Figura 56 a Figura 59) referem-se não apenas a dados coletados nos meses representativos (janeiro, abril, julho e outubro), mas aos períodos integrais das quatro estações (verão, outono, inverno e primavera), comparando as quatro (4) torres meteorológicas existentes na CNAAA.

Figura 56 - Rosas-dos-ventos sazonais (verão) referentes às torres A (10 m), B, C e D (15 m) da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 57 - Rosas-dos-ventos sazonais (outono) referentes às torres A (10 m), B, C e D (15 m) da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 58 - Rosas-dos-ventos sazonais (inverno) referentes às torres A (10 m), B, C e D (15 m) da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear

Figura 59 - Rosas-dos-ventos sazonais (primavera) referentes às torres A (10 m), B, C e D (15 m) da CNAAA, calculadas com base no período amostral de 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear
Tal análise se reveste de alta significância, uma vez que possibilitará verificar a "performance" de cada torre em relação aos regimes de circulação regional e local, assim como os efeitos peculiares da micro-localização das mesmas em relação à área topografia e condições de uso e ocupação do solo.
Uma primeira revelação diz respeito às diferentes predominâncias dos ventos observadas em cada uma das torres. Na Torre A, a mais aprofundada territorialmente, a primeira predominância é da direção norte; seguida em segunda predominância, das direções entre Sul e sudoeste.
A Torre B, por sua vez, situada na Ponta Fina, com pouca interferência da topografia local, sobretudo em todo o setor sul, apresenta exatamente os ventos entre sudoeste e sudeste como os de primeira predominância.
A Torre C, situada a uma cota de aproximadamente 150 m, à oeste das Unidades 1 e 2 da CNAAA, e de livre captação de ventos de praticamente todos os setores, registra o setor sul (entre sudoeste e sudeste) como o de sua primeira predominância, tendo a direção nortenoroeste como sua segunda predominância.
Por fim, a Torre D, situada a cerca de 270 m de altitude, à leste das Unidades 1 e 2 da CNAAA, apresenta a primeira predominância do setor leste-nordeste, o que se ajusta aos regimes regionais de ventos para a região em níveis mais elevados. Sua segunda predominância é de oeste-sudoeste.
Portanto, percebe-se a existência de uma complexa circulação local, com alta interferência dos fatores fisiográficos.
Em termos comparativos, os percentuais de calmarias nas quatro (4) torres podem ser avaliados a partir da Figura 60. De modo geral, percebe-se que na micro-região, tais percentuais variam de 15% a quase 40%. Constata-se também que na Torre D, a mais elevada, os percentuais de calmarias são os menores em todos os meses analisados do que para as demais torres.

Figura 60 - Percentuais de calmarias nas torres A (10m), B, C e D (15 m) da CNAAA, calculados a partir do monitoramento meteorológico efetuado durante o período 1982-2001.
Fonte: Eletronuclear
Das rosas dos ventos geradas para o período 2002-2003 constatou-se de mais importante:
O regimes de vento predominantes na região da Torre
A 10m foram das direções N/NE, associadas a
atuação do ASAS e brisas terrestres; e SW/S
ligadas as passagens de frentes frias e brisas marítimas;
Os ventos dominantes nas proximidades desta torres foram mais
caracterizados no período de julho a março;
Em abril e de maio a junho, as direções predominantes
foram S/SE, S e N/NE, respectivamente;
Para a Torre A10m, a configuração mais freqüente,
N/NE e S/SW, manteve-se no inverno, primavera e outono, enquanto
a componente S ficou mais evidente no outono;
Nos níveis de 60m e 100m da Torre A, a configuração
dominante manteve-se, entretanto, em 60m a componente SW foi
a mais freqüente no verão;
Como era de se esperar, em média, os ventos foram mais
intensos à medida que se distancia da superfície.
Os valores médios para todos os períodos ficam
em torno de 3m/s em 10m, de 3 a 8m/s a 60m e 5 a 8m/s em 100m;
Na Torre B, as direções dos ventos foram mais
distribuídas, sendo pouco mais comuns ventos de SE
e N;
Para a Torre C os ventos continuaram bem distribuídos,
porém, mais persistentes foram de N e SE, enquanto
W e N foram absolutos na Torre D;
A freqüência de calmarias na Torre A10m variou
de 9,48 a 18,28% ao longo ano;
Janeiro e junho foram os meses de maior freqüência
calmaria e março o de menor ocorrência;
As freqüências das calmarias aumentaram em relação
a altura. A 60m a porcentagem de ocorrência varia de
32 a 52%, enquanto a 100m de 35 a 47%;
Para as torres B, C e D as freqüências de calmaria
variaram de 22 a 35%, 8 a 27% e 10 a 20%, respectivamente.
De um modo geral esta configuração dos ventos apresentada para o período 2002-2003 seguiu o padrão dos ventos estabelecido com a base de 20 anos de dados.
6.1.2. Estudo de fenômenos meteorológicos extremos - topo
O presente item aborda alguns fenômenos meteorológicos severos, tais fenômenos podem ter significativo impacto na região de Itaorna, afetando as atividades de Angra 3 e da CNAAA, inclusive eventualmente dificultando a mobilidade de pessoas e veículos na região e em seu entorno.
6.1.2.1. Perturbações transientes - topo
A região Sudeste do Brasil experimenta vários tipos de perturbações transientes, tanto de origem extratropical quanto tropical, e em todas as escalas, desde a escala sinótica até a mesoescala, incluindo sistemas convectivos organizados ou não. A seguir serão descritas algumas destas perturbações transientes que têm efeito sobre a região estudada.
A passagem de frentes frias é o evento de tempo transiente mais comum e impactante sobre a região Sudeste do Brasil. Os ciclones extratropicais vindos do Pacífico, atravessando os Andes e a Argentina a sul de 35ºS, tomam um curso leste-sudeste no Atlântico, enquanto que as frentes frias, a eles associados, se movem na direção nordeste. As frentes frias ativam a convecção (sobre a Argentina, Bolívia, Brasil e leste do Peru) enquanto caminham sobre a parte leste do continente sulamericano. A Figura 61 mostra imagens infravermelhas de satélite nas quais uma frente se localiza no Atlântico penetrando no continente com muitos aglomerados convectivos sobre a parte central da América do Sul. Neste evento ocorrido no dia 7 de setembro de 2002 o impacto mais significativo foi a linha de instabilidade que precedeu este sistema.

Figura 61 - Imagens de satélite mostrando a evolução do sistema frontal que atingiu a costa do Rio de Janeiro em 07 de setembro de 2002.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ."
Um estudo observacional da freqüência de sistemas frontais sobre a América do Sul feito por OLIVEIRA (1986), dá uma estatística mensal útil das penetrações frontais e seus efeitos sobre a atividade convectiva na América do Sul subtropical e tropical. A Figura 62 e a Figura 63 mostram os principais resultados de Oliveira (1986) para a faixa latitudinal de 25 a 20ºS incluindo a região costeira do estado do Rio de Janeiro. Em geral as penetrações frontais são bem distribuídas sobre todas as estações do ano, embora sua atividade convectiva seja bem menor durante os meses de inverno. Estas frentes são responsáveis pela maior parte das chuvas no Sudeste do Brasil. Em associação aos sistemas frontais observam-se massas de ar frio com altas pressões à superfície que avançam para norte-nordeste sobre o continente na retáguarda das frentes frias causando, no inverno, quedas de temperatura.
A
região que inclui o Paraguai, o norte da Argentina,
o Uruguai e o sul do Brasil experimenta os efeitos do desenvolvimento
repentino de Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM),
especialmente no período de novembro a abril. Esses
CCM normalmente se iniciam nas primeiras horas do dia, antes
do nascer do sol, e têm um ciclo de vida curto, menor
que um dia. O possível mecanismo de origem é
a combinação de três fatores:
•
a brisa de montanha agindo sobre uma atmosfera instável;
•
o jato de baixos níveis proveniente de norte;
•
o jato subtropical dos altos níveis.
O jato de baixos níveis fornece a umidade necessária para a formação das nuvens e para a precipitação desses complexos. SILVA DIAS (1987) fez um estudo de revisão dos CCM e discutiu a sua relevância para a ocorrência de tempo severo no sul e sudeste do Brasil, já que tais sistemas eventualmente avançam sobre o continente, atingindo o sul do Estado do Rio de Janeiro.

Figura 62 - Distribuição média mensal da freqüência de passagens de sistemas frontais na banda de 20 a 25ºS de latitude. As linhas cheias correspondem ao valor médio e as linhas pontilhadas ao desvio padrão.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ."

Figura 63 - Distribuição média mensal da freqüência de atividade convectiva associada à passagem de sistemas frontais na banda de 20 a 250S de latitude. As linhas cheias correspondem ao valor médio e as linhas pontilhadas ao desvio padrão.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ."
As linhas de instabilidade associadas aos sistemas frontais são uma forma bastante comum de geração de precipitação intensa na região Sudeste do Brasil. O mecanismo gerador destas linhas parece estar associado à geração de ondas de gravidade originadas na própria frente fria. Assim sendo, formam-se linhas de cumulonimbos aproximadamente paralelas à linha frontal, sendo que as linhas de instabilidade assim formadas avançam com velocidade maior que a das frentes. O evento ocorrido na madrugada do dia 7 de setembro de 2002 foi diagnosticado como sendo um evento pré-frontal com estrutura de uma linha de instabilidade. Neste evento os fortes ventos da linha de instabilidade precederam à frente fria que só iria atingir a costa fluminense no início da tarde (Figura 64).

Figura 64 - Imagens de radar mostrando a evolução da linha de instabilidade que precedeu a frente fria no dia 7 de setembro de 2002.
Fonte: CTH/SP
Os tornados são ventos com rápida rotação que fluem em torno de uma pequena área de baixa pressão intensa e estão associados a nuvens cumulonimbos de grande intensidade, denominadas supercélulas. O diâmetro da maioria dos tornados está entre 100 e
600 metros, embora alguns sejam menores do que 100 m e outros alcancem até 1600 m de diâmetro, estando, portanto, inseridos nas menores faixas da mesoescala ou até mesmo na microescala dos fenômenos meteorológicos. Os tornados têm a forma de uma nuvem do tipo funil e somente recebem o nome de tornado quando chegam a atingir o solo. Embora nos Estados Unidos os tornados sejam responsáveis por muitas mortes e elevadas perdas materiais a cada ano, este tipo de fenômeno é bastante raro em nossa região, provavelmente por estar associado a grandes planícies.
As trombas d' água são fenômenos que têm uma certa semelhança com os tornados e podem ocorrer com alguma freqüência próximo ao litoral do estado do Rio de Janeiro. As Figura 65 e Figura 66 exemplificam a ocorrência deste fenômeno no litoral fluminense, sendo a Figura 65 referente à Bacia de Campos, onde estão as plataformas da Petrobras, e a Figura 66 referente à praia de Ipanema no Rio de Janeiro. As trombas d' água são geralmente muito menores que os tornados com diâmetro entre 3 e 100 metros, sendo também os ventos de menor intensidade, alcançando no máximo 45 nós. Além disso, movem-se mais lentamente e seu tempo de duração está em média entre 10 e 15 minutos, embora possam eventualmente durar até uma hora. As trombas d' água formam-se no ar instável no início do desenvolvimento de nuvens cumulus congestus cujos topos estejam abaixo de 3.600 metros. O funil da tromba d' água é similar ao funil do tornado, uma vez que ambos são nuvens de água líquida com ventos convergentes que tendem a ascender na parte central. Ao contrário da crença popular, contudo, as trombas d' água não levantam água em seu núcleo.

Figura 65 - Foto da ocorrência de uma tromba d' água na Bacia de Campos-RJ.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ."
Não se observam ciclones tropicais
em torno da América do Sul. A escala dos ciclones tropicais
ou furacões está na faixa sub-sinótica
e tem origem sobre as águas quentes dos oceanos tropicais.
A possível não ocorrência desse fenômeno
na costa leste sul americana se deve ao fato que as águas
do Atlântico Sul são relativamente frias em comparação
com as regiões de fontes desse fenômeno em outras
partes do mundo.

Figura 66 - Foto da ocorrência
de uma tromba d' água na praia de Ipanema, na cidade
do Rio de Janeiro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ
6.1.2.2.
Sistemas frontais na região de Angra dos Reis
- topo
A seguir será apresentada uma resenha das frentes frias que atingiram a região de Angra dos Reis no período de janeiro de 1999 a dezembro de 2001 (http://www.cptec.inpe.br/products/climanalise). Esta resenha foi compilada tendo como base o levantamento feito mensalmente na publicação Climanálise do CPTEC/INPE, no qual são indicadas as cidades litorâneas atingidas por frentes frias. A Tabela 9 quantifica as frentes que passaram pelo litoral do estado do Rio de Janeiro, entre Parati e Cabo Frio no período citado.
Tabela
9 - Quantidade de frentes frias que atingiram o litoral do
estado do Rio de Janeiro entre janeiro de 1999 e julho de
2002.
ano |
jan |
fev |
mar |
abr |
mai |
jun |
jul |
ago |
set |
out |
nov |
dez |
1999 |
2 |
2 |
3 |
3 |
6 |
5 |
4 |
3 |
5 |
3 |
5 |
6 |
2000 |
5 |
5 |
5 |
3 |
4 |
4 |
6 |
5 |
3 |
3 |
5 |
4 |
2001 |
1 |
1 |
2 |
3 |
3 |
3 |
4 |
0 |
4 |
2 |
4 |
3 |
2002 |
2 |
1 |
1 |
1 |
3 |
4 |
5 |
- |
- |
- |
- |
- |
Fonte: Climanálise (CPTEC/INPE).
A seguir, são descritas algumas dessas frentes frias.
Ano 2001
Janeiro - O último sistema frontal do mês anterior (dezembro de 2000), encontrava-se no dia 31, em Ubatuba-SP e, no início do mês de janeiro de 2001, deslocou para o Rio de Janeiro, onde permaneceu semi-estacionário. No dia 4, o sistema enfraqueceu e deslocou-se para o oceano.
Fevereiro - O segundo sistema frontal de 2001 atingiu o sul do País, no dia 6 de fevereiro, atuando no interior da Região Sul e deslocando-se até Campos-RJ. Esta frente fria se associou a sistemas de baixa pressão no oceano, localizados entre os estados do Paraná e São Paulo.
Abril - O segundo sistema frontal atingiu o interior e o litoral do Rio Grande do Sul no dia 6. Este sistema se deslocou pelo litoral, atingindo a cidade de Cabo Frio-RJ no dia 9, quando se desviou para o oceano.
Maio - O terceiro sistema frontal atuou no litoral da Região Sul no dia 22. Este sistema, ao deslocar-se para a Região Sudeste, associou-se a um cavado no dia 24, causando nebulosidade no interior do Estado de São Paulo e Mato Grosso do Sul, mantendo-se estacionário em Cabo Frio-RJ nos dias 24 e 25, quando deslocou para o oceano.
Julho - Nos primeiros vinte dias do mês, a maior parte dos sistemas frontais atuou no interior do Rio Grande do Sul, deslocando-se, posteriormente, até o litoral do Rio de Janeiro. Na Região Sudeste, as frentes frias foram de fraca intensidade causando apenas o aumento da nebulosidade e chuviscos. No terceiro decêndio do mês, os sistemas frontais, embora fracos, tiveram um deslocamento tanto pelo interior como pelo litoral, atingindo o sul da Bahia. Nos dias 4 e 10, o segundo e terceiro sistemas frontais atuaram no interior do Rio Grande do Sul, atingindo o Rio de Janeiro pelo litoral. No dia 15, o quarto sistema frontal atuou somente um dia no litoral de Florianópolis-SC e desviou-se para o oceano.
Dezembro - No dia 22, o quarto sistema frontal ingressou no sul do País, encontrandose no dia 24 na altura do litoral de CaboFrio-RJ. No dia seguinte, a frente fria permaneceu semi-estacionária até o dia 28, entre Cabo Frio-RJ e Caravelas-BA, onde enfraqueceu. No dia 22, o quarto sistema frontal ingressou no sul do País, encontrando-se no dia 24 na altura do litoral de CaboFrio-RJ. No dia seguinte, a frente fria permaneceu semi-estacionária até o dia 28, entre Cabo Frio-RJ e Caravelas-BA, onde enfraqueceu.
Ano 2000
Janeiro - O último sistema frontal do mês anterior encontrava-se no litoral norte do Estado de São Paulo, permanecendo semi-estacinário desde o dia 1 até o dia 9, e enfraquecendo na altura do litoral da Região Sudeste. Durante a sua permanência sobre esta região, organizou instabilidades desde a Região Norte, Centro-Oeste e Sudeste (ZCAS), causando chuvas intensas nos Estados do Rio de Janeiro, sul de Minas Gerais e no Vale do Paraíba (região localizada próximo ao setor leste do Estado de São Paulo). Nos primeiros dias do mês, a precipitação em algumas localidades desses Estados, superou a média climatológica. No dia 13, uma nova frente fria fraca, a segunda do mês, encontrava-se no litoral de Florianópolis-SC. Este sistema deslocou-se até o Rio de Janeiro, e no dia 15 desviou-se para o oceano. A quinta frente fria do mês atingiu no dia 22 o Rio Grande do Sul. Este sistema deslocou-se pelo litoral até Vitória-ES. Um novo VCAN sobre a Região Nordeste fez com que a frente fria oscilasse, encontrando-se no dia 31, no litoral de Cabo Frio-RJ. O sistema de baixa pressão no oceano, que permaneceu entre os dias 26 e 28, associado ao sistema frontal, causou ventos fortes no litoral dos Estados de Florianópolis-SC
até o Rio de Janeiro-RJ.
Fevereiro - O último sistema frontal do mês de janeiro que se encontrava em Cabo Frio-RJ, permaneceu até o dia 1 fevereiro sobre esta região. A frente fria deslocou-se pelo litoral até Aracaju-SE, onde enfraqueceu. Durante a sua trajetória causou instabilidades isoladas na Região Sudeste e leste da Região Centro-Oeste, e chuvas fortes em quase toda a Região Nordeste, principalmente no Estado da Bahia. No decorrer do dia 10, uma nova frente fria, a segunda do mês, atingiu o Rio Grande do Sul, encontrando-se às 12 UTC no litoral de Florianópolis-SC. No dia seguinte interagiu com o segundo sistema que se encontrava no litoral da Região Sudeste, permanecendo até o dia 14 e enfraquecendo no litoral do Rio de Janeiro. Durante a sua trajetória causou chuva de moderada a fraca.
Março - Nos dias 18 e 22, o quarto e quinto sistemas frontais tiveram um rápido deslocamento e ao atingir a Região Sudeste causaram nebulosidade e chuviscos, e enfraqueceram no litoral do Rio de Janeiro.
Abril - Quatro sistemas frontais atuaram no País, um número abaixo da média climatológica, que é de cinco sistemas. Dois sistemas frontais atingiram latitudes ao norte de 20ºS.
Julho - O quarto sistema frontal atingiu o litoral de Torres-RS, interior de Passo Fundo-RS e Foz do Iguaçu-PR no dia 19. Esse sistema teve um rápido deslocamento para a Região Sudeste, enfraquecendo na altura do litoral de Campos-RJ. Pelo interior, deslocou-se até Pato de Minas-MG e Cuiabá-MT. O sexto sistema frontal do mês encontrava-se no extremo sul do Rio Grande do Sul no dia 25 e deslocou-se somente pelo litoral causando aumento da nebulosidade. No dia 27, encontrava-se no oceano, com fraca intensidade, na altura do litoral do Rio de Janeiro.
Agosto - No dia 14, um novo sistema frontal atuou no sul do Brasil. Esta frente fria deslocou-se até a cidade de Campos-RJ, no dia 18, onde enfraqueceu. No dia 25, o quinto sistema frontal que atingiu o sul do País deslocou-se até Campos-RJ, onde permaneceu até o dia 31.
Novembro - No decorrer do dia 13, a terceira frente fria atingiu o litoral do Paraná, deslocando-se até a ciadade de Cabo Frio-RJ e enfraquecendo no dia 20. Ressalta-se que a presença de um Vórtice Ciclônico centrado sobre a Região Nordeste, manteve este sistema frontal semi-estacionário entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. Choveu de forma generalizada na Região Sudeste e no Estado de Goiás. O quarto sistema frontal foi observado sobre o Rio Grande-RS no dia 19. Este sistema apresentou um deslocamento pelo litoral, enfraquecendo no dia 23 em Cabo Frio-RJ. Esta frente fria causou chuvas no Paraná, São Paulo e instabilidades isoladas na Região Centro-Oeste.
Dezembro - O sistema frontal que atuava em Campos-RJ, no final do mês anterior, permaneceu semi-estacionário entre Rio de Janeiro e Espírito Santo até o dia 4. No dia seguinte, uma nova frente fria interagiu com a anterior na altura de Vitória-ES. Este sistema organizou uma faixa de nebulosidade (ZCAS) que causou chuvas sobre o leste da Região Sudeste, enfraquecendo, no dia 8, em Caravelas-BA. Dois sistemas frontais atingiram a Região Sul nos dias 22 e 23, e, ao interagirem com Cavados e o Jato em baixos níveis, organizaram áreas de instabilidade (CCM) e fortes chuvas no oeste do Rio Grande do Sul. Destes, o sexto sistema frontal enfraqueceu no litoral do Rio de Janeiro, enquanto que o sétimo deslocou-se apenas até Torres-RS.
Ano 1999:
Janeiro - O último sistema frontal do mês anterior encontrava-se em Ubatuba-SP. Este sistema oscilou nos dias 1 e 2 no litoral, entre São Paulo e Rio de Janeiro, e deslocou-se logo em seguida para o oceano.
Fevereiro - No dia 2, o primeiro sistema frontal do mês atuou no Rio Grande do Sul. Este sistema interagiu com um VCN favorecendo áreas de instabilidades com chuvas entre 30 a 40 mm nos setores sul/sudoeste do Rio Grande do Sul. A frente fria no dia 6, deslocou-se até o Cabo Frio-RJ onde enfraqueceu. O segundo sistema frontal atingiu no dia 4 o Rio Grande do Sul. Esta frente fria deslocou-se pelo interior do Rio Grande do Sul e pelo litoral até Cabo Frio-RJ, enfraquecendo no dia 12 no oceano. Este sistema organizou convecção tropical na região central do Brasil. No Rio Grande do Sul, na cidade de Uruguaiana foram registradas chuvas de 109 mm. No dia 7, o terceiro sistema frontal do mês teve um deslocamento pelo interior do Rio Grande do Sul, até as cidades de Santa Maria e Uruguaiana ambas neste Estado. No litoral deslocou-se até Campos no Rio de Janeiro. Este sistema causou chuvas no Rio Grande do Sul e nebulosidade no restante das regiões. O quarto sistema frontal do mês atingiu o sul do país no dia 14 e teve um deslocamento somente pelo litoral desde Santa Catarina até o Rio de Janeiro, onde enfraqueceu. Este sistema originou-se da passagem de um VCN no Rio Grande do Sul e ao deslocar-se para o oceano, interagiu com o SF, favorecendo frontogênese e ciclogênese. Durante a sua trajetória houve a formação de áreas de instabilidade causando chuvas e ventos intensos principalmente no norte do Rio Grande do Sul. Nas demais regiões houve nebulosidade e chuvas fracas.
Março - O último sistema frontal do mês anterior deslocou-se no dia 1 para o litoral do Rio de Janeiro, enfraquecendo no dia 6 em Caravelas - BA. O primeiro sistema frontal do mês de março atuou nos dias 3 e 4 no Rio Grande do Sul, causando pouca nebulosidade. Este sistema deslocou-se no dia seguinte para o oceano. No dia 11, o segundo sistema frontal do mês deslocou-se pelo litoral da Região Sul, Sudeste até Ilhéus-BA. Durante a sua trajetória provocou chuvas fortes e isoladas nestas regiões.
Abril - O terceiro sistema frontal originou-se de uma frontogênese e ciclogênese ocorrida no dia 12. Um vórtice ciclônico em altos níveis na Região Sul interagiu com um sistema frontal no oceano. Este sistema atingiu o interior do país causando nebulosidade e chuvas fracas nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste. No dia 16 a frente fria enfraqueceu no litoral de Campos-RJ.
Maio - O quinto sistema frontal teve deslocamento somente pelo litoral das Regiões Sul e Sudeste. No dia 23 encontrava-se em Torres-RS e enfraqueceu no dia 26, no litoral do Rio de Janeiro-RJ. A frente fria causou apenas nebulosidade. No dia 26, áreas de instabilidade no oeste do Rio Grande do Sul associaram-se a um sistema frontal que se encontrava no Uruguai. Este sistema deslocou-se para leste, intensificando-se no litoral do Rio Grande do Sul (ciclogênese). No dia 28, este sistema (o sexto do mês) encontrava-se fraco no litoral de Cabo Frio-RJ. Esta frente fria causou ressaca no litoral deste Estado e chuvas no Rio Grande do Sul.
Julho - No dia 20, uma nova frontogênese e ciclogênese ocorreram no Rio Grande do Sul. Os sistemas deslocaram-se pelo litoral, até Campos-RJ e, pelo interior do Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, até Cuiabá-MT. Ocorreram chuvas de moderadas a fracas no Rio Grande do Sul. No dia 21, em Santa Vitória do Palmar-RS foi registrada chuva de 78 mm. Nas demais regiões esses sistemas causaram apenas nebulosidade. No dia 30, o último sistema frontal atuou no sul do país e teve um rápido deslocamento pelo litoral, encontrando-se no dia 31 em Cabo Frio-RJ. Pelo interior atingiu as localidades de Palmas e Guaíra-PR. Esse sistema causou chuvas fracas e nebulosidade durante sua trajetória.
Agosto - No dia 2, a primeira frente fria teve um deslocamento pelo litoral das Regiões Sul e Sudeste. Esse sistema se enfraqueceu no dia 4 em Campos-RJ. No litoral dessas regiões ocorreram nebulosidade e chuvas fracas.
Outubro - No decorrer do dia 21 observou-se o deslocamento de um vórtice ciclônico pelo oceano. Este sistema reorganizou-se no dia 22 próximo ao litoral do Rio de Janeiro. A partir do dia 23 até o dia 31, o quinto sistema frontal permaneceu semi-estacionário, oscilando entre o litoral dos Estados da Bahia, Sergipe e Alagoas. Este sistema deu origem à Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Com a permanência deste sistema sobre a Região Nordeste ocorreram chuvas em quase toda a região e, em alguns locais isolados os valores ultrapassaram a 100 mm. No dia 25 houve registro de 85 mm em Paulistano (PI) e 113 mm em Irecê-BA.
6.1.3.
Condições de transporte em grande escala e em
mesoescala -
topo
Por recomendação da Organização Meteorológica Mundial, todas as usinas nucleares devem produzir e difundir conhecimento sobre as formas de transporte de radionuclídeos na atmosfera em condições ótimas de funcionamento.
A atmosfera está em constante movimento, sendo os ventos gerados por processos em diversas escalas, desde a escala das brisas locais até circulações em escala sinótica, hemisférica e global. Pela maior dependência das características da fisiografia local, os transportes dentro da camada limite são controlados fortemente pelas menores escalas. Isto não impede, contudo, que gases e aerossóis sejam advectados pelos ventos nos baixos níveis até distâncias significativas.
A presença de sistemas de pressão que produzam movimentos subsidentes mantém os poluentes em níveis próximos da superfície e as barreiras topográficas passam a ser muito importantes na condução desses poluentes na atmosfera, principalmente na região de Itaorna onde está localizada a CNAAA. Contudo as correntes ascendentes, características das térmicas produzidas pelo aquecimento diurno nos continentes, bem como as nuvens cúmulos, tanto isoladas quanto associadas a sistemas organizados, como as frentes frias e os sistemas convectivos, são capazes de levar os poluentes desde a sua origem, rompendo a barreira da camada limite e colocando-os rapidamente em níveis elevados dentro da chamada atmosfera livre. Alcançando tais níveis mais altos dentro da troposfera, os poluentes são mais facilmente levados pelos ventos que aí são mais fortes, afastando este material particulado e os gases radioativos para longe da sua origem.
Há ainda a possibilidade de elevação dos radionuclídeos para os níveis troposféricos com ventos mais fortes no caso de uma explosão.
6.1.3.1.
Climatologia do transporte atmosférico em escala regional
- topo
Como ponto de partida para qualquer estudo atmosférico está a climatologia, que vem a ser a descrição pormenorizada do comportamento atmosférico mais persistente ao longo dos anos, embora faça parte da moderna climatologia, não só a construção de padrões de comportamento das variáveis atmosféricas, mas também a determinação das flutuações ou anomalias e até mesmo das características dos eventos considerados extremos, à luz dos padrões básicos.
No presente diagnóstico foi dada atenção aos padrões climatológicos da atmosfera, tendo como centro a região de Angra dos Reis, onde está a CNAAA e, em especial, onde será construída a Unidade 3 (Angra 3).
É mais comum a apresentação dos padrões climatológicos com base nas análises de grande escala e isto é valido na medida que o controle das escalas maiores se impõe às escalas regionais e locais. Contudo é muito útil que este estudo inclua a forma como as circulações locais, inclusive dentro de camada limite atmosférica são afetadas pela grande escala, uma vez que este comportamento local e regional será sentido primeiro pelas populações vizinhas à Central Nuclear.
Há
duas maneiras de se produzir este tipo de análise climatológica
que contemple um detalhamento regional:
•
combinar com a climatologia de grande escala as observações
obtidas na região de interesse, dentro de raios de
ação que vão desde alguns quilômetros
até dezenas e centenas de quilômetros.
•
combinar as diversas escalas envolvidas através da
modelagem numérica da atmosfera.
Para este último caso foram usados os modelos RAMS (Regional Atmospheric Modeling System, produzido pela Colorado State University) e MM5 (Mesoscale Model versão 5, produzido pela Pennsylvania State University em colaboração com o NCAR - National Center for Atmospheric Research), modelos plenamente conceituados junto a órgãos ambientais como a EPA (Environmental Protection Agency) americana, entre outros. Estes modelos são capazes de capturar as características da fisiografia local, que são fatores de forçamento na escala regional, combinando tais características locais com o outro forçamento relevante que é a circulação climatológica de grande escala.
Esta técnica que combina a informação climatológica de grande escala com os fatores controladores locais e regionais, é relativamente recente. Através desta técnica, um modelo regional devidamente calibrado às condicionantes locais como a topografia, a cobertura vegetal e a temperatura da água do mar, todas em alta resolução espacial, é forçado através de relaxação Newtoniana em direção aos dados climatológicos da pressão, temperatura, umidade e ventos, isto é, em parte o modelo responde aos forçamentos da grande escala e em parte reage aos forçamentos locais. Estes modelos regionais têm como grande trunfo as suas excelentes parametrizações, capazes de representar realisticamente os processos de radiação de onda curta e de onda longa, as trocas térmicas que ocorrem na superfície e as interações da circulação atmosférica com a rugosidade do terreno.
6.1.3.2.
Transportes atmosféricos e trajetórias cinemáticas
- topo
Muitos dos poluentes antropogênicos emitidos para a atmosfera podem ser transportados para grandes distâncias e assim afetar tanto os ecossistemas quanto a saúde humana sobre um vasto território - até milhares de quilômetros afastados da fonte da poluição. Os radionuclídeos podem ser liberados para o ar na forma de gases ou aerossóis, sendo também transportados pelas circulações atmosféricas.
O pesquisador Saulo Freitas e colaboradores do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo desenvolveram um modelo de trajetórias cinemáticas (FREITAS et al., 2000) para ser acoplado ao modelo atmosférico RAMS. Este modelo de trajetórias foi testado com sucesso para as condições brasileiras (LONGO et al., 1999) demonstrando enorme habilidade na descrição dos deslocamentos Lagrangeanos dos poluentes na atmosfera.
Considerando que os dados do movimento atmosférico gerado pelo modelo RAMS são reportados em três dimensões, sendo a coordenada vertical uma coordenada sigma, que segue as variações topográficas do terreno, as trajetórias cinemáticas da técnica de FREITAS et al. (2000) são capazes de identificar realisticamente os trajetos seguidos por gases ou partículas transportados pelo ar, dada uma condição diagnóstica ou prognóstica do comportamento atmosférico. Na presente climatologia do transporte atmosférico, são simuladas situações em que radionuclídeos emanem acidentalmente da Unidade 3 da CNAAA em cinco diferentes horários do dia e para as quatro estações do ano.
As simulações das trajetórias à zero, às 6, às 9, às 12 e às 15 horas locais tiveram por objetivo avaliar as diferentes direções tomadas pelo vento acompanhando o ciclo diurno do aquecimento continental que certamente influi sobre a circulação local e regional centrada em Angra dos Reis.
O modelo RAMS aqui utilizado foi integrado em uma grade com resolução horizontal de 40 km e resolução vertical variando pouco a pouco desde 50 metros nas camadas mais baixas até 1200 metros na média e alta troposfera.
No modelo de trajetórias são feitas simulações a 10, 50 e 100 metros, referentes à camada limite, e ainda a 1500, 3000, 5500 e 9000 metros, referentes à atmosfera livre. Inicialmente é feita uma comparação entre o comportamento do verão e do inverno (Figura 67 a Figura 71), sendo em seguida avaliado também o comportamento dos transportes atmosféricos no outono e na primavera (Figura 72 a Figura 76). À zero hora (00:00) local (Figura 67, referente às 3 UTC), observa-se que as 3 trajetórias da camada limite seguem para sul ao longo da costa (os pontos ao longo das trajetórias delimitam períodos de 24 horas de integração).
As trajetórias da atmosfera livre tendem a se afastar do continente dirigindo-se para o Oceano Atlântico, sendo que no verão a trajetória de 9000 m se dirige para o litoral norte e ascende acima dos 10000 m. Observando o padrão de cores que representa a altura simulada das parcelas, vê-se que as trajetórias emanadas dos níveis mais baixos ascendem algumas centenas de metros (cores de tons esverdeados), mas voltam a descer ou subsidir no segundo ou no terceiro dia (cores azuladas).
Às 6 horas locais no verão (Figura 68 (a)) é quando as trajetórias mais se afastam do continente. No inverno, às 6 e às 9 horas locais (Figura 68 (b) e Figura 69 (b)), todas as trajetórias são totalmente voltadas para o mar.

Figura 67 - Trajetórias às 3 UTC, correspondendo
a 00:00 (hora local), para os meses de (a) janeiro e (b) julho.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 68 - Trajetórias
às 9 UTC, correspondendo a 06:00 (hora local), para
os meses de (a) janeiro e (b) julho.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 69 - Trajetórias
às 12 UTC, correspondendo a 09:00 (hora local), para
os meses de (a) janeiro e (b) julho.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 70 - Trajetórias às 15 UTC, correspondendo
a 12:00 (hora local), para os meses de (a) janeiro e (b) julho.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 71 - Trajetórias
às 18 UTC, correspondendo a 15:00 (hora local), para
os meses de (a) janeiro e (b) julho.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 72 - Trajetórias
às 3 UTC, correspondendo a 00:00 (hora local), para
os meses de (a) abril e (b) outubro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 73 - Trajetórias às 9 UTC, correspondendo
a 06:00 (hora local), para os meses de (a) abril e (b) outubro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 74 - Trajetórias às 12 UTC, correspondendo
a 09:00 (hora local), para os meses de (a) abril e (b) outubro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 75 - Trajetórias às 15 UTC, correspondendo
a 12:00 (hora local), para os meses de (a) abril e (b) outubro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 76 - Trajetórias às 18 UTC, correspondendo a 15:00 (hora local), para os meses de (a) abril e (b) outubro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
Deve-se chamar atenção para os processos atmosféricos que impedem a dispersão para o mar, o que ocorre tipicamente nas horas mais quentes do dia, até porque estas trajetórias baixas avançam pelo litoral ao sul de Angra dos Reis, podendo, portanto, afetar as populações que aí vivem, num eventual episódio de emanação de radionuclídeos da CNAAA. Estas trajetórias baixas devem ser afetadas pela circulação do anticiclone subtropical do Atlântico sul, pelas brisas vespertinas, que a cada 24 horas trariam radionuclídeos para próximo do continente e ainda pelas barreiras topográficas que caracterizam grandes porções do litoral das regiões sudeste e sul do Brasil.
As figuras que se referem-se ao outono e à primavera (Figura 72 a Figura 76) e apresentam algumas situações em que as trajetórias referentes às emissões vespertinas avançam bastante para o continente nos estados de São Paulo e Paraná.
6.1.3.3.
Simulações numéricas do clima regional
em mesoescala
- topo
A seguir o modelo atmosférico de mesoescala MM5 é usado para a construção de uma climatologia local e regional de interesse na região da CNAAA e circunvizinhas. Esta técnica de downscaling climático consistiu de integrações seqüenciais do modelo numérico simultaneamente em 3 grades com resoluções de 27 km, 9 km e 3 km.
A grade de 27 km tem por objetivo assimilar as informações da meteorologia provenientes da grande escala. Esta grade, compatível com a escala meso-α da classificação de escalas de Orlanski (ORLANSKI, 1975), então transfere as informações atmosféricas para a grade de 9 km, cuja escala é compatível com a escala meso-β. Neste caso são atendidos os raios de segurança da ordem de até 150 km centrados em Angra 3 e que incluem grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, as cidades ao longo do Vale do rio Paraíba do Sul e as populações do litoral norte do estado de São Paulo e do litoral sul do estado do Rio de Janeiro.
Esta técnica de aninhamento de grades do modelo atmosférico transfere em seguida as informações para a grade de alta resolução de 3 km, compatível com a escala meso-γ de Orlanski. Os raios de influência da Angra 3 atendidos por esta grade são os de 3, 5, 10 e 15 quilômetros. Cabe notar que um dos grandes trunfos destas grades de alta resolução é que as suas condições de contorno são também de alta resolução, da ordem de 1 km. Portanto a topografia, a cobertura vegetal do terreno e a temperatura da água do mar são bastante detalhados no modelo, permitindo que o mesmo se ajuste a estes fatores fisiográficos tão importantes na caracterização do clima local e regional.
Foram procedidas integrações seqüenciais do modelo por 30 dias, usando-se os dados de re-análises do NCEP (National Centers for Environmental Prediction) americano, e que foram cedidos pelo Departamento de Meteorologia da UFRJ, fazendo parte do seu Banco de Dados Meteorológicos. As análises aqui apresentadas referem-se a janeiro de 2001 e a julho de 2000 e procuram trazer o maior detalhamento possível quanto ao vento e à altura da camada limite planetária no verão e no inverno.
As análises a seguir (Figura 77 e Figura 78) mostram o comportamento dos ventos em todos os níveis da troposfera. As ordenadas representam os níveis sigma do modelo MM5 e devem ser interpretadas do seguinte modo: o nível sigma de 0,85 corresponde aproximadamente a 850 mb ou cerca de 1500 metros de altura da superfície, 0,7 corresponde a 700 mb ou cerca de 3000 metros, 0,5 a 500 mb ou 5500 m e assim por diante. O topo do modelo foi, portanto, posicionado um pouco acima dos 100 mb, que corresponde a aproximadamente 12 km, estando portanto já na baixa estratosfera. As abscissas das figuras são as seqüências temporais para janeiro e para julho.
No corpo das figuras, cada seta representa o vento quanto a sua direção e sua intensidade. A direção do vento é indicada imaginando-se um plano horizontal, isto é, setas apontando para a direita são ventos fluindo de oeste para leste, setas apontando para cima são ventos fluindo de sul para norte, e assim por diante. A intensidade dos ventos pode ser inferida tanto pelo tamanho das setas quanto pela sua cor, conforme o padrão de cores no sopé das figuras, com a unidade sendo metros por segundo.

Figura 77 - Evolução temporal dos ventos
troposféricos sobre Angra dos Reis (jan/2001).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 78 - Evolução
temporal dos ventos troposféricos sobre Angra dos Reis
(jul/2000).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
Algumas características dos ventos da alta troposfera ressaltam nas análises anteriores (Figura 77 e Figura 78). Entre elas pode-se destacar a marcante maior intensidade no inverno e sua forte tendência em seguir de oeste para leste (ou vento zonal), caracterizando as correntes de jato.
No verão a região de Angra dos Reis fica embebida no padrão de circulação tropical e os ventos da alta troposfera apresentam inúmeros episódios que fogem ao padrão zonal, isto é, ventos com componente significativa de sul e de norte podem ocorrer. No inverno, contudo, os fortes ventos com componente essencialmente de oeste para leste indicam a regência do padrão de circulação das latitudes médias.
Um outro fator que realça na análise dessas análises é a conexão entre as diversas camadas atmosféricas em eventos de passagem de frentes frias no inverno (Figura 78). A chegada de frentes frias à região de Angra dos Reis, indicada pela marcante perturbação dos ventos da baixa troposfera, é acompanhada por perturbações ao longo de todos os níveis, intensificando muito os ventos na alta troposfera. Esta conexão é determinada pelo conceito dinâmico de vento térmico, isto é, as bruscas variações no campo da temperatura próximo da superfície, que caracterizam a chegada de uma frente fria, induzem acelerações nos ventos de oeste em todos os níveis da atmosfera.
Este conceito dinâmico é essencialmente baroclínico, isto é, o aumento da energia cinética dos ventos decorre da intensificação do gradiente térmico na passagem de uma frente fria. Este é um padrão típico das latitudes médias, mas que avança sobre a região litorânea do estado do Rio de Janeiro no inverno.
No verão (Figura 77) esta região segue o padrão barotrópico, característico da faixa tropical, o qual não possui processos eficientes de acoplamento entre as camadas da troposfera, pelo menos entre a baixa e a alta troposfera e a conexão vertical entre os padrões de vento não é tão evidente.
A situação geográfica de Itaorna, onde está localizada a CNAAA, confere algumas interessantes características climáticas. O padrão climático é subtropical, mas as flutuações da temperatura no inverno e os eventos mais significativos de precipitação no verão se devem à aproximação de frentes frias provenientes das latitudes temperadas do hemisfério sul. Sendo uma região costeira, está freqüentemente sob a égide do grande anticiclone subtropical do Atlântico Sul, cuja borda sudoeste afeta a região com pressões normalmente acima dos 1013
mb, mas apresenta também eventos de aumento substancial desses valores médios quando, após a passagem de uma frente fria, predominam as massas frias com altas pressões provenientes da região Antártica.
Nestes eventos a pressão alcança ou supera os 1018 mb no verão e mesmo os 1024 mb no inverno. A questão é que estes eventos de pressões atmosféricas elevadas comprimem a camada limite planetária, reduzindo o volume de diluição dos poluentes e impondo aos ventos seguirem trajetórias muito baixas.
O mês de janeiro de 2001 foi atípico quanto às precipitações em Itaorna, com as chuvas acumulando mais de 100 mm apenas nos primeiros cinco dias do mês, conforme a Figura 79. Esta figura sugere que a pressão relativamente alta e a temperatura relativamente baixa neste início do mês estão associadas à entrada de uma frente fria. Contudo outro evento frontal em torno do dia 14 não trouxe chuvas à região.
A Figura 80 refere-se ao mês de julho de 2000, com o qual se procurou exemplificar o clima de inverno. A correlação oposta ou negativa entre a pressão e a temperatura é mais uma vez evidente: os eventos de precipitação acumularam baixos índices de chuva, como é típico do inverno, mas ocorreram na entrada das frentes frias. Isto é evidenciado na Figura 80, pelo concomitante aumento da pressão barométrica e queda da temperatura, característica das massas de ar pós-frontais.

Figura 79 - Evolução temporal da temperatura
a 2 m, da pressão ao nível médio do mar
e da precipitação (jan/2001).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 80 - Evolução
temporal da temperatura a 2 m, da pressão ao nível
médio do mar e da precipitação (jul/2000).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
É muito importante, na análise de riscos de eventuais acidentes com lançamento de radionuclídeos para a atmosfera, um acompanhamento da altura da camada limite planetária, uma vez que é dentro dessa camada que ocorrerão grande parte dos transportes desses radionuclideos pelo ar, e é em seu volume que haverá também a eventual diluição dos mesmos.
A teoria sugere que o aquecimento da superfície produz o levantamento do topo da camada limite uma vez que os movimentos turbulentos são ativados pela liberação de calor sensível. Mas janeiro de 2001 foi atípico, não só pela baixa precipitação, mas também pela altura da camada limite ter se mantido constantemente baixa. A Figura 81 mostra a camada limite planetária alcançando alturas próximas de 500 m apenas em alguns dias em meados do mês de janeiro de 2001. Como não ocorreram eventos de precipitação exceto no início do mês, a camada limite esteve comprimida pela pressão atmosférica alta do anticiclone subtropical do Atlântico Sul, e a frente fria que atingiu a região em torno do dia 12 provocou a
turbulência que misturou a camada e levantou o seu topo.
No mês de julho de 2000 (Figura 82) alguns eventos também ligados à passagem de sistemas frontais produziram elevações significativas na altura da camada limite.

Figura 81 - Evolução temporal da altura da
camada limite planetária em Itaorna (jan/2001).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 82 - Evolução
temporal da altura da camada limite planetária em Itaorna
(jul/2000).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
Nas figuras a seguir (Figura 83 a Figura 86) são mostradas a distribuição espacial da altura da camada limite calculada pelo modelo de mesoescala MM5. Compara-se o comportamento dessa altura às 3 horas locais e às 15 horas locais, e em janeiro e em julho, representando o verão e o inverno.
Na Figura 83 e Figura 84, vê-se que durante a madrugada local, a altura da camada fica mais baixa no continente do que sobre o oceano, e que a região do entorno da CNAAA tende a apresentar alturas mais baixas que ao redor, especialmente no verão.
Na Figura 85 e Figura 86, referentes à tarde local, a camada limite é mais espessa no continente do que sobre o oceano, mas ainda assim a região da CNAAA tende a apresentar valores mais baixos que no seu entorno.

Figura 83 - Distribuição regional da altura
da camada limite planetária às 6 UTC (jan/2001).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 84 - Distribuição regional da altura
da camada limite planetária às 6 UTC (jul/2000).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 85 - Distribuição regional da altura
da camada limite planetária às 18 UTC (jan/2001).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 86 - Distribuição regional da altura
da camada limite planetária às 18 UTC (jul/2000).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
6.1.3.4.
Estudo das trajetórias em cenários
- topo
Nos tópicos anteriores foi feita uma descrição das características climatológicas das trajetórias atmosféricas em torno do CNAAA. Dando prosseguimento a esta linha de abordagem, é a seguir apresentado um estudo das possíveis trajetórias dentro dos três cenários mais importantes das condições atmosféricas reinantes na região de interesse, no verão e no inverno.
As condições selecionadas para se constituírem nos cenários ora analisados foram:
a) Predominância de uma massa de ar quente, característica de uma situação préfrontal;
b) Predominância de uma massa de ar frio, característica de uma situação pósfrontal;
c) Passagem propriamente dita de um sistema frontal sobre a região.
As situações selecionadas referem-se à posição das frentes frias com relação à região de interesse nos meses de julho de 2000 e janeiro de 2001. Os períodos em que a frente fria estava ao sul de Angra dos Reis caracterizam o predomínio de massa de ar quente. Nas situações em que a frente fria estivesse ao norte desta região, considerou-se com sendo o predomínio de massa de ar frio. Finalmente quando a frente fria se localizou sobre a região das usinas, denominou-se este cenário como sendo de situação frontal.
As trajetórias das partículas foram construídas a partir de 5 níveis que são: 50, 300, 600, 1000 e 3000 metros. Os dois primeiros níveis se situam, dependendo da situação sinótica e da época do ano, dentro da camada limite planetária naquela região.
a) Massas de ar
quente
As trajetórias mostradas nas figuras a seguir referem-se a uma situação pré-frontal, respectivamente na grande escala (Figura 87) e na mesoescala (Figura 88). Na grande escala, tanto em julho quanto em janeiro as trajetórias tendem a se deslocar para o mar. Já na mesoescala observou-se, em janeiro, influência sobre localidades litorâneas dentro da Baía da Ilha Grande. As trajetórias dos níveis mais baixos, especialmente a de 50 metros, são normalmente muito curtas, devido à combinação de dois fatores, ser a camada limite planetária muito baixa na região e ser a região envolvida por relevo acentuado muito próximo ao litoral.

Figura 87 - Trajetórias correspondentes ao cenário
da situação pré-frontal na grande escala,
nos meses (a) julho e (b) janeiro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 88 - Trajetórias correspondentes ao cenário
da situação pré-frontal na mesoescala,
nos meses (a) julho e (b) janeiro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
b) Massas de ar
frio
Quando a região de interesse está sob a ação de ar frio pós-frontal, as trajetórias mostram comportamento distinto entre o inverno e o verão. Em julho (Figura 89 (a) e Figura 90 (a)), as trajetórias iniciadas em níveis mais baixos tendem a se dirigir para o litoral sul, enquanto que as iniciadas em níveis mais altos se dirigem para o litoral norte. Além disso, algumas dessas trajetórias sofrem a influência do ciclo diurno da circulação local.
Em janeiro (Figura 89 (b) e Figura 90 (b)), todas as trajetórias indicam transporte para sul, neste cenário de predomínio de massa de ar pós-frontal. Estes resultados indicam a necessidade de um monitoramento contínuo e de uma previsão adequada dos escoamentos atmosféricos sobre a região de interesse. A tecnologia necessária a estas previsões foi desenvolvida e é utilizada em caráter de rotina no Laboratório de Prognósticos em Mesoescala (LPM) do Departamento de Meteorologia da UFRJ.

Figura 89 - Trajetórias correspondentes ao cenário
da situação pós-frontal na grande escala,
nos meses (a) julho e (b) janeiro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 90 - Trajetórias correspondentes ao cenário
da situação pós-frontal na mesoescala,
nos meses (a) julho e (b) janeiro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
c) Sistemas frontais
No cenário relativo à presença de uma frente fria sobre a região de Angra dos Reis, é bastante distinto o comportamento entre o inverno e o verão. Em julho, as trajetórias tendem a se deslocar para o mar, embora haja influência em localidades litorâneas, especialmente para o sul no caso das trajetórias mais baixas (Figura 91 (a) e Figura 92 (a)).
No
verão o escoamento atmosférico sob o efeito
dos sistemas frontais tende a levar os poluentes para o interior
do continente, transpondo inclusive a significativa barreira
topográfica que circunda a região de Itaorna.
Vê-se que mesmo em grande escala há reversões
nas trajetórias (Figura 91 (b)), o que mostra a ação
dos sistemas frontais sobre a circulação. Estes
sistemas são constituídos de diversos cumulonimbos
que agitam forte e caoticamente a atmosfera, fazendo com que
as trajetórias apresentem meandros bastante complexos.
Uma vez mais fica evidente que a dinâmica da atmosfera
não pode ser abordada simplesmente com um tratamento
climatológico com campos médios, mas é
perceptível que a abordagem adequada precisa incluir
a previsão dinâmica das circulações
dentro da atmosfera.

Figura 91 - Trajetórias correspondentes ao cenário
do sistema frontal na grande escala, nos meses (a) julho e
(b) janeiro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 92 - Trajetórias
correspondentes ao cenário de sistema frontal na mesoescala,
nos meses (a) julho e (b) janeiro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo
I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
6.2. GEOLOGIA
- topo
6.2.1.
Aspectos de Litoestatigrafia e Mapeamento Geológico
- topo
6.2.1.1.
Contexto Geológico Regional
- topo
As
rochas são relacionadas ao Cinturão Móvel
Costeiro ou Faixa Ribeira, onde estão expostas litologias
de um embasamento profundo devido a desnudação.
A formação dessa faixa móvel, disposta
ao longo de parte da costa do sudeste brasileiro, se deu durante
o fim do Pré-Cambriano e início do Paleozóico,
entre os Crátons Arqueanos do Congo e do São
Francisco. As feições tectônicas da Região
Sudeste estão apresentadas na Figura 93.

Figura 93 - Mapa tectônico da Região Sudeste.
A AII do empreendimento está representada pelo círculo.
Fonte: FERRARI (2001) - simplificado de HEIBRONet al. (2000). "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Granitóides
pré a sintectônicos na forma de corpos geralmente
lenticulares de vários quilômetros de extensão
e granitóides anelares pós-tectônicos
são bem difundidos, cortando metassedimentos Neoproterozóicos
(metapelitos, quartzitos, mármores) e remanescentes
retrabalhados do embasamento mais antigo. Sillimanita-cordierita-granada
gnaisses, gnaisses graníticos e migmatitos são
comuns, demonstrando temperaturas moderadas a elevadas durante
o metamorfismo que atingiu as formações geológicas
existentes. Nesse contexto são assinaladas diversas
associações de rochas que constituem os seguintes
complexos:
Complexo
Juiz de Fora - suas rochas predominantes são charnockitos,
enderbitos e granulitos (HASUI et al.,1984a). Essas
rochas de alto grau metamórfico são tectônicamente
subjacentes a quartzitos, metagrauvacas, kinzigitos e migmatitos.
Algumas datações geocronológicas indicam
idades Transamazônicas, aproximadamente 2150 Ma para
os granulitos, embora seja possível que as rochas do
complexo tenham sido formadas em mais de um evento magmático
termo-tectônico, desenvolvidos no Arqueano / Paleoproterozóico.
Complexo
Paraíba do Sul - Adjacente ao Complexo Juíz
de Fora, é caracterizado por pilhas de rochas supracrustais
sin e pós-Transamazônicas expostas. Localmente
apresenta fenômenos de migmatização anatética.
São metassedimentos representados por gnaisses aluminosos
(kinzigitos, sillimanita-granada-biotita gnaisses) com intercalações
de quartzitos, mármores e rochas calcissilicáticas.
Essas rochas estão intrudidas por corpos alongados
na direção do trend NE-SW regional de granitóides
sin-orogênicos agora transformados em ortognaisses.
São assim individualizados diversos conjuntos de granitóides
gnaissificados intercalados neste complexo metassedimentar.
Complexo
e Arco Magmático Rio Negro - De idades compreendidas
entre 640-600 Ma, compreende ortognaisses tonalíticos
e trondjemíticos, hornblenda-gabros e stocks quartzodioríticos
relacionados a um magmatismo de subducção do
tipo arco. O Arco Magmático Rio Negro, de característica
pré-colisional, com idades entre 630-595 Ma e ocorrendo
desde a Serra dos Órgãos e adjacências
à região litorânea de Mangaratiba / Angra
dos Reis / Parati (HEILBRON et al. 2000; TUPINAMBÁ,
1996). Faz parte do Terreno
Oriental do segmento central da Faixa Ribeira, sendo também
denominado Domínio Costeiro ou Microplaca Serra do
Mar (CAMPOS NETO E FIGUEIREDO,1995). O primeiro evento metamórfico
registrado no complexo foi acompanhado de migmatização
e anatexia, com idades em torno de 590 Ma. Um outro evento
termal propiciou a formação e intrusão
de grande quantidade de granitos sin-orogênicos, aproximadamente
datado de 570 Ma. Corpos granitóides mais jovens, com
idades geralmente inferiores a 500 Ma e com características
pós-tectônicas cortam pontualmente essas rochas.
6.2.1.2.
Evolução geológica da região
- topo
A
evolução lito-estrutural da região em
estudo comporta uma série de episódios geodinâmicos
que envolvem a formação e a destruição
de rochas de grande amplitude de idades, representada por
um intervalo de tempo superior a 1 bilhão de anos.
Diversos fenômenos geológicos de diferente natureza
aí ocorreram, formando, modificando, deformando e destruindo
rochas. Metamorfismo, magmatismo e tectônica incidiram
nesta porção sudeste da plataforma Brasileira,
aqui denominada porção central da Faixa Ribeira.
Nessa
geo-história encontramos, portanto, inúmeros
processos onde o metamorfismo de médio a alto grau
associado a fenômenos de migmatização
e anatexia, a magmatogênese de característica
particularmente granítica e à deformação
de rochas que originaram dobras e falhas, que caracterizam
o substrato rochoso dessa região do sudeste brasileiro.
Conclui-se
então que foi nos fenômenos geodinâmicos
desenvolvidos no Pré-Cambriano médio e superior
que o substrato regional se formou, com a sua estabilização
ou cratonização ocorrida no início do
Paleozóico. A quase totalidade das rochas ocorrentes
na área de influência foi formada através
dos cinturões orogênicos ou faixas móveis
que se desenvolveram durante toda a Era Proterozóica,
dando origem a uma grande variedade de rochas metamórficas
e magmáticas, destacando-se diferentes tipos de gnaisses,
quartzitos, mármores, rochas cálcissilicáticas,
migmatitos e granitóides sin, tardi e pós-tectônicos.
O
quadro geológico evolutivo da região é
bastante complexo, pois há presença de rochas
sucessivamente afetadas por eventos termo-tectônicos
Transamazônicos do Paleoproterozóico (2250-1850
Ma) e Brasilianos no Neoproterozóico (780-450 Ma).
Estes fenômenos geodinâmicos, os mais expressivos
na crosta terrestre nessa região da Plataforma Sul
Americana, provocaram acréscimo de material crustal,
retrabalhamentos nas rochas préexistentes, e também
rejuvenescimento isotópico.
O
cicloTransamazônico, no Proterozóico inferior,
é o mais antigo evento formador de rochas reconhecido
na região de estudo. Foi através deste evento
que ocorreu extensa deformação com intensa migmatogênese
e granitogênese, com metamorfismo em fácies anfibolito/granulito.
Faixas
de metamorfitos constituindo complexos migmatico-gnaissicos
com estruturas geralmente lineares e bandadas foram profundamente
transformadas durante o Transamazônico. Assim como no
Complexo Juíz de Fora, nestas estruturas encontram-se
anfibolitos, enderbitos, charnockitos, migmatitos granulíticos,
granitóides, dioritos, gabros e noritos.
Superimposto
ao evento Transamazônico, encontram-se os componentes
magmáticometamorfico-estruturais do ciclo Brasiliano,
que além de remobilizar rochas daquele cinturão
paleoproterozóico através dos fenômenos
metamórficos-migmáticos, acrescentou à
crosta grandes volumes de material magmático, principalmente
de composição ácida a intermediária
(granitos e granodioritos).
Este
episódio magmático termo-tectônico contou
com fases metamórficas que atingiram o fácies
anfibolito, gerando diversos tipos de gnaisses e com fenômenos
de migmatização e anatexia associados. O ciclo
Brasiliano, que atuou desde o proterozóico superior
(Neoproterozóico) até o Paleozóico Inferior
(Cambro-Ordoviciano), encerrou a consolidação
do Escudo Brasileiro, através da incorporação
das faixas móveis Transamazônica e Brasiliana
ao Cráton de São Francisco.
Foram
sistemas orogênicos superpostos ativos durante o ciclo
Brasiliano/Pan-Africano, que afetaram também a borda
retrabalhada do Cráton de São Francisco. Este
Cráton é contornado pelos cinturões Brasiliano/Pan-Africano
(750-550 Ma) que se desenvolveram durante a aglutinação
do supercontinente Gondwana. A Faixa móvel Ribeira
é um desses cinturões, que se situa ao longo
da costa Atlântica brasileira.
Essa
Orogenia, que caracteriza a Faixa Ribeira, ocorreu nesta região
do Sudeste pela colisão de blocos continentais ou microplacas
litosféricas. São três os estágios
orogênicos reconhecidos:
a)
Primeiro estágio orogênico do ciclo Brasiliano:
Deu-se
por colisão com a subducção da placa
oceânica responsável pela faixa de dobramentos
ao longo da borda sudeste do Cráton de São Francisco.
No
segmento central do Cinturão Ribeira são encontrados
três distintos domínios crustais, que foram caracterizados
anteriormente (6.2.1.1 Contexto Geológico Regional):
•
Uma faixa ocidental (Terreno Ocidental), originalmente denominada
Série Juíz de Fora.
•
Uma faixa intermediária constituindo o Complexo Paraíba
do Sul.
•
Uma faixa mais oriental (Terreno Oriental), denominado Domínio
Costeiro, que na área de estudo é representado
pelo Complexo e Arco Magmático Rio Negro.
Os
Terrenos Oriental e Ocidental acima citados são separados
por uma zona de cisalhamento com cerca de 200 km de extensão,
denominada Limite Tectônico Central (CTB), que desenvolveu-se
durante os últimos estágios da Orogenia Brasiliana
(ALMEIDA et al. 1998).
b)
Segundo estágio orogênico do ciclo Brasiliano:
Inicia
com a subducção da placa São Francisco
para sudeste sob a microplaca Serra do Mar, produzindo magmatismo
granitóide tipo arco na placa superior (TROWN et
al, 2000), representado pelo Complexo Rio Negro - do nordeste
do estado de São Paulo ao sudeste do Espírito
Santo. Granitóides sin a tardi-colisionais mostram
polaridade espacial e temporal no cinturão. Eles são
mais abundantes a partir do sistema de cisalhamento Juiz de
Fora em direção à costa, indicando espessamento
crustal como resultado da colisão continental.
O
período tardi-colisional mostra leucogranitos metaluminosos
a levemente peraluminosos relacionados com zonas de cisalhamento
sub-verticais. Stocks e pequenos plútons de granitóides
cálcio-alcalinos de alto-K e alcali-cálcicos
intrudiram as unidades litológicas do Domínio
Costeiro. Padrões texturais e relações
estruturais com as rochas encaixantes sugerem intrusionamento
dominantemente pós-tectônico. Este último
evento magmático cálcio-alcalino, tardi a pós-tectônico
é representado por dezenas de corpos de dimensões
variadas, como os ocorrentes na região em estudo de
Mangaratiba a Parati, e estão relacionados com um ambiente
geotectônico de relaxamento crustal pós colisão,
no final do ciclo Brasiliano, já no Cambro-Ordoviciano.
Terceiro
estágio orogênico do ciclo Brasiliano:
Desenvolveram-se
os grandes falhamentos transcorrentes, com extensas faixas
cataclásticas nas faixas de cisalhamento. Essas falhas,
orientadas predominantemente segundo a direção
NE-SW, com padrões às vezes sigmoidais, possuem
grande componente dextral. Segundo ALMEIDA (1967), tais descontinuidades
crustais refletem direcionalmente os eventos deformacionais
impressos nas rochas durante o ciclo Brasiliano.
Após
o ciclo Brasiliano ocorreu a consolidação da
Plataforma Brasileira, que se manteve em condições
ortoplataformais até o Jurássico Superior. Do
Siluriano ao Jurássico Superior admite-se a ocorrência
de movimentos oscilatórios lentos (ALMEIDA et al.,
1981) relacionados a fenômenos epirogenéticos,
com movimentações positivas e negativas.
No
fim do Jurássico ocorreu a reativação
Waldeniana (ALMEIDA (1967; 1969)), também conhecido
como Evento Sul-Atlantiano (SCHOBBENHAUS et al., 1984).
Neste período iniciou-se um evento tectono-magmático
de grande importância, com intenso magmatismo básico
toleiítico e alcalino, formando os derrames basálticos
da bacia do Paraná e centenas de diques básicos
associados ao processo de abertura do Atlântico Sul.
A esse evento está associado o desenvolvimento de bacias
tafrogênicas como as de Santos, Taubaté e Resende,
bem como o processo morfogenético que propiciou a formação
da Serra do Mar, a partir do Cretáceo.
A
tectônica de blocos falhados, que continuou atuante
durante todo terciário, muito contribuiu para a formação
do relevo na região do Sudeste. O magmatismo básico
relacionado a esse evento tectono-magmático é
representado na área de estudo pela presença
de diques de diabásio e lamprófiros embutidos
em fraturas relacionadas a essa tectônica que teve seu
clímax no Cretáceo.
Na
Era Cenozóica, um evento tectônico atingiu várias
regiões do país, inclusive o Estado do Rio de
Janeiro. Tal evento é relacionado com as tensões
oferecidas à crosta continental pela movimentação
da placa Sul-Americana. Alguns fenômenos sísmicos
da Região Sudeste estão relacionados com essa
neotectônica.
No
final do Terciário e durante a totalidade do período
Quaternário, depósitos sedimentares costeiros,
flúvio-marinhos e marinhos, foram formados devido a
sucessivas oscilações do nível do mar.
O
desenvolvimento de depósitos de tálus e colúvios
nas encostas estão, em parte, relacionados às
oscilações climáticas que ocorreram na
região durante o Pleistoceno e Holoceno.
6.2.1.3.
Unidades Litoestratigráficas indicadas
- topo
O
conjunto geológico da área de estudo é,
portanto, representado por rochas metamórficas de médio
a alto grau, gnáissicas, com diversos padrões
de dobramento e diferentes níveis de deformação
dúctil/rúptil, refletidos nos gnaisses cataclásticos
ou miloníticos, às vezes migmatizados em vários
graus, inclusive evoluindo para anatexitos, além de
granitóides intrusivos com diferentes texturas e estruturas
na forma de batólitos, stocks e diques, diques de diabásios
e restritas áreas de sedimentos inconsolidados recentes.
O
estabelecimento de limites precisos entre as litologias ficou
dificultado por causa da intensa cobertura vegetal da Mata
Atlântica, o relevo íngreme, a falta de acessos,
aliada ao intemperismo quase total de litologias importantes,
conjugadas com a complexidade geológica desses terrenos,
onde freqüentemente a passagem de um litotipo para o
outro é gradativa.
A
identificação e separação espacial
dos conjuntos litológicos requisitados para o entendimento
do quadro litoestrutural e litoestratigráfico da área
ao nível de semi-detalhe e detalhe, requereram a utilização
de apoio laboratorial e de outras técnicas de análises
indiretas associadas, como recursos de geofísica (gravimetria
e a magnetometria) e geoquímica. Dessa forma, o estabelecimento
dos diferentes termos petrográficos posicionados em
uma litoestratigrafia e enquadrados nos respectivos domínios,
foram simplificados para que pudessem ser representados em
mapas geológicos.
Como
em todos os mapas geológicos existentes dessa região
do sudeste, os contatos geológicos representados marcam
bem os limites parciais ou totais dos corpos graníticos
intrusivos, que apresentam bons contrastes com as encaixantes
favorecendo a sua delimitação. Sedimentos recentes,
e/ou coberturas inconsolidadas do quaternário são
encontrados principalmente nos depósitos costeiros,
flúvio-marinhos e marinhos, e em depósitos aluvionares
no restante da área.
Cerca
de 99% da AID está coberta pelos mapas geológicos
do DRM em escala de semi-detalhe (1:50.000) e na AII esta
abrangência é de apenas 60%, pois na área
pertencente ao estado de São Paulo (aproximadamente
1.300 km2) não há cartografia geológica
sistemática na mesma escala. Esta situação
indicou a necessidade de se empreender tentativamente o ajuste
das unidades definidas no Estado do Rio de Janeiro com as
do Estado de São Paulo, representadas, portanto com
menos precisão, porém com as devidas verificações
de campo.
Como
se pôde ver anteriormente (ítem 6.2.1.1), as
unidades litológicas e estratigráficas da Área
de Inflluência Direta (AID) e das Áreas de Inflluência
Indireta (AII) são principalmente constituídas
por rochas Pré-Cambrianas (Eo e Neoproterozóicas)
representadas pelos Complexos Juíz de Fora (Paleoproterozóico),
Paraíba do Sul/Embu (Meso-Neoproterozóico) e
Rio Negro com arco magmático associado (Neoproterozóico).
Em associação, há uma sucessão
de rochas intrusivas mais jovens, predominantemente graníticas,
deformadas ou não, de idades Neo e Eopaleozóicas,
que ocorrem por toda a área, particularmente no Domínio
Costeiro ou Complexo Rio Negro, no qual se encontra a CNAAA.
Predominam
conjuntos de rochas metamórficas para e ortoderivadas,
representadas por gnaisses aluminosos e graníticos,
com amplas variações texturais e deformacionais,
às vezes submetidos a processos de migmatização
e anatexia que obliteraram e mascararam as características
originais das rochas, dificultando as suas correlações.
No
norte da área há a predominância de paragnaisses,
além dos limites do Complexo Rio Negro. São
representados em sua maioria por biotita-gnaisses bandados,
geralmente granatíferos, com sillimanita e cordierita
subordinadamente, com a presença de lentes de rochas
cálcissilicáticas e níveis quartzíticos
de variação centimétrica a decamétrica.
Freqüentemente desenvolvem textura cataclástica
e milonítica. Boas exposições podem ser
vistas na região de Lídice e Bocaina.
Os
ortognaisses, de composição tonalítica
- trondhjemítica a granítica dominam para o
sul, na área litorânea, no domínio do
Complexo Rio Negro, onde estão freqüentemente
atravessados por injeções graníticas
mais jovens, relacionadas a diversos plútons graníticos
existentes e também como produtos anatéticos
de fenômenos migmáticos que ocorrem em larga
escala nessa área.
Esses
ortoderivados são biotita-gnaisses ou biotita-hornblenda-gnaisses,
de granulação grossa, com texturas porfiríticas
ou não. Às vezes são bastante homogêneos
com aspecto granítico, onde inclusões máficas
são encontradas, propiciando ao conjunto um aspecto
nebulítico que se confunde com as feições
de bordas observadas em alguns corpos graníticos que
intrudem esses gnaisses. Outros pontos apresentam feições
migmáticas estromáticas, que podem gradar a
feições bandadas delgadas, tipo schlieren, onde
a gnaissificação torna-se bem marcada. Há
intercalações localizadas de metagabros e metadioritos
e injeções leucossomáticas por vezes
granatíferas e muscovíticas ou raras apófises
de granitóides foliados tipo Serra dos Órgãos.
Rochas
granulíticas e granada-charnockitos associados ao Complexo
Juíz de Fora são observadas na porção
centro-nordeste da AII, e parecem representar "escamas"
tectônicas do embasamento compartimentadas no Complexo
Paraíba do Sul.
Os
maciços graníticos, em geral bem delineados
espacialmente, ocorrem por todo o setor centro-sul da AII,
em particular no domínio do Complexo Ortognáissico
Rio Negro, onde ganham denominações das localidades
onde ocorrem, como por exemplo, Granito Mangaratiba/Conceição
de Jacareí; Granito Mombaça, Granito Angra dos
Reis; Granito Mambucaba; Granito Parati; Granito Carrasquinho;
Granito Parati-Mirim; Granito Ilha Grande etc.
São
granitóides tardi a pós-tectônicos relacionados
ao magmatismo Brasiliano, que se desenvolveram do Proterozóico
Superior ao Cambro-Ordoviciano, em grande parte cálcioalcalinos
do tipo I, biotíticos,de granulação variável,
textura equigranular a porfirítica e localmente com
feições de fluxo magmático. Ocorrem na
área como stocks, corpos tabulares e diques
cortando as rochas regionais. Evidências de magma mingling
e mixing são em alguns pontos observadas
bem como associações com rochas charnockíticas
e dioríticas, em ilhas da região e, especificadamente,
na Ilha Grande.
A
presença de corpos graníticos tabulares na forma
de diques de baixo ângulo de mergulho, concordantes
ou não com a foliação das encaixantes,
propicia, nas encostas dos morros onde afloram extensos campos
de matacões, que dependendo da espessura dos corpos
geram blocos gigantescos, mergulhados nos colúvios
ou isolados nas vertentes. Esses corpos graníticos
e campos de matacões associados podem ser observados
por longos trechos da BR-101 (Rio-Santos), particularmente
de Mangaratiba a Angra dos Reis.
6.2.1.4.
Descrição das unidades litoestratigráficas
- topo
A
descrição das unidades litoestratigráficas
aqui indicadas foram feitas com base na literatura existente
e com dados adicionais coletados em campo. As unidades encontram-se
resumidas na Tabela 10 abaixo e podem ser visualizadas nos
Mapas Geológicos (Anexo 1 e Anexo 2).
Tabela
10 - Coluna Litoestratigráfica.
Período |
Unidades |
Simbologia |
Quaternário |
Depósitos
Flúvio-Marinhos |
Qm
|
Depósitos
Aluvionares |
Qa
|
Jurássico
/ Cretáceo |
Diques
de Rocha Básica |
db
|
Carbonífero
/ Ordoviciano |
Charnokito
Ilha Grande |
Chig
|
Granito
Ilha Grande |
GRig
|
Granito/Diorito
Sin-Intrusivos |
GRD
|
Granito
Porfiritico Conceição de Jacareí
|
GRcj
|
Granito
Mangaratiba |
GRmg
|
Granito
Mombaça |
GRmo
|
Granito
Angra dos Reis |
GRag
|
Granito
Mambucaba |
GRmb
|
Granito
Carrasquinho |
GRcr
|
Granito
Parati |
GRpt
|
Neoproterozóico |
Granito
Gnaisse Bocaina |
GRgnbo
|
Granito
Gnaisse Trindade |
GRgntd
|
Granito
Parati-Mirim |
GRpm
|
Granitóide
Quebra Cangalha |
GRqc
|
Granitóide
São José do Barreiro |
GRsjb
|
Granitóide
Rio Turvo |
GRtu
|
Granitóide
Porfirítico |
GRpo
|
Complexo
Rio Negro |
Biotita-Gnaisse
Migmatítico |
bGnm
|
Biotita
Gnaisse Porfiroblástico Bandado e Estromático |
bGnp
|
Meso
/ Neoproterozóico |
Paragnaisses
do Complexo Paraíba do Sul |
PGn
|
Paleoproterozóico |
Complexo
Juiz de Fora |
OrJF
|
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
6.2.1.4.1.
Unidades do Paleoproterozóico (2.2 a 2.1 Ga)
- topo
a) Unidade OrJF - Complexo Juíz
de Fora
Essa
unidade tem suas litologias ocorrentes principalmente AII
e partes da AID, onde aparece intercalada com rochas de Complexo
Paraíba do Sul. São rochas de fácies
granulito intensamente deformadas por padrões de dobramento
complexos e de difícil caracterização.
Em termos petrográficos, distinguem-se diversas rochas
da série charnockítica: Hiperstênio -
granitos (charnockitos), Hiperstênio - granodioritos
(charnoenderbitos), Hiperstênio-tonalitos (enderbitos),
mangeritos, jotunitos e noritos. Gnaisses kinzigíticos
são também assinalados. Como estão muito
deformadas e apresentando várias fases de dobramento,
com freqüente transposição de foliações,
a textura original hipidiomórfica granular é
mascarada, sendo preservada em raros locais. Fenômenos
de recristalização e cataclase geram feições
blastomiloníticas e cataclásticas, onde enclaves
deformados e boudinados são visíveis.
Na
região de Lídice-Rio Claro algumas faixas de
litologias representativas dessa unidade ocorrem em domínios
dos paragnaisses do Complexo Paraíba do Sul e também
mais para norte, em direção a Bananal. Algumas
litologias encontradas de forma restrita no litoral à
oeste de Angra dos Reis podem pertencer a esta unidade.
De
um modo geral, as rochas desse complexo indicam formação
em condições elevadas de metamorfismo de alto
grau, que originaram ortognaisses granulíticos, piroxêniohornblenda-biotita-gnaisses,
com freqüentes intercalações de granada-gnaisses
(kinzigitos) e de paragnaisses bandados ou parcialmente fundidos
com aspecto migmátítico/oftalmítico/nebulítico.
Essas intercalações podem se relacionar à
condicionamentos estruturais, na forma de "lascas"ou
"escamas" de rochas de um embasamento mais antigo,
alçadas por tectônica a níveis crustais
mais superiores.
Intercalações
de granulitos com rochas paragnáissicas, como os gnaisses
bandados, biotita gnaisses, porfiroblásticos (tipo
augen) ou não, granada-biotita-gnaisses (kinzigitos),
quartzitos micáceos, mármores e rochas cálciossilicáticas
(unidade Lídice) podem estar relacionadas a esse complexo
segundo a interpretação tradicional da bibliografia.
6.2.1.4.2.
Unidades do Meso/Neoproterozóico (1.600 Ma a 650Ma)
- topo
a) Unidade PGn- Paragnaisses do Complexo
Paraíba do Sul
De
significativa ocorrência, pois está presente
por quase toda a AII, principalmente a partir de sua porção
centro-norte. Ao sul ela desaparece através dos contatos
tectônicos com as rochas do Complexo Rio Negro ou devido
à presença de corpos granitóides litorâneos,
que lhes interceptam por intrusionamento. Esse limite sul
atravessa em diagonal a AID ao norte de Itaorna. A partir
desse limite para norte predominam as rochas desse complexo
até os limites da AII.
Uma
extensa e importante faixa de cisalhamento de direção
NE-SW denominada Zona de Cisalhamento Areal-Arcádia-Paracambi
ou Limite Tectônico Central (CTB) demarca estas rochas
das litologias do Complexo Rio Negro, como observado em Ariró-Zungú,
a nordeste de Bracuí.
Essa
Unidade é representada por litotipos gnáissicos
muito semelhantes, que invariavelmente denotam a sua origem
parametamórfica, além de estilos deformacionais
similares em grande parte da área em questão.
Em algumas zonas, apresenta faixas cataclásticas que
mascaram a sua configuração peculiar e individualizante
(Figura 94).

Figura 94 - Unidade PGn- paragnaisses
do Complexo Paraíba do Sul. Oeste de Tarituba.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
De
um modo geral, se caracterizam pela presença de granada-biotita-sillimanita
gnaisses quartzo-feldspáticos, gnaisses granatíferos
(kinzigitos) e granada-biotita gnaisses, geralmente bandados,
com freqüentes intercalações de quartzitos,
que podem formar potentes bancos, lentes de rochas calcissilicáticas,
meta-calcários dolomíticos e calcíticos,
mármores de granulação grossa e xistos
muscovíticos e/ou grafitosos. O aspecto bandado varia
localmente de finas bandas centimétricas a decamétricas,
alternando as diversas variações composicionais
do pacote meta-sedimentar. São observadas em alguns
pontos veios ou bolsões de material remobilizado de
origem anatética, de composição granítica
a pegmatítica e quartzo-feldspática, que se
injetam entre as bandas composicionais regulares.
Na
Área de Influência Indireta, corpos individualizáveis
de granitóides gnaissificados, alongados segundo a
foliação regional NE-SW, são encontrados
embutidos nas rochas desse domínio.
Segundo
a literatura, alguns corpos apresentam composição
granodiorítica a granítica, na forma de hornblenda-biotita
ortognaisses, granoblásticos a porfiroblásticos,
foliados e com xenólitos de rochas anfibolíticas
e paragnaisses, e podem corresponder à denominada Suíte
Quirino-Dorândia, núcleo ortognáissico
do embasamento das rochas metasedimentares do Complexo Paraíba
do Sul, segundo VALLADARES (1996) e Mapa Geológico
da CPRM (2001).
Conjuntos
de granada-biotita-gnaisses, migmatizados em maior ou menor
grau, associados a xistos e a possantes bancos quartzíticos,
que dão origem a morros e cristas alinhadas, são
observadas na região de Bananal-São José
do Barreiro. Nessa região, na área do Parque
Nacional da Bocaina, podem representar litologias do denominado
Complexo Embú, que se intercalaria com as do Complexo
Paraíba, pelo confronto dos mapas limítrofes
entre o Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Na AII
não foi discriminado o Complexo Embú do Paraíba
do Sul, face à observada semelhança dos litotipos
relacionados e a difícil dissociação
espacial entre eles.
Nas
faixas de cisalhamento essas rochas apresentam forte foliação
tectônica, tornandose bem laminadas e dependendo da
deformação, tornam-se rochas cataclásticas
ou miloníticas, onde se pode observar a presença
de milonito-gnaisse, blastomilonitos e até filonitos.
Tais faixas são bem características no Alto
da Bocaina e nos contrafortes da Serra do Mar na região
de Mambucaba e ao norte de Parati. Apresentam invariavelmente
direções que variam de N 50º E a N 80º
E e com mergulhos sub-verticais.
6.2.1.4.3.
Unidades do Neoproterozóico (655 Ma- 560 Ma)
- topo
a)
Unidade bGnp - Biotita-gnaisse porfiroblástico bandado
e estromático do Complexo Rio Negro
Essa
unidade gnáissica ocorre em trechos do litoral, particularmente
entre Mangaratiba e Frade, com boas exposições
nos arredores de Angra dos Reis. Nesse perímetro ela
pode ser observada em alguns paredões de morros escarpados,
cortes na Rodovia Rio-Santos, costões litorâneos
e em algumas ilhas.
São
ortognaisses biotíticos, de granulação
média a grossa, acinzentados, bem laminados em alguns
trechos, geralmente bandados, aspecto conferido pela maior
ou menor concentração de matriz e porfiroblastos/pórfiros
de feldspato alinhados segundo a foliação.
Esses
cristais, por vezes tabulares são euédricos
a subédricos, brancos ou rosados e chegam até
três centímetros de dimensão. Produtos
neossomáticos quartzo-feldspáticos e remobilizações
de matriz permeiam essas rochas, produzindo em alguns pontos
feições bandadas a estromáticas, dando
um aspecto migmático ao conjunto rochoso. Em outros
pontos a rocha toma um aspecto oftalmítico ou sub-facoidal
face à disposição textural porfiroblástica
dada pelos cristais de microclina (Figura 95).
Intercalações
localizadas e enclaves de rochas meso a melanocráticas
de composição gabróide a diorítica,
por vezes metamorfizadas (anfibolitos) e deformadas são
observadas, além de algumas injeções
leucossomáticas granatíferas, comuns por todo
o Complexo Rio Negro, não só na região
em questão. Corresponderia à Unidade Bingen
de Penhaet al. (1979) reconhecida na região central
do estado.
Essa
unidade é atravessada por intrusões graníticas
de diferentes volumes, veios de quartzo e pegmatóides,
além dos diques de diabásio do Mesozóico.

Figura 95 - Unidade bGnp- biotita-gnaisse porfirítico.
Região de Retiro, Angra dos Reis.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
b)
Unidade bGnm - Biotita-gnaisse migmatítico do Complexo
Rio Negro
Trata-se
de uma variedade gnáissica desse Complexo, mais textural
que composicional, ocorrente juntamente com a anterior na
região de Angra dos Reis, Frades e Parati, segundo
a disposição regional NE-SW ao longo do litoral.
Corresponde
a feições migmáticas estromáticas
onde bandas melanocráticas biotíticas se alternam
com bandas leucocráticas quartzo-feldspáticas,
de espessura que variam de centimétricas a decimétricas,
sucessivas e contínuas, de grão grosso a médio,
em associação com os gnaisses porfiroblásticos
da unidade descrita anteriormente (Figura 96). Corresponderia,
em parte, à Unidade Santo Aleixo, descrita por Penhaet al. (1979) na região central do estado.
Deve-se
atentar para a presença de um biotita granitóide
porfirítico, tardi-tectônico, a unidade GRpo,
embutido nesses gnaissses e migmatitos do Complexo Rio Negro,
que por suas características texturais e composicionais
se confunde com migmatitos oftalmíticos ou "Augen"
gnaisses, como o constatado em afloramentos e pedreiras nas
localidades de Ponta Grossa e Ponta Fina, na região
do Complexo Nuclear de Angra. São possivelmente porções
de rocha ígnea intrusiva sintectônicamente nos
biotita-gnaisses e migmatitos do Complexo Rio Negro. Esses
gnaisses porfiroblásticos com feldspatos ocelares centimétricos,
considerados relacionados com a seqüência gnáissica
migmatítica referenciada, podem ter afinidade genética
com a intrusiva, pois no Mapa Geológico do Estado do
Rio de Janeiro em escala regional (CPRM, 2001), foram denominados
e descritos conjuntamente como biotita granitos porfiróides
gnaissificados Paiol Velho.
Para
oeste, em direção a Parati, os gnaisses e migmatitos
associados desta unidade são interceptados pela intrusão
do granito Parati, de dimensões batolíticas.

Figura 96 - Unidade bGnm- biotita-gnaisses
migmatíticos. BR-101, próximo a Praia Brava.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
c)
Unidade GRpo- Granitóide porfirítico
Trata-se
de um corpo granitóide porfirítico, ligeiramente
gnaissificado e disposto de forma elipsoidal alongado na direção
regional NE/SW, tendo como encaixante os gnaisses do Complexo
Rio Negro.
É
um corpo ígneo granítico possivelmente tardi-colisional
da orogênese Brasiliana, composicionalmente um biotita-granito
com textura equigranular seriada a porfirítica. Esta
última textura o caracteriza em grande parte de suas
exposições, onde fenocristais de feldspato potássico
esbranquiçados, euedricos a subedricos e por vezes
ovalados, podem alcançar até 5 cm de comprimento,
se dispondo orientados na direção NE-SW, segundo
uma foliação não muito clara, característica
de orientação por fluxo. Esses cristais maiores
são envoltos por uma matriz de grão médio,
com quartzo, feldspatos, e biotita, principalmente, e algum
anfibólio, minerais acessórios e opacos.
Frequentemente
se encontram lentes e enclaves de composição
máfica ou quartzo diorítica, além de
concentrações de biotita, anfibólio e
minerais opacos da matriz formando níveis e concentrações
escuras. Em alguns pontos apresenta uma foliação
bem desenvolvida na direção NE-SW, onde os megacristais
de feldspatos potássicos encontram-se deformados, tornando-se
ovalados e dando um aspecto "augen" ou oftalmítico
à rocha granítica, o que o confunde com alguns
tipos gnáissicos encaixantes.
Essa
unidade se dispõe em uma faixa que apresenta afloramentos
expressivos como no bairro de Belém, em costões
litorâneos da baía da Ribeira, em cortes da BR-101
e na área onde estão edificadas as usinas nucleares
em Itaorna, com excelentes exposições nas pedreiras
e afloramentos em Ponta Grossa e Ponta Fina. Este granitóide
ocorre até as imediações de Tarituba
e é observado em algumas ilhas da baía da Ribeira
e da Ilha Grande, em particular na Ilha Sandri, em frente
ao complexo nuclear.
Estaria
correlacionada à Suíte granítica Pedra
Selada e denominado de Granito Paiol Velho no Mapa Geológico
do Estado do Rio de Janeiro da CPRM (2001).
d)
Unidade GRtu- Granitóide Rio Turvo
Granitóide
de dimensão batolítica, tardi-colisional, posicionado
aproximadamente ao longo da zona de cisalhamento Taxaquara-Rio
Bonito, de forma alongada na direção NE-SW,
ocorrente desde as imediações de Barra Mansa
e Volta Redonda, passando nas imediações de
Arapeí à direção de Campos do
Cunha, onde parece ser continuidade do granitóide Lagoinha,
posicionado mais a sudoeste.
Trata-se
de um biotita-granito acinzentado, de aspecto gnáissico,
apresentando em alguns pontos forte foliação
transcorrente, geralmente porfiroblástico (ou porfiroclástico),
com cristais de feldspato potássico esbranquiçado
a róseo, de até 1,5 cm, tabulares a ovalados
por catáclase, em matriz cinza escura formada por biotita,
plagioclásio, andesina e quartzo, com anfibólio
subordinadamente e apatita e ilmenita como acessórios.
Inclusões xenolíticas das rochas parametamórficas
envolventes são frequentes em alguns pontos.
e)
Unidade GRsjb- Granitóide São José do
Barreiro
Trata-se
de um plúton tardi-colisional, disposto na direção
NE-SW segundo a foliação regional que aflora
nas proximidades de São José do Barreiro (SP),
ao norte da AII, sendo balizado por falha e em contato com
paragnaisses e xistos do Complexo Paraíba do Sul/Embú.
Em geral tem coloração acizentada, de grão
médio, textura porfiroblástica e fortemente
foliado nas fácies mais biotíticas.
Petrograficamente
possui textura inequigranular, com matriz de grão médio
a fino, essencialmente constituída por quartzo, microclina,
plagioclásio oligoclásio e biotita. Os fenocristais
de feldspatos potássicos apresentam-se em cristais
tabulares com inclusões de biotita e quartzo. Os principais
minerais acessórios correspondem ao zircão,
epidoto, apatita e minerais opacos.
f)
Unidade GRqc- Granitóide Quebra-Cangalha
Granitóide
de dimensão batolítica, alongado na direção
NE-SW, ocorrente ao sul de Silveiras (SP). Toda a Serra Quebra-Cangalha,
à noroeste da AII, sendo limitado a oeste pela zona
de cisalhamento Alto da Fartura.
Trata-se
de um leucogranito, sin a tardi-colisional, provavelmente
tipo-S, grão médio a grosso, inequigranular
a porfirítico, de coloração cinza clara
a rosada, petrograficamente definido como um muscovita - granada
- biotita - granito
g)
Unidade GRpm- Granito Parati-Mirim
Ocorre
como uma larga faixa na direção NE-SW, desde
os limites de São Paulo, ao sul de Parati até
as proximidades de Parati-Mirim e porção ocidental
do Saco de Mamanguá, a sudoeste da AII.
Trata-se
de um leucogranito de cor cinza-esbranquiçada a rosada,
de grão médio dominante, localmente fino ou
grosso, de estrutura maciça, podendo mostrar foliação
aproximadamente concordante com a estruturação
regional, evidenciada pelos minerais máficos, dos quais
a biotita é o mais frequente, além de magnetita,
anfibólio e titanita. Em alguns pontos constata-se
a presença de allanita. Faz contato com o Granito Parati
e com o granito gnaisse Trindade de forma não observada
ou de difícil caracterização.
Petrograficamente
apresenta uma textura hipidiomórfica granular, anisotrópica,
constituída por microclina, oligoclásio, quartzo,
biotita e subordinadamente muscovita. A apatita, zircão
e allanita são acessórios.
h)
Unidade GRgntd- Granito gnaisse Trindade
Trata-se
de rochas gnáissicas ocorrentes ao sul de Parati-Mirim,
com boas exposições na localidade homônima,
estendendo-se em uma faixa de direção NE desde
os limites com o estado de São Paulo, embutida entre
os granitos Parati e Parati-Mirim.
São
rochas granitóides gnaissificadas, de origem e idades
indefinidas, leuco a mesocráticas, de granulação
média a grossa, eventualmente fina, mostrando em geral
foliação gnáissica bem marcada, tendo
como máficos a biotita e o anfibólio, apresentando
comumente fenocristais de feldspato branco a rosados, centimétricos,
sub-idiomórficos, orientados ou não, com níveis
de "boudins" de rocha anfibolítica e metabasitos.
Seus principais constituintes são a microclina (pórfiros),
quartzo, plagioclásio, biotita e anfibólio.
A magnetita é um dos principais acessórios.
i)
Unidade GRgnbo- Granito-gnaisse Bocaina.
Trata-se
de um corpo granítico gnaissificado, orientado segundo
o trend regional NESW, embutido em formações
paragnáissicas do Complexo Paraíba do Sul, de
características porfiríticas, ocorrente no Alto
da Bocaina, ao sul de Bananal, extendendo-se até o
Estado do Rio de Janeiro, desde o alto curso do rio Bracuí
aos contrafortes da Serra do Mar ao norte de Mambucaba.
Está
compartimentado na zona de cisalhamento Cubatão-Paraíba
do Sul, por ela sendo também afetado, produzindo feições
cataclásticas de diferentes intensidades, tornando-o
foliado e com evidências de milonitização
em alguns pontos. Suas características texturais e
disposição espacial conferem a possível
condição sin e tardi-tectônica em respeito
à deformação regional e dos cisalhamentos
concomitantes.
É
uma rocha de composição granítica, de
grão médio a grosso, com feldspatos potássicos
centimétricos de coloração esbranquiçada
em matriz quartzo-biotítica, tendo a ilmenita como
mineral acessório dominante. É em parte emparelhado
por potente dique de diabásio que o acompanha direcionalmente,
não sendo observado o contato entre eles.
6.2.1.4.4.
Unidades do Cambro-Ordoviciano (560-439 Ma)
- topo
São
representados por inúmeros corpos granitóides,
principalmente pós-tectônicos, embora alguns
corpos tardi-deformacionais possam temporalmente ter sido
aqui incluídos, tais como os granitóides Bocaina
e São José do Barreiro.
Portanto, se incluem aqui aqueles corpos graníticos
tipicamente pós-tectônicos, onde são observados
contatos nitidamente intrusivos, com a presença de
enclaves xenolíticos facetados, de tamanhos e formas
irregulares, mas claramente derivados das rochas imediatamente
encaixantes, e estruturas de fluxo magmático.
Em
grande parte formam uma sucessão de stocks ao longo
do litoral em um trend próximo a E-W, e recebem o nome
da localidade onde ocorre como, por exemplo, Granito Mangaratiba,
Granito Angra dos Reis etc., muito embora guardem grandes
afinidades entre si.
Morfologicamente
se destacam na paisagem, formando morros às vezes escarpados
e paredões nas encostas íngremes, cristas, torres
e campos de matacões, expostos nas vertentes desmatadas
ou ocultos nas regiões florestadas. Esses condicionantes
geomorfológicos, em particular os campos de matacões
observados nas encostas desnudas adjacentes às rodovias
e aglomerados urbanos, são de certa forma preocupantes,
pois podem desencadear deslizamentos, rotação
e queda de blocos soltos em um talude. Deslocamentos de blocos
derivados de corpos graníticos aflorantes, inclusive
de diques potentes em exposição nas encostas,
é um fenômeno comum por todo estado do Rio de
Janeiro. A seguir são descritas as unidades relacionadas:
a)
Unidade GRpt- Granito Parati
É
o maior corpo granítico dessa associação
de extensão batolítica, ocupando praticamente
todo o extremo sul-ocidental da Área de Influência
Indireta (AII), estendendo-se até o estado de São
Paulo. Suas melhores exposições encontram-se
em cortes na BR-101, entre a localidade de Praia Grande e
a cidade de Parati, onde matacões gigantescos dessa
litologia são encontrados em vários sítios.
Também são comuns ao longo das rodovias estaduais
RJ-165 e SP-171 que cortam parte do Parque Nacional da Bocaina.
Os
litotipos dessa unidade despontam nas vertentes escarpadas
da Serra do Mar, em lajedos litorâneos e em blocos isolados
no planalto elevado no topo da Serra da Bocaina, ao sul-sudeste
da cidade de Cunha. São rochas graníticas de
grão grosso a muito grosso, porfirítica, com
fenocristais tabulares euédricos a subéuédricos
de feldspato potássico, esbranquiçados ou róseos,
normalmente centimétricos e apresentando frequentemente
orientação linear NE-SW, envoltos por uma matriz
quartzo-biotítica. Em alguns pontos a rocha parece
estar afetada por processos deformacionais pós-cristalização
conferindo aspecto gnáissico onde os fenocristais tornam-se
amendoados, o que contrasta com as características
texturais comumente encontradas.
Petrograficamente
trata-se de uma rocha de composição granítica
a tonalítica, tendo como constituintes principais quartzo,
plagioclásio (oligoclásio), microclina, biotita
e subordinadamente hornblenda, e como minerais acessórios
titanita, apatita, zircão, allanita e opacos.
b)
Unidade GRcr- Granito Carrasquinho
Sob
a forma de pequenos bolsões ou diques está intimamente
relacionado com o Granito Parati; possivelmente geneticamente
associado. Os dois maiores corpos desse granito estão
situados ao norte de Parati, na localidade de Pedra Branca
e a noroeste dessa cidade na divisa RJ/SP. Ambos corpos estão
situados em áreas montanhosas correspondentes a Serra
do Mar.
São
rochas acinzentadas, de grão médio a fino, eventualmente
grosso, equigranular, com tendência porfirítica,
formando matacões arredondados aglomerados, que se
destacam nas encostas montanhosas e morros costeiros.
A análise petrográfica desses granitos revela
uma textura hipidiomórfica granular de grão
médio, constituído por microclina, plagioclásio
(albita-oligoclásio), quartzo, biotita e subordinadamente
anfibólio. Como acessórios encontram-se o zircão,
a apatita e os minerais opacos.
c)
Unidade GRmb- Granito Mambucaba
Sob
a forma de pequenos stocks e diques agrupados principalmente
na região de Mambucaba, Tarituba, Itaorna e Frade,
onde estão intrudindo rochas do Complexo Rio Negro
e Paraíba do Sul.
Apresenta,
em geral, coloração cinza clara a rosada, estrutura
maciça de grão médio a grosso, que em
corpos menores varia de médio a fino. São granitos
biotíticos, nitidamente intrusivos em níveis
crustais mais rasos, epizonais, com a presença de xenólitos
facetados das encaixantes, onde se introduz ao longo de fraturas
e planos de foliação, oferecendo contatos nítidos
e bruscos com as rochas envolventes.
Petrograficamente
são rochas que apresentam quase sempre textura hipidiomórfica
granular a porfirítica em alguns pontos, onde se observam
feições de fluxo magmático. Mineralogicamente
é constituído por microclina, Plagioclásio
(albita-oligoclásio), biotita, quartzo e raro anfibólio.
Como acessórios mais freqüentes estão a
titanita, a allanita, o zircão, a apatita, a magnetita
e a pirita em alguns pontos localizados.
d)
Unidade GRag- Granito Angra dos Reis
Ocorre
nas imediações da cidade de Angra dos Reis,
onde aparece formando elevações litorâneas,
em particular a península de Angra dos Reis, onde intrudem
rochas gnáissicas/migmatíticas do Complexo Rio
Negro (bGnp), originando contatos bruscos e incisivos e xenólitos
na zona de borda. A presença desse granito é
revelada pela ocorrência de gigantescos blocos nas encostas
adjacentes à cidade de Angra dos Reis e arredores,
e que nas áreas degradadas se constituem elementos
potencializadores de fenômenos geológicos de
risco.
Trata-se
de uma rocha acinzentada de grão médio a grosso,
isótropo a levemente orientado por fluxo magmático,
onde se observa a presença de pórfiros de feldspato
potássico tabulares em uma matriz francamente biotítica,
onde esse mineral forma cristais placóides intergranulares
ao lado do quartzo e do plagioclásio (albita-oligoclásio).
Como acessórios encontram-se titanita, magnetita, zircão
e allanita que em alguns pontos aparece em cristais prismáticos
centimétricos, como observado na localidade de Japuíba.
e)
Unidade GRmo- Granito Mombaça
Aparece
como um pequeno corpo, na península imediatamente a
leste da cidade de Angra dos Reis, com forma ligeiramente
ovalada segundo a direção de foliação
regional NESW e intrudido nos gnaisses do Complexo Rio Negro.
Apresenta coloração acinzentada clara, de grão
médio a fino, com a presença de fenocristais
de feldspato potássico (microclina), orientados ou
não, que se destacam em uma matriz biotítica
composta de quartzo, plagioclásio (albita-oligoclásio)
com a titanita como principal acessório.
f)
Unidade GRmg- Granito Mangaratiba
Corpo
de dimensões batolíticas, aproximadamente alongado
na direção da estruturação regional
NE-SW, estendendo-se quase de forma contínua de Mangaratiba
a Conceição de Jacareí/Monsuaba, onde
adquire uma feição porfirítica, individualizada
como Unidade GRcj, que se estende até às proximidades
de Jacuecanga.
Trata-se
de um complexo ígneo com variações texturais
e composicionais do interior do corpo intrusivo, que aflora
em costões litorâneos, paredões e em cortes
da rodovia BR-101. De um modo geral, sua composição
varia de monzogranítica a granodiorítica e granítica,
com texturas diversas, variando de isotrópica equigranular
de grão médio a fino ou com tendência
porfirítica, com fenocristais de feldspato potássico
orientados por fluxo magmático (unidade GRcj).
Seus
contatos com os gnaisses do Complexo Rio Negro envolventes
são bruscos e retilíneos, onde localmente se
observam enclaves xenolíticos, normalmente facetados
e com dimensões variáveis. Na zona de borda
ocorrem com dimensões métricas, com indicativos
de que foram arrancados da rocha imediatamente encaixante
pelo magma intrusivo. Processos de assimilação
em diferentes graus são também observados, em
particular nos costões litorâneos ao sul da cidade
de Mangaratiba.
O
corpo como um todo é desprovido de foliação,
e a orientação observada em alguns pontos é
dada pelos fenocristais de microclina, com indicativos de
fluxo magmático. Seus principais minerais constituintes
são o quartzo, feldspato potássico (microclina),
plagioclásio (albita-oligoclásio) e biotita.
Entre os acessórios predominam a allanita, a monazita,
a apatitita, a titanita e a magnetita.
Nos
arredores da cidade de Mangaratiba essa rocha é um
biotita granito típico, leucocrático, de cor
cinza clara, de grão médio a fino, isotrópico
ou com tendência porfirítica pela presença
de cristais de feldspato tabulares de até 1 cm de comprimento,
que se destacam com relação à matriz.
Neste setor do plúton a composição mineral
classifica a rocha como um monzogranito.
Para
o centro da área de ocorrência, apresenta composição
granodiorítica a granítica, com o predomínio
da primeira, maciço, equigranular ou com tendência
porfirítica e de grão médio a grosso.
Porções de gnaisses do Complexo Rio Negro ocorrem
isoladamente, e quando os contatos são observados,
é sempre cortante e brusco.
Para
ocidente, em direção à Conceição
de Jacareí - Monsuaba, o granitóide torna-se
porfirítico com cristais de microclina de até
3,0 cm, em matriz granodiorítica com a presença
de inclusões autolíticas e xenolíticas.
Em
toda área de ocorrência desse complexo granítico
são encontradas inúmeras explorações
de blocos, principalmente para a confecção de
paralelepípedos. Datações geocronológicas
U/Pb em monazita dão idade de 492 Ma. para o granito
Mangaratiba.
g)
Unidade GRcj- Granito porfirítico Conceição
de Jacareí
Trata-se
do fácies porfirítico do complexo granítico
Mangaratiba/Conceição de Jacareí, caracterizado
pela presença de megacristais tabulares de feldspato
potássico (microclina) de até 6 cm, normalmente
apresentando uma disposição linear predominante
NESW, que se destacam em uma matriz biotítica de grão
grosso a médio. Enclaves microdioríticos tidos
como autólitos e xenólitos das rochas gnáissicas
encaixantes são comuns e bem distribuídos por
todo corpo granítico.
Melhores
exposições dessa unidade encontram-se em costões
litorâneos, em lagedos de cursos d' água, em
paredões, nos cortes da BR-101 entre Conceição
de Jacareí e Jacuecanga e nos blocos que estão
sendo talhados para material de construção,
nas encostas de Conceição de Jacareí
e Monsuaba.
h)
Unidade GRD- Granito/diorito sin-intrusivos
Constitui
rocha composicionalmente mista onde porções
essencialmente graníticas ocorrem lado a lado a porções
tipicamente dioríticas, em intrusão simultânea,
típica de magmatismo bimodal.
Observa-se
a dominância de um magma granítico, possivelmente
associado aos demais aflorantes na região, em interdigitação
constante com um magma diorítico, que ocorre em menor
volume, sendo encontrado em poucos afloramentos como rocha
dominante. Freqüentemente encontram-se feições
de mistura mecânica entre esses dois magmas, em diversos
estados de plasticidade, formando gotas, bolsões, veios
e porções de possível intrusionamento
forçado, sob intensa pressão, conferindo aspecto
migmátítico estromático ao conjunto,
que é confundido facilmente com os migmatitos das unidades
encaixantes (Figura 97). Apresentam orientações
conferidas por fluxo magmático associado à deformação,
de origem possivelmente pela colocação das enormes
massas magmáticas regionais.
Tal
suposição se reforça ao se observar às
direções preferenciais do bandamento provocado
pela interação dos dois magmas contrastantes
sob fluxo, que parecem concêntricas a um foco entre
o litoral de Angra dos Reis e Ilha Grande, tendo as melhores
exposições na ilha da Jipóia e muitas
outras do arquipélago da Baía de Angra, e também
no continente, nas praia ao longo da estrada litorânea
a oeste do centro da cidade de Angra dos Reis.

Figura 97 - Unidade GRD- Aspecto
da mistura mecânica entre granito e diorito em costão.
Ilha da Jipóia.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
i)
Unidade GRig- Granito Ilha Grande
Essa
unidade coexiste com a CHig, charnockito Ilha Grande, e é
constituída por uma rocha granitóide de grão
médio a grosso, equigranular a porfirítica,
com fenocristais de feldspato potássico euedricos (microclina)
de até 8 cm, geralmente mostrando foliação
magmática em uma matriz com quartzo, plagioclásio,
biotita e anfibólio e como minerais acessórios
zircão, apatita, allanita, titanita, e minerais opacos,
clorita e mica branca como minerais secundários.
Observam-se
inclusões máficas nodulares e xenólitos
localizados de rocha gnáissica. A passagem dessa litologia
para os charnockitos associados não é clara,
sendo seus contatos de difícil caracterização.
Pode ter relação genética com o complexo
granítico Mangaratiba/Conceição de Jacareí.
j)
Unidade CHig - Charnockito Ilha Grande
Conforme
dito anteriormente, esta unidade está associada à
unidade anterior GRig, podendo constituir um complexo de rochas
magmáticas. É constituída por hiperstêniogranitóides
de grão médio a grosso, equigranular e com discreta
foliação, com níveis granatíferos
localizados e apresentando-se em faixas de dezenas a centenas
de metros alternadas com a unidade GRig, dispostas segundo
a direção NE-SW.
São
rochas charnockitizadas de composição predominantemente
charnockitica, e também charnoenderbítica a
jotunítica, meso a melanocráticas, cinza-esverdeada
ou esbranquiçada nos lagedos quando alterada. Tem como
minerais essenciais feldspatos esverdeados (K-feldspato e
plagioclásio oligoclásio), quartzo, hiperstênio,
horblenda, secundariamente biotita, e titanita, apatita zircão,
e magnetita como principais acessórios.
6.2.1.4.5.
Unidades do Juro-Cretáceo (135-123 Ma.)
- topo
a)
Unidade db-diques de rocha básica (diabásio)
Esta
unidade está relacionada ao magmatismo básico
mesozóico associado ao processo de abertura do oceano
atlântico, que formou os derrames basálticos
da bacia do Paraná. Aqui na região sudeste,
são conhecidos centenas de diques básicos formados
nessa época, durante os processos de quebra e separação
dos continentes africano e sul-americano, que aproveitaram
a estruturação geral herdada do evento Brasiliano.
Ocorrem
por toda a área de interesse, do planalto da Bocaina
à região litorânea, assim como as ilhas,
com diferentes espessuras que variam de centimétricas
até dezenas de metros, normalmente contínuos
por dezenas de quilômetros, às vezes deslocados
por falhas mais jovens e via de regra direcionada na direção
NE-SW, principalmente N 45º E, verticais a subverticais,
podendo localmente apresentar direções N-S e
NW-SE. Sistemas expressivos são observados na praia
de Itaorna-Ponta Grossa, Baía da Ribeira, ao sul de
Parati e no Alto da Bocaina. Esses diques se alojam preferencialmente
ao longo de fraturas pré-existentes, com contatos nítidos
com as encaixantes, podendo se apresentar falhados tanto internamente
como ao longo dos contatos, indicando atividades tectônicas
posteriores à sua instalação. Apresentam
internamente sistemas de juntas ortogonais características,
que podem servir de conduto para águas freáticas
ou hidrotermais originados de eventos magmáticos posteriores.
Em afloramentos mostra textura típica dos diabásios,
equigranular ou ofítica, definida por uma disposição
entrecruzada de ripas de plagioclásio.
Mineralogicamente
são rochas formadas por piroxênio, normalmente
augita, plagioclásio cálcico (labradorita),
podendo ter olivina em alguns termos. A magnetita é
um acessório comum nessas rochas básicas hipoabissais.
Quando
ocorrente em diques de pouca espessura, o resfriamento rápido
do magma básico injetado na fratura produz uma rocha
de grão muito fino, de textura afanítica, semelhante
à sua representante extrusiva, o basalto. São
denominados então diques de basalto. Por outro lado,
quando o dique é mais espesso, a textura e a granulometria
refletem as características de gabro, a representante
intrusiva de magmas dessa composição, como observado
na localidade de Alto da Bocaina, em potente dique que pode
ser seguido por dezenas de quilômetros.
Em
alguns pontos observam-se diques de outra rocha escura, os
lamprófiros, que em alguns pontos cortam os diabásios,
sendo, portanto, mais jovens; possivelmente associadas ao
magmatismo alcalino terciário, último evento
magmático conhecido nesta parte da plataforma Brasileira.
O lamprófiro é uma rocha que se apresenta na
forma de diques, normalmente não muito espessos, de
coloração cinza escura a negra, de grão
médio a fino, às vezes grosso formado principalmente
por biotita, e subordinadamente olivina e plagioclásio.
Diques
de lamprófiros são encontrados na Praia de Itaorna
preenchendo zonas de fraturas orientadas segundo a direção
N 70º - 80º W, com espessura às vezes
métrica.
6.2.1.4.6.
Unidades do Quaternário (holoceno)
- topo
a)
Depósitos aluvionares
São
sedimentos associados à rede de drenagem atual e pré-atual,
constituídos por cascalhos, areias finas e médias,
silte e argila, incluindo os depósitos de terraços
e as várzeas.
Esses depósitos estão sendo explorados legalmente
ou não por toda a área litorânea avaliada,
particularmente na região compreendida entre Bracuí
e Mambucaba.
b)
Depósitos flúvio-marinhos e marinhos
São
sedimentos atuais e pré-atuais, que representam depósitos
de ambiente de transição continental-marinho,
passando a essencialmente marinhos. Os sedimentos flúviomarinhos
e marinhos consistem em geral de camadas de areia fina, média
e grossa, alternadas por níveis de argila e silte.
Na
desembocadura de alguns rios, como por exemplo, o Bracuí,
existem depósitos de mangue, caracterizados por lamas
e lodos silto-argilosos ricos em matéria orgânica,
de cor escura, característicamente formada em ambiente
redutor derivado da decomposição de restos vegetais.
São também encontrados ao norte de Angra dos
Reis e nas circunvizinhanças de Parati, já profundamente
degradados pela expansão urbana.
6.2.2.
Sismologia -
topo
6.2.2.1.
Sismicidade e estruturação regional
- topo
Como
resultado da localização do território
brasileiro no domínio intraplaca denominado Plataforma
Sul-Americana, temos uma sismicidade relativamente atenuada,
mas que pode apresentar eventos de grande magnitude comumente
associados à reativação de antigas zonas
de fraqueza (e.g., SYKES, 1978). A análise da orientação
e magnitudes das tensões na região intraplaca,
são fundamentais na compreensão do fenômeno
e fornecem importantes elementos no estudo dos mecanismos
atuantes na deflagração de sismos e na elaboração
de um cenário consistente para a análise de
risco (e.g., LOMNITZ, 1974; MENDIGUREN & RICHTER, 1978;
SYKES, 1978; ASSUMPÇÃO, 1992; COBLENZ &
RICHARDSON, 1996; BERROCAL et al., 1996; ASSUMPÇÃO,
1998).
Desde
a publicação do livro de LOMNITZ (1974), estabeleceu-se
um novo paradigma de análise e predição
de terremotos dentro do vasto campo de estudo proposto pela
Tectônica Global. As relações entre as
placas litosféricas, seus mecanismos e taxas de movimentação
e a acumulação de esforços em regiões
preferenciais, dentre outros, são parâmetros
fundamentais para estudos de risco e recorrência sísmicos.
Entretanto,
à época de sua publicação, pouca
atenção era dada à ocorrência de
sismos nos ambientes distantes das bordas de placa. Em 1978,
SYKES publica um estudo no qual se fundam as bases da análise
da sismicidade intraplaca, das suas relações
com zonas de fraqueza pretéritas e com o magmatismo
alcalino que se sucedeu ao grande evento de ruptura continental
mesozóico.
Segundo
BERROCAL et al. (1996), os estudos sismológicos só
se iniciaram efetivamente no Brasil no decorrer da década
de 1970, tanto pelo baixo nível de atividade sísmica
quanto pela inexistência de algum evento sísmico
catastrófico em tempos históricos. O primeiro
estudo sistemático de risco sísmico no país
foi realizado para a construção, em 1972, da
primeira usina nuclear em Angra dos Reis. Entretanto, desde
o século XIX há registros de terremotos em território
brasileiro (e.g., CAPANEMA, 1859; BRANNER, 1912, 1920).
A
primeira publicação que sistematiza de modo
abrangente o registro sísmico nacional se deve a BERROCAL et al. em 1984. Neste livro, intitulado "Sismicidade
do Brasil" e publicado pelo Instituto Astronômico
e Geofísico (USP), estão catalogados todos os
eventos sísmicos históricos registrados no Brasil
bem como a estimativa de intensidade e magnitude relacionadas,
e os eventos medidos instrumentalmente pela nossa ainda incipiente
rede de sismógrafos.
A
partir dos trabalhos de HASUI et al. (1982) e MIOTO (1984)
há um esforço sistemático no sentido
de estabelecer relações causais entre a sismicidade
observada e o contexto tectônico-estrutural do Sudeste
Brasileiro, e sua representação cartográfica.
MIOTO (1993) propõe uma delimitação e
classificação das zonas sismogênicas brasileiras
que se constitui na base de vários estudos de risco
sísmico no Brasil.
A
despeito dos grandes avanços obtidos na área,
o trabalho mais recente publicado sobre quantificação
de risco sísmico no Sudeste Brasileiro (BERROCAL et al., 1996) aponta claramente a insuficiência de dados
instrumentais que permitam o estabelecimento de relações
causais efetivas entre atividade sísmica e feições
tectônicas conhecidas.
6.2.2.2.
Distribuição de sismos
- topo
A
região Sudeste Brasileira (aqui representada pela área
formada pelas latitudes 26º - 13º S, e longitudes
54º - 36º W) caracteriza-se, sismicamente, pela
ocorrência de vários eventos, medidos por estações
sismográficas ou derivados do registro histórico,
de pequena magnitude (Figura 98). O grande número de
registros mais recentes, posteriores à década
de 1970, reflete a implantação de instrumentação
sismográfica no país.
Ainda
observando-se a Figura 98 pode-se afirmar que sismos de maior
magnitude são raros. Apenas um evento maior que 6 graus
(ocorrido na Cadeia Vitória-Trindade, na Margem Continental)
e outro maior que 5 (em Mogi Guaçu, SP) foram registrados.
Treze registros apareceram entre os 4 e 5 graus da escala.
Os
clusters sísmicos podem ser associados a duas
grandes províncias sismotectônicas (BERROCAL
et al., 1996) que, certamente, englobam eventos de
natureza geológica distintas: a Província da
Bacia do Paraná (coincidente com a província
estrutural homônima, ALMEIDA et al., 1977) que
está representada principalmente por sismos induzidos
por barragens e exploração de poços de
água profundos; e a Província do Embasamento
Pré-Cambriano (unindo terrenos das províncias
estruturais do São Francisco, Tocantins e Mantiqueira)
que concentra praticamente toda a atividade sísmica
regional.
Uma
terceira província, não mencionada por BERROCAL
et al. (1996), corresponde aos domínios da Margem
Continental, principalmente junto à borda mais interna
da Bacia de Santos.

Figura 98 - Distribuição temporal dos sismos
na Região Sudeste
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Os
sismos maiores que 3,5 graus, apontados como mais significativos
por BERROCAL et al. (1996), correspondem a uma pequena
fração dos eventos registrados (Figura 98) e
se distribuem principalmente numa faixa mais a leste da região,
em domínios da Província Mantiqueira e da Margem
Continental, e adentram o continente aproximadamente ao longo
dos limites flexurais leste e nordeste da Bacia Sedimentar
do Paraná. Três eventos expressivos (entre 4
e 5 graus de magnitude) se distribuem num arco de raio pouco
maior que 100 km em torno da área de Angra dos Reis.
Observa-se um alinhamento de epicentros ao longo do conspícuo
feixe de falhas transcorrentes brasilianas que, reativadas
no Cenozóico, afeiçoaram a Serra do Mar ao longo
da borda continental sudeste.
MIOTO
(1993), baseado na distribuição de epicentros,
estruturas geológicas e compartimentação
regional do relevo, propõem duas zonas sismogênicas
na área em torno o empreendimento (Zona Sismogênica
de Cunha e Zona Sismogência de Santos; Figura 99). O
fator determinante na definição destas zonas
é a localização dos epicentros em áreas
com tendência inversa de movimentação
do relevo (subsidência na área de plataforma
continental e talude, e elevação da borda continental
adjacente nos domínios da Serra do mar e Planalto Atlântico).

Figura 99 - Zonas sismogênicas
na área de entorno da CNAAA (Mioto, 1993)
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Volume II - Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos"
- IGEO/UFRJ, 2003
Porém
é importante frisar que o volume de dados atualmente
disponível "é insuficiente para definir
zonas sismogênicas ou províncias sismotectônicas
que possam ser usadas com segurança na determinação
de parâmetros de sismicidade para avaliação
de risco nesta região" (BERROCAL et al.,
1996).
6.2.2.3.
Sismos Regionais e Locais
- topo
Numa
região da ordem de algumas centenas de quilômetros
em torno de Angra dos Reis, foram registrados vários
episódios sísmicos que são relevantes
para a caracterização do risco na área
da CNAAA. Genericamente, são eventos de pequena magnitude
e que não caracterizam um risco maior para instalações
com as especificações construtivas como as de
Angra 3.
Os
principais sismos históricos ocorridos na área
de influência direta AID e área de influencia
indireta AII encontram-se listados a seguir.
a)
Sismo de 27/01/1922 (localização: 22,17o S,
47,04o W)
Este
é o evento sísmico de maior magnitude registrado
na área emersa do Sudeste Brasileiro: estima-se que
atingiu 5,1 pontos na escala Richter. O chamado "terremoto
de São Paulo de 1922" (Assumpção et al., 1979) teve apontado o município de Mogi Guaçu
como seu epicentro a 248 km da CNAAA.
Descrição:
Um leve abalo precursor foi sentido por algumas pessoas na
noite anterior em São Paulo e Mogi Guaçu (Assumpção et al., 1979). O evento principal teve uma intensidade de
até VI MM, durou poucos segundos e foi sentido numa
área de 250.000 km2. Mioto (1997) refere uma profundidade
focal estimada de 20 km. Na área próxima, caracterizou-se
intensidade VI MM através de relatos de rachaduras
em paredes de imóveis em várias cidades vizinhas
(Assumpção et al., 1979).
Seus
efeitos foram sentidos também na cidade do Rio de Janeiro
e Petrópolis. Na área afetada pelo evento (Figura
100), a intensidade decai de VI MM junto ao epicentro para
uma isossista da ordem de III MM em Angra dos Reis (WGC, 1979).

Figura 100 - Isossistas do evento de 27/01/1922
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Volume II - Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos"
- IGEO/UFRJ, 2003
b)
Sismo de 24/10/1972 (localização: 21,72o S,
40,53o W):
Este
evento, referido como Sismo de Campos por Mioto (1997), ocorreu
na Plataforma Continental ao largo do Estado do Rio de Janeiro,
na Bacia de Campos. Sua magnitude foi estimada em 4,8 (Berrocal et al., 1984) e afetou uma área de 210.000 km2, sendo
sentido em várias regiões dos estados do Rio
de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais; o erro de
localização do seu epicentro é de 30
km e sua profundidade é de 8 km.
Sua
intensidade atingiu IV MM em parte do estado do Rio de Janeiro,
desde Campos até Niterói (Figura 101). Segundo
o estudo da WGC (1979), a intensidade do sismo seria de II
MM na área do empreendimento; entretanto, o evento
não foi efetivamente sentido em Angra dos Reis.

Figura 101 - Isossistas do evento de 24/10/1972
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Volume II - Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos"
- IGEO/UFRJ, 2003
c)
Sismo de 31/07/1861 (localização: 22,6 o S,
45,2 o W)
Referido
como Sismo de Lorena, SP (Mioto, 1997), este evento teve um
evento precursor segundo Berrocal et al. (1984). A área
afetada é da ordem de 52.000 km2, atingindo os estados
de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro; a magnitude
é estimada em 4,4 e a intensidade máxima de
V MM no epicentro, que se situa a 120 km da Praia de Itaorna,
com erro de locação de 50 km.
O
mapa de isossistas, derivado dos estudos de WGS (1979), indica
uma intensidade de IV MM na área do empreendimento
(Figura 102).

Figura 102 - Isossistas do evento de 31/07/1861
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Volume II - Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos"
- IGEO/UFRJ, 2003
d)
Sismo de 09/05/1886 (Localização: 22,66 o S,
43,69 o W)
Referido
como Sismo de São Pedro e São Paulo (RJ) por
Mioto (1997), este evento afetou uma área de 23.000
km2, com intensidade máxima epicentral de V MM e magnitude
estimada de 4,3; o epicentro localiza-se a 83 km da Praia
de Itaorna com erro de locação de 20 km.
Berrocal et al. (1984) destaca que a distribuição em
planta das localidades em que o evento foi sentido apresenta
uma forma subelíptica, com eixo maior orientado a N60E
em clara concordância com o trend da Serra do Mar (Figura
103).

Figura 103 - Isossistas do evento de 09/05/1886
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Volume II - Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos"
- IGEO/UFRJ, 2003
e)
Sismo de 23/03/1967 (localização: 23,3 o S,
45 o W)
O
Sismo de Cunha, como é referido por Mioto (1997), é
o evento de magnitude maior que 4 com epicentro mais próximo
da Praia de Itaorna (48 km de distância, erro de locação
de 20 km). A área em que ele foi sentido é de
30.000 km2, a magnitude estimada de 4,1 e intensidade máxima
epicentral de VI-VII MM (Berrocal et al., 1996).
Nos
estudos da WGC (1979), estima-se que, caso este sismo ocorresse
no sítio onde se localizam as Centrais Nucleares, estas
teriam sido submetidas a uma intensidade de VI MM, tendo em
vista a pequena profundidade focal e a qualidade do maciço
rochoso na área (Figura 104).

Figura 104 - Isossistas do evento de 23/03/1967
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Volume II - Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos"
- IGEO/UFRJ, 2003
6.2.2.4.
Seqüência de Microssismos de Monsuaba
- topo
Entre
dezembro de 1988 e fevereiro de 1989, ocorreu uma série
de microssismos em Monsuaba, um distrito do município
de Angra dos Reis, cerca de 27 km a leste das Centrais Nucleares.
Os eventos mostram uma seqüência típica
de pequenos choques precursores, um choque principal com magnitude
3 e choques posteriores também de pequena magnitude
(BERROCAL et al., 1993). O sismo principal foi sentido com
uma intensidade de V MM junto ao epicentro, rapidamente decaindo
para II MM em Angra dos Reis e outras áreas a aproximadamente
10 km de Monsuaba (BERROCAL et al., 1993).
Esta
série de eventos foi muito bem instrumentada, inicialmente
por sismógrafos dispostos em uma rede de 5 estações
com 20 km de abertura (mas que não deu resultados significativos
devido à baixa magnitude dos eventos) e, posteriormente,
baixando-se a abertura da rede para 4 km. Os dados obtidos
permitiram analisar a geometria e energia dos eventos, inclusive
com a discriminação do mecanismo focal para
o enxame de sismos (BERROCAL et al., 1993).
O
plano obtido para os eventos (N 25o E, mergulhando a 35o SE)
coincide com um pequeno plano de falha reversa com mergulho
a 70o e pequena componente transcorrente dextral, com eixo
de maior encurtamento alinhado a NW-SE (BERROCAL et al., 1993).
O mapa de isossistas (Figura 105) mostra um claro eixo de
elongação subparalelo aos principais traços
estruturais da área (BERROCAL et al., 1993), sugerindo
uma evidente correlação entre o desenvolvimento
dos sismos e seu controle por estruturas prévias (Figura
106).

Figura 105 - Mapa de isossistas do evento principal (magnitude
3), de 23/12/1988, do enxame de Monsuaba; os algarismos arábicos
indicam intensidade MM (ext. de Berrocal et al., 1993).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Volume II - Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos"
- IGEO/UFRJ, 2003
BERROCAL et al. (1993) concluem que os sismos de Monsuaba indicam a
atuação de esforços compressivos NW-SE
(característicos de algumas áreas do Sudeste
Brasileiro) e que não representam um real risco para
obras de engenharia na área, pois a atenuação
é expressiva, provavelmente em virtude do seu hipocentro
bastante raso (~1,5 km). Ainda, acreditam os autores, os sismos
estão geneticamente relacionados à evolução
morfológica da Serra do Mar na região.

Figura 106 - Mapa tectônico
simplificado da região de Monsuaba mostrando falhas
principais (linhas mais espessas); fraturas (linhas finas
e tracejadas);lineamentos (tracejado espesso).Manchas restritas
de depósitos quaternários (áreas pontilhadas)
ocorrem diretamente sobre o embasamento. (ext. de Berrocal et al., 1993).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Volume II - Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos"
- IGEO/UFRJ, 2003
6.2.2.5.
Recorrência sísmica
- topo
Estudos
de recorrência sísmica na área da CNAAA
remontam ao final da década de 1970, com a publicação
de um estudo sistemático da Universidade de Brasília
que adotava um enfoque determinístico na avaliação
de risco, onde se objetivava demarcar zonas preferenciais
de ocorrência de sismos - as zonas sismogênicas
- que se contrapõem a zonas mais estáveis
e estudar a série histórico-temporal de eventos
neste contexto.
Já
no início da década seguinte, um estudo específico
do IPT para as usinas nucleares de Angra (HASUI et al., 1982)
ampliou o horizonte metodológico até então
adotado e valorizou o ambiente tectônico estrutural
e a evolução tectônica, principalmente
cenozóica, do Sudeste como condicionantes destes eventos
e como ferramentas na sua predição e avaliação
de risco, numa continuidade filosófica do que LOMNITZ
(1974) já havia proposto.
A
primeira abordagem probabilística de sismicidade regional
no país foi publicada por ASSUMPÇÃO (1983b).
O autor considerou o catálogo de sismos das regiões
sul, sudeste e leste do Brasil e tratou estatisticamente os
eventos maiores que 3,5 de magnitude. Como resultado, obteve
intervalos de recorrência para sismos (40 anos para
magnitude maior ou igual a 5; 150 anos, maior que 6; 700 anos,
maior que 7) que, a despeito da extensa área de definição,
podem ser aplicados preliminarmente ao risco na área
de Itaorna. Nesta perspectiva, o sismo de Pinhal (MIOTO, 1997)
poderia ser associado à recorrência de 40 anos
e os efeitos sobre a área do empreendimento tenderiam
a se manter em níveis bastante adequados de segurança.
MIOTO
(1984) adotou uma abordagem similar, mas efetuou o tratamento
estatístico de intensidades para o Sudeste Brasileiro,
mas adotando o enfoque propugnado por HASUI et al. (1982)
de concentração de eventos ao longo das chamadas
zonas sismogênicas. Nesse estudo, o autor conclui que:
•
a probabilidade de que o maior sismo no período de
5 anos seja igual ou exceda III MM varia de 52,5 a 97,5%;
o período de retorno da intensidade III MM é
de 1 a 1,9 anos;
•
a probabilidade de que o maior sismo no período de
5 anos seja igual ou exceda IV MM varia de 40 a 50%; o período
de retorno da intensidade IV MM é de 2 a 2,5 anos;
•
a probabilidade de que o maior sismo no período de
5 anos seja igual ou exceda V MM varia de 15 a 37,5%; o
período de retorno da intensidade V MM é de
2,7 a 6,7 anos; e
•
a probabilidade de que o maior sismo no período de
5 anos seja igual ou exceda VI MM varia de 2,5 a 12,5%;
o período de retorno correspondente à intensidade
VI MM é de 8 a 40 anos.
Os
estudos mais recentes de risco sísmico do Sudeste Brasileiro
foram desenvolvidos por BERROCAL et al. (1996), considerando
magnitudes superiores a 3,0 e eventos entre as coordenadas
18° - 28°S e 39° - 52°W, com epicentros
no embasamento cristalino.
Os
intervalos de recorrência para sismos (Figura 107) conhecidos
foram:
•
um sismo similar ao evento de Cunha, de 1967, pode ocorrer
a cada 17 anos, e um sismo com magnitude igual ou maior
do que 4,1, pode ser esperado a cada 6 anos;
•
similarmente, um evento da magnitude do que ocorreu em Pinhal,
em 1922, pode ocorrer uma vez a cada 200 anos, mas eventos
com magnitude igual ou maior do que 5,1 podem ocorrer a
cada 60 anos aproximadamente.

Figura 107 - Risco sísmico
na Província Sismotectônica do Embasamento Pré-Cambriano
para valores cumulativos de magnitude e intervalos de tempo
de 1 a 100 anos (Berrocal et al., 1996).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio
Físico) da Área de Influência da CNAAA
- Volume II - Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos"
- IGEO/UFRJ, 2003
6.2.2.6.
Avaliação técnica da análise de
risco sísmico para Angra 3
- topo
Para
a avaliação da mais recente análise de
risco sísmico para Angra 3, adotou-se uma metodologia
derivada das normas propostas pelo órgão regulador
norte-americano, que estima a probabilidade no tempo e na
região de ocorrência de movimentações
de terreno causadas por fenômenos sísmicos.
Na
conceituação adotada, definiu-se uma grande
província sismotectônica para parte do sudeste
brasileiro, incluindo a margem continental adjacente, onde
se inclui a área do empreendimento. Considera-se a
província como uma região homogênea em
termos de sismicidade (principalmente em razão da escassez
de dados e registros sísmicos no Brasil), com uma relação
de magnitudes possíveis: entre 3,0 e 6,5 na área
emersa e entre 3,0 e 7,0 na plataforma continental adjacente.
Efetivamente,
o estudo demonstra o baixo risco sísmico para o empreendimento.
6.2.3.
Aspectos Geotécnicos
- topo
A
área de influência do empreendimento apresenta
geologia e geomorfologia características da Serra do
Mar, onde predominam gnaisses e granitos recobertos por manto
de solos residuais e coluviais/talus. O terreno é acidentado
apresentando encostas íngremes, e grandes alturas (desníveis
superando 800 metros). A presença de falhamentos e
fraturamentos também merece atenção,
pois pode contribuir para a instabilidade de taludes e encostas.
Nos
sopés das escarpas rochosas, com taludes quase verticais,
também se observam depósitos de tálus/colúvios
e solos residuais.
Outro
aspecto que deve ser ressaltado é o climatológico,
pois a presença de água potencializa a instabilidade
de encostas e taludes: as chuvas na região freqüentemente
superam os 2000 mm anuais, ocorrendo, em sua maioria, nos
meses de verão (novembromarço).
6.2.3.1.
As encostas na área da CNAAA
- topo
As
encostas do entorno da CNAAA, que apresentam as mesmas características
apresentadas anteriormente para a região, ocorrem ao
longo da rodovia BR-101 no trecho que vai do km 519,5 ao 522,5.
As
encostas no sítio das Usinas e em seu entorno caracterizam-se
por apresentar movimentação que podem ser intensificadas
nos períodos de precipitação. O problema
é agravado em função da forte precipitação
que ocorre na região e da cobertura inconsolidada da
área, a qual é representada por solos residuais,
colúvios e talus em encostas íngrimes e pela
brusca transição solos-rocha.
Os
cortes em tálus no lado Norte e Sul da BR-101
são compostos por solo com textura silto-arenosa micácea,
de coloração amarronzada, com diversos blocos
rolados na matriz do solo e com intensa vegetação.
Foi observada em diversos pontos a presença de cicatrizes
de escorregamentos pretéritos.
A
ênfase, neste trecho, decorre do grande volume de material,
composto por solo, blocos de rocha e vegetação.
O intenso fissuramento da rocha causa o surgimento de inúmeros
"olhos d' água" com bicas d' água
construídas ao pé da encosta junto ao leito
da rodovia.
6.2.3.2.
Aspectos litológicos e estruturais
- topo
As
rochas que ocorrem na área são migmatitos, em
graus diversos de migmatização, representantes
originais de biotitagnaisses, biotita-anfibólio-gnaisses
e anfibolitos (paleossoma), transformados por aporte generalizado
de fração neossomática granítica
a pegmatóide. Desse processo resultou uma tipologia
litológica muito variada, desde gnaisses típicos,
extremamente ricos em biotita bem laminados a granitos de
textura variada passando por gnaisses com amplo desenvolvimento
de porfiroblastos feldspáticos.
A
estrutura dominante nos migmatitos é a estromática,
largamente distribuída na área, caracterizando-se
por um bandeamento centimétrico bastante regular, por
vezes descontínuo, com alternância de minerais
máficos, predominantemente biotíticos, e félsicos,
quartzofeldspáticos, de granulação média,
o quem em síntese, confere a rocha uma seqüência
de faixas escuras e claras, aproximadamente paralelas e de
regularidade variável.
Foram
constatadas algumas intrusões básicas na forma
de diques e, em alguns locais, também vestígios
de suas presenças pela ocorrência de blocos nos
depósitos, pela textura do solo resultante e pela ocorrência
de escassos afloramentos.
As rochas apresentam xistosidade
local e regional e em torno de N 50 a 70 E, com mergulhos
fortes, 60 a 80 NW. O fraturamento mostra uma família
dominante de direção NE e outra de direção
NNW. Ambas marcam a morfologia: direção das
escarpas, das ilhas e do recorte do litoral.
6.2.3.2.1. Condicionantes
Geológicas e Geomorfológicas
- topo
O
estudo realizado pelo IGEO/UFRJ constatou o controle da configuração
geológicoestrutural e geomorfológica na distribuição
das unidades mapeadas. A associação da xistosidade
(N 50 a 70 E) a uma família de fraturas, aproximadamente
paralela, constitui o aspecto estrutural determinante da direção
principal das escarpas rochosas. Este fator é acentuado
em alguns pontos por falhamentos normais.
Este
mesmo aspecto é responsável pelo notável
domínio da direção NE nas dimensões
longitudinais das ilhas oceânicas e dos alongamentos
rochosos continentais que avançam para o interior marítimo,
denotando um padrão de drenagem paralelo.
Um
outro quadro estrutural, complementar, é representado
por uma família de fraturas NNW que, associada a anterior,
é responsável pelo recorte do litoral e pela
existência de anfiteatros entulhados de blocos e limitados
por altos topográficos laterais ("noses")
e escarpas rochosas ao fundo (Figura 108).
Os
altos topográficos ("noses") laterais aos
anfiteatros deram origem a perfis solo coluvial / solo residual
/ rocha, conseqüência da ação do
intemperismo, governado fundamentalmente pela ação
difusa das águas. Nas áreas com declividade
elevada, solo residual pode estar ausente ou apresentar-se
com espessura delgada. Na área mapeada, de forma localizada,
interpretou-se como domínio de depósito coluvial
diretamente sobre rocha na parte central da área apresentada
no Anexo 7, folha 1.
Os
anfiteatros constituem verdadeiras bacias de recepção,
onde foram depositados os solos e blocos de rochas constituintes
do tálus. A configuração morfológica
favorece a formação destes depósitos,
em face da existência de fontes fornecedoras de blocos
de rocha, representadas pela escarpa rochosa quase vertical
e diaclasada, e de solo, proveniente dos "noses"
limítrofes e do retrabalhamento dos solos desenvolvidos
na escarpa de fundo.

Figura 108 - Foto da escarpa
de fundo, fornecedora de blocos de rocha para o tálus
do flanco oeste da Folha 2. Apesar do mascaramento da vegetação
são observados e assinalados diversos afloramentos
no alto da encosta (1991).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
A
seqüência completa nas áreas caracterizadas
como anfiteatros é definida predominantemente por tálus
/ solo residual / rocha, passando a tálus / rocha e
a simplesmente rocha, a medida que se avança para as
declividades mais fortes (Figura 109).
Os
depósitos de tálus estão presentes também
em calhas de drenagem, sob formas alongadas, como se observa
no Anexo 7, folha 1.
O
Solo Residual só aflora por força de escavações
ou escorregamentos, cujo exemplo significativo foi mapeado
no extremo oeste do Anexo 7, folha 1.
Afloramentos
de rocha existentes são, além daqueles acima
referidos, em grande maioria, provenientes de cortes. Ocorrem
também de forma restrita nas partes dos talvegues de
perfil longitudinal de forte gradiente e em pequenos altos
topográficos na forma de blocos in situ e ainda
em quebras acentuadas de gradientes.

Figura 109 - Foto do afloramento
maior assinalado na foto da Figura 108, resultado de um escorregamento
ocorrido em janeiro de 91, em que se observa o migmatito fraturado
e a presença de delgada camada de solo orgânico,
apesar da densa vegetação existente (1991).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
6.2.3.2.2.
Considerações sobre a estabilidade de taludes
- topo
Nas
condições atuais de ocupação,
os problemas de estabilidade dos taludes da área mapeada
estão ligados, dominantemente, a três fatores:
heterogeneidade litológica e produtos de alteração
decorrentes; geomorfologia, fruto de um relevo muito jovem;
e altas precipitações pluviométricas.
Outro
controle na espessura dos solos pode dar-se com a geomorfologia,
observandose o adelgaçamento nas encostas mais íngremes,
até a ausência do Solo Residual, quando então
os depósitos das vertentes assentam-se diretamente
sobre o embasamento rochoso ou este aflora. Esta situação
pode ser observada no Anexo 8 - Perfis indicados nos
estudos geotécnicos.
Nas
áreas abatidas, constituindo formas em anfiteatros,
são grandes as espessuras de Solo Residual (algumas
dezenas de metros) em virtude da concentração
de água, bem como de coberturas depositadas. Nesses
anfiteatros, as elevações circundantes e, em
particular, os paredões rochosos de fundo, são
fontes permanentes de fornecimento de materiais de granulometria
extremamente variada que resulta na existência dos depósitos
de tálus.
Diante
desse quadro controlador das espessuras de solo, as instabilidades
detectadas durante os trabalhos de mapeamento podem ser abordadas
como de dois tipos: superficiais e profundas.
Os
escorregamentos superficiais são freqüentes em
toda a área e encontram-se ligados aos depósitos
coluviais ou aos locais de bota-fora da BR-101. O primeiro
caso está dominantemente associado aos cortes das estradas
existentes, onde os escorregamentos são limitados e
não possuem grande extensão em área (salvo
o caso mapeado no extremo oeste da Folha 1, - Perfil A-A'
no Anexo 8). Restringe-se, na maioria das vezes, ao Solo Coluvial,
embora possam alcançar o embasamento rochoso alterado
e fraturado, quando nesses casos, a espesssura do Solo Residual
é delgada.
No
caso dos escorregamentos associados aos locais de bota-fora,
situa-se, naturalmente, a jusante das estradas a que estão
associados. São do tipo debris flow, podem aprofundar-se
até 1 ou 2m no Solo Coluvial sotoposto, mostram cicatrizes
alongadas, vestígios de reativação e
tem o efeito de descalçarem inúmeros blocos
a meia encosta. Não constituem risco direto à
área da Usina, embora, em alguns casos, possam interditar
temporariamente a via situada à jusante (Anexo 8, folhas
2 e 3).
Como
instabilidades profundas podem-se destacar aquelas que atingem
a grande área de tálus e o aterro suportado
por um conjunto de cortinas, junto a BR-101 (Anexo 8, folha
1).
Uma
série de características conjugadas determina
a instabilidade da grande área de tálus (vide
Perfil B-B' no Anexo 8), características essas que
foram detectadas através dos trabalhos de mapeamento
e das inúmeras sondagens realizadas, em particular
na área do trevo de acesso as Usinas. São indícios
claros de instabilidade os resultados das investigações
por inclinômetros (área do trevo), as inúmeras
ruturas existentes nos pavimentos das diversas vias de acesso
e o embarrigamento de cortinas de contenção.
Estas cortinas já foram reforçadas quatro vezes,
sendo o último reforço executado em 1998. De
acordo com as leituras das instrumentações geotécnicas
(BP/G/6560/040023) o comportamento destas cortinas está
adequado.
As
características acima referidas estão itemizadas
como forma de melhor destacá-las, sem que a ordem indique
a importância do fator:
a)as
grandes espessuras das coberturas de tálus, principalmente
nas partes centrais dos anfiteatros;
b)as
grandes espessuras dos solos residuais:
c)a
grande variabilidade nas cotas de contato do depósito
de tálus com o Solo Residual;
d)a
grande variabilidade das cotas do topo rochoso;
e)as
características bastante diferenciadas na composição
dos solos residuais, variando de solos silto-micáceos
e friáveis (rocha matriz máfica) a solos arenosos
grosseiros e coesivos (rocha matriz granítica, porfirítica
a pegmatóide);
f)a
grande quantidade de blocos de rocha sã no interior
da massa de Solo Residual;
g)as
condições de infiltração das águas,
em que se destaca o run off das encostas rochosas, praticamente
impermeáveis, com as águas infiltrando-se somente
no contato com os depósitos de tálus nas vertentes
(próximo a essas áreas de contato é possível
ouvir-se claramente o ruído do fluxo da água
subterrânea nos vazios entre os blocos depositados);
h)durante
as sondagens realizadas, foram observados, em diversas profundidades,
um grande número de casos de perda d'àgua total;
i)
as diversas áreas mapeadas como zonas de surgência
e encharcamento permanente, e
j)a
distribuição bastante heterogênea das
vazões d'água nos inúmeros drenos instalados.
Esse
conjunto de características, pautado nos tipos de materiais,
na geomorfologia que os comporta, na infiltração
e distribuição do fluxo da água subterrânea,
conduz à suposição de que as instabilidades
existentes não atingem, para cada uma das grandes áreas
mapeadas, toda massa de solo, num escorregamento único.
As variações laterais e verticais na constituição
dos materiais depositados são as causas das cotas diferentes
das passagens para solos residuais e destes para o embasamento
rochoso.
Essas
características associadas aos efeitos da ação
do fluxo das águas subterrâneas, devem conduzir
a erosões em subsuperficie e, por conseqüência,
à criação de vazios interiores que resultam
em solapamento e abatimento de massas de solo, de distribuição
aleatória, como a distribuição dos fluxos
subterrâneos das águas que dão origem
a esses vazios. Provavelmente, esse deve ser o tipo de instabilidade
dominante, embora seja perfeitamente admissível, massas
mobilizadas localmente em processo de creep.
6.2.3.3.
Caracterização Geotécnica da Área
de Entorno da CNAAA.
- topo
A
caracterização geotécnica da área
de entorno da CNAAA foi executada através da confirmação
e análise dos estudos realizados pelo Departamento
de Geologia-UFRJ, realizado em 1991. Esta análise consistiu
em verificação in loco, descrição
e análise de sondagens, registros fotográficos,
além da elaboração de mapa geotectônico
(Anexo 7) que contempla os pontos descritos nesse texto, as
unidades geológico-geotécnicas, bem como a localização
de três perfis do terreno (Anexo 8). Para a visualização
da localização dos pontos descritos neste texto,
sugere-se o acompanhamento de sua localização
no referido mapa. Tal mapa é a compilação
de três folhas, oriundas da Eletronuclear/Furnas, com
atualização após verificação
de campo em 2002.
Folha 1 (Anexo 7)
a)
Ponto 1
Localizado
no morrote do extremo oeste da área, adjacente á
torre de TV, junto ao corte da rodovia BR-101. O grande corte
da BR-101 (cerca de 100 m de comprimento por 60m de largura)
apresenta vários sinais de instabilização
pretérita, com a ocorrência de grande massa escorregada.
Aparentemente há o predomínio de erosões
diversas superficiais e internas, sem a presença de
uma superfície única de escorregamento(conforme
UFRJ/Depto de Geologia,1991).
Ponto
l A: Solo Residual jovem exposto em parede subvertical com
cerca de 8m de altura máxima. Trata-se de areia pouco
micácea e siltosa, esbranquiçada, entremeada
a blocos e massas rochosas menos alteradas. O intemperismo
é bastante irregular no perfil, sem uma seqüência
gradativa, pois há massas mais alteradas de solo sob
massas rochosas.
Ponto
l B: O perfil do solo apresenta colúvio argilo-arenoso
marrom, pouco micáceo, com blocos angulosos abundantes
de gnaisse e migmatito, com diâmetros médios
entre 20 e 40cm. A espessura, quando observada é de
2,0 a 2,5m.
Ponto
1 C: Neste local foi construído um muro de gabião
de 3,0 m de altura e 66,0 m de extensão, não
sendo verificado nenhum problema de integridade e encontra-se
ainda em bom estado de conservação na vistoria
em setembro de 2002. A unidade geotécnica é
composta por colúvio, textura argilo-arenosa com blocos
sobrepostos a um Solo Residual jovem de textura areno-siltosa
com "debris" (Depto de Geologia, 2002).
b)
Ponto 2
A
montante da estrada de serviço da unidade de britagem
de Angra 3, está localizado o bota-fora da BR-101,
que apresenta largo anfiteatro erosivo, com alguns pontos
de erosão pretérita. É constituído
quase exclusivamente por blocos de diâmetros diversos,
mas em geral com menos de 1,0m de diâmetro. Sob o bota-fora,
mais a jusante da encosta, há um depósito de
blocos com matriz areno-argilosa marrom e avermelhada.
c)
Ponto 3
Situado
a montante do km 592 + 200m da BR-101 em corte em rocha muito
alterada. O corte sofreu instabilizacão no passado
e é bastante íngreme, com cerca de 500 de extensão,
mas está aparentemente estabi1izado. A rocha é
um migmatito heterogêneo.
Ponto
3 A: Talude vertical em rocha com camada sobreposta pouco
espessa de colúvio. A rocha encontra-se muito fraturada
e com inúmeros "olhos d' água". Em
janeiro de 2002 no período de chuvas intensas ocorreram
pequenos deslizamentos de solo localizados.
d)
Ponto 4
Grota
na curva do km 592 + 100 m, a montante da BR-101. Não
apresenta problemas visíveis, somente alguma queda
de blocos com lascas isoladas nos cortes ou na grota. Observa-se
na grota um bueiro a montante da BR-101 com bastante água
caindo na caixa, sem que esta flua a jusante. Aparentemente
ocorre infiltração pela massa do aterro, resultando
nos escorregamentos, observáveis junto à saída
do aterro, a jusante da BR-101. Há também um
bota-fora recente, no platô do aterro a jusante, aparentemente
material proveniente de outro local (conforme UFRJ/Depto de
Geologia,1991).
e)
Ponto 5
Calha
de drenagem e bueiro a montante da BR-l01, no km 132. O bueiro
só apresenta a crista da caixa de coleta aflorando,
o restante encontra-se entulhado de blocos e lama.
A
encosta a montante apresenta um tálus com blocos de
diâmetros variados, de centimétricos até
3,0 ou 4,0 m dispostos desordenamente e instáveis.
A água flui sob os blocos em subsuperfície com
vazões consideráveis. Há vários
sinais de movimentação da massa de tálus
na encosta, que tem declividade superior a 40º.
Na
encosta a montante da estrada verifica-se a presença
de tálus e vestígios de escorregamentos pretéritos.
Verificou-se blocos de dimensões variadas e observaram-se
pontos de surgência de água, por vezes, caminhando
por baixo dos blocos criando erosão e desestabilizando
esse material.
f)
Ponto 6
Ponto
localizado próximo à torre da linha de transmissão
próximo a BR-101. Grandes quantidades de blocos são
observadas no terreno, com diâmetros médias inferiores
a 1,0 m com matriz argilosa e de cor marrom. Aparentemente
o Solo Residual está próximo à superfície,
em especial na drenagem.
A
montante da torre há um depósito de colúvio
com blocos na maioria de diâmetro inferior a 1,0 m.
g)
Ponto 7
Adjacente
ao aterro da BR-101, a montante da rodovia, ocorre entulhamento
do acesso ao bueiro, sendo que o riacho drena a água
sob o aterro da estrada, podendo formar novos caminhos preferenciais
de água. Neste ponto observa-se solo superficial bastante
arenoso.
Ponto
7 A: A escada de drenagem à jusante da BR-101 sendo
a unidade geotécnica composta de colúvio sobre
Solo Residual. A escada de drenagem encontra-se em bom estado
e o sistema de drenagem funcionando satisfatoriamente (Departamento
de Geologia/UFRJ, 2002).
h)
Ponto 8
A
montante da BR-101, defronte ao Centro de Informações,
observa-se uma mata com blocos esparsos de constituição
granítica e dimensões métricas e onde
a água abunda em pequenas calhas secundárias.
Ponto
8 A: Unidade geotécnica composta por colúvio
sobre Solo Residual. Apresenta encosta com vegetação
densa e blocos de tamanhos variados, desde centimétricos
até métricos.
i)
Ponto 9
Riacho
adjacente a montante da BR-101, defronte a entrada para o
Centro de Informações. Blocos rochosos de migmatito
heterogêneo, angulosos, em uma matriz de coloração
variegada, amarela e cinzenta, predominantemente de composição
silto-arenosa e arenosa, micácea. Trata-se de tálus
sobre Solo Residual, com a estrutura preservada da rocha.
Ponto
9 A: Encosta à montante da BR-101 composta por tálus
sobre colúvio.
Ponto
9 B: Caixa de drenagem no acesso ao Centro de Informações
em bom estado de conservação (Figura 110).
j)
Ponto 10
Corte
em escarpa rochosa com cerca de 100 m a oeste do trevo principal
da Usina, na BR-101. A rocha apresenta-se maciça e
pouco fraturada, com poucas possibilidades de instabilizações,
exceto por alguns blocos que eventualmente podem cair sobre
a plataforma da estrada.
A
jusante da BR-101, no mesmo local, o solo é representado
por um colúvio argiloarenoso, marrom, com blocos de
diabásio (10cm de diâmetro) e seixos de sílex,
quartzo e gnaisse, centimétricos. Adjacente ao ponto,
uma cortina atirantada (km 521,4) com cerca de 36,0m de extensão
apresenta boas condições, embora com vegetação,
drenos parcialmente entupidos e escadas obstruídas.
Ponto
10 A: Cortina do km 521,4 aparentemente em boas condições
estruturais, drenos secos, parcialmente obstruídos
cobertos com vegetação. Na sua lateral direita
no sentido Angra-Rio observa-se início de erosão
com perda do material (solo) neste lado da cortina. Aproximadamente,
a 3,0 m da cortina, a jusante da encosta se encontram blocos
de dimensões centimétricas com sinais de movimentação
que pode ser confirmado pela inclinação acentuada
da cerca de arame da Usina, produto da sobrecarga do material
escorregado.

Figura 110 - Foto da Caixa
de Drenagem do ponto 9B da folha 1 do ano de 2002.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
k)
Ponto 11
A
jusante da BR-101, entre o km 522 e km 522 + 100 m, há
uma quebra do talude apresentando várias trincas e
erosões, formando uma escarpa paralela a rodovia, com
algumas reentrâncias. Por vezes, há um colúvio
argiloso sob o aterro ou aflorante.
Ponto
11 A: Cortina do km 522 com os drenos secos parcialmente obstruídos.
Um escorregamento pretérito foi observado verificando-se
que a crista deste evento encontra-se próximo ao pé
da cortina e na base, verificou-se a ocorrência de processo
erosivo (Figura 111).

Figura 111 - Foto do processo
erosivo na base da cortina do ponto 11A da folha 1.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
l)
Ponto 12
Na
pequena estrada de acesso a área plana da Usina, a
partir do Morro do Urubu, a própria estrada é
construída com o enrocamento proveniente da pedreira.
Vários
filetes de água foram observados na encosta onde predomina,
sob o bota-fora superficial, depósito de colúvio
argiloso com blocos. Algumas trincas ocorrem na estrada de
serviço, notadamente na inflexão abaixo da cortina
atirantada na BR-101, sendo que há água percolando
sob seu leito.
m)
Ponto 13
Paralelamente
ao canal a base da encosta, 100,0 m a oeste do Centro de Informações,
logo a jusante da cortina, há um muro de pedras arrumadas
para evitar a chegada de sedimentos do canal. O muro, que
tem cerca de 6,0m de comprimento, está bastante danificado,
com várias surgências de água no talude.
Ponto
13A: Cerca de 50,0m a montante da estrada de serviço
do Morro do Urubu, há uma exposição de
aproximadamente 2,0m de colúvio vermelho argiloso,
com blocos abundantes de tálus/colúvio. Cerca
de 20,0m adiante, em direção ao morrote do Centro
de Informações, ocorre uma concentração
de blocos angulosos (cúbicos) de até 2,5m de
diâmetro médio de migmatito estromático.
O fraturamento, inclusive paralelo à xistosidade, define
a individualização de blocos. Daí até
ao Centro de Informações ocorre um depósito
de tálus, com blocos métricos imbricados e sinais
de rastejo na mata.
n)
Ponto 14
Na
estrada de serviço, adjacente à face oeste do
morro do Centro de Informações, junto ao talvegue
formado pelo morro e a encosta da BR-101, há uma pequena
corrida ativa que rompeu em 1991 a cerca da Usina após
fortes chuvas, com dimensões de 10,0 m de largura por
20,0 m de comprimento. O material está saturado e bastante
fluido. A matriz é argilosa, com blocos de migmatito
de 0,5m de diâmetro, em média, tratando-se de
uma calha com depósito de tálus.
Ponto
14 A: Este ponto é uma revisão do ponto 14.
Na vistoria de 2002 não foi possível observar
a corrida de material ativa, pois a mesma encontrava-se recoberta
por vegetação e blocos rochosos, impedindo observar
os vestígios da corrida de material observada em 1991.
A área é um talvegue entulhado com depósitos
de tálus com blocos de dimensões variadas atingindo
tamanhos centimétricos até métricos.
o)
Ponto 15
Estrada
de acesso à área das usinas, a partir do Centro
de Informações. Na encosta a montante da estrada,
a cerca de 80m de distância do Centro de Informações,
observa-se calha com blocos métricos abundantes de
migmatito, gnaisse, granito e diorito.
A
região de tálus apresenta sinais de movimentação,
com a presença de trincas na estrada. Blocos abundantes
de diabásio indicam a presença de dique nas
proximidades. Após a calha, há um nose formado
por blocos do mesmo tálus. Em seguida há um
escorregamento em colúvio areno-argiloso alaranjado,
pouco micáceo, com cerca de 2,5m de espessura.
A
crista estende-se por aproximadamente 20,0m, paralelamente
e a 40,0m a montante da estrada. Não foram observados
deslocamentos e/ou rompimentos das canaletas de drenagem localizadas
ao longo desta estrada. (Figura 112).

Figura 112 - Fotografia do
ponto 15 da folha 1 do ano de 2002.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
p)
Ponto 16
Na
estrada de acesso ao canteiro, a partir do Centro de Informações
a 100 m da berma de equilíbrio, depósito de
blocos em calha adjacente à estrada, não apresentam
sinais de instabilização, com diâmetros
métricos, sendo alguns lançados, talvez em virtude
de bota-fora da BR-101.
q)
Ponto 17
No
morrote do Centro de Informações, face sudeste,
o solo apresenta um colúvio argiloso pouco espesso
(1,0 a 2,0m de espessura) sobre migmatito heterogêneo,
em área coberta por vegetação arbórea
que apresentava indícios de rastejo.Sondagem a trado
realizada no local (ST-1) revelou menos de 1,0 m de solo sobre
blocos ou topo rochoso.
Ponto
17 A: São duas cortinas à jusante da estrada
do Centro de Informações que estão em
bom estado (Figura 113). Na estrada observam-se pequenas depressões,
indicando pequena movimentação da encosta.

Figura 113 - Cortinas à
jusante da estrada do Centro de Informações.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
r)
Ponto 18
Os
drenos executados não contribuíram significativamente
para a melhoria da estabilidade, pois o problema não
é de drenagem profunda somente, e sim de drenagem superficial
e proteção contra a erosão. De qualquer
forma, não há canaletas para a recepção
da água dos drenos, e estes estão totalmente
obstruídos ou destruídos por escorregamentos.
A
jusante há algumas pequenas surgências de água
próximas ao leito da BR-101. A massa escorregada, delimitada
no pé do escorregamento, tem a composição
do Solo Residual (areno-siltosa micácea), com inúmeros
blocos de aproximadamente 30,0cm, podendo atingir até
2,0m de diâmetro.
s)
Ponto 19
No
Morro do Urubu, a jusante da BR-101, sob a guarita de vigilância,
aparece um escorregamento (corrida) ocorrido no final de março
de 1991, com cerca de 18m de largura máxima, na crista,
por 25m de extensão.
A
crista tem até 2,5m de altura de escarpa, expondo o
bota-fora da rodovia composto por argila arenosa marrom com
fragmentos angulosos de gnaisse e granito de diversos diâmetros.
Ponto
19 A: Na estrada não pavimentada observam-se trincas
com aberturas atingindo até aproximadamente 30 cm.
As trincas são paralelas ao escorregamento pretérito.
t)
Ponto 20
Adjacente
à unidade de britagem de Angra 3, na pequena estrada
de acesso ao topo do Morro do Urubu. Em corte desta estrada
com cerca de 600, observa-se o perfil geotécnico da
área apresentando colúvio com cerca de 2,0 a
3,0m de espessura, sobre rocha muito alterada e alterada,
tendo aproximadamente 8m de espessura mínima. Não
são observados problemas geotécnicos significativos,
exceto por escorregamento antigo já consolidado.
u)
Ponto 21
Na
cortina do km 522,7 à jusante da BR-101 executada pelo
DNIT (antigo DNER), com 54,0 m de extensão, não
foi observada água nos drenos, os quais encontram-se
parcialmente obstruídos (Figura 114).
A
encosta à montante da BR-101 é íngreme
e adjacente a estrada, observando-se sinais de movimentação
pretérita pelo abatimento da vegetação.
Segundo
informações da Eletronuclear, todas as cortinas
ao longo da BR-101 dentro da faixa de domínio do DNER,
são de responsabilidade deste órgão.
Como a Eletronuclear não conseguiu obter os detalhes
do projeto das 2 cortinas do km 522,6 e do km 522,7, nem dos
reforços realizados antes de 1991 e que as cortinas
, não apresentavam indícios de comprometimento
não foi feito a monitoração das mesmas.
Cabe salientar que a Eletronuclear faz acompanhamento e monitoração
das demais cortinas e canaletas de drenagem no trecho na área
das usinas e seu entorno, mesmo das sob responsabilidade do
DNIT.

Figura 114 - Cortina à jusante da BR-101.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
v)
Ponto 22
Cortina
do km 522,6 executada pelo DNIT (antigo DNER) à jusante
da BR-101 com 60 m de extensão, com cobertura de solo
de aproximadamente 30 cm cobrindo o seu topo, impedindo com
isso que se tenha uma visão clara da cortina. Não
foi observada água nos drenos, os quais encontram-se
parcialmente obstruídos. (Figura 115).
Próximo
a lateral da cortina existem blocos rochosos onde se observa
erosão ao seu redor principalmente na parte inferior,
descalçando-os (Figura 116). Entre as cortinas do km
552,6 e 522,7 verifica-se que a canaleta de drenagem encontra-se
tomada por vegetação. A montante verifica-se
área de escorregamento pretérito, íngreme
e próxima a estrada, coberta de vegetação.

Figura 115 - Cortina do km
522,6 executada pelo DNIT (antigo DNER) à jusante da
BR-101.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 116 - Foto da erosão nos blocos de rocha
do ponto 22 da folha 1.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
w)
Ponto 23
A
área é constituída principalmente por
gnaisses migmatíticos cuja foliação gnáissica
apresenta orientação N65º a 70º E/50º
a 80º NW sendo cortados de forma discordante por diques
de diabásio (N 45º E/74º SE) e corpos aplíticos
de forma subconcordante por corpos pegmatíticos. (Figura
117, Figura 118 e Figura 119).
Este
local representa a área de construção
da Usina Nuclear de Angra 3, apresentando corte em rocha escavado
em quatro bancadas de 15,0 m totalizando aproximadamente 60,0
m de altura. Sobre este talude rochoso há depósito
de solo coluvial com vegetação e com espessura
aproximada de10,0 m, totalizando70,0 m de altura. Destacam-se
inúmeros pontos de ruptura associados à queda
de blocos. Este mecanismo tem origem na interseção
entre fraturas de alívio, fraturas tectônicas
e, eventualmente, com as fraturas ocasionadas pelo desmonte.

Figura 117 - Área de construção da
Usina Nuclear de Angra 3, apresentando corte em gnaisses migmatíticos
escavado em quatro bancadas de 15,0 m.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 118 - Foliação gnaissica do maciço
rochoso na área de construção de Angra
3.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 119 - Área de
construção da Usina Nuclear de Angra 3.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
x)
Ponto 24
Edificação
do arquivo da Usina Nuclear situada no Morro do Urubu. Neste
local o perfil de solo é composto por uma camada de
superficial de colúvio com espessuras máximas
da ordem de 1,0 m, constituído por solo areno-argiloso,
apresentando também fragmentos centimétricos
de rocha dispersos na massa do solo.
Abaixo
do colúvio ocorre Solo Residual areno-argiloso, composto
por areia fina a média, micácea, cuja compacidade
varia de medianamente compacto a compacto e espessura média
do Solo Residual é de cerca de 5,0 m. A camada de rocha
alterada, abaixo do Solo Residual, tem espessura da ordem
de 0,5 m e se desenvolve sobre gnaisses bandados muito coerentes.
y)
Ponto 25
Este
ponto não é resultado de observação
direta. Trata-se de uma das muitas sondagens executadas na
região do Saco Fundo, as quais foram úteis na
definição do perfil típico do subsolo
local (PROMON, 1985).
É
caracterizada uma camada de aterro de tout venant com 9,0
m de espessura média, seguida em profundidade por areia
fina a média, pouco siltosa, muito micácea e
com poucos fragmentos de conchas. A espessura desta camada
alcança cerca de 6,0 m e número de golpes de
SPT variando entre 10 e 15, tendo-se adotado o valor médio
de 19 para esta camada. Abaixo deste horizonte estratigráfico
a areia passa a ter uma textura fina, muito siltosa, micácea
e com muitos fragmentos de concha. A espessura média
é de 5,5 m e o número médio de golpes
de SPT é de 12. Uma camada de argila orgânica
mole (NSPT = 4), sotoposta às areias, com espesura
média de 3 metros ocorre sobre o solo residual de natureza
gnáissica e com valores de SPT crescentes com a profundidade.
Folha 2 (Anexo 7)
a)
Ponto 1
Solo
coluvial vermelho, com presença de blocos predominantemente
centimétricos a decimétricos e esparsos blocos
maiores, espessura de 6m. Sotoposto a esta camada, Solo Residual
envolvendo alguns blocos de rocha leucocrática de textura
média a grosseira e intercalações biotíticas,
espessura de 2,0m, ao que seguem blocos, ora angulosos, ora
com foliação esferoidal. O Solo Residual envolve
esses blocos mostra uma estrutura de uma rocha migmatítica
com faixas leuco a melanocráticas e espessura de cerca
de 13,0m.
b)
Ponto 2
Bota-fora
com muitos blocos, alguns com mais de 2,0m e espessura de
0,5m, sobre solo coluvial vermelho a marrom, envolvendo um
ou outro bloco centimétrico e espessura de 2,5m. Segue
Solo Residual predominantemente grosseiro, sem xistosidade
aparente e espessura de 2,5m. Na base rocha migmatítica,
com as diaclases individualizando blocos de 0,5 a 1,0m na
dimensão maior, que, por vezes mostram-se envolta por
Solo Residual. Não há sinais de instabilização
e a espessura visível deste horizonte é de 6,0m.
c)
Ponto 3
Paredão
de rocha migmatítica alterada, com camadas félsicas
e máfics, com variações para domínios
graníticos e bolsões pegmatóides. Três
famílias principais de fraturas foram detectadas: N80ºW
/ 60ºNE, espaçamento médio de 1,0m; N10ºE
/ 65ºNE, espaçamento médio de 2,0m e N85ºW
/ 45ºS, espaçamento variável entre 0,8
a 2,0m.
A
parte superior do corte mostra vestígio localizado
de diáclase de alívio fornece blocos prismáticos
de tamanhos variados, dispostos em quase toda extensão
do talude instabilizado.
d)
Ponto 4
Pequeno
escorregamento em Solo Residual na base do corte, controlado
por diáclase
vertical de direção paralela ao corte (Figura
120).

Figura 120 - Foto do escorregamento
no ponto 4 da folha 2 do ano de 1991.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
e)Ponto
5
Colúvio
argilo-arenoso, vermelho, homogêneo, envolvendo blocos
centimetricos e com 1,7m de espessura, sobre Solo Residual
grosseiro, originado de rocha migmática de intercalações
claras e escuras, e espessura aparente de 3,5m.
f)
Ponto 6
Corte
em que se constata afloramento de migmatito alterado, passando
a são, com 3,5m de altura, por vezes estromático,
por vezes pegmatoide, e xistosidade N65ºE / 15º.
Sobreposto ocorre Solo Residual grosseiro com evidencias de
pórfiros feldspáticos e espessura de 2m. O horizonte
superior com espessura de 2,5m constitui-se de colúvio
bastante argiloso, heterogêneo, vermelho e sem blocos
envoltos e evidências de cicatriz de escorregamento.
g)
Ponto 7
Solo
coluvial, com 1,5m de espessura, argilo-arenoso, marrom, com
bastante blocos de tamanhos centimétricos a decimétricos,
sobreposto a Solo Residual fino a médio, micáceo.
h)
Ponto 8
Tálus
com muitos blocos métricos envoltos por solo coluvial
de coloração amarelada, bastante argiloso. Pequeno
corte mostra processo erosivo.
i)
Ponto 9
Solo
coluvial com 4,0m de espessura, homogêneo, argiloso,
amarelado, sobreposto a um migmatito muito fraturado e alterado,
definindo blocos centimétricos a decimétricos,
até a base do corte. Não se constata a presença
de camada de Solo Residual, apesar do estado de alteração
e diaclasamento do embasamento.
j)
Ponto 10
Afloramento
de dique de rocha básica, provavelmente diabásio,
muito fraturado, individualizando blocos decimétricos
alterados. As paredes das fraturas mostram-se muito alteradas.
Solo
coluvial muito argiloso, marrom, contendo blocos esparsos
de diabásio. A área a jusante do dique, apesar
da existência de uma calha de drenagem, apresenta-se
totalmente encharcada e nos cortes vizinhos ao afloramento
existem diversos pontos com surgência d'água.
k)
Ponto 11
Depósito
de tálus com matriz arenosa grosseira e presença
de diversos pequenos escorregamentos pretéritos na
margem da estrada. Vários blocos de tamanhos variados
são observados e o tálus mostra-se encharcado,
facilmente erodível, entulhando e destruindo parcialmente
a calha de drenagem lateral à estrada, em trecho com
cerca de 20,0m de extensão.
l)
Ponto 12
Colúvio-tálus
consolidado, com 5,0m de espessura aparente, muito úmido
e sem vestígios de instabilidade, matriz argilo-arenosa,
com muitos blocos, sempre ou quase sempre inteiramente alterados.
Toda a área a montante constitui um grande anfiteatro
entulhado por materiais das escarpas adjacentes.
m)
Ponto 13
Corte
da estrada em que se observa, da primeira bancada para baixo,
cerca de 8,0m de Solo Residual, marrom, argilo-arenoso, que
segue até a base, homogêneo grosseiro, mostrando
xistosidade junto ao pé do corte e envolvendo alguns
blocos com cerca de 0,5m na dimensão maior.
Ponto
13 A: No talude à jusante da estrada, aproximadamente
a 15 metros da mesma, observou-se trilha com erosão
acentuada, com 1,5 m de largura por 1,7 m de altura, com alguns
blocos na calha.
n)
Ponto 14
Escorregamento
mascarado pela vegetação e envolvendo Solo Residual
grosseiro, com intercalações claras e escuras
e xistosidade mergulhando para o interior do talude. (Figura
121).
O
escorregamento, na sua parte médio superior, em Solo
Residual, mostra um plano com inclinação, para
a estrada, de cerca de 70º, provavelmente associado a
uma diáclase relítica. Os flancos do escorregamento
também mostram superfícies retilíneas
de certa continuidade e mergulhos acentuados.
A
parte média inferior constitui-se de material escorregado,
onde se constata solo coluvial, proveniente da parte mais
alta do escorregamento.

Figura 121 - Escorregamento às margens da BR-101.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
o)
Ponto 15
Afloramento
de biotita-granito na base do corte, em parede próxima
da vertical, paralela à estrada, provavelmente segundo
a direção de diáclase.
Ponto
15 A: Talude composto de solo coluvial de pouca espessura
sobre rocha. Em janeiro de 2003, no período de chuvas
intensas, o solo coluvial escorregou em alguns pontos localizados,
deixando a rocha exposta. (Figura 122).
p)
Ponto 16
Solo
coluvial vermelho, areno-argiloso com espessura de 1,0m, envolvendo
blocos alterados, com até 1,0m de dimensão maior.
Segue-se no perfil, um bloco de grandes dimensões de
uma rocha de granulação grosseira biotitica,
alterada, aparentemente homogênea.
Até
a base do corte, com 6,0m de espessura, tem-se um colúvio,
pouco mais arenoso, de cor marrom, homogêneo, onde não
se percebe a presença de blocos. No contato dos blocos
rochosos com o solo observa-se sulco erosivo provenientes
das águas pluviais (Depto. De Geologia, 2002).

Figura 122 - Escorregamento de solo coluvial expondo maciço
rochoso.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
q)
Ponto 17
Área
com escorregamentos superficiais, estreitos e alongados, do
tipo debris-flows, atingindo basicamente o bota-fora da BR-101,
lançado a meia-encosta.
r)
Ponto 18
Cortina
do km 520,2 em área de escorregamento antigo. As canaletas
de drenagem da BR-101 a montante, mostram-se inteiramente
secas e a cortina apresenta sinais de movimentação,
embarrigamento. (Figura 123 e Figura 124).
Ponto
18 A: A cortina descrita no ponto 18 foi vistoriada em 2002.
Essa cortina localiza-se a uma distância de aproximadamente
30,0 m da estrada e possui 68,0 m de comprimento com ligeira
flexão. Observou-se algumas cabeças de tirantes
sem fios e sem proteção.

Figura 123 - Cortina em área de escorregamento antigo.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
s)
Ponto 19
Observa-se
pequena ravina desenvolvida a partir do bota-fora em direção
à torre de alta tensão vizinha.
t)
Ponto 20
As
cortinas próximas ao trevo de acesso às Usinas
Nucleares (km 521) encontram-se em bom estado de conservação
(Figura 125), embora seja possível observar trincas
nas mesmas e pequenas ondulações de grande extensão
no pavimento da área do estacionamento, as quais se
prolongam até a base da cortina.

Figura 124 - Canaletas de drenagem da BR-101.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 125 - Foto das cortinas próximas às Usinas
Nucleares no ponto 20 da folha 2.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
u)
Ponto 21
No
trevo de acesso às usinas há escadas de drenagem
e caixas de captação de água dos drenos
subhorizontais profundos, as quais necessitam limpeza, pois
se encontram cobertas por vegetação.
v)
Ponto 22
A
berma executada na parte inferior da encosta do km 521 da
BR 101, (encosta Noroeste) objetivando a estabilização
do talude, encontra-se em bom estado de conservação,
não sendo observadas deformações em seu
corpo.
w)
Ponto 23
Neste
ponto há uma torre de transmissão designada
de Torre 3, a qual não consta na base cartográfica
do mapa apresentado neste trabalho. Encontra-se à jusante
da BR 101, em área cujo perfil de solo é constituído
por colúvio e solo residual.
A
base de apoio da torre encontra-se a, aproximadamente, 6,0m
da superfície inclinada da encosta, na qual podem ser
observados blocos soltos e ravinamentos, indicando a ação
erosiva das águas pluviais (Figura 126).

Figura 126 - A base de apoio
da torre próxima à encosta.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Ponto
23 A: Torre de transmissão encontra-se instalada em
solo residual e aparentemente apresenta-se estável.
Entre as torres do ponto 23 e 23A há um caminho preferencial
de água que intercepta a crista de uma cicatriz de
escorregamento pretérito.
x)
Ponto 24
Foi
observado na área das torres de microondas à
montante da BR 101, vestígio de movimentação
da encosta, verificada através das trincas na estrada
de acesso a torres de microondas e rachaduras ao longo das
canaletas de drenagem. Em alguns pontos na estrada observou-se
rompimento do asfalto com saída da água à
jusante da encosta.
Folha 3 (Anexo 7)
a)
Ponto 1
Cicatriz
de escorregamento com extensão aproximada de 120,0m
e largura de 30,0m, que se estende desde um pequeno platô
marginal da BR-101 até a estrada de acesso ao Depósito
Provisório de Estocagem de Rejeitos. No pé deste
escorregamento existe um muro tipo gabião para conter
o solo.
O
escorregamento é do tipo translacional sem desenvolvimento
de cunha de escorregamento profunda e se desenvolveu a partir
do material de bota-fora, ou aterro do platô a montante,
sendo ainda observados fragmentos de pequenas dimensões
de rocha sã.
São
comuns em alguns pontos da encosta, blocos de rocha de dimensões
métricas, graníticos, alterados e mostrando
decomposição esferoidal.
Ponto
1 A: O ponto 1 foi revisado neste trabalho e a cicatriz do
escorregamento ainda pode ser observada. Nesta área
foram instalados inclinômetros e piezômetros,
os quais romperam. A torre comentada no ponto 23 da Folha
2 encontra-se localizada próxima à crista da
cicatriz deste escorregamento.
Ponto
1 B: A estrada de acesso ao depósito de rejeito existem
evidências de movimentação da massa terrosa
da encosta com trincas de até 2,0cm em toda a sua extensão,
deformações no pavimento e soerguimento do meio-fio.
As canaletas de drenagem estão obstruídas com
vegetação, solo e blocos de rochas, estão
rachadas e com deslocamento entre elas.
b)
Ponto 2
Corte
de aproximadamente 45,0m de altura, à direita da BR-101
(sentido Rio-Santos), predominantemente em solo coluvial com
as mesmas características texturais e de coloração
descritas no ponto anterior. Observam-se núcleos de
rocha muito alterada ou horizonte de Solo Residual jovem,
argilo-arenoso, até a altura de 25m no centro do corte.
Pequenos
escorregamentos superficiais, do tipo debris-flows, mais recentes
são vistos na porção esquerda da face
do talude, onde blocos de rocha foram arrastados juntamente
com o solo coluvial. Na base do talude, embora escondido pela
vegetação, afloramento de biotitagnaisse com
altura aproximada de 2,0m e extensão de 30,0m, formando
um desnível á direita do talude. Há surgência
de água na fratura da rocha.
Ponto 2 A: A encosta situada a montante da
BR-101 próximo do km 520,15 caracteriza-se pela presença
de colúvio sobre Solo Residual de textura areno-argilosa
vermelho-amarelo (Figura 127). Observa-se erosão superficial
em vários trechos derivados da percolação
das águas pluviais sobre o solo areno-argiloso.

Figura 127 - Foto da encosta a montante da BR-101 no ponto
2A da folha 3.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Segundo
relatório no GEC.T/BP000020, em 1992 ocorreu neste
talude um escorregamento superficial e posteriormente em 1996,
ocorreu outro deslizamento aumentando desta forma a área
instabilizada. Eventos de escorregamentos/deslizamentos recentes
foram observados nesta área. Observa-se também
que as árvores desta encosta encontram-se com ligeira
inclinação. Nesta encosta os problemas de instabilidade
estão associados a sua acentuada inclinação,
presença de espessa camada de material coluvial sobre
Solo Residual e a presença de água em períodos
de chuvas.
Em
função da instabilidade crescente neste local
e da ocorrência de escorregamentos a Eletronuclear contratou
uma Empresa para fazer as obras de contenção
neste local que iniciaram em outubro de 2002. (Figura 128).

Figura 128 - Fotografia do
ponto 2A da folha 3 do ano de 2002.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Este
serviço de estabilização constitui na
suavização do talude com escavação
manual, na execução de solo grampeado com concreto
projetado na parte superior da encosta e de um muro de gabião
no pé da encosta. Para proteção da região
estabilizada foi executado um sistemas de drenagem superficial
e a proteção superficial com tela vegetal.
c)
Ponto 3
Cortina
atirantada a jusante do km 520 da BR-101, na qual houve o
rompimento do painel central em agosto de 1990, com a corrida
do material de reaterro por trás da cortina.
Há
a presença constante de água na cortina, principalmente
na porção à direita, onde os drenos apresentam
vazão contínua e abundante. Provavelmente a
presença desta grande quantidade de água deve-se
a infiltração a montante da encosta no contato
rocha/solo coluvial, onde se verificou a presença de
afloramento de rocha. Esta cortina intercepta uma calha natural
de drenagem onde existe um acúmulo de material de tálus
com a presença de blocos de dimensões e formas
variadas.
A
montante o aterro da BR-101 está contido por duas cortinas
atirantadas com 85,0m e 40,0m de extensões, respectivamente.
O pavimento da rodovia, em conseqüência da movimentação
do talude à jusante, mostra uma série de trincas
devido ao abatimento do subleito no sentido do movimento (Figura
129). No início de 1999, como medida de prevenção,
foi feito pela Eletronuclear o recapeamento da pavimentação
da BR-101, neste trecho situado acima destas cortinas, eliminando
assim a infiltração d' água nas fissuras
do pavimento.
Acima,
além do aterro, existe uma obra de drenagem superficial,
calha em degraus de concreto para captação de
riacho existente no talvegue (Figura 130), a qual desemboca
em uma bacia de recepção, também em concreto,
com um bueiro que conduz água por sob o aterro da estrada
e sob a cortina descrita acima. A parte da encosta, em que
se localiza a obra de drenagem, apresenta-se morfologicamente
como uma rampa contínua de colúvio que se estende
até a estrada de acesso ao depósito de rejeito,
a qual foi cortada pelo traçado da rodovia.
Nesta
área, atualmente, existem 3 (três) cortinas e
diversas instrumentações (células de
carga, pinos de deslocamentos, piezômetros e inclinômetros).
Estas contenções (cortinas) foram reforçadas
pela ETN em 2001 e atualmente encontra-se em bom estado (Figura
131).
d)
Ponto 4
Abatimento
no flanco esquerdo do corte em rocha da BR-101, em frente
á saída da estrada de emergência da usina,
onde se observa a morfologia característica de formação
de Solo Residual sobreposto por solo transportado de cotas
mais altas da encosta. Embora este local esteja recoberto
por vegetação, incluindo arvores de pequeno
a médio porte, observa-se uma cicatriz que se assemelha
a uma superfície antiga de escorregamento, pouco profundo,
que não se estendeu além da rodovia.

Figura 129 - Foto das trincas
na rodovia no ponto 3 da folha 3 do ano de 1991.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 130 - Foto calha em degraus de concreto do ponto
3 da folha 3.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 131 - Foto da cortina
do ponto 3 da folha 3.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
e)
Ponto 5
Encosta
com Inclinação de 45º, blocos de diâmetros
variando de 0,5 a 1,0m, espalhados superficialmente sobre
solo coluvial e canaleta de drenagem perpendicular à
inclinação, obstruída em diversos pontos.
Mais
adiante, na mesma encosta, obra de contenção
constituída de duas cortinas atirantadas: a superior
com 65,0m de extensão e a inferior com 30,0m. Entre
as duas, um revestimento do talude com concreto projetado
e diversos drenos revestidos de bidim. Observa-se que esta
superfície de concreto projetado tem irregularidades
correspondentes a blocos superficiais ou afloramento de rocha,
recobertos pelo concreto. (Figura 132 e Figura 133).
É observado afloramento de biotita-gnaisse na base
desta obra, ao nível de uma das ruas da usina, e na
elevação na porção NE, onde existe
uma pequena praça. No lado direito da cortina superior,
corte de 2,5m de altura em solo coluvial, avermelhado, silto-argiloso
e micáceo, com blocos de rocha com diâmetros
em torno de 0,3 a 05m.

Figura 132 - Obra de contenção
com duas cortinas atirantadas, e talude com concreto projetado.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 133 - Foto da cortina do ponto 3 da folha 3.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Ponto
5 A: O ponto 5 foi vistoriado em 2002, sendo denominado de
ponto 5A na antiga encosta sudeste. Esta encosta foi estabilizada
por um conjunto de quatro cortinas, porém, não
há instrumentação instalada. As cortinas
foram designadas de 1, 2, 3 e 4, estando as cortinas 1 e 2
situadas à montante da estrada de rejeito e a 3 e a
4 a jusante.
A
cortina 4 não tem drenos e a água sai pelo tirante,
alguns tirantes estão com a cabeça sem proteção
a corrosão. (Figura 134).
f)
Ponto 6
Encosta
com a presença de dois grandes blocos de rocha, diâmetros
de 2 a 3m, na superfície próximo à Usina
de concreto. Observa-se a presença de outros blocos,
também de grandes dimensões, sob a vegetação.
g)
Ponto 7
Semelhante
ao ponto anterior na encosta por trás do prédio
do Almoxarifado 1. Diâmetro médio dos blocos:
1,5m.

Figura 134 - Fotografia do
ponto 5A da folha 3 do ano de 2002.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
h)
Ponto 8
Bifurcação
entre as estradas de acesso ao Depósito de Rejeitos
e a saída de emergência. Observou-se que ao longo
da estrada de acesso ao depósito até este ponto,
o pavimento da estrada apresenta diversas fraturas de tração,
que podem indicar um abatimento progressivo da estrada ou
um movimento da encosta a jusante.
Em
sua base, até cerca de 1,5m de altura, Solo Residual
jovem de biotita-gnaisse, areno-siltoso, amarelado, onde ainda
está preservada uma fratura da rocha: N 85º W,
45º NE.
i)
Ponto 9
Calha
de drenagem com água na encosta da estrada da saída
de emergência, onde há acúmulo de blocos
de gnaisse facoidal de dimensões métricas. Ao
longo desta estrada existem pequenos cortes em solo coluvial,
argilo-siltoso, avermelhado e trincas de tração
no pavimento. (Figura 135).

Figura 135 - Fotografia do ponto 9 da folha 3 do ano de
2002.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
j)
Ponto 10
Afloramento
de biotita-gnaisse com direção de fraturamento
NW-SE na calha de drenagem, com água correndo ao longo
da fratura da rocha. A encosta apresenta vegetação
do tipo floresta, onde se observa a morfologia típica
de rampa com acúmulo de tálus/colúvio.
(Figura 136).
k)
Ponto 11
Este
ponto não está assinalado em mapa. Está
localizado na pedreira em que está instalado o Depósito
Provisório de Estocagem de Rejeitos.
Face
de exploração contínua, sem bancadas,
de biotita-gnaisse muito pouco fraturada, o qual não
apresenta blocos de interseção de fraturas ou
lascas de rocha com riscos iminentes de queda. Algumas porções,
entretanto, resultantes da detonação, ainda
são visíveis, mas mesmo assim até altura
máxima de 5,0 ou 6,0m, especialmente no centro da pedreira.
No
flanco esquerdo da face de exploração, há
um sistema de fraturas paralelas de direção
N 47º E - vertical, que favorecem a formação
de blocos devida a proximidade da face. (Figura 137).

Figura 136 - Fotografia do ponto 10 da folha 3 do ano de
2002.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 137 - Fotografia do ponto 11 da folha 3 do ano de
1991.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
No
alto da pedreira, resultante de fratura de alívio,
subparalela ao paredão da exploração,
existe blocos de rocha projetados para fora da face em condições
de deslocamento ao longo do tempo. No flanco direito, no morro
onde foi instalada a pedreira, há uma cicatriz de um
pequeno escorregamento de solo coluvial condicionado pela
presença da rocha a pouca profundidade.
Em
2002 a ETN realizou serviços de contenção
nesta encosta, com colocação de telas metálicas
de proteção e fixação de blocos
soltos.
l)
Ponto 12
As
canaletas do sistema de drenagem em estrada não pavimentada
à montante da área do depósito de rejeito,
encontram-se em alguns pontos com trincas na sua base, obstruídas
em vários locais com vegetação e solo.
Nesse local encontram-se blocos de rocha de dimensões
centimétricas a métricas.
6.2.3.4.
Características Geológicas e Geotécnicas
no Sítio da Usina de Angra 3
- topo
As
áreas estudadas para o empreendimento foram: o maciço
rochoso de Ponta Grande e áreas adjacentes próximas,
baixadas de Saco Fundo e Itaorninha.
Na
área de Ponta Grande, sondagens geotécnicas
indicam que os principais prédios da Usina estão
assentados em rocha sã, portanto em condições
geotécnicas favoráveis, propondose o local para
a construção de Angra 3.
A
localização de Angra 3 foi originalmente proposta
para a praia de Itaorna, porém foi levada em consideração
as dificuldades encontradas na execução das
estacas da fundação de Angra 2 e as condições
adversas do terreno no local originalmente previsto para Angra
3 que impediam a adoção de uma solução
em fundação rasa.
Na
área de Ponta Grande, sondagens geotécnicas
indicam que os principais prédios da Usina estarão
assentados em rocha sã, portanto em condições
favoráveis de fundação, propondo-se o
local para a construção da terceira unidade.
Geologia do Sítio de Angra 3 e Baixadas Sedimentares
Adjacentes
A
partir da observação direta, e baseados em um
grande número de informações de subsuperfície,
diversos relatórios técnicos foram elaborados
a respeito da geologia daquela área.
Ponta
Grande, hoje, abrange um plateau de aproximadamente 40.000
m², decorrente do desmonte a fogo do morro de Ponta Grande.
A área de escavação foi levada à
cota +1,8m, com exceção da periferia do plateau,
mantida na cota +10,0m para a proteção da área
escavada contra a ação do mar.
A
litologia predominante no maciço é um gnaisse
lenticular de estrutura migmatítica de atitude N 70º
E/80º N, idade pré-Cambriana, cor cinza claro,
com pórfiros de feldspatos lenticulares. Ocorrem ainda
lentes de rocha de granulação fina e bandada,
com alternâncias de leitos biotíticos e leitos
de quartzo e feldspato. A transição entre estas
duas litologias é gradativa, sem contato nítido
entre ambas.
Ocorrem
ainda uma série de diques básicos e de lamprófiros,
ambos de idade Mesozóica,com direção
NE, enquanto que os lamprófiros têm orientação
espacial de N67ºE / 58º NW e apresentam evidências
de falhamento. Há a presença de uma falha na
área com direção N22ºE e alguma
evidência de catáclase próxima ao limite
oeste da área.
Fraturas
tectônicas, juntas sub-horizontais associadas ao alivio
de tensões e fraturas geradas pelo desmonte, compõem
o atual panorama estrutural. Foram identificadas três
famílias de fraturas tectônicas com as seguintes
orientações: N 145º/89 N; N 27º /90;
N 68º/76 N. Esta última família de fraturas
é menos freqüente, mas é aproximadamente
paralela á foliação gnáissica
e apresentam-se abertas (1 mm) e com presença de minerais
secundários.
As
fraturas de alívio de tensões apresentam-se
com aberturas de até 2mm e direção N
56º E / 20º SE. São condutoras de água,
evidenciado por dados de ensaios de perda d' água até
profundidades próximas a 1m. As fraturas produzidas
pela ação de explosivos distribuem-se por toda
área; no entanto, possuem pequena persistência.
No relatório, fez-se referência também
a fraturas internas ao dique de diabásio.
A
baixada sedimentar de Saco Fundo, contígua a Ponta
Grande, originalmente uma enseada, foi aterrada com material
proveniente do desmonte do maciço de Ponta Grande.
O terreno é plano da linha de praia até o sopé
da encosta, onde o talude que alcança a rodovia BR-101
tem inclinação entre 30º e 35º. Caracteriza-se
por sedimentos marinhos recentes, os quais são recobertos
por uma camada de aterro com espessura variando entre 8 e
12m. Na base desse pacote ocorrem o Solo Residual, rochas
alteradas e sãs.
A
seqüência sedimentar de Saco Fundo é constituída
por uma camada mais superficial de areia com valor médio
NSPT de 19 golpes. Abaixo dessa camada ocorre uma segunda
camada de areia fina, que apresenta grande dispersão
dos valores de compacidade (4 < NSPT < 50). Sotoposta
a esse pacote arenoso ocorre uma camada de argila orgânica
mole, cujo valor representativo de NSPT é de 4 golpes.
A espessura desse pacote sedimentar está por volta
de 15m.
Na
região de Itaorninha o perfil estratigráfico
é semelhante ao de Saco Fundo. Diferencia-se a camada
de aterro superficial, com espessura média de 4,5 metros,
cujo material é proveniente da escavação
de Angra I. Abaixo desta camada de aterro encontra-se um pacote
de 10 a 12metros de espessura de areia siltosa micácea,
que na sua parte superior varia de fina a média e possui
poucos fragmentos de conchas. Na parte inferior é composto
por uma areia fina e com muitos fragmentos de conchas, e uma
camada de argila arenosa orgânica intercalada com lentes
de areias argilosas.
6.2.4.
Recursos Minerais
- topo
O
levantamento realizado pelo IGEO/UFRJ não identificou
depósitos minerais significativos na região
considerada. Os recursos minerais potenciais ou em exploração
caracterizam-se em quase sua totalidade por materiais utilizados
na construção civil, tais como granitos, brita,
areia, cascalho, argilas e saibro. Além destes, a exploração
de água mineral tem se mostrado uma atividade crescente
em toda a região.
A
coleta de dados indicou que na Área de Influência
Direta (AID), das 72 autorizações e concessões
minerais existentes, 67% referem-se a material de construção,
30% a água mineral e 3% relacionados a minerais metálicos,
cobre e titânio. O detalhamento destas explorações
minerais autorizadas ou concedidas podem ser vistos na Tabela
11.
Muitos
destes pontos de exploração, visivelmente representados
por pedreiras localizam-se nas vizinhanças de Zungú,
nas adjacências da rodovia estadual RJ-155, que liga
Angra dos Reis a BR-116 em Barra Mansa. Nesta região
são exploradas rochas gnáissicas do Complexo
Rio Negro.
A
exploração de matacões de granito, que
ocorrem em toda AID e AII, aparece mais intensamente em Conceição
de Jacareí/Monsuaba e nos arredores de Angra dos Reis,
para a confecção de paralelepípedos e
pedras de cantaria de um modo geral. É uma atividade
em franca expansão, principalmente no litoral onde
se encontra a maioria das ocorrências graníticas
bem como a difusão cada vez maior dos aglomerados populacionais
Na
AID, nos municípios de Parati e Angra dos Reis, nas
localidades de Vila Velha, Quinta dos Reis e Sítio
da Cambuca, são conhecidas várias ocorrências
de água mineral, procedentes de fontes naturais ou
captadas e que possuem características físico-químicas
distintas das águas comuns.
Outros
recursos minerais explorados na região:
•
Areias monazíticas, ilmeníticas e zirconíticas:
são encontradas nos depósitos sedimentares
marinhos e/ou flúvio-marinhos na orla marítima,
entre Angra dos Reis e Parati. São ocorrências
minerais destituídas de valor econômico.
•
Scheelita e de wolframita: são citadas em aluviões
de alguns rios da região de Angra dos Reis, em particular
no Rio do Saco.
•
Depósitos sulfetados: são conhecidos na Área
de Influência Indireta na região de Rio Claro.
Os
processos referentes aos requerimentos protocolados junto
ao DNPM podem ser vistos de forma discriminada na Tabela 11
e no Anexo 9.
A
localização do empreendimento não sofre
interferência das áreas de interesse mineral.
Já a implantação da usina de Angra 3
poderá incrementar as atividades de extração
mineral no que tange a materiais de interesse para a construção
civil.
Tabela
11 - Áreas de concessão para exploração
mineral
ANO |
PROCESSO |
TITULAR / REQUERENTE |
SUBSTÂNCIA
MINERAL |
LOCAL |
MUNICÍPIO |
AREA
(ha) |
SITUAÇÃO
LEGAL |
1974 |
812660 |
GRAMA GRANITOS E MARMORES
LTDA |
Gnaisse Granito |
Pedreiras |
Angra Dos
Reis |
49,20 |
CONCESSAO DE
LAVRA |
1975 |
811121 |
MARCIO CESAR LEAL COQUEIRO |
Areia |
Rio Mambucaba |
Parati |
984,75 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1975 |
811122 |
EXTRACAO DE AREIA SANTA
MONICA LTDA |
Areia |
Rio Mambucaba |
Angra Dos
Reis |
287,18 |
CONCESSAO DE
LAVRA |
1983 |
820350 |
SEVERINO BARBOSA DA SILVA |
Calcário |
Fazenda Central do Brasil |
Angra Dos
Reis |
1.000,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1983 |
820351 |
SEVERINO BARBOSA DA SILVA |
Calcário |
Bugre |
Angra Dos
Reis |
1.000,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1988 |
890213 |
CONRADO HENRIQUE DE NIEMEYER |
Granito |
Fazenda Jurumirim |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1989 |
890664 |
FONTEX IMPORTADORA E
EXPORTADORA LTDA |
Tonalito |
Fazenda Pedra Branca |
Angra Dos
Reis |
1.000,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1991 |
890258 |
QUINZINHO DE ANGRA MAT.
CONSTRUcAO LTDA |
Minério de Cobre |
|
Angra Dos
Reis |
3,08 |
LICENCIAMENTO |
1991 |
890431 |
APPARICIO ALVES DO AMARAL
FILHO |
Argila Refrataria |
Japuiba |
Angra Dos
Reis |
32,76 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1991 |
890438 |
EIKE FUHRKEN BATISTA |
Água Mineral |
Vila Velha |
Angra Dos
Reis |
37,50 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1991 |
890460 |
MATERIAL DE CONSTRUCAO E
AREAL ZE DO BRE |
Areia |
Sítio São Vicente |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
REQ. DE PESQUISA |
1992 |
890172 |
CARLOS DE SOUZA GOMES BORGES |
Água Mineral |
Quinta dos Reis |
Angra Dos
Reis |
38,68 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1992 |
890250 |
MARCOS KAISER BRASIL |
Migmatito |
Faz. Jurumirim |
Angra Dos
Reis |
995,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1992 |
890274 |
RONALDO RABELLO RUSSI |
Água Mineral |
Sítio do Cambuca |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1992 |
890297 |
MARCOS KAISER BRASIL |
Quartzito P/
Revesti |
Bracui |
Angra Dos
Reis |
47,50 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1992 |
890298 |
MARCOS KAISER BRASIL |
Quartzito P/
Revesti |
Florestão |
Angra Dos
Reis |
244,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1993 |
890265 |
BENEDITO TAVARES CARNEIRO |
Areia Industrial |
|
Angra Dos
Reis |
512,21 |
|
1994 |
890587 |
MINERACAO SERRA DAS ÁGUA
LINDAS LTDA |
Água Mineral |
Águas Lindas |
Angra Dos
Reis |
26,52 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1994 |
890588 |
MINERACAO SERRA DAS ÁGUA
LINDAS LTDA |
Água Mineral |
Águas Lindas |
Angra Dos
Reis |
16,10 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1994 |
890805 |
EXTRACAO DE AREIA SANTA
MONICA LTDA |
Minério de Titanio |
Rio Mambucaba Angra Dos
Reis |
Angra Dos
Reis |
205,62 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1994 |
891419 |
RIOSAN BAZAR LTDA |
Areia |
|
Angra Dos
Reis |
25,88 |
LICENCIAMENTO |
1996 |
890232 |
MARMOREXPOT MINERACAO E
EXPORTACAO DE MA |
Água Mineral |
Rio Saco |
Angra Dos
Reis |
48,75 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1996 |
890448 |
RIOSAN BAZAR LTDA |
Areia |
|
Angra Dos
Reis |
25,88 |
LICENCIAMENTO |
1997 |
890203 |
MARIO DAS GRACAS TOLEDO
JUNIOR |
Gnaisse |
Pedreira do Pereque |
Angra Dos
Reis |
43,75 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1999 |
890100 |
AREAL ITAPICU LTDA |
Areia Quartzosa |
Rio Mambucaba |
Angra Dos
Reis |
45,50 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1999 |
890261 |
MINERACAO SERRA DAS ÁGUA
LINDAS LTDA |
Água Mineral |
Águas Lindas |
Angra Dos
Reis |
36,57 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1999 |
890262 |
MINERACAO SERRA DAS ÁGUA
LINDAS LTDA |
Água Mineral |
Águas Lindas |
Angra Dos
Reis |
49,63 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1999 |
890263 |
MINERACAO SERRA DAS ÁGUA
LINDAS LTDA |
Água Mineral |
Águas Lindas |
Angra Dos
Reis |
44,77 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1999 |
890372 |
PAULO ROBERTO DE CASTRO LOPES |
Água Mineral |
Fazenda Jacuecanga |
Angra Dos
Reis |
12,13 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
1999 |
890373 |
PAULO ROBERTO DE CASTRO LOPES |
Água Mineral |
Encosta Leste Morro Boa
Vista |
Angra Dos
Reis |
11,68 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890136 |
JOSUEL ANDRADE ANTUNES |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
|
2001 |
890147 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890148 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890149 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890150 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890151 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890152 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
|
2001 |
890198 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890199 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890200 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
|
Angra Dos
Reis |
50,00 |
|
2001 |
890201 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
|
Angra Dos
Reis |
50,00 |
|
2001 |
890202 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890203 |
JOAO BRASIL CARVALHO LEITE |
Água Mineral |
Fazenda Santa Maria |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890296 |
E A AFIF AREAL |
Areia |
Sitio dos salgueiros |
Angra Dos
Reis |
13,00 |
LICENCIAMENTO |
2001 |
890334 |
AREAL ITAPICU LTDA |
Areia |
Leito do Rio Mambucaba |
Angra Dos
Reis |
36,55 |
ALVARÁ DE
PESQUISA |
2001 |
890525 |
J.C.PEREIRA VALLE |
Areia |
Rio Juamirim |
Angra Dos
Reis |
50,00 |
LICENCIAMENTO |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
6.3. GEOMORFOLOGIA
- topo
Para
o trecho do Planalto SE do Brasil, na qual se insere o município
de Angra dos Reis e áreas circunvizinhas, foi reconhecido
o domínio morfoestrutural denominado Faixas de dobramentos
remobilizados. As formas de relevo assentadas sobre a Faixa
de dobramentos remobilizados são resultado de um forte
controle estrutural, evidenciado por extensas linhas de falha,
blocos deslocados, escarpas e relevos alinhados coincidindo
com os dobramentos originais e/ou falhamentos mais recentes.
A resistência das rochas reflete nas formas de dissecação,
ressaltando filões resistentes, pontões, cristas
e sulcos nas zonas diaclasadas e fraturadas. Destaca-se como
expressão topográfica, que inclui a região
de Angra dos Reis, a Região das Escarpas e Reversos
da Serra do Mar.
Na
região das Escarpas e Reversos da Serra do Mar o município
de Angra localiza-se na unidade de relevo denominada Planalto
da Bocaina, representado por um bloco montanhoso, com altitudes
em torno de 1.800m a NW e em torno de 1.000m na vertente litorânea
(Anexo 10 e Anexo 11). A morfologia reflete a estrutura e
a litologia, produzindo um relevo esculpido por dissecação
diferencial. Ainda como domínio morfológico
têm-se os Depósitos Sedimentares, que apesar
de descontínuo apresenta uma significativa expressão
em área, bordeando as escarpas. Tais domínios
incluem aluviões integrados por areias, cascalhos,
argilas inconsolidadas e sedimentos marinhos, constituídos
por restingas, cordões litorâneos, planícies
e terraços marinhos, flúvio-marinhos e fluviais,
atestando as ações de processos morfogenéticos
recentes e variações do nível do mar.
Procurando
detalhar o relevo do Estado do Rio de Janeiro, DANTAS (2001)
apresenta um mapa geomorfológico na escala 1:250.000,
reconhecendo unidades morfoestruturais e unidades morfoesculturais.
Estas, por sua vez, compreendem um conjunto de sistemas de
relevo (unidades geomorfológicas). Assim, foram reconhecidas
a partir da análise integrada a dados geológicos
duas unidades morfoestruturais: o Cinturão Orogênico
do Atlântico e as Bacias Sedimentares Cenozóicas.
A
unidade Cinturão Orogênico do Atlântico
corresponde, litologicamente, a rochas metamórficas
e ígneas de idade pré-cambriana a eopaleozóica
e que estão incluídas na faixa de dobramentos
Ribeira, submetidas a diferentes ciclos orogênicos,
culminando, no final do Proterozóico, com o evento
Brasiliano (HEILBRON et al., 1995). A história
tectônica recente conhecida para a região refere-se
à reativação tectônica meso-cenozóica
extensional associado à abertura do Oceano Atlântico,
gerando uma série de falhamentos normais, com soerguimento
de blocos (Serras do Mar e da Mantiqueira e Maciços
Litorâneos), além de depressões interplanálticas.
Foi ainda subdividida, segundo características específicas
de litologia e/ou estruturas geológicas, nas seguintes
unidades morfoesculturais: Superfícies Aplainadas nas
Baixadas litorâneas, Escarpas Serranas, Planaltos Residuais,
Depressões Interplanálticas e Alinhamentos Serranos
Escalonados. Estas unidades foram individualizadas e subdivididas
em unidades geomorfológicas, devido à presença
de variações morfológicas internas próprias
de cada unidade (Tabela 12).
Tabela
12 - Hierarquização das Unidades Morfoestruturais,
Morfoesculturais e Geomorfológicas do Estado do Rio
de Janeiro (Modificado de Dantas, 2001). Em vermelho destacam-se
as Unidades de Relevo em que está inserido o município
de Angra dos Reis e áreas circunvizinhas.
UNIDADES
MORFOESTRUTURAIS |
1.
Cinturão Orogênico do Atlântico |
2.
Bacias Sedimentares Cenozóicas |
UNIDADES
MORFOESCULTURAIS |
1.1.
Maciços Costeiros e Interiores
1.2. Maciços Alcalinos Intrusivos
1.3.
Superfícies Aplainadas nas Baixadas Litorâneas
1.4. Escarpas Serranas
1.5.
Planaltos Residuais
1.6.
Depressões Interplanálticas
1.7. Depressões Interplanálticas com Alinhamentos
Serranos Escalonados |
2.1.
Tabuleiros de Bacias Sedimentares
2.2. Planícies Flúvio-Marinhas (Baixadas)
2.3. Planícies Costeiras |
UNIDADES
GEOMORFOLÓGICAS |
1.1.1.
Maciço da Juatinga
1.1.2. Ilha Grande
1.1.3.
Ilhas da Marambaia, Jaguanum e Itacuruçá
1.1.4.
Maciço da Pedra Branca
1.1.5. Maciço da Tijuca
1.1.6. Maciços da Região dos Lagos
1.1.7. Maciços de Macaé
1.1.8.
Maciço de Itaoca
1.1.9. Maciços de Morro do Coco
1.1.10. Maciço de Bom Jesus de Itabapoana
1.1.11.
Maciço de Suruí
1.1.12.
Maciços de Conceição de Macabu |
2.1.1.
Bacia de Resende
2.1.2. Bacia de Volta Redonda
2.1.3.
Bacia de Macacu
2.1.4. Tabuleiros de Quissamã
2.1.5. Tabuleiros de São Francisco de Itabapoana |
1.2.1.
Maciço do Itatiaia
1.2.2. Morro Redondo
1.2.3.
Maciço do Tinguá
1.2.4.
Maciço do Mendanha
1.2.5. Maciço de Itaúna
1.2.6. Maciços de Tanguá-Rio Bonito
1.2.7. Morro de São João
1.2.8. Ilha de Cabo Frio |
2.2.1.
Baixadas da Baía da Ilha Grande
2.2.2.
Baixadas das Baías de Guanabara e Sepetiba
2.2.3. Baixada de Jacarepaguá
2.2.4. Baixada do rio São João
2.2.5.
Baixada do rio Macaé
2.2.6. Baixada do rio Macabu
2.2.7. Baixada do rio Imbé
2.2.8. Baixada Campista
2.2.9. Baixada do rio Itabapoana |
1.3.1.
Superfície Aplainada da Região dos Lagos
1.3.2.
Sup. Aplainada do Litoral Leste Fluminense |
2.3.1.
Feixes de Cordões Arenosos de Jurubatiba
2.3.2.
Feixes de Cord. Arenosos Rio Paraíba do Sul |
1.4.1.
Escarpas da Serra da Mantiqueira
1.4.2.
Escarpas das Serras da Bocaina, Mangaratiba e
Mazomba
1.4.3.
Escarpas da Serras das Araras e Paracambi
1.4.4.
Escarpas das Serras do Couto e dos Orgãos
1.4.5. Espigão das Serras de Santana e Botija
1.4.6. Escarpas das Serras de Macaé, Macabu e Imbé
1.4.7. Escarpa Reversa da Serra do Desengano
1.4.8.
Escarpas do Planalto de Varre-Sai
1.4.9. Escarpa Reversa do Planalto da Região Serrana |
|
1.5.1.
Planalto da Bocaina
1.5.2.
Planalto Reverso da Região Serrana
1.5.3. Planalto de Varre-Sai |
|
1.6.1.
Depres.Interplanáltica do Médio Paraíba
do Sul
1.6.2.
Depressão Interplanáltica do Vale do rio
Negro
1.6.3. Depressão Interplanáltica do Vale
do rio Pomba |
|
1.7.1.
Depressão Interplanáltica com Alinhamentos
Serranos do Médio Vale do rio Paraíba do
Sul
1.7.2. Depressão Interplanáltica com Alinhamentos
Serranos do Norte-Noroeste Fluminense |
|
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
As
Bacias Sedimentares Cenozóicas correspondem a rochas
sedimentares pouco litificadas, de idade eo-cenozóica
e sedimentos inconsolidados, neocenozóicos e foram
subdivididas nas seguintes unidades morfoesculturais e unidades
geomorfológicas: tabuleiros de bacias sedimentares,
planícies flúvio-marinhas (Baixadas) e planícies
costeiras (Anexo 12).
6.3.1.
Caracterização da Área de Influência
Indireta (AID-50 km)
- topo
A
diferenciação do relevo no Estado do Rio de
Janeiro realizada com base na utilização da
metodologia de desnivelamento altimétrico, que teve
por objetivo norteador articular aspectos geomorfológicos
e geológicos, permitiu a apresentação
de uma nova proposta de mapeamento geomorfológico para
a região em estudo. Inicialmente, os diversos compartimentos
morfoestruturais reconhecidos (Degraus Escarpados, Degraus
e/ou Serras Reafeiçoados, Morros, Colinas, Planícies
fluvias e Flúvio-Marinhas) foram analisados pelos dados
de orientação e contiguidade espacial, levando
à identificação dos grandes conjuntos
de formas de relevo que estão associados às
principais estruturas geológicas regionais denominadas
de Domínios Morfoestruturais.
Sendo
assim, foram definidos dois grandes domínios morfoestruturais:
o Domínio Morfoestrutural do Planalto Atlântico
e o Domínio Morfoestrutural Depressões Tectônicas
Cenozóicas (SILVA, 2002).
PONÇANO et al. (1981) caracteriza o Domínio Morfoestrutural
Planalto Atlântico como sendo o trecho do relevo do
sudeste brasileiro que engloba um extenso planalto maturamente
dissecado e desnivelado. Passa-se de uma costa recortada a
uma região serrana, esta que se apresenta na forma
de escarpas abruptas e quase lineares, condicionada por linhas
de falha ou, ainda, se desfaz em formas de morros, também
alinhados segundo recortes derivados da imposição
estrutural (Anexo 14).
O
Domínio Morfoestrutural Planalto Atlântico encontra-se
cortado pela alongada depressão do Graben do rio Paraíba
do Sul de orientação NE-SW - limitada por falhamentos
que correspondem às escarpas tectônicas da Serra
da Mantiqueira a NNW e da Serra do Mar a SSE, preenchida,
ainda, pelos sedimentos das bacias cenozóicas de São
Paulo, Taubaté, Resende, Volta Redonda - e pelo Graben
da Guanabara de orientação E-W.
Nas
seqüências de terrenos sedimentares embutidos no
cristalino, o relevo é caracteristicamente de colinas
suaves, algumas tabuliformes, e de amplas várzeas margeando
os rios.
Para
os domínios de Planaltos e Depressões Tectônicas
foram, ainda, identificadas diferentes feições
de relevo que, devidamente, agrupadas levaram a novos recortes
no terreno e que podem possuir, por sua vez, significado morfoestrutural,
sendo denominados de Regiões Morfoestruturais, ou apenas
compreender formas de relevo de gêneses distintas. Neste
contexto a Tabela 13 apresenta as unidades de relevo reconhecidas.
Tabela
13 - Domínios e Unidades Morfoestruturais do Estado
do Rio de Janeiro. Unidade de terraços e planícies
fluviais
Domínios
Morfoestruturais |
Regiões
Morfoestruturais / Unidades de Relevo |
Domínio
Morfoestrutural do
Planalto Atlântico |
Região
do Planalto e Escarpas da Serra da Mantiqueira
Unidade de terraços e planícies fluviais |
Região
do Planalto e Escarpas da Serra da Bocaina
Unidade de terraços e planícies fluviais |
Região
do Planalto e Escarpas da Serra dos Órgãos
Unidade de terraços e planícies fluviais |
Região
do Planalto e Escarpas do Norte Fluminese
Unidade de terraços e planícies fluviais |
Domínio
Morfoestrutural das
Depressões Tectônicas
Mesozóica-Cenozóicas |
Região
da Depressão Interplanáltica Médio
Paraíba do Sul
Unidade Alinhamentos de Cristas do Paraíba do Sul
Unidade de terraços e planícies fluviais |
Domínio
Morfoestrutural das
Depressões Tectônicas
Mesozóica-Cenozóicas |
Região
do Rift da Guanabara
Unidade Maciços Costeiros
Unidade Depressão da Guanabara e região
dos Lagos
Unidade de terraços e planícies fluviais
e/ou flúviomarinhas |
Região
da Depressão Interplanáltica Pomba-Muriaé
Unidade de terraços e planícies fluviais |
Região
de Colinas e Morros do Leste Fluminense
Unidade de terraços e planícies fluviais
e/ou flúviomarinhas |
Região
dos Tabuleiros Costeiros |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.
Para
o Domínio Morfoestrutural do Planalto Atlântico
procurou-se identificar e delimitar Regiões em que
se caracterizam por conter as seguintes feições
morfológicas:
•
Planaltos - correspondentes a extensas massas de relevo que
foram submetidas a intensos processos de erosão, que
são cortadas por inúmeros vales fluviais e possuem
altitudes elevadas, com topos nivelados a uma altitude semelhante
e, de maneira geral, apresentando-se pouco ondulado;
•
Escarpas - referentes a rampas ou aclives de terrenos que
estão localizados nas bordas de Planalto.
Para
o Domínio das Depressões Tectônicas Cenozóicas
foram delimitadas Regiões Morfoestruturais em que se
encontram os seguintes recortes espaciais:
•
Depressões propriamente ditas constituem uma superfície
com suave inclinação, formada por prolongados
processos de erosão, menos irregular do que os planaltos
e que se encontram em áreas encaixadas/embutidas entre
os maciços antigos e as unidades sedimentares. Para
as depressões reconhecidas no Estado do Rio de Janeiro
foi utilizada a denominação de Depressões
Interplanálticas, que se constituem por uma morfologia
esculpida em terrenos cristalinos que estão localizadas
no interior de planaltos, sendo identificadas a região
da Depressão Interplanáltica Médio Paraíba
do Sul;
•
Graben da Guanabara engloba a área de relevo deprimido
que se estende desde a Baía de Sepetiba, a oeste, até
a localidade de Barra de São João, a leste,
fazendo parte do sistema de Rifts da Serra do Mar. RICCOMINI
& FRANCISCO (1992) estende o modelo de evolução
tectônica das bacias continentais do sudeste brasileiro
(Taubaté, São Paulo, Resende e Volta Redonda)
para o Graben da Guanabara, englobando-o no Rift Continental
do Sudeste do Brasil. Esta área é bordejada
a norte pela Serra do Mar, que chega a alcançar 2200m
de altitude e pelos maciços litorâneos, ao sul,
com altitudes médias de 1000m.
As
feições morfológicas de colinas e morros
que caracterizam as Regiões supracitadas estão,
também presentes nas Regiões de Planaltos e
podem ser assim definidas:
•
Colinas que correspondem a pequenas e médias elevações
do terreno com declives suaves, que diferem das serras e das
montanhas por estarem isoladas uma das outras e com baixas
altitudes. Constituem-se, ainda, em uma forma de relevo derivado
de processos erosivos, no entanto, existem as colinas de acumulação
que são elaboradas a partir do depósito de materiais
de origem das encostas, de processos glaciais e/ou eólicos.
•
Morros referem-se a elevações do terreno, com
fortes declives para todos os lados, sobressaindo-se dos terrenos
que lhe são adjacentes.
E,
ainda, como feições de ocorrência por
toda a orla litorânea e/ou ao longo dos principais cursos
fluviais do Estado são reconhecidas as Unidades de
Relevo de Terraços e planícies fluviais e/ou
flúvio-marinhas que se referem a feições
de significativas extensões do terreno, relativamente
planos, onde os processos de agradação superam
os de degradação.
6.3.1.1.
Unidades Morfoestruturais do Planalto Atlântico
- topo
6.3.1.1.1.
Planalto e Escarpas da Serra da Bocaina
- topo
Localizada
a oeste do Estado do Rio de Janeiro, nas cartas morfoestruturais
de Volta Redonda e Ilha Grande, limita-se e adentra para o
Estado de São Paulo, estendendo em estreitas áreas
até o segmento mais a montante do imponente escarpamento
da Serra do Mar, localmente conhecida como Serra da Bocaina.
Caracteriza-se pela morfologia de colinas, de topografia suave
e topos subnivelados até terrenos montanhosos, limitando-se
a sul com as planícies flúvio-marinhas da Baía
de Ilha Grande e, a norte, com a Depressão Interplanáltica
Médio Paraíba do Sul.
Esta
Região Morfoestrutural corresponde, portanto, a um
setor elevado da Serra do Mar, com altitudes entre 400m a
2100m, apresentando uma orientação geral E-W
e segmentos orientados na direção NE-SW. Limita-se
em suas vertentes continental e oceânica por degraus
escarpados (Pedra da Jamanta, Escarpa da Serra da Bocaina
e Serra da Bocaina) e ainda se estende para a Carta Morfoestrutural
de Ilha Grande com a ocorrência dos Degraus Escarpados
de Ilha Grande, Ponta do Aventureiro e Ilha de Marambaia,
configurando um planalto muito dissecado. A Ilha Grande encontra-se,
por sua vez, bordejada por uma série de Degraus reafeiçoados.
Documenta-se
a significativa expressão espacial de compartimentos
de degraus reafeiçoados e morros, destacando-se o conjunto
de compartimentos Sertão da Bocaina, Córrego
da Reserva, Campos de Cunha e Quebra-Cangalha I e II, como
as feições morfoestruturais mais importantes.
Esta Região apresenta uma direção geral
E-W, compreendendo um conjunto de pequenos degraus escarpados,
degraus/serras reafeiçoados e compartimento de morros,
em altitudes que variam de 300m a 2100m, rebaixando-se em
direção a calha do rio Paraíba do Sul.
A
vertente continental do Planalto da Bocaina é caracterizada
por um conjunto de degraus escarpados, orientado na direção
E-W, que apresenta como aspecto mais significativo o fato
de constituir um arranjo de serras com orientação
NE-SW, seccionadas por linhas de orientação
E-W.
No
sopé desta vertente, encontram-se degraus/serras reafeiçoados
com altitudes entre 500m e 1000m (Córrego Pouso Seco;
Rio Alto Bananal; Ribeirão do Máximo), que reproduzem,
de maneira geral, o mesmo comportamento de estruturação
descrito para os degraus escarpados da vertente continental.
A
Região do Planalto e Escarpas da Serra da Bocaina apresenta,
ainda, como feição morfoestrutural importante,
alinhamentos de compartimentos de colinas segundo a direção
NE-SW. Estes compartimentos, com altitudes médias de
1000m a 1200m e 1300m a 1500m, apresentam geometria alongada
na direção NE-SW, sendo, normalmente, limitados
por feições lineares bem marcadas com orientação
NW-SE. Podem ser destacados a este respeito os compartimentos
Encruzilhada, Fazenda Conceição, Seda Moderna,
Bairro Taquaral, Rio do Funil e Bairro do Charquinho.
6.3.2.
Caracterização da Área de Influência
Direta (AID-15 km e AID-5 km)
- topo
A
região litorânea que engloba a CNAAA é
caracterizada pelo forte contraste dos compartimentos de Degraus
Escarpados e Degraus Reafeiçoados, que demarcam a borda
escarpada da Região do Planalto e Escarpas da Serra
da Bocaina em contato direto com as feições
morfológicas quaternárias de planícies
flúvio-marinhas, que caracterizam as enseadas da Baía
de Angra dos Reis (Anexo 13).
Esta
significativa variação de declividade, somada
aos elevados índices pluviométricos típicos
deste setor do Sudeste brasileiro, além de uma rasa
cobertura de manto intemperizado sobre corpos rochosos em
pequena profundidade propiciam uma descontinuidade hidrodinâmica
acentuada entre estes materiais e constituem elementos-chave
para um elevado escoamento superficial e subsuperficial das
encostas produzindo nos segmentos de fundo de vale eventos
de cheias e enchentes. Atualmente, sobre estas feições
de fundos de vale planos encontram-se, na maioria das vezes,
um processo de ocupação desordenada, sem acompanhamento
de uma política adequada de saneamento básico,
principalmente, no que tange a rede de escoamento pluviométrica
e rede de esgoto sanitário, o que agrava ainda mais
o quadro de instabilidade ambiental.
Nas
encostas declivosas dos Degraus Escarpados e/ou Degraus Reafeiçoados
há o predomínio de movimentos gravitacionais
de massa, que caracterizam o mecanismo evolutivo destes segmentos
morfológicos nas bacias de drenagem. Ressalta-se ainda
que as estradas pavimentadas e não-pavimentadas da
região cortam em diversos trechos estes segmentos morfológicos,
oferecendo mais um elemento de criticidade nos períodos
dos elevados índices pluviométricos.
O
trecho interiorano e mais elevado do Planalto da Bocaina é
marcado por feições de Colinas, Morros e Degraus
Reafeiçoados que se estendem até a escarpa interiorana
deste Planalto. Compartimentos que demonstram setores do relevo
com retenção da sedimentação quaternária
podem ser encontrados no topo do Planalto.
Estruturalmente,
a Região do Planalto e Escarpas da Serra da Bocaina
é bem marcada pela orientação geral E-W
das feições de Degraus Escarpados e inflexões
NE-SW e N-S, que podem ser observadas pela dissecação
atual da paisagem dada, principalmente, pela orientação
das Planícies Flúvio-marinhas que adendram pelos
segmentos de Degraus Escarpados.
6.3.2.1.
Feições Morfotectônicas Reconhecidas
- topo
Relevos
tectônicos são reconhecidos na literatura internacional
como elementos chaves para estudos morfotectônicos e
neotectônicos tanto em domínios de bordas de
placas ativas como intraplaca (WALLACE 1986; OLLIER 1981;
SUMMERFIELD 1987).
Estudos
morfotectônicos desenvolvidos ao longo da faixa do Rifte
Continental do Sudeste do Brasil, nas regiões das Serras
da Bocaina (GONTIJO 1999) e da Mantiqueira (SANTOS 1999; HIRUMA et al. 2001) têm destacado a relação das
estruturas tectônicas reativadas na evolução
do relevo. As morfologias mais marcantes na área que
sugerem falhas normais, são as escarpas voltadas para
o litoral, ao longo das quais desenvolveram-se degraus e frontes
lineares e escalonados, sendo as linhas de cristas orientadas
preferencialmente para NNE, NE, E-W, NNW, NW e WNW. Associadas
aos processos de dissecação das escarpas, de
direções preferenciais NE e NW, desenvolvem-se
feições tipo spur ridges com terminações
abruptas no fronte da escarpa na forma de facetas triangulares,
que delimitam vales suspensos tipo gullies. A presença
de lineamentos que sugerem falhas com componentes direcionais
imprimem no relevo feições de vales lineares,
ao longo do traço do lineamento, feições
do tipo shutter ridges, formadas onde a falha desloca feições
topográficas, movendo lateralmente uma seqüência
de cristas; offset ou deslocamentos de canais. Na base das
escarpas ocorrem quedas de blocos, tipo tálus, e outros
depósitos de fluxos gravitacionais e colúvios,
que geralmente interdigitam com os depósitos fluviais
e/ou flúvio-marinhos.
Lineamentos
de drenagem
Os
lineamentos de drenagem mapeados na área (Anexo 5 e
Anexo 6) tanto para a porção continental quando
para a linha costa mostraram coincidentes com as orientações
das estruturas rupteis observadas em medidas em campo, com
direções que variam entre os quadrantes NE,
N-S, E-W e NW.
As
orientações preferenciais mapeadas para as drenagens
da porção continental, destacam-se no quadrante
NE-SW, cujas freqüências variam entre E-W e NNE,
coincidentes com as estruturas do embasamento pré-Cambriano,
entre N-S e WNW. Em relação ao comprimento acumulado,
os de orientação NE, destacam-se pelos comprimentos
maiores, seguidos dos E-W, WNW e NNW.
Os
lineamentos costeiros caracterizam-se por serem bem definidos,
com freqüência acumulada preferencialmente nas
direções NE-SW, E-W, N-S e NW-SE. Esta marcante
concentração de orientações confere
um forte influencia da estrutura subjacente na dinâmica
dos processos erosivos costeiros. Os comprimentos acumulados
dos lineamentos demonstram maiores segmentos nas direções
NE, E-W, N-S e NW-SE, respectivamente.
Para
melhor ressaltar as orientações das drenagens
foram separados mapas correspondentes a cada direção,
NE-SW, E-W, N-S e NW-SE, descritas a seguir.
Lineamentos
NE-SW
Os
lineamentos de drenagem de direção NE-SW apresentam
variações de direções concentradas
entre os quadrantes NNE e ENE e são representados pelos
segmentos mais longos da área. São coincidentes
com as estruturas pré-Cambrianas subjacentes, dadas
sobretudo pelas zonas de cisalhamento dúcteis, reativadas
pela tectônica do Mesozóico-Cenozóico.
Embora a distribuição dos lineamentos seja relativamente
uniforme, podem ser identificados quatro feixes mais definidos,
sendo um no quadrante noroeste da área, um na área
central, coincidente com a Zona de Cisalhamento de Taxaquara
ou Além Paraíba e, outros dois coincidentes
com o front da escarpa da Serra do Mar e das saliências
do recorte do litoral e da Ilha Grande.
Conferem
ainda feixes de lineamentos com segmentos mais estreitos e
segmentos mais abertos, repetindo o mesmo padrão em
bends impressas nas estruturas pré-Cambrianas.
Lineamentos
E-W
Os
lineamentos de drenagem que apresentam direção
E-W apresentam uma relativa simetria de distribuição
espacial embora alguns feixes possam ser delimitados. Estes
feixes são definidos orientações preferenciais
grosseiramente orientadas para WNW-ESE. Com relação
à linha da costa, são coincidentes com suas
reentrâncias, além de prolongamentos na Ilha
Grande.
Lineamentos
N-S
Estes
se apresentam com distribuição de menor ocorrência
que os demais, embora definam duas principais zonas de maiores
concentrações. A zona situada aa leste prolonga-se
na Ilha Grande, sendo que este prolongamento e coincidente
com a principal saliência ao
norte desta ilha.
Lineamentos
NW-SE
Caracterizam-se
por apresentarem a maior concentração de todos
as demais orientações e por possuírem
segmentos mais curtos. Esta grande concentração
demonstra a direção preferencial de dissecação
atual do relevo, que pode ser observado com maior destaque
no setor oeste da área, coincidente com a dissecação
das serras de orientação NESW, sobretudo aquelas
desenvolvidas ao longo da Zona de Cisalhamento Taxaquara ou
Lineamento Além Paraíba.
Feições
morfotectonicas
O
mapa de feições morfotectonicas destaca formas
de relevos tectônicos impressos nos escarpamentos voltados
para o oceano, cuja dissecação e processo de
recuo das encostas mostra estreita relação com
as orientações da estrutura subjacente, preferencialmente
NE-SW e NW-SE. Secundariamente, sobretudo na porção
sudoeste da figura, destaca-se a dissecação
das escarpas segundo a direção E-W.
O
processo de dissecação dos escarpamentos esculpe
feições de pequenos vales paralelos entre si,
cujos divisores são definidos como spurs ridges. A
terminação destas feições e marcada
pela presença de facetas triangulares, típicas
de dissecação de escarpas de falhas com movimentação
preferencial normal.
Ao
longo destas feições, destacam-se setores que
apresentam deslocamentos dos spurs ridges e das facetas, sugerindo
deslocamentos de falhas direcionais, ora dextral e ora sinistral,
sobretudo de direções NE-SW e E-W.
As
linhas de cristas, que definem os lineamentos do relevo, apresentam
orientações preferenciais NE-SW, principal estruturação
do relevo e, secundariamente, NW-SE.
6.3.3.
Caracterização da Morfologia Costeira da Baía
de Angra dos Reis
- topo
Toda
costa sul do Estado do Rio de Janeiro evidencia uma relação
estrutural e sedimentar com a evolução tectônica
da Bacia de Santos e da Serra do Mar, juntamente com as variações
relativas do nível do mar ocorridas nos últimos
milhares de anos, próxima à Baía de Sepetiba,
e limítrofe às Baías da Ribeira, de Angra
dos Reis e de Jacuacanga (CECCOPIERI, 2001).
A
Baía da Ilha Grande é caracterizada pela existência
de centenas de ilhas e parcéis, estando inserida em
uma região distinta do resto do litoral brasileiro,
com uma linha de costa única no Brasil, bastante recortada,
bordejada por um extenso domínio montanhoso, que está
associado à vertente sul da Serra do Mar; localmente
chamada de Serra da Bocaina, em contato direto com o mar.
Devido a este domínio escarpado, as encostas se apresentam
de forma íngreme, ricas em paredões rochosos
e bastante recortadas, apresentando reduzidas planícies
costeiras (principalmente praias estreitas inseridas em baías,
enseadas e sacos), marcadas pela presença de pontões
cristalinos que se projetam diretamente sobre o mar.
Consiste
em um corpo semi-confinado de água salgada, devido
a presença da Ilha Grande. Esta é separada do
continente por um marcante estreitamento e uma grande depressão
batimétrica (Canal Central) entre a Ilha Grande e o
continente.
Segundo
DIAS et al. (1990), a baía possui diversas feições
marcantes em seu relevo submarino, entre eles um banco arenoso
com forma circular localizado na barra oeste da baía
e diversos canais naturais e artificiais ao longo de toda
a região. Estes canais artificiais foram dragados para
possibilitar o acesso ao terminal petrolífero da Petrobras
e também para o porto localizado no interior da Baía
de Sepetiba.
As
profundidades na parte externa da Ilha Grande estão
em torno de 40,00 m, aprofundando de forma suave em direção
à quebra da plataforma. A plataforma, na altura da
Ilha Grande, tem largura de cerca de 90,00 km e apresenta
a quebra em uma profundidade de 140,00 m.
A
divisão fisiográfica da Baía da Ilha
Grande foi proposta por MAHIQUES (1987), e foi dividida em:
Porção Oeste, Porção Leste e Canal
Central.
A
porção oeste da Baía da Ilha Grande é
a mais profunda, tendo profundidades de 20,00 a 30,00 m, enquanto
a Porção Leste apresenta de 10,00 a 25,00 m.
O
Canal Central, localizado entre o continente e a Ilha Grande,
apresenta as maiores profundidades do interior da Baía,
superiores a 25,00 m, podendo chegar localmente até
a 55,00 m. Dentro desta divisão fisiográfica
proposta por MAHIQUES (1987), pode-se observar que na região
denominada de Canal Central, pode-se destacar a região
onde se encontra a maior depressão batimétrica.
Esta depressão é alongada na direção
E-W corresponde ao Eixo do Canal Central.
Existem
muito poucos dados oceanográficos na Baía de
Ilha Grande, pois todos os dados existentes são pontuais
e de curta duração. O que dificulta muito uma
caracterização mais detalhada dos processos
oceanográficos na área.
Segundo
SIGNORINI (1980a e 1980b), a Baía da Ilha Grande é
um sistema estuarino parcialmente misturado, onde a baía
se conecta com o oceano através de seus extremos leste
e oeste, e o aporte de água doce é oriundo da
Baía de Sepetiba.
Segundo
TOMMASI et al. (1972a e1972b), MIRANDA et al.
(1977); IKEDA (1977) e IKEDA & STEVENSON (1980) a variação
de salinidade e temperatura da Baía de Sepetiba em
direção a Baía da Ilha Grande mostra
que a entrada de água doce na Baía da Ilha Grande
provém da Baía de Sepetiba.
A
circulação do sistema estuarino formado pelas
duas baías é resultante de efeitos de maré,
ventos e diferenças de densidade. No aspecto geral,
o contato entre a água doce e a oceânica que
se misturam sob o efeito das marés, gera um movimento
no sentido horário, quase estático em torno
da Ilha Grande, com velocidades em torno de 10 cm/s atribuídas
a diferenças de densidade.
Segundo
MAHIQUES (1987) e MELGES DE FIGUEIREDO et al. (1991)
foram encontradas no canal central, correntes de fundo muito
baixo (média de 2,3 cm/s) implicando em um transporte
insignificante de partículas de fundo.
Quanto
à cobertura sedimentar da Baía de Ilha Grande,
os sedimentos da área apresentam-se de forma bastante
heterogênea, mostrando que a sua hidrodinâmica
é bastante complexa. De uma maneira geral pode-se dizer
que na porção leste (mais rasa) se concentra
areias médias a grossas. Na Porção Oeste
(mais profunda), pode ser encontradas areias finas, típicas
de plataforma continental e características da última
transgressão. No canal central se encontram as maiores
concentrações de lama, que correspondem às
áreas mais profundas e, teoricamente, de menor energia
desta região.
A
porção leste é composta basicamente de
sedimentos com predominância de areias médias
a grossas. Texturalmente estas areias são imaturas,
com selecionamento moderado. Estes sedimentos possuem indícios
de exposição subaérea durante a regressão
do Pleistoceno Superior, através da identificação
de limonitização em quartzo, foraminíferos
e moluscos. A ausência de lamas nesta região
pode estar associada à presença de fortes correntes
que impediriam a deposição de sedimentos mais
finos. Esta hipótese é corroborada pelos trabalhos
de TOMMASI et al (1972a e 1972b) que sugerem a presença
de fortes correntes na região devido à ausência
de briozoários, organismos que não são
capazes de fixar-se no substrato em situações
de fortes correntes.
O
canal central é composto basicamente por lamas com
mais de 50% de argila e silte, que se estendem em direção
oeste com um contato gradativo com areias finas. Já
na porção leste o contato de frações
finas com as frações mais grossas se dá
de forma abrupta, próximo à enseada de Abraão.
Os sedimentos do canal central apresentam baixo grau de seleção,
e condições redutoras que indicam baixa movimentação
do fundo.
A
porção oeste é composta por areias muito
finas e imaturas que indicam a baixa condição
de retrabalhamento. Estes sedimentos têm características
similares aos encontrados na plataforma continental interna,
o que indica o transporte de sedimentos em direção
ao interior da Baía da Ilha Grande, sendo denominados
de areias transgressivas.
Os
depósitos Quaternários são pouco desenvolvidos,
e estão associados a regiões próximas
aos rios, de pequena competência, mas que aumentam significativamente
a carga sedimentar em épocas de aumento pluviométrico.
Os sedimentos de idade Quaternária podem ser divididos
em depósitos coluvionares, aluvionares, flúvio-marinhos,
de mangue e cordões arenosos de praia. As poucas planícies
costeiras presentes nesta região estão concentradas
na parte oeste da Baía. Os depósitos de cristas
de praia ocorrem em trechos do litoral mais expostos, onde
a ação frontal das ondas oceânicas consegue
penetrar na baía, após difração
nos pontais rochosos. O desenvolvimento dos manguezais na
região da Baía da Ilha Grande ocorre em áreas
de pequena energia de ondas, na desembocadura dos rios principais,
Tornando-se restritos a fundos de enseadas, sacos e canais
de maré.
Na
região da usina de Angra, a praia Brava é protegida
pelo promontório rochoso que se estende entre o litoral
de Parati até a Ponta da Joatinga, no entanto esta
praia fica mais exposta às ondas de SE que são
comuns em situação de pós-frontal no
litoral do RJ. Itaorna é mais protegida tanto das ondas
de SW (frente fria) quanto de SE (pós-frontal).
6.4. SOLOS
- topo
6.4.1.
Caracterização do solo da Área de Influência
- topo
O
Mapa Pedológico da AII 50 aqui apresentado (Anexo 15)
foi gerado a partir da compilação de levantamentos
pedológicos disponíveis, realizados principalmente
pela Embrapa Solos (antigamente chamada SNLCS - Serviço
Nacional de Levantamento e Conservação dos Solos,
transformada posteriormente no CNPS - Centro Nacional
de Pesquisa de Solos), pela CPRM - Serviço Geológico
do Brasil, pelo DRM/RJ - Departamento de Recursos Minerais
do Estado do Rio de Janeiro e por outros estudos realizados
na área associados a dissertações de
mestrado e a teses de doutorado, sempre com base na análise
de perfis de solo em campo.
Na
maioria dos perfis estudados foram coletadas amostras de solo
para análise de suas propriedades. As análises
associadas às propriedades morfológicas dos
solos (por ex., cor, estrutura, etc.) foram realizadas diretamente
no campo, a partir das observações feitas nos
horizontes e camadas de solo presentes em cada perfil. Para
a análise das propriedades físicas (por. ex.,
textura, porosidade, densidade, etc.) e das propriedades químicas
(por ex., pH, capacidade de troca de cátions - CTC,
etc.) foram coletas amostras de solo, tanto com estrutura
deformada quando indeformada, as quais foram posteriormente
analisadas em laboratório.
Em
alguns perfis, foram também realizadas análises
mineralógicas (por ex., mineralogia da fração
argila através de Raios-X; mineralogia da fração
areia através de lupa binocular; etc.) e análises
de micromorfologia de solos. Para a realização
desses estudos micromorfológicos, foram coletados blocos
de solo (indeformados) os quais foram posteriormente impregnados
por resina em laboratório (fase de endurecimento),
permitindo o corte e a confecção de lâminas
para observação em microscópio petrográfico.
As análises micromorfológicas permitem caracterizar,
de forma detalhada, a estrutura, parte da mineralogia, o tamanho
e a conectividade dos poros, processos de migração
interna de partículas finas (por ex., iluviação),
atuação da atividade biogênica, entre
outros. Os dados relativos à descrição
e às análises das propriedades dos solos dos
Pontos 1 a 7, aqui descritos, têm como fonte a publicação
CNPS (1978), enquanto aqueles relativos ao Ponto 8 têm
como fonte a publicação Peixoto (2002).
O
estudo dessas propriedades macroscópicas e microscópicas
dos solos, em combinação com as análises
das propriedades físicas e químicas dos horizontes
e camadas, permite uma caracterização geral
dos principais processos pedogenéticos que atuaram
na formação desses diferentes solos, refletindo
direta e indiretamente, a atuação de fatores
como o clima, o relevo, o material de origem, os organismos
e o tempo. Todas as análises aqui apresentadas, mesmo
aquelas associadas a teses e dissertações, foram
realizadas nos laboratórios da Embrapa Solos, no Jardim
Botânico (RJ).
Deve-se
ter em mente que, devido à escala deste mapeamento,
a legenda final descreve principalmente "Unidades Taxonômicas
Combinadas" (por ex., associações de duas
ou mais classes de solo) e "Tipos de Terreno" (por
ex., afloramento de rocha). Neste caso, ou seja, quando fazemos
o uso de Unidades Taxonômicas Combinadas, a classe predominante
na área mapeada é que dará nome à
Unidade de Mapeamento descrita na legenda.
Como
já descrito em relatório anterior, as classes
de solo encontradas na área de estudo, encontram-se
diretamente associadas à geologia e à geomorfologia
local, as quais definiram a atuação dos fatores
de formação dos solos e dos processos pedogenéticos
que ali prevaleceram ao longo do tempo. A Figura 138 mostra
uma visão geral de alguns dos compartimentos topográficos
existentes na área mapeada. Nas encostas íngremes
das porções mais elevadas da escarpa da Serra
do Mar, onde a vegetação de floresta ainda encontra-se
preservada, predominam solos das classes de Neossolos Litólicos
e dos Cambissolos. Na base da escarpa, onde o relevo torna-se
mais suave e a vegetação de floresta já
foi removida (parcial ou totalmente), predominam solos das
classes dos Latossolos e dos Argissolos. Nas baixadas litorâneas,
formadas basicamente por sedimentos de origem fluvial e marinha,
onde o relevo é praticamente plano e o lençol
freático encontra-se próximo à superfície,
predominam solos hidromórficos das classes Neossolos
Flúvicos, Neossolos Quartzarênicos e Gleissolos.

Figura 138 - Visão geral
do relevo da área de estudo nas proximidades da cidade
de Angra dos Reis.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.
Já
no reverso da escarpa da Serra do Mar, onde a drenagem flui
em direção ao vale do rio Paraíba do
Sul (Figura 139), predominam encostas mais suaves associadas
a um relevo de colinas com topos convexos, onde a vegetação
de floresta já foi quase que totalmente removida no
passado para a introdução do café, sendo
utilizadas hoje principalmente para pastagem. Nestas colinas
predominam solos das classes dos Latossolos e dos Argissolos.
Ainda
no reverso da escarpa da Serra do Mar, ou seja, no planalto
da Bocaina e no médio vale do rio Paraíba do
Sul, observa-se fundos de vale com relevo praticamente plano,
formados a partir de sedimentos fluviais que foram depositados
em condições pretéritas, dando origem
a extensas planícies, como mostra a Figura 140. Essas
baixadas representam pequenas bacias sedimentares que foram
sendo preenchidas por sedimentos ao longo do tempo geológico,
refletindo muitas vezes condições climáticas
bem diferentes daqueles que ali prevalecem atualmente. A Figura
141, por exemplo, mostra um perfil de solo onde observam-se
sedimentos fluviais finos (de cor amarela) na base do perfil,
cobertos através de um contato abrupto, por sedimentos
fluviais grosseiros (cascalhos e seixos bem arredondados).
Esses materiais formados por sedimentos fluviais dão
origem a solos da classe dos Neossolos Flúvicos e dos
Cambissolos, quando a pedogênese já encontra-se
mais avançada.

Figura 139 - Visão geral do relevo no reverso da
escarpa da Serra do Mar (ao fundo), onde a drenagem flui em
direção ao vale do rio Paraíba do Sul.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ

Figura 140 - Visão geral
das baixadas que ocorrem já próximo ao médio
vale do rio Paraíba do Sul. Estas foram formadas por
sedimentos de origem fluvial e encontram-se hoje separada
por colinas com topos convexos.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 141 - Visão de
detalhe de perfil de solo desenvolvido a partir de sedimentos
de origem fluvial no médio vale do rio Paraíba
do Sul. Os sedimentos fluviais finos da base do perfil (cor
amarela) foram recobertos por sedimentos fluviais grosseiros,
principalmente seixos de quartzo bem arredondados.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.
A
seguir, serão apresentadas as descrições
de alguns dos perfis de solo utilizados para a confecção
dos Mapas Pedológicos da AII 50 e AID 15 (Anexo 15
e Anexo 16), apresentados em anexo. As descrições,
quando possível, apresentam fotografias dos perfis
e os resultados das análises das propriedades físicas,
químicas e mineralógicas obtidas para os principais
horizontes dos solos. Para alguns perfis, são incluídas
também resultados das análise micromorfológicas
realizadas. A localização de cada um desses
pontos encontra-se marcada nos Mapa de Solos.
6.4.2.
Descrição dos Perfis de Solo
- topo
Ponto
1: LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO. ÁLICO, BR-101 km
137.
Classificação
- LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO. ÁLICO A moderado
textura argilosa fase floresta tropical perenifólia
úmida relevo montanhoso.
Localização
- Corte situado no lado esquerdo da rodovia Rio-Santos,
na altura do km 137, cerca de 1 km após a entrada para
a Usina Nuclear (indo em direção à Parati)
- Figura 143.
Vegetação
- Floresta tropical perenifólia úmida.
Relevo
- Montanhoso.
Altitude
- 70 metros.
Material
originário - Desenvolvido a partir de saprolito de
gnaisses, afetado por retrabalhamento por coluviação.
Drenagem
- Bem drenado.
Uso
agrícola - Passagem de capim-gordura com ocorrência
de sape.

Figura 142 - Visão geral
da encosta onde foi levantado o perfil de solo definido como
Ponto 1, cortada pela BR-101, logo após o trevo de
entrada para as instalações de Angra 1 e Angra
2. Observar que o material de origem desse solo é a
rocha gnáissica onde foi feita a excavação
para a instalação das fundações
da usina Angra 3.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.
Ponto
2: LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO ÁLICO, estrada Parati-Cunha,
km 7 (a partir do trevo em Parati, no entroncamento com a
BR-101)
Classificação
- LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO ÁLICO cambico A moderado
textura argilosa fase rochosa floresta tropical perenifólia
úmida relevo montanhoso.
Localização
- A 7 km da rodovia Rio-Santos (Trevo de Parati) em direção
a Cunha. vegetação - Floresta tropical perenifólia
úmida.
Relevo
- Montanhoso.
Altitude
- 150 metros.
Material
originário - Desenvolvido a partir de retrabalhamento
coluvial de produtos residuais e de material menos intemperizado,
derivado de gnaisses e/ou migmatitos, presumivelmente ácidos
e de algum granito.
Drenagem
- Bem drenado.
Uso
agrícola - Cultura de banana.
Coletada
amostra RJ-EXTRA-l correspondente ao horizonte B(80-100cm).

Figura 143 - Resultados das
análises das propriedades físicas e químicas
do horizonte B do perfil de solo do Ponto 2.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.
ANÁLISE
MINERALÓGICA
Perfil
RJ-EXTRA - l
B
- Calhaus - 100% de fragmento de rocha constituída
de quartzo, feldspato alcalino muito intemperizado e biotita
intemperizada.
Cascalhos
- 85% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos, de
superfície irregular, com aderência de biotita
e magnetita; 15% de feldspato, microclina e oligoclasio, grãos
angulosos, superfície irregular, muito intemperizados,
já bem caulinizados; traços de biotita e magnetita.
Areia
Grossa - 88% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
superfície irregular e lisa em alguns, brancos e incolores;
5% de magnetita, alguns cristais idiomorfos, com a superfície
intemperizada; 3% de feldspato alcalino, microclina, grãos
subangulosos, intemperizados, superfície irregular
nacarada; 2% de biotita, placas com superfície corrugada,
um tanto intemperizadas, castanho-escuras e amareladas; 2%
de concreções argilosas claras e amareladas.
Areia Fina - 82% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
de superfície irregular; 10% de feldspato alcalino,
microclina e oligoclásio, grãos angulosos, muito
intemperizados, brancos; 5% de magnetita; 2% de biotita intemperizada;
1% de concreções argilosas; traços de
zircão.
Comentário
- No exame do perfil prevaleceram dúvidas se o solo
seria LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO câmbico ou CAMBISSOLO
latossolico. Os dados de análises químicas e
físicas apresentam concordância com propriedades
de LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO. Constata-se que o solo é
Álico.
Pela
apreciação das análises mineralógicas,
verifica- se que o material constitutivo do solo, à
profundidade amostrada, não revela alteração
tão avançada quanto à dos Latossolos
típicos. De minerais primários resistentes ao
intemperismo correntemente ditos "facilmente decomponíveis"
- têm-se 5% da areia grossa e 12% da areia fina, perfazendo
2,5% da terra fina, que com os 15% da fração
cascalho, totalizam 3,0% do material sólido do horizonte
em questão.
A
espessura do horizonte A é de cerca de 20 ou 30 cm.
Tendo a amostragem do B, sido realizada de 80 a 100cm de profundidade,
é muito possível que na parte mais superior
do horizonte B - 30 a 80cm de profundidade - o material do
solo seja comparativamente mais alterado que o subjacente
analisado.
Face
às considerações expostas e uma vez mantido
o limite de 4% de minerais primários menos resistentes
ao intemperismo nas frações granulamétricas
maiores que 0,05mm, a classificação cabível
no caso é LATOSSOLO VERMELHO - AMARELO ÁLICO
câmbico.
Ponto
3: LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO ÁLICO, estrada Parati-Cunha,
km 10 (a partir do trevo em Parati, no entroncamento com a
BR-101)
Classificação
- LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO ÁLICO A moderado,
textura argilosa fase rochosa e não rochosa, floresta
tropical perenifólia úmida relevo montanhoso.
Localização
- A 10 km da rodovia Rio-Santos (Trevo de Parati) em direção
a Cunha.
Vegetação
- Floresta tropical perenifólia úmida.
Relevo
- Montanhoso.
Altitude
- 220 metros.
Material
originário - Desenvolvido a partir da decomposição
de gnaisses e/ou migmatitos.
Drenagem
- Acentuadamente drenado.
Uso
agrícola - Cultura de banana.
Ponto
4: CAMBISSOLO ÁLICO latossólico, estrada
Parati-Cunha, km 19 (a partir do trevo em Parati, no entroncamento
com a BR-101)
Classificação
- CAMBISSOLO ÁLICO latossólico A, proeminente
textura argilosa fase rochosa e não rochosa, floresta
tropical perenifólia úmida relevo escarpado
substrato gnaisses e migmatitos.
Localização
- A 19 km da rodovia Rio-Santos (Trevo de Parati) em direção
a Cunha.
Vegetação
- Floresta tropical perenifólia úmida.
Relevo
- Escarpado.
Altitude
- 1140 metros.
Material
originário - Desenvolvido a partir da decomposição
de gnaisses e/ou migmatitos.
Drenagem
- Bem drenado.
Uso
agrícola - Nenhum.
Observação:
Coletada amostra RJ-EXTRA-2 dos horizontes A (O-15cm) e (B)
(40-60cm)

Figura 144 - Resultados das
análises das propriedades físicas e químicas
dos horizontes A e B do perfil de solo do Ponto 4.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.
ANÁLISE
MINERALÓGICA
Perfil
RJ-EXTRA - 2
A
- Cascalhos - 85% de quartzo, grãos angulosos, superfície
irregular com aderência de óxido de ferro, brancos
e amarelados; 15% de feldspato alcalino muito intemperizado,
já quase completamente transformado em argilo-mineral,
alguns com inclusões de biotita, já totalmente
intemperizada.
Areia
Grossa - 87% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
superfície irregular com aderência de material
argiloso, brancos e incolores; 5% de biotita intemperizada;
5% de magnetita; 2% de concreções argilosas;
1% de feldspato alcalino intemperizado, superfície
irregular, com brilho nacarado; traços de detritos.
Areia
Fina - 62% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
superfície irregular, brancos e alguns incolores; 30%
de biotita, muitas placas muito intemperizadas, superfície
irregular, algumas já bem cloritizadas; 5% de magnetita;
3% de detritos; traços de zircão.
(B)
- Cascalhos - 80% de quartzo, grãos subangulosos, superfície
irregular com aderencia argilosa, brancos e amarelados; 15%
de fragmentos de rocha muito intemperizada; 5% de feldspato
alcalino, microclina e possivelmente oligoclásio, alguns
com a superfície nacarada; traços de biotita
intemperizada.
Areia
Grossa - 78% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
superfície com aderência de material argiloso,
brancos e incolores; 10% de biotita intemperizada, placas
de coloração castanha, dourada e verde; 5% de
concreções argilosas; 5% de magnetita; 2% de
feldspato alcalino, principalmente microclina.
Areia
Fina - 53% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
incolores e brancos; 40% de biotita intemperizada; 5% de magnetita;
2% de concreções argilosas; traços de
zircão.
Comentário
- No exame do perfil foi feita amostragem para comprovação
da identificação do solo como CAMBISSOLO e quantificação
do teor de carbono na parte mais superficial do horizonte
A. Os dados de análises químicas e físicas
revelam alteração bastante avançada do
material, o qual apresenta características concordantes
com a de LATOSSOLO, ressalvada a ligeira elevação
da relação silte/argila, mesmo assim ainda compatível
com LATOSSOLOS.
Entretanto,
as análises mineralógicas das frações
maiores que 0,05mm bem demonstram os valores consideravelmente
elevados de minerais primários menos resistentes ao
intemperismo, tanto na terra fina do (B) - 8,6% - como no
A - 5,7%. Em vista da morfologia do horizonte (B), do fraco
contraste de distinção de A para B, do avançado
grau de alteração do material do solo, salvo
o teor de minerais primários menos resistentes ao intemperismo
nas frações areias e cascalhos, a classificação
apropriada é CAMBISSOLO ÁLICO latossólico.
A despeito dos teores relativamente altos de carbono verificados,
o horizonte A não é muito escuro e de espessura
da ordem de 30cm, não sendo pois o solo identificado
como CAMBISSOLO HÚMICO, mas sim com A proeminente.
Ponto
5: CAMBISSOLO HÚMICO ÁLICO, estrada Parati-Cunha,
km 23 (a partir do trevo em Parati, no entroncamento com a
BR-101)
Classificação
- CAMBISSOLO HÚMICO ÁLICO argila de atividade
baixa textura média fase rochosa e não rochosa
floresta altimontana relevo montanhoso substrato gnaisses
e migmatitos.
Localização
- A 23 km da rodovia Rio-Santos (Trevo de Parati) em direção
a Cunha.
Vegetação
- Floresta altimontana.
Relevo
- Montanhoso.
Altitude
- 1450 metros.
Material
originário - Desenvolvido de gnaisses e/ou migmatitos.
Drenagem
- Bem drenado.
Uso
agrícola - Nenhum.
Correlação
- Correlaciona-se com alguns CAMBISSOLOS de partes mais altas
da Serra da Mantiqueira, da Serra da Graciosa no Paraná,
da Serra Geral em Santa Catarina e Rio Grande do Sul e da
Serra do Caparaó em Minas Gerais e Espírito
Santo.
Observações
1)
Coletada amostra RJ-EXTRA-3 correspondente aos horizontes
A(20-40cm) e (B) (100-120cm).
2)
Coletada amostra do horizonte A para determinação
da densidade aparente e real.

Figura 145 - Resultados das
análises das propriedades físicas e químicas
dos horizontes A e B do perfil de solo do Ponto 5.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.
ANÁLISE
MINERALÓGICA
Perfil
RJ-EXTRA - 3
A
- Cascalhos - 57% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
brancos e incolores; 35% de concreções argilosas
com inclusões de quartzo; 5% de feldspato alcalino
Iintemperizado (principalmente microclina); 3% de magnetita.
Areia
Grossa - 83% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
superfície irregular com aderência de material
argiloso, brancos e incolores; 5% de biotita, maioria em placas
intemperizadas; 5% de concreções argilosas e
argilo-humosas; 5% de magnetita; 2% de feldspato alcalino
intemperizado; traços de detritos.
Areia
Fina - 50% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
superfície irregular com aderência de material
argiloso, brancos e incolores; 20% de concreções
argilosas e argilohumosas (principalmente); 15-% de biotita;
10% de feldspato alcalino; 5% de magnetita; traços
de zircão e detritos.
(B)-Calhaus
- 100% de fragmentos de quartzo com aderência de material
argiloso e feldspático.
Cascalhos
- 50% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos, brancos
e incolores; 20% de fragmentos de rocha constituídos
de quartzo, feldspato, biotita essencialmente e magnetita;
20% de concreções argilosas e argilo-ferruginosas;
10% de feldspato alcalino; traços de anfibólio
e biotita.
Areia
Grossa - 82% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
brancos e incolores; 5% de magnetita; 5% de biotita; 5% de
concreções argilosas e argilo-ferruginosas;
3% de feldspato alcalino, microclina.
Areia
Fina - 57% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
brancos e incolores; 30% de biotita; 5% de magnetita; 5% de
feldspato alcalino; 3% de concreções argilosas
claras.
Comentário
- Os dados analíticos revelam elevada relação
silte/argila valores consideravelmente altos de minerais primários
menos resistentes ao intemperismo contidos nas areias da terra
fina do (B) - 9,9% e do A - 6,3% - e algo mais na fração
cascalho.
A
despeito dos valores relativamente baixos da relação
SiO2/Al2O3 e SiO2/R2O3 e valor T/100g de argila descontada
contribuição do carbono, que evidencia tratar-se
de argila de atividade baixa, os dados analíticos confirmam
e a morfologia se coaduna com a identificação
do solo CAMBISSOLO HÚMICO ÁLICO, visto que a
cor do A é bastante escura e a espessura grande. No
caso não foram constata das feições latossólicas
na morfologia do horizonte B, caso em que não se consideraria
o solo como intermediário latossólico.
Ponto
6: CAMBISSOLO ÁLICO, Várzea do Rio Mambucaba,
2,5 km da BR-101.
Classificação
- CAMBISSOLO ÁLICO argila de atividade baixa A moderado
textura média fase floresta tropical perenifólia
úmida de várzea relevo plano, substrato sedimentos
aluviais.
Localização
- km 142 da rodovia Rio-Santos, entrando-se 2,5km à
esquerda.
Vegetação
- Floresta tropical perenifólia úmida de várzea.
Relevo
- Plano.
Altitude
- 30 metros.
Material
originário - Sedimentos aluviais(várzea do rio
Mambucaba).
Drenagem
- Moderadamente drenado.
Uso
agrícola - Nenhum.
Observações
1) Coletada
amostra RJ-EXTRA - 4 correspondente ao horizonte (B) (30-45cm)

Figura 146 - Visão geral da várzea do rio Mambucaba.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 147 - Resultados das análises das propriedades
físicas e químicas do horizonte B do perfil
de solo do Ponto 6.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
ANÁLISE
MINERALÓGICA
Perfil
RJ-EXTRA - 4
B)
Areia Grossa - 72% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
poucos subarredondados, superfície irregular brancos
e incolores; 15% de biotita e muscovita; 10% de feldspato
(microclina e oligoclásio); 1% de granada e magnetita;
2% de concreções argilosas; traços de
anfibólio(hornblenda).
Areia
Fina - 69% de quartzo, grãos angulosos e subangulosos,
brancos e incolores; 25% de biotita intemperizada; 5% .de
microclina, grãos angulosos; superfície irregular
intemperizada; 1% de anfibólio, magnetita, concreções
argilosas e silimanita; traços de zircão.
Comentário
- As análises mineralógicas acusam mais de 10%
de minerais primários menos resistentes ao intemperismo
nas frações > 0,05 mm contidos na terra fina
no horizonte (B).
Tanto
a composição mineralógica das areias
como a elevada relação silte/argila indicam
não ser grande o avanço da alteração
do material. Por outro lado, a relação SiO2/Al2O3
(SiO2/R2O3) bem como o valor T/100g de argila revelam a baixa
atividade das argilas. Conforme previsto na ocasião
do exame trata-se pois de CAMBISSOLO ÁLICO argila de
atividade baixa, sendo o solo em causa formado em sedimentos
aluviais.
Ponto
7: LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO ÁLICO, estrada Angra
do Reis-Barra Mansa, 1 km após Rio Claro (indo em direção
à Barra Mansa)
Classificação
- LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO ÁLICO A moderado textura
argilosa fase rochosa e não rochosa\floresta tropical
subperenifólia relevo forte ondulado e montanhoso.
Localização
- A 46 km da rodovia Rio-Santos (km 105) em direção
a Barra Mansa.
Vegetação
- Floresta tropical subperenifólia.
Relevo
- Forte ondulado e montanhoso.
Altitude
- 480 metros.
Material
originário - Desenvolvido a partir do produto da decomposição
de gnaisses e migmatitos.
Drenagem
- Acentuadamente drenado.
Uso
agrícola - Pastagem.

Figura 148 - Visão geral
das encostas voltadas para o litoral da escarpa da Serra do
Mar na estrada Angra dos Reis - Barra Mansa. Foto tirada do
ponto mais alto da estrada, próximo ao divisor, sendo
que o Ponto 7 localiza-se já no reverso da serra, próximo
à cidade de Rio Claro.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.
Ponto
8: LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO e LATOSSOLO AMARELO, junto
ao córrego do Lava-pés, no bairro Bom Jardim
na cidade de Bananal (SP), no médio vale do rio Paraíba
do Sul.
Os
dados aqui apresentados, referentes a este ponto, fazem parte
da tese de doutoramento de Maria Naíse de Oliveira
Peixoto (Peixoto, 2002). A Figura 149 mostra uma visão
geral do relevo na área de Bananal, com características
típicas do médio vale do rio Paraíba
do Sul, mostrando solos de encosta (topo da Figura 149) com
material original vindo da rocha alterada e de colúvios,
e solos de baixada formados a partir de sedimentos fluviais,
observando-se nitidamente as camadas deposicionais (base da
Figura 149) mais suave, os perfis de intemperismo tendem a
ser bem espessos (Figura 150), dando origem a solos profundos,
muito intemperizados, com grande predomínio de Latossolos.
As
análise foram concentradas junto à localidade
chamada Córrego do Lava-pés (LVP), onde foram
levantados 3 perfis pedológicos nos três principais
níveis geomorfológicos de interflúvios/divisores
aplainados identificados, respectivamente, por LVPI (Figura
151), LVPII (Figura 152) e LVPIII (Figura 153).

Figura 149 - Visão geral
da paisagem na região de Bananal (SP), inserida no
médio vale do rio Paraíba do Sul. O relevo engloba
tanto colinas com topos convexos onde os solos são
originados da rocha alterada e de colúvios, quando
baixadas formadas por sedimentos de origem fluvial.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.

Figura 150 - Perfil de solo típico da região
de Bananal (SP). Em geral, os solos são profundos,
bastante homogêneos, e formados principalmente por minerais
secundários típicos de condições
intensas de intemperismo, características de solos
da classe dos Latossolos
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol III (Eixo 3 -
Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
O
perfil LVPI situa-se na extremidade mais alta da Seção
Córrego do Lava-pés I (SLVPI), em nível
topográfico mais elevado que os demais. O perfil LVPII
encontra-se no trecho mais suavizado e largo da ombreira que
se prolonga a partir da linha de cristas onde se localiza
o perfil LVP I, aproximadamente 25 m abaixo da Seção
Córrego do Lava-pés II (SLVPII). O terceiro
perfil, perfil LVP III, encontra-se no nível geomorfológico
mais rebaixado de interflúvio aplainado.
A
Tabela 14 apresenta as principais características morfológicas
dos 3 perfis analisados nesse ponto, destacando-se a variação
da cor em profundidade, sendo marcante o contraste entre coberturas
sedimentares amarelas e o embasamento cristalino vermelho,
ou entre estas e depósitos de cascalhos também
vermelhos, documentados sobre o embasamento nos perfis LVPI
e LVPIII, e também uma variação de cor
entre os perfis, que mostram-se progressivamente mais amarelas
do LVPI para o LVPIII.
No que diz respeito
às relações com os materiais de origem,
observa-se no perfil LVPI que a maior nitidez das transições
observadas nos horizontes Bw4 e 2BC vincula-se aos limites
entre camadas sedimentares, e entre os depósitos e
o embasamento, sendo, no entanto, a forma das transições
(quebrada e ondulada) não concordante com a dos limites
das unidades deposicionais. Diferem, de todo modo, das transições
dos demais sub-horizontes B, que se apresentam planas e com
nitidez gradual ou difusa. No perfil LVPII, a descontinuidade
mais marcante refere-se ao truncamento do embasamento cristalino
pela cobertura sedimentar, refletida na transição
ondulada e abrupta verificada no horizonte Bw2. No perfil
LVPIII, transições irregular e abrupta e ondulada
e clara são observadas, respectivamente, nos subhorizontes
2Bw3 e 3CB, marcando, também o contato do pacote sedimentar
com o embasamento alterado. De modo geral, correspondem, portanto,
às discordâncias (contatos erosivos) identificadas
no arcabouço sedimentar, refletindo as variações
nos materiais de origem dos solos, também reconhecidas
através da distribuição em profundidade
das frações granulométricas e relações
Areia grossa/ Areia fina, como se verá adiante.

Figura 151 - Perfil LVPI do
Ponto 8, localizado na extremidade mais elevada da Seção
Córrego do Lava-pés I, localidade Córrego
do Lava-pés, Bananal (SP).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.

Figura 152 - Perfil LVPII do
Ponto 8, localizado 25m abaixo da Seção Córrego
do Lava-pés II, localidade Córrego do Lava-pés,
Bananal (SP).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.

Figura 153 - Perfil LVPIII
do Ponto 8, situado em corte transversal à Seção
Córrego do Lavapés III, localidade Córrego
do Lava-pés, Bananal (SP). Na montagem, estão
sotopostas partes adjacentes do perfil levantado, abrangendo
as porções inferior e superior dos depósitos.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.
Tabela 14 - Características macromorfológicas
dos perfis LVPI, LVPII e LVPIII do Ponto 8, localizado junto
ao córrego do Lava-pés, Bananal (SP).
Hor. |
Prof.
(cm) |
Cor
Úmida
(Münsell) |
Estrutura |
Consistência |
Transição |
LVP
I |
Ap |
0
–
13 |
7,5YR
¾ |
mod.
peq. gran. |
fri.,
plást. e peg. |
plana
e clara |
BA |
-
33 |
5YR
4/6 |
fr.
a mod. peq. e med. bl. subang. |
mto.
fri., plást. e
peg. |
plana
e gradual |
Bw1 |
-
64 |
5YR
4/6 |
asp.
maciço que se desfaz em fr. a
mod. peq. e med. Bl. ang. e subang. |
mto.
fri., plást. e
peg. |
plana
e difusa |
Bw2 |
-
122 |
5YR
4/6 |
asp.
maciço que se desfaz em fr.
peq. e med. bl. ang. e subang. |
mto.
fri., plást. e
peg. |
plana
e difusa |
Bw3 |
-
167 |
5YR
4/6 |
asp.
maciço que se desfaz em fr.
peq. e med. bl. ang. e subang |
mto.
fri., plást. e
peg. |
- |
Bw4 |
-
240 |
5YR
5/6 |
asp.
maciço que se desfaz em fr.
peq. e med. bl. ang. e subang |
mto.
fri., plást. e
peg. |
quebrada
e clara |
2BC |
-
260 |
2,5YR
4/8 |
fr.
peq. e med. bl. ang. e subang. |
mto.
fri., plást. e
peg. |
ondulada
e
clara |
3C |
-360 |
10R
4/6 |
fr.
peq. e med. bl. ang. e subang. |
mto.
fri., plást. e
peg. |
- |
3Cr |
360
–
460+ |
10R
5/4
mosq.
abun. Peq.
e dist.
10YR 8/1 |
- |
lig.
plást. e lig.
peg. |
- |
LVP
II |
Ap |
0-17 |
7,5YR
4/3 |
mod.
peq. gran. |
fri.,
plást. e peg. |
plana
e gradual |
A2 |
-
41 |
7,5YR
4/4 |
mod.
peq. gran. e bl. Subang. |
fri.,
plást. e peg. |
plana
e clara. |
BA |
-
64 |
7,5YR
4/6 |
asp.
maciço que se desfaz em mod.
peq. e med. bl. ang. e subang. |
fri.,
plást. e peg. |
plana
e gradual |
Bw1 |
-134 |
7,5YR
4/6 |
asp.
maciço que se desfaz em mod.
peq. e med. bl. ang. e subang. |
fri.,
plást. e peg. |
plana
e difusa |
Bw2 |
-219 |
7,5YR
5/6 |
asp.
maciço que se desfaz em fr.
peq. bl. ang. e subang. |
fri.,
plást. e peg. |
ondulada
e abrupta |
2C1 |
-240 |
10R
4/4 |
fr.
peq. e med. bl. ang. e subang. |
fri.,
plást. e peg. |
- |
2C2 |
-285 |
10R
4/4 |
- |
plást.
e peg. |
- |
2C3 |
-350 |
10R
4/4
mosq.
comum e
dist. 10R
8/1 |
- |
plást.
e peg. |
- |
2Cr |
-395+ |
10R
4/4;
mosq.
Abun. peq.
e dist. 10R
8/1 |
- |
lig.
plást. e lig.
peg. |
- |
LVP
III |
Ap |
0-18 |
10YR
3/3 |
mod.
peq. gran. |
fri.,
plást. e peg. |
plana
e clara. |
BA |
-
36 |
10YR
5/4 |
asp.
maciço que se desfaz em fr. a
mod. peq. e med. bl. ang. e subang. |
mto.
dura, fri.,
plást. e peg. |
plana
e gradual |
Bw1 |
-
80 |
10YR
5/6 |
asp.
maciço que se e esfaz em fr. a
mod. peq. e med. bl. ang. e subang. |
mto.
dura e fri.,
plást. e peg. |
plana
e difusa |
Bw2 |
-124 |
10YR
5/6 |
asp.
maciço que se desfaz em fr.
peq. e med. bl. ang. e subang. |
fri.,
plást. e peg. |
irregular
e abrupta |
2Bw
3 |
-166 |
7,5YR
5/8 |
fr.
mto. peq. e peq. gran. e bl. e
subang. |
fri.,
plást. e peg. |
ondulada
e
clara |
3CB |
-287 |
varieg. |
- |
plást.
e peg. |
ondulada
e clara |
4C |
-330+ |
varieg. |
maciça |
plást.
e peg. |
- |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
Legenda:
mosq.=mosqueado; peq.=pequeno; dist.=distinto; varieg.=variegada;
fr.=fraca; mod.=moderada; mto.=muito; peq.=pequena; méd.=média;
gr.=grande; asp.=aspecto; gran.=granular; bl.=blocos; ang.=angulares;
subang.=subangulares; abun.=abundante; fri.=friável;
lig.=ligeiramente; plást.=plástica; peg.=pegajosa.
Nos
perfis analisados o solum desenvolve-se inteiramente nas coberturas
sedimentares, enquanto os sub-horizontes C desenvolvem-se
ou nos materiais de alteração do embasamento
cristalino ou na própria cobertura sedimentar. São
considerados, segundo critérios adotados pela EMBRAPA
(1999), solos muito profundos (>200 cm de profundidade)
e apresentam-se bem drenados
A
consistência no estádio seco mostra-se em geral
muito friável e friável, sendo plástica
e pegajososa no estádio úmido, refletindo a
presença de minerais de baixa atividade na fração
argila. No entanto, os horizontes BA e Bw1 do pedon 03LVPIII
mostram consistência muito dura no estádio seco.
Esta tenacidade do material, nesta faixa do pedon, constitui
atributo diagnóstico do membro típico do Sub-Grande
Grupo Latossolo Amarelo Coeso, e sua gênese tem sido
vinculada a causas variadas.
A
análise das lâminas finas (Tabela 15 e Tabela
16) evidenciou que o quartzo constitui o mineral predominante
tanto nas frações areia grossa quanto na areia
fina, sendo seus grãos angulares, subangulares e subarredondados,
predominantemente subesféricos, demonstrando má
seleção e pouco transporte. Distribuem-se aleatoriamente
pela matriz nos três perfis, não mostrando qualquer
orientação preferencial, nesta escala de observação.
A
cor mais avermelhada do subhorizonte Bw2 do perfil LVPI em
relação aos outros dois perfis deve-se a uma
grande quantidade de micropontuações avermelhadas
distribuídas aleatoriamente na matriz, de composição
provavelmente hematítica, que são comuns nos
materiais de alteração do embasamento.
O
horizonte Bw2 do perfil LVPII, que é, entre os três
perfis, o que apresenta teor mais elevado de argila, apresenta
matriz com maior anisotropia ótica, caracterizada por
zonas de domínios distribuídas ao acaso. Isto
pode significar maior atividade de expansão e contração
em reposta aos ciclos de umedecimento e secagem.
Ao
microscópio, observou-se, para os horizontes Ap, uma
combinação de grãos de quartzo e calhaus,
onde os "micropeds" variam de tamanho e apresentam
formas muito irregulares devido à atividade biológica
do solo. Passagens de fauna são comuns, como mostram
a Figura 154.
Tabela
15 - Características micromorfológicas dos perfis
LVPI e LVPII do Ponto 8, localizado junto ao córrego
do Lava-pés, Bananal (SP).
Hor. |
Estrutura
e Poros |
Material
Grosseiro |
Material
fino |
Feições |
LVP
I |
Ap |
Mista:
granular
completa e quase
completa e grãos
simples, com forte
influência da
atividade da
mesofauna. Os
poros são muito
abundantes (30%) e
formam uma fase
contínua e semicontínua. |
Muito
abundante
(30%). Dominam
quartzos (98%),
subang., subarr.,
subesf.; ocasionais
(2%) micas; raros
(1%) carvões,
principalmente nas
áreas com influência
da fauna e muito raros
minerais opacos
negros. |
Muito
abundante
(40%) e preenche o
espaço intergranular.
É bruno-forte (7.5YR
4/6) em nicóis
cruzados. É
debilmente
anisotrópico e
constituído de
pequenos domínios
individuais
distribuídos ao acaso
e, em áreas restritas,
de zonas de domínios
distribuídas ao acaso. |
Raras
concreções e
segregações sesquiox.
(20µm), arr., irreg., lim.
claros a difusos.; passagens
de fauna, com 500µm de
diâm. e mais de 4000µm de
extensão. |
Bw2 |
Granular
quase
completa e
incompleta. Os
poros são
abundantes (30%) e
formam uma fase
contínua e
semicontínua.
Predominam canais
com até 2000µm de
comprimento por
500µm de diâmetro. |
Muito
freqüente
(15%). Dominam
quartzos (99%),
subang., subarr.,
subesf.; raras micas
(1%); muito raros
carvões e minerais
opacos negros. |
Abundante
(50%). É
bruno-forte (7.5YR
5/6) em nicóis
cruzados, com áreas
avermelhadas com
limites difusos. É
constituída de zonas
de domínios
distribuídas ao acaso. |
Freqüentes
(5%) concreções
e segregações de ferro;
irreg. e arred.; vermelhoescuras;
com 10 - 500µm de
diâmetro; limites nítidos a
difusos.
Muito raras: concreções
argilosas (gibbsíticas?);
amarelo-acizentadas, com
cerca de 50 a 100µm de
diâmetro; passagens de
fauna com 500µm de
diâmetro e grandes canais,
testemunhando intensa
atividade da mesofauna. |
LVP
II |
Ap |
Bloco
subangular
completa e quase
completa, com
microagregados de
500µm de diâmetro
em média. O espaço
poral é muito
abundante (35%) e
forma uma fase
contínua e semicontínua. |
Muito
freqüente
(15%). Dominam
quartzos (95%), ang.,
subang., subarr.,
subesf.; ocasionais
(4%) micas; raros
(1%) carvões e
minerais opacos
negros. |
É
abundante (50%). É
bruno-forte (7.5YR
5/6) em nicóis
cruzados, com
micropontuações
avermelhadas
distribuídas ao acaso.
É debilmente
anisotrópico,
constituído de por
pequenos domínios
individuais
distribuídos ao acaso. |
Raras:
passagens de fauna
de aproximadamente 500µm
de diâmetro e mais de
4000µm de comprimento,
preenchidas com
microagregados, além de
algumas câmaras. Numa
área localizada observa-se
grande quantidade de
vesículas com cerca de
10µm de diâmetro, além da
presença de passagens de
raízes (canais).
Muito raras concreções de
ferro: arred. e irreg.;
vermelhas a negras; com
cerca de 20µm de diâmetro. |
Bw2 |
Bloco
subangular e
granular
incompletas. Os
poros são muito
abundantes (15%).
São canais (1000µm
de diâmetro), poros
irregulares isolados
e interconectados e
poros aplanados. |
Muito
freqüente
(10%). Dominam
(99%) quartzos, ang,,
subang, subarr.,
subesf.; muito raros
anfibólios e minerais
opacos negros. |
Dominante
(75%). É
bruna-forte (2.5YR
6/8) em nicóis
cruzados. Ora forma
uma fase contínua
onde estão embebidos
os grãos (matriz), ora
somente preenche os
espaços
intergranulares. É
moderadamente
anisotrópico,
constituído de zonas
de domínios
distribuídas ao acaso. |
Muito
raras: concreções de
ferro: irreg.; vermelhoescuras
a negras; ocorrendo
nas frações areia fina e silte;
feições de fauna; canais e
muito raros microagregados
irregulares agrupados dentro
de alguns poros. |
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
Tabela
16 - Características micromorfológicas do perfil
LVPIII do Ponto 8, localizado junto ao córrego do Lava-pés,
Bananal (SP).
Hor. |
Estrutura
e Poros |
Material
Grosseiro |
Material
fino |
Feições |
Ap |
Enáulica,
com forte
influência de
atividade biológica.
40%. Poros
irregulares isolados
e interconectados;
sec. poros aplainados
e aplanados
sinuosos, canais,
câmaras. |
Muito
abundante
(40%). Dominam
(99%) quartzos, ang.,
subang., subarr.,
subesf.; muito raros
anfibólios e minerais
opacos negros. |
Muito
abundante
(30%). Em algumas
áreas preenche
espaços
intergranulares e em
outras ocupa somente
os pontos de contato
entre grãos. É brunoamarelado
(10YR
5/6), com mosqueados
amarelo-oliváceos
(2,5Y 6/8) em nicóis
cruzados. Em algumas
áreas é quase
isotrópico e em outras
é constituído de
pequenos domínios
individuais
distribuídos ao acaso. |
Freqüentes:
feições de
fauna e flora como raízes,
raros tecidos vegetais em
decomposição e pelotas
fecais/ orais e pela grande
quantidade de canais que
influenciam fortemente a
estrutura do horizonte,
evidenciando intensa
atividade biológica.
Muito raras: Concreções e
segregações de ferro: são;
arr. e irreg.; amareloavermelhadas
e vermelhoescuras,
com cerca de
100µm a 250µm de
diâmetro. Algumas são do
tipo celular, oriundas da
alteração de micas.
Ocorrem também
segregações de ferro
irregulares; avermelhadas;
difundidas no material fino. |
Bw2 |
Mista:
maciça,
granular e bloco
subangular
incompletas. Os
poros são muito
abundantes (30%).
São canais com mais
de 2000µm de
largura, poros
irregulares
interconectados,
poros aplanados
sinuosos e vesículas
de 30 a 50µm de
diâmetro. |
Muito
abundante
(30%). Dominam
(99%) quartzos,
subang., subarr. e
subesf.; muito raros
anfibólios, micas e
minerais opacos
pretos. |
Muito
abundante
(40%) e preenche
espaço intergranular.
É amarelo-oliváceo
(2.5Y 6/6) em nicóis
cruzados. É
debilmente
anisotrópico,
constituído de
pequenos domínios
individuais
distribuídos ao acaso
e, em áreas restritas,
de zonas de domínios
distribuídas ao acaso. |
Muito
raros: revestimentos
de argila; amarelo-claros;
chegam a ter 100µm de
espessura; laminação
perfeita; forte anisotropia
óptica; revestem
parcialmente ou totalmente
canais e poros irregulares;
concreções de ferro: são
muito raras; irregulares;
amarelo-avermelhadas a
pretos; com cerca de 50 a
200µm de diâmetro.
Ocorrem também
segregações de ferro.
Feições de fauna e flora:
presença de vesículas e
grandes canais. Raras
raízes, tecido vegetal e
pelotas fecais, evidenciando
atividade moderada. |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
Nas
lâminas finas do horizonte Bw2 do perfil LVPI constatou-se
um material fino formando uma fase contínua onde estão
embebidos os grãos, cuja ocorrência de poros
irregulares interligados com paredes curvas e lisas determinam
uma tendência à individualização
de microagregados arredondados. Essa definição
aumenta nas áreas de maior influência da atividade
da mesofauna, onde microagregados arredondados apresentam-se
quase individualizados , como mostrado na Figura 155.

Figura 154 - Micrografia em
luz plana mostrando o aspecto do solo sob influência
da mesofauna nos horizontes Ap: (a) canais arqueados (P),
alinhados no pedon 01LVPI; (b) material de solo, sircundade
em vermelho, em forma de cilindro (passagem de fauna) do pedon
02LVPII. Q =grãos de quartzo.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 155 - Micrografia em
nicóis cruzados do horizonte Bw2 do perfil LVPI, mostrando
microagregados (m) granulares parcialmente interligados dentro
de um passagem de fauna.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
No
horizonte Bw2 do perfil LVPII, encontrou-se uma estrutura
mista: maciça e granular e em blocos subangular incompleta,
com predomínio de poros dos tipos irregular, irregular
interconectado e aplanado. A observação das
lâminas finas do horizonte Bw2 do perfil LVPIII revelou
uma estrutura mista maciça e com tendência a
individualização de microagregados em blocos
e granulares (Figura 156). De acordo com estas características,
o solo que apresenta o maior grau de pedalidade entre os três
perfis estudados, é o LVPI.
O
perfil LVPIII foi o único a apresentar indícios
de iluviação de argila. Revestimentos de argila
relativamente bem desenvolvidos, porém visíveis
somente em altas magnificações (aumento de 100x),
ocorrem na superfície de alguns poros irregulares e
canais no horizonte Bw2 (Figura 156).

Figura 156 - Micrografia em nicóis cruzados do horizonte
Bw2 do perfil LVPIII, ilustrando estrutura com tendência
à individualização de microagregados
em blocos e granulares (a) e finos revestimentos de argila
amarelados (setas em vermelho), descontínuos e debilmente
orientados (b). q=quartzo; af=anfibólio.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
Na
Tabela 17 estão apresentados os resultados das análises
granulométricas, e na Figura 157, Figura 158 e Figura
159 encontram-se as curvas de variação em profundidade
de algumas das relações granulométricas
e da argila total.
Verifica-se,
através dos dados expostos, que as frações
areia e argila são predominantes, havendo maior participação
da fração silte apenas nos horizontes C desenvolvidos
no embasamento cristalino, como já descrito anteriormente.
A ocorrência de calhaus nos perfis LVPI e LVPIII relaciona-se,
fundamentalmente, aos depósitos grosseiros documentados
na base do pacote sedimentar (base dos horizontes B). No perfil
LVP1 ocorre também calhaus no horizonte Bw3, relacionados
aos níveis de concentrações de sedimentos
grosseiros, freqüentes e descontínuos, identificados
nos depósitos.
Tabela
17 - Propriedades físicas dos solos - perfis LVPI,
LVPII e LVPIII do Ponto 8, localizado junto ao córrego
do Lava-pés, Bananal, SP.
Hor. |
Prof.
m |
Granulometria
g Kg-1 |
Arg.
disp.
g Kg-1 |
Grau
flocul.
g 100g-1 |
Sil./
Arg. |
Dp
g cm -3
Calhau |
Cascalho |
TFS
A |
AG |
AF |
Sil. |
Arg. |
LVPI |
Ap |
0-0,13 |
0 |
20 |
980 |
230 |
280 |
80 |
410 |
270 |
34 |
0,20 |
1,14 |
BA |
-0,33 |
0 |
30 |
970 |
200 |
200 |
90 |
510 |
390 |
23 |
0,18 |
1,10 |
Bw1 |
-0,64 |
0 |
30 |
970 |
170 |
210 |
40 |
580 |
0 |
100 |
0,07 |
1,18 |
Bw2 |
-1,22 |
0 |
20 |
980 |
170 |
210 |
70 |
550 |
0 |
100 |
0,13 |
1,13 |
Bw3 |
-1,67 |
20 |
30 |
950 |
170 |
220 |
60 |
550 |
0 |
100 |
0,11 |
1,20 |
Bw4 |
-2,40 |
0 |
50 |
950 |
170 |
220 |
60 |
550 |
0 |
100 |
0,11 |
1,26 |
2BC |
-2,60 |
40 |
220 |
740 |
270 |
270 |
80 |
380 |
0 |
100 |
0,21 |
- |
3C |
-3,60 |
0 |
30 |
970 |
160 |
270 |
190 |
380 |
0 |
100 |
0,50 |
1,50 |
3Cr |
-
4,60+ |
0 |
0 |
1000 |
230 |
380 |
270 |
120 |
0 |
100 |
2,25 |
1,14 |
LVPII |
Ap |
0–
0,17 |
0 |
20 |
980 |
260 |
170 |
80 |
490 |
370 |
24 |
0,16 |
1,14 |
A2 |
-0,41 |
0 |
20 |
980 |
240 |
170 |
60 |
530 |
430 |
19 |
0,11 |
1,21 |
BA |
-0,64 |
0 |
20 |
980 |
210 |
140 |
40 |
610 |
490 |
20 |
0,07 |
1,24 |
Bw1 |
-1,34 |
0 |
10 |
990 |
190 |
140 |
20 |
650 |
0 |
100 |
0,03 |
1,34 |
Bw2 |
-2,19 |
0 |
20 |
980 |
180 |
150 |
20 |
650 |
0 |
100 |
0,03 |
0,93 |
2C1 |
-2,40 |
0 |
130 |
870 |
270 |
100 |
230 |
400 |
0 |
100 |
0,57 |
1,31 |
2Cr |
-
3,95+ |
0 |
0 |
1000 |
250 |
210 |
260 |
280 |
0 |
100 |
0,93 |
- |
LVPIII |
Ap |
0-0,18 |
0 |
20 |
980 |
330 |
520 |
70 |
350 |
200 |
43 |
0,20 |
1,37 |
BA |
-0,36 |
0 |
120 |
880 |
260 |
230 |
40 |
470 |
310 |
34 |
0,09 |
1,42 |
Bw1 |
-0,80 |
0 |
40 |
960 |
240 |
320 |
40 |
490 |
0 |
100 |
0,08 |
1,34 |
Bw2 |
-1,24 |
0 |
70 |
930 |
250 |
240 |
40 |
470 |
0 |
100 |
0,09 |
1,30 |
2Bw3 |
-1,66 |
70 |
240 |
690 |
270 |
220 |
40 |
470 |
0 |
100 |
0,09 |
- |
2CB |
-2,87 |
30 |
360 |
610 |
440 |
160 |
60 |
340 |
0 |
100 |
0,18 |
- |
4C |
-
3,30+ |
50 |
180 |
770 |
360 |
230 |
170 |
240 |
0 |
100 |
0,71 |
- |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
O
comportamento da fração cascalho reflete, de
modo análogo, as descontinuidades apontadas acima,
apresentando uma distribuição pouco variável
nos perfis LVPI e LVPII até a base do horizonte B,
onde verifica-se significativo aumento, com redução
drástica para os horizontes Cr, onde é nula.
No caso do perfil LVPIII, os valores elevados desta fração
estão marcadamente associadas à descontinuidade
com o embasamento cristalino e às variações
sedimentológicas do arcabouço sedimentar. Nas
curvas de distribuição em profundidade da relação
Areia grossa/Areia fina, grandes inflexões também
marcam as descontinuidades detectadas em campo, correspondentes
às camadas sedimentares associadas a processos de transporte
por fluxo d' água superficial. Pequenas inflexões
verificadas nos horizontes superficiais dos perfis LVPII e
LVPIII parecem estar relacionadas ao aporte de material arenoso
em trânsito nas encostas e/ou à remoção
de material fino no topo dos perfis, além das variações
do próprio material sedimentar. No caso do LVPI, nota-se
o predomínio da areia fina em relação
à areia grossa em todo os horizontes, estando as concentrações
da última vinculadas aos níveis grosseiros documentados
na cobertura sedimentar.

Figura 157 - Variação em profundidade das
relações texturais Areia grossa/Areia fina e
Silte/Argila, e dos teores de Argila Total - Perfil LVPI do
Ponto 8.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 158 - Variação em profundidade das
relações texturais Areia Grossa/Areia Fina e
Silte/Argila, e dos teores de Argila Total - Perfil LVPII
do Ponto 8.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.

Figura 159 - Variação em profundidade das
relações texturais Areia Grossa/Areia Fina e
Silte/Argila, e dos teores de Argila Total - Perfil LVPIII
do Ponto 8.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
A
relação Silte/Argila, freqüentemente utilizada
como índice de intemperismo em solos tropicais, foi
empregada, nas análises aqui apresentadas, com as devidas
restrições inerentes à natureza sedimentar
do material de origem dos solos estudados. Observa-se que,
de modo geral, os valores dos horizontes A apresentam-se um
pouco mais elevados do que os dos horizontes subjacentes,
voltando a se tornar mais elevados nos horizontes transicionais
e C, menos intemperizados. Os valores extremamente baixos
dos sub-horizontes B desenvolvidos na cobertura sedimentar
revelam elevado grau de intemperização, sendo
os menores valores encontrados nos Bw do perfil LVPII, seguidos
pelos sub-horizontes Bw do perfil LVPIII e do perfil LVPI.
É
importante destacar que, devido à situação
geomorfológica do perfil LVPI, o transporte de material
em superfície mostra-se bastante acentuado, havendo
significativa contribuição dos materiais de
alteração do embasamento cristalino, predominantemente
siltoarenosos, que afloram em diversos trechos da linha de
cristas, para os horizontes superficiais, refletindo-se na
relação silte/argila. No perfil LVPII verifica-se
uma condição de erosão menos intensa,
atestada pela maior preservação do horizonte
A.
A
Tabela 18 apresenta os resultados relativos às propriedades
químicas dos 3 perfis estudados no Ponto 8. Em termos
gerais, observa-se que os perfis apresentam-se com baixos
teores de Ca, Mg, K e Na trocáveis, e elevados teores
de Al trocável, culminando numa saturação
por bases trocáveis (V%) variando de 2 a 8% Kg-1 TFSA
nos horizontes B, o que lhes confere o caráter distrófico.
Também possuem baixíssimos teores de P. Os teores
de Ca, Mg e K trocáveis ligeiramente mais elevados
nos horizontes superficiais, relacionam-se com a reciclagem
de nutrientes pela vegetação e/ou adubação,
sendo este último mais evidente para o perfil LVPIII.
Tabela
18 - Propriedades químicas dos solos nos perfis LVPI,
LVPII e LVPIII do Ponto 8, localizado junto ao córrego
do Lava-pés, Bananal (SP).
Hor. |
Prof.
m |
pH H2O |
PH
KCl |
Cátions Trocáveis cmolc Kg-1 |
T
cmolc
Kg--1 |
Saturação |
C. org.
gKg-1 |
P. mg.
Kg-1 |
Ca2+ |
Mg2+ |
K+ |
Na+ |
Al3+ |
H+ |
V
% |
Al3+
% |
LVPI |
Ap |
0-0,13 |
4,7 |
3,9 |
0,5 |
0,12 |
0,02 |
1,8 |
6,5 |
8,9 |
7 |
75 |
19,7 |
1 |
BA |
-0,33 |
4,9 |
4,1 |
0,2 |
0,03 |
0,02 |
1,7 |
4,6 |
6,5 |
3 |
89 |
10,7 |
1 |
Bw1 |
0,64 |
4,9 |
4,1 |
0,1 |
0,03 |
0,02 |
1,5 |
4,1 |
5,7 |
2 |
94 |
6,5 |
1 |
Bw2 |
-1,22 |
4,7 |
4,1 |
0,1 |
0,02 |
0,01 |
1,6 |
3,6 |
5,3 |
2 |
94 |
4,3 |
1 |
Bw3 |
-167 |
4,7 |
4,1 |
0,1 |
0,02 |
0,01 |
1,4 |
3,2 |
4,7 |
2 |
93 |
3,0 |
1 |
Bw4 |
-2,40 |
4,8 |
4,1 |
0,2 |
0,02 |
0,01 |
1,3 |
3,3 |
4,8 |
4 |
87 |
2,3 |
1 |
2BC |
-2,60 |
5,1 |
4,2 |
0,3 |
0,02 |
0,02 |
0,4 |
2,2 |
2,9 |
10 |
57 |
1,1 |
1 |
3C |
-
3,60+ |
5,1 |
4,1 |
0,3 |
0,01 |
0,01 |
0,6 |
2,4 |
3,3 |
9 |
67 |
0,9 |
1 |
LVPII |
Ap |
0–0,17 |
4,6 |
3,7 |
0,5 |
0,15 |
0,02 |
1,3 |
5,9 |
7,9 |
9 |
65 |
18,1 |
1 |
A2 |
-0,41 |
4,6 |
3,8 |
0,3 |
0,05 |
0,01 |
1,3 |
4,4 |
6,1 |
6 |
76 |
10,4 |
1 |
BA |
-0,64 |
4,6 |
3,8 |
0,4 |
0,02 |
0,01 |
1,5 |
4,7 |
6,6 |
6 |
79 |
8,4 |
1 |
Bw1 |
-1,34 |
4,4 |
3,9 |
0,3 |
0,01 |
0,01 |
1,3 |
2,8 |
4,4 |
7 |
81 |
4,4 |
1 |
Bw2 |
-2,19 |
4,5 |
4,0 |
0,3 |
0,02 |
0,01 |
0,8 |
2,9 |
4,0 |
7 |
73 |
3,1 |
1 |
2C1 |
-2,40 |
4,9 |
4,2 |
0,2 |
0,02 |
0,01 |
0,3 |
1,7 |
2,2 |
9 |
60 |
1,4 |
1 |
2Cr |
-
3,95+ |
4,7 |
4,1 |
0,2 |
0,02 |
0,01 |
0,8 |
2,0 |
3,0 |
7 |
80 |
0,5 |
1 |
LVPIII |
Ap |
0-0,18 |
4,8 |
3,8 |
0,9 |
0,6 |
0,18 |
0,03 |
0,7 |
6,3 |
8,7 |
19 |
29 |
22,8 |
2 |
BA |
-0,36 |
4,8 |
4,0 |
0,5 |
0,03 |
0,02 |
1,3 |
4,1 |
5,9 |
8 |
72 |
8,1 |
1 |
Bw1 |
-0,80 |
4,8 |
4,1 |
0,4 |
0,02 |
0,01 |
1,0 |
3,4 |
4,8 |
8 |
71 |
5,0 |
1 |
Bw2 |
-1,24 |
4,8 |
4,1 |
0,3 |
0,02 |
0,01 |
0,9 |
3,2 |
4,4 |
7 |
75 |
2,7 |
1 |
2Bw3 |
-1,66 |
4,8 |
4,1 |
0,2 |
0,02 |
0,01 |
0,9 |
2,2 |
3,3 |
6 |
82 |
2,3 |
1 |
3CB |
-2,87 |
4,6 |
4,1 |
0,3 |
0,02 |
0,01 |
0,6 |
1,5 |
2,4 |
12 |
67 |
1,4 |
1 |
4C |
-
3,30+ |
4,8 |
4,2 |
0,3 |
0,01 |
0,01 |
0,6 |
1,7 |
2,6 |
11 |
67 |
0,7 |
1 |
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol III (Eixo 3 -
Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
Os
solos estudados têm reação fortemente
ácida, com valores de pH em água mais altos
do que pH em KCl, resultando em .pH negativo em todos os perfis,
mostrando uma capacidade de troca dominantemente catiônica.
Os valores de pH apresentam-se bastante homogêneos nos
horizontes individualizados nos pedons, bem como entre os
perfis. Os valores de CTC da fração argila dos
horizontes B variam de 6,15 a 9,36 cmolc Kg-1 argila, indicando
uma atividade baixa.
Os
difratogramas de raios X da fração argila evidenciam
a dominância das caulinitas em relação
aos outros argilominerais, com reflexos pronunciados a 0,72
nm, dado este compatível com os valores de Ki, que
são bastante homogêneos e variam de 1,37 a 1,73
(Tabela 19) e goethitas (0,41 nm).
No
perfil LVPI (Figura 160) foram constatadas ilitas em todos
os horizontes analisados, com pequenos reflexos a 1,0 nm,
que se mantiveram após saturação com
K e aquecimento até 500ºC, e gibbsitas, com reflexo
a 0,48 nm, sendo que as reflexões desta última
foram ligeiramente mais intensas para os horizontes do solum
que o do embasamento cristalino alterado. As ilitas estão
associadas ao acentuado transporte de material em superfície
na linha de cristas onde se encontra o perfil LVPI, já
referido, acarretando na significativa contribuição
de micas do embasamento cristalino alterado para os horizontes.
No perfil LVPII (Figura 161 e Figura 162) há predomínio
das caulinitas, com goethita como acessório em todos
os horizontes, e as gibbsitas aparecendo somente nos horizontes
do solum. No perfil LVPIII (Figura 163 e Figura 164) há
predomínio de caulinita e a gibbsita ocorre como acessório
em todos os horizontes analisados.
Tabela
19 - Ataque sulfúrico e relações moleculares
- perfis LVPI, LVPII e LVPIII do ponto 8, junto ao córrego
do Lava-pés, Bananal (SP).
Hor. |
Prof.
M |
Ataque por H2SO4(1:1) - NaOH (0,8%)
g Kg-1 |
SiO2
Al2O3
Ki |
SiO2
R2O3
Kr |
A l 2O3
Fe2O3 |
SiO2 |
Al2O3 |
Fe2O3 |
TiO2 |
LVPI |
Ap |
0-0,13 |
116 |
135 |
43 |
4,8 |
1,46 |
1,21 |
4,93 |
BA |
-0,33 |
151 |
186 |
57 |
6,3 |
1,38 |
1,15 |
5,12 |
Bw1 |
-0,64 |
167 |
193 |
63 |
6,7 |
1,47 |
1,22 |
4,81 |
Bw2 |
-1,22 |
156 |
194 |
66 |
6,5 |
1,37 |
1,12 |
4,61 |
Bw3 |
-1,67 |
158 |
204 |
65 |
6,7 |
1,32 |
1,09 |
4,93 |
Bw4 |
-2,40 |
158 |
202 |
62 |
6,6 |
1,33 |
1,11 |
5,12 |
2BC |
-2,60 |
151 |
144 |
58 |
5,3 |
1,78 |
1,42 |
3,90 |
3C |
-3,60 |
162 |
174 |
62 |
6,2 |
1,58 |
1,29 |
4,41 |
LVPII |
Ap |
0–0,17 |
190 |
197 |
50 |
5,9 |
1,64 |
1,41 |
6,19 |
A2 |
-0,41 |
169 |
178 |
49 |
5,5 |
1,61 |
1,37 |
5,70 |
BA |
-0,64 |
192 |
203 |
52 |
5,9 |
1,61 |
1,38 |
6,13 |
Bw1 |
-1,34 |
208 |
206 |
56 |
6,2 |
1,72 |
1,46 |
5,78 |
Bw2 |
-2,19 |
210 |
213 |
57 |
6,0 |
1,68 |
1,43 |
5,87 |
2C1 |
-2,40 |
218 |
210 |
45 |
4,5 |
1,76 |
1,55 |
7,33 |
2Cr |
3,95+ |
200 |
198 |
58 |
5,3 |
1,72 |
1,45 |
5,36 |
LVPIII |
Ap |
0-0,18 |
123 |
121 |
25 |
4,9 |
1,73 |
1,53 |
7,60 |
BA |
-0,36 |
157 |
17 |
36 |
6,2 |
1,5 |
1,38 |
7,46 |
Bw1 |
-0,80 |
163 |
166 |
37 |
8,3 |
1,67 |
1,46 |
7,04 |
Bw2 |
-1,24 |
146 |
165 |
32 |
5,9 |
1,50 |
1,34 |
8,10 |
2Bw3 |
-1,66 |
160 |
173 |
36 |
5,5 |
1,57 |
1,39 |
7,54 |
2CB |
-2,87 |
126 |
128 |
19 |
3,5 |
1,67 |
1,53 |
10,58 |
4C |
-
3,30+ |
137 |
133 |
15 |
4,3 |
1,75 |
1,63 |
13,92 |
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol III (Eixo 3 -
Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.

Figura 160 - Difratogramas de raios X da fração
argila orientada de amostra natural dos horizontes Ap, Bw2
e 3C do perfil LVPI e sob tratamentos com potássio
(K-25, 110, 350 e 550º C), magnésio e magnésio+etileno
glicol..
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.

Figura 161 - Difratogramas
de raios X da fração argila orientada de amostra
natural dos Horizonte Ap e sub-horizonte Bt2 do perfil LVPII
e sob tratamentos com potássio (K-25, 110, 350 e 550º
C) magnésio e magnésio+etileno glicol.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 162 - Difratogramas
de raios X da fração argila orientada de amostra
natural dos horizonte Ap e sub-horizonte Bt2 do perfil LVPII
e sob tratamentos com potássio (K-25, 110, 350 e 550º
C) magnésio e magnésio+etileno glicol.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.

Figura 163 - Difratogramas
de raios X da fração argila orientada de amostra
natural dos horizonte Ap e sub-horizonte Bw2 do perfil LVPIII
e sob tratamentos com potássio (K-25, 110, 350 e 550º
C) magnésio e magnésio+etileno glicol.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.

Figura 164 - Difratogramas
de raios X da fração argila orientada de amostra
natural do horizonte 2Bw3 do perfil LVPIII e sob tratamentos
com potássio (K-25, 110, 350 e 550º C) magnésio
e magnésio+etileno glicol.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol III
(Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)", IGEO/UFRJ.
A
análise da distribuição da relação
Titânio/argila em profundidade (Figura 165) evidencia
um comportamento aproximadamente constante no solum dos perfis
LVPI e LVPII, verificando-se um ligeiro incremento para os
horizontes C, e aumento significativo desta relação
em direção aos horizontes Cr. No perfil LVPIII,
entretanto, além de confirmar a descontinuidade de
material de origem com o embasamento, a curva apresenta um
incremento marcante no sub-horizonte Bw1, não identificada
nas análises granulométricas, indicando variação
nos materiais de origem. O aumento observado na parte superior
dos perfis LVPII e LVPIII indica a perda de argila em superfície,
já referida.

Figura 165 - Variação
em profundidade da relação Titânio/argila
- perfis LVPI, LVPII e LVPIII do Ponto 8, junto à localidade
Córrego do Lava-pés, Bananal (SP).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol III (Eixo 3 - Geomorfologia e Solos)",
IGEO/UFRJ.
Com
base no conjunto das características morfológicas,
físicas, químicas e mineralógicas observadas,
o perfil LVPI foi classificado como LATOSSOLO VERMELHOAMARELO
distrófico típico, o perfil LVPII como LATOSSOLO
AMARELO distrófico típico, e o perfil LVPIII
como LATOSSOLO AMARELO coeso típico.
6.5. RECURSOS
HÍDRICOS
- topo
6.5.1.
Hidrologia - Águas Continentais
- topo
Este
capítulo compreende a exposição e análise
dos dados e informações reunidos e produzidos
no âmbito destes estudos, passíveis de subsidiar
as avaliações sobre os impactos da usina Angra
3 nos corpos hídricos de superfície.
A
metodologia utilizada fundamentou-se na adoção
da bacia hidrográfica como unidade espacial de análise
integrada das dinâmicas hidrológica, de sedimentação
e da qualidade das águas, ancorada na abordagem sistêmica
de estudo dos processos geomorfológicos fluviais. Nessa
perspectiva, a interação encosta/calha fluvial
constitui base fundamental para investigação
e interpretação de processos físicos
e químicos associados à dinâmica das águas
de superfície.
A
instituição da bacia hidrográfica como
unidade de planejamento e gestão dos recursos hídricos,
através da Lei 9.433 (1997) - "Lei das Águas",
que criou a Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH), configura outro importante fator para a utilização
desse recorte espacial nos estudos realizados. A implementação
dos princípios da nova legislação e o
novo arranjo institucional criado devem ser considerados pelo
empreendedor no planejamento e gerenciamento dos recursos
hídricos que serão utilizados pela usina Angra
3, uma vez que o cenário formado tem levado à
tendência do uso negociado e compartilhado da água.
Os
estudos efetuados tiveram por objetivo caracterizar os recursos
hídricos superficiais nas Áreas de Influência
Direta e Indireta da usina Angra 3, compreendendo:
•
A individualização e caracterização
das bacias hidrográficas nas áreas de influência
do empreendimento;
•
A avaliação integrada do regime fluvial e
da pluviosidade, com vistas à definição
de condições propícias à ocorrência
de enchentes;
•
A avaliação da qualidade das águas
de cursos fluviais representativos dos padrões de
uso e cobertura dos solos reconhecidos, visando identificar
a situação atual de degradação
e/ou conservação desse recurso;
•
A avaliação do quadro atual e tendências
de utilização dos recursos hídricos
de superfície em face das mudanças ocorridas
no uso e cobertura do solo.
Tais
estudos buscaram fornecer suporte para o estabelecimento de
diretrizes e medidas que irão garantir o atendimento
das necessidades do empreendimento a curto, médio e
longo prazos, considerando sua inserção na região
e os impactos ambientais conseqüentes.
6.5.1.1.
Metodologia
- topo
Individualização
e caracterização das bacias hidrográficas
A
individualização e caracterização
das bacias hidrográficas nas Áreas de Influência
Direta e Indireta da usina Angra 3 foram realizadas a partir
da base cartográfica em escala 1:50.000 (IBGE), do
mapa de compartimentação morfoestrutural.
Foram
individualizadas todas as bacias (de 0 a n ordem) que
drenam para o litoral (bacias litorâneas) compreendidas
na Área de Influência Indireta (AII). No caso
das bacias interiores, foram delimitadas as bacias afluentes
diretas do rio Paraíba do Sul, dos rios Paraibuna e
Paraitinga (seus principais formadores no Domínio de
Planalto), e dos reservatórios de Funil (rio Paraíba
do Sul) e Ribeirão das Lajes. Os segmentos de encostas
retilíneas e convexas existentes entre os limites de
bacias também foram individualizados segundo suas linhas
divisoras de águas principais. A delimitação
das bacias hidrográficas encontram-se expostas no Anexo
18.
O
mapa de bacias hidrográficas elaborado foi então
cruzado com o mapa de compartimentação morfoestrutural
confeccionado na mesma escala (folhas Angra dos Reis, Bananal,
Campos de Cunha, Cunha, Cunhambebe, Ilha Grande, Itaguaí,
Mangaratiba, Marambaia, Parati, Rio Mambucaba, São
José do Barreiro e Volta Redonda). e com o mapa de
declividade, visando à caracterização
geomorfológica das bacias. Os cálculos dos percentuais
ralativos às classes de desnivelamento altimétrico
foram obtidos através do cruzamento das áreas
das bacias com os compartimentos de relevo.
6.5.1.1.1.
Levantamento e análise de dados plúvio e fluviométricos
- topo
O
tratamento aplicado aos dados levantados buscou fundamentar
o conhecimento do comportamento dos processos hidrológicos,
objetivando, em última instância, fornecer subsídios
para o gerenciamento dos recursos hídricos nas áreas
de influência do empreendimento. As análises
realizadas enfocaram a variabilidade das condições
hidrológicas uma vez que as situações
de abundância e escassez relativa mostram-se de extrema
importância na região considerada, vinculando-se
aos processos de enchentes e aos problemas de abastecimento
de água potával à população.
Os
dados de precipitação analisafos foram obtidos
de duas fontes principais:
•
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), compreendendo
as normais climatológicas dos períodos de
1931 a 1960 e de 1961 a 1990, oriundos da estação
meteorológica gerenciada por esse órgão
situada na cidade de Angra dos Reis;
•
Agência Nacional de Águas (ANA), que forneceu
as séries históricas das estações
operadas pela Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais
(CPRM) situadas nas AID e AII do empreendimento (Tabela
21).
As
normais climatológicas analisadas corresponderam à
precipitação total mensal e anual, cujos dados
auxiliaram na caracterização do regime de chuvas
na região considerada, assim, como as normais de precipitação
máxima em 24 horas, dada a sua importância para
o dimensionamento das condições que levam a
episódios de enchentes.
As séries históricas fornecidas pela ANA abrangem
dados mensais e diários de precipitação
e vazão, o que a princípio permite o detalhamento
do comportamento da pluviosidade e/ou do regime de vazões
dos cursos d' água nos locais em que se situam. No
entanto, essas séries possuem inúmeros problemas
tanto no que diz respeito a falta de dados relativos a alguns
meses como no tocante ao tratamento de consistência
de dados, tendo sido observadas lacunas no preenchimento de
valores de vários dias ou mesmo de meses inteiros não
só nos dados brutos mas também naqueles classificados
como consistidos.
Desse
modo, para uma análise mais detalhada do comportamento
da precipitação visando à avaliação
das condições propícias à ocorrência
de enchentes, foram selecionadas três estações
pluviométricas situadas mais próximas às
três estações fluviométricas existentes
na área considerada para estudo (Tabela 22), e, para
essas estações selecionados alguns anos, dentre
aqueles que apresentavam a série completa e consistida,
com totais pluviométricos anuais e vazão média
anual mais baixos e mais elevados, sendo eles, respectivamente,
os anos de 1990 (mais baixos) e 1985 e 1996 (mais elevados),
conforme observado nas figuras abaixo (Figura 166 a Figura
168).
Tabela
20 - Estações pluviométricas, fluviométricas
e de qualidade de águas idêntificadas nas AID
e AII do empreendimento
Clique aqui para visualizar a tabela 20
Fonte: ANA / "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol II (Eixo 2 -
Geologia e Recursos Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Tabela
21 - Estações plúvio e fluviométricas
selecionadas para análises detalhadas
Nome |
Tipo de Estação |
Bacia Hidrográfica |
Fazendas das Garrafas |
Plúvio e fluviométrica |
alto curso do Rio Mambucaba |
Fazenda Fortaleza |
Fluviométrica |
baixo curso do Rio Mambucaba |
Vila Mambucaba |
Pluviométrica |
baixo curso do Rio Mambucaba |
Parati |
Fluviométrica |
Rio Perequê-Açu |
São Roque |
Pluviométrica |
Rio Perequê-Açu |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 166 - Série histórica
de dados consistidos de valores médios de vazão
para a estação fluviométrica Fazenda
das Garrafas (alto curso do Rio Mambucaba), localizada no
município de São José do Barreiro (SP),
serra da Bocaina, destacando os anos com vazões médias
anuais mais elevadas (1985, 1986, 1996) e mais baixa (1990).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 167 - Série histórica
de dados consistidos de valores médios de vazão
para a estação fluviométrica Fazenda
Fortaleza (baixo curso do Rio Mambucaba), localizada no município
de Angra dos Reis (RJ), destacando os anos com vazões
médias anuais mais elevadas (1947, 1957, 1966 e 1996)
e mais baixa (1990).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 168 - Série histórica de dados consistido
de valores médios de vazão para a estação
fluviométrica Parati (Rio Perequê-Açu),
localizada no município de Parati (RJ), destacando
os anos com vazões médias anuais mais elevadas
(1975, 1985, 1988 e 1996) e mais baixa (1990).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Os
dados dessas estações foram acessados, avaliados
e trabalhados mediante a realização de cálculos
e gráficos e, ainda, submetidos a análises estatísticas
(obtenção de parâmetros como média,
desvio-padrão, mediana e moda), executadas para o conjunto
das estações pluviométricas e fluviométricas.
As
análises de freqüência de chuvas para a
série histórica das estações foram
também efetuadas empregando-se as classes recomendadas
pelo INMET: 0-2,5 mm, 2,5-5 mm, 5-10 mm, 10-15 mm, 15-25 mm,
25-50 mm, 50-100 mm e >100 mm. No caso das estações
selecionadas para estudos detalhados (para os anos 1985, 1990
e 1996), as classes de freqüência a partir de 50
mm foram subdivididas em intervalos de 25 mm, constituindo
as seguintes classes: 50-75 mm, 75-100 mm, 100-125 mm, 125-150
mm, 150-175 mm, 175-200 mm e >200 mm.
Para
as estações pluviométricas selecionadas,
efetuou-se também a análise da ocorrência
de dias consecutivos de chuva, que foi avaliada em conjunto
com a freqüência de precipitações
moderadas e elevadas. Foram realizadas correlações
estatísticas entre os dados diários de pluviosidade
dessas estações e os dados de vazão,
buscando-se avaliar a relação precipitação/vazão
nas bacias abrangidas pelas estações selecionadas.
Com
base nos dados de vazão dos rios Mambucaba e Perequê-Açu,
foram confeccionadas curvas de permanência, visando
detectar a freqüência dos diferentes valores de
vazão observados na série histórica.
As curvas de permanência foram construídas com
base nos dados diários, de modo a subsidiar tanto a
avaliação dos episódios de enchentes
como das vazões mínimas, aspecto fundamental
para o abastecimento de água na região.
Procedeu-se,
ainda, a um levantamento das ocorrências de enchentes
nos livros de registro de atendimento da Defesa Civil Municipal
de Angra dos Reis, a fim de estabelecer relações
entre os eventos de enchentes e os dados de chuva e vazão
documentados nas estações analisadas. A partir
desse levantamento, foram confeccionados, para os meses com
registro de enchentes, gráficos relacionando os dados
diários de vazão e precipitação.
6.5.1.2.
Caracterização das bacias hidrográficas
- topo
6.5.1.2.1.
Aspectos geobiofísicos
- topo
As
bacias hidrográficas compreendidas nos raios de 15
e 30 km a partir da CNAAA englobam dois conjuntos de sistemas
de drenagem:
•
aqueles que drenam para as diversas enseadas do recortado
litoral da baía de Ilha Grande;
•
um outro conjunto de bacias fluviais que constituem os tributários
de alguns dos afluentes da margem sul do rio Paraíba
do Sul, além dos cursos afluentes dos rios Paraibuna
e Paraitinga, os formadores do Rio Paraíba no domínio
de planalto. Integram as unidades hidrográficas estaduais
denominadas Bacia Hidrográfica da Baía de
Ilha Grande (RJ) e SP UGRHI-2 Paraíba do Sul (SP).
Através
da análise da compartimentação morfoestrutural
(Figura 169) e das declividades (Anexo 14) da áreas
de influência, observa-se que as bacias hidrográficas
litorâneas podem ser divididas em dois grupos principais,
considerando-se a distribuição espacial dos
compartimentos de dissecação do relevo:
•
o grupo das bacias que se encontram restritas à escarpa
da Serra do Mar o qual abrange as planícies fluviomarinhas
situadas a jusante (bacias dos rios Japuíba, da Guarda,
Floresta, São Gonçalo, etc.);
•
o das bacias cujos cursos fluviais principais capturam a
rede de drenagem dos compartimentos menos dissecados do
planalto, constituídos por morros e colinas, apresentando
geralmente maior extensão que o primeiro grupo (bacias
dos rios Mambucaba, Paca Grande-Bracuí e Ariró).
•
Pressões sobre os recursos hídricos pelo uso
e ocupação do solo
A
história de ocupação e uso do solo na
região em estudo responde pelas principais características
do padrão atual de uso da terra e das alterações
ambientais registradas ao longo das últimas décadas.
Na região da bacia da baía de Ilha Grande, a
base econômica sofreu mudanças importantes ao
longo dos últimos 30 anos, com o incremento das atividades
industriais e, mais recentemente, com o domínio do
setor de serviços, especialmente da construção
civil e turismo, refletindo-se no uso da terra e na organização
do espaço. O crescimento das aglomerações
e ocupações irregulares por população
de baixa renda, em contraposição aos condomínios
fechados e vilas planejadas, constitui um dos contrastes mais
marcantes desse padrão de expansão urbana, aumentando
as demandas de abastecimento de água, infra-estrutura
sanitária e de equipamentos urbanos e associando-se
a pressões diversificadas sobre os recursos naturais
(flora, fauna, água, solos, etc.).
Figura
169 - Compartimentação morfoestrutural
das bacias hidrográficas da AII e AID
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Esse
quadro denota a necessidade não só de ações
voltadas ao estabelecimento de diretrizes e ao planejamento,
mas também à gestão dos recursos hídricos
disponíveis, a partir do estabelecimento de metas e
ações de curto, médio e longo prazos.
É
importante destacar que as características geomorfológicas
da região da baía da Ilha Grande influenciam
decisivamente no padrão de expansão da ocupação
urbana ao longo das principais rodovias, resultando em áreas
de adensamento variável, relativamente afastadas, ocupando
preferencialmente as planícies fluviais, bem como as
encostas adjacentes aos vales principais e à rede viária.
Essas populações utilizam-se dos mananciais
hídricos abundantes e sofrem, ao mesmo tempo, os impactos
do desmatamento e ocupação desordenada, responsáveis
pela deterioração das condições
de qualidade e quantidade dos cursos fluviais, especialmente
significativos nas pequenas bacias hidrográficas.
Na
Tabela 22 encontram-se listados os principais processos de
degradação ambiental com reflexos sobre os recursos
hídricos identificados nesta região. Verifica-se,
a partir dos aspectos expostos, um contexto propício
ao surgimento de novos conflitos pelo uso dos recursos hídricos,
além do agravamento daqueles já existentes,
tendo em vista os interesses e demandas dos diferentes grupos
sociais que atuam na área (Figura 170).

Figura 170 - Esquema ilustrativo dos diferentes atores
sociais envolvidos no uso e apropriação dos
recursos hídricos nas bacias hidrográficas litorâneas
da AII.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Tabela
22 - Processos de degradação, principais atividades
relacionadas e reflexos sobre os recursos hídricos
das bacias hidrográficas litorâneas inseridas
na AII.
Processo |
Principais atividades relacionadas |
Reflexos sobre os recursos hídricos |
Desmatamento |
Extração de palmito, lenha, madeira de lei, atividades agrícolas (plantio da banana, especialmente), pecuária. |
Diminuição da capacidade de infiltração (aumento do runoff), comprometimento da produção e da qualidade das águas, assoreamento dos corpos hídricos superficiais, aumento da instabilidade das encostas e enchentes. |
Expansão urbana |
Estabelecimento de moradias de baixa renda, casas de veraneio, estabelecimentos hoteleiros, condomínios de luxo, estabelecimentos industriais, comerciais e de prestação de serviços. |
Poluição hídrica (lançamento de esgoto in natura e de resíduos sólidos nos corpos d’água), aumento da demanda sobre os recursos hídricos, estrangulamento e assoreamento dos cursos d’água, enchentes. |
Destruição de manguezais |
Aterramentos para instalação de construções |
Alterações nos padrões de drenagem e de penetração das águas marinhas, além da capacidade de retenção de sedimentos. |
Captação não-ordenada de recursos hídricos |
Abastecimento humano, dessedentação de animais, atividades de lazer, uso industrial, irrigação, “carros-pipa”. |
Significativa diminuição sazonal dos volumes d’água nos corpos hídricos. |
Extração de areia |
Utilização na construção civil. |
Alargamento dos canais fluviais, mudanças na hidrodinâmica dos cursos d’água e agravamento do assoreamento. |
Disposição inadequada dos resíduos sólidos |
- |
Contaminação dos corpos d’água e lençóis freáticos. |
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ - com base no Relatório de Diagnóstico
Ambiental da Baía da Ilha Grande -MMA/Sema-RJ (1997),
e observações de campo.
Situados
na zona de interface imediata entre as dinâmicas fluvial
e costeira, os manguezais figuram como um dos principais ecossistemas
impactados nas bacias hidrográficas litorâneas
(Tabela 23), uma vez que têm sido o alvo principal do
crescimento urbano desordenado e dos diversos empreendimentos
turísticos e industriais instalados no Domínio
das Planícies Costeiras. São considerados ecossistemas
extremamente importantes não só para a sustentação
da pesca, mas também, especialmente, para a manutenção
da qualidade das águas costeiras.
Tabela
23 - Situação dos manguezais na bacia da baía
da Ilha Grande
Localidade |
Situação dos manguezais |
Monsuaba |
Estreita faixa, tendo sido a maior parte aterrada para a instalação da
Vila de Monsuaba dos funcionários da Petrobras, no inicio da década
de 1970. |
Jacuecanga |
Completamente eliminado em virtude da instalação do estaleiro
Brasfels e demais dependências na década de 1950. |
Praia da Chácara |
Praticamente eliminado pela expansão do bairro do Balneário, sendo
em parte recuperado a partir de 1989 através de plantio induzido. |
Retiro |
Completamente eliminado pela expansão imobiliária. |
Japuíba |
Área parcialmente ocupada pelas instalações do aeroporto de Angra
dos Reis e por população de baixa renda, apresentando ainda
expressiva formação de mangues. |
Gamboa |
Parcialmente aterrado pela instalação de loteamento seccionado pela
abertura da rodovia BR-101, que vem sendo assoreado em virtude
da saibreira situada a montante da rodovia. |
Pontal |
Parcialmente aterrado para a instalação de loteamentos, marinas e
hotéis, apresentando ainda significativa formação de manguezais
naturais, bem como de parcela de manguezais recuperados. |
Ariró-Jurumirim |
É o maior dos mangues continentais da região, apresentando as
melhores condições ambientais e conservando a maioria de suas
características originais; sofre reflexos da retificação do rio
Jurumirim. |
Itanema |
Parcialmente aterrado para a instalação dos empreendimentos
imobiliários Porto Itanema, Porto Marisco e de estaleiro, porém
ainda expressivo. |
Bracuí /Cansado |
Um dos maiores mangues do município de Angra dos Reis,
parcialmente desmatado, dragado e aterrado, visando a instalação de
grande loteamento e marina. |
Bracuí |
Completamente aterrado para instalação de loteamento e marina de
mesmo nome. |
Saco do Bracuí |
Parcialmente impactado pela construção de via de acesso ligando a
BR-101 ao loteamento da Ilha do Jorge; apresenta sinais de
recuperação natural, mas com alteração de suas comunidades
vegetais. |
Ponta do Quitumba |
Parcialmente aterrado visando a instalação de loteamento. |
Frade |
Completamente aterrado para a instalação de dependências hoteleiras
e do loteamento associado. |
Mambucaba |
Parcialmente aterrado pelas obras de dragagem do Rio Mambucaba
na década de 1970, atualmente sofre intervenções devidas ao hotel
situado no local que tenta desenvolver atividades de ecoturismo
associadas a presença do manguezal. |
Saco Grande |
Apresenta interferência física introduzida pela BR-101. |
Mangue do Tu |
Apresenta situação semelhante a do mangue do Saco Grande. |
Jabaquara |
Parcialmente aterrado para a instalação de loteamentos e cortado por
via de acesso que liga a Praia do Jabaquara à BR-101. |
Terra Nova |
Desenvolvido em frente ao centro histórico de Parati, gerou o
comprometimento visual do conjunto arquitetônico tombado; foi
cortado pela Prefeitura sob condições polêmicas. |
Ilha das Cobras |
Praticamente 100% de sua área original foi aterrada visando à
instalação do aeroporto e de suas residências. |
Boa Vista |
Mangue cortado pela BR-101 e aterrado parcialmente visando à
instalação de marina. |
Parati-Mirim |
Sofre problemas associados à presença de quiosques, situados sobre
a restinga, que o utilizam fisicamente como área de armazenamento,
e tem sido aterrado para construção de segundas residências. |
Saco Grande e Saco do
Fundão |
Sem informações. |
Caetana/Meros/Turvos/Itatinga |
Vem sofrendo perturbações pela presença de vazadouro de lixo de
Parati, situado junto à BR-101, que despeja chorume sobre a
planície contígua ao mangue. |
Mamanguá |
Não sofre praticamente grandes perturbações
caranguejos, a exemplo dos outros. |
Praia do Sul e do Leste |
Manguezal de franja localizado na Ilha Grande, que recobre as
margens de ambas as lagunas, caracterizando-se como o menos
perturbado de todo o Litoral Sul Fluminense. Toda a sua área se
inclui na Reserva Biológica da Praia do Sul. |
Fonte: Relatório
de Diagnóstico Ambiental da Baía de Ilha Grande
- MMA/Sema-RJ (1997).
Na
área de influência da CNAAA, o crescimento urbano,
a diversificação dos serviços e a expansão
do turismo têm reflexos significativos sobre a demanda
e disponibilidade hídricas. As mudanças no perfil
das atividades econômicas tendem a produzir alterações
no tipo e volume de consumo de água. Os dados expostos
na Figura 171, demonstram que, para o período entre
1998 e 2000, ocorreu um pequeno decréscimo no consumo
total de água na Região da Baía da Ilha
Grande tendência também verificada nos setores
industrial, comercial e público, acompanhada, em contrapartida,
pelo acréscimo do consumo residencial de água.
Enquanto as quedas no consumo total, industrial, comercial
e público neste curto intervalo podem estar relacionadas
a reduções devido a medidas de racionamento
e economia de água e energia elétrica, e/ou
à redução do número de estabelecimentos,
o aumento do consumo residencial evidencia, em certa medida,
o crescimento populacional e urbano, já apontado.

Figura 171 - Consumo faturado
de água, segundo categorias, para os municípios
de Parati e Angra dos Reis (1998 e 2000).
Fonte: Anuário Estatístico do Estado
do Rio de Janeiro, 1998 e 2000.
Nas
bacias compreendidas nas AID e AII, as principais formas de
usos dos recursos hídricos correspondem ao abastecimento
urbano (cidades, vilas e povoados), o abastecimento rural,
o consumo industrial e a dessedentação de animais,
na categoria de usos consuntivos. No que diz respeito aos
usos não-consuntivos, os principais usos são
a recreação, o lazer e o turismo, a assimilação
de esgotos e efluentes, a manutenção da biodiversidade
fluvial e as atividades de mineração.
Nas
bacias litorâneas situadas na área de influência
do empreendimento, não há informações
sistematizadas quanto aos principais usuários dos recursos
hídricos. As companhias de águas e saneamento
e os principais empreendimentos marítimos e industriais
- o Tebig/Petrobras, o estaleiro Brasfels e o Porto
de Angra dos Reis, seguidos das usinas nucleares Angra 1 e
2, figuram como os usuários mais importantes. Apesar
da pulverização dos sistemas de captação
de águas na parte continental e nas ilhas voltados
ao abastecimento de povoados, empreendimentos hoteleiros,
marinas, clubes náuticos e condomínios, além
dos núcleos urbanos, estes devem ser considerados em
seu conjunto como um importante grupo de usuários.
No
que diz respeito às bacias tributárias dos afluentes
e/ou cursos fluviais formadores do rio Paraíba do Sul,
tem-se um quadro bastante distinto no tocante às atividades
econômicas, ao uso do solo, assim como à dinâmica
geomorfológica e, também, especialmente, quanto
à estruturação dos organismos de bacia.
O trecho que abrange a Área de Influência Indireta,
no médio curso do Paraíba do Sul, compreende
os municípios paulistas e fluminenses que integram
o corredor de ligação entre as duas maiores
metrópoles do Sudeste brasileiro.
A
região do Médio Vale do Paraíba fluminense
é, atualmente, a segunda área mais industrializada
do estado do Rio de Janeiro, com um parque industrial diversificado,
onde predominam as indústrias química, petroquímica,
mecânica, metalúrgica e a única indústria
aeronáutica do país. Na última década,
em face das mudanças dos padrões locacionais
das indústrias em diferentes escalas, esse eixo econômico
tem se apresentado como uma nova fronteira de investimentos
em alta tecnologia, sendo palco também da implementação
dos princípios e instrumentos da nova legislação
de águas (Lei 9.433/1997). A bacia do Rio Paraíba
do Sul constitui uma das bacias federais que serviram de esteio
para a formulação dessa Lei, tendo sido desenvolvidos
estudos voltados para a elaboração de diagnósticos
ambientais e para o monitoramento da qualidade das águas
desde a década de 1990, e possuindo um Comitê
de Bacia em pleno funcionamento que, recentemente, vem implementando
a cobrança pelo uso das águas.
A
redução no número de economias e ligações
faturadas de água constitui elemento a ser destacado
na análise do comportamento do consumo de água
neste período. A captação não
autorizada ou ilegal para uso residencial a partir das redes
públicas de distribuição, ou mesmo diretamente
das barragens construídas para captação
de água destinada ao abastecimento público,
foi constatada com freqüência nas localidades percorridas
durante os trabalhos de campo realizados. Além disso,
não há controle sobre as captações
efetuadas por propriedades privadas (residências, condomínios
etc), o que provavelmente tem favoreceido o seu aumento significativo.
Com
relação às formas de abastecimento de
água e ao tipo de esgotamento sanitário, Tabela
24, Tabela 25, Tabela 26 e Tabela 27 permitem observar os
padrões dominantes para domicílios particulares
permanentes da AID e AII, em 2000. Juntamente com o esgotamento
sanitário, o destino dado ao lixo (Tabela 28 e Tabela
29) representa importante fator de degradação
da qualidade dos corpos hídricos superficiais nas bacias
litorâneas.
Tabela 24 - Formas
de abastecimento de água, de domicílios particulares
permanentes, segundo os Microrregiões, Municípios,
Distritos, Subdistritos e Bairros da AID (2000).
Clique aqui para visualizar a tabela 24
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
(1) A indicação dos Subdistritos e Bairros ocorre
apenas para os Municípios que os possuem.
Tabela 25 - Forma
de abastecimento de água, de domicílios particulares
permanentes, segundo os Microrregiões, Municípios,
Distritos, Subdistritos e Bairros da AII (2000).
Clique aqui para visualizar a tabela 25
Fonte:
IBGE, Censo Demográfico 2000.
(1) A indicação dos Subdistritos e Bairros ocorre
apenas para os Municípios que os possuem.
Tabela 26 - Existência
de banheiro ou sanitário e tipo de esgotamento sanitário,
em domicílios particulares permanentes, segundo as
Mesorregiões, as Microrregiões, os Municípios,
os Distritos, os Subdistritos e os Bairros da AID (2000).
Clique aqui para visualizar a tabela 26
Fonte:IBGE, Censo Demográfico 2000.
(1) A indicação dos Subdistritos e Bairros ocorre
apenas para os Municípios que os possuem.
Tabela 27 - Existência
de banheiro ou sanitário e tipo de esgotamento sanitário,
em domicílios particulares permanentes, segundo as
Mesorregiões, as Microrregiões, os Municípios,
os Distritos, os Subdistritos e os Bairros da AII (2000).
Clique aqui para visualizar a tabela 27
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
(1) A indicação dos Subdistritos e Bairros ocorre
apenas para os Municípios que os possuem.
Tabela 28 - Destino
do lixo, de domicílios particulares permanentes, segundo
as Mesorregiões, as Microrregiões, os Municípios,
os Distritos, os Subdistritos e os Bairros da AID (2000).
Clique aqui para visualizar a tabela 28
Fonte: IBGE, Censo Demográfico
2000.
(1) A indicação dos Subdistritos e Bairros ocorre
apenas para os Municípios que os possuem.
Tabela 29 - Destino
do lixo, de domicílios particulares permanentes, segundo
as Mesorregiões, as Microrregiões, os Municípios,
os Distritos, os Subdistritos e os Bairros da AII (2000).
Clique aqui para visualizar a tabela 29
Fonte:
IBGE, Censo Demográfico 2000.
(2) A indicação dos Subdistritos e Bairros ocorre
apenas para os Municípios que os possuem.
No
município de Angra dos Reis, os sistemas e a rede de
captação de água para abastecimento público
são controlados pelo Serviço Autônomo
de Água e Esgotos (SAAE) municipal, e apresenta muitos
problemas. O abastecimento é feito por 56 sistemas
de captação (Tabela 36), em sua grande maioria
situados no alto curso e/ou próximo às nascentes
de rios de pequeno porte, onde foram construídas pequenas
barragens e "reservatórios" onde a água
captada é tratada e distribuída para as edificações
próximas. Segundo o PMAR (1999), 40% da população
de Angra dos Reis é abastecida pelo sistema de Banqueta,
no rio Japuíba, 40% por outros sistemas da prefeitura,
18% por sistemas particulares, pertencentes a condomínios,
hotéis, vilas de funcionários de empresas (Eletronuclear,
TEBIG, BRASFELS etc), e 2% não usufruem água
distribuída da rede.
Tabela 30 - Sistemas
de captação de água no Município
de Angra dos Reis (RJ).
BAIRRO/SISTEMA |
TIPO |
VOLUME DO
RESERVATÓRIO* |
Ariró |
Barragem |
Não possui |
Bracuí |
Bomba de sucção |
10 m3 |
Santa Rita do Bracuí |
Barragem |
Não possui |
Gamboa do Bracuí |
Barragem |
50 m3 |
Sertãozinho/Frade |
Barragem |
340 m3 |
Morro da Constança/Frade |
Barragem |
30 m3 |
Costão/Frade |
Barragem |
100 m3 |
Morro da Pedreira/Frade |
Barragem |
50 m3 |
Praia Vermelha |
Barragem |
Não possui |
Vila Histórica |
Barragem |
30 m3 |
Boa Vista |
Barragem |
120 m3 |
Itapicu/Perequê |
Barragem |
360 m3 |
Lambicada |
Barragem |
Não possui |
Garatucaia |
Barragem |
Não possui |
Praia do Machado |
Barragem |
Não possui |
Caputera |
Barragem |
120.000 m3 |
Camorim Grande |
Barragem |
Não possui |
Camorim Pequeno |
Barragem |
Não possui |
Monsuaba |
Barragem |
Não possui |
Galloway/Monsuaba |
Barragem |
126 m3 |
Bonfim |
Barragem |
43 m3 |
Sap I/Toca do Morcego |
Barragem |
Não possui |
Monte Castelo |
Barragem |
42 m3 |
Sap. II Monte Castelo |
Barragem |
Não possui |
Sap. III |
Barragem |
100 m3 |
Morro do Carmo |
Derivação da rede Cedae |
24 m3 |
Morro Caixa D’água |
Barragem |
Não possui |
Morro Caixa D’água/Captação da
Júlia |
Barragem |
Não possui |
Morro Caixa D’água/Santo
Antônio |
Barragem |
19 m33 |
Morro da Carioca |
Nascente |
4 m3 |
Carioca |
Não possui |
800 m3 |
Abel |
Não possui |
800 m3 |
Santo Antônio |
Barragem |
42 m3 |
Sap. I |
Barragem |
50 m3 |
Morro do Peres |
Derivação da rede Cedae |
30 m3 |
Praia Grande Araçatiba |
Barragem |
25 m3 |
Passa Terra |
Barragem |
Não possui |
Matariz |
Barragem |
5 m3 |
Bananal |
Barragem |
20 m3 |
Abraão |
Barragem |
8 m3 |
Abraão/Morro do Cemitério |
Barragem |
6 m3 |
Abraão/Morro da Encrenca |
Barragem |
20 m3 |
Praia de Provetá |
Barragem |
Não Possui |
Praia Vermelha |
Barragem |
Não Possui |
Japuíba |
Barragem |
Não Possui |
Morro das Velhas |
Barragem |
20 m3 |
Pró-Morar |
Barragem |
Não Possui |
Area |
Barragem |
25 m3 |
Campo Belo |
Derivação da rede Cedae |
100 m3 |
Campo Belo II |
Barragem |
Não Possui |
Serra D’água |
Barragem |
18 m3 |
Belém |
Barragem |
15 m3 |
Fonte: SAAE/Angra
dos Reis.
* O termo reservatório refere-se ao local de armazenamento
das águas captadas dos rios, onde geralmente é
realizado o tratamento (filtragem e/ou cloração)
antes de sua distribuição.
Conforme
apontam FRANCISCO & CARVALHO (no prelo), as captações
estão localizadas em bacias com área inferior
a 5 km², predominando em bacias de 1ª e 2ª
ordem com área inferior a 2 km². Estes rios experimentam
um decréscimo considerável em suas vazões
por ocasião do período de estiagem (junho a
setembro) e sofrem intenso assoreamento durante os períodos
de chuvosos, especialmente quando suas bacias experimentam
mudanças significativas no uso e cobertura do solo.
As situações de extrema escassez de água
nos mananciais utilizados pelo SAAE/Angra dos Reis durante
a estiagem desencadeiam uma busca maciça por outros
mananciais próximos às estruturas de armazenamento
e distribuição já existentes, além
da intensificação do uso de caminhões-pipa
para abastecimento da população, em situações
de emergência. Suspensões temporárias
do fornecimento de água devido ao entupimento dos sistemas
de captação por sedimentos também são
freqüentes, durante os períodos chuvosos.
6.5.1.2.2.
Caracterização morfométrica das bacias
hidrográficas litorâneas inseridas na AID
- topo
As
bacias hidrográficas litorâneas compreendidas
na área analisada são constituídas por
sistemas hidrográficos que dissecam os compartimentos
de degraus escarpados e reafeiçoados da Serra do Mar,
apresentando dimensões bastante reduzidas (até
10 km2). As bacias dos rios Mambucaba e Bracuí correspondem
a sistemas hidrográficos associados às zonas
de maior recuo da escarpa da Serra do Mar, responsável
pelo rompimento dos divisores de águas naturais na
escarpa serrana, capturando a rede de drenagem dos compartimentos
menos dissecados do Planalto da Bocaina. Destacam-se pelas
dimensões acentuadamente maiores que as bacias restritas
ao domínio de escarpa, e apresentam grandes planícies
fluviais no seu baixo curso, construídas pela sedimentação
proveniente do trabalho erosivo na escarpa. Dentro da tipologia
de bacias hidrográficas proposta no Levantamento e
Diagnóstico Ambiental da Área de Influência
da Central Nuclear Almirante Álvaro Alverto -
Meio Físico, correspondem ao tipo D.
Dentro
do grupo de sistemas hidrográficos restritos à
escarpa serrana, as bacias dos rios São Gonçalo,
do Frade, Grataú, Florestão e Areia do Pontal
configuram um conjunto com dimensões intermediárias
(áreas entre 10 e 25 km2). As três primeiras
correspondem, na tipologia anteriormente proposta, ao tipo
C, caracterizado pela presença de planícies
de pequena extensão no baixo curso, e a bacia do rio
Areia do Pontal, ao tipo B, caracterizado por planícies
estreitas e segmentadas. Nas demais bacias, com áreas
predominantemente inferiores a 5 km2, não ocorre o
desenvolvimento de planícies fluviais, correspondendo
ao tipo A da tipologia.
As
características apontadas refletem-se no número
de nascentes (canais de 1ª ordem) das bacias hidrográficas
litorâneas analisadas. Podem ser individualizados 3
grupos principais de bacias, segundo a Magnitude:
->
as bacias que abarcam os sistemas de drenagem do planalto
(tipo D), com Magnitude superior a 40;
->
aquelas restritas à escarpa serrana, porém
com áreas maiores, apresentando Magnitudes entre
21 e 45 (tipos B e C);
->
as de dimensões mais reduzidas, com Magnitudes não
superiores a 20 (tipo A).
As
bacias hidrográficas litorâneas na área
analisada apresentam elevada densidade de canais em número
e extensão. Analisando-se estes dados juntamente com
os índices gerados para caracterização
da forma das bacias hidrográficas, percebe-se que apesar
da restrição física imposta pela escarpa
da Serra do Mar, as bacias apresentam uma conformação
predominantemente alongada, evidenciada pelos valores de Índice
entre o Comprimento e Área da Bacia superior a 1,2.
Além desta característica, ocorre o predomínio
de bacias com forma estrangulada, ou seja, significativamente
mais estreitas na sua foz, caráter verificado pelos
valores de Índice de Estrangulamento superiores a 2,5.
Ocorrem, também, secundariamente, bacias alongadas
com divisores aproximadamente paralelos, evidenciadas pelos
valores de Índice de Estrangulamento compreendidos
na faixa entre 0,009 e 2,5.
A
análise dos parâmetros morfométricos obtidos
para as bacias hidrográficas da AID evidenciam, portanto,
o predomínio de um padrão morfológico
caracterizado por bacias alongadas, estranguladas, de significativa
densidade de canais, possuindo áreas de contribuição
da drenagem formadora (canais de 1ª ordem) com elevada
declividade. Este padrão morfológico traduz-se
em condições de alta concentração
do escoamento a jusante das bacias, porém com comportamentos
variados quanto ao tempo de resposta da curva de vazão
às entradas de chuva, assim como no decaimento das
vazões após as chuvas, em função
da distribuição espacial e temporal dos eventos
de pluviosidade sobre a superfície destas bacias.
Estes
aspectos indicam a importância de se realizar estudos
hidrológicos mais detalhados neste tipo de ambiente,
visando a apreensão das variáveis controladoras
da variabilidade sazonal da disponibilidade hídrica
nos mananciais de pequenas bacias hidrográficas, que
constituem a grande maioria dos mananciais hídricos
da região considerada.
6.5.1.3.
Resultados dos estudos da dinâmica hidrológica
- topo
Na
investigação de situações de enchentes,
a bacia de drenagem é usada como uma entidade física
para medir o volume de água e de sedimentos produzidos
pelo escoamento superficial e processos de erosão,
realizando-se, para tanto, análises morfométricas
do canal fluvial e das bacias hidrográficas envolvidas.
Além dos parâmetros morfométricos, vários
estudos hidrológicos ressaltam outros aspectos, como
as características do solo (particularmente aquelas
vinculadas à infiltração), a geologia
(enfatizando-se a estrutura e a friabilidade das coberturas
inconsolidadas, responsáveis pelas características
de erodibilidade do terreno), a cobertura vegetal (que afeta
especialmente as taxas de erosão, infiltração
e retenção de água no solo), bem como
as condições meteorológicas e climáticas
que controlam a natureza da precipitação (Patton,
1988).
Kochel
(1988) resume esses aspectos apontando dois segmentos de análise
de fatores condicionantes das respostas geomorfológicas
a intensas inundações:
•
Fatores da bacia hidrográfica: são controles
externos ao canal e planície de inundação,
correspondendo ao clima (regime de chuvas), hidrologia (pico
de descarga, área de contribuição),
morfometria da bacia, carga sedimentar, vegetação
e solos;
•
Fatores do canal fluvial: compreendem controles internos
ao rio, resultando de características físicas
do canal fluvial e dos fluxos, correspondendo ao gradiente
do canal, geometria do canal e da planície, morfologia
do canal e coesão do banco fluvial, entre outros.
Com
relação aos fatores da bacia hidrográfica,
deve-se destacar que a área de contribuição
da bacia necessária a grandes enchentes é extremamente
variável, relacionandose a outros parâmetros
de natureza morfológica, tais como coeficiente de compacidade,
fator forma, extensão superficial média, etc.,
que se associam à tendência de convergência
de fluxos no interior da bacia favorecendo a ocorrência
de acentuados picos de vazão. Patton (1988) ainda destaca
a relevância da análise dos parâmetros
de hierarquia e gradiente de canais, considerando o método
de hierarquização desenvolvido por Shreve mais
significativo na correlação com a vazão
da enchente, dada a importância dos canais de primeira
ordem para o número total e comprimento de canais numa
bacia durante fluxos intensos. Em relação ao
gradiente de canais, os valores mais elevados, caracterizando
um relevo dissecado, provocam uma diminuição
do tempo de concentração do escoamento superficial,
aumentando, então, o pico de vazão da enchente.
A
geometria dos canais constitui fator igualmente relevante
para a análise de inundações. No caso
de rios de ambiente montanhoso, os canais fluviais tendem
a ser profundos e estreitos, apresentando leito irregular
constituído de material extremamente grosseiro. Num
episódio de cheia, tais características causam
grande turbulência no fluxo do canal, podendo resultar
em movimentação acentuada de materiais e profundas
alterações (no canal e na sua planície
de inundação, conforme mencionado por Kochel,
1988). As características do canal, no entanto, também
podem ser modificadas por meio de obras, principalmente nas
áreas urbanizadas, alterando o tempo e a magnitude
de ondas de enchentes (Dunne,1988). Os rios de ambientes montanhosos,
por encontrarem-se freqüentemente entalhados sobre leitos
constituídos de materiais resistentes (materiais não
aluviais) e/ou apresentarem planícies de inundação
muito estreitas e descontínuas, caracterizam-se por
produzir condições de elevada instabilidade
nas encostas adjacentes às calhas fluviais, desencadeando
deslizamentos e, conseqüentemente, a entrada de grande
carga sedimentar nos canais fluviais (Gerrard,1990).
Outro
fator de grande importância para a ocorrência
de enchentes em ambientes montanhosos é a pequena espessura
dos solos e/ou mantos de alteração, o que acarreta
rápido escoamento, produzindo grandes picos de vazão.
Esse aspecto, assim como os demais apontados acima, fornecem
às bacias hidrográficas de áreas montanhosas
um comportamento distinto dos demais tipos de ambientes fluviais,
o qual requer uma atenção especial aos parâmetros
necessários ao equacionamento dos seus controles em
diferentes escalas espacial e temporal.
Apesar
da magnitude e da freqüência de enchentes dependerem
das características da bacia hidrográfica, o
clima, segundo Hayden (1988), é fator condicionante
decisivo na medida em que a ocorrência de precipitação
pode apresentar características de intensidade, duração
e freqüência significativas para a formação
de inundações severas. Vários autores
preconizam a maior inserção de dados pluviais
nas análises de enchentes, ressaltando a necessidade
de avaliar a ocorrência de inundações
na escala temporal estabelecendo-se relações
com o clima. Adotando-se tal perspectiva, haveria um melhor
entendimento dos processos relacionados às enchentes,
assim como uma melhor avaliação quantitativa
da sua variabilidade temporal e espacial.
Os
principais sistemas climáticos considerados na ocorrência
de enchentes são: a convergência intertropical,
movimentos ciclônicos, chuvas orográficas e sistemas
frontais. Os dois últimos sistemas, comuns na área
de influência da usina Angra 3, caracterizada por relevo
montanhoso que causa instabilidade no ar na passagem de ventos
e massas de ar, podem ser intensificados pelo aquecimento
solar diurno, formando precipitações de grande
magnitude e intensidade.
6.5.1.3.1.
Variação espacial e temporal da precipitação
- topo
A
pluviosidade na região da área de influência
do empreendimento é uma das mais altas registradas
no território brasileiro. Segundo Davis & Naghettini
(2001), a Serra do Mar constitui uma barreira orográfica
de extrema importância para a elevação
da precipitação nesta região do Brasil,
principalmente na área de Angra dos Reis. Os fatores
latitude e proximidade do mar (somados à posição
da cadeia montanhosa em relação à trajetória
dos sistemas frontais e linhas de instabilidade), criam condições
de forte radiação solar, fornecimento de umidade
e núcleos de condensação, que, conjugados
à perturbação dos anticiclones móveis
polares, provocam precipitações anuais geralmente
acima de 2.000 mm.
As
normais climatológicas calculadas pelo INMET para a
estação meteorológica de Angra dos Reis
evidenciam os elevados valores de precipitação
existentes (Tabela 31). Verifica-se que a normal de Precipitação
Anual do período 1931-1960 alcançou o valor
de 2.384 mm, sendo os meses de janeiro, fevereiro, março
e dezembro os que registraram os maiores totais pluviométricos,
sempre superiores a 270 mm mensais. Esse comportamento é
observado também na normal climatológica de
Precipitação Anual do período 1961-1990,
que, apesar de ser significativamente menor (1.976,7 mm),
apresenta valores de precipitação mensal acima
de 230 mm nos meses mais chuvosos.
Tabela 31 - Normais
de precipitação mensal e anual dos períodos
1931-1960 e 1961-1990 - Estação Meteorológica
de Angra dos Reis (RJ) (Normais de precipitação
total, em mm)
Mensal |
Anual |
Períodos |
Jan |
Fev |
Mar |
Abr |
Mai |
Jun |
Jul |
Ago |
Set |
Out |
Nov |
Dez |
Total |
1931-1960 |
291,8 |
277,4 |
280,3 |
197,0 |
148,3 |
104,8 |
96,8 |
116,1 |
143,0 |
208,1 |
234,5 |
< 286,6 |
2.384,7 |
1961-1990 |
276,4 |
240,2 |
237,1 |
185,5 |
109,0 |
78,3 |
76,2 |
78,2 |
116,0 |
144,1 |
166,6 |
265,0 |
1.976,7 |
Fonte: INMET / "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Os gráficos da Figura 172 permitem
a visualização da variação da
pluviosidade durante o ano. Neles se observa que, após
o primeiro trimestre (meses mais chuvosos), os totais mensais
apresentam uma significativa queda, sendo no mês de
julho cerca de 1/3 dos verificados no mês de janeiro,
voltando a crescer progressivamente após o mês
de julho.

Figura 172 - Normais climatológicas de precipitação
mensal para os períodos de 1931-1960 e 1961-1990 -
dados da Estação Meteorológica de Angra
dos Reis (RJ).
Fonte: INMET / "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Os
dados de Precipitação Máxima em 24 horas
(Figura 173) revelam ainda que, nos meses de dezembro, janeiro,
fevereiro e março, podem ocorrer dias com pluviosidade
extremamente alta, exemplificada pelo evento registrado em
17 de fevereiro de 1956, com total pluviométrico de
307 mm, volume de precipitação superior ao total
mensal de fevereiro. Apesar de os totais pluviométricos
mensais dos demais meses apresentarem-se bem inferiores, verifica-se
que também ocorrem chuvas bastante intensas como, por
exemplo, o evento registrado em 12/9/1948 (final do período
de estiagem), correspondente a 190 mm em 24 horas.
Confrontando-se
os gráficos da Figura 172 e da Figura 173 constata-se
que, apesar do período 1961-1990 ter se caracterizado
por uma pluviosidade total anual bem menor que a do período
1931-1960, há registro de dias com totais de chuva
significativamente elevados tanto nos meses de verão
como nos de inverno, como evidenciado pelas ocorrências
dos meses de julho de 1986 e agosto de 1971. Tais dados demonstram
a grande variabilidade temporal da pluviosidade na região
enfocada, especialmente da pluviosidade diária.

class="titulo"Figura
173 - Maiores precipitações diárias
registradas entre os anos de 1931 e 1990 - Estação
Meteorológica de Angra dos Reis. Fonte: INMET
/ "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio
Físico) da Área de Influência da CNAAA
- Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Na
Tabela 32 encontram-se expostos os valores de pluviosidade
total anual das estações pluviométricas
operadas pela CPRM existentes na Área de Influência
Indireta do empreendimento. Verifica-se, de imediato, uma
pluviosidade total anual superior a 2.000 mm nas estações
São Roque, Vila Mambucaba, Vila Perequê, Bracuí
e Patrimônio, ratificando o comportamento observado
na estação de Angra dos Reis, ocorrendo, porém,
valores de precipitação significativamente inferiores
nas estações Campo do Cunha, Ibicuí e
Rialto, o que denota uma grande variabilidade espacial das
chuvas na região.
Tabela
32 - Valores de média aritmética, desvio
padrão, mediana e moda calculados a partir dos totais
pluviométricos anuais das séries históricas
das estações pluviométricas situadas
nas áreas de influência do empreendimento
Estações |
Média anual |
Desvio padrão |
Mediana |
Moda |
São Roque |
2221,93 |
473,34 |
2089,45 |
2806,20 |
Vila Mambucaba |
2254,90 |
386,29 |
2453,40 |
2297,00 |
Vila Perequê |
2329,12 |
392,64 |
2239,90 |
2239,90 |
Bracui |
2319,38 |
303,07 |
2416,20 |
1984,80 |
Patrimônio |
2102,04 |
381,90 |
2245,50 |
2361,60 |
Fazenda das Garrafas |
1917,14 |
285,50 |
1899,10 |
1783,90 |
Alto Serra do Mar |
1943,20 |
755,83 |
1675,30 |
2796,50 |
Campo do Cunha |
1449,98 |
231,23 |
1465,35 |
1101,00 |
Ibicuí |
1308,35 |
591,92 |
1540,70 |
2331,40 |
Rialto |
1308,35 |
257,74 |
1302,50 |
1444,80 |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Os
parâmetros estatísticos calculados para o conjunto
de estações situadas dentro da AII evidenciam
valores de desvio-padrão elevados, caracterizando,
desse modo, uma grande variabilidade temporal da precipitação
na área considerada. Os valores de desvio-padrão
mais elevados são documentados nas estações
Alto Serra do Mar (755), Ibicuí (591) e São
Roque (473). Nessas, a moda é muito superior à
média, demonstrando a maior frequência de anos
extremamente chuvosos. De forma inversa, uma maior freqüência
de anos menos chuvosos ocorre nas estações Bracuí
e Campo do Cunha, cujos valores de moda são significativamente
inferiores a media. Essas estações, juntamente
com a Fazenda das Garrafas e Rialto, apresentam desvios-padrão
relativamente menores, indicando uma menor variabilidade temporal
da precipitação. A variação espacial
e temporal da precipitação documentada através
desses dados denota a importância de se compreender
os fatores associados à variabilidade das entradas
de chuva na ocorrência de enxurradas e no aporte de
sedimentos para as calhas fluviais, bem como nas estiagens
prolongadas que interferem nas condições de
abastecimento de água da região.
Na
Figura 174 e na Tabela 33 são mostradas as freqüências
da precipitação diária nas estações
pluviométricas Fazenda das Garrafas (alto curso do
Rio Mambucaba), Vila Mambucaba (baixo curso do Rio Mambucaba)
e São Roque (próxima ao Rio Perequê-Açu).
Observa-se, nas três estações, que as
chuvas de 0-2,5 mm apresentam freqüência superior
a 68%, sendo a freqüência das chuvas com valores
acima de 25 mm, que correspondem a totais pluviométricos
significativos para ocorrência de enchentes, bem inferior
às primeiras.

Figura
174 - Freqüência relativa (%) da precipitação
diária (classes definidas pelo INMET) para as estações
Fazenda das Garrafas, Vila Mambucaba e São Roque. Fonte:
INMET / "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Tabela
33 - Freqüência relativa de classes de precipitação
diária para as séries históricas das
estações analisadas
Estações Pluviométricas |
Classes de precipitação (mm/dia) |
0-2,5 |
2,5-5 |
5-10 |
10-15 |
15-25 |
25-50 |
50-100 |
>100 |
Faz. das Garrafas |
70 |
5 |
8 |
6 |
6 |
5 |
1 |
0 |
Vila Mambucaba |
71 |
5 |
7 |
5 |
5 |
5 |
2 |
1 |
São Roque |
68 |
6 |
8 |
5 |
7 |
4 |
2 |
0 |
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol II (Eixo 2 -
Geologia e Recursos Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Na
análise da série histórica dessas estações,
verifica-se a ocorrência significativa de elevados totais
pluviométricos diários, principalmente nas estações
São Roque e Vila Mambucaba — respectivamente,
42 e 39 ocorrências de chuva acima de 100 mm em 24 horas
—, sendo o maior total pluviométrico diário
encontrado na estação São Roque de 250
mm, e na estação Vila Mambucaba, de 375 mm.
Na
Figura 175 e na Tabela 34 pode-se visualizar o detalhamento
da distribuição da freqüência das
precipitações diárias acima de 100 mm,
em valores absolutos. Verifica-se que, nas estações
Vila Mambucaba e São Roque, a freqüência
das chuvas entre 100 e 150 mm é significativa (respectivamente,
24 e 33 dias), contrastando com a Fazenda das Garrafas (três
dias) e Vila Perequê. A ocorrência das demais
classes mostra-se expressivamente menor, denotando a raridade
dos eventos diários muito extremos nos intervalos de
tempo considerados, que correspondem a 18 anos nas estações
Fazenda das Garrafas e Vila Mambucaba, e 32 anos na São
Roque. Destaca-se ainda a magnitude desses eventos, que Fonte:
INMET / "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.

Figura 175 - Freqüência absoluta (em dias),
da precipitação para as estações
Fazenda das Garrafas, Vila Mambucaba e São Roque.
Fonte: INMET / "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Tabela 34 - Freqüência
absoluta (em dias), de classes de precipitação
para as séries históricas das estações
analisadas.
Estações pluviométricas |
Classes de precipitação (mm) |
100-150 |
150-200 |
200-250 |
250-300 |
300-350 |
>350 |
Fazenda das Garrafas |
3 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
Vila Mambucaba |
24 |
10 |
3 |
0 |
0 |
2 |
São Roque |
33 |
5 |
3 |
1 |
0 |
0 |
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol II (Eixo 2 -
Geologia e Recursos Hídricos)", IGEO/UFRJ.
A
análise de dias consecutivos de chuva para as três
estações pluviométricas (Figura 176 e
Tabela 35) mostra que seqüências de 2 a 5 dias
de chuvas correspondem às situações mais
comuns. A observação dos dados permitiu identificar
que a ocorrência de períodos mais extensos de
dias chuvosos se dá especialmente nos meses de janeiro,
fevereiro, março e abril, enquanto entre maio e setembro
as seqüências de dias com chuva são menores
(geralmente de 2 a 3 dias) e muito mais escassas, aumentando
de freqüência a partir do mês de outubro.
Foi possível identificar, ainda, a ocorrência
de períodos de dias consecutivos de chuva separados
por apenas 1 ou 2 dias sem chuvas, comportamento bastante
comum nos meses de verão, sendo tais intervalos entre
os períodos chuvosos progressivamente maiores de abril
a outubro.

Figura 176 - Freqüência relativa (%) das classes
de dias consecutivos de chuva nas estações pluviométricas
São Roque (Rio Perequê-Açu), Fazenda das
Garrafas (alto curso do Rio Mambucaba) e Vila Mambucaba (baixo
curso do Rio Mambucaba).
Fonte: INMET / "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Tabela 35 - Freqüência
absoluta de classes de dias consecutivos de chuva para os
anos de 1985, 1990 e 1996.
Estações pluviométricas |
Classes de dias consecutivos de chuva |
2 a 5 dias |
6 a 9 dias |
> 10 dias |
Fazenda das Garrafas |
20 |
7 |
4 |
Vila Mambucaba |
27 |
2 |
5 |
São Roque |
32 |
5 |
1 |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Para
a estação São Roque, a análise
pormenorizada dessas seqüências de dias com chuva
evidenciou também que, apesar de períodos com
mais de seis dias consecutivos de chuva se mostrarem menos
freqüentes, as chuvas superam facilmente 20 mm/dia, havendo
casos de valores superiores a 100 mm. Tal comportamento pode
ser visualizado, por exemplo, no único período
de 12 dias consecutivos de chuva, ocorrido em janeiro de 1985,
cujos totais pluviométricos diários variaram
de 2 a 30 mm, com exceção de um dia, que apresentou
uma precipitação total de 233 mm.
A
estação Vila Mambucaba apresenta menor incidência
de seqüências de 2 a 5 dias chuvosos consecutivos
e, por outro lado, uma maior freqüência de períodos
chuvosos acima de 10 dias, em relação à
estação São Roque, sendo registrados
um período de 15 dias e um de 11 dias no ano de 1985,
e dois períodos de 10 dias e um de 12 dias no ano de
1996. O comportamento da precipitação total
diária nesses períodos chuvosos mais extensos
variou basicamente entre 0,8 mm e 40 mm, ocorrendo geralmente
pelo menos um dia com precipitação muito superior
a esse intervalo (209 mm em janeiro de 1985, 160 mm em fevereiro
de 1996 e 106 mm em março de 1996).
Na
estação Fazenda das Garrafas, cujos totais pluviométricos
diários se mostram significativamente menores que os
das demais estações estudadas (quadro 11, citado
anteriomente), ocorre a menor incidência de seqüências
de 2 a 5 dias chuvosos, destacandose, no entanto, com freqüências
relativamente elevadas, os períodos com 6 a 9 dias
de chuva (especialmente no ano de 1990) e com mais de 10 dias
consecutivos de chuva (em 1985 e 1996). De maneira análoga
às estações anteriores, apresenta grande
variação nos valores de chuva diária
(de 0,2 a 50 mm), sendo que os totais pluviométricos
máximos, nesta estação, não ultrapassam
64 mm.
Conjugando
essa análise de dias consecutivos de chuva com a freqüência
da pluviosidade diária, verifica-se que, embora os
totais pluviométricos diários elevados (acima
de 25 mm) sejam relativamente raros (em média, 18 dias
por ano), encontram-se concentrados principalmente nos meses
de verão, quando também ocorrem as maiores seqüências
de dias chuvosos. Esse aspecto do comportamento das chuvas,
conjugado às características geomorfológicas
das bacias hidrográficas, especialmente no tocante
ao elevado gradiente das encostas, muitas vezes constituídas
de afloramentos rochosos e/ou solos rasos pouco permeáveis
ou impermeáveis, resultam em condições
propícias à produção de fluxos
torrenciais geradores de enchentes no baixo curso dos rios.
Assim,
valores intermediários de precipitação
diária, apesar de apresentarem freqüência
relativamente baixa, podem levar à ocorrência
de inundações no baixo curso de alguns rios,
especialmente quando combinados a dias de totais pluviométricos
elevados, a intervalos maiores de dias consecutivos de chuva
e/ou à maré alta. A tendência de ocorrência
de eventos dessa natureza nos meses de verão, quando
se dá um intenso aumento do número de visitantes,
traz maiores transtornos e prejuízos à população
e à administração pública.
Outro
aspecto importante a ser considerado constitui a maior pluviosidade
documentada nas duas estações que se situam
a jusante dos rios Mambucaba (município de Angra dos
Reis) e Perequê-Açu (Parati) — Vila Mambucaba
e São Roque — em cujas planícies encontram-se
instalados importantes núcleos de ocupação,
que têm registrado com freqüência eventos
de enchentes. A menor extensão do percurso das águas
pluviais até os canais fluviais resulta em rápidas
respostas nos cursos d' água, com picos pronunciados
de vazão.
6.5.1.3.2.
Ocorrência de enchentes e o comportamento das vazões
- topo
A
relação entre a precipitação e
a vazão, nos cursos fluviais dos rios Mambucaba e Perequê-Açu,
pode ser avaliada através dos coeficientes de correlação
entre essas duas variáveis (Tabela 36) para os anos
de 1990 (ano representativo para a situação
de menor vazão e precipitação), e 1985
e 1996 (anos representativos para condições
de maiores vazões e precipitações).
Tabela
36 - Valores de correlação entre dados
diários de precipitação e vazão
de estações fluviométricas e pluviométricas
mais próximas à CNAAA para os anos de 1990 (ano
de menores vazões e precipitações), 1985
e 1996 (anos de maiores vazões e precipitações).
Localidades |
1985 |
1990 |
1996 |
Alto curso do Rio Mambucaba |
0,47 |
0,48 |
0,46 |
Baixo curso do Rio Mambucaba |
0,73 |
0,49 |
0,41 |
Rio Perequê-Açu |
0,54 |
0,44 |
0,17 |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Os
valores de correlação apresentam-se moderadamente
baixos, demonstrando que, apesar de haver uma tendência
esperada de intensificação da vazão em
função do incremento da precipitação
(Figura 177), essa resposta é fortemente mediada por
outras variáveis no ambiente considerado. Tal fato
pode ser visualizado também através dos gráficos
apresentados a seguir (Figura 177 a Figura 179) ilustrações
15 a 17, que permitem a análise detalhada do comportamento
da precipitação e da vazão para os anos
de 1985 e 1990. Verifica-se que determinados episódios
de chuvas intensas registradas nas estações
pluviométricas analisadas não resultam em aumentos
significativos de vazão, tendo sido também documentadas
elevações de vazão sem que haja registro
de chuvas consideráveis nas estações
pluviométricas analisadas. No entanto, quando se relacionam
seqüências de dias chuvosos com os valores de vazão,
observa-se que os aumentos significativos na descarga fluvial
estão inseridos nesses períodos de dias consecutivos
de chuva, mesmo que, em algumas seqüências, não
haja totais pluviométricos muito elevados. Os valores
baixos de correlação observados também
estão relacionados à permanência, durante
alguns dias, de vazões moderadamente altas após
grandes picos de descarga, mesmo sem novas chuvas, assim como
à grande variabilidade especial da precipitação
que incide sobre essas bacias.
Esses
aspectos podem ser visualizados no comportamento da relação
entre vazão e precipitação diárias
na bacia do Rio Perequê-Açu, em 1996, cujo coeficiente
de correlação mostra-se extremamente baixo (0,17),
e bastante distinto das demais estações. As
séries históricas de chuva e descarga fluvial
desse ano demonstram que totais de precipitação
diária razoavelmente elevados (de 20 a 80 mm) registrados
na estação pluviométrica São Roque,
situada próximo à bacia do Rio Perequê-Açu,
não tiveram correspondência no aumento da vazão
durante a maior parte dos meses. Nos meses de fevereiro e
março, por outro lado, quando ocorreram períodos
de dias consecutivos de chuva com duração de
3 a 9 dias, houve o aumento da vazão e a permanência
de valores moderadamente elevados por alguns dias (Figura
179).
O
valor de correlação mais elevado observado para
o alto curso do Rio Mambucaba no ano de 1985 (0,73), apesar
de parecer coerente, a princípio, com a posição
geomorfológica da estação em relação
à bacia hidrográfica, deve ser considerado com
certo cuidado, uma vez que a série histórica
de vazão apresenta ausência dos dados do período
de março a junho. A análise efetuada demonstra,
porém, que a boa correspondência entre os aumentos
de vazão e a ocorrência de pluviosidades elevadas
se dá especialmente quando se encontram inseridos em
períodos de dias consecutivos de chuva, apesar da magnitude
de a descarga não se mostrar diretamente proporcional
aos totais de chuva diária.

Figura 177 - Fluviograma (1990
(a) e 1996 (c)) e pluviograma (1990 (b) e 1996 (d)) para a
estação Fazenda das Garrafas (alto curso do
Rio Mambucaba) localizada no município de São
José do Barreiro (SP), serra da Bocaina.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 178 - Fluviograma (1990
(a) e 1996 (c)) e pluviograma (1990 (b) e 1996 (d)) para a
estação Fazenda Fortaleza (baixo curso do Rio
Mambucaba), localizada no município de Angra dos Reis
(RJ).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ. 1996

Figura 179 - Fluviograma (1990 (a)) para a estação
Parati e pluviograma (1990 (b) e 1985(c)) para a estação
São Roque
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Os
registros de ocorrências de problemas relacionados a
chuvas intensas obtidos na Defesa Civil Municipal de Angra
dos Reis são mostrados na Tabela 37. Um aspecto importante
a ser ressaltado quanto às informações
obtidas nesse levantamento refere-se ao fato de que os registros
dos atendimentos da Defesa Civil Municipal de Angra dos Reis
só começaram a ser realizados a partir de 1991,
não havendo uma discriminação precisa
desses atendimentos. Uma parte das ocorrências levantadas
diz respeito a episódios de enchentes e/ou subida significativa
do nível da água, e outra se refere a ocorrências
de escorregamentos e queda de barreiras, muros de arrimo,
casas, etc. Desse modo, apesar de ter sido constatada a existência
de um número relativamente reduzido de registros de
enchentes e/ou escorregamentos, levando-se em conta a expressiva
recorrência desses fenômenos, os registros encontrados
foram considerados significativos para complementar a análise
da relação precipitação/vazão.
Tabela 37 - Ocorrências
levantadas na Defesa Civil Municipal de Angra dos Reis (RJ).
Data |
Registro/Descrição |
Livro Didec Mambucaba 27/3/1995 a 28/5/1996 |
12 e 13/11/95 |
Relato de chuva forte e ruas alagadas 19:10h. Rua Tancredo Neves, pessoas abrigadas
no Colégio Frei Bernardo. |
12/2/96 |
Temporal às 2:50h e enchentes com retirada de moradores. |
14/2/96 |
Continuidade da enchente; desabrigados removidos
Tancredo Neves; área do Rio Perequê foi atingida;
pessoas alojadas no Colégio Frei Bernardo. |
Livro Didec Perequê 16/9/93 a 26/3/95 |
2/3/94 |
Rio Perequê e Mambucaba - uma família desabrigada na escola Nova Perequê. |
27/3/94 |
Enchente Rio Perequê. |
08/12/94 |
Rio Mambucaba “botando para fora”. |
12/02/95 |
Chuva deixa rios com nível crítico, mas sem transbordar. |
Livro Didec Perequê - 24/6/92 a 14/9/93 |
8/7/92 |
Rio Mambucaba aumenta de volume devido a chuvas (sem enchentes). |
6/11/92 |
Rio Perequê transbordou em vários pontos. |
28/11/92 |
Queda de barreiras perto de Itaorna impossibilitando passagem de carros. |
19/1/93 |
Rios no Parque Perequê com pontos inundados. |
4/2/93 |
Foi feito um UT sobre falta d´água no Perequê. |
4/2/93 |
Alerta para os rios Perequê e Mambucaba com alguns pontos de transbordamento. |
26/2/93 |
Mais de 13 pessoas desabrigadas perto do Perequê. |
Didec do Frade 1/7/1998 - sem ocorrências |
Didec do Frade 18/9/1992 a 15/8/1993 |
21/10/92 |
Deslizamento de barreira no morro da Constância, no. 324, às 15:00h devido ao uso
(caixa d´água). |
6/11/92 |
Vistoria no morro Constância - perigo de barreira - houve chuvas fortes. |
16/11/92 |
Vistoria no colégio Cacique Cunhambebe perto do morro Constância, de onde estaria
vindo muita lama e água. |
18/11/92 |
Água removendo terra e expondo pedra. |
21/12/92 |
Deslizamento no morro Constância sem perigo; pelo uso e muita chuva. |
27/5/93 |
Vistoria no morro Constância perto da caixa d´água. |
3/6/93 |
Interdição de terreno na rua Francisco Desoura s/no. |
Didec Frade - 1/3/92 a 17/9/92 - sem ocorrências |
Didec Frade - 29/11/95 a 21/3/97 |
15/3/96 |
Vistoria na barreira em Piraquera (perto do Hotel do Frade) que teria deslizado. |
Livro Didec Perequê 27/3/95 a 2000 |
21/11/96 |
Rios Mambucaba com transbordamento e Perequê cheio, mas sem transbordar. |
21/11/96 |
Pontos de alagamento no Mambucaba e Perequê, sendo quatro famílias removidas,
devido a fortes chuvas. |
12/3/98 |
(Perequê) Fortes chuvas alagaram pontos: rua 56 e fianl da 34, rua 36 próximo a rua
7, rua Tancredo Neves próximo ao depósito de gás, final da rua 34, rua 5 esquina com
a rua 36. |
01/12/00 |
(Ocorrências base) Vistoria num deslizamento atingindo uma residência no Frade. |
Eventos em 12/2002 |
Bairro do Areal |
Rua do Sossego, rua Liberdade, rua Utopia, rua de Pedestre, rua 17 de Março, rua da
Caixa D´água, rua dos Coqueirais, rua da Cachoeira. (189 áreas interditadas) |
Bairro do Campo
Belo |
Rua da Vidéia, rua 21 de abril, rua da Glória, rua Guilhermina Conceição, BR-101 -
km 95, rua do Campo Belo. |
Vistorias - 1428
Interdições - 396
Desabamentos - 156 |
|
Fonte: Defesa Civil Mun. Angra
dos Reis (RJ) / "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Os
gráficos de precipitação/vazão
(Figura 180), relativos às estações pluviométricas
e fluviométricas da bacia do Rio Mambucaba, se referem
às datas de ocorrência de enchentes com registro
na Defesa Civil de Angra dos Reis, que abrangem fundamentalmente
eventos documentados no baixo curso dos Rios Perequê
(afluente do Mambucaba) e Mambucaba. Nesses gráficos,
verifica-se que as respostas da vazão aos maiores picos
de precipitação são mais efetivas quando
ocorrem dentro de períodos com dias consecutivos de
chuva, permanecendo a vazão relativamente elevada durante
vários dias, mesmo na ausência de novos eventos
de chuva, ratificando o comportamento verificado anteriormente.
Confrontando-se
os registros de enchentes com o comportamento da precipitação/vazão,
verifica-se que o aumento da vazão para níveis
acima de 50 m3/s geralmente leva ao alagamento de diferentes
pontos do baixo curso do Rio Mambucaba, porém, encontrando-se
situações em que, mesmo com vazões inferiores
a esse valor, ocorreram registros de alguns locais alagados.
Esse comportamento indica a importância das
condições de maré na elevação
do nível de base dos rios e na retenção
do escoamento proveniente dos tributários e encostas,
mesmo em situações de débitos fluviais
não tão elevados. Desse modo, as planícies
de inundação do baixo curso dos principais rios
da região tornam-se áreas muito suscetíveis
a inundações de porte variado, desde o alagamento
de pontos localizados até enchentes generalizadas,
inclusive em rios de pequeno porte que, em função
da ocupação desordenada, têm gerado um
número crescente de desabrigados e prejuízos
materiais.
Através
de curvas de permanência construídas para o alto
e o baixo curso do Rio Mambucaba e para o Rio Perequê-Açu
diagnosticou-se que a vazão do alto curso do Rio Mambucaba
mostra-se extremamente reduzida em relação à
das demais estações, chegando a quase zero em
algumas épocas do ano, e estando abaixo de 0,3 m3/s
durante 90% do tempo analisado. Vazões acima de 3 m3/s
ocorrem em apenas em 2% do tempo. Já no baixo curso
do Rio Mambucaba, os valores de vazão durante 90% do
tempo são dificilmente inferiores a 5,3 m3/s e, em
50% do tempo, acima de 17 m3/s, ou seja, três vezes
superior às vazões mais freqüentes, sendo
significativamente superiores aos verificados próximo
à nascente, aspecto relacionado, indiscutivelmente,
às dimensões desta bacia. Vazões de 50
m3/s correspondem a 7% do tempo de permanência, e picos
acima de 115 m3/s são encontrados em aproximadamente
2% do tempo de permanência.
No
Rio Perequê-Açu, o valor de vazão correspondente
a 90% do tempo de permanência é da ordem de 1,4
m3/s, podendo-se encontrar valores 4 vezes superiores em 50%
do tempo, superando 5 m3/s. Para tempos de permanência
menores que 7%, a descarga aumenta drasticamente, variando
entre 9 m3/s e valores acima de 22 m3/s.
Na
Figura 181 encontram-se os gráficos confeccionados
a partir das médias mensais das vazões, em conjunto
com as médias dos valores máximos e mínimos.
Verifica-se, de forma geral, que as maiores vazões
ocorrem no período de verão, abrangendo especialmente
os meses de janeiro, fevereiro e março, quando a média
dos valores máximos de descarga fluvial é extremamente
elevada em relação à vazão média
e à vazão mínima. A partir do mês
de abril, há uma diminuição significativa
da descarga máxima, aproximando-se dos valores das
demais médias. A partir de agosto ou setembro, observa-se
um pequeno crescimento das vazões média e mínima
e, por outro lado, um forte aumento da vazão máxima,
relacionandose à elevação dos totais
pluviométricos diários e à ocorrência
de maiores períodos consecutivos de chuva.

Figura 180 - Relação
entre precipitação e vazão no baixo curso
do Rio Mambucaba nos meses de registro de enchente no município
de Angra dos Reis.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 181 - Valores médios mensais de vazão
das estações: (a) Fazenda das Garrafas - alto
curso do Mambucaba (Série histórica 1978 a 1999),
(b) Fazenda Fortaleza - baixo curso do Mambucaba (Série
histórica 1935 a 1999) e (c) Parati - Rio Perequê-Açu
(Série histórica 1963 a 1999).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
As
análises efetuadas a respeito da variação
espacial e temporal da precipitação e da ocorrência
de enchentes e comportamento das vazões evidenciaram,
assim, que os eventos de enchentes estão relacionados
a duas condições principais: uma associada à
freqüência significativa de eventos extremos de
chuva, e outra, à ocorrência de chuvas moderadas
conjugadas à maré alta. A análise da
precipitação se mostrou relevante para o estudo
das condições propícias à ocorrência
de enchentes, tendo sido verificado que períodos longos
de dias consecutivos de chuva estão freqüentemente
associados a enchentes, mesmo com registro de chuvas moderadas.
Tal fato demonstra a importância das condições
antecedentes do sistema encosta/calha fluvial para o desencadeamento
de processos erosivos/deslizamentos, principais processos
responsáveis pelo aumento do aporte sedimentar para
os corpos hídricos e de inundações nas
áreas de planície.
6.5.1.3.3.
Disponibilidade hídrica das bacias do Frade e Praia
Brava - topo
Foram
desenvolvidos estudos com o objetivo de analisar a disponibilidade
hídrica de superfície das bacias hidrográficas
dos rios do Frade e da Praia Brava, mananciais que atualmente
abastecem a CNAAA. Tiveram como foco principal a quantificação
das vazões destes mananciais, buscando integrá-la
a análises morfométricas das bacias e redes
fluviais, com como a uma análise da série histórica
de precipitação da Estação Pluviométrica
CNAAA/Torre A, em um nível de detalhamento não
executado anteriormente.
As
análises efetuadas visaram, portanto, fornecer subsídios
para a avalização da disponibilidade hídrica
de superfície das duas bacias hidrográficas
mencionadas. Além das mensurações de
vazão efetuadas nestas bacias e das estimativas de
vazão calculadas, foram realizadas análises
morfométricas para um conjunto maior de bacias fluviais
- aquelas cuja desembocadura encontra-se inserida no
raio de Influência direta da CNAAA - de modo a
fundamentar a avaliação das bacias do rio do
Frade e de Praia Brava dentro do quadro regional.
A
organização e análise dos dados de precipitação
da Estação Pluviométrica da CNAAA/Torre
A também visaram fornecer elementos para a avalização
do significado das mensurações de vazão
realizadas em campo, bem como das condições
pluviométricas do período de monitoramento dentro
de uma série temporal mais ampla.
Análise
do comportamento da pluviosidade na CNAAA
A
análise de consistência dos dados pluviométricos
da estação da CNAAA/Torre A demonstrou a semelhança
com os totais de chuva das estações próximas
(inseridas na área de influência indireta do
empreendimento), tendo sido identificado, porém, em
alguns anos, problemas de inconsistência de dados. No
ano de 1999 há ausência de valores de precipitação
em dois meses (maio e junho) e no mês de novembro de
2003 a estação da CNAAA apresentou uma precipitação
total significativamente contrastante com os valores verificados
nas outras estações (1.091mm na CNAAA, contra
388,1mm em Vila Perequê e 272,3mm em São Roque).
Verifica-se
que, no período de 1988 a 1999, a precipitação
anual na estação de Vila Mambucaba variou de
1.559mm (1990) a 2.513mm (1996), demonstrando uma expressiva
variabilidade temporal da chuva. A análise de consistência
dos dados da estação da CNAAA evidenciou a semelhança
da precipitação anual desta com a da estação
Vila Mambucaba. As pequenas diferenças observadas nos
dados das referidas estações são decorrentes
da grande variabilidade espacial da precipitação,
devendo ser ressaltado, no entanto, que a discrepância
mais significativa verificada no ano de 1999 deve-se à
ausência de dados em dois meses, mencionada acima.
A
análise do comportamento dos totais pluviométricos
mensais das estações pluviométricas CNAAA,
Vila Mambucaba e Vila Perequê, durante os últimos
3 anos evidencia também uma grande semelhança
entre as três estações. Em 2001 os meses
de junho e agosto destacam-se como os de menores totais pluviométricos
mensais, e o de dezembro como o mais chuvoso.
No
ano de 2002, diferenças significativas entre as estações
são verificadas em alguns meses, como por exemplo maio
e outubro. Novamente o mês de dezembro se destaca como
o mais chuvoso, acompanhado pelo mês de fevereiro, enquanto
os meses de julho e agosto registram os menores totais pluviométricos
mensais neste ano.
Para
o ano de 2003, verifica-se que os registros de precipitação
na estação da CNAAA apresentam maior semelhança
com a estação Perequê. Observa-se um elevadíssimo
valor pluviométrico para o mês de novembro (1091mm)
e, por outro lado, a insignificante pluviosidade no mês
de fevereiro (12mm), que geralmente é um dos mais chuvosos,
destacando-se assim como comportamentos atípicos. A
comparação com as estações Vila
Perequê e São Roque permite constatar que o mês
de fevereiro realmente apresentou uma pluviosidade muito baixa,
no entanto, o valor de precipitação do mês
de novembro da estação CNAAA apresenta-se inconsistente
em relação às demais (388,1mm em Vila
Perequê e 272,3mm em São Roque).
A
análise da distribuição da precipitação
ao longo do ano permitiu caracterizar o regime tropical de
chuvas. O período 1988-1999, demonstra que aproximadamente
40% da precipitação ocorre nos meses de janeiro,
fevereiro e março (período de verão).
Outro trimestre chuvoso compreende os meses de outubro, novembro
e dezembro (período de primavera). Os períodos
de estiagem correspondem ao outono e inverno, quando a pluviosidade
praticamente não ultrapassa 30% da precipitação
total anual.
Observa-se
que houve desvios significativos em relação
à média de precipitação anual
do período analisado. Os anos de 1988, 1992, 1995,
1996, 2000 e 2002 apresentaram desvio positivo, alguns destacando-se
com valores muito acima da média. Os desvios negativos,
embora ocorressem em maior número (oito entre o total
de 14 anos analisados), não foram tão expressivos
quanto os positivos. Verifica-se ainda a tendência dos
anos com desvios positivos apresentarem maior número
de dias de chuva. Este fato demonstra que, de modo geral,
os anos mais úmidos não estão relacionados
a uma concentração significativa da pluviosidade.
A
inexistência de precipitação marcadamente
concentrada no período 1988-2002 pode ser confirmada
pelas análises de freqüência de classes
de chuva diária. Os anos com desvios positivos em relação
à média não apresentaram freqüência
mais expressiva de classes de chuva diária acima de
25mm. A classe pluviométrica mais freqüente para
todos os anos é de 0,1-2,5mm, cuja freqüência
varia entre 25 e 40%. As classes inclusas no intervalo de
2,5mm a 50mm apresentam ocorrência muito variada, exibindo
freqüências de 6,5 a 22%. As classes a partir de
50mm possuem freqüência significativamente menor
(geralmente abaixo de 5%), não estando sua incidência
diretamente relacionada aos anos mais chuvosos. As chuvas
de maior magnitude registradas no ano de 2003, no entanto,
podem estar relacionadas aos valores extraordinários
de precipitação horária e diária
no mês de novembro, como foi mencionado anteriormente.
A
frequência de classes de precipitação
horária para o período 1988-1999 evidenciam
os graus de intensidade da chuva na região. As chuvas
com intensidade de até 2,5mm/h são as mais freqüentes
(em torno de 75% do total de chuvas), observando-se que as
precipitações com intensidade moderada -
entre 2,5 e 10mm/h - possuem uma ocorrência bem
menor, variando entre 6 e 17%. As chuvas mais intensas -
acima de 10mm/h - foram muito pouco freqüentes
nos anos analisados, com valores que raramente ultrapassam
3%. Esses eventos de chuva, no entanto, têm um papel
importante no desencadeamento de movimentos gravitacionais
de massa e enchentes na região do empreendimento, especialmente
quando inseridos em grandes seqüências de dias
consecutivos de chuva.
Análises
mais detalhadas de precipitação, abarcando dias
consecutivos de chuva e intensidade de precipitação,
foram realizadas para o período de 2000 a 2003, onde
verifica-se a ocorrência predominante dos intervalos
de 2 a 5 dias consecutivos de chuva. As demais classes, apesar
de apresentarem freqüências bem inferiores, merecem
atenção especial considerando-se o fato de que,
quando conjugadas a precipitações severas (chuvas
diárias acima de 25mm), tendem a gerar rápido
aporte de água para os canais fluviais.
Deve
ser destacado, ainda, a partir dos dados expostos, que a precipitação
ocorre em menos da metade dos dias do ano. Destaca-se em especial
o ano de 2000, que apresentou um total pluviométrico
anual de 2.126mm concentrado em 35,9% dos dias do ano. Em
2001, por outro lado, um total pluviométrico significativamente
inferior (1.631mm) apresentou-se concentrado em 38,6% dos
dias do ano.
A
intensidade da precipitação nos meses em que
os períodos de dias consecutivos de chuva são
mais freqüentes é relativamente alta. Embora observe-se
nos meses de novembro e dezembro e janeiro e fevereiro um
franco predomínio de chuvas de até 2,5mm/hora,
há uma ocorrência significativa de chuvas acima
de 10mm/hora. Estas podem ter efeitos similares às
chuvas de maior intensidade quando ocorrem durante longos
períodos de dias consecutivos de chuva.
Os
meses de novembro e dezembro do ano de 2002 representam bem
a situação apontada. Estes meses se caracterizaram
por uma sucessão de períodos chuvosos de 4 a
10 dias, quando a intensidade da precipitação
chegou a superar 30mm/h (9 ocorrências), gerando uma
série de deslizamentos e inundações em
diferentes bairros de Angra dos Reis, resultando inclusive
em mortes.
Para
ilustrar a relação entre intensidade da precipitação
(mm/hora) e dias consecutivos de chuva, foram selecionados
os meses de Janeiro e Fevereiro do ano 2000, ano este representativo
de valores médios de precipitação dentro
da série histórica analisada.
O
mês de janeiro de 2000 apresenta um total pluviométrico
de 390mm. Aproximadamente 74% deste volume de precipitação
mensal concentra-se nos cinco primeiros dias do mês,
com totais pluviométricos diários variando entre
21 e 99mm. No restante do mês os valores de precipitação
mostram-se menores e ocorrendo, predominantemente, intercalados
com dias sem chuva.
Analisando-se
o comportamento horário da precipitação
nos cinco dias iniciais e consecutivos de chuva de janeiro/2000,
verifica-se que a precipitação teve início
às 19:00h do dia 1o, com o total pluviométrico
de 2mm, apresentando nas horas seguintes um grande aumento,
principalmente às 21h, quando alcançou o valor
máximo de 33mm. Nas horas posteriores do dia 1o e também
durante os dias 2, 3, 4 e 5 de janeiro, os totais pluviométricos
variam entre 1 e 14mm, mostrando-se significativamente inferiores
ao pico inicial da chuva. Do dia 3 para o dia 5 de janeiro
aumentam os intervalos de horas sem registro de chuva.
O
comportamento da pluviosidade no início do mês
de janeiro caracterizou-se, portanto, por uma chuva de intensidade
extremamente elevada no primeiro dia, sucedida por precipitação
menos intensa, embora persistente, durante 4 dias consecutivos.
Os
demais dias com chuva do mês de janeiro de 2000 apresentaram
totais pluviométricos menores, assim como intensidades
reduzidas, refletidos na elevada freqüência de
chuvas fracas e moderadas (0,1mm/h a 10mm/h). Destacam-se,
no entanto, os dias 19 e 26 de janeiro. No dia 19 de janeiro
é registrada entre 14 e 21h uma precipitação
de 27mm, cuja intensidade não ultrapassou 7mm/h. No
dia 26 a precipitação teve início às
14h com uma intensidade de 13mm/h, diminuindo nas 6 horas
seguintes para uma intensidade média de 4mm/h.
O
mês de fevereiro de 2000 apresentou um total pluviométrico
de 271mm. Esse valor relaciona-se basicamente à precipitação
ocorrida entre os dias 5 e 19, quando os totais pluviométricos
diários variaram entre 2 e 62mm, destacando-se os dias
16 e 17 de fevereiro com os maiores valores (em torno de 50mm).
A
intensidade da chuva também se mostra muito variável
para este mês, predominando valores abaixo de 8mm. Os
dias 16 e 17 de fevereiro registram intensidades entre 8 e
16mm/h, intercaladas por intensidades menores (entre 7 e 1mm/h)
ou por horas sem registro de precipitação.
Verifica-se
o predomínio absoluto da classe de intensidade 0-5mm/h
(97% das ocorrências) no mês de fevereiro, de
modo análogo ao mês de janeiro do 2000. As classes
com intensidade entre 5 e 20mm/h apresentam freqüências
extremamente baixas (de 1,58% a 0,14%), inexistindo precipitações
com intensidade acima de 20mm/h.
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fluviais nas bacias do rio do Frade e Praia Brava
Na
bacia do rio do Frade há uma captação
em operação situada no próprio rio do
Frade, denominada captação ETN 1, e outra no
córrego do Sacher, tributário do rio do Frade,
denominada ETN 2. As áreas contribuintes para os locais
de captação correspondem respectivamente, a
5,25 e 6,26 km2 sendo, portanto, bem inferiores à área
total desta bacia, em torno de 17,2 km2.
Para
a Vila de Praia Brava convergem duas bacias hidrográficas
(denominadas Praia Brava A e B). Na bacia de Praia Brava A
a área de contribuição da captação
que abastece a Vila é de 1,49 km2. Na bacia
de Praia Brava B há uma captação mais
antiga, fora de uso, onde, atualmente existe uma trilha ecológica,
a trilha de Porã, encontrando-se a barragem bastante
assoreada. A área de contribuição para
esta captação é de 1,35 km2.
Os
resultados dos cálculos de vazão efetuados por
método direto e indireto encontramse expostos na Tabela
38.
Tabela 38 - Vazões
calculadas por métodos direto e indireto nas captações
ETN 1 (rio do Frade), ETN 2 (córrego Sacher) e Praia
Brava (córrego Praia Brava A e Porã).
Bacias |
Área * |
Vazão por Método
Direto (m3/s) |
Vazão por Método Indireto
(m3/s) |
Dia
9/11/04 |
Dia
23/11/04 |
Vazão
Média
(Qmlt) |
Vazão
Máxima |
Vazão
Mínima
(Q95) |
50% da
Q95 |
80% da
Q95 |
Frade |
5,25km2 |
0,330 |
0,230 |
0,192 |
0,244 |
0,0777 |
0,0388 |
0,0621 |
Sacher |
6,26km2 |
0,295 |
0,187 |
0,229 |
0,292 |
0,0927 |
0,0463 |
0,0741 |
Praia
Brava A |
1,49km2 |
-- |
-- |
0,054 |
0,069 |
0,0220 |
0,0110 |
0,0176 |
Porá |
1,35km2 |
0,129 |
-- |
-- |
-- |
-- |
-- |
-- |
*Área
contribuinte para o local de captação de água.
Os
valores de vazão obtidos de forma direta nas captações
ETN 1 e ETN 2 para o dia 9 de novembro de 2004 foram superiores
aos medidos no dia 23 do mesmo mês. Refletem os maiores
volumes precipitados nos dias anteriores à medição
do dia 9, cujos totais em 9 dias alcançaram 150,7mm
(Tabela 39). As chuvas neste período se concentraram
entre os dias 6 e 7, apresentando intensidade muito elevada
entre 21h e 23h do dia 6 - respectivamente 32mm/h, 19mm/h
e 20mm/h - ocorrendo após essa intensidade máxima,
intensidades em torno de 4mm/h no dia 7.
Os
valores de vazão um pouco menores no dia 23 de novembro
correspondem a uma precipitação total de 92,5mm/h
entre os dias 13 e 23 deste mês (Tabela 39). Nesta seqüência
de dias chuvosos a precipitação apresentou intensidade
muito pequena em relação ao período anterior
(em torno de 0,5mm/h, alcançando no máximo 12
mm/h), resultando em volumes de escoamento bem inferiores.
Tabela 39 - Precipitação
diária medida na Estação Pluviométrica
da CNAAA nos períodos anteriores aos dias de medição
direta de vazão.
Datas |
Precipitação diária (mm) |
1-9/11/2004 |
Dias |
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
8 |
9 |
Total |
Precipitação |
0,5 |
0,0 |
0,3 |
0,0 |
8,8 |
84,5 |
55,3 |
1,3 |
0,0 |
150,7 |
15-23/11/2004 |
Dias |
15 |
16 |
17 |
18 |
19 |
20 |
21 |
22 |
23 |
Total |
Precipitação |
16,5 |
17,3 |
0,8 |
9,8 |
18,0 |
27,8 |
2,3 |
0,0 |
0,0 |
92,5 |
Verifica-se
através da Tabela 38 que as vazões médias
de longo termo mostram-se bem próximas às vazões
do dia 23 de novembro de 2004, e, ainda, que os valores de
vazão máxima de longo estão mais próximas
das vazões do dia 9 de novembro de 2004 no rio do Frade
e córrego do Sacher. Considerando que as condições
de chuva expostas mostram-se muito freqüentes durante
o verão na região considerada, pode-se depreender
que as vazões máxima e média calculadas
mostram-se razoavelmente consistentes com o comportamento
das vazões durante os meses chuvosos, para o período
analisado.
É
importante ressaltar que os valores de vazão obtidos
por método direto correspondem aos volumes de escoamento
dos canais mensurados nos vertedores, ou seja, já tendo
sido descontados os volumes captados pela CNAAA, pelo SAAE/Angra
dos Reis e pelo Condomínio do Frade, cujas captações
estão situadas a montante da captação
ETN2. A captação do SAAE na bacia do Frade está
sendo transferida para a bacia do rio Grataú, porém
não há informações sobre os volumes
captados, nem tampouco na captação para o Condomínio
do Frade.
O
aspecto mais importante a ser avaliado no tocante à
disponibilidade hídrica das bacias do Frade e Praia
Brava consiste na relação entre as captações
existentes e as vazões mínimas, obtidas através
de métodos indiretos. Considerando o volume consumido
na planta da usina, proveniente da Estação de
Pré-Tratamento de Águas (EPTA) da Bacia do rio
do Frade (que reúne os volumes captados na ETN1 e ETN2),
como 2.040m3/dia, ou seja, 0,024m³/s, o volume total
derivado das duas captações seria inferior a
50% da Q95 de cada captação, o que traduziria
uma situação atual razoavelmente confortável
frente ao consumo existente.
Analisando-se
a vazão média de longo termo do córrego
Praia Brava A (Tabela 38) no local da captação
que abastece a Vila de Praia Brava, denota-se que este manancial
não pode ser considerado uma alternativa para o abastecimento
de Angra 3. Informações fornecidas sobre o volume
captado neste manancial -65m³/h em média
(0,018m³/s), demonstram uma demanda atual muito próxima
à vazão mínima estimada (0,022m3/s),
indicando uma situação que torna desaconselhável
qualquer aumento de captação neste manancial.
Os
dados de medição de vazão fornecidos
pela Eletronuclear sobre a captação Porã,
na bacia de Praia Brava B, monitorados durante os meses de
inverno de 2000 a 2003, mostram valores variando de 0,039
a 0,008m3/s. Representam, portanto, um indicador
de vazões mínimas para esta bacia, demonstrando
que as estimativas realizadas para a captação
de Praia Brava A, com área de contribuição
similar, mostram-se razoavelmente consistentes. A Q95 obtida
a partir da curva de permanência elaborada com base
nestes dados é de 0,0096m³/s.
A
medição efetuada no Porã em 09/11/2004
resultou em uma vazão de 0,129m³/s, sendo um bom
indicador de vazões máximas, considerando-se
as condições de pluviosidade já apontadas
para este período. Os dados existentes para o Porã
demonstram que este manancial também não pode
ser considerado uma alternativa para o abastecimento de Angra
3, ao menos isoladamente.
Obtenção
de parâmetros morfométricos
As
análises morfométricas efetuadas utilizaram,
primeiramente, a base cartográfica, em escala 1:50.000,
posteriormente, a base cartográfica em escala 1:25.000.
A partir da base em escala 1:50.000 foi efetuada, inicialmente,
a obtenção de alguns parâmetros morfométricos
para o conjunto de bacias de drenagem litorâneas afluentes
para o raio de 5 km da CNAAA.
Os
parâmetros morfométricos obtidos buscaram identificar
as características principais das bacias e suas redes
hidrográficas quanto ao tamanho, forma, quantidade
e extensão de canais, atributos relevantes para o comportamento
hidrológico de sistemas fluviais:
a)
Área da Bacia (A) - área plana (projeção
horizontal) inclusa entre os divisores topográficos
da bacia;
b)
Hierarquia da Bacia - efetuada segundo ordenação
de Strahler;
c)
Magnitude da Bacia - número de canais de
1a. Ordem (segundo ordenação de Strahler) da
bacia hidrográfica;
d)
Comprimento (C) ou Diâmetro da Bacia - distância
horizontal em linha reta entre a foz e o ponto do perímetro
da bacia interceptado pelo prolongamento do equivalente vetorial
do segmento fluvial de 1a. ordem do canal principal da bacia
(adaptado de SCHUMM, 1956; GREGORY & WALLING, 1973; PEIXOTO,
1993);
e)
Largura Central (Lc) e Largura na Foz da bacia (Lf) -
extensão medida perpendicularmente ao Comprimento da
Bacia, respectivamente no ponto médio deste e na desembocadura
do canal fluvial principal (adaptado de PEIXOTO, 1993 e LESSA
et al., 1995);
f)
Comprimento Total (Ct) de Canais Fluviais - extensão
total dos canais fluviais temporários e permanentes
da bacia hidrográfica;
g)
Amplitude Altimétrica da Bacia - diferença
altimétrica entre a cota mais elevada do divisor de
águas da bacia e a da sua foz;
h)
Relação de Relevo (Rr) - relação
entre Amplitude Altimétrica e o Comprimento da Bacia
(C);
i)
Densidade de Drenagem (Dd) - relação
entre o Comprimento Total de Canais Fluviais e a Área
da Bacia;
j)
Densidade Hidrográfica (Dh) - considerada
para a presente análise como a relação
entre o Número Total de Ligamentos Fluviais e a Área
da Bacia;
k)
Índice entre o Comprimento e a Área da Bacia
(ICo), calculado através da fórmula:
ICo
= C (1)
VA
onde:
C = Comprimento da Bacia e A = Área da Bacia
l)
Índice de Estrangulamento da Bacia (IE), calculado
através da fórmula:
IE
= Lc (2)
Lf
onde:
Lc = Largura Central e Lf = Largura na Foz da bacia
Ressalta-se
que os índices acima visam diferenciar as bacias quanto
à conformação, identificando bacias alongadas
(ICo > 1,0), eqüidimensionais (ICo . 1,0) ou achatadas
(ICo < 1,0) - e com graus maiores (IE elevado) ou
menores (IE reduzido) de estreitamento na foz. Estes fatores
exercem controle no tempo de resposta da vazão do curso
principal destas bacias às entradas de chuva e na concentração
dos fluxos d´água na sua desembocadura, aspectos
relevantes para a compreensão da dinâmica hidrológica
em pequenas bacias hidrográficas.
Análise
dos dados da Estação Pluviométrica da
CNAAA/Torre A
Os
dados de precipitação da CNAAA/Torre A foram
analisados com o intuito de caracterizar a distribuição
anual e a intensidade das chuvas na área próxima
ao empreendimento, onde se situam as bacias hidrográficas
do Frade e da Praia Brava, mananciais hídricos que
abastecem as usinas em Itaorna e a unidades de Vila de Praia
Brava. Para tanto, foram realizadas as análises descritas
a seguir.
a)
Análise de consistência dos dados pluviométricos
mensais (dos anos de 2001 a 2003) e anuais (dos anos de 1988
a 1999). Para identificação de possíveis
erros de registro, os valores de precipitação
da estação da CNAAA foram comparados aos das
estações pluviométricas Vila Mambucaba,
Vila Perequê (situadas dentro do município de
Angra dos Reis) e São Roque (localizada no município
de Parati), operadas pela CPRM. Estas estações
já haviam sido utilizadas para a avaliação
do comportamento das precipitações em escala
regional (vide Relatório Final do Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto -
CNAAA, Volume III/Eixo 3 - Geomorfologia e Solos). Não
foi possível realizar esta análise para o ano
de 2000 devido à inexistência de
dados nas estações operadas pela CPRM para este
ano.
b)
Análise da distribuição da precipitação
mensal para caracterização do regime pluviométrico
local.
c)
Cálculo do desvio da precipitação anual
em relação à média do período
e do total de dias com chuva para cada ano.
d)
Determinação da freqüência das precipitações
diárias, utilizando-se as classes de chuva diária
propostas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET):
0,1-2,5mm, 2,5-5mm, 5-10mm, 10-15mm, 15-25mm, 25-50mm, 50-100mm
e >100mm.
e)
Avaliação da intensidade da chuva através
do cálculo da freqüência de classes de precipitação
horária, utilizando-se as mesmas classes de chuva diária
propostas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (0,1-2,5mm,
2,5-5mm, 5-10mm, 10-15mm, 15-25mm, 25-50mm, 50-100mm e >100mm).
Esta análise foi realizada tanto para o período
de 1988-1999 como para os meses de janeiro/fevereiro e novembro/dezembro
dos anos de 2000 a 2003, neste último caso para avaliar
o comportamento de meses mais chuvosos e com as maiores seqüências
de dias consecutivos de chuva.
f)
Avaliação dos períodos de dias consecutivos
de chuva e da intensidade da precipitação (dados
horários) nesses intervalos, para os anos de 2000 a
2003. Para os meses de janeiro e fevereiro de 2000 foi realizada
uma análise mais detalhada de dias consecutivos de
chuva e intensidade da precipitação, considerando-o
como ano representativo do comportamento médio da precipitação,
dentro da série histórica analisada.
Ressalta-se
que alguns anos foram analisados em separado ou excluídos
de determinadas análises por apresentarem erros ou
inconsistência de dados que comprometiam a avaliação
dos resultados.
Quantificação
da vazão dos rios nas bacias do Frade e Praia Brava
A
determinação da vazão nos locais de captação
de água situados no rio do Frade (ETN 1) e no córrego
do Sacher (ETN 2), que fazem parte da bacia do rio do Frade,
foi realizada por métodos direto e indireto. No primeiro
caso, consistiu na medição da altura do nível
d' água em relação à crista dos
vertedores existentes nos locais de captação
d' agua, efetuada nos dias 9 e 23 de novembro de 2004, e cálculo
utilizando fórmulas matemáticas específicas,
de acordo com a geometria dos vertedores.
No
caso do método indireto, foi efetuado o cálculo
da vazão média de longo termo (Qmlt), utilizando-se
a série histórica de vazões da Estação
Fluviométrica Fazenda das Garrafas, situada no alto
curso do rio Mambucaba, para cálculo da vazão
específica (q). A vazão média de longo
termo para cada captação (ETN 1 e ETN 2) foi
calculada multiplicando-se a vazão específica
pelas áreas contribuintes dos respectivos pontos de
captação.
A
vazão da área de captação situada
no córrego Praia Brava A foi calculada somente através
do método da vazão média de longo termo
(Qmlt), por não haver condições de medição
direta no local, devido às características do
vertedor e a pequena altura da lâmina d' água
existente. Na localidade denominada Porã, situada no
córrego Praia Brava B, onde há uma captação
que encontrava-se fora de uso durante o período de
execução do Termo Aditivo, foi executada apenas
uma medição de vazão.
A
Estação Fluviométrica Fazenda das Garrafas
foi selecionada como estação padrão,
entre outras próximas, por apresentar características
fisiográficas (declividade, densidade de cobertura
vegetal, tipo de terreno) mais próximas às das
bacias em análise, além de possuir série
histórica bastante ampla, abrangendo o período
de 1978 a 2002.
Considerando
que os dados obtidos pela medição direta correspondiam
a períodos com precipitação elevada,
foi calculada a vazão máxima de longo termo
com base nos meses mais chuvosos na região -
novembro, dezembro, janeiro e fevereiro - para validação
dos resultados de vazão média de longo termo
das bacias em estudo.
A
vazão mínima considerada foi a Q95, calculada
com base na curva de permanência de vazões. Tal
curva foi confeccionada a partir dos dados mensais construídos
para cada bacia e consiste numa função hidrológica
que fornece a freqüência com que uma determinada
vazão é igualada ou superada num período
de tempo. Assim, a Q95 expressa um valor de vazão mínima
que permanece por pelo menos 95% do tempo. A Q95 foi empregada
no presente estudo por se tratar de um parâmetro que
reflete bem a sazonalidade dos dados de vazão, sendo
considerada bastante representativa. Os valores de 50% e 80%
da Q95 foram calculados como margem de segurança necessária
à manutenção da vazão ecológica
dos rios, na análise comparativa com as demandas da
CNAAA.
A
localização geográfica das captações
de água para abastecimento das usinas da CNAAA situadas
na bacia do rio do Frade, assim como da captação
que abastece a Vila de Praia Brava, situada na bacia de Praia
Brava A e das Estações de Tratamento de Águas
(ETAs) correspondentes, foi executada em levantamentos de
campo utilizando GPS.
6.5.1.3.4.
Qualidade das águas
- topo
Para
a análise da qualidade das águas de superfície,
foram levantados inicialmente os dados existentes para os
municípios compreendidos parcial ou totalmente pelas
bacias hidrográficas identificadas dentro das áreas
de influência do empreendimento, através de consulta
à Agência Nacional de Águas (ANA). As
estações de qualidade de águas levantadas
encontram-se expostas na Tabela 20, no Anexo 19 e no Anexo
20, mostrada anteriomente.
As
séries históricas das análises de qualidade
de águas obtidas na ANA compreendem dados brutos dos
seguintes parâmetros: temperatura da amostra, pH, turbidez
(FTU), condutividade elétrica (uS/cm a 20o
C), DBO (mg/l), OD (mg/l), detergentes (mg/l), fosfato total
(mg/l), nitrogênio total (mg/l), nitratos (mg/l), cádmio
(mg/l), chumbo (mg/l), cobre (mg/l), mercúrio (mg/l),
zinco (mg/l), índice de fenóis (mg/l), coliformes
fecais (NMP/100ml), óleos e graxas (mg/l) e cromo total
(mg/l).
Verificou-se,
no entanto, que muitos desses parâmetros não
são analisados nas amostragens, o que dificultou sua
interpretação e utilização na
caracterização da qualidade de águas
dos rios. Considerando-se o fato de que os locais de amostragem
encontram-se em alguns tributários do rio Paraíba
do Sul ou nele próprio, e que o enfoque dado neste
estudo prendeu-se à análise das bacias litorâneas
convergentes para a AID da usina, optou-se por priorizar a
análise dos dados produzidos no presente estudo.
Foram
executadas as seguintes etapas:
•
Avaliação das características geomorfológicas/geológicas
e de uso e cobertura do solo das bacias;
•
Amostragem das águas de superfície em cursos
fluviais selecionados como representativos dos padrões
identificados;
•
Envio para os laboratórios responsáveis pelo
processamento de análises químicas, físico-químicas
e microbiológicas;
•
Comparação dos resultados obtidos com a legislação
que regulamenta os limites de tolerância dos seres
humanos aos contaminantes.
No
contexto desses estudos, é importante destacar a existência
de uma grande variedade de leis e regulamentações
no que concerne à exposição máxima
tolerável a substâncias químicas na água.
Mesmo em países desenvolvidos, existem muitas controvérsias
relacionadas à regulamentação desses
limites, dada a incerteza, principalmente, devida ao sinergismo
entre os contaminantes. No Brasil, as principais regulamentações
referentes aos limites de exposição a contaminantes
nas águas foram definidas por instituições
como o Conama (através da Resolução 20/86),
o Ministério da Saúde (através das portarias
36/90 - Potabilidade da Água Destinada ao Consumo
Humano e 1469/00 - Controle e Vigilância da Qualidade
da Água para Consumo Humano), além de órgãos
estaduais de meio ambiente, como a Cetesb e a Feema. Os valores
fixados por essas instituições como limites
de tolerância dos constituintes das águas considerados
potencialmente tóxicos são bem próximos
aos fixados pelas instituições internacionais.
Para
controlar a poluição das águas de rios
brasileiros, os padrões de qualidade utilizados para
definir os limites de concentração a que cada
substância presente na água não deve ultrapassar
são estabelecidos segundo seus usos preponderantes,
por legislação específica, variando da
Classe Especial, a mais nobre, até a classe 4, a menos
nobre (Tabela 40). Na Tabela 41 são apresentados os
limites de tolerância estabelecidos pela Resolução
Conama 20/86 e Cetesb para vários parâmetros
físicos, físico-químicos e biológicos.
Na
seleção dos pontos de amostragem, considerou-se,
além das características das áreas drenadas
pelas redes fluviais de diferentes magnitudes, a existência
de pontos de captação para abastecimento da
população, tendo-se procurado efetuar coletas
em, ao menos, dois pontos ao longo dos cursos fluviais escolhidos
como representativos: no baixo curso/desembocadura e no médio
curso e/ou próximo às nascentes.
As
coletas de água superficial foram realizadas em duas
campanhas de campo: uma realizada em outubro de 2002; e outra
em janeiro de 2003. A programação das campanhas
teve por objetivo considerar a variação sazonal
no comportamento hidrológico dos cursos fluviais.
Em
outubro de 2002 foram coletadas amostras nas bacias dos seguintes
cursos fluviais: Rio Ambrósio, situado na localidade
do Frade (amostras Ambrósio 1 Bica, em uma nascente
utilizada para consumo humano; Ambrósio 2 Vala, a jusante
da amostra Ambrósio 1 e das ocupações;
e Ambrósio 3 Nascente, no local de captação
de águas para abastecimento público pelo SAAE);
Rio São Gonçalo, localizado próximo ao
limite com o município de Parati (amostras São
Gonçalo 1, no baixo curso do rio, fora do alcance da
maré; e São Gonçalo 2, na foz do rio);
Rio Mambucaba, próximo à estação
fluviométrica do baixo curso deste rio (amostras Mambucaba
1 Direita, no ponto mais próximo à margem direita
do rio; e Mambucaba 1 Esquerda na margem esquerda do rio),
e também na foz desse rio (amostra Mambucaba 2 Foz);
Rio Bracuí (amostra Bracuí 1). Nesta primeira
campanha, foram coletadas 11 amostras em oito pontos de amostragem.
Em
fevereiro de 2003 foram coletadas amostras nas seguintes bacias:
do Rio Frade (amostra Frade 1, no ponto de captação
de águas do SAAE/Angra dos Reis no Rio Sachet, tributário
do Rio Frade; e amostra Frade 2, na foz do Rio Frade); Rio
Japuíba-do-Meio (amostras Japuíba 1, coletada
no ponto de captação de água do SAAE/Angra
dos Reis, e Japuíba 2, na foz deste rio).
Tabela 40 - Classes
de uso das águas segundo Resolução Conama.
Classes |
Usos Preponderantes |
Classe
especial |
Águas destinadas ao abastecimento doméstico sem prévia ou simples desinfecção. |
Classe 1 |
Águas destinadas ao abastecimento doméstico após tratamento simplificado. |
Classe 2 |
Águas destinadas ao abastecimento doméstico após tratamento convencional, à proteção
das comunidades aquáticas e à alimentação humana. |
Classe 3 |
Águas destinadas ao abastecimento doméstico após tratamento convencional, à irrigação
de culturas e à dessedentação de animais. |
Classe 4 |
Águas destinadas à navegação. |
Fonte: http://www.Cetesb.sp.gov.br/Aguas/rios.
Tabela 41 - Limites
de tolerância segundo Resolução Conama
20/86 e Cetesb
Parâmetros |
Classes |
Especial |
1 |
2> | 3 |
4 |
Cetesb |
OD** |
|
6 |
5 |
4 |
2 |
4 |
PH |
|
6 a 9 |
6 a 9 |
6 a 9 |
- |
- |
DBO 5,20 mg/L |
|
3 |
5 |
10 |
- |
10 |
Nitrogênio Nitrato** |
|
10 |
10 |
10 |
- |
≤10 |
Nitrogênio Nitrito** |
|
1 |
1 |
1 |
- |
≤1,0 |
Fósforo Total |
|
0,025 |
0,025 |
0,025 |
0,025 |
≤0,025 |
Turbidez (UNT) |
|
40 |
100 |
100 |
- |
100 |
Cloreto Total* * |
|
250 |
250 |
250 |
- |
≤250 |
Alumínio** |
|
0,1 |
0,1 |
0,1 |
- |
≤0.1 |
Bário** |
|
1 |
1 |
1 |
- |
≤1 |
Cádmio** |
|
0,001 |
0,001 |
0,01 |
- |
≤0.01 |
Chumbo** |
|
0,03 |
0,03 |
0,05 |
- |
≤0.05 |
Cobre** |
|
0,02 |
0,02 |
0,5 |
- |
≤05 |
Níquel |
|
0,025 |
0,025 |
0,025 |
- |
≤0,025 |
Mercúrio** |
|
0,0002 |
0,0002 |
0,002 |
- |
≤0.002 |
Zinco** |
|
0,18 |
0,18 |
5 |
|
- |
Fenóis |
|
0,001 |
0,001 |
0,3 |
1 |
- |
Manganês |
|
0,1 |
0,1 |
0,5 |
- |
≤0.5 |
Coliformes Fecais*** |
|
200 |
1.000 |
4.000 |
- |
- |
Coliformes Totais*** |
Ausentes |
1,000 |
5,000 |
20,000 |
- |
- |
Resíduo Filtravel |
|
500 |
500 |
500 |
- |
- |
Tensoativos** |
|
0,5 |
0,5 |
0,5 |
- |
- |
Fonte:
http://www.Cetesb.sp.gov.br/Aguas/rios.
*Quando para uso de abastecimento sem previa desinfecção
**mg/L
*** (NMP/100 mL)
As
amostras coletadas foram encaminhadas ao Laboratório
de Análise Ambiental e Mineral (LAM) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ao laboratório Innolabe
do Brasil Ltda. As análises realizadas e os métodos
utilizados encontram-se descritos a seguir.
Análises
•
Físico-Químicas: pH, turbidez, oxigênio
dissolvido, sólidos em suspensão, dureza;
•
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda
Química de Oxigênio (DQO);
•
Determinação de Metais: sódio, potássio,
magnésio, cálcio, alumínio, cromo;
manganês, ferro, níquel, cobre, zinco, cádmio,
chumbo, mercúrio e bário;
•
Determinação de não-metais: cloreto,
sulfato, fluoreto, nitrito, nitrato, arsênio, fósforo
total e nitrogênio;
•
Determinação de tensoativos;
•
Determinação de Fenóis;
•
Análise Bacteriológica.
A
Cetesb, com base em um estudo realizado em 1970 pela National
Sanitation Foundation, dos Estados Unidos, adaptou e desenvolveu
um índice, denominado IQA (Índice de Qualidade
das Águas), a partir de nove parâmetros: coliformes
fecais, pH, DBO, nitrogênio total, fosfato total, temperatura,
turbidez, resíduo total e oxigênio dissolvido.
Através desse índice, pode-se determinar a qualidade
das águas brutas que, indicada pelo IQA numa escala
de 0 a 100, classifica-a para abastecimento público,
segundo a graduação a seguir:
•
Qualidade Ótima: 79< IQA . 100;
•
Qualidade Boa: 51< IQA . 79;
•
Qualidade Regular: 36< IQA . 51;
•
Qualidade Ruim: 19< IQA . 36;
•
Qualidade Péssima: IQA . 19.
Apesar
de esse índice poder apresentar algumas limitações
quanto à possibilidade de superestimar as condições
reais de um corpo hídrico, uma vez que contempla somente
nove parâmetros, por sua fundamentação
tem sido aplicado em diferentes estudos de qualidade de águas.
6.5.1.3.5.
Resultados dos estudos de qualidade das águas
- topo
A
análise dos dados obtidos para a qualidade da água
é apresentada, a seguir, com base nos diversos parâmetros
que traduzem as suas principais características físicas,
químicas e biológicas.
Nas
próximas páginas (Figura 182 a Figura 185),
apresenta-se a localização dos pontos de amostragem
nas bacias hidrográficas analisadas.
Nos
itens seguintes, encontra-se a descrição de
forma sucinta dos principais parâmetros analisados e
a discussão dos resultados expostos na Tabela 42, enfatizando-se
as possíveis origens dessas substâncias, com
base em Von Sperling (1996).

Figura 182 - Localização
dos pontos de amostragem para a qualidade das águas
na Bacia do Rio São Gonçalo, Angra dos Reis..
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 183 - Localização dos pontos de amostragem
para a qualidade das águas na Bacia do Rio Mambucaba,
Angra dos Reis..
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 184 - Localização dos pontos de amostragem
para a qualidade das águas na Bacia do Rio Bracuí,
Angra dos Reis..
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 185 - Localização dos pontos de amostragem
para a qualidade das águas na Bacia do Rio Ambrósio
e Frade, Angra dos Reis..
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol II (Eixo 2 -
Geologia e Recursos Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Tabela 42 - Resultados
das análises físico-química, química
inorgânica, química orgânica e bacteriológica
para a qualidade das águas, realizadas nas campanhas
de outubro de 2002 e fevereiro de 2003.
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
6.5.1.3.6.
Parâmetros físico-químicos
- topo
Potencial
Hidrogeniônico (pH): representa a concentração
de íons hidrogênio H+ em escala anti-logarítmica,
dando uma indicação sobre a condição
de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água. A
faixa de variação do pH é de 0 a 14.
Pode ter origem natural (dissolução de rochas,
absorção de gases atmosféricos, oxidação,
matéria orgânica, fotossíntese) ou antropogênica
(despejos domésticos, despejos industriais, lavagem
de tanques, etc).
O
pH é importante em diversas etapas do tratamento da
água (coagulação, desinfecção,
controle de corrosividade, remoção da dureza).
O pH baixo está relacionado à corrosividade
e agressividade nas águas de abastecimento; pH afastado
da neutralidade pode afetar a vida aquática e os microorganismos
responsáveis pelo tratamento biológico dos esgotos.
A Resolução Conama (Tabela 41) recomenda pH
na faixa de 6-9. Em uma das amostras analisadas (Ambrósio
1 - Bica), foi encontrado um pH de 4,9, abaixo do especificado
pela legislação. Em se tratando de corpos d´água,
esses valores de pH podem estar associados à proliferação
de algas ou ao caráter ácido das rochas.
Turbidez:
representa o grau de interferência à passagem
da luz através da água, conferindo uma aparência
turva a ela. Pode ter origem natural (partículas de
rocha, argilas, silte ou algas e outros microorganismos) ou
antropogênica (despejos domésticos, despejos
industriais). Em todos os pontos amostrados, o parâmetro
tubidez encontra-se dentro do limite especificado pela legislação
(40-100 UNT).
Oxigênio
Dissolvido (OD): é de essencial importância
para os organismos aeróbios. Durante a estabilização
da matéria orgânica, as bactérias fazem
uso do oxigênio nos processos respiratórios,
podendo vir a causar uma redução da sua concentração
no meio. Dependendo da magnitude desse fenômeno, podem
vir a morrer diversos seres aquáticos, inclusive peixes.
O OD pode ter origem natural (dissolução do
oxigênio atmosférico, produção
pelos organismos fotossintéticos) ou antropogênica
(introdução de aeração artificial).
O limite de tolerância especificado pela Cetesb é
de 4 mg/L de O2, e, pelo Conama, varia em uma faixa
de 2-6 mg/L de O2.
Todas
as amostras analisadas estão com o teor de oxigênio
dissolvido acima do especificado pela legislação.
É importante destacar que a solubilidade do OD nos
corpos d´água varia com altitude e temperatura.
Ao nível do mar, na temperatura de 20oC, a concentração
de saturação é igual a 9,2 mg/L. Valores
de OD superiores à saturação são
indicativos da presença de algas (fotossíntese).
Fósforo:
na água, o fósforo apresenta-se principalmente
nas formas de ortofosfato, polifosfato e fósforo orgânico.
Os ortofosfatos são diretamente disponíveis
para o metabolismo biológico, sem necessidade de conversões
a formas mais simples. As formas em que os ortofosfatos se
apresentam na água (PO4 3-, HPO4
2-, H2PO4 1- e
H3PO4 dependem do pH, sendo a mais comum,
na faixa usual de pH 6-9, o HPO4 2-.
Os polifosfatos são moléculas mais complexas,
com dois ou mais átomos de fósforo. O fósforo
orgânico é normalmente de menor importância.
As origens naturais podem ser associadas à dissolução
de compostos do solo ou decomposição da matéria
orgânica, e as antropogênicas, aos esgotos domésticos,
industriais, detergentes, excrementos de animais e fertilizantes.
O limite de tolerância especificado pela Cetesb e pelo
Conama é de 0,025 mg/L (25 µg/L).
Foi
encontrado valor acima do especificado pela legislação
para a amostra Ambrósio 2 (Vala), 325 µg/L, em
razão, provavelmente, da contaminação
tanto por esgotos domésticos e detergentes como principalmente
excrementos de animais, observados nas imediações
do ponto de coleta. Um outro local onde o valor de fósforo
mostra-se um pouco acima do especificado pela legislação
foi o Ambrósio 3 (Nascente). Nesse caso, é provável
que se deva à dissolução de compostos
do solo ou à decomposição da matéria
orgânica. Todas as demais amostras analisadas estão
com o teor de fósforo dentro do estabelecido pela legislação.
Cloretos:
todas as águas naturais, em maior ou menor escala,
contêm íons resultantes da dissolução
de minerais. São originados da dissolução
de sais, tendo como origem natural a dissolução
de minerais, intrusão de águas salinas, entre
outros, e, como origens antropogênicas, os despejos
domésticos e industriais. Foram encontrados valores
altos de cloretos nos Rios Mambucaba e São Gonçalo,
1.680 e 15.900 mg/L, respectivamente, creditada à mistura
proveniente da penetração da maré na
foz dos rios. As outras amostras estão dentro do estabelecido
pela legislação (250 mg/L).
Demanda
Bioquímica de Oxigênio (DBO): está
associada à fração biodegradável
dos componentes orgânicos carbonáceos. É
uma medida do oxigênio consumido após 5 dias
pelos microorganismos na estabilização bioquímica
da matéria orgânica de origem natural (matéria
orgânica vegetal e animal) ou de origem antropogênica
(despejos domésticos e industriais). A presença
de matéria orgânica é responsável
pelo consumo, pelos microrganismos decompositores, do oxigênio
dissolvido na água; assim, a DBO retrata, de uma forma
indireta, não apenas o teor de matéria orgânica
contido nos corpos líquidos — fornece, também,
uma indicação do potencial do consumo do oxigênio
dissolvido.
A
DBO vem sendo utilizada como um dos parâmetros de maior
importância na caracterização do grau
de poluição de um corpo d' água. Nos
esgotos domésticos a concentração média
é de 300 mg/L, enquanto nas águas tratadas é
função do nível e do processo de tratamento.
A água destinada ao abastecimento doméstico
após tratamento convencional e à irrigação
de culturas (Classe 3 - Conama) tem como limite de tolerância
3 mg/L. Já a Cetesb considera como limite 10 mg/L.
Todas
as amostras analisadas apresentam DBO acima de 3 mg/L, mas
abaixo de 10 mg/L, com exceção da amostra do
Rio Bracuí (1 mg/L). Os valores acima de 10 mg/L —
Mamb.1A, Mamb. 1B e S Gon.2 (Foz) — devem estar relacionados
ao aporte de matéria orgânica vegetal e/ou animal.
6.5.1.3.7.
Parâmetros inorgânicos
- topo
Uma
grande parte dos micropoluentes inorgânicos é
tóxica. Entre esses, têm especial destaque os
metais pesados. Entre os metais pesados que se dissolvem na
água, incluem-se o arsênio, o cádmio,
o cromo, o chumbo, o mercúrio e a prata. Vários
desses metais se concentram na cadeia alimentar, resultando
em grande perigo para o organismo humano. Normalmente as concentrações
dos metais tóxicos nos ambientes aquáticos naturais
são bem pequenas.
Além
dos metais pesados, há outros micropoluentes inorgânicos
de importância em termos de saúde publica, como
os cianetos, o flúor e outros.
Ferro
e manganês: estão presentes nas formas insolúveis
(Fé 3+ e Mn 4+) numa grande quantidade
de tipos de solos. Na ausência de oxigênio dissolvido
(ex: água subterrânea ou fundo de lagos), eles
se apresentam na forma solúvel (Fé 2+
e Mn2+). Caso a água contendo as formas
reduzidas seja exposta ao ar atmosférico, o ferro e
o manganês se oxidam, voltando às suas formas
insolúveis (Fe3+ e Mn4+), o que
pode causar a coloração da água. Sua
origem natural pode ser devida à dissolução
de compostos do solo, e a antropogênica, devida a despejos
industriais.
Em
todos os pontos amostrados, o ferro e o manganês encontram-se
dentro do limite especificado pela legislação.
6.5.1.3.8.
Parâmetros biológicos
- topo
Os
microorganismos desempenham diversas funções
de fundamental importância, principalmente as relacionadas
com a transformação da matéria dentro
dos ciclos bioquímicos. Um outro aspecto de grande
relevância em termos da qualidade biológica da
água refere-se à possibilidade de transmissão
de doenças.
A
determinação da potencialidade da água
em transmitir doenças pode ser efetuada de forma indireta,
através dos organismos indicadores de contaminações
fecais, pertencentes principalmente ao grupo dos coliformes.
O limite de tolerância especificado pelo Conama corresponde
ao intervalo de 200 a 4000 NMP/100 ml para coliformes fecais,
e desde ausentes até 20.000 NMP/100 ml para coliformes
totais. Considerando os usos especificados para as águas
de classe 2 (abastecimento doméstico após tratamento
convencional, proteção das comunidades aquáticas
e alimentação humana), têm-se valores-limite
de 1.000 para coliformes fecais e 5.000 para coliformes totais.
Foi
encontrado valor acima do especificado pela legislação
para a classe 2 na amostra Ambrósio 2 (10.300 coliformes
fecais e 10.000 coliformes totais), fato creditado ao despejo
de esgotos domésticos no rio, tanto individual (várias
residências situadas próximo às linhas
de drenagem possuem tubulações que despejam
esgotos in natura) como proveniente do sistema filtrante
existente nessa localidade, situado a montante do ponto de
coleta.
Na
amostra Ambrósio 3 (Nascente), a contaminação
identificada também se deve, provavelmente, a algum
lançamento de esgoto, uma vez que foi relatado pela
população local o rápido crescimento
de moradias nos morros situados próximos ao ponto de
captação de águas pelo SAAE. A água
do ponto Ambrósio 1 (Bica), proveniente da nascente
utilizada pela população como água potável
(água mineral), acha-se dentro do especificado pela
legislação. As demais amostras também
estão dentro dos padrões de qualidade.
Aplicando-se
o Índice de Qualidade das Águas (IQA) para os
resultados obtidos nas análises efetuadas, verifica-se
que as águas dos rios monitorados podem ser consideradas
boas (51< IQA . 79), com exceção da amostra
Ambrósio 2, que pode ser considerada regular (36<
IQA . 51).
Segundo
os limites utilizados pela Cetesb, Portaria 1.469/00 do Ministério
da Saúde, Conama (classe 3) e Feema, todos os parâmetros
estão dentro do estabelecido por essas legislações,
com exceção dos parâmetros fosfato, oxigênio
dissolvido, nitrito, detergentes e coliformes fecais da amostra
Ambrósio 2, que se encontram fora dos padrões
de qualidade.
6.5.2.
Hidrogeologia
- topo
6.5.2.1.
Metodologia
- topo
Este
estudo específico foi realizado com base no relatório
"Levantamento e Diagnóstico (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Volume
II - Eixo 2 (Geologia e Recursos Hídricos)"
de autoria do IGEO da UFRJ, como já dito anteriormente.
O
IGEO/UFRJ dividiu, basicamente, seus esforços em três
etapas distintas:
•
pesquisa bibliográfica sobre dados hidrogeológicos
(Eletronuclear, CPRM, DRM e IBGE);
•
pesquisa de campo;
•
caracterização hidrogeológica.
6.5.2.1.1.
Inventário de dados hidrogeológicos
- topo
Os
dados obtidos na Eletronuclear constituíram-se, basicamente,
de relatórios técnicos de hidrogeologia ou contendo
informações hidrogeológicas, resultados
de análises químicas em águas subterrâneas
e nascentes, dados eteorológicos, base cartográfica
digitalizada, em escala 1:5.000, imagem Landsat (TM) em escala
1:100.000 e mapas temáticos (geologia e solos), também
na escala 1:100.000.
A base cartográfica foi obtida a partir
das cartas topográficas do IBGE em escala 1: 50.000:
rio Mambucaba, Cunhambebe, Parati e Angra dos Reis. Através
da CPRM foram obtidos: um cadastro de poços da região,
com suas localizações, dados construtivos e
analíticos, fotos aéreas USAF, 1966 escala 1:
60.000. No DRM obtiveram-se as cartas geológicas Cunhambebe,
Campos da Cunha/Rio Mambucaba, Parati e Angra dos Reis, em
escala 1:50.000, necessárias ao cumprimento da segunda
fase da pesquisa.
6.5.2.1.2. Trabalhos
de campo - topo
Foram
executadas inspeções de campo, que podem ser
divididas em duas etapas:
1)
Localização dos poços existentes na região
de Angra dos Reis - RJ, que constam de um cadastro cedido
pela CPRM, bem como o cadastramento de novos poços,
permitindo medições em campo de parâmetros
físicos e químicos. Esses dados foram utilizados
na caracterização hidrogeoquímica..
2)
Coleta de amostras de águas subterrâneas através
de poços e de água superficial de nascentes
e fontes, escolhidos estrategicamente, para análise
em laboratório de sua composição química,
o que também forneceu dados para a caracterização
hidrogeoquímica..
6.5.2.1.3.
Caracterização hidrogeológica
- topo
A
caracterização hidrogeológica, tanto
da AID-5 km (Área de Entorno Imediato - AEI), como
da AID-15 km, foi realizada segundo uma metodologia composta
por vários passos e que pode ser subdividida conforme
os estudos específicos que a compõem: balanço
hídrico; caracterização hidrogeoquímica,
hidrodinâmica, isotópica e de favorabilidade
hidrogeológica.
6.5.2.2.
Dados hidrogeológicos pré-existentes
- topo
6.5.2.2.1.
Relatório BP-3-6502-850100 - RI: Volume 1
- topo
O
relatório consiste nas investigações
geológicas e geotécnicas no morro de Ponta Grande
e na baixada sedimentar de Saco Fundo e Itaorninha, visando
a uma avaliação da área de Ponta Grande
como local apropriado para a instalação da Unidade
3 da CNAAA - Angra 3.
O
documento considerou os aspectos litológicos, estruturais
e estratigráficos, variações do nível
do mar, além análise de ensaios de perda d'
água e variações do nível do lençol
freático.
•
Ensaios de perda d' água
A
análise dos resultados obtidos indica que de 61 ensaios
de perda d' água realizados em Ponta Grande, 40 deles
não indicam perda alguma; sete, pequenas perdas (perda
d' água específica) inferior a 1l/min/m/kgf
(cm-2) e apenas 14 tiveram perda d' água considerável.
Verificou-se
ainda que as perdas d' água registradas são
bastante compatíveis com o grau de fraturamento encontrado
nos trechos ensaiados. Em trechos sem fraturas, foram registradas
pequenas perdas d' água que podem ser atribuídas
a uma eventual deficiência da vedação
do obturador.
Sendo
assim, pode-se considerar que o maciço rochoso de Ponta
Grande está em boas condições, pois a
maior parte dos ensaios apresenta nenhuma ou pequena perda
d' água, e que as perdas d'água registradas
são bastante compatíveis com o grau de fraturamento
encontrado nos trechos ensaiados.
•
Variação do nível da água
Para
avaliação do nível do lençol freático
na baixada sedimentar de Saco Fundo e Itaorninha, foram consideradas
as medições de nível d'água realizadas
durante a execução das sondagens e as leituras
dos medidores de nível d'água (MNA) instalados
no local.
Na
área de Saco Fundo as leituras de MNA têm indicado
flutuação do nível d'água entre
as cotas 0,0 e +1,0 m (CNG). Considerando, entretanto, que
as leituras de MNA foram iniciadas somente a partir de maio
de 1989, e que todas as sondagens da série SM foram
efetuadas no período de julho a agosto, justamente
o período de estiagem, flutuações do
lençol freático acima da cota +1,0 m (CNG) podem
ocorrer.
Na
área de Itaorninha, as leituras de MNA têm indicado
flutuação do nível d'água entre
as cotas - 0,27m + 1,0m (CNG).
6.5.2.2.2.
Relatório ER 1579: Autorização de Serviços
- Village do Frade, Angra dos Reis - Ensaios de Bombeamento
em Poço de Pesquisa - 2.107/81 (20.2)
- topo
O
relatório consiste na avaliação da potencialidade
do aqüífero local do Village do Frade, em Angra
dos Reis, a partir da análise de resultados de ensaios
de bombeamento de um poço alocado com a finalidade
de garantir o abastecimento de água dos alojamentos
de Village do Frade.
O
poço foi instalado perpendicularmente à falha
vertical de direção EW, com uma inclinação
de 45º.
Obteve-se
um coeficiente de permeabilidade (5.10-2 cm/s) a partir da
aplicação da Lei de Darcy, com base em inferências
sobre o gradiente hidráulico e área de fluxo
no poço. Segundo os autores, esses dados são
indicativos de um aqüífero de permeabilidade adequada
para exploração definitiva. A característica
atípica da forte inclinação do furo com
respeito ao prumo, de modo a cortar deliberadamente uma fratura
vertical, reporta a um fato de grande interesse hidrogeológico,
haja vista a considerável vazão obtida no poço.
Segundo informações esse poço foi abandonado
e nunca chegou a operar plenamente.
6.5.2.2.3.
Relatório Promon FR01H, no R11103F0662: considerações
sobre a hidrogeologia da região de Angra dos Reis
- topo
Este
relatório foi elaborado com o objetivo de fornecer
informações sobre a hidrogeologia da região
de Angra dos Reis, visando o suprimento de água subterrânea
para a CNAAA.
Inicialmente
o documento indica que as encostas dos morros da região
de Angra dos Reis apresentam ocorrências restritas de
águas subterrâneas, relacionadas às estruturas
geológicas e solos locais.
Segundo
relatório sobre a enseada sedimentar de Itaorna, e
supondo-se não haver problemas de salinidade, mesmo
no caso de se instalar uma bateria de poços, a vazão
obtida seria inferior à demanda, e as reservas seriam
rapidamente esgotadas. O esgotamento das reservas necessitaria
de um longo período de recarga, a qual ficaria na dependência
das chuvas.
6.5.2.2.4.
EIA de Angra 2
- topo
O
EIA de Angra 2 (NATRONTEC, 1999a) apresenta informações
sobre as águas superficiais e os registros sobre águas
subterrâneas, importantes na compreensão do meio
físico e da distribuição dos recursos
hídricos, tanto da AID quanto da AII.
Quanto
aos aspectos hidrogeológicos entende-se que os mananciais
respectivos encontram-se razoavelmente conservados, com exceção
dos localizados junto aos aglomerados que não dispõem
de nenhuma forma aceitável de saneamento básico.
Assim
sendo, os principais problemas detectados de qualidade da
água estão associados às cargas orgânicas
da população urbana que não dispõe
de esgotamento sanitário e aos depósitos não
controlados de lixo. Adicionalmente, apesar dos dispositivos
de tratamento de efluentes do Tebig, a grande movimentação
de derivados de petróleo por esse terminal tem causado
alguns vazamentos, que vêm sendo controlados e provocam
impactos normalmente reversíveis.
•
Águas subterrâneas
a)
Caracterização global
Indica
a grande predominância de aqüíferos livres,
localmente restritos a zonas fraturadas, ampliados em certos
trechos devido à associação com rochas
porosas do manto de intemperismo. As rochas possuem permeabilidade
relativamente baixa, o que proporciona aqüíferos
de boa qualidade química, mas de pouca importância
hidrogeológica.
Há
dois aqüíferos livres contínuos na região
de Barra Grande (Parati) e outro na região de Cunhambebe
(Angra dos Reis), correspondentes a formações
de sedimentos não consolidados, possivelmente propícios
à exploração de poços rasos (inferiores
a 50 m), com importância hidrogeológica razoavelmente
grande e boa qualidade química.
A
produtividade é de média a fraca, o que corresponde
a poços com capacidade específica entre 0,13
e 1 m3/h/m e vazão entre 3,25 e 25 m3/h, para um rebaixamento
do nível d' água de 25 m.
b)
Caracterização hidrogeológica no Sítio
da Usina
O
fluxo de água subterrânea está de acordo
com a superfície topográfica, no sentido de
Itaorna. O nível freático está em torno
de 2 m abaixo da superfície, com gradiente de cerca
de 0,5%, seguindo com um aumento da declividade na direção
do mar, até alcançar o gradiente de 1%.
c) Sistema
de juntas e falhas e preenchimento
Dois
sistemas de juntas verticais, aproximadamente perpendiculares
entre si, ocorrem nas rochas do local (gnaisses, migmatitos,
granitos e dioritos) e um sistema de juntas suborizontais,
ou de alívio. Apesar de a maioria das juntas estar
aberta nas proximidades das superfícies das rochas,
estas são fechadas no interior do maciço rochoso.
As
falhas também ocorrem em dois sistemas verticais perpendiculares
entre si. Os planos e falhas são preenchidos com material
de falha moído ou material de origem secundária,
o que dificulta a percolação da água.
d) Perda
d'água
Em
todas as perfurações na rocha, o nível
do lençol estava contido dentro ou pouco acima da superfície
da rocha, onde existiam juntas de alívio locais, com
juntas mais abertas. Em maiores profundidades, os testes registraram
menores perdas d' água, onde as juntas são mais
fechadas. As fissuras superficiais do maciço rochoso
possuem boa intercomunicação nesta região.
e) Artesianismo
Numa
perfuração, que interceptou uma junta a 7 m
abaixo do contato solo/rocha, verificaram-se características
de artesianismo, e uma vazão de 1.000 L/h foi observada
nos primeiros momentos do teste de bombeamento aí realizado,
decrescendo após algumas horas, até se tornar
insignificante em poucos dias. Caracterizou-se assim a pequena
capacidade de armazenamento associada às rochas cristalinas,
nas quais poços com vazões próximas a
4.000 L/h geralmente não existem, sendo mais comuns
aqueles com descarga nula ou de produção insignificante.
f) Águas
subterrâneas no entorno da cidade de Angra dos Reis
Indica
que, com exceção do centro, os demais bairros
(Sapinatuba, Bonfim, Praia Grande e Vila Velha) seriam os
mais propícios à exploração de
água subterrânea, por apresentarem estruturas
geológicas favoráveis à infiltração
e armazenamento de água, além de uma boa cobertura
vegetal, o que favoreceria a infiltração das
águas de chuva que escoam pelas encostas, mesmo estas
sendo íngremes e, conseqüentemente, a recarga
dos aqüíferos a serem explorados.
Além
disso, a baixa densidade demográfica desses locais
favoreceria a implantação de poços longe
de possíveis contaminações antrópicas,
mesmo que os poços se situassem em cotas pouco elevadas.
Por outro lado, alertou-se sobre a atitude da foliação
da geologia local, que, por ser contrária à
declividade da encosta, representaria uma possibilidade real
de contaminação pela infiltração
oriunda de fossas e sumidouros, através desses planos
de descontinuidade.
Ao
final conclui que a região estudada pode ser considerada
de boa capacidade para exploração de águas
subterrâneas, restando a determinação
do grau de fraturamento dos maciços a serem perfurados,
de modo a se obterem volumes compatíveis com a necessidade
da comunidade.
g)
Principais usos das águas subterrâneas
A
única captação de água subterrânea
para abastecimento doméstico executada por órgãos
oficiais encontra-se no bairro do Bonfim; contudo, esse poço
só é operado para complementar o abastecimento
do manancial superficial. A existência de outros poços
em toda a região em estudo é devida às
captações individuais, e não estão
mapeadas oficialmente.
i) Qualidade
das águas subterrâneas
Apenas
um ponto foi avaliado: o poço de 60 m de profundidade
no bairro do Bonfim, único que serve de abastecimento
urbano. Para sua caracterização, foram empreendidas
duas campanhas de coleta de água: uma, de verão
(21/3/97), e outra, de inverno (17/8/97). A Tabela 43 apresenta
os resultados das análises.
Tabela
43 - Resultados das análises de qualidade da água
do poço no Bairro Bonfim - Angra dos Reis
Parâmetro |
Unidade |
Padrão |
Campanha |
Verão |
Inverno |
Coliformes fecais |
NMP/100 ml |
1000 |
> |
Zero |
PH |
|
6,0 a 7,0 |
8,0 |
7,0 |
DBO |
mg/l |
5 |
1 |
19 |
Nitrogênio total |
mg/l |
|
0,47 |
<0,10 |
Fosfato total |
mg/l |
|
0,04 |
<0,10 |
Turbidez |
UNT |
40 |
0,3 |
1 |
Resíduo total |
mg/l |
|
172 |
115 |
Oxigênio dissolvido |
mg/l |
|
3,6 |
4,2 |
Coliformes totais |
NMP/100 ml |
5000 |
>1600 |
Zero |
DQO |
mg/l |
|
10 |
100 |
Mercúrio |
mg/l |
0,002 |
0,0004 |
<0,01 |
Índice de fenóis |
mg/l |
|
0,02 |
0,071 |
Fonte: NATRONTEC (1999a)
6.5.2.2.5.
Final Safety Analysis Report - Angra II (Ver. 5, June 01)
- topo
A
caracterização da água subterrânea
da área do empreendimento, segundo este relatório,
evidencia a superfície do lençol freático
como seguindo a superfície do terreno, localizada alguns
poucos metros abaixo desta. O gradiente tem um valor de aproximadamente
1% desde a praia até uma distância de 200 m da
praia, onde passa a ser de 0.5%.
6.5.2.2.6.
Programa de Monitoramento Ambiental Radiológico Operacional
(PMARO) - topo
•
Água de rio - os resultados obtidos em 2001 não
apresentaram quaisquer atividades de radionuclídeos
naturais e artificiais, utilizando-se a análise de
espectometria gama para o radionuclídeo 40K, cuja
média foi abaixo da atividade mínima detectável.
•
Água subterrânea - os resultados obtidos em
2001 não apresentaram quaisquer atividades de radionuclídeos
naturais e artificiais. Foi analisado o radionuclídeo
40K, e o valor encontrado foi abaixo da atividade mínima
detectável.
•
Precipitação - Nas amostras de precipitação,
as médias para todos os pontos no ano de 2001 apresentaram,
para a atividade de beta total, valores normais. A maior
média anual por ponto foi encontrada no ponto Rio-Santos
E (6,04 E - 0,2Bq/L). Não foi detectada a presença
de trício nessas amostras, bem como de qualquer outro
radionuclídeo natural ou artificial.
6.5.2.3.
Caracterização Hidrogeológica
- topo
Para
a caracterização hidrogeológica foram
consideradas:
•
AID-5 km, também chamada de Área de Entorno
Imediato (AEI).
•
AID-15 km.
6.5.2.3.1.
Balanço Hídrico
- topo
Este
estudo compreende o desenvolvimento de um modelo de balanço
hídrico a ser aplicado na AID-5 km (ou AEI), em Itaorna,
para analisar as trocas de águas subterrâneas
e as disponibilidades hídricas do período analisado,
bem como aspectos relacionados com o escoamento superficial.
Esta
região possui as seguintes características hidrometeorológicas:
clima tropical úmido, com pluviometria anual média
igual a 1.817 mm, com máximas precipitações
ocorrendo principalmente nos meses de outubro a março,
e a hidrografia formada por rios perenes de pequeno porte
e curso. A temperatura média anual é de 21,4°C,
segundo dados do período entre 1982-2001.
Para
avaliar as trocas de águas subterrâneas, o modelo
aplicado baseou-se na determinação mensal do
saldo de fluxo do balanço hídrico, durante o
período selecionado para a realização
do balanço, de janeiro/1991 a dezembro/2001. Os componentes
do saldo de fluxo do balanço hídrico, definidos
no contexto do estudo, constituem a recarga profunda no sistema.
Foi utilizado o programa Balan 10, idealizado por Samper e
García-Vera (1999) para realizar balanços hídricos
de aqüíferos.
Resultados
do balanço hídrico
Os
resultados da metodologia aplicada para os componentes do
balanço hídrico estão apresentados em
tabelas a seguir (Tabela 44 e Tabela 45), com uma síntese
de informações da disponibilidade hídrica
e escoamento superficial.
Tabela
44 - Resultados gerais do balanço hídrico utilizando-se
o Balan 10
Valores médios anuais (mm) |
Precipitação média anual |
1.984,27 mm |
Chuva útil total |
905,53 mm |
Chuva útil (fluxo direto) |
231,24 mm |
Evapotranspiração potencial anual |
1.008,62 mm |
Evapotranspiração real anual |
460,19 mm |
Escoamento superficial |
621,24 mm |
Fluxo hipodérmico |
0 |
Recarga ao aqüífero |
905,53 mm |
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eix o2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Tabela
45 - Resultados do balanço hídrico de Itaorna:
resumo das médias mensais*
Valores médios anuais (mm) |
Precipitação média anual |
1.984,27 mm |
Chuva útil total |
905,53 mm |
Chuva útil (fluxo direto) |
231,24 mm |
Evapotranspiração potencial anual |
1.008,62 mm |
Evapotranspiração real anual |
460,19 mm |
Escoamento superficial |
621,24 mm |
Fluxo hipodérmico |
0 |
Recarga ao aqüífero |
905,53 mm |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia
e Recursos Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Para
que o cálculo do balanço hídrico pudesse
ser viabilizado, resolveu-se por utilizar, mesmo que de forma
representativa, os dados de precipitação e de
temperatura fornecidos pela Eletronuclear no período
de 1982 a 2001 (Ver item 6.1 Meteorologia deste relatório).
Em razão de falhas nas séries, optou-se por
realizar o balanço em um intervalo de nove anos (de
1992 a 2000), tendo sido as séries preenchidas artificialmente,
utilizando-se o método das duplas-massas. Isso resultou
em pequenas diferenças com respeito ao valor da precipitação
média anual calculada, um pouco maior na última
década (1.984 mm).
Os
resultados do balanço indicaram que, para haver um
bom ajuste com os dados de nível do aqüífero
superficial obtido pela Eletronuclear nos piezômetros
de controle das encostas, trata-se necessariamente de um aqüífero
com pequeno armazenamento, rápida resposta à
recarga, com trânsito veloz pelas fraturas. Também
é notável o alto percentual de chuva útil
estimada (cerca de 45% da precipitação total,
correspondendo a 906 mm/ano), com elevadas taxas de infiltração
profunda, o que não surpreende dadas às características
de clima e vegetação locais, praticamente sem
déficit hídrico e pluviosidade abundante. Deve-se
salientar alguns fatores que diminuem a precisão do
estudo:
•
o valor de recarga resultante é demasiadamente alto
quando se levam em conta as estimativas de recarga obtidas
em locais semelhantes, mormente em zonas de encostas íngremes
como é o caso na área de estudo, o que o modelo
utilizado não leva em conta;
•
os dados utilizados para a calibração (variação
de níveis piezométricos obtidos de levantamentos
da ELETRONUCLEAR) apresentam uma grande variabilidade segundo
a profundidade ou local de tomada das medidas.
•
não foi levada em conta a existência de um
fluxo hipodérmico significativo, aquele que pode
representar o escoamento no limite físico entre o
material friável, inconsolidado e a rocha e que,
nas condições geoambientais locais pode representar
um grande percentual da recarga que não atinge o
aqüífero
profundo, fraturado.
Com
relação à variação de nível
dos piezômetros, tais dados aportam interessantes informações
sobre a recarga aos aqüíferos:
•
os piezômetros que registram a variação
de nível piezométrico na interface colúvio-solo
residual em geral têm variações menores,
da ordem de 2 a 2,5 m (Figura 186). Foram esses valores
que se utilizaram para a calibração do modelo
de simulação da recarga (BALAN 10), pois retratam
a recarga do aqüífero mais raso, que é
a simulada pelo referido modelo (embora, como já
dito, se possa ter em conta um possível fluxo hipodérmico,
não se chegou a utilizar essa opção);
•
os piezômetros que registram a variação
de níveis no horizonte entre o solo residual e rocha
alterada têm o comportamento mais errático,
os níveis em geral são mais profundos, mas
em vários casos chegam inclusive a aflorar à
superfície, o que pode refletir a grande gama de
situações hidráulicas no aqüífero
fraturado (Figura 186). Além disso, a variação
tem uma amplitude muito maior. Esse fato também reflete
a ocorrência do fluxo em fraturas (dupla porosidade,
com pequena porosidade total, e um pequeno armazenamento).
O estudo das curvas de esgotamento dos piezômetros
permitiu também obter parâmetros para o modelo,
tornando-o uma representação mais próxima
da realidade.

Figura 186 - Comparação da variação
piezométrica obtida com o Programa BALAN10 e dos piezômetros
instalados no contato entre o colúvio e o solo residual
(PD-SL4S) e entre o solo residual e a rocha alterada (PD-SL19I
e PS-I3) na encosta a jusante da BR-101.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Como
conseqüência do exposto, reforça-se a hipótese
de que existem dois subsistemas aqüíferos, um
mais raso, com maior armazenamento (meio poroso), que responde
diretamente às variações meteorológicas,
compreendendo a fração de solo vegetal/húmico
mais o solo residual subjacente, e outro mais profundo, com
as fraturas interconectadas hidraulicamente interagindo a
partir da interface solo residual-rocha alterada para baixo.
O sistema inferior apresenta um caráter bastante errático,
quanto às variações piezométricas
e ao tipo de resposta aos pulsos de recarga, típico
desse tipo de aqüífero.
Ainda
como resultado desta avaliação, obteve-se uma
estimativa da recarga ao aqüífero mais raso que
deve ser contrastada com outras técnicas para comprovação
do ajustamento da simulação.
6.5.2.3.2.
Caracterização hidrogeoquímica
- topo
A
caracterização hidrogeoquímica dos principais
sistemas aqüíferos é de fundamental importância,
por dois motivos principais:
1)
é necessário conhecer a qualidade das águas
subterrâneas antes da instalação do empreendimento,
de modo a estabelecer as condições iniciais;
2)
as características químicas ou físico-químicas
podem ser favoráveis ao transporte de eventuais contaminantes
que entrem em contato com o sistema subterrâneo e, portanto,
conhecendo-se previamente essas características, medidas
preventivas podem ser tomadas.
A
caracterização hidrogeoquímica da AID
foi realizada, inicialmente, com base no cadastro geral de
poços e utilizando dados físico-químicos
obtidos por ocasião da visita aos pontos d´água.
Esta campanha, realizada nos dias 17 e 18 de outubro de 2002,
procurou cumprir o planejamento inicial dos 11 poços
selecionados previamente (ANG-11, ANG-24, ANG-32, ANG-33,
ANG-35, ANG-41, ANG-42, ANG-43, ANG-51, F-1, F-2). A Figura
187 mostra a distribuição de todos os pontos
visitados.
Posteriormente,
foram empreendidas campanhas de amostragem, em poços
selecionados, a partir do cadastro principal, de modo a permitir
uma avaliação das características e comportamento
hidrogeoquímico das águas subterrâneas
na área de estudo. Foram coletadas também amostras
de referência, como: água de chuva; água
do mar; água da lagoa onde será implantada a
usina Angra 3; e uma amostra fora da área de estudo,
mas com características litológicas semelhantes.
Características
físico-químicas dos pontos d' água cadastrados
a)
Distribuição estatística e espacial
Baseou-se
nas informações de distribuição
espacial dos pontos d' água e respectivos parâmetros
físico-químicos (pH e CE), determinados por
ocasião do cadastramento.
A
Tabela 46 apresenta os valores estatísticos para as
principais características físicoquímicas
dos pontos d' água cadastrados nos sistemas aqüíferos
locais (sedimentos, fraturas superficiais, fraturas profundas).
Considerando-se o pequeno número de pontos d' água
cadastrados, do ponto de vista estatístico, não
foi possível separar por tipos de pontos de água.

Figura 187 - Localização
dos pontos selecionados para amostragem de caracterização
hidrogeoquímica.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Tabela
46 - Variáveis estatísticas calculadas para
os parâmetros físico-químicos dos pontos
d' água cadastrados (fontes naturais, poços
tubulares domésticos, cacimbas e poços tubulares
profundos)
Valores médios anuais (mm) |
Precipitação média anual |
1.984,27 mm |
Chuva útil total |
905,53 mm |
Chuva útil (fluxo direto) |
231,24 mm |
Evapotranspiração potencial anual |
1.008,62 mm |
Evapotranspiração real anual |
460,19 mm |
Escoamento superficial |
621,24 mm |
Fluxo hipodérmico |
0 |
Recarga ao aqüífero |
905,53 mm |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Observa-se
que, em geral, quase todos os parâmetros obedecem a
uma distribuição normal ou próxima, com
exceção do potencial redox (Eh), tendo em vista
o pequeno número de determinações.
b)
Potencial de hidrogênio - pH
Segundo
Langmuir (1997), o pH das águas subterrâneas
naturais está entre 4 e 9 — o que reflete a dinâmica
natural entre os ácidos e as bases, sendo que os valores
extremos ocorrem quando um dos dois é dominante.
O
pH observado nos pontos d' água cadastrados variou
entre 5.4 e 8.8, apresentando valor médio de 6.5 e
moda de 6.0. Portanto, pode-se estimar que as águas
subterrâneas na AID são neutras a levemente ácidas.
Os menores valores de pH (entre 5.5 e 6.0) foram encontrados
nas fontes naturais e em alguns poços tubulares profundos
com até 70.0 m de profundidade. O maior valor de pH,
8.8, foi verificado num poço tubular doméstico
com cerca de 9.0 m de profundidade, instalado num sedimento
próximo à praia — resultado, provavelmente
do tamponamento por algum mineral carbonático.
c)
Condutividade elétrica - CE
A
condutividade elétrica (CE) é uma medida indireta
do total de sólidos dissolvidos (TDS) de uma amostra
de água. Alguns autores sugerem que:
TDS
(mg/L) = 0.5 a 0.8 x CE (µS/cm)
Portanto,
conhecendo essa relação para uma determinada
região, é possível, a partir da CE, estimar
o TDS e avaliar um dos parâmetros de potabilidade da
água, definido como 500 mg/L pelo Ministério
da Saúde (Funasa, 2000).
A
CE observada no conjunto de poços cadastrados variou
entre 20 e 406 µS/cm, apresentando uma média
de 150 µS/cm. O conjunto de dados, apresentou dois valores
máximos: um, entre 50 e 100 µS/cm, e outro, entre
150 e 200 µS/cm. Os menores valores de CE observados
foram relativos às fontes naturais (20 a 55µS/cm);
entretanto, cabe destacar que um poço tubular profundo
com 68 m de profundidade e próximo à praia apresentou
CE de 29 µS/cm.
d)
Seleção dos poços para amostragem
Em
função da localização espacial,
proximidade com o complexo das usinas de Angra, utilização
das águas para consumo doméstico e valores de
pH e CE obtidos por ocasião do cadastramento dos poços,
selecionaram-se os pontos para amostragem (Tabela 47). Foram
amostradas duas fontes naturais, uma cacimba, dois poços
tubulares domésticos e 6 poços tubulares profundos.
Observando-se
a Figura 187, mostrada anteriormente, é possível
notar que a grande maioria dos poços amostrados está
localizada a leste do empreendimento. Isso se justifica, já
que a direção preferencial dos ventos que poderiam
transportar e depositar radionuclídeos atua nessa direção
e porque a maior concentração populacional também
é encontrada nesta área.
Tabela
47 - Relação dos pontos d' água amostrados,
por tipo de captação
No. de
ID |
UTM N |
UTM E |
Prof.
m |
NE
m |
Vazão
(m3/h) |
Tipo de
captação |
pH |
C.E.
uS/cm |
Eh mV |
Temp.
oC |
ANG-11 |
7454837 |
547869 |
60 |
|
12 |
Tub. Prof. |
6.7 |
191.3 |
|
24.3 |
ANG-24 |
7454235 |
568183 |
110 |
|
15 |
Tub. Prof. |
6.51 |
176.9 |
393 |
24.8 |
ANG-32 |
7454800 |
568599 |
94 |
7 |
14.6 |
Tub. Prof. |
6.8 |
406 |
316 |
24.3 |
ANG-33 |
7461120 |
568720 |
68 |
1.14 |
|
Tub. Prof. |
5.44 |
29.1 |
431 |
25.4 |
ANG-35 |
7460595 |
557049 |
20 |
3.35 |
|
Cacimba |
5.4 |
65.6 |
433 |
24.8 |
ANG-41 |
7461600 |
560174 |
15 |
|
3.75 |
Tub. Dom |
7.1 |
52.1 |
|
|
ANG-42 |
7456176 |
566206 |
100 |
|
|
Tub. Prof. |
6.21 |
107.1 |
399 |
23.8 |
ANG-43 |
7453935 |
567265 |
150 |
7.71 |
|
Tub. Prof. |
6.39 |
134.3 |
402 |
24 |
ANG-51 |
7463852 |
562883 |
9 |
|
|
Tub. Dom |
8.8 |
382 |
|
|
F-1 |
7456038 |
555237 |
|
|
|
Fonte |
5.68 |
54.9 |
431 |
21.8 |
F-2 |
7458299 |
557514 |
|
|
|
Fonte |
5.54 |
20.3 |
440 |
23.3 |
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol II (Eixo 2 -
Geologia e Recursos Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Características
físico-químicas e químicas dos pontos
d' água amostrados
a)
Análises químicas
As
análises químicas de laboratório foram
realizadas pela Innolab, um laboratório credenciado
pela Feema no estado do Rio de Janeiro, dispondo ainda de
certificado ISO 9002 e ISO 17025. A Tabela 48 mostra os parâmetros
determinados nas análises de laboratório e respectivos
limites de detecção e métodos de análise.
Tabela
48 - Relação dos parâmetros e elementos
determinados nas análises de laboratório realizadas
pela Innolab e respectivos limites de detecção
e métodos de análise
Parâmetro/elemen
to |
Limite de
detecção |
Método de análise utilizado |
PH |
S/cm |
Standard Methods for the Examination of Water and Waste Water - 20th ed. |
CE |
S/cm |
Standard Methods for the Examination of Water and Waste Water - 20th ed. |
Ca2+ |
0,1 mg/L |
EN ISO 14911 E34 |
Mg+ |
0,1 mg/L |
EN ISO 14911 E34 |
Na+ |
0,1 mg/L |
EN ISO 14911 E34 |
K+ |
0,1 mg/L |
EN ISO 14911 E34 |
HCO3
- |
1 mg/L |
Standard Methods for the Examination of Water and Waste Water - 20th ed. |
Cl- |
0,1mg/L |
Standard Methods for the Examination of Water and Waste Water - 20th ed. |
SO4
2- |
1 mg/L |
Standard Methods for the Examination of Water and Waste Water - 20th ed. |
NO3
- |
0,01 mg/L |
Standard Methods for the Examination of Water and Waste Water - 20th ed. |
Fe total |
0,01mg/L |
Standard Methods for the Examination of Water and Waste Water - 20th ed. |
Mn total |
0,005 mg/L |
EN ISO 11885 E22 |
Al total |
0,03 mg/L |
EN ISO 11885 |
F |
0,1 mg/L |
EN ISO 10304-1 D19 |
Si |
0,05 mg/L |
EN ISO 11885 |
Sr |
0,05 mg/L |
EN ISO 11885 |
As |
0,0001mg/L |
EN ISO 11969 |
Cd |
0,0001 mg/L |
EN ISO 5961 E19 |
Cr |
0,001 mg/L |
DIN EN 1233 E10 |
Pb |
0,003 mg/L |
N 38406 E6 |
Zn |
0,005 mg/L |
EN ISO 11885 E22 |
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Observa-se
que os cátions apresentam limite de detecção
da ordem de 0,1 mg/L e os ânions apresentam limites
entre 0,1 e 1,0 mg/L, para o SO4 2- e HCO3 - respectivamente.
Esse tipo de diferença pode ocasionar problemas no
balanço iônico em amostras muito diluídas,
como algumas das encaminhadas ao laboratório (ANG-33
e F-2) que apresentaram CE entre 20 e 30 µs/cm. Os outros
limites de detecção, metais e elementos traços,
estão na ordem de 0,1 a 0,0001 mg/L para o flúor
e cádmio, respectivamente.
b)
Qualidade da amostragem
Chegou-se
à avaliação da qualidade da amostragem,
partindo-se da comparação dos valores de pH
de campo e dos valores de pH obtidos no laboratório.
Caso a amostragem tenha sido mal realizada ou tenha havido
problemas durante o transporte e preservação
das amostras, seriam observadas diferenças significativas
entre os respectivos valores.
Os
valores de pH medidos no campo e os medidos no laboratório
da Innolab foram comparados e observou-se que os valores de
pH de laboratório são cerca de 0,2 unidades
de pH maiores que os valores de campo. Como essa diferença
apresentou uma variação aproximadamente constante
para todo o conjunto de amostras, atribui-se a uma diferença
de equipamentos, eletrodos e soluções-padrão
utilizadas do que à amostragem propriamente dita
— pois se sabe que o desprendimento de CO2
ocorre de maneira diferenciada para diversos tipos de amostra,
isto é, em função da pressão parcial
PCO2. Portanto, pode-se considerar que tanto a amostragem
quanto a preservação das amostras foram de alta
qualidade.
A
mesma comparação foi realizada com os valores
de CE. Observou-se uma excelente concordância entre
os dois conjuntos de valores, confirmando, mais uma vez, a
qualidade da amostragem e preservação.
c)
Distribuição dos parâmetros físico-químicos
de campo
Durante
a amostragem, foram determinados os valores de pH, CE, Temp
e Eh de todas as amostras. Apresenta-se aqui uma avaliação
estatística desses parâmetros do conjunto de
amostras analisadas. Os valores de pH dos pontos amostrados
variaram entre 5.4 e 8.8, mostrando valor médio de
6.5, de modo que esse subconjunto amostrado, em termos de
pH, é representativo do conjunto maior de poços
cadastrados. Os valores de CE variaram de 20 a 406 µS/cm,
registrando valor médio de 120 µS/cm, isto é,
valores bem próximos aos do conjunto maior de poços
cadastrados, do mesmo modo que no pH. Essas observações
permitem considerar que as amostras selecionadas são
representativas para a área de estudo, cobrindo todo
o espectro de pH e CE do conjunto.
Quanto
ao parâmetro temperatura, observou-se que a água
subterrânea variou de 21.8 a 25.4 oC, apresentando valor
médio de 24.3oC. Em geral, a temperatura das águas
subterrâneas reflete a temperatura média anual
ou a temperatura da formação, no caso de uma
circulação mais profunda. Uma variação
significativa da temperatura ao longo do ano pode representar
uma água jovem, com pequeno tempo de residência
e provavelmente mais vulnerável a contaminação.
Uma temperatura mais constante ao longo do ano representa
uma água com circulação mais lenta e
mais profunda.
Verificou-se
que o potencial redox apresenta uma variação
muito pequena: entre 315 e 440 mV, com valor médio
de 402 mV. Esses valores são representativos de águas
subterrâneas oxidadas. Valores elevados de Eh, baixos
valores de CE em geral e da temperatura, em alguns casos,
levam a crer que as águas subterrâneas da AID-15
km apresentam rápida circulação e, portanto,
extremamente vulneráveis a contaminação.
d)
Avaliação da qualidade das análises
químicas
Uma
das melhores maneiras de avaliar a qualidade das análises
químicas é através do cálculo
do balanço iônico, isto é, o somatório
de cátions e ânions em equivalentes deve ser
igual para uma amostra de água.
O
balanço iônico realizado para o conjunto de amostras
analisadas na Innolab demonstrou que, de modo geral, as análises
apresentaram uma boa qualidade com erro iônico menor
que 10%. Em geral, as amostras apresentam uma maior concentração
de ânions do que de cátions. Somente duas amostras
apresentaram erros maiores que 10%: amostra F-1, com erro
de 37%, e F-2, com erro de -16%. No caso de uma amostra
apresentar erros iônicos muito maiores que 10%, é
possível saber se o erro foi na determinação
dos cátions ou nos ânions. Appelo e Postma (1999)
recomendam utilizar a CE de campo versus o somatório
de cátions e ânions para identificar o erro analítico.
A
amostra F-1 apresentou um erro de 37% de cátions a
mais que ânions, indicando a ocorrência de problemas
analíticos na determinação dos ânions.
É possível explicar que, provavelmente, o erro
foi na determinação do íon SO4 -2, pois
o relatório apresentou-o como não-detectável.
A amostra F-2 apresentou um erro de -16 %. Nesse caso,
provavelmente, os cátions foram subestimados, uma vez
que a amostra, apresentou concentrações de cátions,
principalmente Ca2+ e Mg+, bem próximas ao limite de
detecção do método utilizado.
Com
os argumentos acima, foi possível corrigir as concentrações
desses íons nas amostras F-1 e F-2, de modo a minimizar
o erro do balanço iônico. Para a amostra F-1,
uma concentração de 11.5 mg/L (0.12 mmol/L)
de SO4-2 é suficiente para minimizar o erro no balanço
iônico. Para a amostra F-2, uma concentração
de 1.0 mg/L (0.025 mmol/L) de Ca2+ e de 0.35mg/L (0.014 mmol/L)
de Mg+ foi suficiente para minimizar o erro do balanço
iônico dessa amostra.
e)
Classificação das águas
Os
diagramas de Piper, apresentados nas Figura 188, Figura 189
e Figura 190, apresentam a classificação das
águas a partir dos elementos maiores: Ca2+, Mg2+, Na+,
K+, Cl-, HCO3 -, SO4 2-. Observa-se
que existem três grupos distintos de águas. O
primeiro grupo é formado pelas águas com características
Na-Cl (cloretadas sódicas), assemelhando-se às
características das águas de chuva. Existe um
outro subgrupo de amostras, bem próximo ao primeiro,
entretanto, com concentrações relativas de cálcio
um pouco maiores, formando as águas Ca2+-Na+-Cl-.,
provavelmente, resultantes de alguma interação
de troca de elementos, ou alteração da matriz
sólida. O segundo grupo de amostras, que pode ser facilmente
identificado, são as amostras dos poços tubulares
profundos (ANG-24, ANG-32, ANG-33, ANG-42, ANG-43), com características
Ca2+-Na+—HCO3 --Cl- (bicarbonatadas, cloretadas,
cálcico-sódicas), resultantes de uma interação
mais efetiva das águas com a zona não saturada
e a matriz sólida. Um terceiro grupo, formado por uma
única amostra, apresentou características bem
diferentes das anteriores, amostra ANG-51, Ca—HCO3
(bicarbonatadacálcica), sugerindo uma evolução
mais acentuada, com substituição do sódio
pelo cálcio nas argilas e, provavelmente, dissolução
de calcita, de modo que os íons predominantes foram
o cálcio e bicarbonato.

Figura 188 - Diagrama de Piper para as amostras de referência
Ca2+-Cl-: BR (branco, coletada em Paty de Alferes); e Na+-Cl-:
MAR (água do mar, coletada em Angra dos Reis), L-1
(lago de Angra 3), CH (chuva, coletada no Horto do complexo
de Angra).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 189 - Diagrama de Piper para as amostras dos poços
tubulares profundos, com água Na+—Cl-(F-2 e ANG-33),
passando a Ca2+-Na+—Cl- (F-1, ANG-11, ANG-40) e para
a amostra ANG-51, Ca2+—HCO3-.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 190 - Diagrama de Piper para as amostras dos poços
tubulares profundos, com água Ca2+-Na+—HCO3--Cl-.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
De
modo geral, observa-se que as águas mais leves apresentam
características bem semelhantes às da água
de chuva, ao passo que as águas mais concentradas vão
apresentando maiores concentrações de cálcio
e bicarbonato.
As
figuras abaixo (Figura 191 a Figura 194) apresentam as assinaturas
das diversas amostras de água, utilizando o diagrama
de Schoeller.
Observa-se,
na Figura 191 que as amostras de referência da água
do mar (linhas superiores) e água de chuva (linha inferior)
apresentaram assinaturas semelhantes, com exceção
das concentrações relativas de bicarbonato,
o que é perfeitamente justificável, uma vez
que o pH da água de chuva (4,4) é bem menor
que o pH da água do mar (8,0). A assinatura (linha)
intermediária é da amostra BR (branco), apresentando
características bem distintas das demais. É
interessante notar que a concentração de cloreto
dessa amostra é bem próxima da concentração
de cloreto da água de chuva, sugerindo que, provavelmente,
essa amostra não sofreu nenhuma concentração
evaporativa. Desse modo, a diferença entre os dois
diagramas pode ser considerada como excesso, resultante das
interações químicas da água com
a matriz sólida. Observa-se, portanto, um enriquecimento
significativo dos íons sulfato, cálcio e magnésio
nessa amostra. Tendo em vista essa diferença significativa,
na distribuição dos íons maiores e, certamente,
no comportamento geoquímico dessa amostra, recomenda-se
não utilizá-la como referência.

Figura 191 - Diagrama de Schoeller
para comparação da assinatura das amostras de
referência para as amostras de referência: BR
(branco, coletada em Paty de Alferes); MAR (água do
mar, coletada em Angra dos Reis), L-1 (lago de Angra 3), CH
(chuva, coletada no Horto do complexo de Angra).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 192 - Diagrama de Schoeller: comparação
da assinatura da água de chuva com as água das
fontes (F-1 e F-2) e do lago (L-1).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Observa-se
na Figura 192 a comparação da assinatura das
amostras de água das fontes (F-1 e F-2) e do lago (L-1)
com a água de chuva. Com relação às
fontes, observa-se que essas águas não sofreram
nenhum tipo de concentração evaporativa, uma
vez que as concentrações dos íons cloreto
e sódio são bem próximas. A principal
diferença está nas concentrações
dos íons sulfato e cálcio. A amostra do lago
é resultante de uma mistura da água de chuva
com a água do mar, que entra diretamente no lago, através
das fraturas do maciço rochoso, mais algumas reações
biogeoquímicas no interior do lago, impulsionadas pela
fauna e flora que se desenvolveu no local, posteriormente.

Figura 193 - Diagrama de Schoeller: comparação
da assinatura da água de chuva com as água dos
poços profundos (ANG-11, 24, 32, 33, 42, 43).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Observa-se
na Figura 193 a comparação da assinatura das
amostras de água dos poços profundos com a água
de chuva. Alguns poços apresentam concentrações
de cloreto e sódio semelhante às da água
de chuva; portanto, não sofreram concentração
evaporativa. Em outros poços, observa-se uma concentração
evaporativa de até 10 vezes, pois as concentrações
do íon cloreto e sódio são cerca de 10
vezes maiores. Entretanto, em ambos os casos, verifica-se
um tamponamento das amostras, com aumento da concentração
do íon bicarbonato e do pH, bem como um aumento da
concentração relativa dos íons cálcio
e magnésio, resultante do processo de alteração
das rochas encaixantes. Não se observa uma variação
significativa do íon sódio em relação
ao cloreto que possa justificar uma troca iônica com
o cálcio; sendo assim, provavelmente, todo o cálcio
presente na água deve ser resultante de reações
de dissolução ou alteração.

Figura 194 - Diagrama de Schoeller:
comparação da assinatura da água de chuva
com as água do poço ANG-51.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
No
gráfico da Figura 194, apresenta-se o diagrama de Schoeller
para a amostra ANG-51 e a água de chuva. Observa-se
que as concentrações de sódio, cloreto
e sulfato são bem próximas às das águas
da chuva, apresentando, porém, um pouco mais de sódio
e um pouco menos de cloreto do que a água de chuva
— o que sugere, portanto, que não houve concentração
evaporativa nessa amostra. Observa-se, entretanto, um enriquecimento
extremamente acentuado, cerca de duas ordens de grandeza maiores
que as iniciais, nas concentrações de cálcio,
magnésio e bicarbonato, sugerindo equilíbrio
com rochas carbonáticas, como calcitas, dolomitas ou
calcitas magnesianas.
As
amostras Na-Cl apresentam características bem semelhantes
às da água da chuva obtida por De Mello (2001)
em Niterói, indicando que são águas bem
jovens e com muito pouca interação com os solos
e rochas percolados. A amostra ANG-35 é de uma cacimba
com 20 m de profundidade escavada num sedimento arenoso no
Cunhambebe. Essa amostra é a que apresenta a maior
concentração relativa de bicarbonato, resultado
de uma maior interação com o ambiente na zona
não saturada, ou em virtude da dissolução
de calcita, eventualmente presente no sedimento.
A
amostra ANG-33 é de um poço profundo muito próximo
à praia e é a que apresenta a maior concentração
de sódio, provavelmente, resultante do processo de
alteração dos feldspatos no perfil de alteração
durante a infiltração ou nas fraturas da rocha
durante a percolação. A amostra F-1 é
a que apresenta a maior concentração relativa
de sulfato, provavelmente, devido ao ajuste feito para corrigir
o balanço iônico. No item anterior, chamou-se
atenção para possíveis problemas devidos
ao limite de detecção do sulfato e bicarbonato
na qualidade dos resultados das amostras muito diluídas.
No
diagrama de Schoeller, as amostras desse grupo apresentam
boa concordância entre si e com a amostra de referência,
a água de chuva. Além das diferenças
iônicas, entre os dois grupos de amostras, observa-se,
qualitativamente, a partir do diagrama de Schoeller, que as
amostras Na-Cl apresentaram os menores valores de TDS.
As
amostras Na-Ca-HCO3 apresentam-se mais agrupadas,
ou mais homogêneas, tanto no diagrama de Piper quanto
no diagrama de Schoeller. De modo geral, pode-se dizer que
a principal diferença entre as amostras de água
deste grupo é o total de sólidos dissolvidos.
Admitindo uma evolução dessas águas a
partir do primeiro grupo Na-Cl, observa-se um enriquecimento
dos íons bicarbonato e cálcio (ver direção
da seta indicada Figura 195).

Figura 195 - Diagrama de Piper
e Schoeller para o conjunto de oito amostras de água.
As amostras em vermelho são as Na-Cl-(SO4=) e as em
preto são as Na-Ca-HCO3-. As amostras com asterisco
são de referência, água de chuva (De Mello,
2001) e água do mar (PHREEQC). A seta sugere a evolução
das águas subterrâneas a partir da água
de chuva.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
É
importante observar que os dois grupos de amostras (Na-Cl
e Na-Ca-HCO3) apresentam faixas de valores de pH
e CE específicas também, isto é, as amostras
Na-Cl, com hidroquímica semelhante à das águas
de chuva, apresentam pH mais baixos, menores que 6.0 e CE
menores que 100 µS/cm (Figura 196). Por outro lado,
as amostras Na-Ca-HCO3 registram valores de pH
maiores que 6.0 e CE maiores que 100 µS/cm. Esse comportamento
do diagrama pH x CE também sugere diversas fases da
evolução das águas subterrâneas.

Figura 196 - Relação entre o pH, CE e Eh
para os dois grupos de amostras (Na-Cl e Na-Ca-HCO3). O *
asterisco é uma amostra de referência de água
de chuva (De Mello, 2001).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
O
diagrama pH x Eh também permite diferenciar as amostras;
em geral, as amostras Na-Cl são mais oxidadas e apresentam
valores de Eh maiores que 400 mV. Nesse caso, observa-se que
as amostras apresentam um caminho de evolução
das águas, acompanhando uma linha de estabilidade intermediária
para a seguinte reação:
H2O2
= O2 + 2H+ + 2e; (6.2)
admitindo
que q = pO2/(H2O2) = 1 a
106 - para as duas linhas superiores. A linha inferior
é relativa ao diagrama de estabilidade da seguinte
reação:
H2
= 2H+ + 2e; (6.3)
a
seta indica a direção da evolução
das águas, passando de Na-Cl a Na-Ca-HCO3.
f)
Metais e elementos-traço
-
Geoquímica da sílica
Observa-se
na Figura 197 que a concentração de SiO2
nas amostras Na-Cl são menores que 10mg/L, ao passo
que, nas amostras Na-Ca-HCO3, as concentrações
são maiores que 10 mg/L. É possível observar
uma relação direta entre os valores de pH e
concentrações crescentes de SiO2,
enquanto que, para o Eh, observam-se concentrações
decrescentes para maiores valores de Eh.

Figura 197 - Relação
entre a concentração de SiO2, pH e o Eh para
o conjunto de pontos amostrados. A seta indica a direção
provável da evolução geoquímica
das águas Na-Cl para Na-Ca-HCO3.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Entende-se
essa relação crescente entre o pH e a concentração
de SiO2, uma vez que os valores mais elevados de
pH são das amostras com maiores valores de TDS, e portanto,
tiveram maior tempo de contato com a fase sólida, permitindo
a dissolução da sílica amorfa.Os valores
de Eh não são diretamente correlacionáveis
às concentrações de SiO2,
pois não interferem no seu equilíbrio geoquímico.
Mas, como o Eh está fortemente correlacionado ao pH,
e este está controlando a concentração
de SiO2, pode-se entender a correlação
indireta entre o Eh e as concentrações de SiO2.
O diagrama de estabilidade da SiO2 (quartzo e amorfa)
da Figura 198 permite visualizar que as concentrações
de sílica observadas nas amostras de água subterrânea
indicam que não há equilíbrio com nenhuma
das duas fases; pode-se dizer, porém, que as concentrações
estão mais próximas da SiO2 (quartzo)
do que da SiO2 (amorfa).
Outra
observação importante é que, como as
concentrações de Al em todas as amostras foram
muito baixas (menores que o limite de detecção),
pode-se considerar que a sílica contida nas águas
subterrâneas é proveniente do quartzo presente
nas rochas encaixantes, e não da alteração
dos alumino-silicatos, como feldspatos e micas.

Figura 198 - Diagrama de estabilidade da SiO2 (quartzo)
e da SiO2 (amorfa).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
-
Geoquímica do Fé
Tendo
em vista os estados de oxidação do Fe2+ e Fe3+,
é de esperar que o comportamento geoquímico
do ferro nas águas subterrâneas seja função
tanto das condições redox quanto do pH. De modo
geral, as concentrações de ferro são
muito baixas, não sendo possível observar uma
relação muito forte entre o pH ou o Eh e o ferro
total dissolvido. As setas da Figura 199 representam apenas
uma tendência geral de evolução do Fe,
a partir das águas mais dissolvidas do tipo Na-Cl.

Figura 199 - Variação na concentração
de Fe dissolvido em função do pH e Eh.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.

Figura 200 - Diagrama de estabilidade Eh-pH a 25oC admitindo
as espécies Fe-O2-H2O a baixas concentrações.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
A
linha traçada na Figura 200 representa a reação:
Fe(OH)2
+ + 2H+ + e- = Fe2+ + 2H2O, (6.4)
que,
resolvida para a condição Eh, pH e respectivas
constantes termodinâmicas, pode
ser reescrita como:
Eh
= 1.105 - 118 pH (6.5)
Os
pontos que caírem acima da reta apresentam as espécies
principais na forma de Fe(OH)2 + e os pontos abaixo
da reta apresentam as espécies principais na forma
de Fe2+. É interessante notar que as amostras Na-Cl,
com menores valores de pH e de TDS e as Na-Ca-HCO3,
também, apresentam características semelhantes
com relação às espécies do ferro
dissolvido.
6.5.2.3.3.
Caracterização hidrodinâmica
- topo
Para
avaliação das características hidrodinâmicas
dos aqüíferos, foram utilizados, inicialmente,
dados preexistentes, como cadastros de poços e relatórios
técnicos. Posteriormente, realizaram-se três
ensaios de bombeamento.
Foram
avaliados os dois sistemas principais: aqüíferos
sedimentares arenosos; e aqüíferos fissurais.
Aqüíferos
sedimentares porosos: segundo os dados do relatório
de investigações geológico-geotécnicas
na Praia de Itaorninha, existem duas camadas de areia distintas.
A areia da camada superior, aqui denominada de areia I, possui
peso específico saturado de 18,5 kN/m3. A areia da
camada inferior, aqui denominada de areia II, possui peso
específico saturado de 19,0 kN/m3. A partir desses
valores, admitindo uma densidade dos grãos de 2,64
e grau de saturação de 100%, pode-se calcular
a porosidade ou armazenamento específico das duas camadas
de areia.
A
areia I possui uma porosidade média de 45% e a areia
II, uma porosidade média de 48%. Isso significa que
1,0 m3 de areia é capaz de armazenar entre 450 e 480
litros de água. Para um aqüífero livre,
o armazenamento pode ser avaliado a partir da porosidade do
aqüífero.
A
permeabilidade da areia pode ser avaliada a partir dos ensaios
de bombeamento e rebaixamento realizados por ocasião
das escavações da fundação de
Angra 1, tendo sido obtidos valores de permeabilidade da ordem
8.10-3 cm/s (Velloso, 1988).
Aqüíferos
fraturados: o estudo das características hidráulicas
dos maciços fraturados (aqüíferos fissurais)
foi levado a cabo em dois níveis:
1)
local (AEI), com o uso de ensaios de perda d' água
(EPA) realizados nas fundações das unidades;
2)
a Área de Influência Direta (AID), com a avaliação
de dados preexistentes ou gerados especificamente para o presente
trabalho em poços na AID.
A
avaliação dos parâmetros hidrodinâmicos
dos maciços fraturados de fundação das
usinas foi efetuada partindo dos ensaios de perda d' água
realizados na área da fundação de Angra
3 e com base em resultados de testes de bombeamento em poços
profundos construídos na AID.
Os
ensaios de perda d' água na área das fundações
da usina Angra 3 foram relatados em relatório da Promon
(descrito no item 6.5.2.2.1 Relatório BP-3-6502-850100
- RI: Volume 1). As perdas d' água observadas
foram muito pequenas, isto é, menores que 0,1 Lugeon,
ou menores que 1,0 (L/min)/(m.kgf/cm2). Nesses casos, pode-se
atribuir as perdas d' água verificadas ao vazamento
no obturador e não às fraturas. Pode-se dizer
que as perdas d' água registradas foram bastante compatíveis
com o grau de fraturamento encontrado nos trechos ensaiados.
Para
o nível da AID, através da avaliação
de dados preexistentes dos poços, a partir do tratamento
e interpretação dos dados de rebaixamento, vazão
e profundidade disponíveis em cadastros, foi possível
avaliar alguns parâmetros hidrodinâmicos dos maciços:
vazão específica e coeficiente de transmissividade.
A
Tabela 49 apresenta os dados obtidos nos cadastros dos poços
e a Tabela 50 mostra os valores médios, máximos,
mínimos e desvio-padrão para o conjunto de dados.
Tabela
49 - Vazão, rebaixamento e parâmetros hidrodinâmicos
obtidos a partir dos poços cadastrados
Cod. ID |
PROF. m |
NE m |
ND m |
Vazão m3/h |
S' m |
Q/S m2/h |
T = 100Q/S m2/dia |
ANG-4 |
50,2 |
0,9 |
30,0 |
8,5 |
29,1 |
0,29 |
7,86 |
ANG-5 |
57,0 |
12,0 |
45,0 |
1,3 |
33,0 |
0,04 |
1,06 |
ANG-7 |
50,0 |
5,0 |
42,0 |
0,7 |
37,0 |
0,02 |
0,47 |
ANG-8 |
90,0 |
22,0 |
53,0 |
0,7 |
31,0 |
0,02 |
0,61 |
ANG-9 |
40,0 |
1,0 |
18,0 |
2,6 |
17,0 |
0,16 |
4,19 |
ANG-12 |
|
7,0 |
38,0 |
12,0 |
31,0 |
0,39 |
10,5 |
ANG-26 |
74,0 |
15,3 |
42,4 |
1,6 |
27,1 |
0,06 |
1,59 |
ANG-27 |
70,0 |
18,9 |
61,2 |
1,0 |
42,3 |
0,02 |
0,64 |
ANG-28 |
72,0 |
5,3 |
51,6 |
7,0 |
46,3 |
0,15 |
4,08 |
ANG-29 |
121,0 |
4,4 |
114,8 |
0,6 |
110,5 |
0,15 |
0,15 |
ANG-30 |
100,0 |
4,0 |
59,0 |
5,0 |
55,0 |
0,09 |
2,43 |
ANG-31 |
100,0 |
19,0 |
45,0 |
12,0 |
26,0 |
0,46 |
12,5 |
ANG-32 |
94,0 |
7,0 |
22,0 |
14,6 |
15,0 |
0,97 |
26,3 |
Fonte:
"Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol II (Eixo 2 -
Geologia e Recursos Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Tabela
50 - Variáveis estatísticas calculadas para
os valores médios de vazão, rebaixamento e outros
parâmetros hidrodinâmicos para o conjunto de poços
cadastrados
Cod. ID |
PROF. m |
NE m |
ND m |
Vazão m3/h |
S' m |
Q/S m2/h |
T = 100Q/S m2/dia |
ANG-4 |
50,2 |
0,9 |
30,0 |
8,5 |
29,1 |
0,29 |
7,86 |
ANG-5 |
57,0 |
12,0 |
45,0 |
1,3 |
33,0 |
0,04 |
1,06 |
ANG-7 |
50,0 |
5,0 |
42,0 |
0,7 |
37,0 |
0,02 |
0,47 |
ANG-8 |
90,0 |
22,0 |
53,0 |
0,7 |
31,0 |
0,02 |
0,61 |
ANG-9 |
40,0 |
1,0 |
18,0 |
2,6 |
17,0 |
0,16 |
4,19 |
ANG-12 |
|
7,0 |
38,0 |
12,0 |
31,0 |
0,39 |
10,5 |
ANG-26 |
74,0 |
15,3 |
42,4 |
1,6 |
27,1 |
0,06 |
1,59 |
ANG-27 |
70,0 |
18,9 |
61,2 |
1,0 |
42,3 |
0,02 |
0,64 |
ANG-28 |
72,0 |
5,3 |
51,6 |
7,0 |
46,3 |
0,15 |
4,08 |
ANG-29 |
121,0 |
4,4 |
114,8 |
0,6 |
110,5 |
0,15 |
0,15 |
ANG-30 |
100,0 |
4,0 |
59,0 |
5,0 |
55,0 |
0,09 |
2,43 |
ANG-31 |
100,0 |
19,0 |
45,0 |
12,0 |
26,0 |
0,46 |
12,5 |
ANG-32 |
94,0 |
7,0 |
22,0 |
14,6 |
15,0 |
0,97 |
26,3 |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Foram
realizados, também, três ensaios de bombeamento
em poços selecionados na área do projeto, conforme
as recomendações da norma NB-1290.
Os
poços foram bombeados, com apenas uma vazão
de explotação, mantida constante durante 12
a 24 horas. Foram registrados os rebaixamentos dos níveis
d´água, durante o período de bombeamento
e recuperação do poço. Para interpretação
dos ensaios de bombeamento, foi utilizado o programa AquiferTest,
da WHI (2000).
A
Tabela 51 apresenta os valores dos coeficientes de transmissividade,
calculados pelos métodos de Theis, Theis-recuperação,
Theis-retroanálise e Cooper & Jacob.
Observa-se
que os valores dos coeficientes de transmissividade para o
poço ANG-038 e ANG-052 foram bem próximos, para
os três métodos de cálculo utilizados,
e da ordem de 10-4 m2/s. O poço ANG-011 (ponto de amostragem
química WP/01), localizado na bacia aluvionar do Rio
Perequê, apresentou um rebaixamento e recuperação
muito rápidos, de modo que não foi possível
acompanhar o rebaixamento e a recuperação com
muita precisão. Portanto, o melhor método para
estimar a transmissividade desse aqüífero foi
realizar uma retroanálise do rebaixamento com um tempo
de estabilização conhecido, através do
método de Theis. Com esse procedimento, foi possível
calcular um coeficiente de 1,7.10-3 m2/s.
Tabela
51 - Resumo dos ensaios de bombeamento realizados, e respectivos
valores de transmissividade, calculados por Theis,
Theis recuperação e Cooper & Jacob
ID poço |
Local |
Pro
f |
NE |
Qmax |
ND |
S |
Q/S |
TTheis |
TJacob |
TTheisRe
c |
Sistema |
referencia |
m |
m |
m3/h |
m |
m |
m3/h/m |
m2/s |
m2/s |
m2/s |
ANG-038 |
Corsário |
110 |
4,8 |
9,31 |
8,21 |
3,41 |
2,73 |
6,4E-4 |
3,1E-4 |
2,4E-4 |
fraturado |
ANG-052 |
H,Angra In |
60 |
10,53 |
5,13 |
22,73 |
12,2 |
0,42 |
1,4E-4 |
1,3E-4 |
8,0E-5 |
fraturado |
ANG-011 |
CIEP Pereque |
60 |
1,85 |
11,47 |
3,63 |
1,78 |
6,44 |
1,7E-3 |
3,1E-2 |
1,4E-2 |
poroso |
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Considerando
todo o conjunto de poços, pode-se observar que os valores
médios de vazão estão em torno de 5,2
m3/h, variando entre 0,6 e 14,0 m3/h, isto é, cerca
de uma ordem de grandeza de variação. Esses
valores são compatíveis com os verificados em
maciços cristalinos no estado do Rio de Janeiro (CPRM,
2000). Os valores de rebaixamento observados nos poços
apresentam médias de 38,5 m, registrando grande variação:
entre 15 e 110 metros.
A
vazão específica Q/S é definida pela
razão entre a vazão (Q) e o rebaixamento necessário
para atingir essa vazão (S), diferença entre
o nível estático e o nível dinâmico.
A vazão específica dá uma avaliação
do acréscimo de vazão obtida para cada metro
de rebaixamento do nível d' água. Observa-se
uma variação de várias ordens de grandeza,
entre 0,005 e 0,97 m3/h/m de rebaixamento e um valor médio
de 0,2 m3/h/m. Observa-se que, de modo geral, existem dois
grupos bem definidos de poços — o primeiro, com
menor produtividade, apresentando vazão de até
2,6 m3/h e Q/S menor que 0,16 m2/h, e o segundo, com maior
produtividade, apresentando Q maior que 5,0 m3/h e Q/S maior
que 0,1 m2/h.
Conclui-se
que os poços na área de influência do
empreendimento apresentam características hidrodinâmicas
típicas dos sistemas cristalinos do estado do Rio de
Janeiro, o que permite classificá-los como pertencentes
a um aqüífero pobre, de poucos recursos e pequenas
vazões.
6.5.2.3.4.
Características Isotópicas
- topo
Os
traçadores podem ser genericamente classificados em:
•
ambientais (ou naturais) — aqueles que ocorrem naturalmente
no ciclo hidrológico;
•
artificiais — injetados pelo homem para estudos.
Entre
os traçadores ambientais, estão os isótopos
pesados dos átomos constituintes da molécula
da água. Os isótopos ambientais oxigênio-18
(18O), deutério (2H) e trício (T) apresentam
uma enorme vantagem sobre outros tipos de traçadores
da água pelo fato de formarem parte da molécula
da água e, por isso, ficam minimizados os efeitos de
retardo, reações químicas, adsorção,
etc.
De
fato, a composição isotópica do oxigênio
e do hidrogênio praticamente não muda na água
subterrânea durante a interação água/rocha,
a temperaturas inferiores a uns 80ºC (Gat & Gonfiantini,
1981; Cheng, 1996). Pode-se, portanto, obter informações
muito úteis para a compreensão do funcionamento
hidrogeológico de sistemas naturais através
dessa ferramenta, como, por exemplo:
-
altitude média da área de recarga;
-
tempos de residência/trânsito.
Pretendeu-se,
com este estudo, a melhoria do conhecimento do fluxo e recarga
dos aqüíferos com a utilização da
isotopia ambiental. Para isso, levou-se a cabo uma campanha
de amostragem de isótopos conjuntamente com a amostragem
química. Selecionou-se um conjunto de fontes, poços
e piezômetros e também da chuva com o objetivo
de verificar as possíveis variações isotópicas
levando em conta a altitude e a posição geográfica
com respeito à CNAAA.
Os
dados isotópicos obtidos especificamente para este
estudo, procedentes de uma amostragem simultânea a uma
das campanhas de reconhecimento hidroquímico, constituem
uma informação restrita, com um total de apenas
cinco amostras, nas quais foram realizadas análises
de oxigênio-18, deutério e trício (Tabela
52).
Tabela
52 - Resultados das análises de isótopos ambientais
realizadas em amostras na área de estudo pela Hydroisotop
gmbh.
Nome/equiv. cadastro |
Data da
amostragem |
d18O
(‰) |
d2H
(‰) |
Excesso (‰) |
Trício (TU) |
WP 2/X (ANG-24?) |
17.10.2002 |
-4.68 |
-29.9 |
7.5 |
|
WP 2/01 (ANG-34) |
17.10.2002 |
-3.8 |
-26.3 |
4.1 |
3.0 ± 0.9 |
WP-F/1 (Fonte) |
17.10.2002 |
-3.81 |
-23 |
7.5 |
4.0 ± 1.1 |
WP-3/08 (ANG-42) |
18.10.2002 |
-4.53 |
-32.1 |
4.1 |
2.0 ± 0.9 |
WP-014 (ANG-33) |
18.10.2002 |
-4.33 |
-22 |
12.6 |
2.1 ± 0.8 |
L1/01 (Lago AIII) |
18.10.2002 |
0.59 |
-9.5 |
-14.2 |
19.0 ± 1.3 |
BR 1/01 (Branco) |
21.10.2002 |
-6.16 |
-47.6 |
1.7 |
|
CH /1 (chuva) |
24.10.2002 |
-1.39 |
-11.4 |
-0.3 |
16.2 ± 1.4 |
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Com
relação a dados anteriores dispõe-se
de algumas análises de trício de outras campanhas
realizadas na área de estudo, porém a resolução
é insuficiente para o estudo em curso. A falta de dados
anteriores é um fator que prejudica a interpretação
isotópica com o uso do modelo de parâmetros agregados
que é apresentada a seguir, haja vista que diminui
a resolução/acuidade do modelo.
Avaliação
de Características Hidrogeológicas a Partir
de Dados Isotópicos
Ambientais
a)
Os isótopos ambientais estáveis 18O e 2H:
A
estimativa da altitude da zona de recarga, ainda que grosseira,
é de grande utilidade para entender o funcionamento
de aqüíferos fraturados em zonas de alta complexidade
geológica e de relevo acidentado. Para utilizar 18O
e 2H como traçadores da recarga, é necessário
que suas concentrações na precipitação
sejam conhecidas, proporcionando um sinal característico.
Tal sinal, contudo, varia no espaço e no tempo. Portanto,
caracterizar a distribuição dos isótopos
estáveis em águas meteóricas é
importante para a determinação dessa função
de entrada.
A
Linha Meteórica Local (LML) proporciona uma base de
partida para o estudo das águas subterrâneas
(Clark & Fritz, 1997). No presente estudo, apenas se obtiveram
pontos isolados para essa interpretação, que,
ainda assim, foi de grande utilidade para uma avaliação
preliminar.
O
estudo isotópico da chuva limitou-se a uma amostra,
para avaliação das características da
água que se infiltra na área de estudo.
Os
isótopos ambientais estáveis na precipitação:
dispõe-se de dados de 18O, 2H e 3H na precipitação
em vários pontos do Planeta, inclusive Rio de Janeiro,
Brasília e Buenos Aires, na base GNIP da Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA, IAEA na sigla
em língua inglesa), conforme se pode observar em IAEA/WMO
(1998). No presente caso, obteve-se a assinatura isotópica
da chuva na estação de Buenos Aires, que tem
uma série mais completa, de alguns anos, transformando-a
através de um fator de correção na chuva
do Rio de Janeiro, pois a estação da AIEA nessa
região teve pouco mais de um ano de dados no início
da década de 1960.
Pode-se
observar que a precipitação pluviométrica
apresenta grande variação de valores sazonalmente
(Figura 201), como é normal, com água isotopicamente
mais leve no outono e mais pesada na primavera austral. Porém,
observa-se um trend de enriquecimento em 18O entre
1987 e 1999, a que não se atribuiu significado maior
que uma variação climática plurianual,
de ocorrência habitual.

Figura 201 - Variação do oxigênio-18
da chuva em Buenos Aires.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
A
Figura 202 é uma demonstração da variação
do oxigênio-18 e o deutério da chuva em Buenos
Aires, a estação mais próxima com dados
de chuva, corrigida para os valores médios no Rio de
Janeiro, conforme explicado no parágrafo anterior.
O número de dados obtido neste estudo não permite
traçar a LML (Linha Meteórica Local), porém
observa-se que a reta representativa da regressão linear
de todos os dados (correspondente à Linha Meteórica
Local - LML) tem uma tendência que varia pouco
da Linha Meteórica Mundial (excesso de deutério
+10).

Figura 202 - Diagrama de 18O
e 2H das amostras de chuva na área de estudo (quadrados
verdes), e na série sintética obtida a partir
de correlação com a precipitação
pluviométrica em Buenos Aires.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
A
grande dispersão observada nos resultados dos dados
de amostras entre a Linha Meteórica Local e a Mundial,
com tendência a que as águas mais leves estejam
mais próximas à segunda e as mais pesadas àquela,
pode estar relacionada a evaporação da chuva
no ar ou — não se pode descartar esta possibilidade
— no coletor de chuva.
Outro
fato de grande transcendência é que as próprias
características físicas do setor estudado impedem
que o comportamento isotópico das precipitações
obedeça a padrões normais em outras circunstâncias.
As chuvas obedecem a pautas espacial e temporalmente erráticas,
de modo que os amostradores refletem características
muito particulares e locais dentro de uma variedade de microeventos
meteorológicos na serra. Evidentemente, há um
padrão de comportamento geral e esse pode ser detectado
e estudado, mas seria necessário adensar e organizar
a amostragem, de modo que cada ponto seja analisado nas mesmas
datas e de modo regular.
Os
isótopos ambientais estáveis na água
subterrânea: Para o estudo dos isótopos nas águas
subterrâneas do setor de estudo da área, optou-se
pela amostragem e análise de águastipo representativas
de cada sistema hídrico local: fontes (aqüífero
raso); poços tubulares (aqüífero profundo);
água da chuva; e o lago que se formou nas fundações
de Angra 3. Adicionalmente, tomou-se uma amostra de aqüífero
raso na região serrana sul fluminense para calibração
e branco.
O
efeito de altitude pode ser avaliado com o exame da amostra
tomada na serra, a uma cota de 400 m (Mendes - RJ). O resultado
indica uma pendente (gradiente de altitude) de - 0,425
ä18O‰/100m. Esse valor não está
em desacordo com o intervalo de variação mundial,
que se situa entre -0,15‰/100m e 0,50‰/100m,
segundo Clark & Fritz (1997).
Em
relação aos resultados apresentados, é
importante o fato de que a inclinação observada
está baseada em um número pequeno de dados e
que a dispersão é muito grande. É evidente
a grande dispersão dos resultados de dados correspondentes
a diversas situações representadas (aqüífero
raso, profundo, etc.). Isso indica que há evaporação
da água de recarga dos aqüíferos da serra,
cuja origem está claramente situada na Linha Meteórica
Mundial (águas de caráter regional, oceânico).
Os
isótopos ambientais radiativos (3H): O isótopo
radiativo de hidrogênio de massa 3 (3H, ou trício)
tem uma meia-vida de aproximadamente 12,32 anos e uma meia-vida
biológica (a quantidade de tempo que o corpo exige
para excretar a metade do trício absorvido) de 10 dias
a 2 anos (Brucecentre, 2001)..
Por
sua facilidade de coleta e análise, o trício
é, provavelmente, o isótopo mais comumente usado
para datar água subterrânea, e pode ser considerado
um traçador conservador para a maioria dos estudos
hidrológicos. Possui uma abundância natural,
que foi transbordada através de produção
de trício antropogênico durante os testes de
armas nucleares dos 1950 e 1960. Dada a natureza de sua produção,
o trício tem uma função de entrada muito
complicada, e também está sujeito a variações
geográficas importantes. Porém, um número
grande de medidas de trício na precipitação
está disponível e pode ser usado para obter
funções de contribuição (IAEA,
1981).
A
água superficial e mesmo subterrânea, bem como
a chuva no entorno dos reatores, apresenta níveis de
trício acima do background local ou regional,
sem que isso, obviamente, signifique que esteja ocorrendo
uma contaminação perigosa ou inaceitável.
Neste
trabalho, o trício foi analisado em uma amostra de
chuva, do lago das fundações de Angra 3 e em
fontes e poços tubulares (aqüífero raso
e aqüífero profundo, fraturado). O resultado dessas
análises permitiu avaliar a recarga e circulação
de água subterrânea nos sistemas aqüíferos
locais, ainda que de forma preliminar. A falta de séries
históricas impediu a obtenção de resultados
mais conclusivos, porém foi possível obter importantes
elementos para a interpretação e elaboração
do modelo hidrogeológico local.
A
Figura 203 mostra os resultados das análises de trício
na região do estudo. Os valores das águas analisadas,
em geral, são típicos da primavera austral,
oscilando entre 2,0 e 4,0 UT. Observa-se, contudo, que as
amostras correspondentes à chuva (CH/1) e do lago das
fundações de Angra 3 (L1/01) registram valores
bastante superiores à média dos outros pontos
e também ao background esperado. Porém
todos os resultados demonstram que não há contaminação
ambiental significativa.
O
decaimento radiativo do trício no Hemisfério
Sul pode ser ajustado a uma função exponencial
cujos valores previstos no ano 2002 guardam uma boa coincidência
com os valores obtidos em Angra dos Reis, com as exceções
já descritas.

Figura 203 - Resultado das análises de trício
realizadas nas amostras da área de estudo.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
Quanto
à modelagem com o trício para fins de avaliar
o tempo de residência das águas subterrâneas
rasas, empregou-se o modelo FLOWPC, desenvolvido por Maloszewski
& Zuber (1996) para a AIEA, visando à definição
do tempo médio de residência do aqüífero
raso. O FLOWPC é um código que utiliza a abordagem
dos parâmetros agregados na interpretação
de traçadores ambientais, permitindo a estimativa de
tempos de trânsito da água subterrânea
no aqüífero e de parâmetros hidrológicos.
Conseguiu-se
definir, com razoável precisão, a função
de entrada do trício na chuva nos arredores da CNAAA.
A
Figura 204 mostra a saída do modelo FLOWPC, considerando-se
como função de entrada a concentração
do trício na chuva em Buenos Aires, a precipitação
média mensal em Angra dos Reis e, para efeito de calibração,
os dados obtidos com as análises de trício efetuadas
nas proximidades da CNAAA. O tempo médio de residência
estimado com base no modelo é bastante variável,
mas os melhores ajustes (menores valores de Sigma) e erros
pequenos, não ultrapassando 3 a 4 anos com o uso de
um modelo de mescla exponencial (águas subterrâneas
rasas, recarregadas no solo residual) associado a um fluxo
pistão (fluxo em fraturas com a água recarregada
na montanha), com concentração de trício
nula, é considerado como uma componente significativa
de recarga — cerca de 20%.

Figura 204 - Resultados da simulação com
o programa FLOWPC, indicando o melhor ajuste (menor Sigma)
para tempos de residência (Tn) entre 3 e 4 anos.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos
Hídricos)", IGEO/UFRJ.
6.5.2.3.5.
Favorabilidade hidrogeológica
- topo
As
Áreas de Influência do empreendimento são
compostas por terrenos cristalinos de origem metamórfica
e ígnea, cuja principal característica do ponto
de vista hidrogeológico é a de constituírem
aqüíferos fraturados. Esse tipo de aqüífero
se caracteriza por possuir porosidade secundária, armazenando
água em fraturas e falhas existentes na rocha, sendo
esse armazenamento dependente da intensidade e da interconectividade
dos sistemas de fraturamento presentes. São, portanto,
aqüíferos limitados do ponto de vista do potencial
de exploração, mas, em alguns casos, podem assumir
um papel relevante na falta de outros recursos.
São
sistemas livres, hidraulicamente conectados com as coberturas
superficiais que capeiam as rochas cristalinas. As coberturas
exercem um papel preponderante, uma vez que são os
meios de captação e acumulação
das águas meteóricas, fazendo com que essas
águas sejam transferidas às fraturas subjacentes.
As
áreas também se caracterizam por terrenos de
alta declividade, onde o sistema formado pelas coberturas
e pelas rochas cristalinas descarrega suas águas nos
vales dos rios e drenagens locais, sendo de extrema importância
para o seu regime de base. As altas declividades condicionam
o desenvolvimento de solos pouco espessos e a ocorrência
de fluxo nas superfícies de contato de solo/rocha.
A
obtenção do mapeamento dos índices de
favorabilidade à ocorrência de água subterrânea
da AID-5 km ocorreu através da combinação
ponderada do tema litologia (peso 40%) e densidade de fraturas
(peso 60%). As classes utilizadas nos dois temas e suas respectivas
notas se encontram na Tabela 53 e Tabela 54.
A
densidade de fraturas é definida como o comprimento
total de fraturas existente em uma área, dividido por
essa própria área. O mapa de densidade de fraturas
(Anexo 3), que indica as áreas em estudo com maior
intensidade de fraturamento, possuindo oito classes (Tabela
53).
Tabela
53 - Densidade de fraturas
Classes (km-1) |
Número |
Notas |
0.0 |
1 |
0 |
0.1 |
2 |
3 |
2.0 |
3 |
6 |
4.0 |
4 |
7 |
6.0 |
5 |
8 |
8.0 |
6 |
9 |
10.0 |
7 |
10 |
12.0 |
8 |
10 |
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol II (Eixo 2 -
Geologia e Recursos Hídricos)", IGEO/UFRJ.
Tabela
54 - Tipos litológicos identificados na AID-15 km
Classes (km-1) |
Número |
Notas |
0.0 |
1 |
0 |
0.1 |
2 |
3 |
2.0 |
3 |
6 |
4.0 |
4 |
7 |
6.0 |
5 |
8 |
8.0 |
6 |
9 |
10.0 |
7 |
10 |
12.0 |
8 |
10 |
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol II
(Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
O
Anexo 4 - Mapa de Favorabilidade à Ocorrência
de Água Subterrânea - AID-5 km, apresenta
as seguintes classes:
•
Muito alta;
•
Alta;
•
Moderada;
•
Baixa;
•
Muito baixa;
•
Desprezível.
Sendo
naturalmente as áreas mais favoráveis, aquelas
com maior intensidade de fraturamento e com ocorrência
de coberturas aluvionares.
6.5.2.4.
Modelo Hidrogeológico regional e local
- topo
A
abordagem das características hidrogeológicas
da área de estudo tomou como base a hierarquia que
se estabeleceu segundo a escala de trabalho, ou seja, a subdivisão
em Área de Influência Direta (AID) e a Área
de Entorno Imediato (AEI), conforme descrito anteriormente.
Para as duas áreas observa-se o modelo descrito a seguir
e mostrado esquematicamente na Figura 205.

Figura 205 - Modelo hidrogeológico esquemático,
onde (A) representa a localização da seção
geológica mostrada em (B).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol II (Eixo 2 - Geologia e Recursos Hídricos)",
IGEO/UFRJ.
•
Zona não-saturada
As
encostas consistem basicamente de solos transportados (coluviões
e depósitos de tálus) com espessura variável,
entremeados a zonas com exposições de rocha.
Devido aos elevados índices pluviométricos locais,
a espessura da zona não-saturada varia bastante, havendo
abundantes fontes em todas as encostas. Nas áreas de
baixada (enseadas, praias, pequenas planícies costeiras),
o nível freático apresenta-se em geral muito
raso, com tipicamente não mais que 1 a 2 m de profundidade.
Geralmente, são materiais de relativamente alta permeabilidade
vertical, por serem granulares de alta porosidade (areias
de baixada) ou por consistirem no litter, com restos
de vegetais, troncos apodrecidos, tocas de animais etc. que
facilitam muito a infiltração (encostas).
•
Aqüífero superior (livre)
Consiste,
nas encostas, em materiais geralmente inconsolidados, como
a porção saturada dos solos residuais ou sedimentos
superficiais (depósitos de tálus e colúvios)
mais a alteração de materiais rochosos (saprolito,
solo residual jovem). Nas baixadas, são compostos pelos
mesmos sedimentos fluviomarinhos citados anteriormente. Este
aqüífero tem boa permeabilidade e apresenta rápida
recarga e circulação de água.
Em
conexão com as descontinuidades da porção
mais superficial do maciço rochoso — geralmente
mais abertas e interconectadas que em maiores profundidades
— este aqüífero provê a água
que flui pelas fontes e pequenos riachos que são abundantes
em todas as encostas da região. Não obstante,
apresenta em geral baixa capacidade de armazenamento, pois
a espessura é pequena e a descarga, muito rápida
— razão do rápido esgotamento das fontes
e mananciais que minam de fraturas na rocha e da interface
solo/rocha ao cabo de períodos de chuva.
•
Aqüífero profundo (semiconfinado)
Este
aqüífero, em verdade, é constituído
pela trama de fraturas com maior abertura e persistência
do maciço, por onde flui alguma água subterrânea.
A característica marcante é um tempo mais longo
de trânsito, levando a uma maior mineralização.
Os
gradientes e a carga hidráulica são elevados,
pois a recarga se dá freqüentemente na parte alta
da encosta, e esta água encontra-se hidraulicamente
equilibrada com a porção alta da encosta. Um
certo grau de confinamento deste aqüífero, provocado
pela cobertura de colúvio/tálus, de natureza
em geral pelítica, leva a ocorrência de um caráter
semiconfinado a este aqüífero.
Apesar
de ser um aqüífero fraturado ("fissural",
segundo alguns autores), este corpo hídrico é
o que tem melhores possibilidades de explotação
de grandes vazões na região. O esgotamento da
reserva por sobrebombeamento é, contudo, sempre uma
ameaça ao executarem-se poços neste aqüífero,
sendo necessário realizar testes de bombeamento apropriados
para uma gestão adequada.
Em
resumo, trata-se de um sistema hídrico de circulação
rápida, forte escoamento superficial pelos canais naturais
formados nos talvegues da encosta, em função
muito mais da alta declividade que das características
do solo.
O fraturamento exerce um papel muito importante na transmissão
de água subterrânea e superficial nas encostas,
mas de um modo que ainda não se conhece satisfatoriamente.
O regime de inúmeras fontes e cursos de água
superficial, perenes ou não são controlados
pelo sistema de fraturas. A conexão com o aqüífero
sedimentar costeiro é evidente e, acredita-se, predominantemente
subterrânea. As características químicas
do lago das fundações de Angra 3, surpreendentemente
pouco mineralizadas, são uma comprovação
disso. O aqüífero profundo, semiconfinado pode
por vezes ter seu nível piezométrico aflorante
ou acima da superfície do terreno, mas essa característica
é muito variável. A extrema variabilidade de
algumas propriedades e parâmetros-chave do ponto de
vista hidrogeológico ressalta o caráter típico
de maciços fraturados, onde sobressaem a heterogeneidade
e a anisotropia. É bastante difícil fazer previsões
viáveis quanto ao potencial hídrico e mesmo
quanto ao comportamento de eventuais contaminantes nessas
condições.
6.5.3.
Oceanografia
- topo
6.5.3.1.
Levantamento Batimétrico
- topo
A
baía de ilha Grande apresenta um litoral bastante recortado
e morfologia típica de área de submersão,
com algumas "rias" (Sacos do Mamanguá e de
Parati-Mirim) e depósitos quaternários pouco
desenvolvidos. Essa conformação é característica
da Unidade V da divisão feita por Suguio e Martin (1978)
para o litoral norte de São Paulo e sul do Rio de Janeiro
(Figura 206).

Figura 206 - Mapa mostrando a divisão do Litoral
do Estado de São Paulo e Sul do Estado do Rio de Janeiro
(modificado de Martin & Suguio, 1978).
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
Segundo
Mahiques (1987), a Baía da ilha Grande, com aproximadamente
14 x 102 km² (Ikeda et al, 1989b), divide-se em
dois corpos menores: parte leste e parte oeste, unidas por
um canal central. Em seu interior estão localizadas
diversas ilhas, além de lajes submersas, e seu litoral
é composto por praias, costões rochosos e manguezais.
A
baía apresenta uma morfologia de fundo bastante variada,
com a presença de canais fluviais submersos, oriundos
de períodos de nível de mar mais baixos e um
canal central, entre a ilha Grande e o continente, com acentuada
depressão batimétrica, atingindo a profundidade
de 55 m. As maiores profundidades na porção
oeste ao canal central estão entre 20 e 30 m, ao passo
que no lado este, é de 10 a 25 m (Ceccopieri, 2001).
A
plataforma continental nesta região, segundo Zembruski
(1979), tem aproximadamente 90 km de largura, com sua quebra
ocorrendo a cerca de 140 m de profundidade. O mesmo autor
identifica um canal raso e estreito que parte da entrada oeste
da baía e segue até a quebra da plataforma.
O gradiente é suave, aproximadamente 1:900, tornando-se
acentuado próximo ao maciço cristalino da ilha
Grande, atingindo um gradiente de 1:50 (Dias et al.,
1990).
No
período Glacial 18.000 AP, com o nível do mar
mais baixo, a baía de ilha Grande encontrava-se emersa.
Nela, havia uma rede de drenagem fluvial, proveniente da baía
de Sepetiba, no sentido E-W. Com a elevação
do nível do mar (10.000 a 11.000 AP), a porção
oeste da baía (a mais profunda) foi inundada pelo mar.
Com uma subseqüente elevação do nível
do mar (8.000 AP), a porção leste (a mais rasa)
também foi inundada, formando a morfologia de costa
e fundo atual da baía de ilha Grande (Mahiques, 1987).
O
padrão hidrodinâmico costeiro atual foi estabelecido
a partir do evento de 2.500 A.P., que corresponde à
estabilização do nível do mar a níveis
próximos ao atual (Martin et al, 1984).
6.5.3.1.1.
Metodologia
- topo
A
área de estudo total que engloba o Saco Piraquara de
Fora e região adjacente, até as ilhas do Brandão
e Paquetá (DHN, 1980), foi dividida em três sub-áreas,
a saber:
a)
Área 1 - localizada próximo à saída
da descarga de água das usinas até a distância
aproximada de 400 m;
b)
Área 2 - engloba a enseada desde o limite externo
da Área 1 até a boca da enseada;
c)
Área 3 - da boca da enseada até as Ilhas
do Brandão e Paquetá.
O
processamento seguiu metodologia descrita por Villena (1999)
e deu-se em duas etapas distintas, descritas a seguir.
•
Fase 1 - dados existentes
Foi
analisada uma série de plantas batimétricas,
dentre as quais foram selecionadas as que atendiam aos critérios
de densidade de dados mínima para o processamento utilizando
o programa Geosoft 5.1. Foram aproveitadas as plantas da área
próxima à desembocadura da descarga d' água,
elaboradas pela Encal (1981), apresentada no Datum Sad69 e
projeção UTM 23S, e Oceanotécnica (1985),
cujo Datum não se achava especificado na planta, sendo
informado tratar-se de SAD69 que é utilizado em todas
as plantas da Eletronuclear, e projeção UTM
23S. Essas plantas foram escolhidas em função
da data de levantamento (antes e depois do deslizamento da
encosta), área de abrangência e da densidade
dos dados batimétricos.
O
processamento foi feito separadamente para cada mapa (1981
e 1985), gerando-se os seguintes produtos para a Área
1:
a)
Mapa 1 - Posicionamento (1981) na escala original de 1:2000,
mostrada em tamanho A3, onde se pode ver a localização
dos dados batimétricos utilizados no processamento
(Anexo 21).
b)
Mapa 2 -Contorno Batimétrico (1981) na escala original
de 1:2000, mostrada em tamanho A3, na qual tem-se o grid
batimétrico exibido por tabela de cores, cuidando-se
para que fosse utilizada a mesma escala de cores para que
pudessem ser distinguidas as diferenças no relevo de
fundo e as isolinhas de batimetria (Anexo 22).
c)
Mapa 3 - Relevo Sombreado (1981) na escala original de 1:2000,
mostrada em tamanho A3, onde se tem o grid batimétrico
exibido na forma de relevo sombreado colorido (Anexo 23).
d)
Mapa 4 - Gradiente (1981) na escala original de 1:2000, mostrada
em tamanho A3, onde é mostrado o grid de gradiente,
gerado a partir da variação da profundidade
com a distância (Anexo 24).
e)
Mapa 5 - Posicionamento (1985) na escala original de 1:2000,
mostrada em tamanho A3, onde pode ser vista a localização
dos dados batimétricos utilizados no processamento
(Anexo 25).
f)
Mapa 6 - Contorno Batimétrico (1985) na escala original
de 1:2000, mostrada em tamanho A3, na qual se tem o grid
batimétrico exibido por tabela de cores, cuidando-se
para que fosse utilizada a mesma escala de cores para que
pudessem ser distinguidas as diferenças no relevo de
fundo e as isolinhas de batimetria (Anexo 26).
g)
Mapa 7 - Relevo Sombreado (1985) na escala original de 1:2000,
mostrada em tamanho A3, onde se tem o grid batimétrico
exibido na forma de relevo sombreado colorido (Anexo 27).
h)
Mapa 8 - Gradiente (1985) na escala original de 1:2000, mostrada
em tamanho A3, onde é mostrado o grid de gradiente,
gerado a partir da variação da profundidade
com a distância (Anexo 28).
i)
Mapa 9 - Comparação Batimétrica na escala
original de 1:2000, mostrada em tamanho A3, onde se tem a
diferença entre a batimetria de 1981 e 1985, gerando
um grid de assoreamento/erosão, onde os valores
positivos representam assoreamento e os valores negativos,
erosão (Anexo 29).
•
Fase 2 - dados atuais
Foi
realizado levantamento batimétrico entre os dias 18
e 26 de agosto de 2002, levantando-se as três áreas
do estudo com espaçamento de linhas de aproximadamente
10 m na Área 1; 20 m na Área 2 e 50 m na Área
3.
Para
a coleta de dados, foi utilizado um sistema digital de batimetria,
composto por posicionamento DGPS submétrico marca CSI,
modelo LGBX-PRO, com correção diferencial por
satélite de comunicação, ecobatímetro
hidrográfico marca ODEC, modelo Bathy 500MF, operando
na freqüência de 208Khz com saída de dados
analógica (ecograma)/digital e um computador laptop
com software Hypack para navegação
e armazenamento dos dados digitais.
Durante
o levantamento batimétrico, a estação
maregráfica da marina da Piraquara foi guarnecida,
sendo realizada a leitura da maré na régua instalada
e nivelada a cada 15 minutos.
Os
dados digitais foram analisados, confrontando-se com o registro
analógico, sendo cortados os dados espúrios.
Procederam-se às reduções ao zero da
obra, retirando-se o valor de maré lida na régua
e acrescentando-se a cota de nivelamento entre o zero da régua
e o zero da obra. Dessa forma todos os dados batimétricos
são apresentados como cotas negativas em relação
ao zero da obra.
Seguiu-se
o processamento no programa Geosoft 5.1, realizando-se a importação
dos dados e gerando-se os mapas propostos, à exceção
do mapa de comparação batimétrica entre
1985 e 2002. A não-realização dessa comparação
deu-se em função de discrepância de referência,
provavelmente relacionada a erro de Datum nos dados existentes,
visto que todos os dados estão referenciados ao Datum
SAD69, mas os dados de 1981 e 1985 não casam com os
do levantamento realizado e com a linha de costa, os quais
se ajustam perfeitamente.
O
processamento foi feito separadamente para cada mapa (Área),
gerando-se, os seguintes produtos:
a)
Mapa 10 - Posicionamento (2002) na escala original de 1:2000
para a Área 1, mostrada em tamanho A3, onde se vê
a localização dos dados batimétricos
utilizados no processamento (Anexo 30).
b)
Mapa 11 - Contorno Batimétrico (2002) na escala original
de 1:2000 para a Área 1, mostrada em tamanho A3, na
qual se tem o grid batimétrico exibido por tabela
de cores, cuidando-se para que fosse utilizada a mesma escala
de cores para que pudessem ser distinguidas as diferenças
no relevo de fundo e as isolinhas de batimetria (Anexo 31).
c)
Mapa 12 - Relevo Sombreado (2002) na escala original de 1:2000
para a Área 1, mostrada em tamanho A3, onde se tem
o grid batimétrico exibido na forma de relevo
sombreado colorido (Anexo 32).
d)
Mapa 13 - Gradiente (2002) na escala original de 1:2000 para
a Área 1, mostrada em tamanho A3, onde é mostrado
o grid de gradiente, gerado a partir da variação
da profundidade com a distância (Anexo 33).
e)
Mapa 14 - Posicionamento (2002) na escala original de 1:6000
para a Área 2, mostrada em tamanho A3, onde é
possível ver a localização dos dados
batimétricos utilizados no processamento (Anexo 34).
f)
Mapa 15 - Contorno Batimétrico (2002) na escala original
de 1:6000 para a Área 2, mostrada em tamanho A3, na
qual se tem o grid batimétrico exibido por tabela
de cores, cuidando-se para que fosse utilizada a mesma escala
de cores para que pudessem ser distinguidas as diferenças
no relevo de fundo e as isolinhas de batimetria (Anexo 35).
g)
Mapa 16 - Relevo Sombreado (2002) na escala original de 1:6000
para a Área 2, mostrada em tamanho A3, onde se tem
o grid batimétrico exibido na forma de relevo
sombreado colorido (Anexo 36).
h)
Mapa 17 - Gradiente (2002) na escala original de 1:6000 para
a Área 2, mostrada em tamanho A3, onde é exibida
o grid de gradiente, gerado a partir da variação
da profundidade com a distância (Anexo 37).
i)
Mapa 18 - Posicionamento (2002) na escala original de 1:10000
para a Área 3, mostrada em tamanho A3, onde se vê
a localização dos dados batimétricos
utilizados no processamento (Anexo 38).
j)
Mapa 19 - Contorno Batimétrico (2002) na escala original
de 1:10000 para a Área 3, mostrada em tamanho A3, na
qual se mostra o grid batimétrico exibido por
tabela de cores, cuidando-se para que fosse utilizada a mesma
escala de cores para que pudessem ser distinguidas as diferenças
no relevo de fundo e as isolinhas de batimetria (Anexo 39).
l)
Mapa 20 - Relevo Sombreado (2002) na escala original de 1:10000
para a Área 3, exibida em tamanho A3, onde é
mostrado o grid batimétrico exibido na forma
de relevo sombreado colorido (Anexo 40).
m)
Mapa 21 - Gradiente (2002) na escala original de 1:10000 para
a Área 3, mostrada em tamanho A3, onde é se
vê o grid de gradiente, gerado a partir da variação
da profundidade com a distância (Anexo 41).,
6.5.3.1.2.
Resultados -
topo
O
relevo de fundo, segundo a batimetria de 1981 (Anexo 22 e
Anexo 23), mostra a maior parte da área com profundidades
acima de 5 m, com profundidade máxima entre 10 e 11
m. Há um "molhe" submerso a aproximadamente
70 m da saída d' água e, entre essa estrutura
e a boca de deságüe, há uma depressão
com profundidade máxima acima de 9 m.
Em
termos de gradiente (Anexo 24) tem-se, conforme os dados de
1981, uma região dominada, em sua maior parte, por
declives suaves (< 2 graus), com valores acima desse patamar
(> 20 graus) nas áreas próximas à
costa, seguindo o contorno desta, e nos flancos do molhe submerso.
Observando-se
os mapas 6 (Anexo 26) e 7 (Anexo 27) nota-se a alteração
do relevo de fundo da área em função
do deslizamento de terra ocorrido no ano de 1985. Grande parte
da área apresenta-se com menos de 5 m de profundidade,
com máximas entre 10 e 11 m. O molhe submerso perdeu
muito de sua expressão vertical, o mesmo acontecendo
com a depressão próxima à saída
d' água. É notável a presença
do leque de deposição do material escorregado
da encosta, bem como a rugosidade do fundo.
O
Mapa 9 (Anexo 29) mostra a comparação batimétrica
entre os dois levantamentos utilizados (1981 e 1985), ficando
evidente o leque de deposição do material deslizado
em 1985. Grande parte da área teve assoreamento superior
a 3,0 metros, com áreas localizadas com mais de seis
metros de variação batimétrica. O volume
de assoreamento calculado na Área 1 (GRIDVOL - Geosoft
5.1) foi de 509.967 m3. O estudo mostrou ainda que, para a
mesma área, houve 761 m3 de erosão, comparando-se
as batimetrias de 1981 e 1985.
Em
relação aos dados levantados neste trabalho,
pode-se notar nos mapas de contorno batimétrico e relevo
sombreado - mapas 11 (Anexo 31) e 12 (Anexo 32) - o
reaparecimento de um baixo batimétrico próximo
à saída da água de descarte da usina,
o que confirma a intervenção ali realizada através
de dragagem. Os canais ao norte e sul do cone do deslizamento
parecem ter sido acentuados, com um alargamento do canal norte.
A
maior parte da área tem profundidades entre 2 e 6 m,
com máxima em torno de 10 m, podendo ser notada, também,
uma inflexão das isolinhas em direção
à costa no cone de deposição de forma
mais evidente que em 1985.
O
gradiente pode ser visto no mapa 13 (Anexo 33), evidenciando
uma tendência de suavização em relação
ao mesmo mapa de 1985. De forma geral, embora com gradientes
menos acentuados em relação a 1981, a área
tende novamente à suavização em sua porção
mais profunda, com maiores valores relacionados às
margens ou à borda do leque de deposição
do desmoronamento.
A
topografia de fundo da Área 2, que se estende desde
a boca da enseada até a saída da água
de descarte das usinas, pode ser vista nos mapas de contorno
(mapa 15 - Anexo 35) e relevo sombreado (mapa 16 - Anexo 36).
Deve ser ressaltada a presença de áreas em branco
nos mapas, nas quais o grid foi mascarado por falta
de dados de sondagem pela impossibilidade de navegação.
Pode-se
notar que a maior parte da enseada tem profundidades variando
entre 8 e 14 m, sendo observadas algumas elevações
topográficas (coordenadas 557484/7455335; 558044/7455356;
558482/7454785), sempre relacionadas a afloramentos rochosos.
As inflexões das isolinhas de batimetria parecem relacionar-se
com padrão de refração, difração
de ondas nesses altos do fundo, principalmente na laje mais
a SE.
O
gradiente nesta área (mapa 18 - Anexo 38) assemelha-se
muito ao observado para a Área 1 em 1981, com predominância
de baixos valores de inclinação na porção
das profundidades dominantes (8 a 14 m) e altos valores junto
às elevações do fundo, lajes, ilha e
margens da enseada. Isso é característico de
regiões de encosta, com baixo suprimento de sedimento
local. Nesse mapa observa-se, pela gradação
de azul para verde no extremo W, que a influência do
deslizamento de 1985 se estende por mais de 150 m além
dos limites definidos para a Área 1.
A
Área 3, que se estende desde as proximidades das ilhas
do Brandão e de Paquetá até a saída
de água das usinas, em termos de batimetria (mapas
19 - Anexo 39 - e 20 - Anexo 40), pode ser dividida
em três áreas. A primeira seria a faixa até
5 m de profundidade, que se restringe às proximidades
da margem e das elevações do fundo marinho;
a segunda abrange o restante do saco Piraquara de Fora e a
porção N da Área 3, destacada no mapa
pelo predomínio da coloração verde, com
profundidades entre 9 e 14 m e, por fim, a porção
S/SE da Área 3, com predominância da coloração
azul e profundidades entre 14 e 19 m.
O
gradiente da região (mapa 21 - Anexo 41) é semelhante
ao da Área 2, com predomínio de ampla região
de baixos valores de gradiente, com os valores mais elevados
relacionando-se à margem da enseada, ilhas, elevações
batimétricas, cone de deposição do deslizamento
de 1985, saída d' água da usina.
Próximo
do limite externo da enseada pode-se ver uma estreita faixa
de coloração verde, mostrando a transição
da área mais profunda, descrita pouco acima, para a
faixa intermediária de profundidade descrita no mesmo
parágrafo.
Com
base no estudo executado, foi possível afirmar que:
•
o Saco Piraquara de Fora possui topografia de fundo característica
de enseadas localizadas em áreas próximas
a encosta, com pequena planície sedimentar e pequeno
aporte de sedimentos. A parte rasa está nas margens
e próxima a elevações batimétricas
e afloramentos;
•
o gradiente acompanha a mesma distribuição
citada acima;
•
a topografia de fundo fica mais rasa da parte S/SE da Área
3 em direção ao fundo da enseada, local da
saída d' água das usinas;
•
o relevo de fundo da, especialmente a Área 1 e início
da Área 2, foi duramente afetado pelo deslizamento
de encosta ocorrido em 1985, com variações
de profundidade de aproximadamente 8 m;
•
o volume total do assoreamento da área submersa é
da ordem de 509.000 m3;
•
com o deslizamento, foi criado um grande leque deposicional,
no qual, de acordo com os dados sedimentológicos,
encontra-se uma frente de sedimentos grossos compostos por
cascalho com areia com lama (Pereira, 2002). Nesse leque,
a topografia ficou bastante irregular;
•
os dados batimétricos atuais apontam para um possível
retrabalhamento do sedimento, com suavização
das pequenas irregularidades batimétricas, alargamento
do canal localizado a N do leque e individualização
de um pequeno canal de pouca expressão de relevo
no topo do leque de deposição;
•
a intervenção feita na saída d' água
gerou um aprofundamento no local, embora, pelo observado
nos mapas de 1981 e 2002 para a Área 1, não
tenha retornado ao mesmo padrão de área e
profundidade anterior ao escorregamento.
6.5.3.2.
Levantamento de composição granulométrica
- topo
A
determinação das propriedades físicas
de tamanho das partículas e a classificação
dos depósitos de sedimentos são parâmetros
fundamentais no estudo da geologia marinha.
A
composição granulométrica dos sedimentos
de plataforma depende, em grande parte, do material fornecido
pelo continente, especialmente através de rios. A distribuição
granulométrica dessas partículas está
intimamente ligada à interação de vários
fatores, principalmente condições hidrodinâmicas,
relevo de fundo e fatores físico-químicos.
O
presente estudo caracteriza os sedimentos que cobrem o Saco
Piraquara de Fora, que se localiza na Área de Influência
Direta - AID do Empreendimento.
6.5.3.2.1.
Metodologia
- topo
Campo
Durante
os meses de agosto e setembro de 2002, foram coletadas 122
amostras em pontos previamente determinados (mapa 22 - Anexo
42) e distribuídos pelas Áreas I (10 amostras),
II (70 amostras) e III (42 amostras).
Para
as coletas, foram utilizados uma embarcação
de pequeno porte e um amostrador de fundo tipo Van Veen,
que apresenta boa recuperação em águas
rasas.
Os
sedimentos foram acondicionados em sacos plásticos,
devidamente identificados e mantidos sob refrigeração
até o início da análise granulométrica
no laboratório de Oceanografia Geológica da
Uerj.
Laboratório
O
procedimento inicial foi a lavagem da amostra para a retirada
dos sais solúveis. Após isso, as amostras foram
pesadas em balança analítica e secas em estufa
com temperatura média de 40ºC, para não
favorecer o endurecimento da amostra nem a alteração
de alguns inerais de argila, possibilitando a obtenção
do peso inicial seco. Em seguida foram acondicionadas em bechers
de 1 litro para tratamento com peróxido de hidrogênio
(H2O2) a 10%, sob uma placa aquecedora
a 80ºC para a degradação da matéria
orgânica e, após lavagem, levadas a estufa para
secagem e, posteriormente, pesadas para obtenção
do percentual de matéria orgânica. Na etapa seguinte,
as amostras foram tratadas com ácido clorídrico
(HCl) a 30%, para eliminação de carbonatos presentes
na amostra, procedendo-se em seguida à mesma operação
de lavagem e secagem em estufa. As amostras foram então
pesadas para cálculo do percentual de carbonatos.
Após
essas etapas iniciais, as amostras sofreram um peneiramento
a úmido, em peneira com abertura de malha de 0,062
mm (limite inferior da classe areia muito fina pela escala
de Wentworth), para a separação da fração
grossa (diâmetro > 0,062) e fração
fina (diâmetro < 0,062). A fração areia
foi então levada à estufa para secagem e posterior
pesagem, para obtenção do peso inicial e do
valor percentual de sedimentos grosseiros.
As
amostras foram submetidas aos processos de análise
granulométrica segundo Krumbein & Pettijohn (1938),
Loring and Rantala (1992) e Ponzi (1995). A fração
grosseira (grãos maiores do que 0,062 mm) sofreu tamização
a seco, utilizando-se peneiras com intervalo de 0,5 phi. Para
a classificação de tamanho de grão, utilizou-se
a escala de Wentworth. A fração lamosa foi analisada
aplicando-se o método de pipetagem (Suguio, 1973),
onde as amostras foram colocadas em provetas de 1.000 ml com
silicato de sódio (antifloculante) para, então,
serem coletadas frações de 20 ml de acordo com
o intervalo de tempo e profundidade de introdução
da pipeta.
As
amostras, resultantes da pipetagem, foram secas em estufa
e pesadas, obtendo-se os pesos relativos de cada intervalo
de classe de um phi (como na Tabela 55), e posteriormente
usados para o cálculo dos valores percentuais desses
intervalos.
Tabela
55 - Tabela de pipetagem segundo Suguio (1973)
Diâmetro dos
grãos |
Profundida
de
introduzida
da
pipeta(cm) |
Cronometragem da pipetagem para
diversas temperaturas |
Tipo de
sedimento |
(Phi) |
(mm) |
16 °C |
20 °C |
24 °C |
28 °C |
4 |
0,062 |
20 |
20s |
20s |
20s |
20s |
Finos totais |
5 |
0,031 |
10 |
2m09s |
1m57s |
1m46s |
1m37s |
Silte grosso |
6 |
0,0156 |
10 |
8m29s |
7m40s |
6m58s |
6m22s |
Silte médio |
7 |
0,0078 |
10 |
34m |
31m |
28m |
25m |
Silte fino |
8 |
0,0039 |
10 |
2h15m |
2h03m |
1h51m |
1h42m |
Sil.muito fino |
9 |
0,0020 |
5 |
4h18m |
3h53m |
3h32m |
3h14m |
Argila grossa |
10 |
0,00098 |
7 |
25h05m |
22h41m |
20h37m |
18h50m |
18h50m |
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
6.5.3.2.2.
Resultados -
topo
Teor
de matéria orgânica
De
modo geral, as maiores porcentagens de matéria orgânica
(entre 10% e 20%) encontram-se próximo à costa,
diminuindo em direção às maiores profundidades
(3% a 5%) e aumentando novamente ao largo (Área 3).
Nas camadas onde predominam os sedimentos lamosos, o teor
de matéria orgânica aumenta no sentido oposto
ao do carbonato.
Teor
de carbonato de cálcio
As
porcentagens estão, normalmente, em torno de 5%, não
ultrapassando os 20%. Apresentam maiores concentrações
(19-25%) em profundidades médias (1-2 m), adjacente
à costa na Área 2 e ao largo na Área
3.
Granulometria
Considerando-se
os resultados das análises granulométricas,
efetuou-se a classificação segundo o diagrama
triangular de Shepard (1954), que se tem mostrado de grande
valia para a distribuição textural dos sedimentos.
O
Saco Piraquara de Fora é composto, principalmente,
por sedimento arenoso, com sedimento lamoso em um bolsão
próximo à costa e ao largo (Área 3).
Área
1
A
Área 1 do estudo, localizada no Saco Piraquara de Fora
até a isóbata de 6 m, apresentou-se dividida
em quatro classes texturais, como mostra o mapa 23 (Anexo
43):
•
cascalho com areia com lama;
•
areia;
•
areia com lama;
•
lama.
No
local onde ocorre a descarga da água que refrigera
a usina, não houve recuperação de sedimentos.
Com
base nas amostras analisadas (Tabela 56), observa-se que a
Área 1 apresenta uma textura predominantemente arenosa,
com presença de sedimento lamoso em um único
local a leste da área.
Com
base nos mapas de tipo de sedimento (mapa 23, Anexo 43), teores
de carbonato (mapa 24, Anexo 44) e teores de matéria
orgânica (mapa 25, Anexo 45), pode-se concluir que:
a.
no centro da área encontra-se um local de cascalho
com areia com lama, formado por areia de granulometria grossa
a cascalho, com mais de 50% de carbonato de cálcio
e pouca matéria orgânica;
b.
na área adjacente à linha de costa, observou-se
a presença de areia, composta de areia grossa a muito
grossa, com pouco carbonato de cálcio e matéria
orgânica;
c.
no centro da Área 1 encontra-se um bolsão de
areia com lama, representado por uma granulometria de areia
muito fina a fina com algum carbonato de cálcio e pouca
matéria orgânica;
d.
uma região de lama encontra-se a leste da área
e é texturalmente constituída por siltes com
algum carbonato e pouca matéria orgânica.
O
maior percentual de areia (Anexo 46) localizado adjacente
à costa, onde aconteceu o deslizamento em 1985, indica
que os depósitos de sedimento mais grossos que ocorrem
na área têm sua origem no material proveniente
desse episódio.
Área
2
A
Área 2, localizada no Saco Piraquara de Fora, até
a isóbata de 12 m, apresentou-se dividida em cinco
classes texturais (Anexo 47):
•
cascalho com areia com lama;
•
areia;
•
areia com lama;
•
lama;
•
lama com areia.
Com
base nas amostras analisadas (Tabela 56), há uma predominância
de areia (Anexo 47) na área, texturalmente constituída
por areia de fina a grossa com pouco carbonato (Anexo 48)
e pouca matéria orgânica (Anexo 49).
Tabela
56 - Resultado das análises granulométricas
Além das classes texturais principais, areia e lama,
encontram-se nove áreas compostas por areia com lama,
com pouco carbonato de cálcio e alguma matéria
orgânica;
Amostra |
% de Areia |
% de carbonatos |
% de Mat. orgânica |
Classificação Shepard |
Classe numérica |
ELT01 |
78,6 |
2,78 |
0,21 |
areia |
2 |
ELT02 |
73,23 |
9,1 |
0,77 |
areia com lama |
3 |
ELT03 |
78,44 |
3,43 |
0,34 |
areia |
2 |
ELT04 |
62,05 |
37,23 |
0,94 |
areia com lama |
3 |
ELT05 |
65,37 |
6,75 |
0,75 |
areia com lama |
3 |
ELT06 |
89,26 |
28,98 |
0,3 |
areia |
2 |
ELT09 |
5,02 |
12,37 |
3,45 |
lama |
4 |
ELT10 |
50,93 |
52,51 |
0,65 |
case areia lama |
1 |
ELT11 |
56,91 |
17,25 |
1,74 |
areia com lama |
3 |
ELT12 |
81,99 |
0,57 |
0,23 |
areia |
2 |
ELT13 |
85,52 |
85,36 |
0,41 |
areia |
2 |
ELT14 |
7,76 |
12,5 |
25,93 |
lama |
4 |
ELT15 |
5,7 |
13,73 |
4,73 |
lama |
4 |
ELT16 |
5,87 |
17,09 |
3,64 |
lama |
4 |
ELT17 |
3,61 |
16,06 |
4,79 |
lama |
4 |
ELT18 |
18,56 |
24,36 |
3,09 |
lama |
4 |
ELT19 |
93,57 |
27,4 |
0,26 |
areia |
2 |
ELT20 |
97,3 |
24,88 |
0,25 |
areia |
2 |
ELT21 |
22,93 |
28,35 |
3,42 |
lama |
4 |
ELT22 |
13,37 |
22,85 |
5,07 |
lama |
4 |
ELT23 |
21,66 |
17,76 |
2,14 |
lama |
4 |
ELT24 |
29,82 |
10,42 |
2,69 |
lama com areia |
5 |
ELT25 |
17,8 |
10,6 |
3,59 |
lama |
4 |
ELT26 |
7,82 |
3,97 |
3,15 |
lama |
4 |
ELT27 |
54,2 |
45,56 |
1,64 |
areia com lama |
3 |
ELT28 |
84,32 |
48,49 |
0,46 |
areia |
2 |
ELT29 |
77,87 |
15,14 |
8,79 |
areia |
2 |
ELT30 |
99,34 |
9,64 |
0,25 |
areia |
2 |
ELT31 |
5,61 |
17,8 |
3,91 |
lama |
4 |
ELT32 |
19,32 |
14,61 |
3,68 |
lama |
4 |
ELT33 |
62,39 |
7,03 |
1,36 |
areia com lama |
3 |
ELT34 |
76,33 |
6,16 |
1,07 |
areia |
2 |
ELT35 |
70,82 |
65,51 |
0,83 |
areia com lama |
3 |
ELT36 |
35,9 |
3,22 |
1,68 |
lama com areia |
5 |
ELT37 |
63,13 |
1,09 |
0,9 |
areia com lama |
3 |
ELT38 |
75,21 |
18,64 |
0,82 |
areia |
2 |
ELT39 |
94,14 |
40,53 |
0,52 |
areia |
2 |
ELT40 |
89,04 |
73,92 |
0,48 |
areia |
2 |
ELT41 |
81,55 |
79,17 |
0,64 |
areia |
2 |
ELT42 |
80,76 |
93,35 |
0,37 |
areia |
2 |
ELT43 |
58,87 |
21,06 |
7,19 |
areia com lama |
3 |
ELT44 |
75,28 |
9,42 |
1,01 |
areia |
2 |
ELT45 |
79,15 |
8,66 |
0,89 |
areia |
2 |
ELT46 |
83,72 |
9,03 |
0,75 |
areia |
2 |
ELT47 |
88,03 |
6,36 |
0,72 |
areia |
2 |
ELT48 |
61,32 |
87,27 |
0,61 |
areia com lama |
3 |
ELT49 |
96,96 |
67,77 |
0,23 |
areia |
2 |
ELT50 |
92,22 |
79,86 |
0,28 |
areia |
2 |
ELT51 |
92,57 |
30,61 |
0,69 |
areia |
2 |
ELT52 |
73,58 |
8,76 |
0,77 |
areia com lama |
3 |
ELT53 |
93,18 |
7,66 |
0,47 |
areia |
2 |
ELT54 |
93,46 |
10,59 |
0,42 |
areia |
2 |
ELT55 |
92,49 |
22,55 |
0,47 |
areia |
2 |
ELT56 |
83,65 |
20,28 |
0,65 |
areia |
2 |
ELT57 |
78,11 |
19,18 |
0,6 |
areia |
2 |
ELT58 |
79,53 |
12,31 |
0,47 |
areia |
2 |
ELT61 |
94,8 |
41,31 |
0,28 |
areia |
2 |
ELT62 |
68,14 |
16,42 |
0,79 |
areia |
2 |
ELT63 |
72,84 |
17,57 |
0,89 |
areia |
2 |
ELT64 |
88,42 |
10,58 |
0,59 |
areia |
2 |
ELT65 |
95,81 |
11,79 |
0,35 |
areia |
2 |
ELT66 |
98,65 |
30,09 |
0,56 |
areia |
2 |
ELT67 |
98,2 |
22,57 |
0,36 |
areia |
2 |
ELT68 |
97,33 |
24,25 |
0,42 |
areia |
2 |
ELT69 |
97,07 |
38,05 |
0,47 |
areia |
2 |
ELT70 |
91,62 |
41,14 |
0,47 |
areia |
2 |
ELT71 |
90,95 |
5,83 |
0,39 |
areia |
2 |
ELT72 |
94,26 |
10,91 |
0,31 |
areia |
2 |
ELT73 |
94,64 |
9,01 |
0,41 |
areia |
2 |
ELT74 |
72,4 |
98,36 |
0,51 |
areia com lama |
3 |
ELT75 |
73,58 |
42,18 |
2,79 |
areia com lama |
3 |
ELT76 |
87,43 |
14,76 |
1,06 |
areia |
2 |
ELT77 |
90,24 |
10,87 |
0,83 |
areia |
2 |
ELT78 |
86,83 |
13,2 |
0,79 |
areia |
2 |
ELT80 |
82,81 |
38,75 |
0,97 |
areia |
2 |
ELT81 |
88,37 |
14,94 |
0,67 |
areia |
2 |
ELT82 |
94,52 |
4,71 |
0,42 |
areia |
2 |
ELT83 |
89,15 |
6,91 |
1,09 |
areia |
2 |
ELT84 |
75,92 |
57,93 |
0,4 |
areia |
2 |
ELT85 |
82,36 |
12,18 |
1,64 |
areia |
2 |
ELT86 |
80,52 |
14,91 |
1,24 |
areia |
2 |
ELT87 |
91,77 |
26,15 |
0,47 |
areia |
2 |
ELT88 |
80,98 |
63,06 |
0,17 |
areia |
2 |
ELT89 |
89,61 |
45,89 |
0,35 |
areia |
2 |
ELT90 |
78,17 |
11,04 |
0,73 |
areia |
2 |
ELT91 |
57,71 |
67,25 |
0,33 |
areia com lama |
3 |
ELT92 |
84,38 |
27,98 |
0,85 |
areia |
2 |
ELT93 |
89,25 |
7,34 |
0,58 |
areia |
2 |
ELT94 |
72,01 |
12,49 |
1,24 |
areia com lama |
3 |
ELT95 |
68,86 |
13,67 |
1,16 |
areia com lama |
3 |
ELT96 |
73,07 |
12,23 |
0,77 |
areia com lama |
3 |
ELT97 |
60,93 |
12,83 |
1,21 |
areia com lama |
3 |
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
Pode-se
perceber a presença de um bolsão de lama (Anexo
47), composto por silte, a oeste da área. Verificou-se
a presença de muito carbonato de cálcio (mais
de 50%) na área adjacente à costa, ao norte
e ao sul; e na área central (Anexo 48), sendo que nesta
última ocorre, também, um maior percentual de
matéria orgânica (Anexo 49).
Adicionalmente
à Área 1, foram encontrados mais cinco locais
compostos de areia com lama, representados por silte, com
carbonato de cálcio em torno de 40% e pouca matéria
orgânica.
No
centro da área analisada, observaram-se dois locais
compostos de lama com areia, texturalmente constituídos
por silte com pouco carbonato de cálcio e pouca matéria
orgânica.
Pode-se
observar, ainda, um local (Anexo 50), a leste da enseada,
com percentual de areia mais elevado, além do observado
na Área 1. Nesse caso, o sedimento mais grosso poderia
ser de origem externa ao Saco Piraquara de Fora.
Área
3
A
Área 3, localizada ao largo do Saco Piraquara de Fora,
até a isóbata de 50 m, apresentou-se dividida
em cinco classes texturais (Anexo 51):
•
cascalho com areia com lama;
•
areia;
•
areia com lama;
•
lama;
•
lama com areia.
Com
base nas amostras analisadas (Tabela 56), pôde-se perceber
um predomínio de sedimento tamanho areia na área,
texturalmente constituída por areia de fina a grossa,
com algum carbonato de cálcio (Anexo 52) e pouca matéria
orgânica (Anexo 53).
Pode-se
observar a ocorrência de lama (Anexo 51), a oeste e
a leste da área, composta por siltes com pouco carbonato
de cálcio e muita matéria orgânica.
Além
das classes texturais principais, areia e lama, encontram-se
nove áreas
compostas por areia com lama, com pouco carbonato de cálcio
e alguma matéria orgânica; quatro áreas
compostas por lama com areia, com pouco carbonato de cálcio
e alguma matéria orgânica, e, uma área
composta por cascalho com areia com lama, com mais de 50%
de carbonato de cálcio e pouca matéria orgânica.
Um
maior percentual de areia ocorre no centro da área
e adjacente à costa, devido às correntes que
atuam no local (Anexo 54).
Com
o presente estudo ficou evidenciado que:
•
os sedimentos encontrados na área estudada são
predominantemente arenosos.
•
os depósitos atuais de sedimentos que ocorrem à
leste da área são oriundos do material proveniente
do deslizamento ocorrido em 1985.
•
As maiores percentagens de carbonato de cálcio estão
localizadas nas áreas adjacentes à costa e
no centro da área. As maiores percentagens de matéria
orgânica concentram-se, de acordo com o esperado,
nos locais onde há uma predominância de sedimentos
lamosos.
•
Esse padrão de distribuição é
principalmente decorrente do regime de correntes na enseada,
com o transporte de sedimentos mais grosseiros nas áreas
central e adjacente à costa, e deposição
de sedimentos mais finos ao largo, onde são menores
as velocidades de correntes.
6.5.3.3.
Geofísica rasa e estratigrafia
- topo
O
estudo foi dividido em cinco partes:
1)
Atividades Pré-Levantamento;
2)
Atividades Pós-Levantamento Geofísico;
3)
Atividades Pós-Sondagens;
4)
Resultados e Interpretações; e
5)
Conclusões e Recomendações.
6.5.3.3.1.
Metodologia
- topo
Atividades
pré-levantamento
Com
base nas informações existentes (dados, mapas,
relatórios), foi digitalizada e confeccionada uma série
de mapas temáticos com o objetivo de entender a geologia
e geomorfologia da região de interesse. Tais mapas
encontram-se georreferenciados e mostraram-se fundamentais
para o planejamento do levantamento geofísico, enfocando
principalmente a área adjacente ao desmoronamento ocorrido
em 1985.
O
estudo identificou na estruturação da Baía
da Ribeira a presença de uma série de falhas,
fraturas, lineamentos estruturais e diques de diabásio,
orientados principalmente na direção NE-SW.
Além disso, nota-se o forte condicionamento tectônico
da linha de costa, condicionada por essas estruturas.
Através
de uma análise das bacias e sub-bacias de drenagem
adjacentes à Baía da Ribeira notou-se que as
bacias de drenagem principais são fortemente condicionadas
pela estruturação geológica da área,
com um padrão dentrítico e de captura de drenagem.
Atividades
pós-levantamento geofísico
O
levantamento geofísico foi realizado de 17 a 19 de
agosto de 2002, utilizando-se um perfilador de fundo na freqüência
de 10 kHz. Esse método, conhecido como Sísmica
Rasa de Alta Resolução, permite o imageamento
de 40-50 m do pacote sedimentar, em regiões costeiras,
com resolução de 5 cm. A navegação
foi efetuada com posicionamento DGPSRaccal, de alta precisão,
através do software Hipack Max V. 5.0. Já
as imagens digitais, relativas ao perfilador de subfundo (10
kHz), foram obtidas com o Stratabox V. 2.14 da Odec, Inc.
Com base no levantamento geofísico, foram realizadas
diversas etapas, fundamentais para a interpretação
sismo-estratigráfica.
Na
etapa de georreferenciamento dos dados, foram integradas as
informações digitais relativas à Navegação
e à Sísmica Rasa. A integração
desses dados foi realizada por meio de processamento digital,
apoiado em uma série de softwares de geoprocessamento,
utilizando-se técnicas de importação
e exportação de rasters e vetores. Com
isso, foi possível obter os dados sísmicos georreferenciados
para posterior interpretação.
Após
a integração dos dados, produziu-se um mapa
de posicionamento das linhas geofísicas obtidas. As
linhas foram separadas em DIP (longitudinais) e Strike (transversais).
As linhas Strike foram utilizadas para o controle dos horizontes
sismo-estratigráficos (Anexo 55).
Os
perfis sísmicos obtidos foram montados de forma digital
para interpretação sismoestratigráfica,
de modo a tornar compatíveis as informações
das linhas regionais e locais.
A
interpretação sismo-estratigráfica dos
perfis sísmicos foi efetuada a partir do mapeamento
das megasseqüências sedimentares, com base em seus
padrões de ecocaráter, que são dependentes
da impedância acústica dos sedimentos. Neste
processo, o dado bruto é interpretado, digitalizado
e posteriormente rasterizado gerando perfis sismo-estratigráficos.
Após
a interpretação sismo-estratigráfica
dos perfis, os horizontes sísmicos foram georreferenciados,
gerando diferentes mapas temáticos.
O
mapa de contorno estrutural (Anexo 56) mostra a profundidade
do embasamento cristalino e sua orientação geral
NE-SW. Nota-se a presença de dois baixos estruturais
na porção norte e na porção central
da enseada, com 18 m de profundidade. As porções
elevadas do embasamento localizam-se próximo à
costa e na porção intermediária dos baixos.
O
mapa de isópacas da megasseqüência 1 (mapa
37, Anexo 57) representa a espessura das areias depositadas
imediatamente acima do embasamento. Tal megasseqüência
é provavelmente composta por sedimentos relíquias,
talvez pleistocênicos. Percebe-se o forte condicionamento
estrutural na deposição desse horizonte sendo,
suas maiores espessuras da ordem de 5 m encontradas na porção
central e norte da enseada.
O
mapa de isópacas da megasseqüência 2 (Anexo
58) representa a espessura de uma seqüência de
lama-arenosa, provavelmente transgressiva, com um máximo
em torno de 3 m de espessura. Observa-se que sua distribuição
concentra-se preferencialmente na direção NE-SW.
O
mapa de isópacas da megasseqüência 3 (Anexo
59) representa as espessuras de uma seqüência de
sedimentos, provavelmente regressivos, que se concentram preferencialmente
na porção norte da enseada. Suas espessuras
máximas são da ordem de 7 metros.
O
mapa de isópacas da Lama (Anexo 60) representa a espessura
das lamas recentes, dentro da enseada. Nota-se que as maiores
espessuras de lama, da ordem de 1 m, localizam-se na porção
central em um alinhamento N-S, com maior concentração
na porção sul. A presença de lamas nesta
região relativamente rasa pode estar associada a um
baixo hidrodinamismo e/ou a uma frente de progradação
gerada pelo desmoronamento.
O
mapa de isópacas total (Anexo 61) mostra-se como um
espelho do mapa do contorno estrutural, ou seja, as maiores
espessuras, da ordem de 15-18 m, encontram-se nas regiões
de baixos estruturais (porção norte e central
da enseada). De forma análoga, as menores espessuras,
da ordem de 2 a 5 m, são verificadas nas regiões
elevadas do embasamento (próximo à costa e na
porção intermediária dos baixos).
Atividades
pós-sondagens
Com
base nas interpretações sismo-estratigráficas
e nos mapas gerados a partir destas (mapas 36 a 41), foram
definidos cinco locais estratégicos para as sondagens,
visando contemplar especificamente:
1)
os maiores depocentros, visando amostrar o maior número
de megasseqüências; e
2)
as extremidades do Saco Piraquara, visando amostrar seus diferentes
padrões de deposição.
O
mapa de localização das sondagens pode ser observado
no Anexo 55.
As
sondagens foram realizadas de 20 à 22 de novembro de
2002, com posicionamento DGPS de alta precisão, através
de mergulho autônomo, onde se utilizaram duas técnicas
distintas: Jet-Probe e Testemunho.
O
Jet-Probe amostrou a coluna sedimentar a cada metro e/ou nas
mudanças faciológicas, utilizando a perfuração
por jato d´água. Foram amostrados em média
10 m de coluna sedimentar. Já o testemunho foi realizado
com um testemunhador a pistão e amostrouse em média
4 m de coluna sedimentar. A utilização de ambas
as técnicas mostrou-se importante já que o "jateamento"
de água produz perturbações na coluna
sedimentar, principalmente no primeiro metro, as quais puderam
ser recuperadas através do testemunho.
As
amostras coletadas foram analisadas no Laboratório
de Oceanografia Geológica da Uerj, efetuando-se primeiramente
uma descrição macroscópica e posteriormente
um refinamento microscópico, com captura das imagens
dos sedimentos representativas de cada megasseqüência.
6.5.3.3.2.
Estratigrafia
- topo
As
colunas estratigráficas interpretadas para os cinco
pontos de sondagens encontramse representadas nas figuras
a seguir (Figura 207 a Figura 211). De um modo geral, a estratigrafia
da enseada é composta por:
0-1
m: camada superficial de lama recente, com baixo teor de carbonato
- Lama;
1-2
m: lama com baixo teor de carbonato e presença de siliciclásticos
muito finos/Megasseqüência 1;
2-4
m: lama com alto teor de carbonato, sem presença de
siliciclásticos, presença de conchas de moluscos
inteiras (concheiro)/Megasseqüência 2a;
4-7
m: lama com médio teor de carbonatos, sem presença
de siliciclásticos, presença de conchas de moluscos
fragmentadas/Megasseqüência 2b;
7-10
m: areia-lamosa com baixo teor de carbonato, alta presença
de siliciclásticos, com feldspatos oxidados e granada
(Areia Relíquia)/Megasseqüência 3.

Figura 207 - Colunas estratigráficas (Prancha 1).
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura 208 - Colunas estratigráficas (Prancha 2).
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
209 - Colunas estratigráficas (Prancha 3).
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura 210 - Colunas estratigráficas (Prancha 4).
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura 211 - Colunas estratigráficas (Prancha 5).
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
6.5.3.3.3.
Resultados e interpretações
- topo
Os
seguintes resultados podem ser fornecidos com base na interpretação
dos mapas confeccionados (Anexo 56 a Anexo 61) e nas colunas
estratigráficas das sondagens (Figura 207 a Figura
211). Enfoca-se principalmente a estratigrafia regional da
enseada e da área adjacente ao desmoronamento ocorrido
em 1985. Foi possível verificar, em escala de detalhe,
as principais feições estratigráficas
e estruturais de interesse nesta região, destacando-se:
Megasseqüências
sismo-estratigráficas
Foram
observadas cinco megasseqüências, através
da sismo-estratigrafia e das sondagens, acima do embasamento
acústico:
1)
Lama - (Recente/Desmoronamento);
2)
Lama-Arenosa (Areia Muito Fina);
3)
Lama-Arenosa Bioclástica ("Concheiro");
4)
Areia-Lamosa (Relíquia);
5)
Desmoronamento (1985).
Tais
seqüências são apresentadas na Figura 212,
que representa as linhas DIP 40 (regional) e DIP 14 (local).

Figura 212 - Sismo-estratigrafia das principais megasseqüências
sedimentares, observadas acima do embasamento acústico.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
Com
base nos mapas estruturais e de isópacas das megasseqüências
estratigráficas, observou-se que:
•
o embasamento é bastante fraturado/falhado, com alinhamento
NE-SW, seguindo o padrão estrutural regional
da baía da Ribeira.
•
existe um baixo estrutural, na porção central-rasa
da enseada, que concentra as maiores espessuras sedimentares
em todos os horizontes sismo-estratigráficos.
Isso é indicativo de que esta região vem sendo
um depocentro preferencial ao longo do Quaternário.
•
existe um forte condicionamento estrutural que controla
a deposição das lamas e areias, oriundas da
rede de drenagem fluvial, ao longo do Quaternário.
•
a deposição das lamas recentes se dá
em faixa, preferencialmente no eixo central N-S da
enseada, indicando um baixo hidrodinamismo nesta região.
A porção central desta faixa pode estar relacionada
a uma frente de progradação oriunda do desmoronamento.
Com
base nas informações geológicas e geofísicas
discutidas anteriormente, pode-se verificar que o Saco Piraquara
de Fora encontra-se localizado em uma região com alta
instabilidade de encosta. Tal instabilidade tem origem na
inter-relação de três fatores:
1)
forte estruturação geológica regional
da Baía da Ribeira e adjacências;
2)
geomorfologia costeira extremamente escarpada; e
3)
alto grau de intemperismo das rochas.
A
estruturação geológica da área
revela estruturas de falhas e fraturas que cruzam o Saco Piraquara
de Fora na direção NE-SW. Tal estruturação
condiciona o padrão de drenagem em vales encaixados
e paleocanais, que possuem forte gradiente topográfico
(talvegues), devido à presença da serra do Mar.
Associado
a isso se observa uma sedimentação quaternária
bastante condicionada por esses paleo-canais (estruturais),
que mostra um padrão episódico, provavelmente
relacionado a eventos catastróficos climáticos
ao longo do Quaternário.
Além
desses fatos, deve-se ressaltar que, regionalmente, verifica-se
a ocorrência de sismos rasos — relacionados ao
descolamento das rochas granito-gnaíssicas —
e forte intemperismo das rochas (gerando solos); fatores que
podem intensificar a instabilidade dos taludes na região.
6.5.3.4.
Oceanografia química
- topo
O
Saco Piraquara de Fora foi o local escolhido, à época
de projeto da CNAAA, para o ançamento da água
do mar, captada em Itaorna, do sistema aberto de resfriamento
das usinas. Os estudos realizados abrangeram não só
a enseada em si, como também a área adjacente,
até as ilhas do Brandão e de Paquetá
(Figura 213), de forma a caracterizar as condições
ambientais oceanográficas desta região sob influência
das atividades do empreendimento.

Figura 213 - Localização da área de estudo.
Detalhe do Saco Piraquara de Fora (modificado da Carta Náutica
1.637 - DHN - 1980).
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
Com
o objetivo de avaliar o comportamento da qualidade da água
no Saco Piraquara de Fora e adjacências, estabeleceu-se
que através de uma malha de amostragem de raios com
origem no ponto de lançamento das águas de refrigeração
e dispostos de forma a cobrir toda a área em estudo
(Figura 214), com estações espaçadas
de 400 m no setor A e 800 m no setor B, seria monitorada a
qualidade da água em três profundidades (0,5
m, 2 m e a 1 m do fundo), trimestralmente (quatro vezes ao
ano), através da análise dos seguintes parâmetros:
salinidade; oxigênio dissolvido; pH; clorofila; material
em suspensão; fosfato dissolvido; silicato; nitrato;
nitrito; amônia; boro; e surfactantes.
As
amostragens obedeceram a uma periodicidade trimestral, sendo
adotada a estratégia de coleta das radiais 1, 3 e 5
alternadamente em relação às radiais
2, 4 e 6, sendo respectivamente coletadas em horário
de maré vazante e enchente, ou vice-versa, cobrindo,
dessa forma, a influência da maré enchente e
da vazante, de acordo com o objetivo estabelecido.

Figura 214 - Localização dos pontos de coleta
de amostras de água.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
A
primeira campanha de coleta de amostras de água foi
realizada entre os dias 20 e 23 de agosto de 2002, quando
ocorreu uma lua cheia (entre os dias 21 e 22), o que corresponde
a uma maré de sizígia. Nesse período
registraram-se as maiores amplitudes de maré na região
para o mês de agosto (dados verificados no Extrato da
Tábua de Marés, publicada pela DHN para o Porto
de Angra dos Reis).
As
radiais 2, 4 e 6 da área B foram amostradas no dia
20, durante a maré vazante; as radiais 1, 3 e 5 da
área A foram amostradas no dia 21, durante a maré
enchente; as radiais 3 e 5 da área B foram amostradas
no dia 22, durante a maré enchente e as radiais 2,
4 e 6 da área A, durante a maré vazante, ressaltando
que, nesta campanha, foi inserida uma estação
de coleta a 200 m da origem em cada radial.
A
segunda campanha de coleta de amostras de água foi
realizada entre os dias 17 e 20 de novembro de 2002, quando
ocorreu uma lua cheia (entre os dias 18 e 19), o que corresponde
a uma maré de sizígia, ou seja, nesse período
registraram-se as maiores amplitudes de maré na região
para o mês de novembro (dados verificados no Extrato
da Tábua de Marés, publicada pela DHN para o
Porto de Angra dos Reis).
As
radiais 2, 4 e 6 na área A foram amostradas no dia
17, enquanto a área B foi amostrada no dia 18, ambas
durante a maré vazante; as radiais 1, 3 e 5 na área
A foram amostradas no dia 19, enquanto a área B foi
amostrada no dia 20, ambas durante a maré enchente.
A
terceira campanha foi realizada entre os dias 15 e 18 de fevereiro
de 2003, dentre os quais ocorreu a lua cheia entre os dias
15 e 16. E finalmente, a quarta campanha de coleta de amostras
de água foi realizada entre os dias 14 e 17 de maio
de 2003, dentre os quais ocorreu uma lua cheia entre os dias
15 e 16. A ocorrência de período de lua cheia
provoca a ocorrência de uma maré de sizígia,
ou seja, neste período ocorreram as maiores amplitudes
de maré na região, evidenciando assim as maiores
movimentações de água dentro da área
estudada.
As
coletas foram realizadas com garrafas de Niskin, e após
a medição de parâmetros como temperatura
e pH, e retiradas alíquotas para oxigênio dissolvido,
amônia e salinidade, foram armazenados 5 litros de amostra,
em garrafas de polietileno, para posterior filtração
em terra (material em suspensão e clorofila). Desses
5 litros de água, 1 litro foi armazenado e congelado
para posterior análise nos Laboratórios da OCN/Uerj.
Tabela
57 - Parâmetros determinados para coleta
Equipamento/Método |
Resultados |
GPS Eagle Explorer |
Posição dos pontos de
amostragem |
Sonda Eagle SupraPro I.D. |
Profundidade das amostras a
1 m do fundo |
Condutivímetro WTW LF92 |
Temperatura das amostras |
pHmetro Orion 210A com eletrodo Orion combinado Ag/AgCl
910600 |
pH |
Método titulométrico de Winkler (1888), segundo Grasshoff
(1983) |
Oxigênio dissolvido |
Método colorimétrico do azul de indofenol FAO (1975), tendo
sido as alíquotas lidas em espectrofotômetro Perkim Elmer -
Lambda 12 |
Amônia |
Sistema elétrico portátil de vácuo com membranas HA em ester
de celulose, 0,45μm de poro, 47 mm Ø, Millipore HAWP04700 |
Filtração |
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
Tabela
58 - Parâmetros determinados em laboratório
Equipamento/Método |
Resultados |
GPS Eagle Explorer |
Posição dos pontos de
amostragem |
Sonda Eagle SupraPro I.D. |
Profundidade das amostras a
1 m do fundo |
Condutivímetro WTW LF92 |
Temperatura das amostras |
pHmetro Orion 210A com eletrodo Orion combinado Ag/AgCl
910600 |
pH |
Método titulométrico de Winkler (1888), segundo Grasshoff
(1983) |
Oxigênio dissolvido |
Método colorimétrico do azul de indofenol FAO (1975), tendo
sido as alíquotas lidas em espectrofotômetro Perkim Elmer -
Lambda 12 |
Amônia |
Sistema elétrico portátil de vácuo com membranas HA em ester
de celulose, 0,45μm de poro, 47 mm Ø, Millipore HAWP04700 |
Filtração |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e idrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Todas
as análises colorimétricas executadas no Laboratório
de Oceanografia Química do Departamento de Oceanografia
e Hidrologia da Uerj utilizaram espectrofotômetro uv/visível
Micronal B382 ou Camspec M330 com caminho ótico de
5 cm ou maior. Todas as metodologias utilizadas para a determinação
dos parâmetros desejados estão de acordo com
as normas internacionais para análise de água
do mar. São as técnicas comumente utilizadas
para este tipo de análise e mundialmente reconhecidas
e testadas, devendo ainda, utilizarem-se padrões internacionais
para controle de qualidade das análises realizadas,
caso estejam disponíveis.
6.5.3.4.1.
Análise gráfica e estatística dos dados
coletados -
topo
A
Eletronuclear mantém um monitoramento dos parâmetros
físico-químicos de águas salinas em 3
pontos desde outubro de 1987. Dois dos pontos estão
localizados na enseada de Piraquara de Fora e o outro ponto
na região em frente das instalações do
complexo nuclear em Itaorna, pontos estes respectivamente
denominados Z4 e 047B e o Z3 (Figura 215). As coletas são
realizadas sem nenhuma preocupação de se manter
um padrão amostral quanto a horário de coleta,
condição climática ou posição
relativa ao ciclo da maré, sendo coletada somente água
de superfície. Assim sendo toda a análise dos
resultados levantados será feita tendo por base uma
coleta de forma aleatória.

Figura 215 - Localização os Pontos de Monitoramento
para dados pretéritos
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
Os
dados obtidos sofreram uma avaliação quanto
a sua qualidade, buscando-se os relatórios específicos
que deram origem aos dados do banco de dados da Eletronuclear
e que foi fornecido como base para este levantamento. Assim
foram obtidos os dados de temperatura de superfície
(tomadas a 0,5 m de profundidade), salinidade, nitrito, nitrato,
fosfato, silicato, oxigênio dissolvido e teores de clorofila
A, B e C, com uma periodicidade mensal desde outubro de 1987
até março de 2002. Após a tabulação
dos dados estes foram conferidos a partir dos relatórios
fornecidos pela Eletronuclear para o levantamento do fitoplâncton
na região estudada, e feitas às correções
necessárias. Posteriores a este controle de qualidade
foram calculados os valores de grau de saturação
de oxigênio, para que os valores pudessem ser comparados
diretamente, e efetuadas as médias mensais (Tabela
59, Tabela 60 e Tabela 61) durante o período do levantamento
para cada ponto de coleta, ou seja de outubro de 1987 a março
de 2002.
Tabela
59 - Valores Médios Mensais de Temperatura, Salinidade,
concentração de Nitrito, Nitrato, Fosfato, Silicato,
Oxigênio Dissolvido, Clorofila A, B e C, e Grau de Saturação
de Oxigênio do ponto Z3.
MÊS |
T 0,5 |
S |
NO2 |
NO3 |
PO4 |
Si |
O2 |
O2 |
CLOROFILA
(mg.m-3) |
ºC |
|
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
mg.-1 |
%
sat |
A |
B |
C |
Jan |
26,4 |
35,3 |
0,03 |
3,25 |
0,29 |
3,14 |
5,36 |
74,8 |
1,22 |
0,07 |
1,75 |
Fev |
27,2 |
35,1 |
0,06 |
2,39 |
0,23 |
2,49 |
6,71 |
96,2 |
0,95 |
0,09 |
0,41 |
Mar |
26,9 |
35,2 |
0,02 |
1,40 |
0,25 |
3,61 |
6,89 |
100,6 |
1,39 |
0,07 |
0,43 |
Abr |
25,7 |
35,9 |
0,02 |
2,14 |
0,33 |
4,13 |
6,34 |
90,9 |
0,97 |
0,30 |
0,87 |
Mai |
24,1 |
35,6 |
0,05 |
5,41 |
0,26 |
5,61 |
6,48 |
87,9 |
0,86 |
0,09 |
0,12 |
Jun |
23,0 |
35,7 |
0,06 |
2,04 |
0,39 |
6,42 |
6,43 |
88,6 |
0,87 |
0,13 |
0,62 |
Jul |
21,9 |
35,9 |
0,06 |
1,42 |
0,27 |
6,38 |
6,87 |
96,7 |
0,93 |
0,52 |
0,49 |
Ago |
21,9 |
35,5 |
0,07 |
2,77 |
0,33 |
6,57 |
6,53 |
91,2 |
0,77 |
0,09 |
0,13 |
Set |
22,2 |
35,3 |
0,08 |
3,20 |
0,43 |
5,36 |
6,37 |
76,7 |
0,63 |
0,20 |
0,38 |
Out |
23,0 |
35,6 |
0,01 |
1,35 |
0,37 |
3,47 |
6,33 |
90,6 |
1,03 |
0,09 |
0,71 |
Nov |
23,5 |
35,3 |
0,03 |
3,01 |
0,26 |
2,97 |
6,09 |
76,1 |
1,29 |
0,67 |
1,06 |
Dez |
23,9 |
35,9 |
0,03 |
5,02 |
0,26 |
2,84 |
6,18 |
84,4 |
1,01 |
0,06 |
0,46 |
Média |
24,1 |
35,5 |
0,05 |
2,78 |
0,31 |
4,41 |
6,38 |
87,9 |
0,99 |
0,20 |
0,62 |
Desvio
Padrão |
1,9 |
0,3 |
0,02 |
1,32 |
0,06 |
1,55 |
0,41 |
8,4 |
0,22 |
0,20 |
0,45 |
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
Tabela
60 - Valores Médios Mensais de Temperatura, Salinidade,
concentração de Nitrito, Nitrato, Fosfato, Silicato,
Oxigênio Dissolvido, Clorofila A, B e C, e Grau de Saturação
de Oxigênio do ponto Z4.
MÊS |
T 0,5 |
S |
NO2 |
NO3 |
PO4 |
Si |
O2 |
O2 |
CLOROFILA
(mg.m-3) |
ºC |
|
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
mg.-1 |
%
sat |
A |
B |
C |
Jan |
25,9 |
35,4 |
0,05 |
1,56 |
0,25 |
3,63 |
5,45 |
72,9 |
1,18 |
0,08 |
0,92 |
Fev |
28,2 |
35,0 |
0,07 |
2,20 |
0,26 |
3,15 |
6,77 |
98,3 |
1,23 |
0,12 |
0,60 |
Mar |
27,4 |
35,3 |
0,03 |
4,27 |
0,31 |
4,97 |
6,88 |
102,5 |
1,66 |
0,05 |
0,61 |
Abr |
26,0 |
35,9 |
0,05 |
1,70 |
0,38 |
5,81 |
6,24 |
90,1 |
1,05 |
0,15 |
0,66 |
Mai |
24,4 |
35,5 |
0,10 |
5,61 |
0,28 |
7,01 |
6,14 |
78,1 |
1,08 |
0,10 |
0,17 |
Jun |
23,3 |
36,2 |
0,07 |
2,98 |
0,42 |
7,11 |
6,24 |
84,6 |
0,94 |
0,31 |
1,33 |
Jul |
22,5 |
35,9 |
0,07 |
3,27 |
0,35 |
7,49 |
6,31 |
89,8 |
0,88 |
0,66 |
0,25 |
Ago |
22,3 |
35,5 |
0,10 |
2,73 |
0,35 |
5,80 |
6,64 |
94,0 |
0,63 |
0,07 |
0,20 |
Set |
22,3 |
35,0 |
0,09 |
2,58 |
0,42 |
5,58 |
6,19 |
80,5 |
0,92 |
0,12 |
0,67 |
Out |
23,4 |
35,2 |
0,01 |
1,50 |
0,39 |
3,27 |
6,30 |
90,8 |
0,90 |
0,11 |
0,54 |
Nov |
24,0 |
35,5 |
0,08 |
1,92 |
0,24 |
3,07 |
6,04 |
81,5 |
0,80 |
0,16 |
0,32 |
Dez |
24,8 |
35,9 |
0,02 |
1,88 |
0,31 |
3,35 |
6,09 |
84,2 |
1,27 |
0,06 |
0,62 |
Média |
24,5 |
35,5 |
0,06 |
2,68 |
0,33 |
5,02 |
6,27 |
87,3 |
1,04 |
0,17 |
0,57 |
Desvio
Padrão |
2,0 |
0,4 |
0,03 |
1,23 |
0,07 |
1,68 |
0,37 |
8,6 |
0,27 |
0,17 |
0,33 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Tabela
61 - Valores Médios Mensais de Temperatura, Salinidade,
concentração de Nitrito, Nitrato, Fosfato, Silicato,
Oxigênio Dissolvido, Clorofila A, B e C, e Grau de Saturação
de Oxigênio do ponto 047B.
MÊS |
T 0,5 |
S |
NO2 |
NO3 |
PO4 |
Si |
O2 |
O2 |
CLOROFILA
(mg.m-3) |
ºC |
|
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
mg.-1 |
%
sat |
A |
B |
C |
Jan |
26,4 |
35,0 |
0,01 |
1,71 |
0,23 |
2,91 |
5,93 |
79,9 |
1,09 |
0,05 |
0,83 |
Fev |
28,0 |
35,5 |
0,06 |
1,57 |
0,25 |
2,90 |
6,67 |
96,8 |
0,84 |
0,15 |
0,49 |
Mar |
27,3 |
35,4 |
0,02 |
1,57 |
0,26 |
4,08 |
6,84 |
101,6 |
1,64 |
0,11 |
0,84 |
Abr |
26,0 |
35,6 |
0,02 |
2,24 |
0,35 |
4,54 |
6,44 |
92,4 |
0,84 |
0,10 |
0,70 |
Mai |
24,5 |
35,7 |
0,07 |
4,95 |
0,28 |
5,98 |
6,23 |
79,5 |
0,74 |
0,07 |
0,22 |
Jun |
23,1 |
36,2 |
0,04 |
2,40 |
0,38 |
7,40 |
6,31 |
85,2 |
0,82 |
0,13 |
0,34 |
Jul |
22,6 |
35,7 |
0,08 |
2,33 |
0,36 |
6,74 |
6,72 |
95,9 |
0,85 |
0,53 |
0,31 |
Ago |
22,3 |
35,5 |
0,07 |
1,63 |
0,33 |
5,55 |
6,54 |
92,3 |
0,46 |
0,04 |
0,19 |
Set |
22,4 |
35,1 |
0,08 |
2,71 |
0,38 |
5,25 |
6,31 |
76,3 |
0,71 |
0,20 |
0,58 |
Out |
23,4 |
35,3 |
0,02 |
1,34 |
0,36 |
3,14 |
6,41 |
92,5 |
0,72 |
0,11 |
0,58 |
Nov |
23,9 |
35,8 |
0,03 |
1,31 |
0,26 |
3,46 |
6,01 |
75,9 |
0,65 |
0,16 |
0,37 |
Dez |
24,4 |
35,9 |
0,02 |
4,57 |
0,29 |
3,52 |
6,24 |
85,9 |
0,86 |
0,06 |
0,42 |
Média |
24,51 |
35,5 |
0,04 |
2,36 |
0,31 |
4,62 |
6,39 |
87,8% |
0,85 |
0,14 |
0,49 |
Desvio
Padrão |
1,96 |
0,3 |
0,03 |
1,21 |
0,06 |
1,54 |
0,27 |
8,6% |
0,29 |
0,13 |
0,22 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Para
uma melhor visualização dos valores médios
de cada mês, em cada estação de monitoramento,
foram elaborados gráficos a seguir para cada parâmetro
observado e que apresentam o valor mediano e o percentil de
25% e 75% dos dados.

Figura 216 - Médias
mensais de temperatura por ponto de monitoramento.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura 217 - Médias
mensais de salinidade por ponto de monitoramento.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

218 - Médias mensais
de grau de saturação de oxigênio por ponto
de monitoramento.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura 219 - Médias
mensais da concentração de nitrito por ponto
de monitoramento.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura 220 - Médias
mensais da concentração de nitrato por ponto
de monitoramento.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
221 - Médias mensais da concentração
de fosfato por ponto de monitoramento.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da Enseada
de Piraquara de Fora - Relatório Final", Departamento
de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de Geociências
da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura 222 - Médias mensais da concentração
de sílica por ponto de monitoramento.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
223 - Médias mensais da concentração
de clorofila A por ponto de monitoramento.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Através
de análise dos gráficos (Figura 216 a Figura
223), confirmados por análises estatísticas
de comparação de amostras, pode-se concluir
que pouca variação significativa dos parâmetros
ocorre entre as estações ao longo do ano, podendo
ser afirmado que as concentrações são
homogêneas ao longo do ano. Exceção a
este comportamento é a temperatura e as concentrações
de silicatos e clorofila A, que apresentam notadamente uma
variação sazonal acentuada e em menor escala
a variação do grau de saturação
de oxigênio. Nota-se uma forte alteração
dos valores de temperatura e concentrações de
sílica associadas aos períodos de inverno e
verão, apresentando comportamentos inversos, mas que
de forma alguma estão associados entre si e sim correlacionados
a situação climática.
Outra
análise que pode ser feita é a comparação
direta entre as temperaturas da estação Z3 e
Z4, uma vez que sendo a água utilizada para arrefecimento
do sistema de refrigeração das usinas, pode-se
verificar qual a variação média histórica
entre a água captada em Itaorna e a água lançada
na Enseada de Piraquara de Fora. Este análise pode
ser facilmente observada no gráfico que retrata a diferença
de temperatura entre as duas estações ao longo
do período de coleta de dados (Figura 224). As variações
encontradas podem estar relacionadas às questões
já levantadas de amostragem. Pois como o monitoramento
de parâmetros físicos bem mostrou, existe uma
alteração dos padrões de correntes na
região interna da enseada de Piraquara de Fora, que
se alterna com entrada de águas vindas da parte mais
de fora da baía e águas vindas da Baía
da Ribeira, variando de acordo com a maré e as condições
climáticas. Assim o ponto de amostragem na Enseada
de Piraquara de Fora (Z4), pode ter suas condições
físico-químicas, em dado instante, alterada
por influência de águas mais quentes ou mais
frias dependendo da situação reinante no momento
da coleta, e que não são possíveis de
serem inferidas na presente análise.

Figura 224 - Diferença
de temperatura entre as estações Z4 e Z3 ao
longo do período coleta de dados.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
A
partir dos dados foi feita uma análise da média
histórica mensal, ou seja, a média dos meses
durante todo o período amostral, o que resultou na
Figura 225. Verifica-se que a média, ao longo de todo
o tempo do monitoramento, da temperatura da água descarregada
em Piraquara de Fora se mantém próximo da temperatura
da água de Itaorna, sendo a diferença média
menor que 0,5 ºC.

Figura 225 -
Variação média da diferença de
temperatura nas estações Z4 e Z3 ao longo do
ano.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
6.5.3.4.2.
Resultados Observados:
- topo
A
partir dos dados básicos obtidos nas análises,
efetuou-se um tratamento estatístico onde a estatística
descritiva de cada campanha é apresentada da Tabela
62 a Tabela 69, a seguir.
Tabela
62 - Estatística descritiva básica dos dados
da campanha de agosto de 2002.
MÊS |
T 0,5 |
S |
NO2 |
NO3 |
PO4 |
Si |
O2 |
O2 |
CLOROFILA
(mg.m-3) |
ºC |
|
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
μmol.l-1 |
mg.-1 |
%
sat |
A |
B |
C |
Jan |
26,4 |
35,0 |
0,01 |
1,71 |
0,23 |
2,91 |
5,93 |
79,9 |
1,09 |
0,05 |
0,83 |
Fev |
28,0 |
35,5 |
0,06 |
1,57 |
0,25 |
2,90 |
6,67 |
96,8 |
0,84 |
0,15 |
0,49 |
Mar |
27,3 |
35,4 |
0,02 |
1,57 |
0,26 |
4,08 |
6,84 |
101,6 |
1,64 |
0,11 |
0,84 |
Abr |
26,0 |
35,6 |
0,02 |
2,24 |
0,35 |
4,54 |
6,44 |
92,4 |
0,84 |
0,10 |
0,70 |
Mai |
24,5 |
35,7 |
0,07 |
4,95 |
0,28 |
5,98 |
6,23 |
79,5 |
0,74 |
0,07 |
0,22 |
Jun |
23,1 |
36,2 |
0,04 |
2,40 |
0,38 |
7,40 |
6,31 |
85,2 |
0,82 |
0,13 |
0,34 |
Jul |
22,6 |
35,7 |
0,08 |
2,33 |
0,36 |
6,74 |
6,72 |
95,9 |
0,85 |
0,53 |
0,31 |
Ago |
22,3 |
35,5 |
0,07 |
1,63 |
0,33 |
5,55 |
6,54 |
92,3 |
0,46 |
0,04 |
0,19 |
Set |
22,4 |
35,1 |
0,08 |
2,71 |
0,38 |
5,25 |
6,31 |
76,3 |
0,71 |
0,20 |
0,58 |
Out |
23,4 |
35,3 |
0,02 |
1,34 |
0,36 |
3,14 |
6,41 |
92,5 |
0,72 |
0,11 |
0,58 |
Nov |
23,9 |
35,8 |
0,03 |
1,31 |
0,26 |
3,46 |
6,01 |
75,9 |
0,65 |
0,16 |
0,37 |
Dez |
24,4 |
35,9 |
0,02 |
4,57 |
0,29 |
3,52 |
6,24 |
85,9 |
0,86 |
0,06 |
0,42 |
Média |
24,51 |
35,5 |
0,04 |
2,36 |
0,31 |
4,62 |
6,39 |
87,8% |
0,85 |
0,14 |
0,49 |
Desvio
Padrão |
1,96 |
0,3 |
0,03 |
1,21 |
0,06 |
1,54 |
0,27 |
8,6% |
0,29 |
0,13 |
0,22 |
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
Tabela
63 - Continuação da estatística descritiva
básica dos dados da campanha de agosto de 2002.
PARÂMETRO |
CONFID. |
CONFID. |
VARIÂNCIA |
DESVIO
PADRÃO |
ERRO
PADRÃO |
L. D. |
Temperatura (ºC) |
24.820 |
25.491 |
3.997 |
1.999 |
0.170 |
- |
Salinidade |
34.155 |
34.176 |
0.004 |
0.062 |
0.005 |
- |
pH |
8.052 |
8.094 |
0.016 |
0.126 |
0.011 |
- |
O2 (ml/L) |
4.874 |
4.987 |
0.114 |
0.337 |
0.029 |
- |
O2 (ml/L) |
6.962 |
7.124 |
0.232 |
0.482 |
0.041 |
- |
O2 (% saturação) |
102.332 |
105.578 |
93.672 |
9.678 |
0.821 |
- |
NO2 (μmol/L) |
0.602 |
0.661 |
0.030 |
0.173 |
0.015 |
0.006 |
NO3 (μmol/L) |
0.277 |
0.476 |
0.076 |
0.276 |
0.049 |
0.319 |
NH3 (μmol/L) |
0.066 |
0.110 |
0.005 |
0.069 |
0.011 |
0.047 |
PO4 (μmol/L) |
0.306 |
0.348 |
0.016 |
0.125 |
0.011 |
0.016 |
Si (μmol/L) |
|
|
4.219 |
2.054 |
0.175 |
0.003 |
Si (μg at/L) |
3.941 |
4.286 |
0.005 |
0.073 |
0.006 |
0.083 |
Clorof. A (mg/M3) |
0.169 |
0.225 |
0.025 |
0.158 |
0.014 |
- |
Mat. Susp. (mg/L) |
4.950 |
5.776 |
6.009 |
2.451 |
0.209 |
- |
Boro (mg/L) |
5.513 |
5.820 |
0.839 |
0.916 |
0.078 |
66.583 |
Surfact. (mg LSS/L) |
0.034 |
0.039 |
0.000 |
0.014 |
0.001 |
0.002 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Tabela
64 - Estatística descritiva básica dos dados
da campanha de novembro de 2002.
PARÂMETRO |
CONFID. |
CONFID. |
VARIÂNCIA |
DESVIO
PADRÃO |
ERRO
PADRÃO |
L. D. |
Temperatura (ºC) |
24.820 |
25.491 |
3.997 |
1.999 |
0.170 |
- |
Salinidade |
34.155 |
34.176 |
0.004 |
0.062 |
0.005 |
- |
pH |
8.052 |
8.094 |
0.016 |
0.126 |
0.011 |
- |
O2 (ml/L) |
4.874 |
4.987 |
0.114 |
0.337 |
0.029 |
- |
O2 (ml/L) |
6.962 |
7.124 |
0.232 |
0.482 |
0.041 |
- |
O2 (% saturação) |
102.332 |
105.578 |
93.672 |
9.678 |
0.821 |
- |
NO2 (μmol/L) |
0.602 |
0.661 |
0.030 |
0.173 |
0.015 |
0.006 |
NO3 (μmol/L) |
0.277 |
0.476 |
0.076 |
0.276 |
0.049 |
0.319 |
NH3 (μmol/L) |
0.066 |
0.110 |
0.005 |
0.069 |
0.011 |
0.047 |
PO4 (μmol/L) |
0.306 |
0.348 |
0.016 |
0.125 |
0.011 |
0.016 |
Si (μmol/L) |
|
|
4.219 |
2.054 |
0.175 |
0.003 |
Si (μg at/L) |
3.941 |
4.286 |
0.005 |
0.073 |
0.006 |
0.083 |
Clorof. A (mg/M3) |
0.169 |
0.225 |
0.025 |
0.158 |
0.014 |
- |
Mat. Susp. (mg/L) |
4.950 |
5.776 |
6.009 |
2.451 |
0.209 |
- |
Boro (mg/L) |
5.513 |
5.820 |
0.839 |
0.916 |
0.078 |
66.583 |
Surfact. (mg LSS/L) |
0.034 |
0.039 |
0.000 |
0.014 |
0.001 |
0.002 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Tabela
65 - Continuação da estatística descritiva
básica dos dados da campanha de novembro de 2002.
PARÂMETRO |
INT.CONF.
- 95% |
INT.CONF.
+ 95% |
VARIÂNCIA |
DESVIO
PADRÃO |
ERRO
PADRÃO |
L. D. |
Temperatura (ºC) |
26.824 |
27.810 |
8.572 |
2.928 |
0.249 |
- |
Salinidade |
32.911 |
33.241 |
0.961 |
0.980 |
0.083 |
- |
pH |
8.102 |
8.121 |
0.003 |
0.058 |
0.005 |
- |
O2 (ml/L) |
4.876 |
4.993 |
0.120 |
0.347 |
0.029 |
- |
O2 (ml/L) |
6.966 |
7.133 |
0.245 |
0.495 |
0.042 |
- |
O2 (% saturação) |
105.404 |
109.277 |
132.394 |
11.506 |
0.979 |
- |
NO2 (μmol/L) |
0.449 |
0.539 |
0.070 |
0.265 |
0.023 |
0.027 |
NO3 (μmol/L) |
0.480 |
0.716 |
0.451 |
0.672 |
0.060 |
|
NH3 (μmol/L) |
1.255 |
1.371 |
0.117 |
0.341 |
0.029 |
0.225 |
PO4 (μmol/L) |
0.324 |
0.413 |
0.054 |
0.231 |
0.023 |
0.078 |
Si (μmol/L) |
0.178 |
0.195 |
0.002 |
0.049 |
0.004 |
0.046 |
Si (μg at/L) |
5.003 |
5.467 |
1.884 |
1.373 |
0.117 |
0.002 |
Clorof. A (mg/M3) |
0.206 |
0.318 |
0.107 |
0.328 |
0.028 |
- |
Mat. Susp. (mg/L) |
5.610 |
6.916 |
14.832 |
3.851 |
0.330 |
- |
Boro (mg/L) |
2.520 |
2.679 |
0.223 |
0.472 |
0.040 |
57.446 |
Surfact. (mg LSS/L) |
0.052 |
0.071 |
0.003 |
0.057 |
0.005 |
0.002 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Tabela
66 - Estatística descritiva básica dos dados
da campanha de fevereiro de 2003
PARÂMETRO |
N |
MÉDIA |
MEDIANA |
MÍNIMO |
MÁXIMO |
AMPLITUDE |
Temperatura (ºC) |
141 |
29.26 |
30.00 |
19.80 |
35.60 |
15.80 |
Salinidade |
141 |
33.50 |
33.39 |
31.29 |
35.36 |
4.07 |
pH |
141 |
8.18 |
8.20 |
7.77 |
8.42 |
0.65 |
O2 (ml/L) |
141 |
4.66 |
4.82 |
1.90 |
5.67 |
3.76 |
O2 (ml/L) |
141 |
6.66 |
6.88 |
2.72 |
8.10 |
5.38 |
O2 (% saturação) |
141 |
105.34 |
109.50 |
36.89 |
133.22 |
96.33 |
NO2 (μmol/L) |
140 |
0.45 |
0.40 |
0.23 |
1.95 |
1.72 |
NO3 (μmol/L) |
118 |
0.60 |
0.49 |
0.04 |
2.40 |
2.35 |
NH3 (μmol/L) |
138 |
0.49 |
0.40 |
0.23 |
1.69 |
1.46 |
PO4 (μmol/L) |
140 |
0.44 |
0.30 |
0.12 |
2.69 |
2.57 |
Si (μmol/L) |
141 |
0.21 |
0.17 |
0.00 |
0.80 |
0.80 |
Si (μg at/L) |
141 |
5.79 |
4.77 |
0.00 |
22.37 |
22.37 |
Clorof. A (mg/M3) |
140 |
0.42 |
0.31 |
0.04 |
1.91 |
1.87 |
Mat. Susp. (mg/L) |
141 |
8.64 |
6.85 |
4.40 |
26.50 |
22.10 |
Boro (mg/L) |
135 |
5.34 |
5.42 |
1.06 |
7.92 |
6.86 |
Surfact. (mg LSS/L) |
122 |
0.07 |
0.05 |
0.00 |
0.29 |
0.29 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Tabela
67 - Continuação da estatística descritiva
básica dos dados da campanha de fevereiro de 2003.
PARÂMETRO |
INT.CONF.
- 95% |
INT.CONF.
+ 95% |
VARIÂNCIA |
DESVIO
PADRÃO |
ERRO
PADRÃO |
L. D. |
Temperatura (ºC) |
28.713 |
29.806 |
10.773 |
3.282 |
0.276 |
- |
Salinidade |
33.353 |
33.639 |
0.739 |
0.860 |
0.072 |
- |
pH |
8.161 |
8.208 |
0.020 |
0.142 |
0.012 |
- |
O2 (ml/L) |
4.541 |
4.777 |
0.500 |
0.707 |
0.060 |
- |
O2 (ml/L) |
6.488 |
6.824 |
1.020 |
1.010 |
0.085 |
- |
O2 (% saturação) |
102.159 |
108.519 |
364.796 |
19.100 |
1.608 |
- |
NO2 (μmol/L) |
0.421 |
0.486 |
0.038 |
0.196 |
0.017 |
0.0 |
NO3 (μmol/L) |
0.513 |
0.686 |
0.226 |
0.476 |
0.044 |
0.046 |
NH3 (μmol/L) |
0.442 |
0.530 |
0.069 |
0.262 |
0.022 |
0.225 |
PO4 (μmol/L) |
0.362 |
0.516 |
0.214 |
0.463 |
0.039 |
0.025 |
Si (μmol/L) |
0.185 |
0.227 |
0.016 |
0.126 |
0.011 |
0.046 |
Si (μg at/L) |
5.199 |
6.376 |
12.487 |
3.534 |
0.298 |
0.002 |
Clorof. A (mg/M3) |
0.363 |
0.480 |
0.122 |
0.349 |
0.029 |
- |
Mat. Susp. (mg/L) |
7.914 |
9.371 |
19.154 |
4.376 |
0.369 |
- |
Boro (mg/L) |
5.129 |
5.557 |
1.584 |
1.259 |
0.108 |
57.446 |
Surfact. (mg LSS/L) |
0.058 |
0.073 |
0.002 |
0.043 |
0.004 |
0.023 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Tabela
68 - Estatística descritiva básica dos dados
da campanha de maio de 2003.
PARÂMETRO |
INT.CONF.
- 95% |
INT.CONF.
+ 95% |
VARIÂNCIA |
DESVIO
PADRÃO |
ERRO
PADRÃO |
L. D. |
Temperatura (ºC) |
28.713 |
29.806 |
10.773 |
3.282 |
0.276 |
- |
Salinidade |
33.353 |
33.639 |
0.739 |
0.860 |
0.072 |
- |
pH |
8.161 |
8.208 |
0.020 |
0.142 |
0.012 |
- |
O2 (ml/L) |
4.541 |
4.777 |
0.500 |
0.707 |
0.060 |
- |
O2 (ml/L) |
6.488 |
6.824 |
1.020 |
1.010 |
0.085 |
- |
O2 (% saturação) |
102.159 |
108.519 |
364.796 |
19.100 |
1.608 |
- |
NO2 (μmol/L) |
0.421 |
0.486 |
0.038 |
0.196 |
0.017 |
0.0 |
NO3 (μmol/L) |
0.513 |
0.686 |
0.226 |
0.476 |
0.044 |
0.046 |
NH3 (μmol/L) |
0.442 |
0.530 |
0.069 |
0.262 |
0.022 |
0.225 |
PO4 (μmol/L) |
0.362 |
0.516 |
0.214 |
0.463 |
0.039 |
0.025 |
Si (μmol/L) |
0.185 |
0.227 |
0.016 |
0.126 |
0.011 |
0.046 |
Si (μg at/L) |
5.199 |
6.376 |
12.487 |
3.534 |
0.298 |
0.002 |
Clorof. A (mg/M3) |
0.363 |
0.480 |
0.122 |
0.349 |
0.029 |
- |
Mat. Susp. (mg/L) |
7.914 |
9.371 |
19.154 |
4.376 |
0.369 |
- |
Boro (mg/L) |
5.129 |
5.557 |
1.584 |
1.259 |
0.108 |
57.446 |
Surfact. (mg LSS/L) |
0.058 |
0.073 |
0.002 |
0.043 |
0.004 |
0.023 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Tabela
69 - Continuação da estatística descritiva
básica dos dados da campanha de maio de 2003.
|
INT.CONF.
- 95% |
INT.CONF.
+ 95% |
VARIÂNCIA |
DESVIO
PADRÃO |
ERRO
PADRÃO |
L. D. |
Temperatura (ºC) |
26.588 |
27.178 |
3.215 |
1.793 |
0.149 |
- |
Salinidade |
34.499 |
34.564 |
0.039 |
0.197 |
0.016 |
- |
pH |
8.111 |
8.132 |
0.004 |
0.064 |
0.005 |
- |
O2 (ml/L) |
4.329 |
4.396 |
0.041 |
0.202 |
0.017 |
- |
O2 (ml/L) |
6.185 |
6.280 |
0.083 |
0.288 |
0.024 |
- |
O2 (% saturação) |
93.725 |
96.009 |
47.738 |
6.909 |
0.578 |
- |
NO2 (μmol/L) |
0.437 |
0.496 |
0.032 |
0.179 |
0.015 |
0.001 |
NO3 (μmol/L) |
0.308 |
0.340 |
0.009 |
0.096 |
0.008 |
0.046 |
NH3 (μmol/L) |
0.797 |
0.874 |
0.055 |
0.235 |
0.020 |
0.225 |
PO4 (μmol/L) |
0.403 |
0.468 |
0.039 |
0.196 |
0.016 |
0.225 |
Si (μmol/L) |
0.012 |
0.014 |
0.000 |
0.005 |
0.000 |
0.005 |
Si (μg at/L) |
0.345 |
0.395 |
0.022 |
0.150 |
0.012 |
0.002 |
Clorof. A (mg/M3) |
0.046 |
0.094 |
0.019 |
0.137 |
0.012 |
- |
Mat. Susp. (mg/L) |
6.515 |
7.443 |
7.873 |
2.806 |
0.235 |
- |
Boro (mg/L) |
5.015 |
5.239 |
0.464 |
0.681 |
0.057 |
57.446 |
Surfact. (mg LSS/L) |
0.057 |
0.064 |
0.000 |
0.021 |
0.002 |
0.023 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
6.5.3.4.3.
Análise dos Resultados - Avaliação da
Sazonalidade:
- topo
Através
do tratamento estatístico efetuou-se a análise
dos resultados em uma forma gráfica, onde o principal
objetivo é a visualização do comportamento
dos parâmetros analisados. Para tanto construiu-se gráficos
de caixas (Box-Whiskers) que representassem os valores medianos,
os percentis 25% e 75% e os valores mínimos e máximos
de cada parâmetro, agrupados por profundidade de amostragem,
por período de maré em cada uma das campanhas
realizadas. Esses gráficos são apresentados
nas figuras que se seguem, correspondentes a cada parâmetro
determinado durante este monitoramento. Neste tipo de gráfico
observa-se que os valores têm uma distribuição
não normal e assim o motivo da anormalidade deve ser
buscado em um estudo estatístico mais aprofundado,
o que no momento não se faz necessário tendo
em vista ser uma avaliação menos detalhada que
objetiva visualizar a variação sazonal e não
as variações internas entre as amostras. Pela
variação da caixa de percentis chega-se com
muita definição na distribuição
dos valores agrupados, propiciando a caracterização
do grau de dispersão dos valores dentro do grupo amostral
estabelecido na faixa dos valores máximos e mínimos
que também são representados no gráfico
apresentado.

Figura 226 - Gráfico
de Distribuição Sazonal, classificados por maré
e profundidade, da Temperatura no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
227 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Salinidade
no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
228 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, do pH no Saco
de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
229 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, do Grau de Saturação
de Oxigênio Dissolvido no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
230 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Oxigênio Dissolvido no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
231 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Oxigênio Dissolvido no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
232 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Amônia no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
233 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Nitrito no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
234 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Nitrato no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
235 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Fosfato no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
236 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Silicato no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
237 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Silicato no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
238 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Clorofila A no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
239 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Material em Suspensão no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
240 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Boro no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
241 - Gráfico de Distribuição Sazonal,
classificados por maré e profundidade, da Concentração
de Surfactantes no Saco de Piraquara de Fora.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A
simples análises dos dados é muito difícil,
pois o agrupamento abrange uma área muito grande com
influências diversas, ou seja, com contribuições
de águas da Baia da Ribeira e da Baia da Ilha Grande,
que se dá até mesmo entre a camada superficial
e a camada profunda, e este fato pode ser confirmado pela
grande dispersão dos valores em alguns grupamentos.
Assim, de uma forma geral o comportamento dos resultados ficou
dentro de uma normalidade de ocorrência para o ambiente
considerado, ou seja, de águas costeiras.
6.5.3.4.4.
Avaliação dos Resultados - Comparação
com os Limites Legais:
- topo
De
forma a facilitar as comparações entre os valores
determinados e a tabulação dos valores estabelecidos
na Resolução Conama nº20 de 18 de junho
de 1986, que estabelece a classificação das
águas doces, salobras e salinas do Território
Nacional, seus usos e características aceitáveis,
os critérios e padrões para lançamento
de efluentes líquidos estabelecido pela norma NT-202.R-10
de 07 de outubro de 1986 e os critérios de qualidade
de água para preservação de fauna e flora
marinhas naturais estabelecidos na norma NT-319 do ano de
1979, os valores das respectivas normas e dados de média,
mediana, mínimo e máximo obtidos durante o monitoramento
são mostrados na Tabela 70 à Tabela 73, a seguir.
A
comparação com os dados pretéritos ficou
prejudicada aqui, pois se considerarmos os dados pretéritos
como valores históricos e sendo a média dos
dados pretéritos nas estações Z4 e 047B
para cada mês amostrado no levantamento histórico
entre 1987 e 2002, esses valores somente apresentam dados
de águas de superfície não podendo então
ser comparados com os valores obtidos durante o monitoramento
face estes conterem valores de superfície, 2 metros
e fundo (a um metro do fundo).
Tabela
70 - Comparação dos dados do monitoramento oceanográfico
com os limites legais (campanha 01).
|
INT.CONF.
- 95% |
INT.CONF.
+ 95% |
VARIÂNCIA |
DESVIO
PADRÃO |
ERRO
PADRÃO |
L. D. |
Temperatura (ºC) |
26.588 |
27.178 |
3.215 |
1.793 |
0.149 |
- |
Salinidade |
34.499 |
34.564 |
0.039 |
0.197 |
0.016 |
- |
pH |
8.111 |
8.132 |
0.004 |
0.064 |
0.005 |
- |
O2 (ml/L) |
4.329 |
4.396 |
0.041 |
0.202 |
0.017 |
- |
O2 (ml/L) |
6.185 |
6.280 |
0.083 |
0.288 |
0.024 |
- |
O2 (% saturação) |
93.725 |
96.009 |
47.738 |
6.909 |
0.578 |
- |
NO2 (μmol/L) |
0.437 |
0.496 |
0.032 |
0.179 |
0.015 |
0.001 |
NO3 (μmol/L) |
0.308 |
0.340 |
0.009 |
0.096 |
0.008 |
0.046 |
NH3 (μmol/L) |
0.797 |
0.874 |
0.055 |
0.235 |
0.020 |
0.225 |
PO4 (μmol/L) |
0.403 |
0.468 |
0.039 |
0.196 |
0.016 |
0.225 |
Si (μmol/L) |
0.012 |
0.014 |
0.000 |
0.005 |
0.000 |
0.005 |
Si (μg at/L) |
0.345 |
0.395 |
0.022 |
0.150 |
0.012 |
0.002 |
Clorof. A (mg/M3) |
0.046 |
0.094 |
0.019 |
0.137 |
0.012 |
- |
Mat. Susp. (mg/L) |
6.515 |
7.443 |
7.873 |
2.806 |
0.235 |
- |
Boro (mg/L) |
5.015 |
5.239 |
0.464 |
0.681 |
0.057 |
57.446 |
Surfact. (mg LSS/L) |
0.057 |
0.064 |
0.000 |
0.021 |
0.002 |
0.023 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Tabela
71 - Comparação dos dados do monitoramento oceanográfico
com os limites legais (campanha 02).
|
INT.CONF.
- 95% |
INT.CONF.
+ 95% |
VARIÂNCIA |
DESVIO
PADRÃO |
ERRO
PADRÃO |
L. D. |
Temperatura (ºC) |
26.588 |
27.178 |
3.215 |
1.793 |
0.149 |
- |
Salinidade |
34.499 |
34.564 |
0.039 |
0.197 |
0.016 |
- |
pH |
8.111 |
8.132 |
0.004 |
0.064 |
0.005 |
- |
O2 (ml/L) |
4.329 |
4.396 |
0.041 |
0.202 |
0.017 |
- |
O2 (ml/L) |
6.185 |
6.280 |
0.083 |
0.288 |
0.024 |
- |
O2 (% saturação) |
93.725 |
96.009 |
47.738 |
6.909 |
0.578 |
- |
NO2 (μmol/L) |
0.437 |
0.496 |
0.032 |
0.179 |
0.015 |
0.001 |
NO3 (μmol/L) |
0.308 |
0.340 |
0.009 |
0.096 |
0.008 |
0.046 |
NH3 (μmol/L) |
0.797 |
0.874 |
0.055 |
0.235 |
0.020 |
0.225 |
PO4 (μmol/L) |
0.403 |
0.468 |
0.039 |
0.196 |
0.016 |
0.225 |
Si (μmol/L) |
0.012 |
0.014 |
0.000 |
0.005 |
0.000 |
0.005 |
Si (μg at/L) |
0.345 |
0.395 |
0.022 |
0.150 |
0.012 |
0.002 |
Clorof. A (mg/M3) |
0.046 |
0.094 |
0.019 |
0.137 |
0.012 |
- |
Mat. Susp. (mg/L) |
6.515 |
7.443 |
7.873 |
2.806 |
0.235 |
- |
Boro (mg/L) |
5.015 |
5.239 |
0.464 |
0.681 |
0.057 |
57.446 |
Surfact. (mg LSS/L) |
0.057 |
0.064 |
0.000 |
0.021 |
0.002 |
0.023 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Tabela
72 - Comparação dos dados do monitoramento oceanográfico
com os limites legais (campanha 03).
Campanha 03
FEVEREIRO/03 |
N |
MÉDIA |
MEDIANA |
MÍN |
MÁX |
Limite
Legal
Conama 20
Classe 5
1986 |
Limite
Legal
Feema
NT-202.R-
10
1986 |
Limite
Legal
Feema
NT-319
1979 |
Temperatura (ºC) |
141 |
29.26 |
30.00 |
19.80 |
35.60 |
- |
< 40.0 |
|
Salinidade |
141 |
33.50 |
33.39 |
31.29 |
35.36 |
- |
- |
|
PH |
141 |
8.18 |
8.20 |
7.77 |
8.42 |
6.5 a 8.5 |
5.0 a 9.0 |
6.5 a 8.5 |
O2 (ml/L) |
141 |
4.66 |
4.82 |
1.90 |
5.67 |
> 4.20 |
- |
|
O2 (mg/L) |
141 |
6.66 |
6.88 |
2.72 |
8.10 |
> 6.00 |
- |
≥ 4 |
NO2 (μmol/L) |
140 |
0.45 |
0.40 |
0.23 |
1.95 |
< 71.4 |
- |
≤ 0.02 |
NO3 (μmol/L) |
118 |
0.60 |
0.49 |
0.04 |
2.40 |
< 714 |
- |
≤ 0.16 |
NH3 (μmol/L) |
138 |
0.49 |
0.40 |
0.23 |
1.69 |
< 23.5 |
< 357 |
≤ 0.02 |
PO4 (μmol/L) |
140 |
0.44 |
0.30 |
0.12 |
2.69 |
- |
- |
|
Si (μmol/L) |
141 |
0.21 |
0.17 |
0.00 |
0.80 |
- |
- |
|
Clorof. A (mg/M3) |
140 |
0.42 |
0.31 |
0.04 |
1.91 |
- |
- |
|
Mat. Susp. (mg/L) |
141 |
8.64 |
6.85 |
4.40 |
26.50 |
- |
- |
|
Boro (mg/L) |
135 |
5.34 |
5.42 |
1.06 |
7.92 |
< 5.0 |
< 5.0 |
≤ 0.05 |
Surfact. (mg LSS/L) |
122 |
0.07 |
0.05 |
0.00 |
0.29 |
< 0.5 |
< 2.0 |
≤ 0.05 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Tabela
73 - Comparação dos dados do monitoramento oceanográfico
com os limites legais (campanha 04).
Campanha 03
FEVEREIRO/03 |
N |
MÉDIA |
MEDIANA |
MÍN |
MÁX |
Limite
Legal
Conama 20
Classe 5
1986 |
Limite
Legal
Feema
NT-202.R-
10
1986 |
Limite
Legal
Feema
NT-319
1979 |
Temperatura (ºC) |
141 |
29.26 |
30.00 |
19.80 |
35.60 |
- |
< 40.0 |
|
Salinidade |
141 |
33.50 |
33.39 |
31.29 |
35.36 |
- |
- |
|
PH |
141 |
8.18 |
8.20 |
7.77 |
8.42 |
6.5 a 8.5 |
5.0 a 9.0 |
6.5 a 8.5 |
O2 (ml/L) |
141 |
4.66 |
4.82 |
1.90 |
5.67 |
> 4.20 |
- |
|
O2 (mg/L) |
141 |
6.66 |
6.88 |
2.72 |
8.10 |
> 6.00 |
- |
≥ 4 |
NO2 (μmol/L) |
140 |
0.45 |
0.40 |
0.23 |
1.95 |
< 71.4 |
- |
≤ 0.02 |
NO3 (μmol/L) |
118 |
0.60 |
0.49 |
0.04 |
2.40 |
< 714 |
- |
≤ 0.16 |
NH3 (μmol/L) |
138 |
0.49 |
0.40 |
0.23 |
1.69 |
< 23.5 |
< 357 |
≤ 0.02 |
PO4 (μmol/L) |
140 |
0.44 |
0.30 |
0.12 |
2.69 |
- |
- |
|
Si (μmol/L) |
141 |
0.21 |
0.17 |
0.00 |
0.80 |
- |
- |
|
Clorof. A (mg/M3) |
140 |
0.42 |
0.31 |
0.04 |
1.91 |
- |
- |
|
Mat. Susp. (mg/L) |
141 |
8.64 |
6.85 |
4.40 |
26.50 |
- |
- |
|
Boro (mg/L) |
135 |
5.34 |
5.42 |
1.06 |
7.92 |
< 5.0 |
< 5.0 |
≤ 0.05 |
Surfact. (mg LSS/L) |
122 |
0.07 |
0.05 |
0.00 |
0.29 |
< 0.5 |
< 2.0 |
≤ 0.05 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Os
valores estabelecidos pela NT-319 são bem mais rígidos,
especialmente no que diz respeito aos valores limites para
nitrito, nitrato e amônia no meio, provocando um não
enquadramento de todas as amostras em todas as campanhas.
No mesmo caso se enquadra o limite da concentração
do Boro e para algumas amostras a concentração
máxima permitida para os teores de Surfactantes foi
ultrapassada devendo assim ser estudado com maior cuidado
a utilização desta norma como base para o controle
ambiental na região, uma vez que historicamente os
valores também estariam fora desses limites para esses
parâmetros. Assim questiona-se a sua aplicação,
pois não tem nenhuma relação a existência
de valores acima do limite com as atividades e efluentes da
CNAAA.
6.5.3.4.5.
Análise dos Resultados - Comparação com
os dados pretéritos:
- topo
Para
executar essa comparação foi necessário
considerar somente os dados da superfície coletados
durante o monitoramento, e os seus valores médios foram
comparados com os valores médios dos dados pretéritos
para as estações Z4 e 047B (Tabela 74), pois
esses pontos estão localizados dentro do Saco de Piraquara
onde foram realizadas as coletas do monitoramento. È
importante destacar aqui que os pontos do monitoramento abrangem
uma área bem maior, incluindo toda a parte adjacente
a entrada do Saco de Piraquara de Fora, assim sendo uma diferença
resultante da influência dos dados da região
B do monitoramento pode dificultar a comparação
direta dos dados.
Pela
análise dos dados contidos na Tabela 74 outro aspecto
importante a ser considerado é o completo desconhecimento
da metodologia aplicada para os levantamentos de campo e de
laboratório utilizados na obtenção dos
dados pretéritos, e este pode ser o motivo para as
diferenças encontradas. A comparação
dos valores mostra claramente que as concentrações
de nitrito e oxigênio dissolvido estão sempre
maiores no monitoramento realizado quando comparado com os
valores dos dados pretéritos. Da mesma forma que os
valores das concentrações de nitrato, silicato
e clorofila A estão sistematicamente mais baixos que
os dados pretéritos.
Assim,
considerando os resultados obtidos não se pode afirmar
categoricamente que os valores estão ou não
diferentes, pois podem estar sob a influência de erros
sistemáticos e aleatórios, especialmente no
que diz respeito aos valores obtidos historicamente no monitoramento
mantido pela Eletronuclear desde 1987.
Tabela
74 - Comparação dos dados do monitoramento para
amostras da superfície e dados pretéritos nas
estações Z3, Z4 e 047B.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
6.5.3.4.6.
Análise dos Resultados - Comparação com
o ponto de controle:
- topo
Durante
a segunda campanha, realizada em novembro de 2002, observou-se
que ocorreu um aumento significativo das concentrações
de amônia no efluente descarregado em Piraquara (Figura
232). Para avaliar se esta alteração era proveniente
de alteração das condições físico-químicas
das águas de Itaorna, onde é feita a captação,
passou-se a monitorar o ponto Z3 obedecendo ao mesmo procedimento
do monitoramento da Enseada de Piraquara de forma a se ter
este ponto como ponto de controle para os parâmetros
sob investigação.
Assim
sendo na tabela a seguir (Tabela 75) é feita a comparação
entre os dados obtidos para o ponto de controle (Z3) e o ponto
mais próximo da descarga dos efluentes em Piraquara
de Fora, ou seja, o ponto R0.
Para
o cálculo das médias optou-se em não
considerar profundidades maiores que 6 meros no ponto de controle
pois a captação de águas se dá
até esta profundidade, assim os dados se tornam mais
confiáveis para efeito de comparação.
Assim
aplicada a comparação entre as médias
do ponto de controle e o ponto R0 observa-se que ocorre um
claro aumento da temperatura, o que é bastante óbvio
devido a utilização que se dá a esta
água, na terceira campanha a variação
foi de 3,9ºC e na quarta campanha foi de 6,7ºC e
6,5ºC nas marés enchente e vazante respectivamente.
Como o sistema de refrigeração é feito
através de bombeamento e descarga por canais, o nível
de oxigênio na descarga é sempre mais elevado.
O incremento do percentual de saturação do oxigênio
foi de cerca de 21% na terceira campanha, na quarta campanha
na maré enchente e de 7,3% na maré vazante da
quarta campanha.
Já
para os nutrientes as concentrações são
sistematicamente menores na descarga do que na área
de captação na maioria das vezes. Exceção
feita na campanha de maré vazante de maio de 2003.
Assim
sendo conclui-se que as variações encontradas
nos resultados em Piraquara de Fora são coincidentes
com as variações das condições
em Itaorna, não sendo determinado nenhuma interferência
nos parâmetros analisados pela CNAAA.
Tabela
75 - Quadro comparativo dos parâmetros no ponto de controle
(Z3) e no ponto R0 (descarga do efluente).
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
6.5.3.4.7.
Conclusão Final
- topo
A
análise dos dados mostrou um comportamento dos parâmetros
físico-químicos na área amostrada bastante
complexo.
Ficam
evidenciadas nas comparações realizadas diferenças
entre a região interna e externa da Enseada de Piraquara,
diferenças entre a camada de água da superfície
e do fundo que apresentam características diferentes
em algumas épocas do ano, a forte influência
dos regimes de maré, ora trazendo a influência
das águas da Baia da Ilha Grande, ora os efeitos das
águas da Baía da Ribeira, sem considerar os
efeitos climatológicos que não foram avaliados
nesta análise.
De
uma forma geral o comportamento das condições
químicas das águas em Piraquara de Fora retratam
o comportamento de um corpo costeiro enclausurado dentro de
baías, com flutuações sazonais na maioria
de seus parâmetros devido a influência de corpos
de água adjacentes. Pelas comparações
realizadas não foi evidenciado nenhuma alteração
negativa nas características químicas das água
de Piraquara de Fora, a exceção do aumento da
temperatura, o que já era conhecido e esperado e no
aumento dos teores de oxigênio nas águas de descarte.
Desta forma conclui-se que
a utilização de águas oceânicas
pela CNAAA para seu sistema de refrigeração
não tem provocado nenhuma alteração significativa
nas condições químicas dessas águas.
6.5.3.5. Oceanografia
física - topo
6.5.3.5.1.
Condições meteorológicas
- topo
Este
estudo específico considera os dados meteorológicos.
Para
caracterização meteorológica da região
em estudo, foram utilizados dados de precipitação,
vento e temperatura do ar, provenientes da estação
meteorológica de Itaorna, armazenados no período
de 1980 a 2002. Tais dados estão apresentados e analisados
no item 6.1
Meteorologia deste mesmo relatório.
6.5.3.5.2.
Condições oceanográficas
- topo
Temperatura
da água do mar
Os
dados de temperatura do mar a 0,5 m de profundidade foram
coletados com o sensor de temperatura do equipamento ADCP,
posicionado nessa profundidade, para todas as campanhas de
coleta. Os dados foram analisados e passaram por rotinas de
consistência para eliminação daqueles
considerados falhos.
De
um modo geral, a circulação superficial no interior
do Saco, vista através da distribuição
de temperatura, teve um comportamento de entrada de água
mais fria pelo sul e saída de água mais quente
pelo lado norte, durante so peródods de maré
vazante, e inverso nos períodos de maré enchente,
com a água mais quente saindo pelo lado sul e a água
mais fria entrando pelo norte do saco Piraquara de Fora. Os
fluxos foram variáveis em intensidade ao longo do ano.
Na parte externa ao Saco, a água mais fria tende a
seguir em direção à Baía da Ribeira
durante os períodos de maré enchente, apresentando
comportamento inverso durante a maré vazante.
A
temperatura máxima encontrada em Piraquara de Fora
foi 31ºC, próximo à estrutura de descarga,
e a mínima 24,1ºC, na parte externa do saco (enseada).
Circulação
A
coleta de dados para o estudo da circulação
foi realizada percorrendo-se perfis preestabelecidos com o
ADCP Wokhorse Monitor 600 Khz. A região pesquisada
foi dividida em duas seções, na parte interna
foram feitas linhas paralelas à entrada do Saco no
sentido nortesul, e na parte externa foram feitas linhas perpendiculares
à entrada do Saco no sentido oesteleste, conforme mostra
a Figura 242, totalizando vinte linhas. A parte externa teve
seus limites de coleta centrados nos pontos: Ilha do Brandão,
Ilha de Paquetá, Ponta Grossa e Ponta do Pasto.

Figura
242 - Perfis de coleta de dados com equipamento ADCP (Acoustic
Doppler Current Profiles).
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
A
configuração do ADCP possibilitou a obtenção
de dados a partir de 2 metros de profundidade após
o equipamento, situado a aproximadamente 0,5 metro de profundidade.
Os dados foram coletados a cada segundo e posteriormente reprocessados
em gabinete.
Os
dados da variação da maré nos dias das
campanhas foram obtidos pela tabua de marés da DHN
para o porto de Angra dos Reis, e os dados da vazão
do descarte foram fornecidos pela Eletronuclear.
Para
o estudo da circulação abaixo de 2,5 metros,
profundidade mínima de obtenção dos dados
de corrente pelo ADCP, devido ao baixo fluxo encontrado no
local, foi constatado que a maneira mais adequada de apresentar
esses dados seria através das distribuições
horizontais.
Desta
maneira foram selecionadas as camadas de 3, 5 e 9 metros aproximadamente,
determinadas a partir de médias representando assim
a camada sub-superficial intermediária e mais profunda
respectivamente. Convém ressaltar que as profundidades
selecionadas são medias obtidas entre a camada acima
e abaixo, no caso da profundidade utilizada de 3 metros, a
primeira camada medida é a de 2,5 metros e a posterior
de 3,5 metros, assim a média entre estas camadas ficando
situada em 3 metros de profundidade.
As
campanhas foram realizadas durante dois dias consecutivos
em períodos alternados de maré enchente e vazante,
dentro e na região adjacente ao Saco Piraquara de Fora.
Por
não terem sido encontradas condições
meteorológicas adversas que influenciassem a circulação,
os mapas de distribuição horizontal de intensidade
e de direção da corrente estão confeccionados
para períodos de uma mesma maré (vazante ou
enchente).
A
Tabela 76 mostra a capacidade de operação de
cada usina nuclear e a vazão projetada durante as campanhas
realizadas.
Tabela
76 - Relação entre as vazões projetadas
e a capacidade de operação de Angra 1 e 2.
Período |
Vazão
(m³/s) |
Angra 1
Operação(%) |
Angra 2
Operação(%) |
Agosto/2002 |
80 |
0 |
100 |
Outubro/2002 |
118 |
80 |
80 |
Janeiro/2003 |
118 |
80 |
80 |
Fevereiro/2003 |
118 |
80 |
80 |
Abril/2003 |
116 |
80 |
80 |
Maio/2003 |
116 |
80 |
80 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A
seguir serão apresentadas as análises dos dados
de correntometria obtidos por campanha:
a) Agosto/2002
Na
campanha de agosto, apenas a usina Angra II estava operando
com 100% da sua capacidade, o que resulta em uma vazão
de 80 m³/s. A amplitude da maré, como consta na
tábua de marés da DHN foi de 0,7 m.
Nessa
campanha a disposição das linhas de perfilagem
para obtenção dos dados de corrente com o ADCP,
na área adjacente ao Saco Piraquara de Fora, foi diferente
das outras campanhas. A distribuição estava
em forma de um paralelogramo centrado nos quatro pontos que
determinavam a área externa em estudo, cortado por
duas diagonais. Após a campanha observou-se que essa
não era a forma mais adequada para a obtenção
dos dados de corrente nessa região, pois o afastamento
entre as linhas provocou uma grande interpolação
devido ao espaçamento entre as linhas. Por esse motivo
a Figura 243, a Figura 244 e a Figura 245 apresentam a área
central sem informações. Isso levou a mudança
nas outras campanhas da distribuição das linhas
de perfilagem.
No
dia 21 de agosto as linhas de perfilagem coleta foram percorridas
durante um período de maré enchente, dentro
do Saco. A Figura 243 apresenta a distribuição
horizontal a 3 m; nota-se claramente que a circulação
ocorrida é no sentido horário, ou seja, a água
entra pelo lado sul da enseada e sai pelo lado norte. A intensidade
da corrente encontrada no interior do Saco é muito
pequena, cerca 0,04 m/s. A Figura 244 e a Figura 245 apresentam
a mesma direção no sentido horário nas
camadas de 5 m e 9 m respectivamente, sendo que as intensidades
registradas foram ligeiramente maiores, chegando a 0,10 m/s.
Nota-se que na parte mais externa do Saco a circulação
apresentou nas três profundidades uma direção
no sentido norte com valores ligeiramente maiores de intensidade
da corrente.

Figura 243 - Direção
e Magnitude da Corrente obtida na camada de 3m, no período
de maré enchente.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura 244 - Direção
e Magnitude da Corrente obtida na camada de 5m, no período
de maré enchente.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
245 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré enchente.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
b)
Outubro/2002
Na
campanha de outubro, realizada nos dias 20 e 21, as duas usinas
estavam funcionando (Angra I e Angra II) com aproximadamente
80% da sua capacidade cada uma, o que resultou em uma vazão
de 118 m³/s. A tábua de marés da DHN forneceu
um valor de amplitude da maré nessa campanha de 1 m.
A
Figura 246 apresenta a distribuição horizontal
em torno de 3 m dentro do Saco, no período de maré
enchente. A circulação encontrada não
apresentou um sentido bem definido, há um fluxo de
saída de água por toda entrada da enseada. A
intensidade da corrente na extremidade Sul do Saco é
cerca de 0,3 m/s em toda coluna de água; no restante
do Saco os valores são menores, em torno de 0,07 m/s.
As Figura 247 e Figura 248, correspondentes às profundidades
de 5 m e 9 m, corroboram as informações mencionadas
acima.
Não
houve medições na região adjacente ao
Saco no período de maré enchente devido a problemas
mecânicos ocorridos com a embarcação que
estava sendo utilizada. No período de maré vazante,
Figura 249, Figura 250 e Figura 251, a circulação
encontrada apresenta diferentes resultantes de saída
e de entrada da água do Saco nas três profundidades.
A 3 m há um fluxo resultante de entrada de água
pelo lado sul do Saco e um fluxo resultante de saída
de água pelo lado norte; a 5m o fluxo resultante é
de entrada de água; e a 9 m o fluxo resultante é
de saída de água. Pode-se supor que há
uma entrada de água para o interior do Saco nas camadas
mais superiores e uma saída pela parte inferior. As
intensidades da corrente encontradas oscilam entre valores
de 0,03 e 0,10 m/s.
Na
área externa adjacente ao Saco a medição
foi prejudicada devido às condições do
mar, não permitindo uma boa orientação
da embarcação nas linhas de perfilagem, o que
causou os espaços vazios mostrados nas figuras.

Figura 246 - Direção
e Magnitude da Corrente obtida na camada de 3m, no período
de maré enchente.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
247 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 5m, no período de maré enchente.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
248 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré enchente.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
249 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 3m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
250 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 5m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
251 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
c)
Janeiro/2003
Na
campanha de janeiro, realizada nos dias 18 e 19, as duas usinas
estavam funcionando com aproximadamente 80% da sua capacidade,
o que resulta em uma vazão de 118 m³/s. A amplitude
da maré na campanha foi de 0.9 m, fornecida pela tábua
de marés da DHN.
As
linhas de perfilagem foram percorridas durante um período
de maré enchente dentro do Saco Piraquara de Fora e
no período de maré vazante dentro do Saco e
na região adjacente. Não houve coleta de dados
no período de maré de enchente na região
adjacente devido a problemas com a embarcação.
A
Figura 252 apresenta a distribuição horizontal
a 3 m dentro do Saco Piraquara de Fora na maré de enchente,
a intensidade da corrente encontrada no local é muito
pequena, cerca de 0,03 m/s. Na profundidade de 5 m (Figura
253) as intensidades continuam baixas ainda por volta de 0,03
m/s e na profundidade de 9 m (Figura 254) a intensidade aumenta
ao sul e na parte NW/N do Saco chegando a 0,09 m/s. Em relação
ao fluxo de água ele é marcante na parte mais
profunda seguindo na direção norte pela parte
mais externa do Saco; nas outras profundidade o fluxo não
é bem definido, mas caracteriza uma tendência
da água ser confinada no interior do Saco.

Figura 252 - Direção
e Magnitude da Corrente obtida na camada de 3m, no período
de maré enchente.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
253 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 5m, no período de maré enchente.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
254 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré enchente.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A
Figura 255, Figura 256 e a Figura 257 mostram a circulação
da água no período de maré vazante. A
circulação da água no interior do Saco
é marcante na profundidade de 9 m; a água penetra
pelo lado norte, circula pelo interior do Saco e sai pelo
lado sul. As intensidades da corrente são relativamente
maiores nos extremos norte e sul alcançando 0,15 m/s.
Na profundidade intermediaria 5 m, a circulação
é semelhante à de 9 m, entretanto com valores
médios de intensidade da corrente de 0,09 m/s. A circulação
a 3 m não é tão bem definida, mostrando
uma tendência anti-horária no interior do Saco,
sendo a saída pelo lado sul com valores de intensidade
em torno de 0,13 m/s.
Na
área adjacente é marcante a divergência
do fluxo que vem da Baía da Ribeira na profundidade
de 5 m, entrando parte no Saco e outra parte seguindo na direção
leste. Isto não é bem definido na camada mais
sub-superficial e não acontece na camada mais profunda
onde a velocidade é bastante reduzida.

Figura 255 - Direção
e Magnitude da Corrente obtida na camada de 3m, no período
de maré vazante.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
256 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 5m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
257 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
d)
Fevereiro/2003
A
campanha de fevereiro foi realizada nos dias 19 e 20; as duas
usinas estavam funcionando com aproximadamente 80% da sua
capacidade, o que resulta em uma vazão de 118 m³/s.
A amplitude da maré na campanha foi de 0.9 m tirada
da tábua de marés da DHN.
A
Figura 258 apresenta a distribuição horizontal
a 3 m para um período de maré vazante. Há
uma tendência do fluxo de água penetrar pelo
lado norte, circular no Saco e sair pelo lado sul; a intensidade
média de corrente encontrada no local é cerca
de 0,07 m/s, com valores maiores na extremidade sul do Saco,
em torno de 0,15 m/s. A circulação nas profundidades
de 5 m e 9 m, Figura 259 e Figura 260 respectivamente, apresentam
o mesmo padrão, porém com intensidades de corrente
mais fracas em torno de 0,03 m/s. com exceção
feita na extremidade sul do Saco onde chega a valores de 0,13
m/s.
Na
área adjacente na parte sul observa-se a penetração
de água na direção norte com grandes
velocidades, cerca de 0,8 m/s na camada de 3 m e valores de
0,10 m/s no restante da camada. Esse fluxo de água
forma uma área de transição marcante
com o fluxo de menor intensidade que ruma para o sul.

Figura 258 - Direção e Magnitude da Corrente
obtida na camada de 3m, no período de maré vazante.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
259 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 5m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
260 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A
Figura 261, a Figura 262e a Figura 263 apresentam as distribuições
horizontais a 3 m, 5 m e 9 m, respectivamente, no período
de maré enchente. A circulação encontrada
mostra um sentido bem definido para norte, em direção
à Baía do Ribeira, na área adjacente
ao Saco. Há uma maior penetração de água
para o interior do Saco pela extremidade sul em toda coluna
de água. Parte dessa água circula pela parte
mais externa em direção ao lado norte, e sai
na direção da Baía da Ribeira. O restante
tem uma tendência a permanecer no interior do Saco sem
circular. A intensidade da corrente encontrada no local é
muito pequena, cerca de 0,09 m/s, na camada de 3 m, aumentando
com a profundidade, chegando a 0,13 m/s.

Figura 261 - Direção
e Magnitude da Corrente obtida na camada de 3m, no período
de maré enchente.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
262 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 5m, no período de maré enchente.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
263 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré enchente.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
e)
Abril/2003
A
campanha de abril foi realizada nos dias 1 e 2; as duas usinas
estavam funcionando com aproximadamente 80% da sua capacidade,
o que resulta em uma vazão de 116 m³/s. A amplitude
da maré na campanha foi de 1,1 m, conforme a tábua
de marés para o porto de Angra dos Reis, fornecida
pela DHN.
A
Figura 264, a Figura 265 e a Figura 266 mostram as distribuições
horizontais a 3 m, 5 m e 9 m, respectivamente, para um período
de maré enchente. A circulação ocorrida
é no sentido horário na parte mais externa do
Saco, ou seja, a água entra pelo lado sul da enseada
e sai pelo lado norte. Na parte interna há uma tendência
da água estar sem circular. As intensidades da corrente
são muito grandes na entrada pelo lado sul, cerca de
0,30 m/s. No interior do Saco encontram-se valores bem mais
baixos, média de 0,03 m/s.
Na
região adjacente, na profundidade de 3 m, o deslocamento
do fluxo para a Baía da Ribeira não está
bem definido, porém nas demais camadas é marcante,
principalmente a 9 m. As intensidades das correntes tendem
a aumentar com a profundidade chegando a 0,5 m/s.

Figura 264 - Direção
e Magnitude da Corrente obtida na camada de 3m, no período
de maré enchente.
Fonte: "Monitoramento
Oceanográfico da Enseada de Piraquara de Fora - Relatório
Final", Departamento de Oceanografia e Hidrologia do
Instituto de Geociências da Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
265 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 5m, no período de maré enchente.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
266 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré enchente.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A
Figura 267, a Figura 268 e a Figura 269 apresentam as distribuições
horizontais a 3 m, 5 m e 9 m para o período de maré
vazante da campanha. A circulação encontrada
mostra um sentido bem definido dentro do Saco, a água
penetrando pelo norte, circulando no Saco e saindo pelo sul.
A intensidade da corrente encontrada no local é pequena,
cerca de 0,08 m/s. Observa-se que maiores intensidades são
registradas a 5 m de profundidade no interior do Saco, mas
é a 9m que se encontram os maiores valores na saída
sul do Saco, em torno de 0,60 m/s.
Na
área adjacente ao Saco o fluxo é bem definido
para o sul nas camadas de 3 m e 5 m, o que não acontece
na profundidade de 9 m.

Figura
267 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 3m, no período de maré vazante.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
268 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 5m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
269 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
f)
Maio/2003
A
campanha de maio foi realizada nos dias 29 e 30; as duas usinas
estavam funcionando com aproximadamente 80% da sua capacidade,
e com uma vazão de 116 m³/s. A amplitude da maré
obtida pela tábua da DHN na campanha foi de 0.9 m.
As
Figura 270, Figura 271e Figura 272 mostram as distribuições
horizontais a 3 m, 5 m e 9 m respectivamente, para um período
de maré vazante. O fluxo de água entra pelo
lado norte, circula dentro do Saco e sai pelo lado sul. A
intensidade média de corrente encontrada no local é
pequena, cerca de 0,04 m/s, exceto na saída sul do
Saco onde os valores aumentam para cerca de 0,10 m/s. Na parte
mais interior do Saco existem áreas sem circulação,
com intensidades de corrente praticamente nulas.
Na
região adjacente toda camada apresentou um baixo fluxo
não permitindo uma boa definição da circulação,
incluindo diversas áreas de intensidades de corrente
quase nulas.

Figura 270 - Direção
e Magnitude da Corrente obtida na camada de 3m, no período
de maré vazante.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
271 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 5m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
272 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A
Figura 273, a Figura 274e a Figura 275 apresentam as distribuições
horizontais a 3 m, 5 m e 9 m,respectivamente, para um período
de maré enchente. A circulação encontrada
mostra um sentido bem definido para norte em direção
à Baía da Ribeira, principalmente na área
adjacente ao Saco. Dentro do Saco a água praticamente
não circula na parte mais interna e circula no sentido
dos ponteiros do relógio na parte mais exterior. A
intensidade da corrente encontrada no interior do Saco é
muito pequena, cerca de 0,03 m/s, aumentando com a profundidade,
chegando a 0,09 m/s. A intensidade da corrente na área
adjacente é maior com valores a 3 m de 0,10m/s, aumentando
com a profundidade chegando a 9 m a 0,30m/s

Figura 273 - Direção
e Magnitude da Corrente obtida na camada de 3m, no período
de maré enchente.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
274 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 5m, no período de maré enchente.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
275 - Direção e Magnitude da Corrente obtida
na camada de 9m, no período de maré enchente.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Devido
às características do equipamento ADCP e as
configurações utilizadas nas campanhas, a determinação
do fluxo da água dentro do Saco Piraquara de Fora e
na área adjacente só pode ser determinada abaixo
de 3 m de profundidade. Com os mapas de temperatura obtidos
a 0,5 m de profundidade pode-se inserir a circulação
superficial na região pela distribuição
desse parâmetro.
O
baixo fluxo existente na área estudada reduz a precisão
das observações de direções da
corrente, como também a grande diferença entre
a velocidade da embarcação utilizada na medição
e o fluxo local prejudicou as determinações
mais precisas das intensidades da corrente.
A
configuração obtida para realização
das campanhas gerou um desvio padrão em torno de 0,57
cm/s na parte interna do Saco e 3,05 cm/s na área adjacente.
Foram
testados alguns aplicativos para melhor apresentação
da análise desses dados: o aplicativo WinADCP, fornecido
pela RD Instruments; uma rotina feita com o software Matlab;
e o aplicativo Oasis Montaj, o qual foi escolhido para confecção
dos mapas, com objetivo de colocar de forma clara a maior
quantidade de informações para sua interpretação.
Analisando
os mapas com as distribuições horizontais referentes
ao período de maré enchente observa-se que o
fluxo da água, na parte mais exterior do Saco, tende
a entrar pela extremidade sul e sair pelo lado norte, juntando-se
com a água que segue pela área adjacente na
direção da Baía da Ribeira. Na parte
mais interna do Saco, o baixo fluxo dá uma impressão
de estagnação. Comparando-se a circulação
nesses mapas com a circulação superficial induzida
nos mapas de distribuição da temperatura, para
o mesmo período da maré, verificase que a água
mais quente espalha-se igualmente pelo interior do Saco, junto
à descarga das Usinas, indicando um não movimento
da mesma.
Nos
períodos de maré vazante a circulação
no Saco é mais intensa, a água penetra pela
extremidade norte, circula na parte interna do saco e sai
pelo lado sul. A circulação superficial induzida
pelos mapas de distribuição da temperatura mostra
a entrada de água mais fria no Saco pela extremidade
sul e uma saída de água mais quente pelo lado
norte, indicando que a circulação superficial
tende a um sentido contrário da circulação
profunda, isto na parte mais exterior do Saco. Esse fato é
bem marcante nos meses de Janeiro, Abril e Maio de 2003.
O
estudo da variabilidade sazonal do fluxo da água na
região pesquisada ficou em parte prejudicado pelos
problemas técnicos já mencionados ocorridos
durante a coleta de dados nas primeiras campanhas, mas alguns
pontos de interesse podem ser mencionados:
•
Na área externa adjacente ao Saco, no período
verão-outono, encontra-se um fluxo de água
maior no período de maré enchente do que no
de vazante, nas profundidades abaixo de 3 m.
•
Nas campanhas realizadas no período abril-outubro
há indicação de entrada de água
mais fria superficial pela extremidade sul do Saco, tanto
na maré enchente quanto vazante, indicando o período
de inverno com maior intensidade na entrada dessa água.
Os dados de agosto não foram considerados nessa análise
devido a coleta dos dados ter acontecido em uma disposição
diferente das demais campanhas.
•
No verão há uma entrada de água indo
para o norte na parte sul da área adjacente ao Saco,
em toda a camada observada (3 m a 9 m), no período
da maré vazante, contrária ao fluxo normal
esperado que deveria ser sul. A intensidade desse fluxo
é bem maior no mês de fevereiro.
6.5.3.5.3.
Modelagem de difusão de calor
- topo
A
água do mar de Itaorna é utilizada para refrigeração
dos condensadores de vapor das usinas nucleares Angra 1 e
2 para, em seguida, ser lançada no Saco Piraquara de
Fora. A influência mais importante do efluente líquido
sobre o meio ambiente local está relacionada com a
elevação da temperatura da água do mar
e com a alteração do padrão de circulação,
a partir do ponto de lançamento. Por ser uma região
de pouca atividade industrial, a área apresenta características
tais que, do ponto de vista ecológico, permitem evidenciar
muito claramente todo e qualquer impacto causado pelas usinas
da CNAAA.
A
descarga da água de refrigeração de Angra
1 é de 40 m³/s e a de Angra 2, de 77 m³/s.
Com a implementação da usina nuclear Angra 3,
que deverá operar com uma vazão igual à
de Angra 2, está previsto um aumento de aproximadamente
65,8% da vazão atual, quando se atingirá um
fluxo de 194 m³/s. Este estudo visa avaliar como será
alterado o padrão de circulação hidrodinâmica
e de que forma deverá ocorrer a difusão do calor
gerado pelas três usinas.
Foi
utilizada a modelagem numérica computacional para reproduzir
a hidrodinâmica acoplada ao transporte de calor do efluente
de refrigeração das usinas da CNAAA em Piraquara
de Fora. A modelagem é calibrada pelos dados do programa
de monitoramento de campo e gera previsões para as
situações prevalecentes após a entrada
em operação da terceira usina, antecipando-se,
dessa maneira, a possíveis impactos ambientais, contribuindo,
assim, para a avaliação das implicações
ambientais relacionadas à expansão do empreendimento.
Métodos
Modelagem
numérica
Os
modelos numéricos são representações
matemáticas dos processos e sistemas físicos.
Vários níveis de complexidade associados ao
modelo podem ser construídos para analisar as situações
práticas, dependendo do contexto e da precisão
do estudo. Os modelos mais complexos geralmente aumentam a
exatidão da representação e fornecem
soluções adicionais específicas.
Um
modelo numérico pode ser desenvolvido para uma, duas
ou três dimensões, de acordo com a distribuição
espacial dominante dos processos físicos envolvidos.
A complexidade dimensional do modelo para um estudo particular
é função da tolerância admitida
e da extensão dos processos que ocorrem no sistema.
Neste
estudo, um modelo tridimensional hidrodinâmico acoplado
à difusão de calor é utilizado para reproduzir
a descarga do efluente com temperatura acima do normal para
a região. Um modelo bidimensional promediado na vertical
não resolveria a variação da temperatura
com a profundidade no campo próximo, o que implicaria
uma avaliação imprecisa do impacto térmico
na enseada. Por essa razão, a grade espacial tridimensional
foi empregada para simular o lançamento dos efluentes
das usinas Angra 1, 2 e 3 no Saco Piraquara de Fora.
Calibração
Desenvolvimento
da malha de integração - a profundidade máxima
na enseada é de 16 m no ponto próximo à
comunicação com a baía da Ribeira. Na
região contígua ao túnel de saída
do efluente térmico, a profundidade é de 10
m e, logo em seguida, torna-se mais raso, chegando a apenas
5 m de profundidade.
O
desenvolvimento da máscara de diferenças finitas
para a modelagem da difusão de calor na enseada incluiu
o subseqüente requerimento.
A
máscara de diferenças finitas para a modelagem
da difusão de calor na enseada foi desenvolvida segundo
os seguintes critérios:
•
ajuste da localização dos nódulos de
fronteira, de forma a assegurar que os elementos acompanhem
a linha de costa bastante irregular;
•
células relativamente pequenas (14 m largura x 230
m comprimento x 10 m profundidade) próximo à
descarga do efluente, garantindo uma definição
mais fina das variações da velocidade do fluxo
e da temperatura da água no campo próximo;
•
células relativamente grandes (ex: 1.000 m largura
x 2.000 m comprimento x 16 m profundidade) no campo distante.
De uma forma geral, os elementos da malha de integração
crescem com a distância ao ponto de descarga do efluente.
A utilização de grandes células nas
regiões onde as velocidades de fluxo e as temperaturas
da água variam pouco permite reduzir o tempo de computação
sem prejuízo para a precisão do cálculo.
Na
Figura 276 está apresentada a malha de diferenças
finitas utilizada no modelo para simulação da
circulação hidrodinâmica e da pluma térmica
no Saco Piraquara de Fora.
Para a representação gráfica
bidimensional dos valores observados e calculados da temperatura
da água do mar, foram usados cortes verticais e horizontais.
A Figura 277 descreve a posição do corte vertical
que se estende por 1.600 m a partir da fonte.

Figura 276 - Malha de integração
numérica de diferenças finitas utilizada no
modelo para simulação da hidrodinâmica
e termodinâmica no saco Piraquara de Fora.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
277 - Representação gráfica da posição
do corte vertical (em vermelho) e do efluente (quadrado azul).
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
•
Condições iniciais e de contorno
O
padrão de propagação da onda de maré
foi obtido através do modelo bidimensional islandês
2DH Aquasea, promediado na vertical, de maneira a gerar condições
de contorno para a fronteira aberta de modelo 3D aqui utilizado.
A quantidade de bombas em operação pela CNAAA
determina a vazão de descarga do efluente térmico.
A potência, em conjunto com a vazão, permite
calcular a temperatura de descarga. Essas variáveis
determinam a dispersão da pluma de calor e a distribuição
de temperatura no campo próximo; por esse motivo, são
empregadas como condições iniciais.
a)
Parâmetros:
Em
acréscimo aos dados de entrada discutidos nas seções
anteriores, o modelo utilizado requer a determinação
de alguns parâmetros descritos a seguir:
-
latitude: o módulo hidrodinâmico requer a especificação
da latitude do saco Piraquara de Fora para o cálculo
da força de Coriolis causada pela rotação
da Terra. A latitude é dada em cada ponto de integração
da malha;
-
coeficiente de evaporação: o módulo termal
requer o coeficiente de perda de calor por evaporação.
Este coeficiente é considerado constante em toda a
superfície do corpo d´água;
-
coeficiente de dispersão: o coeficiente de difusão
turbilhonar que descreve a medida pela qual a dispersão
normal e tangencial do fluido determina a capacidade de mistura.
Os módulos hidrodinâmico e termodinâmico
requerem esse valor para a determinação da perda
de calor devida aos processos característicos de turbulência
e de mistura, particularmente no campo próximo.
b)
O processo de calibração
O
modelo utiliza vários parâmetros que necessitam
de calibração. Esta etapa foi desenvolvida através
da comparação dos resultados do modelo com os
dados observados referentes às duas usinas existentes
(Angra 1 e 2) funcionando a potências variáveis,
conforme registrado nos arquivos de monitoramento térmico
da CNAAA.
Em
seguida, foram incluídos os dados referentes a batimetria,
corrente e temperatura da água do mar, conforme medidas
realizadas durante a campanha de coleta de dados de campo
entre os dias 15 e 26 de agosto de 2002 no Saco Piraquara
de Fora. As análises dessas observações
foram utilizadas para a validação do modelo.
Outros
parâmetros também foram utilizados na calibração
do modelo. São eles:
-
direção e velocidade do vento;
-
temperatura do ar;
-
salinidade e temperatura na enseada;
-
temperatura e vazão do efluente;
-
temperatura na tomada d' água.
As
características dos dados coletados para a calibração
do modelo são descritas a seguir, e listadas na Tabela
77:
-
direção e velocidade do vento, temperatura do
ar, temperatura na tomada d' água, temperatura e vazão
do efluente são monitoradas pela CNAAA. A descarga
da água de refrigeração de Angra 1 e
Angra 2 é medida no Saco Piraquara de Fora com base
numa amostragem de temperatura da água em três
profundidades (0.5 m, 2 m e 4 m) ao longo de uma malha de
114 pontos espaçados uniformemente. Para o trabalho
de calibração, foram utilizadas as medidas correspondentes
ao ano de 2000;
-
a batimetria, o mapeamento das correntes, a salinidade e a
temperatura da água na enseada foram levantados em
trabalho de campo.
Tabela
77 - Fonte dos dados e período de amostragem usados
no estudo para a calibração dos módulos
hidrodinâmico, térmico e fluxo de calor na superfície
Dados sados na calibração |
Fonte |
Intervalo |
Período de Medida |
Direção e velocidade do vento |
CNAAA |
horário |
05 jan - 12 dez, 00. |
Temperatura do ar |
CNAAA |
horário |
05 jan - 12 dez, 00. |
Precipitação |
CNAAA |
horário |
05 jan - 12 dez, 00. |
Temperatura na tomada d’água |
CNAAA |
quinzenal |
Fev/82 - Ago/02 |
Temperatura do efluente |
CNAAA |
diário |
Fev/82 - Ago/02 |
Temperatura da água (2000) |
CNAAA |
quinzenal |
Fev/82 - Mar/02 |
Vazão do efluente |
CNAAA |
diário |
Fev/82 - Ago/02 |
Batimetria |
Uerj - Geologia |
duas visitas de
campo |
18-19, 22-26 ago 02. |
Mapeamento das correntes |
Uerj - Física |
uma visita de
campo |
20 e 21 ago 02 |
Temperatura da água (2002) |
Uerj - Química |
uma visita de
campo |
21 e 22 ago 02 |
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
As
simulações realizadas permitiram a aferição
dos coeficientes da modelagem pela comparação
com os pontos de controle observados no Saco Piraquara de
Fora. Os seguintes parâmetros do modelo foram calibrados:
-
coeficiente de mistura vertical;
-
coeficiente de mistura horizontal;
-
insolação.
c)
Análise da simulação
Os
módulos calibrados (hidrodinâmico, termal e fluxo
de calor na superfície) foram utilizados para simular
a difusão de calor do efluente térmico para
as duas usinas em funcionamento sob diferentes condições
de potência e vazão e, em seguida, para as condições
propostas para a implementação de Angra 3. Os
resultados das simulações permitem analisar:
-
os efeitos da expansão proposta para o regime de temperatura
da água no Saco Piraquara de Fora;
-
a variação de temperatura com a distância
ao ponto de lançamento;
-
a posição das isotermas equivalentes a 100,
75, 50 e 25% de impacto.
As
condições de temperatura da água do mar
no Saco Piraquara de Fora com as usinas Angra 1 e 2 foram
simuladas e comparadas aos valores do banco de dados da CNAAA
para o ano de 2000 e às medidas obtidas com o trabalho
de campo executado pelo monitoramento químico em 21/8/2002.
As vazões do efluente das usinas nucleares de Angra
1 e Angra 2 para esses mesmos dias foram obtidas da CNAAA.
Os fluxos simulados corresponderam a 114 m³/s e 200 m³/s,
em função da quantidade de bombas e condensadores
em operação. Parte das bombas permanece em funcionamento
mesmo quando os condensadores não estão em operação.
As
condições para implantação da
usina Angra 3 foram simuladas com base nas especificações
fornecidas pela Eletronuclear. A unidade proposta deverá
funcionar com potência e vazão equivalente à
de Angra 2, ou seja, 1.314 MW e 77 m³/s, respectivamente.
Com base nos dados históricos, ajustamos uma curva
de maneira a calcular a diferença de temperatura máxima
entre a tomada d´água e a descarga do efluente
com as três usinas em operação.
No
cenário de expansão, a terceira unidade foi
incluída na modelagem do conjunto das usinas totalizando
um fluxo de massa de 194m³/s.
•
Análise das observações
Os
dados resultantes do monitoramento térmico realizado
em 21/8/2002, no Saco Piraquara de Fora, foram analisados
e organizados para comparação com o resultados
das simulações numéricas. A Figura 278
e a Figura 279 representam o campo de temperatura a 0,5 m
de profundidade medida pelo ADCP para essa data. A primeira
figura descreve a situação sob a condição
de maré enchente, e a segunda, sob a de maré
vazante. A temperatura na tomada d' água e a temperatura
e vazão do efluente são especificadas nos gráficos.

Figura 278 - Seção
horizontal (0,5 m) de temperatura. Dados obtidos com o ADCP
na maré enchente.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
279 - Seção horizontal (0,5 m) de temperatura.
Dados obtidos com o ADCP na maré vazante.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Os
campos de temperatura das duas últimas figuras correspondem
ao resultado das medições realizadas sob uma
situação particular de operação
da CNAAA, na qual apenas a usina Angra 2 estava operando.
A configuração de maré vazante corresponde,
sob o ponto de vista ambiental, ao pior caso, no sentido em
que aumenta a extensão da pluma do efluente térmico.
Por essa razão, esta será a fase de maré
utilizada para a calibração em todas as nossas
simulações. Para fins de comparação
com os resultados da modelagem, é apresentada, na Figura
280, a seção vertical de temperatura observada
em 20 de novembro de 2000, quando estavam em operação
as duas usinas existentes, e tanto a temperatura da tomada
d´água em Itaorna, como a temperatura no efluente
apresentavam valores típicos: 23oC e 31oC,
respectivamente.

Figura 280 - Seção
vertical de temperatura observada correspondente ao dia 20/11/2000.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
Resultados
•
Simulações da temperatura da água do
mar no Saco Piraquara de Fora
Esta
seção apresenta os resultados das simulações
da dispersão da pluma de calor no saco Piraquara de
Fora, para maré vazante, sob as condições
existentes, com as usinas Angra 1 e 2 funcionando a plena
potência. Tomou-se a vazão como sendo de 114
m3/s. Para a configuração de expansão
do empreendimento, com as usinas Angra 1, 2 e 3, também
funcionando a plena potência, considerou-se a vazão
como sendo de 200 m3/s.
As
Figura 281 e Figura 282 representam os instantes da simulação
numérica correspondentes à situação
mais freqüente de temperatura ambiente, e com maré
vazante de sizígia. Nessas ocasiões, a temperatura
na tomada d´água em Itaorna era de 23ºC
e 32.5ºC, no efluente. A Figura 281 é uma seção
horizontal e a Figura 282 representa a respectiva seção
vertical de temperatura.
As
demais figuras (Figura 283 a Figura 300) exibem todas as possíveis
configurações referentes a:
-
estação do ano: inverno ou verão;
-
amplitude de maré: sizígia ou quadratura;
-
situação operacional: existente (Angra 1 e 2)
ou expansão (Angra 1, 2 e 3).

Figura 281 - Seção
horizontal para um instantâneo do modelo numérico
relativo às condições freqüentes.
Usinas Angra 1 e 2 a potências máximas.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da Enseada
de Piraquara de Fora - Relatório Final", Departamento
de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de Geociências
da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura 282 - Seção
vertical para um instantâneo do modelo numérico
relativo às condições freqüentes.
Usinas Angra 1 e 2 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
283 - Seção horizontal para um instantâneo
do modelo numérico relativo às condições
freqüentes. Usinas Angra 1, 2 e 3 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
284 - Seção vertical para um instantâneo
do modelo numérico relativo às condições
freqüentes. Usinas Angra 1, 2 e 3 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
285 - Seção horizontal para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao inverno, maré
de quadratura e usinas Angra 1 e 2 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
286 - Seção vertical para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao inverno, maré
de quadratura e usinas Angra 1 e 2 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
287 - Seção horizontal para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao inverno, maré
de sizígia e usinas Angra 1 e 2 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
288 - Seção vertical para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao inverno, maré
de sizígia e usinas Angra 1 e 2 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
289 - Seção horizontal para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao inverno, maré
de quadratura e usinas Angra 1, 2 e 3 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
290 - Seção vertical para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao inverno, maré
de quadratura e usinas Angra 1, 2 e 3 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
291 - Seção horizontal para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao inverno, maré
de sizígia e Usinas Angra 1, 2 e 3 a potências
máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
292 - Seção vertical para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao inverno, maré
de sizígia e usinas Angra 1, 2 e 3 a potências
máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
293 - Seção horizontal para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao verão, maré
de quadratura e usinas Angra 1 e 2 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
294 - Seção vertical para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao verão, maré
de quadratura e usinas Angra 1 e 2 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
295 - Seção horizontal para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao verão, maré
de sizígia e usinas Angra 1 e 2 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
296 - Seção vertical para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao verão, maré
de sizígia e usinas Angra 1 e 2 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
297 - Seção horizontal para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao verão, maré
de quadratura e usinas Angra 1, 2 e 3 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
298 - Seção vertical para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao verão, maré
de quadratura e usinas Angra 1, 2 e 3 a potências máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
299 - Seção horizontal para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao verão, maré
de sizígia e usinas Angra 1, 2 e 3 a potências
máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
300 - Seção horizontal para um instantâneo
do modelo numérico relativo ao verão, maré
de sizígia e usinas Angra 1, 2 e 3 a potências
máximas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
6.5.3.5.4.
Modelagem hidrodinâmica e de dispersão de poluentes
- topo
A
seguir estão descritos os estudos de modelagem matemática
realizados. A modelagem matemática foi realizada pelo
INPH/DHI nos escritórios do INPH no Rio de Janeiro,
durante o período de outubro a novembro/ 2002.
Este
estudo tem por objetivo aumentar o conhecimento sobre os padrões
de circulação d' água em macroescala
no Saco Piraquara de Fora. Na presente análise, a atenção
principal direcionou-se para a troca de águas das zonas
costeiras próximas do ponto de lançamento da
água de refrigeração da CNAAA e as águas
oceânicas.
Metodologia
As
atividades de modelagem matemática incluíram
a determinação dos níveis d' água,
das velocidades e direções das correntes e a
dispersão da água de refrigeração
contendo substâncias químicas dissolvidas.
Toda
a modelagem foi realizada usando o sistema de modelagem matemática
Mike 21, desenvolvido pelo DHI. O Mike 21 tem sido aplicado
em inúmeros estudos em todo o mundo e é reconhecido
como o estado-da-arte no campo da modelagem em áreas
costeiras e estuarinas. Os módulos específicos
do Mike 21 que foram aplicados neste estudo estão citados
a seguir.
a)
Modelagem hidrodinâmica
Os
fatores dominantes para as condições do escoamento
na área do projeto são determinados pelas marés
e pelos ventos. Os padrões do escoamento são
complexos, em virtude da complexidade da batimetria existente
na área.
A
modelagem hidrodinâmica apresentada neste estudo contém
os efeitos combinados dos ventos e das marés. As simulações
hidrodinâmicas foram usadas como dados de entrada para
o estudo de advecção-dispersão da água
de refrigeração e dos poluentes nela dissolvidos.
As
simulações hidrodinâmicas foram realizadas
numa escala espacial grande o suficiente para resolver os
mecanismos de circulação que são importantes
para o presente estudo. As resoluções espacial
e temporal foram finas o bastante para resolver as condições
do escoamento num nível de detalhamento que é
relevante para os propósitos atuais.
b)
Modelagem da advecção e da dispersão
dos poluentes
O
objetivo da análise foi o de estimar as variações
espaciais e temporais dos poluentes dissolvidos na água
de refrigeração. Uma vez que tenha sido lançada
ao meio aquático, a área de refrigeração
começa a se misturar com a água do mar circundante.
As
correntes costeiras, geradas principalmente pelos ventos e
pelas marés, vão transportar a água de
refrigeração e diluí-la mais além,
junto com a água do mar à sua volta.
A
advecção e a dispersão da água
de refrigeração são importantes na avaliação
da configuração da estrutura de descarga da
água de refrigeração, principalmente
no que diz respeito à poluição causada
pelos produtos químicos dissolvidos.
Resultados
da modelagem
a)
Modelagem hidrodinâmica
Nesta
seção é apresentada a modelagem da hidrodinâmica
costeira. O modelo hidrodinâmico foi usado para simular
as condições do escoamento não permanente
nas proximidades do ponto de descarga da água de refrigeração.
Os resultados do modelo hidrodinâmico foram usados como
dados de entrada para a modelagem do transporte dos poluentes.
As
condições do escoamento na área do projeto
são determinadas principalmente por uma ação
combinada de ventos e de marés. A variação
máxima da maré é da ordem de 1.50 m.
A velocidade média do vento é da ordem de 5
m/s de SSE. Os padrões do escoamento são complexos
devido à complexidade da batimetria na área,
a qual inclui numerosas ilhas de vários tamanhos.
Acredita-se
que o efeito das correntes geradas pelas ondas seja muito
pequeno, porque a linha da costa é constituída
por rochas. Uma grande parcela da energia disponível
da onda será refletida para longe das rochas, ao invés
de ser dissipada e gerar correntes produzidas pelas ondas.
A
resistência do escoamento perto da linha d' água
deve ser grande, o que resulta em velocidades desprezíveis
do escoamento produzido pelas ondas. Além disso, a
área é amplamente abrigada da ação
das ondas pela presença da ilha Grande. As correntes
litorâneas induzidas pelas ondas não foram incluídas
na análise aqui apresentada, o que corresponde a uma
aproximação conservativa, em relação
ao espalhamento dos poluentes.
-
Montagem do modelo
A modelagem da hidrodinâmica costeira
foi realizada numa malha computacional que cobriu uma área
de aproximadamente 5 km x 6 km. A batimetria do modelo encontra-se
na Figura 301. A resolução espacial adotada
nas simulações hidrodinâmicas foi de 50
m em ambas as direções horizontais. A batimetria
do modelo foi estendida lateralmente, para reduzir os efeitos
de fronteira.

Figura 301 - Batimetria do
modelo para a modelagem hidrodinâmica - espaçamento
da malha 50 m x 50 m.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico
da Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
O
ponto de lançamento da água de refrigeração
foi incluído no modelo como um termo associado a uma
fonte. A água de refrigeração foi distribuída
através de um canal, localizado na linha da costa.
Foram testadas seis diferentes vazões da água
de refrigeração, conforme apresentado na Tabela
78. A localização do ponto de descarga está
indicada na Figura 302.
Tabela
78 - Cenários de vazões testados 590
Teste |
Descarga
(m³/s) |
A |
40 |
B |
80 |
C |
120 |
D |
160 |
E |
200 |
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
302 - Localização do ponto de descarga da água
de refrigeração e da estação de
campo do INPH.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
-
Calibração do modelo
O
INPH coletou dados hidrodinâmicos num local perto da
costa durante os meses de agosto a novembro/2002. Os dados
de campo incluíram níveis d' água e velocidades
das correntes em duas direções horizontais,
a uma distância de 3 m acima do fundo do mar. A localização
da estação de medições do INPH
está demarcado na Figura 302.
Para
poder rodar o modelo hidrodinâmico, fez-se necessário
especificar níveis d' água contínuos
nas fronteiras do modelo. Contudo, o local onde os níveis
d' água foram coletados está situado bem dentro
da área do modelo. Diversos mecanismos físicos
de transformação se tornam ativos quando uma
onda de maré se propaga em áreas rasas costeiras.
Assim sendo, os dados de níveis d' água medidos
perto da costa não podem ser usados como dados para
as fronteiras ao largo. Para se obterem variações
reais dos níveis d' água ao longo das fronteiras,
os níveis d' água medidos na estação
de campo do INPH foram ajustados, filtrando-se fora as oscilações
de maiores freqüências. Os níveis d' água
filtrados foram usados como condições de fronteira
para as simulações e os níveis d' água
simulados foram comparados com os níveis d' água
medidos. Dessa forma, foi obtida por iteração
a freqüência de corte para a filtragem.
Os
níveis d' água e as velocidades do escoamento
medidos e simulados são mostrados nas Figura 303, Figura
304 e Figura 305.

Figura 303 - Níveis
d' água medidos e simulados.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
304 - Componentes este-oeste (direção x) das
velocidades das correntes medidas e simuladas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
305 - Componentes sul-norte (direção y) das
velocidades das correntes medidas e simuladas.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Dados
sobre os ventos estavam disponíveis numa estação
localizada na área do projeto. Esses dados foram incluídos
nas simulações, mas se chegou à conclusão
de que eles não eram muito significativos.
Pode-se
ver que é boa a concordância entre os níveis
d' água medidos e os simulados. Apesar de ocorrer um
considerável espalhamento nos dados de velocidades,
pela falta de dados precisos na fronteira, obteve-se uma concordância
global satisfatória entre as velocidades do escoamento
simuladas e as medições realizadas pelo INPH,
em termos de valores médios no tempo, tais como média
e desvio-padrão.
-
Padrão do escoamento residual
As
velocidades do escoamento são em geral muito baixas.
Em frente ao ponto de descarga, a velocidade do escoamento
raramente excede 0.25 m/s.
O
padrão do escoamento residual é importante para
a determinação da acumulação de
poluentes, numa escala de tempo de longo prazo. Nas Figura
306 e Figura 307, mostra-se o padrão das vazões,
integradas no tempo, para o período simulado (aproximadamente
dois meses).
Observa-se
que uma circulação anti-horária ocorre
em frente ao ponto de descarga, e a vazão média
do escoamento é pequena, da ordem de 0.10 m³/s.
Pode-se ver, também, que a resultante da troca de águas,
entre a enseada e o oceano, é muito pequena. Isso significa
que existe um risco de os poluentes ficarem presos dentro
da enseada, o que pode levar a uma acumulação
de poluentes, que se juntam às partículas de
sedimentos e se depositam no fundo do mar.

Figura 306 - Padrão
do escoamento residual durante o período simulado (aproximadamente
dois meses). Vazões do escoamento (m³/s).
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
307 - Padrão do escoamento residual durante o período
simulado (aproximadamente dois meses). Velocidades do escoamento
(m/s).
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
b)
Dispersão da água de refrigeração
As
simulações hidrodinâmicas, descritas na
seção anterior, formaram a base para o estudo
de advecção-dispersão. As simulações
de advecção-dispersão foram executadas
utilizando-se a mesma malha das simulações hidrodinâmicas
e cobriram o mesmo período de tempo.
Neste
estudo foi escolhida uma aproximação integrada
na vertical, o que significa que não são resolvidas
as variações verticais hidrodinâmicas
e de temperaturas.
É
claro que perto do ponto de descarga ocorre uma estratificação
térmica que localmente irá afetar o transporte
de poluentes. No entanto, numa escala espacial maior, essa
estratificação é de menor importância.
Na presente análise, a atenção direcionou-se
para os padrões de larga escala da circulação
hidrodinâmica e do transporte e deposição
de poluentes.
As
simulações foram realizadas para os cenários
A, B, C, D e E, listados na Tabela 78.
Montagem
do modelo
Cenário
1 - material conservativo
Assumiu-se,
durante toda a simulação, um fluxo constante
de um certo poluente. A concentração inicial
do poluente foi tomada igual a 100, enquanto a concentração
inicial no meio aquático foi tomada como sendo zero.
O poluente foi assumido como neutro e como não estando
sujeito a qualquer decaimento, químico ou biológico.
A evaporação não foi incluída.
Cenário
2 - deposição de poluentes
Nesta
análise assumiu-se que os poluentes têm uma densidade
maior do que a da água circundante. Para poder estudar
o padrão de deposição, foram realizadas
algumas simulações, onde um determinado número
de partículas foi rastreado, com base nas simulações
hidrodinâmicas. Como nenhuma informação
sobre a velocidade de queda do poluente estava disponível,
foram escolhidas algumas velocidades de queda para serem examinadas.
Cenário
3 - Material não-conservativo
Certos
poluentes podem estar sujeitos a alguma forma de decaimento.
Para se poder estudar as concentrações decorrentes
do lançamento de um material não conservativo,
foram feitas algumas simulações usando-se diferentes
valores de T50, que, por definição, é
o tempo necessário para que o material seja reduzido
em 50%.
As
simulações para os cenários 1 e 3 foram
realizadas com o modelo do DHI Mike 21 AD (Advecção/Dispersão).
O cenário 2 foi simulado usando-se o modelo do DHI
de rastreamento de partículas Mike 21 PA (Advecção
de Partículas).
Esses
modelos foram acoplados ao modelo HD, conforme descrito na
seção anterior.
A
calibração dos módulos Mike 21 AD e PA
são usualmente feitas utilizando-se dados medidos.
Para este estudo, no entanto, não existiam dados de
campo disponíveis que permitissem tal procedimento
de calibração. Assim sendo, o coeficiente de
dispersão, usado no módulo AD, foi escolhido
com base na experiência do DHI em outros projetos similares.
Em
todas as simulações, foi usado um valor constante
para o coeficiente de dispersão, igual a 0.5 m²/s.
Uma rápida análise mostrou que os resultados
do modelo não são muito sensíveis às
variações (de até uma ordem de magnitude)
desse valor.
Advecção/dispersão
de poluente conservativo
Cinco
diferentes séries de simulações foram
executadas, usando-se vazões da água de refrigeração
iguais a 40 m³/s, 80 m³/s, 120 m³/s, 160 m³/s
e 200 m³/s, como é indicado na Tabela 78. As simulações
cobriram o período de tempo de 14/8/2002 a 14/9/2002.
Nas
figuras a seguir (Figura 308 a Figura 312), vêem-se,
para quatro intervalos de tempo durante as simulações,
as concentrações percentuais que foram simuladas
em função da concentração do lançamento.

Figura 308 - Concentrações
percentuais simuladas para um poluente conservativo em quatro
intervalos de tempo durante o período das simulações.
Vazão do efluente = 40 m3/s.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
309 - Concentrações percentuais simuladas para
um poluente conservativo em quatro intervalos de tempo durante
o período das simulações. Vazão
do efluente = 80 m3/s.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
310 - Concentrações percentuais simuladas para
um poluente conservativo em quatro intervalos de tempo durante
o período das simulações. Vazão
do efluente = 120 m3/s.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
311 - Concentrações percentuais simuladas para
um poluente conservativo em quatro intervalos de tempo durante
o período das simulações. Vazão
do efluente = 160 m3/s.
Fonte: "Monitoramento
Oceanográfico da Enseada de Piraquara de Fora - Relatório
Final", Departamento de Oceanografia e Hidrologia do
Instituto de Geociências da Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (Uerj).

Figura
312 - Concentrações percentuais simuladas para
um poluente conservativo em quatro intervalos de tempo durante
o período das simulações. Vazão
do efluente = 200 m3/s.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Deposição
de poluentes
Alguns
tipos de poluentes podem aderir às partículas
de sedimentos que estão em suspensão na coluna
de água. Dessa forma, o poluente irá gradualmente
depositar no fundo do mar.
Para
poder analisar o tamanho e a localização da
área de deposição, foram feitas algumas
simulações, utilizando-se o modelo do DHI de
advecção de partículas Mike 21 PA. Esse
modelo baseia-se no modelo hidrodinâmico e ele simula
a trajetória de partículas que são liberadas
no ponto de descarga. A essas partículas é dada
uma velocidade de queda predefinida, a qual é dependente
das características do sedimento.
Com
a falta de dados acerca das velocidades de queda, foram executadas
duas simulações, utilizando-se velocidades de
queda dos sedimentos iguais a 0.1 mm/s e a 1 mm/s. Tais velocidades
de queda das partículas correspondem a velocidades
de queda de sedimentos coesivos, conforme observado na natureza.
O estudo hidrodinâmico para esta simulação,
considerou a vazão do efluente como 200 m³/s,
cenário mais crítico.
Na Figura 313, apresentam-se as áreas de deposição
que foram simuladas para as duas diferentes velocidades de
queda. Verifica-se que a área de deposição
está virtualmente não afetada pelas velocidades
de queda. Isso indica que as componentes horizontais da velocidade
do escoamento são muito pequenas, ou seja, a água
está quase estagnada, exceto pela pluma da água
de refrigeração.

Figura 313 - Áreas
de deposição das partículas de sedimentos
com diferentes velocidades de queda (w), a esquerda w = 0.1
mm/s, e a direita w =1.0 mm/s.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
Decaimento
linear
Duas
simulações foram realizadas, assumindo-se que
o poluente estava sujeito a um certo decaimento linear. O
parâmetro de decaimento foi escolhido de tal forma que
os valores de T50, ou seja, o tempo requerido para reduzir
a matéria em 50%, fosse de um dia e de uma semana,
respectivamente. O cenário hidrodinâmico adotado
para esta simulação corresponde foi o mais crítico:
vazão do efluente 200 m³/s.
Na
Figura 314 mostram-se os campos de concentração
para poluentes com T50 = 1 dia. Para permitir uma comparação
direta, foram escolhidos os mesmos intervalos de tempo daqueles
mostrados na ilustração 218, em que se assumiu
não haver decaimento do poluente. Pode-se observar
que as concentrações se estabilizaram e que
a pluma dos poluentes ficou limitada à área
próxima do ponto de lançamento.
Da
mesma maneira, na Figura 315 são mostrados os campos
de concentração para poluentes com o valor de
T50 igual a uma semana. Pode-se ver, a partir dessa figura,
que as concentrações não se estabilizaram
completamente e que a extensão da pluma de poluentes
é maior do que aquela para o valor de T50 igual a um
dia. Contudo, as concentrações são consideravelmente
menores do que aquelas para um poluente conservativo, conforme
pode ser visto na Figura 312.

Figura
314 - Campos de concentrações para poluentes
com T50 = 1 dia. - Cenário hidrodinâmico:
Q = 200 m³/s.
Fonte: "Monitoramento Oceanográfico da
Enseada de Piraquara de Fora - Relatório Final",
Departamento de Oceanografia e Hidrologia do Instituto de
Geociências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).

Figura
315 - Campos de concentrações para poluentes
com T50 = 1 semana - Cenário hidrodinâmico:
Q = 200 m³/s.
Fonte:
"Monitoramento Oceanográfico da Enseada de Piraquara
de Fora - Relatório Final", Departamento de Oceanografia
e Hidrologia do Instituto de Geociências da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Conclusões
As
simulações com o modelo hidrodinâmico
mostraram que a troca de água, entre a enseada e o
oceano, é muito pequena. Assim sendo, cuidados extremos
devem ser tomados no lançamento de poluentes conservativos,
já que a acumulação desses poluentes
pode dar, a longo prazo, origem a níveis de concentração
críticos. As simulações das trajetórias
das partículas indicaram que uma possível deposição
de poluentes, aderidos às partículas de sedimentos,
ocorrerá dentro de um raio de aproximadamente 1 km
do ponto de descarga. As simulações com material
não conservativo indicaram que os poluentes com valores
de T50 iguais ou menores do que aproximadamente 1 semana irão
conduzir a um aumento local das concentrações
nas vizinhanças do ponto de descarga.
6.6. QUALIDADE
DO AR - topo
Os
resultados apresentados são referentes ao desenvolvimento
das atividades propostas na área de modelagem computacional
da atmosfera e da qualidade do ar. Foram implementados modelos
computacionais para a simulação do transporte
de poluentes radioativos e convencionais, provenientes da
CNAAA, objetivando a estimativa do campo de concentração
de poluentes na região, para subsidiar o cálculo
de doses a ser realizado no âmbito do licenciamento
de Angra 3, não sendo o cálculo desta, o objetivo
do estudo.
Dentre
os modelos revisados e implementados, inclui-se o ADELTA,
um modelo estatístico atmosférico, capaz de
estabelecer as freqüências predominantes de direção
do vento, regimes de calmaria e classes de estabilidade estática
da atmosfera. Os resultados do ADELTA são utilizados
como dados de entrada nos modelos de qualidade do ar para
poluentes convencionais e radioativos. Como parte do trabalho
desenvolvido, o modelo ADELTA foi modificado em relação
à versão original, a fim de possibilitar o calculo
dos parâmetros meteorológicos, considerando situações
climatológicas, para cada mês do ano, a partir
da base de dados meteorológicos no período de
1982-2002, conforme já exposto no item 6.1 Meteorologia.
No
cálculo das concentrações médias
dos efluentes convencionais é usado o modelo gaussiano
Industrial Source Complex Dispersion Model (ISC3),
recomendado pela agência ambiental americana, Environmental
Protection Agency - EPA. O modelo XOQDOQ é
utilizado para o cálculo das concentrações
médias na atmosfera e deposições médias
na superfície, provenientes dos efluentes radioativos,
normalizadas pela intensidade da fonte. Vale frisar, que esse
é um modelo de fluxo de ar em linha reta, que implementa
computacionalmente as suposições do Regulatory
Guide 1.111, "Methods for Estimating Atmospheric Transport
and Dispersion of Gaseosous Effluents in Routine Releases
from Light-Water-Cooled Reactors", sendo recomendado
seu uso para licenciamento de usinas nucleares pela US
Nuclear Regulatory Comission - NRC.
Foi
realizada uma modificação nos códigos
computacionais para estimativa da dispersão de poluentes
radioativos e atualmente estes podem ser executados sob plataformas
com sistema operacional WINDOWS ou LINUX, flexibilizando a
operação dos modelos em microcomputadores. A
descrição detalhada dos modelos é apresentada
no escopo do trabalho, objetivando caracterizar suas potencialidades,
bem como os parâmetros meteorológicos, os dados
topográficos e das fontes de emissão, que são
necessários para sua execução.
No
trabalho, foi desenvolvido um código computacional
que permite o estudo da influência combinada das emissões
provenientes das três usinas da CNAAA (estudo de sinergia),
sobre a qualidade do ar da região, a partir das estimativas
de concentração simuladas pelo modelo XOQDOQ.
O estudo de sinergia é desenvolvido também para
as emissões gasosas convencionais, visto que o modelo
ISC3 permite avaliar o impacto na qualidade do ar devido a
influencia de múltiplas fontes.
6.6.1.
Dados de inventário das fontes de emissão -
Angra 3 - topo
A
base de dados disponíveis, referente à emissão
de poluentes gasosos, é proveniente do Estudo de Impacto
Ambiental de Angra 2 (NATRONTEC, 1999a), e fornecido pela
Eletronuclear. Esses dados contribuem para estudos de caso,
que são realizados através dos modelos de qualidade
do ar e dispersão de efluentes.
6.6.1.1.
Emissões atmosféricas convencionais (não
radioativas)
- topo
As
emissões atmosféricas de Angra 2 são
provenientes dos gases de combustão de óleo
utilizado na caldeira auxiliar e no grupo gerador. O consumo
de óleo da caldeira é de 1.400 kg/h e o consumo
dos grupos geradores é de 30,13 kg/h.
A
repartição dos gases de combustão do
óleo Diesel é dada pela seguinte forma: 95%
de SO2 e 5% de SO3, para os óxidos
de enxofre emitidos; 90% de NO e 10% de NO2, para os óxidos
de nitrogênio emitidos; e 1,0% de CO e 99% de CO2 para
os óxidos de carbono liberados para a atmosfera. A
Tabela 79 apresenta as quantidades e freqüências
estimadas de emissões atmosféricas convencionais
de Angra 2.
Tabela
79 - Emissões atmosféricas convencionais (não
radioativas) de Angra 2.
Tipo |
Quantidade |
Freqüência |
Tratamento |
Gases de combustão de óleo da
caldeira auxiliar |
26,60 kg/h SO2 |
720 h/ano |
Não previsto |
1,75 kg/h SO3 |
13,51 kg/h NO |
2,31 kg/h NO2 |
28,43 kg/h CO |
4.423 kg/h CO2 |
Gases de combustão de óleo Diesel
dos grupos Diesel-gerador de
emergência |
0,57 kg/h SO2 |
2 h/sem (Dois
grupos, um de
cada tipo) |
Não previsto |
0,04 kg/h SO3 |
0,29 kg/h NO |
0,05 kg/h NO2 |
0,61 kg/h CO |
95,19 kg/h CO2 |
H2 gerado durante a produção de
hipoclorito de sódio |
130 m3/h (máx.) |
Contínua |
Desnecessário |
Fonte: Nuclen (TS2-526/97),
NATRONTEC (1999a).
A
boca de descarga da chaminé da caldeira auxiliar está
a uma altura em relação ao solo de 45 m, enquanto
os grupos geradores Diesel de emergência possuem tubos
de descarga com a boca situada a 18,75 m de altura. Para o
grupo do sistema de emergência 1, a chaminé está
a 11 m de altura, enquanto, para o grupo do sistema de emergência
2, está a 10 m.
6.6.2.
Topografia da região
- topo
A
Figura 316 ilustra as características topográficas
peculiares do sítio da CNAAA, formando um paredão
devido à presença da Serra do Mar junto a Itaorna.
Nas simulações são considerados os efeitos
topográficos sobre o mecanismo de dispersão
de poluentes radioativos e convencionais na atmosfera. A presença
deste paredão em conjunto ao condicionamento da atmosfera
da região, onde há uma predominância de
classes de estabilidade estática, amplifica o nível
de concentração no entorno imediato da CNAAA,
notadamente no raio de até 5km, e diminui significativamente
a concentração de poluentes nas regiões
fora da zona de exclusão.

Figura 316 - Topografia da região da CNAAA.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I -
Meteorologia)”, IGEO/UFRJ.
6.6.3.
Padrões de Qualidade do Ar
- topo
A
seguir são apresentados os padrões de qualidade
do ar estabelecidos e regulamentados.
6.6.3.1.
Poluentes convencionais
- topo
Um
padrão de qualidade do ar define legalmente o limite
máximo para a concentração de um componente
atmosférico, que garanta a proteção da
saúde e do bem estar da humanidade. Através
da Portaria Normativa no 348 de 14/03/90, o Ibama estabeleceu
os parâmetros nacionais de qualidade do ar. Os efluentes
regulamentados são os seguintes: partículas
totais em suspensão, fumaça, partículas
inaláveis, dióxido de enxofre, monóxido
de carbono, ozônio e dióxido de nitrogênio.
Os dados são apresentados na Tabela 80.
Tabela
80 - Padrões Nacionais de Qualidade do Ar (Resolução
Conama 3 de 28/6/90).
Poluente |
Tempo de
Amostragem |
Padrão (μg/m3) |
Método de Medição |
Primário |
Secundário |
Partículas totais em
suspensão |
24 horas1
MGA2 |
240
80 |
150
60 |
Amostrador de
grandes volumes |
Partículas inaláveis |
24 horas1
MAA3 |
150
50 |
150
50 |
Separação
Inercial/filtração |
Fumaça |
24 horas1
MAA3 |
150
60 |
100
40 |
Refletância |
Dióxido de enxofre |
24 horas1
MAA3 |
365
80 |
100
40 |
Pararosanilina |
Dióxido de nitrogênio |
1 hora
MAA3 |
320
100 |
190
100 |
Quimiluminescência |
Monóxido de carbono |
1 hora1
8 horas1 |
40.000
35 ppm
10.000
9 ppm |
40.000
35 ppm
10.000
9 ppm |
Infravermelho não
dispersivo |
Ozônio |
1 hora1 |
160 |
160 |
Quimiluminescência |
Fonte: Ibama
(1) Não deve ser excedido mais que uma vez por ano.
(2) Média geométrica anual.
(3) Média aritmética anual.
6.6.4.
Sistema de Modelagem
- topo
O
sistema de modelagem proposto é originado da utilização
de três modelos numéricos. Os resultados de saída
gerados pelo modelo ADELTA são utilizados como condições
de entrada para os modelos de qualidade do ar ISC3 e XOQDOQ.
A seguir, é apresentada uma breve descrição
de cada um desses modelos.
6.6.4.1.
Modelo estatistico atmosférico - ADELTA
- topo
O
principal objetivo do modelo ADELTA é de produzir as
distribuições de freqüência de direção
do vento e classes de estabilidade nos diversos formatos de
interesse, bem como a freqüência de calmarias.
A estrutura do ADELTA é dada pelos seguintes módulos:
•
MÓDULO INICIA: Inicialização das variáveis
do programa e ajuste das constantes.
•
MÓDULO LER: Este módulo assimila as definições
de entrada do programa, tais como: período de interesse,
tipo de torre, tipo de delta, opções de relatório.
Na versão original, o programa recebia estas informações
sob a forma de cartão perfurado. Nas atualizações,
foi desenvolvida uma interface, onde o usuário cria
e modifica as definições de entrada. Esta
nova opção é feita através do
módulo MENU.
•
MÓDULO RDADOS: Este módulo extrai do cadastro
meteorológico os dados que fazem parte do período
onde se deseja obter a distribuição de freqüência
e as classes de estabilidade. Na versão anterior,
uma das rotinas era escrita em linguagem de programação
COBOL, o que tornava incompatível a execução
do modelo em microcomputador. Foi construída uma
subrotina, em linguagem de programação Fortran
90 chamada NCAM05.F90. Essa nova subrotina permite criar
médias mensais de períodos de anos e organizar
um arquivo meteorológico de dados estatísticos
para ser utilizado no modelo ISC3.
•
MÓDULO ARQUI: Este módulo processa os dados
lidos por RDADOS e classifica a velocidade, a estabilidade
atmosférica e a direção. Cria um arquivo
para ser usada no módulo MATRIX e calcula as velocidades
médias para o relatório 6 e para a rosa dos
ventos.
•
MÓDULO MATRIX: Cria matriz utilizada para saídas
nos relatórios.
•
MÓDULO SAÌDA: Imprime os relatórios
para o usuário.
•
MÓDULO SAIDAX: Imprime a distribuição
de freqüência por direção, por
classe de estabilidade, por classe de velocidade, em um
arquivo para ser utilizado pelo XOQDOQ.
•
MÓDULO SVELOC: Classifica a velocidade em diversas
faixas, em função da intensidade do vento.
•
MÓDULO DELTAT: Classifica a estabilidade atmosférica
segundo o critério do diferencial de temperatura.
•
MÓDULO ESPANG: Classifica a estabilidade atmosférica
segundo o critério do sigma teta aproximado.
•
MÓDULO SIGMAT: Classifica estabilidade atmosférica
pelo critério do sigma teta, ou seja, o desvio padrão
das direções do vento durante o intervalo
de interesse.
•
MÓDULO MENU: É uma interface onde o usuário
define as saídas de relatórios desejadas e
os critérios de classificação, bem
como outras funcionalidades do programa.
6.6.4.2.
Modelos de qualidade do ar - poluentes convencionais
- topo
Será
brevemente comentada a seguir a estrutura principal dos parâmetros
iniciais utilizados pelo modelo ISC3:
Dados
de fonte
a)
Tipo de poluente a ser estudado (ex.: SO2, NOx,
CO, PM10, PTS e outros), com ou sem decaimento exponencial;
b)
Elevação do terreno: o ISC3 pode ser executado
com 2 tipos de terreno, plano ou complexo, sendo que no caso
da opção de terreno complexo, a altura do terreno
deve ser especificada para cada receptor;
c)
Tipo de fonte e conjunto de dados: o modelo permite 4 tipos
de fontes e seus respectivos conjuntos de parâmetros
de entrada: fonte pontual, volumétrica, área,
em vale.
d)
Taxas de emissão variável: variações
sazonais, mensais e horárias das taxas de emissão,
variação na taxa de emissão causada pela
velocidade e categorias de estabilidade e variação
de taxa de emissão causada por mudança de estação.
e)
Grupos de fontes: o modelo permite ainda que sejam informados
grupos distintos de fontes, sendo estes combinados no processamento.
Dados
dos receptores
a)
Rede de receptores: podem ser definidos 2 tipos de grades
de receptores, cartesiana (identificada pelas coordenadas
x, leste-oeste, e y, norte-sul) e polar (identificada pela
direção e distância de um ponto origem
definido pelo usuário).
b)
Rede múltipla de receptores: pode ser definida também
uma rede de receptores para abranger uma grande área,
sendo que essa rede pode combinar grades cartesianas e polares.
c)
Receptores discretos: pode ser definido um receptor único
para o modelo, visando-se estudar os impactos da concentração
de poluentes na atmosfera em um determinado local especifico,
como escolas ou casas, por exemplo.
Campos
de dados meteorológicos
O arquivo contendo os parâmetros meteorológicos,
que são utilizados como dados de entrada para o ISC3
deve conter:
a)
Data (dia, mês e ano) e hora;
b)
Direção do vento(graus);Velocidade do vento
(m/s);
c)
Temperatura ambiente (graus K);
d)
Classe de estabilidade;
e)
Altura da camada de mistura urbana e rural;
f)
Gradiente vertical de temperatura potencial (k/m);
g)
Velocidade de fricção (m/s) (somente para deposição
seca e úmida);
h)
Comprimento de Monin-Obukhov (m) (somente para deposição
seca e úmida);
i)
Comprimento da rugosidade de superfície (m) (somente
para deposição seca e úmida);
j)
Código de precipitação (00-45) (somente
para deposição úmida);
k)
Taxa de precipitação (mm/hr) (somente para deposição
úmida);
l)
Altura do anemômetro (altura acima do solo onde está
localizado o sensor que coleta dados de velocidade do vento);
m)
Informações da Estação (número
da estação, ano dos dados processados, coordenadas
geográficas da localização da estação);
n)
Período de processamento;
o)
Correção de problemas de alinhamento na direção
do vento (opcional): permite ao usuário corrigir problemas
de alinhamento na direção do vento;
p)
Categorias de velocidade do vento;
Dados
topográficos
Na
Figura 316 (item 6.6.2 Topografia da região) é
apresentada a configuração topográfica
da região de estudo, com resolução de
200 metros e raio de 20 km tendo como centro a CNAAA. O arquivo
com as informações sobre a Grade de Terreno
e a sua discretização deve conter essencialmente:
a)
Números de pontos de grada nas direções
x (Leste) e y (Norte);
b)
Coordenadas em UTM (m) do ponto esquerdo mais baixo e do canto
superior direito da grade;
c)
Espaçamento entre os pontos da grade nas direções
x e y, em metros.
Composição
dos arquivos de saida
Os
principais parâmetros de saída são:
a)
Concentração;
b)
Deposição;
c)
Deposição Seca e Úmida.
Sendo
esses campos apresentados pelo modelo através de tabelas
contendo:
c1)
Sumário dos maiores valores por receptor;
c2)
Valores máximos gerais;
c3)
Sumário dos valores concorrentes por receptor para
cada dia processado;
c4)
Valores de concentração média (ou deposição
total) de cada fonte para o período correspondente
ao evento;
c5)
Valores de concentração média horária
para cada fonte;
c6)
Sumário dos dados meteorológicos horários
para o período do evento.
6.6.4.3.
Modelo de qualidade do ar - poluentes radioativos
- topo
Descrição
do Modelo XOQDOQ
O
XOQDOQ é um modelo computacional que permite estimar
a concentração ao nível da fonte e a
deposição media de poluentes radioativos, normalizados
pela intensidade da fonte, considerando as condições
meteorológicas, emitidas por uma planta de geração
de energia nuclear.
O
método de cálculo é baseado no NRC Regulatory
Guide 1.111 - "Methods for Estmating Atmospheric
Transport and Dispersion of Gaseous Effluents in Routine Releases
from Light-Water-Cooled Reactors". As referências
técnicas para o modelo são intituladas NUREG/CR-2919
("XOQDOQ: Computer Program for the Meteorological
Evaluating of Routine Effluent Releases at Nuclear Power Station").
Para
liberações rotineiras, o programa calcula concentrações
médias relativas de efluentes e valores de deposição
média relativa para locais especificados pelo usuário,
para distâncias radiais padrões e segmentos para
setores na direção do vento. As seguintes opções
compõem o código do modelo:
•
Localização da Liberação da
Pluma Efluente:
a)
a liberação pode ser sempre elevada;
b)
sempre a nível do solo;
c)
modo misto (mistura de liberação elevada e nível
de solo), que é usado, principalmente, na análise
de liberações por respiradouros situados acima
ou na mesma altura das estruturas adjacentes.
Para
liberações elevadas, a pluma pode ser elevada
devido a empuxo térmico e/ou momento. As liberações
ao nível do solo podem ser afetadas pela dispersão
adicional devido à influência de prédios
vizinhos. As medidas de velocidade do vento, em um nível,
podem ser extrapoladas para as elevações dos
pontos de liberação. Os parâmetros de
crescimento da pluma são descritos pelas curvas de
Pasquill. Para liberações elevadas, a topografia
pode ser introduzida no cálculo da altura efetiva da
pluma.
A
pluma pode sofrer decaimento radioativo devido à meia-vida
do radionuclídeo. A pluma pode sofrer depleção
via deposição seca e os valores da concentração
média relativa de efluentes e de valores de deposição
média relativa podem ser modificados por meio de valores
padrões ou introduzidos de modo que considerem a recirculação
ou estagnação do ar local.
A
seguir são apresentadas algumas das subrotinas de dados
de entrada e saída do código, com a descrição
de cada um deles.
Subrotina
MAIN:A impressão e leitura dos dados de entrada
são feitas por esta rotina e, de acordo com a opção
selecionada no primeiro registro dos dados de entrada, acessa
as subrotinas específicas para efetuar os cálculos
desejados. A determinação de uma velocidade
do vento e uma direção para períodos
de calmaria pode ser feita por esta rotina.
Subrotina
ANNUAL: As quantidades da concentração
médias relativas de efluentes são calculadas
por esta rotina, com os seguintes dados de entrada para liberações
elevadas: Valores do ponto médio da velocidade de vento;
Espalhamento vertical do efluente; Distancia na direção
do vento a partir do ponto de liberação; Altura
efetiva da pluma (subrotina RISE); Fator de redução
devido a decaimento radioativo; Fator de redução
devido a depleção da pluma; Fator de correção
para recirculação do ar e estagnação;
Altura do prédio; Meia vida do material radioativo;
Tempo de percurso. Esta rotina pode assumir elevação
de pluma, alem de poder variar a topografia para liberações
elevadas.
Subrotina
DEPOS: O cálculo da deposição
relativa por unidade de área é feito por esta
rotina. A rotina opcionalmente permite liberações
elevadas, liberações ao nível do solo,
ou mista, possuindo os seguintes dados de entrada: Taxa de
deposição relativa; Probabilidade associada;
Distância percorrida; Fator de correção
para recirculação do ar e estagnação.
Subrotina
DETERM: A razão entre a velocidade de saída
da pluma e a velocidade do vento é calculada nesta
rotina e possuem os seguintes dados de entrada: Fração
do tempo quando a liberação é ao nível
do solo; velocidade de saída da pluma; velocidade do
vento para altura da chaminé.
Subrotina
RISE: A elevação da pluma provocada
tanto pela quantidade de movimento, quanto pelo "empuxo"
(altura efetiva), é calculada por esta rotina. Em geral,
as instalações nucleares de potência só
liberam efluentes gasosos para a atmosfera na temperatura
ambiente. As seguintes condições de entrada
são necessárias: Altura física da chaminé;
elevação da pluma; altura do terreno; velocidade
de saída do gás; distância média
na direção predominante do vento; velocidade
do vento na altura da liberação; diâmetro
interno da chaminé; parâmetro do fluxo de momento;
aceleração de restituição por
deslocamento vertical em movimentos adiabáticos na
atmosfera; aceleração da gravidade; temperatura
do ar; gradiente vertical de temperatura potencial; parâmetro
do fluxo de empuxo; taxa de emissão de calor de uma
fonte contínua.
Subrotina
PTSOUT: As quantidades de saída dadas pelas
concentrações e deposições médias
relativas de efluentes são impressos por esta rotina,
obtidas nas subrotinas ANNUAL, PTDEPS e PURGE, para locais
do receptor especificados nas condições de entrada.
Subrotina
PRNTIN: Imprime os dados de saída referentes
às características do prédio, da chaminé,
e do tipo de liberação das quantidades de concentrações
e deposições médias relativas de efluentes.
6.6.5.
Síntese da análise
- topo
O
estudo concentrou-se em períodos onde notadamente o
condicionamento da atmosfera apresentava condições
atípicas do clima, verificando-se situações
de intensa estabilidade estática e/ou situações
de calmaria. Esses períodos foram obtidos a partir
da análise climatológica, sendo definido os
seguintes períodos:
•
janeiro/1991;
•
agosto-outubro/1996;
•
dezembro/1997;
•
abril-julho/2000;
•
setembro/2000;
•
dezembro/2000.
Além
disso, foram escolhidos para a análise da dispersão
de poluentes na atmosfera, anos com representatividade climatológica,
como: o ano de 1983, por se tratar de um ano de evento El
Niño, ano de1990, por se tratar de um ano de evento
La Niña, e o ano de 2001, por ser um ano sem
ocorrência de nenhum evento climático de grande
impacto global, mas que apresentou valores de precipitação
bem abaixo da média histórica na maior parte
do país, e principalmente no Estado do Rio de Janeiro.
No
caso do estudo da dispersão de poluentes convencionais
optou-se por apresentar os resultados considerando a sinergia
das fontes de emissões das três usinas da CNAAA
(Angra 1, 2 e 3), a fim de demonstrar que mesmo em situações
extremamente adversas, tais emissões não apresentam
efeito significativo sobre a qualidade do ar na região
de estudo, mesmo considerando a operação conjunta
das três usinas.
No
estudo da dispersão de poluentes radioativos considerou-se,
de um modo geral, o impacto na qualidade do ar devido à
operação da usina Angra 3, isoladamente. Para
situações onde ocorreram as máximas concentrações
relativas de poluentes, período de setembro de 2000
e média anual do ano 2001, foram realizadas simulações
considerando a sinergia das usinas de Angra 2 e 3.
No
estudo não foi considerado o efeito sobre a qualidade
do ar decorrente das emissões da usina Angra 1, pois
a taxa de emissão de efluentes proveniente dessa usina
é diferente da taxa de emissão de Angra 2 e
3. Dessa forma, não é possível representar
graficamente a concentração relativa resultante
do efeito de sinergia das três usinas, visto ser esse,
a soma das concentrações relativas referente
a emissão de cada usina, em cada ponto do domínio.
6.6.5.1.
Poluentes convencionais
- topo
Aqui
são apresentados os resultados da modelagem da sinergia
atmosférica para as três usinas da CNAAA. As
simulações realizadas ao longo desse estudo,
com o modelo ISC3, consideram os seguintes poluentes convencionais:
NO, NO2, SO2, SO3, CO e CO2
e são realizadas no período de 1982-2001, utilizando
os campos meteorológicos observados na estação
meteorológica instalada na CNAAA. O ponto de origem,
P(0,0), de todas as figuras representa a posição
da usina de Angra 2. A topografia utilizada nessas simulações
apresenta uma resolução de 200 metros e um raio
de 20.000 metros, e está representada em todas as figuras
pelas isolinhas com a elevação do terreno.
Nas
a seguir (Figura 317 a Figura 319) pode-se observar os resultados
das simulações, no ano de 1990, para os efluentes
CO, CO2 e SO2, respectivamente. Percebe-se nas simulações
apresentadas que os padrões de circulação
dos meses de julho e setembro são bastante semelhantes,
com atmosfera mais favorável ao acúmulo de efluentes
no mês de setembro. A predominância dos ventos
de S/SW e N/NE é claramente observada no acúmulo
dos poluentes verificados nas regiões opostas a essas
direções.
A
predominância dos ventos de S e SW na região
pode ser explicada pela dinâmica atmosférica
de mesoescala (relacionada à incidência de frentes
frias na região) e pelos efeitos locais de brisa marítima.
Já a freqüência de N/NE é produto
dos efeitos dinâmicos locais da brisa terrestre e de
montanha que ocorre geralmente no início da noite.
A maior estabilidade atmosférica, característica
de meses de inverno, induz os efluentes a se confinarem somente
nessas direções, sem haver uma grande dispersão
das concentrações de efluentes nas demais posições.

Figura 317 - Concentração média
do CO (µg/m3), para a sinergia das usinas de Angra 1,
2 e 3, nos meses de (a) julho e (b) setembro de 1990.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)",
IGEO/UFRJ.

Figura 318 - Concentração média
do CO2 (µg/m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) julho e (b) setembro de 1990.
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 319 - Concentração média
do SO2 (µg/ m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) julho e (b) setembro de 1990.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
A
seguir são apresentados os resultados das simulações
realizadas no ano de 1982, para os meses de julho e setembro,
considerando os poluentes CO (Figura 320 (a) e (b)), CO2 (Figura
321 (a) e (b)) e SO2 (Figura 322 (a) e (b)).

Figura 320 - Concentração média
do CO (µg/ m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) julho e (b) setembro de 1983.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 321 - Concentração média
do CO2 (µg/m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) julho e (b) setembro de 1983.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 322 - Concentração média
do SO2 (µg/ m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) julho e (b) setembro de 1983.
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I -
Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
A
comparação dos resultados do campo de concentração
para os meses de julho e setembro mostra que ocorrem diferentes
padrões de dispersão. No entanto, pode-se observar
que em ambos os meses, para todos os poluentes simulados,
verifica-se um maior espalhamento do campo de concentração
e níveis de concentrações mais baixos
do que no ano sob efeito do fenômeno climático
La Niña(1990). Tal comportamento já era
esperado fisicamente, considerando-se que em anos de La
Niñaa temperatura média do ar no Estado
do Rio de Janeiro tende a assumir valores mais baixos do que
os valores médios, o que conseqüentemente cria
uma atmosfera mais estável com um menor "poder"
de dispersão dos efluentes (BUCHMANN et. all,
1995).
Já
nos anos sob efeito do fenômeno El Niño,
como no caso de 1983, a atmosfera sobre a região Sudeste
tende a apresentar um comportamento mais caótico (SINCLAIR
et. all, 1997), ocasionado por um número
maior de fenômenos meteorológicos atingindo a
região, e conseqüentemente, uma maior distribuição
dos regimes de vento, ocasionando um maior espalhamento horizontal
da distribuição de concentração
dos poluentes.
Vale
ressaltar que os biênios de 1989-1990 e 1982-1983 são
considerados os anos de maior influência dos fenômenos
La Niñae El Niño, respectivamente,
no Estado do Rio de Janeiro (DIAZ et. all, 1997),
e que os maiores impactos desses fenômenos nessa
região são observados sempre no segundo ano
do evento, nesses casos os anos de 1990 e 1983 (CATALDI e
TORRES JÚNIOR, 2000).
Serão
apresentados a seguir o resultados das simulações
para o ano de 2001, sendo que, para esse ano, foi o que apresentou
os maiores picos de concentração média
para todos os poluentes estudados, as simulações
apresentadas referem-se a todos os poluentes emitidos pelo
complexo de usinas e aos meses de fevereiro, julho e setembro.
Nas
próximas páginas (Figura 323 a Figura 328) são
apresentadas, respectivamente, as simulações
para a concentração dos poluentes CO, CO2, SO2,
NO, NO2 e SO3, nos períodos de fevereiro/2001, julho/2001
e setembro/2001.

Figura 323 - Concentração média
do CO (µg/ m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) fevereiro, (b) julho e (c) setembro
de 2001.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 324 - Concentração média
do CO2 (µg/ m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) fevereiro, (b) julho e (c) setembro
de 2001.
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 325 - Concentração média
do SO2 (µg/ m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) fevereiro, (b) julho e (c) setembro
de 2001.
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 326 - Concentração média
do NO (µg/ m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) fevereiro, (b) julho e (c) setembro
de 2001.
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 327 - Concentração média
do NO2 (µg/ m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) fevereiro, (b) julho e (c) setembro
de 2001.
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 328 - Concentração média
do SO3 (µg/ m3), para a sinergia das usinas de Angra
1, 2 e 3, nos meses de (a) fevereiro, (b) julho e (c) setembro
de 2001.
Fonte:
"Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
Os
padrões de dispersão observados no ano de 2001
não apresentaram discrepâncias relevantes com
relação às outras apresentadas no decorrer
desse relatório. Vale ressaltar que os maiores picos
de concentração para todos os poluentes ocorreram
neste ano, e que o mês de setembro apresentou um regime
de ventos diferente de todos os outros períodos. Tal
fato também foi verificado quando analisamos os meses
de setembro de outros anos da série estudada, inclusive
em 1983.
Setembro,
em particular, muitas vezes se apresenta como uma grande incógnita
para os meteorologistas quando estudam o Estado do Rio de
Janeiro, por apresentar, para quase todos os parâmetros
meteorológicos, os valores mais altos de variância.
A quase total ausência de efluentes a norte da usina
nesse mês indica a ausência de freqüência
de ventos originada das direções sul e sudeste,
como o que ocorreu na grande maioria dos casos estudados.
Setembro
se apresenta, por tanto, como um mês que irá
requerer sempre uma atenção especial, no que
diz respeito a prognósticos de picos de concentração
de efluentes sobre essa região de estudo.
Outro
fato importante é que as menores concentrações
observadas de todos os poluentes ocorrem no mês de verão
(fevereiro). Nesse período do ano o maior aquecimento
da superfície, tanto marítima quanto terrestre,
induz a maiores gradientes de temperatura entre essas duas
superfícies em períodos específicos do
dia, intensificando os fenômenos de brisa marítima,
terrestre e de montanha, além de tornar a atmosfera
de toda a região mais instável, melhorando,
portanto, as condições de dispersão para
todos os efluentes.
Os
poluentes NO, NO2 e o SO3, apresentaram valores de concentração
inferiores ou próximos a 0,1 µg/m3 em todos os
períodos estudados, indicando que sua presença
na atmosfera da região pode ser considerada como insignificante
em qualquer período do ano.
O
último caso apresentado nesse estudo será a
simulação da dispersão dos poluentes
CO, SO2 e CO2 para o mês de setembro de 2000 (Figura
329). Esse mês foi escolhido por se apresentar como
o mês onde a atmosfera foi mais estável entre
todos os meses disponíveis para esse estudo.

Figura 329 - Concentração média de CO
(a), SO2 (b) e CO2 (c) (µg/m3), para a sinergia das
usinas de Angra 1, 2 e 3, no mês de setembro de 2000.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)",
IGEO/UFRJ.
No
mês de setembro de 2000 podemos observar valores de
concentração ligeiramente inferiores a do mês
de setembro de 2001, porém encontramos uma maior área
com picos de concentração dos efluentes, voltando
a se verificar ventos de sul/sudoeste que ocasionam a presença
dos poluentes a norte/nordeste da CNAAA.
Pode-se
concluir com as simulações realizadas ao longo
desse trabalho, que a região onde está inserida
a CNAAA, bem como as condições atmosféricas
da região não são favoráveis a
dispersão de poluentes. O que se observa, no entanto,
é que devido à baixa taxa de emissão
dos poluentes convencionais, proveniente da CNAAA, as concentrações
verificadas nas regiões próximas possuem seus
valores máximos inferiores aos valores que excederiam
os padrões nacionais de qualidade do ar.
6.6.5.2.
Poluentes Radioativos
- topo
O
cálculo das concentrações médias
normalizadas pela intensidade da fonte são realizados
para vários períodos particulares.
As
figuras apresentadas nas próximas páginas (Figura
330 a Figura 336) ilustram os resultados das concentrações
medias dos efluentes radioativos normalizadas pela intensidade
da fonte, sob os efeitos de decaimento e depleção,
emitidos pela usina de Angra 3. Na Figura 330 são avaliados
os períodos de verão e inverno de 1983. Este
foi um período associado ao evento El Nino 1982/1983.
No verão, as maiores concentrações ocorreram
a SW e não ultrapassaram o valor 5x10-6 s/m3. No inverno
as maiores concentrações apresentaram valores
inferiores aos observados no verão e a posição
dos máximos ocorreu a NE.
A
Figura 331 ilustra os resultados da simulação
para períodos associados ao fenômeno La Niña.
No verão de 1990, as concentrações apresentaram
os menores valores dos períodos analisados. Concentrações
relativamente maiores são notadas no inverno de 1990,
com máximos predominantes na região W e NE.

Figura 330 - Concentração média
de efluentes radioativos normalizados pela intensidade da
fonte (s/ m3), sob os efeitos de decaimento, para a usina
de Angra 3, nos períodos de (a) verão (jan-fev-mar)
e (b) inverno (jul-ago-set) de 1983 (caso El Niño).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 331 - Concentração média
de efluentes radioativos normalizados pela intensidade da
fonte (s/ m3), sob os efeitos de decaimento, para a usina
de Angra 3, nos períodos de (a) verão (jan-fev-mar)
e (b) inverno (jul-ago-set) de 1990 (caso La Niña).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
A
análise realizada no item 6.1 Meteorologia deste documento
indica que alguns períodos foram críticos em
termos da estabilidade estática da atmosfera na região
de estudo. As próximas figuras (Figura 332 a Figura
335 (b)) ilustram o comportamento das concentrações
simuladas para estas situações, descritas anteriormente.
A análise dos cenários demonstra que as maiores
concentrações ocorreram na região NE,
sendo que em dezembro/2000 ocorreram as maiores concentrações
do período analisado.

Figura 332 - Concentração média
de efluentes radioativos normalizados pela intensidade da
fonte (s/ m3), sob os efeitos de decaimento, para a usina
de Angra 3, nos períodos de (a) janeiro de 1991 e (b)
inverno (ago-set-out) de 1996.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 333 - Concentração média
de efluentes radioativos normalizados pela intensidade da
fonte (s/ m3), sob os efeitos de decaimento, para a usina
de Angra 3, nos períodos de (a) dezembro de 1997 e
(b) abril a julho de 2000.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 334 - Concentração média
de efluentes radioativos normalizados pela intensidade da
fonte (s/ m3), sob os efeitos de decaimento, para a usina
de Angra 3, nos períodos de (a) setembro de 2000 e
(b) dezembro de 2000.
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I -
Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 335 - Concentração média
de efluentes radioativos normalizados pela intensidade da
fonte (s/ m3), sob os efeitos de decaimento, para a usina
de Angra 3, nos períodos de (a) verão de 2001,
(b) inverno de 2001 e (c) anual de 2001.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
Foi
feita uma análise complementar da distribuição
da concentração média anual de poluentes
para o ano 2001 e para um mês de agosto médio,
considerando o período de 1987-2001, apresentadas na
Figura 335 (c) e na Figura 336. Esses períodos foram
escolhidos por ser o mês de agosto e o ano de 2001,
períodos característicos para ocorrência
de estabilidade estática na região.
As
simulações demonstraram que nesses períodos
ocorreram os maiores níveis de concentração,
em relação a todos os períodos analisados.
Nota-se que as maiores concentrações ocorrem
na região NE, em concordância as análises
feitas anteriormente. Dessa forma, o ano de 2001 foi escolhido
para o estudo do impacto na qualidade do ar, devido a sinergia
entre as fontes de emissões das usinas de Angra 2 e
3.

Figura 336 - Concentração média
de efluentes radioativos normalizados pela intensidade da
fonte (s/ m3), sob os efeitos de decaimento, para a usina
de Angra 3, no período médio de agosto (a partir
de 1987).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
O
resultado para as deposições média dos
efluentes radioativos, normalizados pela intensidade da fonte,
para a usina de Angra 3, desses mesmos casos é apresentado
nas figuras a seguir (Figura 337 a Figura 343). De maneira
geral, as deposições são encontradas
espalhadas uniformemente, dentro de um raio de 20 km, alcançando
picos máximos de 8 x10-9 m-2 para os casos analisados
estudados.

Figura 337 - Deposição média de
efluentes radioativos normalizados pela intensidade da fonte
(m-2), para a usina de Angra 3, nos períodos de (a)
verão (jan-fev-mar) e (b) inverno (jul-ago-set) de
1983 (caso El Niño).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 338 - Deposição média de
efluentes radioativos normalizados pela intensidade da fonte
(m-2), para a usina de Angra 3, nos períodos de (a)
verão (jan-fev-mar) e (b) inverno (jul-ago-set) de
1990 (caso La Niña).
Fonte: "Levantamento
e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico) da Área
de Influência da CNAAA - Vol I (Eixo I -
Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 339 - Deposição média de
efluentes radioativos normalizados pela intensidade da fonte
(m-2), para a usina de Angra 3, nos períodos de (a)
janeiro de 1991 e (b) inverno (agoset-out) de 1996.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 340 - Deposição média de
efluentes radioativos normalizados pela intensidade da fonte
(m-2), para a usina de Angra 3, nos períodos de (a)
dezembro de 1997 e (b) abril a julho de 2000.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 341 - Deposição média de
efluentes radioativos normalizados pela intensidade da fonte
(m-2), para a usina de Angra 3, nos períodos de (a)
setembro de 2000 e (b) dezembro de 2000.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 342 - Deposição média de
efluentes radioativos normalizados pela intensidade da fonte
(m-2), para a usina de Angra 3, nos períodos de (a)
verão de 2001, (b) inverno de 2001 e (c) anual de 2001.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 343 - Deposição média de
efluentes radioativos normalizados pela intensidade da fonte
(m-2), para a usina de Angra 3, no período médio
de agosto (a partir de 1987).
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
De
forma a estender os resultados alcançados, são
realizadas duas simulações para o efeito conjunto
das usinas de Angra 2 e 3. Para realização da
sinergia dos efeitos das emissões das usinas, algumas
modificações no código, incluindo a transformação
de coordenadas do sistema tiveram que ser realizadas. A Figura
344 ilustra o campo de concentração média
de efluentes radioativos simulados para setembro de 2000 (Figura
344 (a)) e o período anual de 2001(Figura 344 (b)).
O aumento das concentrações é evidente
nessas figuras.
No
caso anual de 2001, dois centros de concentração,
com picos de 10-5, mostram-se próximos à fonte
e a NE. Na Figura 345 são ilustrados os campos de deposição
média para setembro de 2000 (Figura 345 (a)) e anual
de 2001 (Figura 345 (b)). Valores mais intensos são
encontrados no período anual de 2001, como era de se
esperar. Além disso, verifica-se grande uniformidade
nesses campos, num raio de ate 20 km de extensão.

Figura 344 - Concentração média
de efluentes radioativos normalizados pela intensidade da
fonte (s/m3), sob os efeitos de decaimento, para a sinergia
das usinas de Angra 2 e 3, nos períodos de (a) setembro
de 2000 e (b) anual de 2001.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental
(Meio Físico) da Área de Influência da
CNAAA - Vol I (Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.

Figura 345 - Deposição média de
efluentes radioativos normalizados pela intensidade da fonte
(m-2), para a sinergia das usinas de Angra 2 e 3, nos períodos
de (a) setembro de 2000 e (b) anual de 2001.
Fonte: "Levantamento e Diagnóstico Ambiental (Meio Físico)
da Área de Influência da CNAAA - Vol I
(Eixo I - Meteorologia)", IGEO/UFRJ.
Como
conclusão, podemos afirmar que as maiores concentrações
de poluentes ocorreram no eixo nordeste - sudoeste,
sendo que os valores máximos estimados ocorreram dentro
de um raio de 5 km, tendo como centro as fontes de emissão.
Os resultados de concentração simulados devem
ser utilizados para o cálculo de doses, a fim de se
determinar a relevância do impacto ambiental, proveniente
da operação da Usina Angra 3, para a área
de influência. Além disso, a estimativa desse
impacto deve ser feita considerando a operação
conjunta das 3 usinas da CNAAA.
6.6.6.
Métodos de monitoramento - topo
Os
métodos de coleta e análise de amostras de contaminantes
do ar são selecionados com o maior cuidado, levando-se
em conta não somente a finalidade das análises
a serem realizadas, como os recursos disponíveis para
efetuá-las.
São
poucos os problemas de poluição do ar que ocorrem
apenas em um único local; a maioria deles é
comum em diversos lugares do mundo. Por se tratar de um problema
comum em várias localidades e em diferentes países,
é evidente a conveniência de se empregar métodos
que permitam a comparação dos resultados obtidos.
Dessa
forma, para cada poluente monitorado existe uma série
de métodos fidedignos, cujos resultados devem ser confirmados
por comparação com os métodos de referência.
Podese assim inferir conclusões mais confiáveis
quanto aos dados obtidos por diferentes técnicas aplicadas
por distintos laboratórios.
O
monitoramento da qualidade do ar envolve medições
das concentrações reais dos poluentes no ar
ambiente, num dado local e durante um período estipulado.
As medições produzidas são sempre um
valor méa um mês. Uma variedade
de técnicas, dos mais diversos níveis de sofisticação,
existe para medir as concentrações dos poluentes
do ar.
Os
métodos existentes enquadram-se nos seguintes quatro
principais grupos:
•
amostragem passiva (por meio de tubos de difusão
ou tubos passivos);
•
amostragem ativa (por meio de filtros, borbulhadores
etc.);
•
monitoramento automático;
•
monitoramento remoto de longo-período.
A Tabela 81 sumariza as principais vantagens
e desvantagens desses quatro principais métodos de
monitoramento.
Tabela
81 - Comparação das vantagens e desvantagens
dos quatro métodos de monitoramento da qualidade do
ar.
Método |
Vantagens |
Desvantagenss |
Amostradores
Passivos |
. Baixíssimo custo;
. Muito simples;
. Útil para avaliação inicial estudos de
distribuição Espacial de concentrações
de poluentes do ar. |
Fornece somente valores médios
do período amostral (semana ou
mês). |
Amostradores
Ativos |
. Baixo custo;
. Fácil operação;
. Formação de séries de dados
históricos. |
. Fornece médias diárias;
. Trabalho intensivo de operação;
. Análise laboratorial requerida. |
Analisadores
automáticos |
. Alta performance operacional;
. Dados em intervalos a partir de poucos
minutos;
. Aquisição on-line;
. Baixos custos diretos. |
. Infra-estrutura complexa;
. Custo relativamente elevado;
. Alta tecnologia requerida. |
Sensores remotos
de longo-período |
. Dados agrupados;
. Útil próximos a fontes e para medições
verticais na atmosfera;
. Medições com multi-componentes. |
. Complexo e de custo elevado;
. Difícil calibração e validação;
. Nem sempre comparável com
analisadores convencionais. |
Fonte
:
Passam Ag - Suiça.
A
seleção do mais apropriado método depende
de seus objetivos de monitoramento, da resolução
dos dados requeridos, bem como dos recursos financeiros e
mão-de-obra disponíveis. Existe uma clara variação
entre o custo instrumental, a complexidade, a capacidade e
a performance. Tipicamente, os mais sofisticados métodos
de monitoramento apresentam dados mais consistentes, entre
muitas outras vantagens, embora ainda tenham um custo elevado
de aquisição. Como resultado, uma prática
freqüente é a escolha de tecnologias mais simples,
capazes de atender aos objetivos do monitoramento em termos
de resolução e qualidade.
Para
os poluentes comumente monitorados - para os quais os padrões
de qualidade do ar já são estabelecidos - a
metodologia utilizada e as freqüências de amostragens
são fixadas e normatizadas nos níveis Federal
(Brasil) e Estadual (Rio de Janeiro), a exemplo do que é
adotado nos países do mundo.
6.6.6.1.
Caracterização da qualidade do ar na Área
de Influência do empreendimento
- topo
Para
fins de avaliação e gestão da qualidade
do ar na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ),
a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
(Feema), leva em consideração as influências
da topografia e meteorologia, o que leva a divisão
da Região em quatro Sub-Regiões ou "Bacias
Aéreas" (Figura 346).

Figura 346 - Bacias aéreas da Região Metropolitana
do Rio de Janeiro.
Fonte: Fundação Estadual de Engenharia
do Meio Ambiente do Rio de Janeiro - Feema
•
Bacia Aérea I - inserida na Bacia Hidrográfica
da Baía de Sepetiba, localizada na Zona Oeste da
Região Metropolitana, com cerca de 730 km² de
área, compreende as áreas territoriais de
Itáguaí, Coroa Grande e Seropédica,
além das Regiões Administrativas de Santa
Cruz e Campo Grande, no município do Rio de Janeiro.
•
Bacia Aérea II - localizada no município
do Rio de Janeiro, envolve as regiões administrativas
de Jacarepaguá e Barra da Tijuca, possuindo cerca
de 140 km² de área.
•
Bacia Aérea III - ocupa uma área de
cerca de 700 km². Abrange os municípios de Belford
Roxo, Duque de Caxias, Japerí, Magé, Mesquita,
Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e São
João de Meriti, além das Regiões Administrativas
de Portuária, Centro, Rio Comprido, Botafogo, São
Cristóvão, Tijuca, Vila Isabel, Ramos, Penha,
Méier, Engenho novo, Irajá, Madureira, Bangú,
Ilha do Governador, Anchieta e Santa Tereza, no município
de Rio de Janeiro.
•
Bacia Aérea IV - com área de cerca
de 830 km², abrange os municípios de São
Gonçalo, Itaboraí e Magé.
Uma
"bacia aérea" pode ser definida como uma
estrutura geográfica de condição de clima
que resulta em um relativo pequeno movimento do ar dentro
e fora da área. Esse termo é normalmente usado
para se referir a áreas topograficamente sujeitas aos
mesmos mecanismos de circulação, onde os poluentes
se distribuem pelo ramo aéreo.
O
volume da atmosfera que deve ser considerado na avaliação
dos efeitos de certos poluentes na saúde humana e no
ambiente de modo geral é aquele que se encontra passível
de variação em função do tipo
de contaminante, do seu tempo de residência, da geografia
e das condições meteorológicas.
A
região da Bacia Aérea I, mais próxima
à área de interesse e que deve ser levada como
elemento de comparação, tem apresentado uma
forte vocação para a implantação
de centrais de geração de energia elétrica,
face à disponibilidade de áreas, de infra-estrutura
de abastecimento de combustível para as usinas, oferta
de recursos hídricos, além da proximidade das
linhas de transmissão.
Em
termos de qualidade do ar, os estudos desenvolvidos pelos
empreendimentos licenciados e/ou em fase de licenciamento
na região revelaram uma condição de background
ainda satisfatória, uma vez que há poucas
fontes consideradas de alto grau de impacto. Apesar disso,
para garantir a manutenção da qualidade do ar
em níveis aceitáveis, a Feema estabeleceu limites
de impactação a partir da implantação
de um Plano de Gestão da Qualidade do Ar na Bacia Aérea
I. O referido Plano está sendo concebido pela iniciativa
privada, tendo a Feema como partícipe.
Para
fins de caracterização da qualidade do ar, a
área de influência direta da Unidade 3 da CNAAA
pode ser subdividida em duas, em função dos
parâmetros a serem considerados. Para o caso do material
particulado, considera-se a Bacia Aérea que envolve
a área onde se situam as Unidades 1 e 2 da CNAAA (e
futuramente Angra 3), limitada pelas faces voltadas para sul
das vertentes montanhosas vizinhas e as linhas-de-costa ao
longo de Itaorna, Ponta Grande a Praia Brava.
Para
os demais poluentes legislados pela Resolução
Conama 03/90 (SO2, NO2, O3 e CO), além de Hidrocarbonetos
Totais (HCT) - legislado pela Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos, a área de influência
poderia ser considerada como mais abrangente, atingindo cerca
de 5 km a nor-nordeste (orientação Angra 3 -
Frade) em relação a posição da
própria usina de Angra 3, uma vez que a circulação
do ar na região é condicionada pela combinação
de diversos fatores geográficos - a distribuição
topográfica local, o oceano ao sul e os mecanismos
atmosféricos nas escalas sinótica e regional.
Na
maior parte do ano, entretanto, por percepção,
a qualidade do ar regional ainda é boa. Porém,
sob certas condições de tempo - baixa
ventilação, estabilidade atmosférica,
forte incidência solar e um grande quantitativo de fontes
móveis em atividade, a qualidade do ar em alguns locais
da região podem apresentar relativo potencial de deterioração
temporária com respeito à formação
de ozônio na baixa troposfera e à formação
de chuvas contaminadas (evolução do conceito
de "chuva ácida"). Infelizmente, tais afirmativas
serão limitadas ao aspecto conceitual e sensitivo,
haja vista não haver qualquer histórico de monitoramento
da qualidade do ar na região.
Diante
do exposto, cabe estabelecer analogias com áreas mais
próximas e que tenham as características geográficas
e meteorológicas aproximadas às áreas
de influência da Unidade 3 da CNAAA.
6.6.6.1.1.
Material Particulado
- topo
Partículas
Totais em Suspensão na Estação Pesagro-Itáguaí
(Feema) no Período 1989-2000 - historicamente,
na Bacia Aérea I - a mais próxima da CNAAA,
a Feema monitora a qualidade do ar. Há uma única
estação de monitoramento, localizada na Pesagro
(coordenadas UTM: 0635038; 7482691), em Itáguaí.
Nesta estação, o parâmetro PTS tem sido
monitorado desde 1989 e os resultados das concentrações
médias (geométricas) anuais de PTS no período
1989-2000 são apresentados na Tabela 82.
Tabela
82 - Partículas Totais em Suspensão na Estação
Pesagro-Itáguaí (Feema), no período 1989-2000.
Ano |
Concentração Média Anual (μg/m3) |
1989 |
26 |
1990 |
32 |
1991 |
35 |
1992 |
32 |
1993 |
33 |
1994 |
42 |
1995 |
41 |
1996 |
44 |
1997 |
55 |
1998 |
44 |
1999 |
43 |
2000 |
43 |
Fonte:
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
do Rio de Janeiro - Feema
Considerando-se
que o padrão de qualidade do ar estabelecido pela Resolução
Conama Nº 03 de 28 de junho de 1990 para a concentração
média anual é de 80 µg/m3, verifica-se
que os níveis medidos encontram-se abaixo do limite
fixado como Padrão Primário. Se for considerado
o Padrão Secundário, para proteção
de flora e fauna, de 60 µg/m3, também as concentrações
registradas encontram-se abaixo.
De
acordo com o Relatório Feema-GTZ (1995), a Estação
Pesagro-Itáguaí, juntamente com a Estação
Sumaré (no Rio de Janeiro), é apresentada como
estação de background, onde a média
das concentrações observadas situa-se em torno
de 50% do valor da concentração média
geométrica do Padrão Primário (80 µg/m3).
Neste relatório, os valores apresentados para a Estação
Pesagro-Itáguaí foram:
•
média geométrica = 43 µg/m3;
•
média aritmética = 45 µg/m3;
•
mínimo = 21 µg/m3;
•
máximo = 95 µg/m3.
De
acordo com o Relatório "Os valores obtidos nas
estações escolhidas como background orientam
a avaliação da região estudada, ou sejam,
valores acima destes, quando encontrados em um local, mostram
o grau de influência de atividades poluidoras".
Ao
se observar o conjunto de dados (individualmente como média
geométrica anual) apresentados na Tabela 82, verifica-se
que, ao longo dos anos (1989 a 2000), aparecem três
patamares, o primeiro representando exclusivamente o ano de
1989, com uma concentração de 26 µg/m3,
o segundo de 1990 a 1993, com concentrações
que variam de 32 a 35 µg/m3, e terceiro de 1994 a 2000,
com concentrações que, em geral variam de 41
a 44 µg/m3, excetuando-se 1997, que apresentou média
geométrica de 55 µg/m3. Isto significa que de
1989 a 2000 a concentração de PTS apresentou
um crescimento médio de 40%.
Partículas
Totais em Suspensão na área do Pólo Petroquímico
- no ano de 1990 foram realizadas medições
de material particulado em suspensão, no período
de 5 de março a 1 de setembro, com o objetivo de caracterizar
a qualidade do ar na área de influência do Pólo
Petroquímico de Itáguaí (empreendimento
na implantado). Para tal, foi instalado um Amostrador Hi-Vol
na agência do Banerj, no centro de Itáguaí.
Os resultados indicaram uma média geométrica
de 68 µg/m3 no período e uma concentração
máxima diária de 113 µg/m3, ficando abaixo
dos valores estabelecidos pela Resolução Conama
03/90 como admissíveis para o parâmetro: 80 e
240 µg/m3.
Na
área onde seria implantado o Pólo também
foram realizadas medições: as concentrações
média geométrica e máxima diária
de material particulado em suspensão foram de 35,4
e 72,6 µg/m3. Tais resultados evidenciam que a área
urbana de Itáguaí apresentou valores mais altos
do que a área de implantação do Pólo
Petroquímico e as concentrações observadas
durante esse período de monitoramento claramente sofreram
a influencia da estabilidade atmosférica do inverno.
Análises
qualitativas no material particulado coletado revelaram a
presença de apenas 7% de metais pesados nas amostras
coletadas, indicando que, naquela ocasião, a contribuição
das indústrias instaladas nas proximidades da área
urbana de Itáguaí se mostrou pouco significativa.
Partículas
Inaláveis na Estação Pesagro-Itáguaí
(Feema) - a partir de 1998 a Feema passou a realizar,
também, o monitoramento de partículas inaláveis
na Bacia Aérea I, cuja estação de amostragem
encontrava-se localizada no mesmo local onde é monitorado
os níveis de PTS. Os resultados obtidos das concentrações
médias anuais são mostrados na Tabela 83.
Tabela
83 - Concentração Média Anual de Partículas
Inaláveis (µg/m3).
Ano |
Concentração de Partículas Inaláveis (μg/m3) |
1998 |
37 |
1999 |
31 |
2000 |
34 |
Fonte:
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
do Rio de Janeiro - Feema
Nota-se
que os valores registrados nesses três anos estavam
longe de ultrapassar o padrão de 50 µg/m3 estabelecido
pela Resolução Conama 03/90.
A
Tabela 84 apresenta uma síntese estatística
dos dados gerados do monitoramento de Partículas Totais
em Suspensão - PTS (período de 10/01/1998
a 19/12/2000) e Partículas Inaláveis -
PI (período de 10/04/1998 a 31/12/2000) na Estação
Itáguaí-Pesagro.. Nesta tabela são comparadas
as médias geométricas (para PTS) e aritméticas
(para PI) das concentrações de todo o período
(referida como total) monitorado com as respectivas médias
das coletas efetuadas nos dias úteis (i.e., de segunda
a sexta-feira) e de fim-de-semana (i.e. sábado e domingo).
Tabela
84 - Síntese estatística das concentrações
(em µg/m3) de Partículas Totais em Suspensão
(PTS) e Partículas Inaláveis (PI) na Estação
Itáguaí-Pesagro (Feema) no período 1998-2000.
Ano |
Partículas Totais em Suspensão |
Partículas Inaláveis |
Total de
Dias Ùteis |
Sábados e
Domingos |
Total |
Total de
Dias Ùteis |
Sábados e
Domingos |
Total |
Média |
41 |
47 |
36 |
35 |
38 |
29 |
Mínima |
13 |
16 |
13 |
4 |
6 |
4 |
Máxima |
100 |
100 |
79 |
84 |
78 |
84 |
n |
120 |
85 |
35 |
117 |
82 |
35 |
Fonte: Fundação Estadual de Engenharia
do Meio Ambiente do Rio de Janeiro - Feema (*) Geométrica
para PTS e aritmética para PI, n = número de
amostras.
Os
valores obtidos para PTS e PI mantiveram-se abaixo das referências
do Padrão Primário de média anual e média
de 24 horas da Resolução Conama Nº 03 de
28/06/90. Os Padrões Secundários também
não foram atingidos.
Os
resultados mostraram que tanto as concentrações
médias de PTS quanto às de PI apresentaram-se
mais baixas nos fins-de-semana. Nos dois casos, as médias
das concentrações nos fins-de-semana foram aproximadamente
1,3 vezes inferiores à média dos dias úteis.
Esta diferença pode ser atribuída ao fator fonte,
que, para a região, poderia se considerar a maior influência
do tráfego de veículos nos dias úteis.
A
Figura 347 mostra as variações ocorridas para
os dias da semana na Estação Pesagro-Itáguaí,
conforme as concentrações de material particulado
registradas no ano de 2000.

Figura 347 - Concentrações de material
particulado nos dias da semana na Estação Pesagro-Itáguaí
(ano de 2000).
Fonte: Fundação Estadual de Engenharia
do Meio Ambiente do Rio de Janeiro - Feema
Verifica-se
a ocorrência de um decréscimo das concentrações
de material particulado nos fins-de-semana, sugerindo, assim,
que o local onde o ar foi monitorado sofria influência
de fontes, cujas emissões seriam pouco significativas
nesses dias.
A
Figura 348 mostra as variações ocorridas nas
concentrações de material particulado, na Estação
Pesagro-Itáguaí, registradas nos meses do ano
de 2000. A sazonalidade fica bem delineada, confirmando o
aumento das concentrações de material particulado
durante os meses de inverno.

Figura 348 - Concentrações médias
mensais de material particulado na Estação Pesagro-Itáguaí
(ano de 2000).
Fonte: Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
do Rio de Janeiro - Feema
6.6.6.1.2.
Gases - topo
Com
relação aos níveis de concentração
de gases, as informações são mais limitadas
e recaem no monitoramento realizado por ocasião das
avaliações ambientais para a implantação
do Pólo Petroquímico de Itáguaí.
Foram amostrados os parâmetros dióxido de enxofre
e dióxido de nitrogênio durante apenas seis meses.
Para
o dióxido de enxofre (SO2) foi observada uma média
aritmética de 19,3 µg/m³ e uma concentração
máxima diária de 41 µg/m³. Os valores
encontrados ficaram dentro dos admitidos pela Resolução
Conama 03/90, que são de 80 e 365 µg/m³,
respectivamente.
Para
o dióxido de nitrogênio (NO2), a média
aritmética e a concentração máxima
diária observadas foram de 12.3 µg/m³ e
20.0 µg/m³, também se posicionando abaixo
dos valores de referência de 100 µg/m³ estabelecidos
pela Resolução Conama 03/90 para as médias
aritmética e anual.
Com
relação ao ozônio (O3), foi realizada
uma ampla campanha de monitoramento em todo o Município
do Rio de Janeiro, em 1999, visando a verificação
dos níveis do poluente. Os trabalhos ocorreram sob
a coordenação conjunta do Laboratório
de Estudos em Poluição do Ar do Departamento
de Meteorologia da UFRJ e da Secretaria Municipal de Meio
Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro. O método
empregado foi o de tubos de difusão.
Segundo
constatações internacionais, a probabilidade
de formação do ozônio aumenta de 2 a 4%
por grau Celsius de elevação da temperatura
do ar, o que significa dizer que:
•
abaixo de 21°C a formação de ozônio
nunca ocorre;
•
em torno de 32°C a probabilidade passa a ser de 50%
e
•
próximo a 40°C (temperaturas facilmente atingidas
no verão) a probabilidade passa a ser superior a
70%.
Em
suma, as grandes áreas metropolitanas tropicais, com
elevada contribuição de emissões provenientes
da queima de combustíveis fósseis e temperaturas
sobre-elevadas em razão da formação das
ilhas de calor urbano, passam a ser susceptíveis à
formação de ozônio.
Na
Bacia Aérea I (área mais afastada à oeste
do Município do Rio de Janeiro e mais próxima
da região de interesse do presente diagnóstico)
foram instalados tubos passivos para as amostragens de Ozônio
em 8 pontos, a saber: Sepetiba, Santa Cruz (R. F. Cardoso),
Santa Cruz I (Av. Brasil), Santíssimo, Campo Grande
(P. S. Geraldo), Campo Grande I (João Esmerardi), Queimados
(Av. Camarin Baviro) e Queimados (Praça Conienas).
Os resultados do monitoramento podem ser vistos na Figura
349.
Medições
de dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio
e ozônio, no mês de maio de 2001 em Vila Califórnia
e Brisamar, ambas em Itaguaí, revelaram os seguintes
resultados de concentrações médias: 23
µg/m³, 30 µg/m³ e 20 µg/³,
respectivamente, o que, comparado a outras regiões
do Rio de Janeiro, denota uma atmosfera com elevada qualidade
do ar.
Os
níveis de concentração de ozônio
revelados no estudo para a região da Bacia Aérea
I mostraram-se significativos quando comparados aos demais;
sugerindo haver na região um nível de emissão
acentuada de seus precursores primários (óxidos
de nitrogênio e hidrocarbonetos) ou o transporte desses,
ou mesmo do próprio ozônio formado em outras
áreas e carreados para a região de enfoque.
De
acordo com o estudo Qualidade do Ar em Volta Redonda, realizado
pela Feema/GTZ e apoio do Laboratório de Estudos em
Poluição do Ar/UFRJ, foram realizadas medições
de benzeno na Estação Pesagro-Itqaguaí,
com a finalidade de se comparar os resultados obtidos em Volta
Redonda com os de uma área rural, além de outras
urbanas: Bonsucesso e Copacabana. Verificou-se que na área
rural, isto é, na Estação Pesagro-Itáguaí,
os resultados obtidos situaram-se "abaixo do limite de
detecção do método, podendo-se considerar
a concentração background de benzeno
como zero". Para as áreas urbanas, as concentrações
médias diárias encontraram-se na faixa de 1
a 2µg/m³.

Figura 349 - Resultados das concentrações
de ozônio a partir do monitoramento por tubos passivos
(1999).
Fonte: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
e Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
6.6.6.1.3.
Fluxos atmosféricos na Bacia Aérea I - topo
A
presente abordagem é introduzida com o intuito destacar
a problemática com relação à formação
de chuvas ácidas, no entorno do empreendimento, a destacar
as áreas onde existem remanescentes de mata atlântica,
localizados predominantemente nas encostas da Serra do Mar
e os núcleos urbanos situados nas áreas de influência
direta e indireta, muito embora utilizando, também,
experiências ocorridas em regiões mais próximas,
haja vista a inexistência de qualquer estudo mais aprofundado
em Angra dos Reis.
Em
virtude da preocupação existente no que tange
aos fluxos atmosféricos de substâncias químicas
(poluentes primários ou secundários), procedentes
de emissões de atividades humanas, efetuou-se um levantamento
dos dados de estudos realizados, e divulgados, na região
da bacia da baía de Sepetiba, tomando-a como a mais
similar à Área de Influência do empreendimento.
Conceituação
e Características Químicas das Deposições
Atmosféricas
a)
Formas de Deposição
Os
processos físicos responsáveis pela remoção
de substâncias químicas procedentes de fontes
naturais são igualmente importantes para remoção
de poluentes primários e secundários da atmosfera.
Portanto, tendo ou não sofridas transformações
químicas e/ou físicas na atmosfera, os poluentes
são removidos através dos seguintes mecanismos:
•
Deposição úmida (wet deposition)
- remoção de substâncias e partículas
da atmosfera através das chuvas. A este mecanismo
são também aplicados os termos agregação
(rainout) e carreamento (washout), que designam
respectivamente: 1) a incorporação de gases
e partículas nas gotículas de nuvens e 2)
o arraste de gases e partículas da atmosfera durante
a precipitação.
•
Deposição seca (dry deposition)
- deposição de substâncias e partículas
da atmosfera nos ambientes de superfície (principalmente
solos, sistemas aquáticos, vegetação
e estruturas criadas pelo homem) nos períodos de
ausência de chuva. Diferente da deposição
úmida, a deposição seca depende de
muito fatores, tais como: características químicas
e físicas das substâncias e partículas,
tamanho das partículas, meteorologia e características
das superfícies de deposição.
b)
Chuva Ácida
O
pH natural da água da chuva é, em geral, aceito
como 5,6, que representa o equilíbrio entre íons
resultantes da ionização do ácido carbônico
(H2CO3) e o dióxido de carbono (CO2) na atmosfera,
cuja concentração atual encontra-se em torno
de 370 partes por milhão em volume (ppmv) (270 ppm
antes da Revolução Industrial).
Entretanto,
o CO2 não é a única substância
responsável pelo controle do pH da água da chuva.
A atmosfera possui outras substâncias, procedentes de
fontes naturais ou antrópicas, tais como os ácidos
sulfúrico (H2SO4) e nítrico (HNO3), e o gás
amônia (NH3), que participam do controle do pH das chuvas.
Os vulcões emitem SO2 (que dá origem ao H2SO4).
Os oceanos emitem sulfeto de dimetila (H3CSCH3), que na atmosfera
é oxidado a SO2 (de Mello, 1994).
Bactérias
nitrificadoras no solo e raios (e faíscas elétricas)
são as principais fontes naturais de monóxido
de nitrogênio (NO), precursor do HNO3. Ácidos
orgânicos, tais como fórmico (HCOOH) e acético
(H3CCOOH), são considerados os principais reponsáveis
pelo controle da acidez das chuvas na Amazônia, onde
valores de pH de chuva menores que 5,0 têm sido verificados.
O íon amônio (NH4 +) é encontrado também
em águas de chuvas de regiões remotas de nosso
planeta, e provem da dissolução do gás
amônia (NH3), que possuem carater básico, ou
seja, de remover H+ de soluções aquosas ácidas
(NH3 + H+ NH4 +), promovendo o aumento do pH.
Partículas de carbonato de cálcio (CaCO3) transportadas
pela atmosfera, procedentes de áreas possuidoras de
solos calcários, possuem a mesma característica
básica (CaCO3 + H+ Ca2+ + HCO3 -).
Em
virtude da variabilidade da composição química
da água da chuva em diferentes regiões remotas
do planeta (áreas sob nenhuma ou muito pouca influência
de atividades antrópicas), sob controle de diferentes
processos naturais, é difícil estabelecer padrões
de qualidade de água para chuvas. Entretanto, como
referência, pode-se dizer que as concentrações
de NO3 -, NH4 + e exc-SO4 2- em águas de chuva de regiões
remotas encontramse, em média, com valores inferiores
a 5 µmol L-1 (GALLOWAY et al., 1982, GALLOWAY
et al., 1996). O exc-SO4 2- corresponde ao SO4 2- proveniente
da oxidação do SO2 da atmosfera, seja ele, proveniente
de emissões vulcânicas, oxidação
do H3CSCH3 ou de queima de combustíveis fósseis.
Principalmente em áreas costeiras, uma parte do SO4
2- presente nas chuvas provem do spray marinho, que
carreia espécies inorgânicas presentes na água
do mar, como Na+, Cl-, SO4 2-, Mg2+, Ca2+ e K+. O Na+ é
utilizado como íon de referência para a determinação
da parcela iônica proveniente do spray marinho
(DE MELLO, 2001).
c)
Fluxos Atmosféricos dos Principais Íons
As
deposições atmosféricas, dos nove principais
íons inorgânicos presentes em água de
chuva e formadores da fração inorgânica
de partículas atmosféricas, foram estudadas
por DE MELLO (1993), sob a forma de deposição
total (chuva e partículas depositadas no sistema coletor
por assentamento gravitacional) nas encostas da serra da Coroa
Grande (especificamente na bacia do rio Itingussú),
Município de Sepetiba.
Na
Tabela 85 são apresentados os resultados como concentração
(primeira coluna) e fluxo atmosférico (segunda coluna).
Ainda nesta tabela, o fluxo atmosférico é discriminado
em de procedência do spray marinho e de outras
fontes, as quais se inserem as das atividades humanas.
Tabela
85 - Concentrações (µmol/L) e fluxos atmosféricos
(kg /ha.ano)*, via deposição total, dos íons
majoritários na bacia do rio Itingussú, Serra
da Coroa Grande, Sepetiba, RJ.
PH (4,8) |
Concentração |
Fluxo total |
Fluxo do Spray
Marinho |
Fluxo do
Excesso |
% do excesso |
H+ |
16,5 |
0,3 |
0,0 |
0,03 |
100 |
Cl- |
59,4 |
32,4 |
32,4 |
-1,6** |
-500** |
NO3- |
13,8 |
3,0 |
3,0 |
3,0 |
100 |
SO42- |
15,5 |
7,6 |
1,5 |
6,1 |
80 |
Na+ |
53,4 |
18,9 |
18,90,7 |
0,0 |
0 |
K+ |
5,4 |
3,2 |
0,7 |
2,5 |
78 |
Mg2+ |
9,3 |
3,4 |
2,2 |
1,2 |
55 |
Ca2+ |
12,7 |
7,8 |
0,7 |
7,1 |
9 |
NH4 + |
10,5 |
2,3 |
0,0 |
2,3 |
100 |
Fonte:
de Mello, 1993.
Período de estudo: 1988-1989; Localização:
22º53’-22º55’S, 43º53’-43º55’W;
Altitude: ~500 m; Precipitação: 1100 mm ano-1.
*Em massa do elemento principal (N e S) formador do íon.
**Significa perda de Cl- do aerossol marinho, em virtude de
reações químicas atmosféricas,
sob a forma de compostos voláteis de Cl.
Destaca-se
que a influência das emissões marinhas na deposição
de íons no continente depende principalmente de fatores
como ação dos ventos, relevo e distância
do mar. No caso do NO3 - e exc-SO4 2-, suas origens, em regiões
urbanas e industrializadas, estão associadas às
emissões de NOx (NO e NO2) e SO2. O NOx é gerado
em todo processo de combustão de alta temperatura (>1000ºC)
em decorrência, principalmente, da oxidação
do N2 do presente no ar (constituído de 78% de N2).
No caso do SO2, sua origem é a oxidação
parcial do enxofre presente nos combustíveis fósseis
(derivados de petróleo e carvão mineral).
Entre
a emissão, como NOx e SO2, e deposição,
como NO3 - e SO4 2-, decorrem alguns poucos dias, ocasião
em que ocorrem, na atmosfera, transformações
químicas e transferências de meios físicos.
O SO2 possui um tempo de residência na atmosfera de
aproximadamente três dias. Durante este período,
ele reage com o vapor da água dando origem ao ácido
sulfuroso (SO2 + H2O H2SO3) que, em seguida, é
oxidado a ácido sulfúrico pelo oxigênio
presente nas gotículas das nuvens (2H2SO3 + O2 2H2SO4).
Na combustão a alta temperatura, o N2 atmosférico
é oxidado a monóxido de nitrogênio (NO).
Na atmosfera, em fase gasosa, o NO é oxidado pelo oxigênio
atmosférico a dióxido de nitrogênio (2NO
+ O2 2NO2). Este poluente reage com o vapor d' água
da atmosfera, formando ácido nítrico (2 NO2
+ H2O HNO3 + HNO2 e 2HNO2 + O2 2HNO3,
ou de maneira global, 4 NO2 + 2 H2O + O2 HNO3)
que dissolve-se nas gotículas de nuvens ou na chuva.
Os
fluxos atmosféricos de NO3 - e exc-SO4 2- podem contribuir
para a acidificação de ecossistemas e deterioração
de florestas. Tanto a água da chuva quanto as partículas
atmosféricas podem conter como poluente o íon
NH4 +. Sua origem é a incorporação do
gás amoníaco (NH3) nestes meios. A amoníaco
é uma base e, portanto, responsável por elevar
o pH das chuvas (NH3 + H+ NH4 +), reduzindo a
acidez gerada pelos ácidos nítricos (HNO3) e
sulfúrico (H2SO4). Portanto, o pH não deve ser
utilizado individualmente como parâmetro indicador do
grau de poluição da água de chuva. O
conhecimento das concentrações dos principais
poluentes (SO4 2-, NO3 - e NH4 +) é sempre necessário
neste tipo de avaliação. Após a deposição
em ecossistemas, a oxidação do NH4 +, por bactérias
nitrificadoras presentes tanto no meio terrestre quanto no
aquático, conduz à formação de
dois hidrogênios ácidos (NH4 + + 2O2 2H+
+ NO3 - + H2O).
Para
o caso de Angra dos Reis, numa primeira análise, parece
não haver fontes relevantes que possam alterar a química
da água das chuvas na atmosfera da região. As
emissões de SO2 e NOX que ocorrem na Unidade 3 da CNAAA
serão esporádicas, de curtaduração
e quantitativamente irrelevantes para impactar a qualidade
do ar e a composição química das águas
das chuvas, conforme pode ser verificado a partir dos dados
de projeto. |