2.
CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO
2.1
APRESENTAÇÃO
- topo
No
final de 2003, o Governo Federal lançou um novo modelo
para o setor elétrico brasileiro, que representa
um avanço em relação à situação
anterior. Nesta nova visão, foi criada a Empresa
de Pesquisa Energética (EPE), que seria responsável
pelo planejamento da oferta e demanda da energia no país,
substituindo o antigo Mercado Atacadista de Energia (MAE)
pela Câmara de Comercialização de Energia
Elétrica (CCEE). Entretanto, a questão da
excepcionalidade da tarifa de comercialização
da energia de base nuclear não foi contemplada, continuando
a ser buscada uma solução pelo setor nuclear.
Ainda assim, tais mudanças, continuadas com a publicação
do Decreto Nº 5.163, de 30 de julho de 2004, mostram
a vontade governamental de controlar de maneira firme o
setor energético.
Angra
3, com potência térmica de 3.765 MWt e potência
elétrica de 1.350 MWe, é um empreendimento
da Eletrobrás Termonuclear S.A. - Eletronuclear a
ser implantado na área da CNAAA, onde já se
encontram instaladas e em operação as usinas
Angra 1 e Angra 2. A capacidade de geração
de energia elétrica prevista para Angra 3 é
de 10,8 mil GWh/ano.
Assim
como as duas usinas em operação, Angra 3 seria
dotada de um reator do tipo PWR (Pressurized Water Reactor
- reator a água pressurizada), que utiliza urânio
enriquecido como combustível e água leve pressurizada
para sua refrigeração. O reator PWR é
utilizado em 25 países, entre os quais os Estados
Unidos, a França e o Japão, os maiores usuários
de energia elétrica de origem nuclear. Quase 60%
dos reatores nucleares em funcionamento no mundo são
desse tipo e sua maior aceitação em relação
aos demais é atribuída, entre outros fatores,
aos rigorosos princípios de segurança que
são aplicados no projeto, na operação
e na manutenção das usinas.
Nesse
contexto, a construção de Angra 3, tem papel
fundamental para a concretização do projeto
global proposto para a CNAAA que objetiva: aumentar a oferta
de energia elétrica nas regiões Sudeste e
Centro-Oeste e reduzir, conseqüentemente, os riscos
de déficit, principalmente nos períodos hidrológicos
secos; aumentar a confiabilidade operacional do sistema
elétrico nacional; e reduzir a dependência
do Estado do Rio de Janeiro do suprimento externo de energia.
Dados
da Eletrobrás apresentados na 6ª reunião
de seu Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão
dos Sistemas Elétricos (CCPE), realizada em 5 de
junho de 2001, indicam que o crescimento da demanda de energia
elétrica no país não tem sido acompanhado
de um crescimento adequado da oferta. Por outro lado, o
excedente na capacidade de geração em relação
à geração efetiva vem desaparecendo
rapidamente, em conseqüência do aumento do consumo.
Em 2000, o consumo médio per capita de energia
elétrica, usualmente empregado como indicador da
qualidade de vida da população, foi de 1.988
kWh, tendo crescido 14,5% em relação a 1996
(em parte devido à maior utilização
de aparelhos eletroeletrônicos, que cresceu 7,4% de
1999 para 2000).
O
consumo de energia elétrica tem apresentado taxas
de crescimento maiores que as do PIB (Figura 1), o que pode
ser associado à modernização dos setores
econômicos, ao crescimento populacional e à
expansão do setor informal da economia.

Figura 1 - Crescimento do PIB e do consumo de energia -
1993-2003.
Fontes:
IBGE e BEN/MME, 2003.
Esses
fatores têm compensado a redução do
consumo resultante da utilização de tecnologias
mais eficientes no uso da energia elétrica e explicam
o comportamento da relação entre o crescimento
do consumo e o PIB, que se aproxima da unidade nos ciclos
mais dinâmicos da economia e tende a crescer, alcançando
valores elevados em relação à unidade,
nos períodos de baixo crescimento econômico.
A
partir de 1998, tornou-se evidente que o país corria
o risco de sofrer racionamentos de energia, o que de fato
ocorreu em 2001. Se a demanda continuar crescendo sem que
a geração seja aumentada, novos racionamentos
e até blecautes poderão ocorrer. Para equacionar
o problema, o Comitê Coordenador do Planejamento Energético
(CCPE) elaborou o Plano Decenal 2002-2011, que tem como
objetivo aumentar o suprimento de energia elétrica
a curto e médio prazos, considerando as características
da matriz energética do país, baseada no elevado
potencial hidrelétrico do país, bem como a
necessidade de sua complementação para minimizar
a influência de regimes hídricos desfavoráveis.
A
Figura 2 apresenta a variação do consumo de
energia no Brasil no período de 1999 a 2003. Observa-se
a queda no consumo no ano de 2001, conseqüência
do racionamento ocorrido naquele ano.

Figura
2 - Variação do consumo de energia no Brasil
- 1999-2003.
Fonte: Eletrobrás, Matriz Energética,
2004.
A
Tabela 1 apresenta os parâmetros de crescimento considerados
no Plano Decenal e a Tabela 2 os acréscimos de potência
instalada previstos nesse Plano, segundo três cenários
econômicos analisados pelo MME em 2002: superação
da crise e crescimento elevado (A); superação
da crise e crescimento sustentado (B); e crise recorrente
(C). Aos valores da Tabela 2, devem ser adicionados 900
MW dos sistemas isolados e 12.900 MW provenientes de fontes
alternativas (pequenas centrais hidrelétricas, de
biomassa e eólicas).
Tabela
1 - Parâmetros de crescimento do Plano Decenal - 2002-2011.
Crescimento |
2001/2006
(A) |
2006/2011
(B) |
2001/2011
(C) |
Econômico
(% ao ano) |
3,5 |
5,0 |
4,3 |
Consumo
(% ao ano) |
6,0 |
7,0 |
6,5 |
Elasticidade |
1,714 |
1,400 |
1,512 |
Fonte:
MME,
2002.
Tabela
2 - Acréscimos da potência instalada (MW).
Cenário |
Usina |
Total |
A
gás |
Hidrelétrica |
Térmica |
A
carvão |
A.
Superação da crise e
crescimento elevado |
6.964 |
7.490 |
4.309 |
1.700 |
20.463 |
B.
Superação da crise e
crescimento sustentado |
6.964 |
10.740 |
8.309 |
700 |
26.713 |
C.
Crise recorrente |
4.331 |
8.540 |
12.509 |
700 |
26.080 |
Fonte:
MME, 2002.
O
plano prevê ainda a implantação de 2.605
km de linhas de transmissão de 500 kV, na interligação
Norte-Sul, integrando os sistemas elétricos Norte/Nordeste
e Sul/Sudeste/Centro-Oeste, os quais concentram mais de
95% da geração e do consumo de energia elétrica
do país. Estudos técnicos e econômicos
têm demonstrado que a diversidade hidrológica
existente entre esses dois sistemas pode ser explorada economicamente
por meio de um intercâmbio de energia elétrica.
A expansão do sistema Norte/Nordeste em direção
ao sul, associada à expansão do sistema Sul/Sudeste/Centro-Oeste
em direção ao norte, irá fortalecer
a interligação desses sistemas.
Também
é abordada no plano a interligação
com redes elétricas de países vizinhos, objetivando
importar seus excedentes.
2.1.1
Importância de Angra 3
- topo
O
planejamento do setor de energia elétrica deve considerar
as dimensões e as peculiaridades do país,
as soluções possíveis para o atendimento
da demanda, a disponibilidade de fontes renováveis,
em especial a hidrelétrica, as limitações
das reservas nacionais de combustíveis fósseis
e a existência de reservas significativas de combustível
nuclear. O entendimento do papel reservado à participação
da energia nuclear no planejamento envolve as seguintes
considerações:
•
Apesar da crescente utilização das energias
eólica, solar e da biomassa, a geração
de grandes blocos de energia elétrica continuará
dependendo das usinas hidrelétricas, das termelétricas
que utilizam combustíveis fósseis e das nucleares;
• Em virtude do grande impacto que a falta de energia
elétrica provoca na economia e na qualidade de vida
da população, a análise da competitividade
das diversas fontes não deve ser feita apenas sob
o aspecto econômico, sendo necessário levar
em conta também outras variáveis, como a garantia
do fornecimento de energia e a diversidade das fontes de
geração, para minimizar vulnerabilidades;
• Face à limitação das reservas
nacionais de combustíveis fósseis, têm
de ser levadas em conta a possibilidade, a necessidade ou
a maior atratividade econômica da utilização
desses combustíveis em outros setores que não
o de geração de eletricidade, uma vez que,
enquanto as reservas minerais disponíveis no país
podem ser controladas, as não disponíveis
exigem, para sua obtenção, a transferência
de recursos para o exterior;
• Face o tempo considerável requerido para a
implantação de novas unidades de geração
de energia elétrica e o estabelecimento de uma rede
confiável de distribuição, o planejamento
decenal do setor deve ser considerado como de curto prazo;
o de longo prazo deve considerar um horizonte de 50 anos;
• A adoção de tecnologias que alterem
radicalmente o cenário atual, como o emprego de reatores
rápidos regeneradores e de fusão nuclear na
geração de eletricidade, ou o uso intensivo
de hidrogênio nos meios de transporte, requer um longo
tempo de maturação. Como a tecnologia é
muito importante na geração e na distribuição
da energia elétrica, é prudente no planejamento,
mesmo que de longo prazo, preservar a tecnologia nuclear
absorvida e acompanhar sua evolução no mundo,
visando o aprimoramento da utilização das
reservas nacionais de urânio.
No
Brasil, as usinas hidrelétricas continuarão
a desempenhar um papel preponderante no suprimento da demanda,
seja pelo baixo custo relativo da energia gerada, seja por
utilizar uma fonte renovável. Entretanto, o país
não pode prescindir da geração térmica.
Angra
3 está dentro da faixa de economia em que se situam
as demais fontes térmicas e apresenta a vantagem
de permitir a consolidação e o aprimoramento
da experiência tecnológica já absorvida
pelo país na área nuclear. Sua implantação
reduzirá a necessidade na área Rio, que abrange
os Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo,
de importação de energia elétrica gerada
em outros Estados, o que resultará em um melhor desempenho
do sistema elétrico interligado.
A
entrada em operação de Angra 3 resultará
na disponibilidade imediata de cerca de 10,8 mil GWh/ano
de energia elétrica na área Rio, a um custo
compatível com o custo marginal de expansão
do sistema elétrico interligado. Em um contexto mais
amplo, proporcionará uma ampliação
da oferta de energia elétrica nas regiões
Sudeste e Centro-Oeste, reduzindo os riscos de déficit,
principalmente nos períodos hidrológicos secos,
além de agregar um aumento significativo à
base técnica do sistema elétrico interligado,
atendendo à política de diversificação
da matriz energética nacional.
O
Estado do Rio de Janeiro, o segundo Estado da Federação
na formação do PIB brasileiro, necessita de
um sistema elétrico consistente e confiável,
condição essencial para a manutenção
e a expansão de seu parque industrial e de suas demais
atividades. Entretanto, ao contrário do que acontece
com a energia primária, em que o Estado é
o maior exportador nacional em função da extração
de petróleo e gás natural, o Rio de Janeiro
é um importador de energia elétrica. A energia
elétrica gerada pelas concessionárias no Estado
já foi inferior a 50% da demanda. O cenário
mudou a partir de 2000, com um salto na geração,
como pode ser visto na Tabela 3 e na Figura 3. O início
da operação da usina de Angra 2 em 14 de julho
de 2000, contribuiu visivelmente para este crescimento,
adicionando ao sistema 1350MW.
Tabela
3 - Geração e consumo de eletricidade no Estado
do Rio de Janeiro - 1980-2002.
Ano |
Geração |
Consumo |
Participação
da geração no consumo (%) |
1980 |
7.027 |
17.007 |
41,32 |
1981 |
6.960 |
17.210 |
40,44 |
1982 |
6.938 |
18.640 |
37,22 |
1983 |
8.202 |
20.392 |
40,22 |
1984 |
8459 |
21.616 |
39,13 |
1985 |
10.242 |
22.261 |
46,01 |
1986 |
9.495 |
23.844 |
39,82 |
1987 |
9.274 |
24.149 |
38,40 |
1988 |
8.667 |
24.568 |
35,28 |
1989 |
9.665 |
25.376 |
38,09 |
1990 |
8.862 |
25.824 |
34,32 |
1991 |
8.736 |
25.776 |
33,89 |
1992 |
8.811 |
26.012 |
33,87 |
1993 |
7.825 |
26.238 |
29,78 |
1994 |
7.041 |
26.781 |
26,29 |
1995 |
9.620 |
28.586 |
33,65 |
1996 |
11.884 |
29.492 |
40,16 |
1997 |
12799 |
32.277 |
39,65 |
1998 |
13.324 |
34.313 |
38,83 |
1999 |
16.222 |
35.213 |
46,07 |
2000 |
19.174 |
32.280 |
59,40 |
2001 |
27.393 |
28.869 |
94,89 |
2002 |
23.460 |
27.747 |
84,56 |
Fonte:
Balanço Energético do Estado do Rio de Janeiro
1980-1999, SEINPE, 1999. Balanço Energético
Nacional (BEN), 2003.

Figura
3 - Geração e consumo de energia no Estado
do Rio de Janeiro - 1980-2002.
Fonte: Balanço Energético do Rio
de Janeiro 1980-1999, SEINPE 1990; BEM, 2003.
O
Rio de Janeiro é sensível às decisões
sobre os investimentos no setor elétrico a serem
realizados fora de suas divisas. O Estado situa-se em ponta-de-linha
e fica, assim, extremamente vulnerável a contingências
operacionais, ocorrentes no sistema elétrico interligado
Sul/Sudeste/Centro-Oeste. São conhecidas as dificuldades
enfrentadas pelo Rio de Janeiro devido a problemas recentes
de queda e de desligamento de linhas de transmissão
de energia elétrica.
A
energia recebida no Estado é gerada em usinas situadas
de 392 a 1.229 km de distância de sua principal subestação,
Adrianópolis (Figura 4). Uma queda nas linhas de
transmissão de energia provenientes da Usina Hidrelétrica
de Itaipu pode deixar o Rio de Janeiro às escuras
e paralisar suas atividades produtivas.

Figura
4 - Distância entre as usinas hidrelétricas
e a subestação de Adrianópolis.
Fonte: Eletronuclear
As
participações de Angra 1 e 2 na geração
de energia no país, em 2003, foram de 1,2% e 3% respectivamente,
enquanto as usinas termelétricas responderam por
7,2%, as hidrelétricas por 77,4% e a parte importada
por 11,2% (Figura 5). Embora a participação
da energia nuclear seja pequena em termos globais, deve
ser considerado que ela provém de apenas duas usinas.
Só Angra 2, que é a de maior capacidade instalada
(1.350 MWe), gerou 10.498,5 GWh em 2001 e, segundo
a publicação Nucleonics Week (2002),
foi a 16ª usina nuclear mais produtiva do mundo, tendo
atingido mais de 32 milhões de MWh ao final de 2003.

Figura
5 - Participação de Angra 1 e 2 na geração
de energia.
Fonte: Eletrobrás, BEN/MME, agosto de
2004.
Angra
3 será uma usina praticamente idêntica a Angra
2 e sua entrada em operação não só
resultará em um aumento substancial na base térmica
do sistema Sudeste, como contribuirá para aumentar
a confiabilidade operacional do sistema elétrico
nacional e reduzir a dependência do Estado do Rio
de Janeiro de suprimento externo.
A
Tabela 4 mostra a matriz energética do Estado do
Rio de Janeiro. Em destaque a participação
da geração termonuclear, 29,35% sobre os 6.257,7
GW produzidos no Estado, representada pelas duas usinas
em operação da CNAAA: Angra 1 e Angra 2. Hoje,
dos empreendimentos voltados para a geração
de energia em construção no Estado (Tabela
5), 99,63% são termelétricos.
Tabela
4 - Matriz energética do Estado do Rio de Janeiro
- empreendimentos em operação.
Tipo |
Quantidade |
Potência
(kW) |
% |
CGH |
3 |
1.090 |
0,02 |
PCH |
7 |
28.797 |
0,47 |
UHE |
10 |
1.230.520 |
20,06 |
UTE |
18 |
2.867.069 |
46,74 |
UTN |
2 |
2.007.000 |
32,07 |
Total |
40 |
6.257.726 |
100,00 |
Fonte:
BIG - Banco de Informações de Geração,
Aneel, dezembro de 2004.
Legenda:
CGH - Central Geradora Hidrelétrica
PCH - Pequena Central Hidrelétrica
UHE - Usina Hidrelétrica
UTE - Usina Termelétrica
UTN - Usina Termonuclear
Tabela
5 - Empreendimentos em construção no Estado
do Rio de Janeiro.
Tipo |
Quantidade |
Potência
(kW) |
% |
PCH |
2 |
6.220 |
1,20 |
UTE |
2 |
1.647.000 |
99,63 |
Total |
4 |
1.680.220 |
100,00 |
Fonte:
BIG - Banco de Informações de Geração,
Aneel, dezembro de 2004.
Legenda:
PCH - Pequena Central Hidrelétrica
UTE - Usina Termelétrica
Se
observarmos a matriz energética do Estado do Rio
de Janeiro em um cenário futuro (com a construção
e operação de Angra 3), apresentada na Tabela
6 abaixo, pode-se verificar que a participação
da energia termonuclear passaria a ser de 36,63% sobre o
total gerado.
Tabela
6 - Empreendimentos em operação no Estado
do Rio de Janeiro - cenário futuro (*).
Tipo |
Quantidade |
Potência
(kW) |
% |
CGH |
3 |
1.090 |
0,01 |
PCH |
9 |
35.017 |
0,38 |
UHE |
10 |
1.230.520 |
13,43 |
UTE |
20 |
4.541.069 |
49,55 |
UTN |
3 |
3.357.000 |
36,63 |
Total |
45 |
9.164.696 |
100,00 |
Fonte:
BIG - Banco de Informações de Geração,
Aneel, novembro de 2004.
Legenda:
CGH - Central Geradora Hidrelétrica
PCH - Pequena Central Hidrelétrica
UHE - Usina Hidrelétrica
UTE - Usina Termelétrica
UTN - Usina Termonuclear
(*) o cenário futuro se refere às usinas já
liberadas para construção pela Aneel em 2004.
A
Tabela 7, elaborada com base em estimativas de demanda e
oferta constantes do Plano Decenal de Expansão 2001-2010,
mostra a participação da energia nuclear no
atendimento à demanda de energia elétrica
no Brasil e nas regiões Sudeste e Centro-Oeste em
2009, verificando-se que o conjunto das usinas da CNAAA
será responsável por 4,7 % da oferta de energia
elétrica no sistema interligado e por 8,3% nas regiões
Sudeste e Centro-Oeste. A participação de
Angra 3 será de 1,9% no sistema interligado e de
3,3% nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Tabela
7 - Participação da energia nuclear na oferta
e na demanda de energia elétrica - 2009.
Item/Sistema |
Sistema
interligado
nacional |
Regiões
SE e CO |
A.
Demanda |
498,0
TWh |
281,9
TWh |
B.
Necessidade de oferta |
572,7
TWh |
324,2
TWh |
C.
Geração bruta de Angra 1, 2 e 3 |
26,9
TWh |
26,9
TWh |
D.
Participação na oferta (C/B) |
4,7% |
8,3% |
E.
Geração bruta de Angra 3 |
10,8
TWh |
10,8
TWh |
F.
Participação na oferta (E/B) |
1,9% |
3,3% |
G.
Geração líquida de Angra 1, 2 e
3 |
25,5
TWh |
25,5
TWh |
H.
Participação na demanda (G/A) |
5,1
% |
9,0% |
I.
Geração líquida de Angra 3 |
10,2
TWh |
10,2
TWh |
J.
Participação na demanda (I/A) |
2,0% |
3,6% |
Fonte:
Plano Decenal de Expansão 2001-2010, CCPE.
2.2
HISTÓRICO
- topo
As
atividades no setor de energia nuclear no Brasil tiveram
início após a Segunda Guerra Mundial, com
a realização de pesquisas básicas na
área de enriquecimento de urânio. Após
a criação, em 1951, do Conselho Nacional de
Pesquisas (CNPq), começou a ser formulada a política
nacional de energia nuclear.
Em
1956, a American and Foreign Power Co. (AMFORP), que até
1965 controlou diversas concessionárias de energia
no Brasil, divulgou sua intenção, não
concretizada, de instalar uma usina nuclear de pequeno porte
(10 MWe) perto da cidade de Cabo Frio, no Estado
do Rio de Janeiro. Em outubro do mesmo ano, começou
a ser divulgada a idéia de se implantar uma usina
nuclear com potência de 150 a 200 MWe,
às margens do rio Mambucaba, no município
de Parati, também no Estado do Rio de Janeiro. Em
dezembro de 1959, foi criada a Superintendência do
Projeto Mambucaba e um consórcio de empresas nacionais
e estrangeiras foi encarregado de realizar estudos mais
profundos; porém o projeto foi abandonado face a
conjuntura econômica do país à época.
Em
agosto de 1962, a Lei Federal Nº 4.118 delegou à
CNEN a competência para projetar, construir e operar
usinas nucleares no Brasil. Outros estudos foram realizados
por organizações nacionais e de outros países
até que, em 1967, o Governo Federal resolveu dinamizar
o programa de energia nuclear por meio de um projeto integrado
ao plano de expansão do parque gerador nacional.
A CNEN foi transferida para a jurisdição do
Ministério das Minas e Energia (MME), ao qual já
era subordinada a Centrais Elétricas Brasileiras
S.A. (Eletrobrás) e, em junho de 1967 foi constituído
um grupo de trabalho integrado por representantes dessas
três instituições, bem como do Conselho
de Segurança Nacional, para estudar o assunto.
Em
abril de 1968, como resultado do trabalho do grupo, a CNEN
e a Eletrobrás assinaram um convênio, no qual
foram estabelecidos os fundamentos para a implantação
de um programa de geração de energia nuclear
no país, com finalidades comerciais e integrada ao
sistema elétrico existente, bem como definidas a
competência e as atribuições de cada
uma, ficando a Eletrobrás encarregada de projetar,
construir e operar usinas nucleares no Brasil, diretamente
ou através de suas subsidiárias.
Com
base no Relatório Canambra, resultante de um estudo
que envolveu o levantamento dos recursos energéticos
da região centro-sul por consultoras canadenses,
americanas e brasileiras, o grupo de trabalho recomendou
um aumento da ordem de 500 MWe na energia térmica
gerada na região, até meados da década
de 70, utilizando energia nuclear, com duplo objetivo: complementar
as necessidades regionais de energia elétrica e criar
no país condições para o desenvolvimento
de técnicas e a aquisição de experiência
no campo da geração elétrica nuclear,
para atender a futuras necessidades.
Entre
abril e junho de 1968, a Agência Internacional de
Energia Atômica (IAEA - International Atomic Energy
Agency), atendendo à solicitação
do Governo brasileiro, enviou ao Rio de Janeiro um grupo
de especialistas norte-americanos, ingleses, canadenses
e suecos que, em conjunto com engenheiros da CNEN e da Eletrobrás,
elaborou o documento Energia nuclear para a região
centro-sul do Brasil, conhecido como Relatório
Lane (sobrenome do líder do grupo, James A. Lane).
Esse documento forneceu as bases para a implantação
da primeira usina nuclear no país e foi importante
na definição dos passos seguintes do programa
nuclear brasileiro.
Para
implantar a usina, a Eletrobrás escolheu, em 1969,
sua maior subsidiária, Furnas Centrais Elétricas
S.A., responsável pela geração e transmissão
de energia elétrica na região Sudeste e em
parte da região Centro-Oeste. Nessa escolha, foram
considerados o fato de o sistema elétrico de Furnas
ter dimensões compatíveis com a potência
instalada prevista para a usina - cerca de 600 MWe
- e a bem sucedida experiência da empresa na
construção e operação de usinas
hidrelétricas e termelétricas convencionais,
além de seu pioneirismo nos sistemas de transmissão
elétrica em alta e extra-alta tensões. Foi
considerado também o fato de Furnas operar na região
Sudeste, onde se situava a área escolhida para a
implantação da usina, Itaorna, no município
de Angra dos Reis, no Estado do Rio de Janeiro.
A
seleção dessa área contou com a assessoria
técnica das firmas norte-americanas Nuclear Utility
Services Corp. (NUS) e Weston Geophysical Research
Inc. e do professor George Virsch, do Departamento de
Geociências da Universidade Cornell dos EUA, e tomou
como base o documento "Escolha de locais para instalação
de reatores de potência" da CNEN (1969).
O
reator selecionado foi do tipo a água pressurizada
(PWR), da empresa norte-americana Westinghouse Electric
Corp. ,após concorrência internacional da qual
participaram outros detentores da tecnologia PWR (Combustion
Engineering Co. e Kraftwerk Union A.G., KWU), bem como
detentores das tecnologias BWR (boiling water reactor,
das empresas Asea e KWU) e SGHWR (steam-generating heavy-water
reactors, da empresa The Nuclear Power Group Ltd.,
TNPG). A Westinghouse foi a empresa que previu a
maior participação da indústria nacional
no fornecimento de componentes e a usina, denominada Angra
1, foi construída entre março de 1972 e setembro
de 1981, tendo entrado em operação comercial
em janeiro de 1985.
O
modelo de desenvolvimento do setor nuclear adotado na década
de 70 apoiava-se na expectativa de crescimento da economia
e da demanda de energia elétrica e em estimativas
atraentes do custo da geração nuclear. Na
época, a demanda de energia na região Sudeste,
até 1990, estava estimada em cerca de 10.000 MWe
e não poderia ser atendida pelas fontes então
disponíveis, uma vez que o potencial hidrelétrico
identificado como economicamente aproveitável seria
totalmente utilizado até 1985 e a crise do petróleo,
iniciada no final de 1973, inviabilizava a instalação
de grandes usinas termelétricas a óleo. Nestas
condições, o "Plano de instalações
necessárias ao atendimento das necessidades de energia
elétrica das regiões Sudeste e Sul do Brasil",
conhecido como Plano 90, da Eletrobrás, que contemplava
o período 1970-1990, estabelecia para o período
1980-1990 um mercado de seis a oito usinas nucleares de
1.200 MWe, além de Angra 1.
A
experiência de outros países na implantação
de seus programas nucleares indicava claramente que era
necessário estabelecer uma concepção
global para a implantação da energia nuclear
no Brasil sob a coordenação do Governo Federal.
Por outro lado, havia - se concluído que a construção
de usinas nucleares por intermédio de concorrências
sucessivas, considerando em cada caso apenas o preço
mais conveniente, a exemplo do ocorrido em Angra 1, levaria
a uma multiplicidade de tipos de usina e tecnologia, que
inviabilizaria o estabelecimento de uma infra-estrutura
de engenharia e industrial que assimilasse todos eles.
Razões
de ordem técnica, econômica e política
indicavam a necessidade de se estabelecer um programa de
implantação de usinas nucleares, numa dimensão
e num ritmo que permitissem a transferência de tecnologia,
a participação crescente da engenharia e da
indústria nacional, e a implantação
do ciclo do combustível nuclear. Os estudos realizados
pela CNEN indicavam a importância de se fixar uma
linha de reatores para o programa nuclear e enfatizavam
as dificuldades e a inviabilidade técnico-econômica
de se desenvolver, em tempo hábil, uma linha própria
de reatores.
Assim,
em junho de 1974, a Eletrobrás autorizou Furnas a
construir uma segunda usina nuclear, Angra 2, ao lado de
Angra 1, e, um ano depois, o Decreto Nº 75.870 autorizou
a ampliação da CNAAA mediante a construção
de uma terceira Unidade, Angra 3, tendo sido escolhido para
as novas usinas o mesmo tipo de reator (PWR) selecionado
para Angra 1. O complexo nuclear formado pelas três
usinas recebeu, por intermédio de Lei Federal, o
nome de Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto
- CNAAA, em homenagem ao pioneiro da energia nuclear no
Brasil.
O
programa nuclear concebido deveria atender o mercado identificado
para as usinas nucleares e possibilitar a plena capacitação
do país para projetar, construir e operar todas as
instalações que compõem o denominado
ciclo do combustível nuclear. Para tanto, o Governo
Federal buscou parceria com os EUA e a França - que
estabeleceram barreiras ao acesso do Brasil à tecnologia
de enriquecimento de urânio - e com a então
República Federal da Alemanha, que ofereceu condições
mais condizentes com as pretensões brasileiras.
Em
27 de junho de 1975, o Brasil e a Alemanha assinaram o Acordo
de cooperação no campo dos usos pacíficos
da energia nuclear, conhecido como Acordo Nuclear Brasil-Alemanha,
e um protocolo de cooperação industrial, que
estabelecia as medidas destinadas à sua implementação.
O acordo previa a construção de oito usinas
nucleares e a transferência de toda a tecnologia necessária
ao desenvolvimento do setor, mediante o aumento progressivo
da participação da engenharia e da indústria
nacionais na construção e na operação
das usinas.
Entre
1972 e 1974, as atividades industriais do setor nuclear
foram desenvolvidas pela Companhia Brasileira de Tecnologia
Nuclear (CBTN), empresa subsidiária da CNEN, criada
em 1972 para equacionar a implantação da energia
nuclear com uma base industrial nacional. Em dezembro de
1974, a Lei Federal Nº 6.189 transferiu a atividade
para a Empresas Nucleares do Brasil S.A. (Nuclebrás),
criada como holding de um grupo de empresas responsáveis
pela implantação do programa nuclear e contando
com o acordo Brasil-Alemanha para assegurar a transferência
de tecnologia do ciclo do combustível nuclear, da
construção e da operação de
usinas.
Ao
sistema Nuclebrás foi conferido praticamente o monopólio
da pesquisa mineral, da mineração, do beneficiamento
e da metalurgia do urânio, inclusive da etapa crítica
do enriquecimento, ou seja, da implantação
do ciclo completo do combustível nuclear, bem como
do planejamento, do projeto e da fabricação
de usinas nucleares, padronizadas com reatores do tipo PWR
e com a utilização de urânio levemente
enriquecido como combustível. As atividades relacionadas
à indústria de equipamentos nucleares também
foram atribuídas ao sistema Nuclebrás.
Em
julho de 1976, no âmbito do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha,
Furnas comprou os componentes importados das usinas Angra
2 e 3 da empresa alemã Kraftwerk Union (KWU), subsidiária
da Siemens A.G. A KWU ficou com a responsabilidade técnica
global do empreendimento, incluindo o estabelecimento dos
critérios de projeto, o desenvolvimento dos projetos
básico e detalhado dos sistemas do ciclo primário,
a revisão dos serviços de projeto, o fornecimento
dos equipamentos importados, a supervisão da montagem,
o comissionamento das usinas e a garantia de desempenho
dos equipamentos e das usinas como um todo. Do lado nacional,
coube a então Nuclebrás Engenharia S.A. -
Nuclen, criada em dezembro de 1975 como parte do sistema
Nuclebrás, o detalhamento do projeto básico
sob a supervisão da KWU, a fiscalização
da construção e da montagem das usinas, a
responsabilidade pela assistência técnica à
engenharia e à indústria brasileiras para
a absorção de tecnologia e o gerenciamento
da aquisição dos equipamentos nacionais. O
cronograma original previa a entrada em operação
comercial de Angra 2 em maio de 1983, e de Angra 3, em dezembro
de 1984.
De
1974 a 1981, quando Furnas era responsável pelo gerenciamento
do empreendimento e pela provisão de recursos em
moeda nacional para a construção, o cronograma
de Angra 2 sofreu um atraso significativo, devido a problemas
surgidos durante a execução das fundações
do prédio do reator, que exigiram o reforço
do estaqueamento inicialmente projetado, após um
longo período de estudos e discussões técnicas
com a CNEN.
Em
outubro de 1980, o Decreto-Lei Nº 1.810 e o Decreto
Nº 85.290 atribuíram à Nuclebrás
a responsabilidade pela construção e a montagem
das usinas relacionadas ao acordo Brasil-Alemanha, sendo
então criada a Nuclebrás Construtora de Centrais
Nucleares S.A. - Nucon, que assumiu, em julho de 1981,
a responsabilidade pela construção de Angra
2 e 3. Furnas receberia as usinas prontas para operar em
contrato do tipo turn-key e a entrada em operação
ocorreria em junho de 1987, no caso de Angra 2, e em dezembro
de 1988, no de Angra 3.
A
partir de 1983, as reduções nas dotações
orçamentárias, a não concretização
da demanda de energia elétrica na quantidade prevista,
o aumento do potencial hidrelétrico conhecido, os
problemas ocorridos no início da operação
de Angra 1 e a reformulação dos programas
de pesquisa e desenvolvimento, acarretaram a desaceleração
progressiva do ritmo de implantação das usinas.
De 1986 em diante, os recursos passaram a cobrir pouco mais
do que os custos fixos de manutenção da infra-estrutura
implantada e dos equipamentos adquiridos, impossibilitando
qualquer avanço na construção.
Em
outubro de 1988, por intermédio do Decreto-Lei Nº
2.464, ratificado em 1989 pela Lei Nº 7.862, o Governo
Federal reformulou o setor nuclear com base nas recomendações
de um grupo de trabalho interministerial, coordenado pela
Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional
e integrado por representantes da Seplan e dos ministérios
das Minas e Energia e da Fazenda, com o objetivo de estabelecer
as condições necessárias à viabilização
da conclusão de Angra 2 e 3. Assim, a Nuclebrás
foi extinta, as atividades de elaboração de
projeto e de construção de usinas nucleares,
assim como o treinamento de operadores, foram transferidas
para o setor elétrico; a Nuclen teve sua razão
social alterada para Nuclen Engenharia e Serviços
S.A. e o simulador para treinamento de operadores foi transferido
para Furnas, que reassumiu a construção e
a montagem de Angra 2 e 3.
Em
dezembro de 1989, o Artigo 3º da Lei Federal nº
7.915 consignou dotação no orçamento
geral da União para complementar os recursos necessários
à conclusão das usinas, porém os recursos
não foram liberados, razão pela qual as atividades
de construção, custeadas exclusivamente com
recursos de Furnas, foram reduzidas ao mínimo.
Em
1991, com a aprovação da exposição
de motivos 189/91, do então Ministério da
Infra-Estrutura, que dispunha sobre o estabelecimento de
uma política nacional de energia, o Governo Federal
decidiu concluir Angra 2 e interromper a construção
de Angra 3. Durante a elaboração do projeto
foram criadas várias comissões para analisar
o andamento e rever a viabilidade do empreendimento, tendo
todas recomendado o prosseguimento das obras.
Ao
longo de 1992, seguindo a orientação do Governo
Federal, Furnas se empenhou para levantar os recursos necessários
à conclusão de Angra 2. Os resultados e as
ações propostas para viabilizar a conclusão
do empreendimento foram incluídos na exposição
de motivos interministerial 071/92, aprovada pelo Governo
em 1993.
Em
maio de 1995, o Governo Federal, tendo decidido privatizar
o setor elétrico, incluiu Furnas no Programa Nacional
de Desestatização (PND), pelo Decreto Nº
1.503. Entretanto, o Artigo 3o do Decreto Nº 1.204,
de julho de 1994, havia excluído do programa as empresas
públicas e as sociedades de economia mista que exercessem
atividade de competência exclusiva da União,
e, de acordo com o Artigo 177 da Constituição
Federal, o inciso V desse artigo considerava como monopólio
da União "a pesquisa, a lavra, o enriquecimento,
o reprocessamento, a industrialização e o
comércio de minérios e minerais nucleares
e seus derivados".
Para
que Furnas pudesse ser privatizada, a CNAAA, complexo formado
pelas três usinas nucleares, teria de sair de seu
controle, o que levou o Governo Federal a determinar, por
intermédio da Eletrobrás, que fosse feita
a cisão dos ativos e passivos de Furnas referentes
à CNAAA e que os mesmos fossem incorporados à
Nuclen, ao amparo do Artigo 26 da Lei Nº 9.074, de
julho de 1995. O processo foi concluído em maio de
1997, com a realização de assembléias
gerais extraordinárias por Furnas e Nuclen, para
aprovação da cisão e da incorporação,
e com a autorização da constituição
da nova organização por decreto presidencial.
Em dezembro de 1997, outro decreto presidencial aprovou
as alterações no estatuto social da Nuclen
e sua nova razão social, que passou a ser Eletrobrás
Termonuclear S.A. - Eletronuclear.
Em
princípios de 1997, a Eletronuclear (àquela
época Nuclen) iniciou a elaboração
de um Estudo de Reavaliação de Angra 3, que
tinha por objetivo principal a verificação
da possibilidade de redução do custo de geração
da usina, através de racionalizações
e/ou otimizações que poderiam ser introduzidas
no projeto, nas especificações, nos métodos
de trabalho e em outros procedimentos e documentos técnicos.
Em
março de 1998, como resultado intermediário
deste Estudo de Reavaliação, a Eletronuclear
submeteu à Eletrobrás e às autoridades
superiores um Estudo Preliminar de Viabilidade de Angra
3 que era fruto destas avaliações internas,
visando prioritariamente, a redução de todos
os custos envolvidos no empreendimento. Neste Estudo Preliminar
também se comparou Angra 3 com seus possíveis
competidores, levando-se em conta o contexto do mercado
em que as novas usinas deveriam inserir-se.
Este
documento demonstrou também que seria possível
obter uma redução nos custos de geração
até então divulgados, como conseqüência
de racionalizações de projeto e de otimizações
organizacionais passíveis de serem implementadas
no projeto.
Em
fins de 1998, a Eletrobrás contratou a empresa Iberdrola
(geradora espanhola com ampla experiência na área
nuclear) e a Electricité de France (EDF) para
realizar avaliações independentes do Estudo
de Viabilidade submetido pela Eletronuclear e para fornecer
pareceres independentes sobre os diversos aspectos envolvidos
em empreendimentos desta natureza. Os estudos de ambas consultoras
sinalizaram no sentido de que Angra 3 é uma usina
viável dentro das condições especificadas
de rentabilidade.
No
final de 1999, a Eletronuclear decidiu promover uma reavaliação
do estudo de viabilidade de Angra 3 e das auditorias independentes
realizadas pela Electricité de France (EDF)
e a Iberdrola, contidas nos documentos Technical economic
feasibility study for the completion of Angra 3 Nuclear
Plant e Central Nuclear 3 - Estudio de Viabilidad, respectivamente.
A reavaliação, envolvendo a participação
de uma instituição internacional independente
de reconhecida competência técnica, tinha como
objetivos verificar a conveniência da retomada da
implantação do empreendimento e dar transparência
à sua competitividade frente a outras fontes de energia.
O trabalho foi feito pelo Electric Power Research Institute
(EPRI), em associação com o Oak Ridge National
Laboratory (ORNL), e os resultados, constantes do relatório
A brief review of prior assessments of the cost to complete
Angra 3, emitido em junho de 2001, ratificaram as conclusões
dos três documentos analisados.
Em
junho de 2000, paralelamente à reavaliação,
o Decreto Nº 3.520 estruturou o Conselho Nacional de
Política Energética (CNPE), que havia sido
criado em agosto de 1997 pela Lei Nº 9.478, tendo como
objetivos promover o aproveitamento racional dos recursos
energéticos do país e estabelecer as diretrizes
para programas específicos, entre os quais os relacionados
à energia nuclear.
Em
sua segunda reunião ordinária, realizada em
dezembro de 2000, o CNPE analisou aspectos estratégicos,
tecnológicos, socioambientais, operacionais e de
mercado relacionados a Angra 3, enfocando o empreendimento
isoladamente e sua contribuição para a diversificação
da matriz energética do país; seu impacto
sobre o sistema de suprimento de energia elétrica
ao Estado do Rio de Janeiro e seu efeito na estimulação
do setor nuclear como um todo e na otimização
dos custos da Eletronuclear, tendo decidido que seriam levantados
os seguintes dados para orientar os conselheiros, quanto
às recomendações acerca de Angra 3
a serem encaminhadas ao Presidente da República:
•
histórico da introdução da energia
nuclear no Brasil;
•
legislação e obtenção de licenças
no setor nuclear;
•
situação da geração termonuclear,
incluindo a produção de Angra 1 e os problemas
ocorridos no início de sua operação,
bem como a construção e a entrada em operação
de Angra 2;
•
aspectos elétricos e energéticos relativos
ao suprimento dos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito
Santo;
•
tecnologia dos reatores brasileiros, incluindo o ciclo do
combustível nuclear;
•
aspectos estratégicos do parque nuclear nacional;
•
aspectos socioambientais da geração de energia
nuclear, incluindo a conservação ambiental,
a produção e o acondicionamento de rejeitos
radioativos, a implantação do plano de emergência,
a inserção regional dos empreendimentos, a
geração de empregos e a aceitação
pública;
•
experiência internacional da indústria nuclear
em termos de participação na produção
de eletricidade, comparativamente com outras fontes e programas
em desenvolvimento;
•
tendências da energia nuclear no mundo e em regiões
específicas;
•
situação de Angra 3 em termos de evolução
do projeto, progresso físico, necessidade de recursos
para sua conclusão, custos de produção
e condições de comercialização
da energia produzida.
Em
junho de 2001, após a análise desses dados,
os membros do CNPE solicitaram, de comum acordo com a Secretaria
Nacional de Energia (SNE), informações complementares
sobre:
•
A importância de Angra 3, em termos de acréscimo
na produção de energia e na receita da Eletronuclear;
•
A indústria do ciclo do combustível nuclear,
considerando a racionalização no uso da capacidade
instalada na Indústrias Nucleares do Brasil (INB)
e a implantação em suas instalações
da unidade de enriquecimento isotópico, com tecnologia
desenvolvida pela Marinha do Brasil;
•
A situação atual do projeto e os equipamentos
já entregues, explicitando sua atualidade, a conservação
e o uso da mesma tecnologia em outros países;
•
A confiabilidade do cronograma quanto à sua viabilidade
em comparação com empreendimentos similares
implantados no exterior e com Angra 2;
•
A confiabilidade do orçamento em comparação
com o de Angra 2 e com a avaliação de entidades
externas (Iberdrola, EDF, GEPEA-USP, EPRI/ORNL);
•
A competitividade econômica com as opções
disponíveis para o aumento da oferta de energia (usinas
hidrelétricas licitadas em 2001 pela Agência
Nacional de Energia Elétrica - Aneel, e usinas termelétricas
a gás natural em implantação no âmbito
do Programa Prioritário de Termelétricas -
PPT);
•
Os recursos financeiros para a conclusão de Angra
3 segundo hipóteses de modelagem, contemplando supplier’s
credit, recursos próprios e financiamentos ao proprietário;
•
O passivo contratual existente, relacionando contratos assinados,
suas características e renegociações
necessárias;
•
O armazenamento de rejeitos radioativos, legislação
correlata e solução definitiva para a disposição
dos rejeitos de médio e baixo níveis de atividade;
•
As perspectivas da geração de energia nuclear
no Brasil após a conclusão de Angra 3 e a
responsabilidade do Ministério de Ciência e
Tecnologia na definição da política
nacional de energia nuclear.
Em
agosto de 2001, na segunda reunião ordinária
do CNPE, foram submetidas à aprovação
três propostas para a retomada da construção
de Angra 3. A primeira propunha o estabelecimento de uma
moratória para novos investimentos em reatores nucleares,
incluindo Angra 3, até que outro caminho fosse definido
por uma política nacional de geração
de energia elétrica de origem nuclear de longo prazo.
A
segunda propunha autorizar a Eletronuclear a revisar o orçamento
para a conclusão de Angra 3 com o acompanhamento
de entidade independente; dar continuidade aos processos
de licenciamento ambiental e nuclear; promover as negociações
necessárias ao equacionamento econômico, financeiro
e orçamentário, bem como do passivo contratual;
e realizar os trabalhos preliminares necessários
ao início das obras civis, como drenagem, limpeza
do terreno e recomposição do canteiro de obras,
subordinando a assinatura de quaisquer contratos à
aprovação prévia dos ministérios
da Fazenda, do Planejamento e das Minas e Energia, bem como
à definição, pela CNEN, de solução
para a disposição dos rejeitos radioativos
até a entrada em operação comercial
do empreendimento.
A
terceira proposta era idêntica à anterior,
porém propunha vincular a assinatura dos contratos
a uma nova autorização do CNPE, cerca de um
ano depois.
A
escolha da proposta a ser adotada foi adiada por solicitação
do Ministério do Meio Ambiente, que pediu tempo para
a análise do material e promoveu apresentações
e debates sobre o empreendimento com a comunidade acadêmica,
organizações não governamentais e Federação
das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e do Rio
de Janeiro (Firjan). Em seguida, convocou uma reunião
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), realizada
em 14 de novembro de 2001, para consolidar seu posicionamento
ante o CNPE.
Em
dezembro de 2001, na quarta reunião ordinária
do CNPE, a retomada da implantação de Angra
3 foi aprovada pela Resolução Nº 5, desde
que tivessem ocorrido previamente os seguintes eventos:
aprovação, pelos ministérios da Fazenda,
do Planejamento, Orçamento e Gestão e das
Minas e Energia, de proposta da Eletronuclear para o equacionamento
econômico, financeiro e orçamentário
para a conclusão de Angra 3; aprovação,
pelo Ministério do Meio Ambiente, de proposta da
Eletronuclear para o equacionamento ambiental de Angra 3,
levando em conta a Moção 031 aprovada na 32ª
Reunião Extraordinária do Conama; e definição
pela CNEN de solução para o armazenamento
dos rejeitos de baixo e médio níveis de radioatividade,
a ser implementada até a entrada da usina em operação
comercial.
Na
mesma Resolução, foi concedida autorização
à Eletronuclear para revisar o orçamento para
a conclusão de Angra 3, com o acompanhamento de entidade
independente; para retomar os processos de licenciamento
nuclear e ambiental; para negociar o equacionamento do passivo
contratual; para negociar o equacionamento econômico,
financeiro, orçamentário e ambiental do empreendimento,
incluindo os financiamentos necessários e um tratamento
específico para o fundo de descomissionamento; para
executar a drenagem, a limpeza da área e a recomposição
do canteiro de obras; e para realizar estudos comparativos
de custos de geração por Angra 3 e outras
fontes de energia.
Ficou
decidido ainda que, após a conclusão de Angra
3, a implantação de novas usinas nucleares
ficaria condicionada à avaliação do
uso de tecnologia nuclear para a geração de
energia, a ser feita por um grupo de estudos formado e integrado
por representantes de universidades, instituições
de pesquisa, entidades empresariais e representantes dos
ministérios das Minas e Energia, do Meio Ambiente
e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, sob a coordenação do Ministério
de Ciência e Tecnologia e custeada pela Eletronuclear.
A empresa deveria se estruturar como uma prestadora de serviços
na área nuclear, preservando o conhecimento existente
por meio de um programa específico, e o Ministério
de Minas e Energia criaria um grupo de acompanhamento das
ações da Eletronuclear, relacionadas às
questões abordadas na Resolução, formado
por um representante de cada ministério componente
do CNPE, pelo presidente da Eletronuclear e por um membro
da sociedade civil indicado pelo Ministério das Minas
e Energia.
Ao
longo de 2001, as atividades de engenharia relacionadas
à implantação de Angra 3 concentraram-se
no desenvolvimento de estudos técnicos, na revisão
de documentos do projeto básico e na elaboração
do projeto executivo.
Em
2002, foram desenvolvidas as seguintes atividades:
•
estabelecimento e implementação das ações
para os equacionamentos econômico-financeiro, ambiental
e da disposição de rejeitos do empreendimento,
consubstanciadas no documento "Angra 3 - Plano de
atendimento às exigências e expectativas do
CNPE e Conama para a retomada do empreendimento";
•
contratação da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) e da Belgatom para a avaliação
comercial dos contratos de fornecimento nacionais firmados,
visando sua renegociação, e para a definição
da forma e das condições de aquisição
dos demais suprimentos;
•
contratação da Fundação de Apoio
à Universidade de São Paulo (Fusp) para a
elaboração de estudo dos impactos da entrada
em operação de Angra 3 quanto aos aspectos
relacionados à inserção elétrica
e energética;
•
contratação da Fundação Coppetec,
da UFRJ, para a elaboração de estudo comparativo
de custos de geração nuclear e de outras fontes
de energia elétrica;
•
conclusão do estudo de orçamento e das condições
gerais do projeto, elaborado pela Fusp;
•
contratação de instituições
científicas e universitárias para a elaboração
da caracterização e do diagnóstico
dos meios físico, biótico e socioeconômico
das áreas de influência direta e indireta do
empreendimento, bem como de empresa para integrar esses
estudos de forma a compor o EIA e o Rima de Angra 3;
•
renegociação do contrato com a Andrade Gutierrez
para a execução das obras civis;
•
assinatura de termo de cooperação entre a
Eletronuclear e a CNEN para o equacionamento da disposição
definitiva dos rejeitos radioativos.
•
contratação da Fundação de Apoio
a Universidade de São Paulo - Fusp, para elaboração
de um relatório com a análise independente
dos investimentos necessários e do cronograma para
implantação da usina termonuclear Angra 3,
com vistas a subsidiar a tomada de decisão pelo CNPE,
em cumprimento a decisão constante da Resolução
Nº 5, da reunião de 05 de dezembro de 2001,
sobre a construção dessa usina, no sentido
de "revisar o orçamento para concluir Angra
3 com a realização de um acompanhamento independente",
englobando: a) avaliação do planejamento físico
e orçamentário da construção
de Angra 3 em termos de prazos e custos, com ênfase
na transparência da estimativa dos custos remanescentes
para completar o empreendimento; b) análise das modificações
cogitadas pela Eletronuclear para Angra 3 em relação
a Angra 2; c) análise dos custos das obrigações
e compromissos ao manter paralisada a construção
de Angra 3 e d) análise dos custos decorrentes, caso
a decisão venha a ser a de não construir a
usina.
Em
julho de 2002, a Portaria do MME - Ministério de
Minas e Energia Nº 131 cria o Grupo de Trabalho com
o objetivo de acompanhar as ações da Eletronuclear,
relativas à retomada de Angra 3, conforme disposto
no art. 5º da Resolução CNPE Nº
5. Em setembro do mesmo ano, pela Resolução
CNPE Nº 8, considerando as conclusões do relatório
apresentado pelo CNPE através do Grupo de Acompanhamento
das ações da Eletronuclear, considerando a
disposição da Eletrobrás de garantir
o financiamento do empreendimento, considerando a Moção
do Conama Nº 031 de novembro de 2001, considerando
os trabalhos relacionados ao empreendimento Angra 3 e considerando
o Plano Decenal de expansão do Sistema Elétrico
2002 - 2011 delibera que a Eletronuclear deva adotar
medidas para a retomada de Angra 3, tais como: (art. 4º)
proposta de financiamento para a construção
de Angra 3, bem como para a amortização da
dívida nos primeiros anos de operação.
Em
julho de 2003, pela Resolução Nº 7, o
CNPE resolve constituir um Grupo de Trabalho para analisar
o contexto e as implicações técnicas,
ambientais, sociais e econômicas relativas ao empreendimento
Angra 3 e extingüe o Grupo de Acompanhamento das ações
da Eletronuclear que havia sido criado pelo art. 5º
da Resolução Nº 5.
Pela
Portaria de 18 de maio de 2004, a Ministra de Estado de
Minas e Energia designa, nos termos do art. 2º da Resolução
Nº 7, um Grupo de Trabalho composto pelos representantes
dos Ministérios: de Minas e Energia, do Planejamento,
Orçamento e Gestão, da Ciência e da
Tecnologia e do Meio Ambiente, para analisar o empreendimento
Angra 3, no prazo de 180 dias, a contar da data de publicação
da Portaria.
2.3
JUSTIFICATIVAS
- topo
A
energia elétrica pode ser gerada a partir de fontes
renováveis e não renováveis. As fontes
renováveis são a água, o sol, o vento,
o mar e a madeira, utilizados para a geração
de energia hidrelétrica, eólica, das marés
e geotérmica. As não renováveis são
o carvão mineral, o gás natural, os derivados
de petróleo e o urânio, empregados na geração
térmica de energia elétrica.
2.3.1
Justificativas Técnicas
- topo
Das
usinas que utilizam fontes renováveis, as hidrelétricas
são a única opção viável
técnica e economicamente para a geração
de grandes blocos de energia elétrica firme. As demais,
em que pese a possibilidade de seu emprego para o atendimento
a pequenas demandas em regiões que possuam condições
naturais adequadas, não são uma opção
garantida de produção contínua de energia
elétrica. A luz solar e os ventos são intermitentes,
exigindo nas usinas uma capacidade extra de acumulação
de energia, para que o fornecimento seja confiável.
Por sua vez a biomassa requer uma área de extensão
considerável (400.000 ha para cada 1.000 MWe gerados)
para o plantio de árvores. A geração
de energia a partir das marés ainda não dispõe
de tecnologia suficientemente desenvolvida.
Das
usinas que utilizam fontes não renováveis,
as opções óbvias no caso do Brasil
são as usinas nucleares e a gás natural, tendo
em vista as limitações das reservas nacionais
dos outros combustíveis fósseis e a existência
de reservas significativas, além de comprovadas,
de gás natural e de urânio.
A
fonte térmica para a geração de energia
elétrica nas usinas nucleares é o urânio,
sendo que os reatores tanto podem utilizar nêutrons
térmicos, de baixa energia cinética, quanto
nêutrons rápidos, de alta energia.
Os
reatores nucleares térmicos (que funcionam com os
nêutrons térmicos) são os mais comuns,
e são classificados segundo os materiais utilizados
como combustível, para a sua refrigeração
e como moderador de nêutrons. Podem ser divididos
em três grandes linhas conceituais:
•
reatores a água leve (Light-Water Reactors
- LWR);
•
reatores a água pesada pressurizada (Pressurized
Heavy-Water Reactors - PHWR); e
•
reatores a gás (Gas-Reactors - GR).
Os
reatores nucleares térmicos subdividem-se conforme
a Tabela 8 a seguir.
Tabela
8 - Tipos de reatores nucleares térmicos e suas subdivisões.
Reatores |
Subdivisões |
Reatores
a água leve
(Light-Water Reactors - LWR) |
Reatores
a água pressurizada
(Pressurized Water Reactors - PWR) |
Reatores
a água fervente
(Boiling Water Reactors - BWR) |
Reatores
a água leve e grafite
(Light-Water Graphite Reactors - LWGR) |
Reatores
a água pesada pressurizada
(Pressurized Heavy-Water Reactors - PHWR) |
- |
Reatores
a gás (Gas Reactors - GR) |
Reatores
refrigerados a gás
(Gas-Cooled Reactors - GCR) |
Reatores
avançados refrigerados a gás
(Advanced-Gas-Cooled Reactors - AGR) |
Reatores
refrigerados a gás de alta temperatura
(High-Temperature-Gas-Cooled Reactors - HTGR) |
Fonte:
Eletronuclear.
Os
reatores nucleares rápidos (que funcionam com nêutrons
rápidos) atualmente em uso são conhecidos
como reatores rápidos regeneradores (Fast-Breeder
Reactors - FBR).
Para
as usinas integrantes da CNAAA, foram escolhidos reatores
do tipo PWR, que utilizam urânio enriquecido e água
leve como refrigerante / moderador. Esses reatores foram
desenvolvidos nos Estados Unidos e o primeiro exemplar fabricado
foi instalado no submarino nuclear Nautilus, da Marinha
americana, lançado ao mar em 1955. Destinado à
propulsão da embarcação, esse primeiro
reator, projetado e construído pela Westinghouse,
foi adaptado pela empresa para a geração de
energia elétrica e instalado na usina de Shippingport
(60 MWe de potência instalada), que entrou em operação
em 1957.
A
tecnologia dos reatores tipo BWR foi desenvolvida, também
nos Estados Unidos, pela General Electric Co. (GE), e a
primeira usina nuclear a utilizá-los foi Dresden
1 (220 MWe de potência instalada), que entrou em operação
em 1960.
Nas
décadas de 60 e 70, vários reatores dos tipos
PWR e BWR foram instalados em usinas americanas e exportados
para outros países. Além da Westinghouse,
dois outros fabricantes americanos entraram no mercado de
reatores PWR, a Babcock & Wilcox Co. e a Combustion
Engineering Co. Neste período, a Westinghouse transferiu
a tecnologia de construção dos reatores PWR
para a empresa alemã Siemens, que introduziu melhorias,
sobretudo na parte de instrumentação e controle,
por intermédio da Siemens Kraftwerk Union AG (KWU),
bem como para a francesa Framatome e a japonesa Mitsubishi
Heavy Industry Ltd. (MHI). A GE associou-se à empresa
alemã AEG, à sueca Asea-Atom e às japonesas
Toshiba Corp. e Hitashi Ltd. para a construção
de usinas BWR.
Na
década de 50, a então União Soviética
iniciou estudos visando a fabricação de reatores
nucleares, e desenvolveu simultaneamente duas tecnologias,
a dos reatores do tipo VVER, equivalentes aos reatores americanos
PWR, e a dos reatores a urânio enriquecido resfriados
a água leve e moderados a grafite, do tipo LWGR ou
RBMK.
Segundo
dados da International Atomic Energy Agency (IAEA),
das 439 usinas nucleares em operação no mundo
em 2003, totalizando uma capacidade instalada líquida
de 364,61 GWe (bruta de 387 GWe), 80,87% utilizavam reatores
resfriados e moderados a água leve comum dos tipos
PWR, BWR ou VVER (versão soviética para o
PWR). Os reatores PWR são utilizados em 27 países
e compreendem 60,59% dos reatores instalados no mundo (Figura
6), considerando-se os VVER.

Figura 6 - Usinas nucleares
em operação (de um total de 439) em 2003.
Fonte: IAEA, agosto de 2004.
Nota: VVER é
a versão soviética do PWR.
Em
termos de capacidade instalada líquida, do total
de 364,61 GWe em operação em 2003, os reatores
resfriados e moderados a água leve representam 86,77%
do total em operação, sendo 65,37% do tipo
PWR (Figura 7), considerando-se os VVER. Das 59 usinas nucleares
em operação na França, 58 dispõem
de reator do tipo PWR, sendo que nesse país a energia
nuclear responde por aproximadamente 76% da energia produzida.

Figura 7 - Capacidade instalada
líquida (em MWe) por tipo de usina em operação
em 2003.
Fonte: IAEA, agosto de 2004.
Das
25 usinas nucleares em construção em agosto
de 2004, 56% serão equipadas com reatores PWR e 28%,
com reatores VVER (Tabela 9).
Tabela
9 - Usinas nucleares em construção -
2004.
País |
Quantidade |
Tipo
(*) |
Argentina |
1 |
PHWR |
China |
2 |
PWR |
Coréia
do Norte |
1 |
PWR |
Finlândia |
1 |
EPR
(PWR) |
Índia |
6 |
PHWR |
2 |
VVER |
Irã |
2 |
PWR |
Japão |
1 |
ABWR |
1 |
BWR |
Coréia
do Sul |
1 |
PWR |
Romênia |
1 |
PHWR |
Rússia |
2 |
VVER |
1 |
LWGR |
Ucrânia |
3 |
VVER |
Total |
25 |
|
(*)
ABWR: reator avançado a água fervente
refrigerado e moderado a água leve
PHWR: reator pressurizado moderado e refrigerado
a água pesada
PWR: reator pressurizado moderado e refrigerado a
água leve
BWR: reator a água fervente refrigerado e
moderado a água leve
VVER: reator pressurizado refrigerado e moderado
a água leve (versão soviética do PWR)
LWGR: reator resfriado a água leve e moderado
a grafite
Fonte: AIEA, agosto
de 2004.
Nos
Estados Unidos, país detentor do maior parque gerador
de energia nuclear do mundo, atualmente com 104 usinas em
operação e 98.298 MWe de potência instalada
em 2003, foi estabelecido um conjunto de ações
destinadas a fortalecer a geração de energia
nuclear, que inclui a ampliação em cerca de
20 anos da vida útil das unidades em operação,
o desenvolvimento de reatores mais econômicos, seguros
e não poluidores e o estabelecimento de Yuka Mountain
como local de disposição definitiva dos rejeitos
radioativos de alta atividade, provenientes de todas as
atividades nucleares do país (militares, energéticas,
industriais e de saúde). Até setembro de 2004,
26 usinas já haviam tido aprovação
para ampliação de suas vidas úteis,
somando-se assim 22.795 MW de potência, e outras 19
usinas aguardavam a liberação pelo órgão
regulador americano Nuclear Regulatory Commission
- NRC (ver Tabela 10).
Tabela
10 - Usinas nucleares dos EUA - ampliação
da vida útil em 20 anos.
Situação
(até 09/2004) |
Tipo |
Quantidade |
Potência
(MWe) |
Aprovadas |
PWR |
22 |
18.761 |
BWR |
4 |
4.034 |
Aguardando
Aprovação pelo NRC |
PWR |
9 |
7.585 |
BWR |
9 |
8.160 |
Com
solicitação prevista pelo operador |
PWR |
15 |
13.938 |
BWR |
8 |
7.335 |
Fonte:
NEI (Nuclear Agency Institute), setembro de 2004.
As
usinas PWR, especialmente as projetadas e construídas
pela Siemens/KWU, têm apresentado um ótimo
desempenho operacional, tanto no que diz respeito à
quantidade de energia elétrica gerada, quanto em
relação ao fator de disponibilidade acumulado.
As dez maiores usinas geradoras de energia elétrica
nuclear do mundo são do tipo PWR, sendo que as três
primeiras delas e outras cinco são usinas alemãs
da Siemens/KWU.
A
maior aceitação dos reatores do tipo PWR é
atribuída à sua confiabilidade, proporcionada
pelo rigor dos princípios de segurança que
são aplicados ao projeto, à operação
e à manutenção das usinas, e a economicidade,
proporcionada pela economia de escala decorrente da construção
de reatores de grande porte, pela padronização
e a conseqüente redução do tempo de construção,
licenciamento e por sua estrutura relativamente simples
e compacta, graças à utilização
de urânio enriquecido como combustível e às
propriedades térmicas e neutrônicas favoráveis
da água leve, usada simultaneamente como refrigerante
e moderador.
Quanto
à segurança na geração nuclear,
cabe salientar que por todo o exposto acima e tendo em vista
a experiência de países tecnologicamente mais
adiantados, como Estados Unidos, França, Japão
e Alemanha, a adoção pelo Brasil de usinas
dotadas de reatores do tipo PWR é a mais correta.
2.3.2
Justificativas Econômicas
- topo
A
característica fundamental do Sistema Elétrico
Brasileiro, que o particulariza e o diferencia de outros
países, é que quase 90% da capacidade de geração
instalada é de origem hidráulica, chegando
a cerca de 95%, se for considerada a produção
efetiva média de energia elétrica no País.
Essas proporções devem permanecer em patamares
elevados, nos horizontes de curto e médio prazos,
em razão da melhor competitividade econômica
da geração por hidroeletricidade frente a
outros insumos energéticos.
Ademais,
a existência no Brasil de grandes reservatórios
hídricos com capacidade de regularização
plurianual, condição desfrutada por pouquíssimos
países, esse fato sugere que quaisquer que sejam
os arranjos institucionais que possam vir a ser pretendidos
na matriz elétrica brasileira, a hidroeletricidade
continuará a desempenhar o principal papel nesse
contexto.
Entretanto,
as lições aprendidas a partir do racionamento
de energia elétrica imposto à população
brasileira no período entre junho de 2001 e fevereiro
de 2002, mesmo que este forte contingenciamento do consumo
de energia elétrica não possa ser atribuído
unicamente ao baixo volume de chuvas no verão de
2001, que antecedeu à crise e que se mostrou muito
inferior à média de longo termo, recomendam
uma maior diversificação de matriz elétrica,
visando diminuir a grande dependência de fatores sazonais
a que a hidroeletricidade está submetida.
Alie-se
a essa questão, o fato de que as fontes hídricas
mais econômicas e mais próximas às regiões
de maior consumo - Sudeste e Sul - já vêm sendo
utilizadas em sua maior parte e tendem a se esgotar no médio
prazo. As grandes reservas disponíveis encontram-se
localizadas na Região Amazônica, cujo aproveitamento
exigirá gastos consideráveis na implantação,
e na construção de linhas de transmissão,
que, devido à distância aos grandes centros
consumidores, acarretarão significativas perdas de
energia, contribuindo para aumentos de custos.
No
tocante à evolução do consumo brasileiro
de eletricidade, pode-se inferir que a taxa de crescimento
do consumo de energia elétrica será superior
àquela que representa o crescimento econômico.
Tal assertiva pode ser verificada pelo fator de elasticidade,
comparando-se a taxa média de consumo anual de eletricidade
e a do crescimento econômico, apresentada na Tabela
11, para as décadas de 70, 80 e 90.
Tabela 11 - Comparação
entre os crescimentos médios do consumo de energia
elétrica e do PIB.
Período |
Crescimento
médio do
consumo de eletricidade (%) |
Crescimento
médio
do PIB (%) |
Fator
de
elasticidade |
Década
de 70 |
11,80 |
8,60 |
1,37 |
Década
de 80 |
6,00 |
1,60 |
3,75 |
Década
de 90 |
4,40 |
2,65 |
1,66 |
Fonte:
Eletronuclear
Descartando-se
a década de 80, que apresentou um fator de elasticidade
fora do padrão, pode-se considerar que a tendência
do crescimento do consumo de eletricidade se manterá
cerca de 40% superior ao crescimento do PIB. Assumindo-se
que o crescimento econômico médio do país
nesta década situe-se em 4,5% ao ano, o crescimento
do consumo elétrico deverá situar-se em torno
de 6% ao ano.
Visando
garantir suprimentos que correspondam a esse crescimento
de consumo projetado, o Governo busca formas de diversificar
a matriz elétrica nacional, cujo maior exemplo é
o Programa Proinfa, no qual está prevista a utilização
de diversas fontes energéticas, como por exemplo
a energia eólica e a biomassa, bem como o aproveitamento
de pequenos recursos hídricos, por meio das PCHs
- Pequenas Centrais Hidrelétricas.
Outra
opção para a diversificação
da matriz é a utilização de fontes
térmicas convencionais, representadas principalmente
pelo carvão mineral, pelos derivados do petróleo,
pelo gás natural e pelo urânio.
As
fontes térmicas comerciais disponíveis para
geração de energia elétrica em grandes
blocos são o carvão mineral, os derivados
de petróleo, o gás natural e o urânio,
cujos conteúdos energéticos são apresentados
na Tabela 12. O carvão só é econômico
quando aproveitado nas proximidades de suas jazidas, sendo
que o carvão extraído no sul do país,
apesar de seu baixo poder calórico e alto teor de
cinzas e enxofre, tem sido aproveitado por usinas situadas
na região, como a de Candiota, localizada no Rio
Grande do Sul.
Tabela
12 - Conteúdo energético dos principais
combustíveis.
Combustível |
Pode
produzir
cerca de |
1
kg de madeira |
2
kWh |
1
kg de carvão |
3
kWh |
1
kg de óleo |
4
kWh |
1
m3 de gás natural |
6
kWh |
1
kg de urânio natural |
Usina
nuclear com reator do tipo PWR |
60.000
kWh |
Usina
nuclear com reator do tipo FBR (*) |
3.000.000
kWh |
(*)
FBR - Fast Breeder Reactor
Fonte: International
Nuclear Societies Council, Report on nuclear power.
Quanto
aos derivados de petróleo, a produção
brasileira não é suficiente para atender à
demanda atual e sua utilização para a geração
de energia em larga escala acarretaria um aumento significativo
nas importações, deixando o parque gerador
dependente do fornecimento externo e, portanto, vulnerável
às oscilações de preço e às
crises freqüentes sofridas pelo setor no mercado mundial.
Em
relação ao gás natural, até
recentemente, as restrições à utilização
desta fonte eram semelhantes às atribuídas
aos derivados de petróleo. Em 2001, a geração
nacional do produto, considerando seus diferentes usos (industrial,
comercial e residencial), foi de 14 bilhões de metros
cúbicos, dos quais mais de 45% oriundos do Estado
do Rio de Janeiro e cerca de 4,6 bilhões de metros
cúbicos importados, sobretudo da Bolívia (83,7%
das importações). A reavaliação
recente, pela Petrobras, do volume contido no Campo BS-400
(mais de 400 bilhões de metros cúbicos), situado
na Bacia de Campos, no litoral de São Paulo e junto
à região Sudeste, o maior mercado consumidor
do país, mais do que dobrou as reservas brasileiras
até então avaliadas em 230 bilhões
de m3 e colocou o país no caminho da auto-suficiência.
Entretanto, as usinas termelétricas a gás
provocam impactos consideráveis no meio ambiente,
com a emissão de dióxido de carbono, um dos
responsáveis pelo efeito estufa, e dióxido
de enxofre, um dos indutores da chuva ácida.
Quanto
ao urânio, utilizado nas usinas nucleares, o Brasil
tem uma das maiores reservas do mundo ocidental: 309 mil
toneladas identificadas em apenas um quarto do território
brasileiro (Indústrias Nucleares do Brasil - INB,
2001), quantidade suficiente para alimentar 32 usinas nucleares
equivalentes a Angra 3 por toda sua vida útil.
Ainda
no contexto da utilização do urânio,
a construção de Angra 3 permitirá a
recuperação econômica do montante de
cerca de US$ 750 milhões já investidos na
aquisição dos principais componentes importados
da chamada "Ilha Nuclear", bem como interromperá
o processo de gastos anuais sem retorno, oriundos da estocagem,
preservação e seguros dos equipamentos já
adquiridos.
O
orçamento de referência para a conclusão
da implantação do empreendimento equivale
a US$ 1.835 milhões (base dezembro de 2001), valor
este proveniente das conclusões de estudo independente
realizado pela Universidade de São Paulo através
de sua Fundação de Apoio Técnico, em
atendimento a requisitos estabelecidos por Resolução
do CNPE - Conselho Nacional de Política Energética.
Observe-se
que o valor orçado para a retomada e conclusão
do empreendimento, que engloba todas as fases de implantação:
licenciamento, atividades preparatórias, conclusão
do projeto de engenharia, construção civil,
montagem eletromecânica, comissionamento e todos os
testes de potência, é corroborado, com pequenas
variações a depender do modelo de implantação
idealizado, por outras avaliações independentes,
que precederam à análise da Universidade de
São Paulo, realizadas por consultorias independentes
contratadas para auditar números apresentados em
Estudo de Viabilidade pela própria Eletronuclear.
Esses
consultores, a geradora espanhola Iberdrola, a companhia
francesa EDF - Electricité de France
e o instituto de pesquisa norte-americano EPRI - Electric
Power Research Institute, além de concluírem
por estimativas orçamentárias muito próximas
do valor apresentado pela Eletronuclear, posteriormente
ratificado pela Universidade de São Paulo (compatíveis
com o investimento em centrais nucleares no exterior), ressaltam
que o custo de produção de Angra 3 situa-se
no patamar de competitividade quando comparada ao custo
de geração de usinas térmicas a gás
natural em ciclo aberto ou combinado. Note-se que os custos
de geração aqui referenciados englobam o investimento
necessário para a implantação do empreendimento
(US$ 1.835 milhões), os custos de Operação
e Manutenção, bem como os custos do combustível
nuclear.
A
justificativa econômica para a construção
de Angra 3 pode ser sumarizada nos seguintes aspectos:
•
Orçamento para conclusão compatível
e comparável àqueles oriundos da implantação
de usinas nucleares de mesmo porte no exterior.
•
Recuperação econômica dos investimentos
já realizados em Angra 3 (cerca de US$ 750 milhões).
•
Interrupção do processo de gastos anuais sem
retorno, da ordem de US$ 20 milhões, para a estocagem
e conservação de equipamentos e outras despesas
(seguros, estruturas, etc.).
•
Custo de geração, de acordo com estudos realizados
por consultores externos (Fusp, Coppetec e Mercados de Energia)
compatível com os de usinas térmicas a gás
natural e inferior aos de outras energias alternativas (carvão,
biomassa e eólica).
•
Minimização, comparativamente à geração
térmica a gás natural, do risco cambial e
do impacto na balança de pagamento, devido a:
°
Uso de combustível de baixo custo e que apresenta
somente uma pequena parcela da sua composição
em moeda estrangeira.
°
Maior parcela do investimento ainda a ser realizada em moeda
nacional.
°
Aumento da demanda na NUCLEP (fábrica de equipamentos
pesados, criada no âmbito do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha,
localizada em Itaguaí, RJ), impulsionando sua viabilidade
econômica e reduzindo os gastos com recursos orçamentários
do Tesouro Nacional.
°
Aumento de encomendas em fabricantes e construtores nacionais,
com a conseqüente criação de empregos.
•
Aumento da receita e garantia de escala econômica
a Indústrias Nucleares do Brasil S.A - INB, fabricante
do combustível nuclear.
•
Desoneração do Tesouro Nacional do custeio
às atividades operacionais da INB.
•
Utilização do urânio, matéria
prima estratégica nacional, beneficiada no país,
cujas reservas são a sexta maior em nível
mundial.
2.3.3
Justificativas Socioambientais
- topo
As
fontes com maior potencial de geração hídrica
encontram-se na Amazônia, que reúne cerca de
43% do potencial hidrelétrico nacional. Nessa região,
que abrange as regiões Norte e Centro-Oeste do país,
os rios são caudalosos e a superfície é
bastante plana. Qualquer barragem inundaria grandes áreas,
exigiria a desapropriação de grandes extensões
de terras e o deslocamento das populações
nelas instaladas. Além disso, a Amazônia concentra
uma enorme riqueza biológica e uma grande área
de terras indígenas. Assim, a formação
de grandes reservatórios certamente traria conseqüências
negativas para o meio ambiente.
As
dificuldades para a implantação de usinas
hidrelétricas na Amazônia são de ordens
técnica, econômica e ambiental, aí incluindo-se
dificuldades de licenciamento, morosidade na obtenção
da emissão de posse das propriedades a serem inundadas
e impossibilidade de inundar terras indígenas sem
a aprovação do Congresso, o que desestimula
a participação do setor privado nesses empreendimentos.
Assim, as fontes térmicas convencionais e nucleares
de energia constituem opções viáveis
para complementar a demanda, em especial nos períodos
hidrologicamente desfavoráveis, ou para o atendimento
localizado em períodos de restrições
à transmissão de energia elétrica.
A
utilização de combustíveis fósseis
no mundo tem provocado impactos ambientais negativos, entre
os quais o efeito estufa - provocado pela emissão
de dióxido de carbono ou gás carbônico,
metano e óxido nitroso - e a chuva ácida,
provocada pelas emissões de dióxido e trióxido
de enxofre e de óxidos de nitrogênio. O fato
de as usinas nucleares não emitirem qualquer desses
gases é importante na comparação com
outras fontes térmicas de energia.
Em relação às usinas termelétricas
a carvão, a fonte de geração de energia
elétrica mais utilizada no mundo e responsável
por cerca de 40% de toda a energia elétrica gerada
no planeta, as vantagens das usinas nucleares em termos ambientais
são significativas. Em comparação com
uma usina termelétrica moderna, que utiliza carvão
pulverizado e técnicas avançadas de redução
de emissão de poluentes, uma usina nuclear do porte
de Angra 3 evitaria a emissão anual para a atmosfera
de cerca de 2,3 mil toneladas de material particulado, 14
mil toneladas de dióxido de enxofre, 7 mil toneladas
de óxidos de nitrogênio e 10 milhões de
toneladas de dióxido de carbono (Figura 8). Em comparação
com uma usina termelétrica a gás, as emissões
anuais evitadas por uma usina nuclear do porte de Angra 3
seriam de cerca de 30 toneladas de dióxido de enxofre,
12,7 mil toneladas de óxidos de nitrogênio e
5 milhões de toneladas de dióxido de carbono
(Figura 9)

Figura
8 - Comparação de usina nuclear com
usina a carvão.
Fonte: SIEMENS
(*) MP = material particulado

Figura 9 - Comparação
de usina nuclear com usina a gás.
Fonte: International Nuclear Societies Council
Outro
aspecto a ser considerado é a área necessária
para a implantação de cada tipo de usina.
Para efeito de comparação, a Tabela 13 apresenta
as áreas requeridas para a implantação
de usinas que utilizam fontes de geração renováveis
e não renováveis, com 1.000 MWe
de capacidade, verificando-se que as primeiras exigem áreas
muito maiores que as segundas, acarretando, conforme o caso,
gastos com desapropriações e com indenização
de benfeitorias, deslocamento de população,
alagamento de áreas naturais ou produtivas e descaracterização
da flora e da fauna, com impactos sociais e biológicos
significativos.
Quanto
a esses aspectos, as usinas que utilizam fontes não
renováveis são mais favoráveis, pois
ocupam áreas muito menores, que podem ser implantadas
em locais onde esses impactos sejam menores ou não
ocorram, além da proximidade aos centros de consumo,
com economia em termos de linhas de transmissão.
Tabela
13 - Áreas necessárias para a implantação
de usinas com 1.000 MWe de capacidade.
Fonte
de energia |
Tipo
de usina |
Área
necessária (ha) |
Renovável
(*) |
Hidrelétrica. |
25.000 |
Solar
foto-voltaica, em local muito ensolarado. |
5.000 |
Eólica,
em local com muito vento. |
10.000 |
Biomassa
plantada. |
400.000 |
Não
renovável |
Óleo
e carvão, incluindo estocagem de combustível. |
100 |
|
Nuclear
e gás natural. |
50 |
Fonte
de energia Tipo de usina Área necessária (ha)
Nuclear e gás natural. 50
(*) Valores indicativos, visto que a área depende
da topografia do local de implantação.
Fonte: International
Nuclear Societies Council
Além
disso, os recursos hídricos das regiões Sul
e Sudeste estão quase esgotados no que diz respeito
ao seu aproveitamento para a geração de energia
elétrica. Os recursos hídricos mais abundantes
estão na Amazônia e seu aproveitamento é
praticamente inviável, principalmente por questões
ambientais: a região é muito plana, exigindo
o alagamento de áreas extensas para a formação
de reservatórios; há muita terra indígena,
cuja inundação necessita da aprovação
do Congresso, que demanda um processo moroso e de resultados
imprevisíveis; e a alteração do ecossistema
pode ter conseqüências realmente danosas, sem
falar na reação negativa da sociedade civil
organizada.
As
demais fontes renováveis de energia são inviáveis
para a geração de grandes quantidades de energia,
além de dependerem de fenômenos naturais não
controláveis, (como é o caso da energia solar
e da energia eólica) e de áreas excessivamente
grandes, dentre as quais, a energia geotérmica é
o exemplo extremo. As fontes térmicas constituem
opções viáveis para complementar a
demanda de energia, em especial nos períodos hidrologicamente
desfavoráveis. Entretanto, à exceção
das usinas nucleares, acarretam danos ambientais consideráveis
ou dispêndios, também consideráveis,
para o controle das emissões de poluentes.
Adicionalmente,
as usinas nucleares podem ser instaladas nas proximidades
dos centros de consumo, dispensando extensas linhas de transmissão
e evitando o transporte de grandes fluxos de energia entre
regiões; não dependem de fenômenos naturais,
como o regime hídrico, o que facilita as compensações
de potência reativa, ou seja, as regulações
de tensão elétrica; e necessitam de áreas
pequenas para sua implantação, o que reduz
sobremaneira ou até elimina os impactos sociais relacionados
ao deslocamento de população.
No
caso de Angra 3 em particular, há uma vantagem adicional,
que é o fato de a usina estar projetada para ser
implantada em local onde já se encontram em operação
duas outras usinas nucleares, que dispõem de pessoal
com cultura consolidada em termos de proteção
e segurança, e com cerca de 30 anos de experiência
técnica na área.
Especificamente
na área social, a implantação de Angra
3 resultará na criação de maiores oportunidades
de trabalho em âmbito regional: terá uma média
de 3.613 empregos anuais, atingindo-se um total máximo
de 9.100 empregos na fase de pico da construção
da usina, dos quais 5.700 associados à montagem eletromecânica.
Para a fase de operação, a usina deverá
proporcionar aproximadamente 770 empregos por toda a vida
útil, sem contar o âmbito nacional, com a crescente
participação da mão-de-obra e tecnologia
próprias, em virtude da criação de
programas de nacionalização e qualificação
de peças e componentes em processo de contínuo
desenvolvimento.
2.3.4
Justificativas Locacionais
- topo
Desde
o início da implantação de usinas nucleares
no Brasil, a área ocupada pela CNAAA foi dimensionada
para comportar três unidades, duas das quais -
Angra 1 e Angra 2 - já se encontram em operação.
A terceira será Angra 3.
A
escolha final do sítio de Angra 1, precedida de estudo
de alternativas ao longo do litoral, de dezoito meses de
duração, obedeceu à "Norma para
Escolha de Locais para Instalação de Reatores
de Potência", objeto da Resolução
CNEN - 09/69, de 25 de junho de 1969.
De
acordo com a referida Norma, a seleção do
local envolveu, entre outros, estudos relacionados à
topografia, uso da terra e da água, hidrografia,
oceanografia, meteorologia, geologia e sismologia, e contou
com a assessoria técnica das firmas norte-americanas
Nuclear Utility Services Corp. (NUS) e Weston
Geophysical Research Inc. e do professor George Virsch,
do Departamento de Geociências da Universidade Cornell,
dos Estados Unidos.
Itaorna,
localizada no município de Angra dos Reis, Estado
do Rio de Janeiro, foi escolhida por estar situada em uma
baía protegida, em área de baixa densidade
populacional, de condições geológicas
favoráveis e próxima dos centros de abastecimento
e consumo.
A
implantação das três unidades no mesmo
local objetivou maximizar o aproveitamento da infra-estrutura
necessária ao funcionamento das usinas, incluindo
os recursos logísticos, técnicos e de mão-de-obra
especializada.
Além
disso, a CNAAA se encontra a 190 km da Fábrica de
Elementos Combustíveis (FEC) do Complexo Industrial
de Resende (CIR), pertencente às Indústrias
Nucleares do Brasil (INB) e próxima dos principais
centros consumidores de energia elétrica do país
(133 km da cidade do Rio de Janeiro, 216 km da cidade de
São Paulo e 343 km da cidade de Belo Horizonte).
2.4
DESCRIÇÃO DO EMPREENDIMENTO
- topo
2.4.1 Descrição
de Usina Nuclear com reator tipo PWR (Pressurized Water
Reactor) - topo
Em
uma usina nuclear, o reator é uma fonte geradora
de calor cuja função é similar à
da fornalha da caldeira de uma usina termelétrica
convencional, ou seja, fornecer energia térmica para
a produção do vapor que aciona as turbinas.
Como energia não pode ser criada, mas apenas transformada
de uma modalidade para outra, nesse tipo de usina a energia
nuclear inicial é transformada primeiramente em energia
térmica, depois em energia mecânica e, por
fim, em energia elétrica, que é a forma mais
econômica de ser utilizada e transportada a longa
distância.
O
calor é liberado em um reator nuclear, quando núcleos
de átomos pesados físseis, como o do urânio
235, capturam nêutrons livres em baixa velocidade,
denominados nêutrons térmicos, e se transformam
em núcleos instáveis que, a seguir, fissionam-se
em dois fragmentos mais leves dotados de enorme energia
cinética e liberam raios gama juntamente com dois
ou três nêutrons livres em alta velocidade,
denominados nêutrons rápidos (Figura 10). Esses
nêutrons, depois de desacelerados ou termalizados
por um meio moderador, no caso, a água leve, têm
condições de fissionar outros núcleos
de urânio 235, que emitem mais fragmentos de fissão
e liberam outros dois ou três nêutrons, fazendo
com que o número de fissões ocorra em uma
reação em cadeia auto-sustentável (Figura
11).
Os
fragmentos ou produtos de fissão, que consistem em
diversos nuclídeos radioativos ou radionuclídeos,
sofrem desintegração espontânea ou decaimento
radioativo por meio da emissão de nêutrons
e/ou de radiação alfa, beta ou gama. O choque
dos fragmentos de fissão com os núcleos dos
átomos do material das pastilhas de combustível
nuclear transformam a expressiva energia cinética
com que são liberados em grande quantidade de energia
térmica.

Figura 10 - Processo de fissão
nuclear
Fonte: NATRONTEC (1999a)

Figura
11 - Reação em cadeia auto-sustentável
Fonte: NATRONTEC (1999a)
O
combustível nuclear distingue-se dos combustíveis
fósseis das usinas termelétricas convencionais
por seu alto conteúdo específico de energia
e, em conseqüência, por exigir uma logística
de abastecimento, transporte e armazenamento mais simples.
A fissão de 1 kg de urânio libera a mesma quantidade
de energia calorífica que a combustão de 12.000
barris de petróleo ou de 2.000 toneladas de carvão
mineral de boa qualidade. Assim, diferentemente de uma caldeira,
os reatores nucleares contêm todo o combustível
do qual necessitam para um prolongado período de
operação. Em geral, a cada ano, apenas um
terço do combustível contido no núcleo
do reator é substituído.
A
potência térmica, isto é, a taxa de
calor liberada pelo reator, é controlada pela variação
da taxa de fissões (número de fissões
por segundo) que ocorrem no núcleo e que depende
do número de nêutrons térmicos disponíveis
para causá-las. A diminuição e o aumento
de nêutrons - e, por conseguinte, da taxa de
fissão - são promovidos respectivamente
pela inserção e a retirada das barras de controle
do interior dos elementos combustíveis imersos em
água e/ou pela elevação e a redução
da concentração de boro na água de
refrigeração do núcleo do reator ("circuito
primário").
Os
reatores PWR são projetados para funcionar com coeficientes
negativos de temperatura para o combustível e a água
de refrigeração. Isso significa que um aumento
na temperatura do combustível ou da água de
refrigeração, devido ao aumento da potência
do reator ou à redução da carga do
grupo turbogerador, acarreta uma redução na
quantidade de nêutrons disponíveis para fissão
e, em conseqüência, na potência do reator
ou em sua taxa de subida. Assim, o núcleo do reator
PWR possui certo autocontrole, denominado segurança
intrínseca, que tende a protegê-lo nos casos
de desequilíbrio de carga entre o grupo turbogerador
e o reator. Esta característica protetora inexiste
nos reatores russos do tipo RBMK ou LWGR, nos quais o coeficiente
de temperatura é positivo em certas circunstâncias,
podendo ocasionar uma subida repentina e descontrolada da
potência do reator, como no acidente de Chernobyl.
O
xenônio 135 é um dos produtos de fissão
mais comuns e um grande absorvedor de nêutrons. O
teor deste elemento depende da potência do reator
e pode afetá-la negativamente, pois o aumento da
potência aumenta sua concentração. Este
aumento tende a reduzir a potência, porém sua
ação só é sentida horas após
a variação da potência. A sua importância
aumenta ao longo do ciclo de vida do combustível
devido ao decréscimo gradativo da quantidade de energia
potencial no núcleo, em decorrência de depleção
ou queima (burn-up) dos núcleos de urânio 235
do combustível, a ponto de impedir, às vezes
por até 24 horas, o reinício da partida do
reator após seu desligamento.
A
água de refrigeração do reator (água
comum desmineralizada), devido a sua alta temperatura, é
submetida à alta pressão para não se
transformar em vapor, e assim manter uma taxa efetiva de
transferência de calor. Essa água circula no
denominado circuito primário, no núcleo do
reator, removendo o calor liberado pela fissão nuclear.
Quatro trocadores de calor, denominados geradores de vapor,
transferem o calor para a água de alimentação,
que circula isoladamente no denominado circuito secundário,
transformando-a em vapor saturado seco, que é direcionado
para rodar a turbina mediante a transformação
da energia térmica do vapor em energia mecânica
nos bocais expansores e palhetas.
Para
produzir energia elétrica, a turbina a vapor - um
conjunto uniaxial de turbinas de alta e de baixa pressão
- aciona um gerador elétrico a ela acoplado. Após
a expansão nos diversos estágios da turbina,
com a conseqüente redução de sua pressão
e temperatura, o vapor é condensado e bombeado para
o lado secundário dos geradores de vapor, de forma
a realimentá-los, completando o ciclo termodinâmico,
cujo rendimento térmico é da ordem de 33%,
e dando continuidade ao processo de produção
de vapor.
Por
um terceiro sistema, isolado dos demais, circula a água
utilizada para a condensação do vapor de exaustão
das turbinas de baixa pressão. Denominada água
de circulação ou de resfriamento, essa água
é captada em uma fonte fria externa, que no caso
das usinas da CNAAA é o mar, e devolvida ao mesmo
após ser usada. A Figura 12 apresenta um diagrama
esquemático dos circuitos primário e secundário,
e do circuito da água de resfriamento de uma usina
nuclear PWR típica.

Figura
12 - Circuitos primário, secundário
e da água de resfriamento.
Fonte: NATRONTEC (1999a)
Uma
das vantagens desse tipo de usina nuclear é que o
circuito primário, que contém material radioativo,
fica isolado do circuito secundário por duas barreiras,
que são os feixes de tubos dos geradores de vapor
e dos condensadores. A água do mar circula nos condensadores
sem contato com a água do circuito secundário,
que por sua vez não entra em contato com a água
de refrigeração do reator, do circuito primário.
Isso impede que a água do mar seja contaminada pela
água do circuito primário no caso de vazamento
nos tubos dos geradores de vapor.
Uma
usina nuclear PWR é dotada ainda de diversos sistemas
auxiliares, que complementam o sistema de refrigeração
do reator; de sistemas de segurança, destinados a
resfriar o núcleo do reator e limitar as doses de
radiação em caso de anormalidades; e de sistemas
de alimentação elétrica de emergência,
dotados de geradores Diesel, destinados a suprir os sistemas
de proteção e de segurança em casos
de blecautes por quedas na alimentação elétrica
da usina, pelo gerador elétrico, ou na rede externa,
proveniente das linhas de transmissão. Ao todo, Angra
3 possuirá 113 sistemas auxiliares.
2.4.2
Localização
- topo
A
CNAAA, onde Angra 3 será implantada, situa-se no
distrito de Cunhambebe, município de Angra dos Reis,
Estado do Rio de Janeiro, cerca de 133 km da cidade do Rio
de Janeiro, 216 km da cidade de São Paulo e 343 km
de Belo Horizonte (ver Anexo 1 - Mapa 01 - Situação
e Localização).
A
Central Nuclear, com área aproximada de 1.250 ha,
tem seus lados norte, leste e oeste parcialmente protegidos
por montanhas com elevações que variam entre
200 e 700 metros. O lado sul está voltado para o
mar - Baía da Ilha Grande.
O
principal acesso rodoviário ao local é a rodovia
federal BR-101 (Rio-Santos), que faz a ligação
com a cidade do Rio de Janeiro. O acesso à cidade
de São Paulo é feito inicialmente pela BR-101,
até Caraguatatuba, no Estado de São Paulo,
daí pela rodovia estadual SP-99, até São
José dos Campos, e em seguida pela rodovia federal
BR-116, até a capital do Estado. Essas ligações
permitem o acesso rodoviário ao restante do país.
O
Mapa 01 - Situação e Localização
(Anexo 1) mostra a localização da CNAAA, bem
como a localização de Angra 3 dentro da central
nuclear.
O
Anexo 4 - Planta Esquemática das Áreas
Restritas, Pontos de Emissões, Locais de Lançamento
de Efluentes Líquidos e Sistema de Abastecimento
de Água Doce - CNAAA (Unidades 1, 2 e 3) - mostra
a disposição das três Unidades (Angra
1, 2 e 3) na CNAAA.
2.5
ARRANJO GERAL E DESCRIÇÃO DOS EDIFÍCIOS/ESTRUTURAS
PRINCIPAIS
- topo
O
projeto de Angra 3 prevê a construção
de vários edifícios e estruturas de apoio,
distribuídos conforme mostrado na Planta -
Arranjo Geral da Unidade 3 da CNAAA - Angra 3 (Anexo
5).
O
Edifício do Reator, formado pela estrutura interna
(UJA) e pela estrutura externa (Reator-Annulus - UJB), é
de concreto armado com 60,40 m de diâmetro externo
e 0,60 m de espessura, que envolve a esfera de contenção
e abriga o sistema de resfriamento de emergência do
núcleo. A edificação está projetada
para constituir uma barreira biológica à radiação
ionizante durante a operação normal da usina
e em casos de acidente, bem como para proteger a esfera
de contenção de ventanias, tempestades, ondas
de pressão de explosão e terremotos.
A
esfera de contenção é de aço
e tem 3 cm de espessura, 56 m de diâmetro interno
e destina-se a barrar os materiais radioativos produzidos
no núcleo do reator e no circuito primário.
A esfera foi projetada para resistir à pressão
de 5,3 barman a 145ºC, que se desenvolveria
no caso de ruptura de uma tubulação de um
dos circuitos de refrigeração do reator, seguida
de vaporização de toda a água contida
nos circuitos primário e secundário. Tal situação
é conhecida como acidente com perda de líquido
refrigerante e designada pela sigla LOCA, de Loss-Of-Coolant
Accident.
A
esfera de contenção envolve completamente
o reator, o sistema de geração de vapor, a
piscina dos elementos combustíveis usados e o depósito
dos elementos combustíveis novos, bem como a blindagem
biológica de concreto, de 1,2 a 2 m de espessura,
que circunda o vaso de pressão do reator, como pode
ser visto de forma ilustrativa na Figura 13.

Figura
13 - Estruturas internas à esfera de contenção.
A estrutura de cor vermelha representa o vaso de pressão
do reator.
Fonte: NATRONTEC (1999a)
Anexo
ao prédio do reator, está localizado o Compartimento
de Válvulas de Vapor Principal e Água de Alimentação
(UJE). No Edifício Auxiliar do Reator (UKA) se encontram
as instalações de tratamento dos rejeitos
gasosos, líquidos e sólidos resultantes dos
sistemas instalados no prédio do reator e do próprio
prédio auxiliar do reator. No Edifício Auxiliar
do Reator está instalado um controle de acesso ao
prédio do reator e ao próprio Edifício
Auxiliar do Reator. O controle das operações
da usina encontra-se no Edifício de Controle (UBA).
As
galerias de água de resfriamento dos condensadores
e os transformadores principais (três) e auxiliares
(dois) estão conectados ao Edifício das Turbinas
(UMA), no qual se localiza o Turbogerador. Os demais edifícios
são os de Alimentação de Emergência
e Água Gelada (ULB), o Edifício dos Geradores
de Emergência e Água Gelada (UBP), Laboratório
Convencional (ULD), da Administração (UYA)
e Auxiliar da Administração (UYB).
Complementam
as instalações da usina os tanques de água
desmineralizada (dois), a estrutura de tomada d' água
e casas de bombas (UPC/1+2UQB), a estrutura de tratamento
de efluentes líquidos convencionais (UGN), a estação
de tratamento de esgotos (UGV), os tanques separadores e
coletores de óleo (UGX), a chaminé de descarga
de gases (UKH), o poço de selagem (UQJ), o poço
de coleta da água de refrigeração de
serviço (UQM), a oficina fria (UST), o almoxarifado
de lubrificantes em uso (4USU) e a área de estocagem
de cilindros de gases (UTG).
O
acesso à usina é controlado através
do Prédio da Portaria Principal (UYF).
O
sistema de refrigeração do reator requer,
para seu funcionamento, diversos sistemas auxiliares e complementares.
Os sistemas auxiliares estão destinados a injetar,
escoar, purificar, desgaseificar, ajustar a concentração
de ácido bórico e adicionar produtos químicos
à água de refrigeração, enquanto
os complementares, tratam os rejeitos.
Os
principais sistemas auxiliares são: controle de volume,
purificação da água de refrigeração,
tratamento e armazenamento da água de refrigeração
e controle de produtos químicos. Os principais sistemas
complementares são: de ventilação,
tratamento de rejeitos gasosos radioativos e tratamento
de rejeitos líquidos.
2.5.1
Descrição do Sistema de Dissipação
de Calor
- topo
O
sistema de água de refrigeração dos
condensadores é isolado dos demais, e circula a água
utilizada para a condensação do vapor de exaustão
das turbinas de baixa pressão. Denominado sistema
de água de refrigeração principal,
essas águas são captadas em uma fonte fria
externa, que no caso das usinas da CNAAA é o mar.
Após a utilização nos condensadores
essas águas são devolvidas ao mar. A Figura
12 (página 50) apresenta um diagrama esquemático
dos circuitos primário e secundário, e do
circuito da água de refrigeração de
uma usina nuclear PWR típica.
O
fluxograma geral de processo do sistema de dissipação
de calor é apresentado na Figura 14. Após
circular pelos condensadores para condensar o vapor de exaustão
das turbinas (água de circulação) e
demais trocadores de calor dos sistemas convencionais e
de segurança da usina (água de serviço),
a uma vazão total de 77 m3/s, as águas
de refrigeração de Angra 3 irão se
juntar às águas de refrigeração
de Angra 1 e 2 (40 e 77 m3/s, respectivamente)
e, através de túnel escavado na rocha, serão
lançadas a uma vazão total aproximada de 194
m3/s, no Saco Piraquara de Fora, em local suficientemente
distante do local de captação da água
do mar. Em operação normal, a remoção
das cargas térmicas correspondentes faz com que a
temperatura das águas de refrigeração
fique cerca de 8ºC acima da temperatura de captação.
As plantas - Sistema de Água de Circulação,
Estrutura de Descarga no Saco Piraquara de Fora, folhas
1 e 2 (Anexo 7 e Anexo 8), descrevem as características
dimensionais da referida estrutura.
No
caso de uma eventual indisponibilidade do túnel de
descarga (por manutenção ou evento natural)
as usinas serão desligadas e suas cargas térmicas
residuais removidas apenas pelos sistemas de água
de refrigeração de serviço (bombas
de segurança). Neste caso a restituição
ao mar das águas dos sistemas de refrigeração
de serviço das 3 Unidades da CNAAA será feita
através do duto de descarga de água de refrigeração
de serviço (UQT), com uma vazão total de 9,8
m3/s. O ponto de descarga desse duto se encontra
localizado no Costão de Ponta Grande, em Itaorna.
A temperatura do fluxo de descarga desses sistemas deverá
estar cerca de 5°C acima da temperatura de captação.
Os
sistemas de água de refrigeração de
serviço possuem também bombas de emergência
que são acionadas somente em eventos naturais de
baixa probabilidade. Nesse caso, a vazão total requerida
para o resfriamento será cerca de 2,1 m3/s
(Angra 1, 2 e 3) e a temperatura de descarga dessas águas
deverá ficar, nas primeiras horas após o desligamento
das usinas, aproximadamente 9°C acima da temperatura
de captação.
O
Anexo 4 - Planta Esquemática das Áreas
Restritas, Pontos de Emissões, Locais de Lançamento
de Efluentes Líquidos e Sistema de Abastecimento
de Água Doce - CNAAA (Unidades 1, 2 e 3) mostra a
localização da tomada d' água
(estrutura UPC - detalhada no Anexo 6 - Planta
- Estrutura da Tomada d' água Principal
(UPC - 1/2 UQB) - vista superior) e descarga
de água de refrigeração no Saco Piraquara
de Fora (Anexo 7 e Anexo 8), bem como o duto de descarga
de água de refrigeração de serviço
(UQT).

Figura 14 - Fluxograma de Dissipação
de Calor
Fonte: Eletronuclear
2.5.2
Descrição dos Sistemas de Lançamento
e Tratamento de Efluentes Líquidos
- topo
Os
efluentes líquidos convencionais e radiológicos
gerados na área da CNAAA provêm dos sistemas
de refrigeração principal (água de
circulação), dos sistemas de água de
refrigeração de serviço (trocadores
de calor dos sistemas de refrigeração dos
componentes convencionais e de segurança) (ver Figura
14 do capítulo 2.5.1), de tanques de neutralização,
do sistema de tratamento de efluentes líquidos convencionais
e dos sistemas de tratamento de efluentes sanitários
de cada uma das três usinas.
Em
cada usina da CNAAA em operação (Angra 1 e
2) e para os esgotos sanitários domésticos
efluentes dos prédios de apoio às Usinas da
CNAAA, há uma estação de tratamento
de esgotos sanitários. As estações
foram projetadas para atender as condições
normais de operação das usinas e as paradas
para manutenção.
À
semelhança da usina de referência Angra 2,
Angra 3 terá também uma estação
de tratamento de esgotos sanitários do tipo lodo
ativado e aeração prolongada. Maiores detalhes
são apresentados no item 2.10.3.1, neste documento.
2.5.3
Sistema de Geração de Energia e Unidades Operacionais
- topo
Os
principais dados caracterizadores do Sistema de Geração
de Energia da usina de Angra 3 são apresentados na
Tabela 14 abaixo.
Tabela
14 - Características do Sistema de Geração
de Energia.
Tipo
de Reator: |
PWR
- Pressurized Water Reactor |
Fabricante
/ fornecedor: |
GHH
gmbh - Gütehoffnungshütte (Firma
alemã) / KWU (atual Framatome - ANP) |
Características
do Combustível: |
Urânio
enriquecido |
Procedência: |
Alemanha |
Potência
Térmica do Reator: |
3.765
MWt |
Potência
Elétrica da Usina: |
1.350
MWe |
Eficiência
Térmica da Usina: |
Aprox.
34% |
Vida
Útil da Usina: |
40
anos, prorrogáveis para mais 10 anos |
Fonte:
Eletronuclear
2.5.3.1
Circuito Primário
- topo
O
reator de Angra 3, do tipo PWR, resfriado e moderado à
água leve pressurizada a 157 bar, com potência
térmica de 3.765 MWt e potência elétrica
de 1.350 MWe, compõe-se basicamente de um vaso de
pressão e um núcleo. O vaso de pressão
é um cilindro com 5 m de diâmetro interno,
9,8 m de altura, 25,6 cm de espessura de parede e 506 toneladas
de peso, fabricado em aço forjado de baixa liga e
granulação fina, com revestimento interno
em aço inoxidável, fabricado pela firma alemã
Gütehoffnungshütte.
O
núcleo é formado pelas estruturas de suporte
dos 193 elementos combustíveis, pelos elementos combustíveis,
que são justapostos de modo a formar uma geometria
aproximadamente octogonal, e pelas barras de controle (Figura
15 e Figura 16). A tampa do vaso e a parte superior da estrutura
de suporte e fixação do núcleo são
removíveis, para permitir a recarga dos elementos
combustíveis. O calor proveniente do processo de
fissão do combustível é gerado no núcleo
do reator.

Figura
15 - Corte transversal do reator.
Fonte: NATRONTEC (1999a)

Figura
16 - Corte longitudinal do reator.
Fonte: NATRONTEC (1999a)
O
combustível nuclear do reator é o urânio
enriquecido, presente na forma de pastilhas cerâmicas
de dióxido de urânio, de formato cilíndrico,
tendo cada pastilha 9,11 mm de diâmetro e 11 mm de
altura, empilhadas no interior de tubos fabricados de uma
liga de zircônio e estanho ("Zircaloy 4");
esses tubos comumente denominados "varetas de combustível"
(Figura 17), são hermeticamente fechados e internamente
pressurizados com gás hélio, que reduz as
tensões e deformações durante a operação
nuclear, bem como aumenta a resistência à fadiga
de material. Varetas de combustíveis são montadas
em "elementos combustíveis", sendo o
núcleo completo de combustível nuclear constituído
de um total de 193 elementos combustíveis, cada um
deles com 236 varetas de combustível.

Figura
17 - Vareta de combustível com pastilhas de
dióxido de urânio.
Fonte: NATRONTEC (1999a)
No
interior do vaso de pressão do reator são
introduzidos aproximadamente 105 toneladas de dióxido
de urânio na forma de pastilhas cerâmicas, que
se destacam por sua notável capacidade de retenção
dos chamados "produtos de fissão" derivados
das reações nucleares, bem como por sua resistência
ao ataque químico do meio refrigerante.
Para
maior economia dos nêutrons gerados no reator e melhor
aproveitamento da energia potencial do combustível,
que resulta em ciclos de vida mais longos, de 18 a 24 meses,
bem como para proteger o vaso de pressão contra a
fragilização imposta pelo alto fluxo neutrônico,
o núcleo inicial é carregado com um sistema
de baixa fuga de nêutrons (in-out) com elementos
combustíveis de três valores de enriquecimento
(em peso) de urânio 235: 1,9%, 2,5% e 3,2%. Na região
central do núcleo são colocados elementos
combustíveis com 2,5% de enriquecimento, combinados
com elementos com 1,9%; na região intermediária
mais próxima do centro, elementos com 2,5% combinados
com elementos com 3,2%; na região intermediária
mais próxima à borda, elementos com 3,2% e,
na borda, elementos com 1,9%.
Em
cada recarga do reator, cerca de um terço dos elementos
combustíveis presentes no núcleo é
substituído por quantidade equivalente de elementos
combustíveis novos, de acordo com o esquema conhecido
como in-out, em que os novos elementos combustíveis,
com enriquecimento igual ou maior a 3,2%, são distribuídos
nas regiões central e intermediária próxima
à borda, associadamente aos elementos mais reativos
do ciclo anterior, que poderão ser remanejados para
garantir uma geração de potência mais
uniforme no núcleo. Dos restantes, cerca de dois
terços dos elementos combustíveis menos reativos
do ciclo anterior, aproximadamente um terço é
transferido para a piscina de combustíveis irradiados
e um terço é posicionado na periferia do núcleo.
O enriquecimento dos elementos combustíveis novos
é aumentado progressivamente de 3,6 a 4,3% nas recargas
subseqüentes.
Visando
o estabelecimento da reatividade inicial desejada e o "achatamento"
da distribuição axial de potência do
reator para minimizar os fatores de pico de potência,
são utilizadas no núcleo varetas de "veneno
queimável", contendo gadolínio, que
é um excelente absorvedor de nêutrons. O núcleo
do reator dispõe de 193 elementos combustíveis,
cada um com 3,9 m de altura e 832 kg de peso, sendo 542
kg de urânio. O elemento combustível é
composto de 236 varetas e 20 tubos-guia, distribuídos
em arranjos de 16 x 16 unidades e mantidos no lugar por
grades espaçadoras (Figura 18). Para minimizar os
picos de potência, será realizada substituição
de varetas de urânio (apenas 4, 8 ou 12) por varetas
com gadolínio misturado ao urânio. Em Angra
3 serão utilizados elementos combustíveis
do tipo fuel assembly with optimized cladding and upgraded
structure (montagem de combustível com revestimento
otimizado e estrutura aperfeiçoada), que apresentam
vantagens construtivas e operacionais em relação
aos do tipo convencional.

Figura 18 - Elemento combustível.
Fonte: NATRONTEC (1999a)
As
barras de controle (61 unidades) são utilizadas para
controlar a potência e possibilitar o desligamento
rápido do reator, sendo distribuídas em grupos
de 20 varetas absorvedoras presas pela extremidade superior
a uma peça que, pelo seu formato, é chamada
de "aranha". As varetas absorvedoras movimentam-se
verticalmente, dentro de tubos-guia situados no interior
de 61 dos 193 elementos combustíveis (Figura 19),
e são fabricadas com uma liga fortemente absorvedora
de nêutrons, composta de 80% de prata, 15% de índio
e 5% de cádmio. Cada barra de controle é acionada
por um mecanismo eletromagnético, montado sobre a
tampa do vaso do reator. O desligamento rápido do
reator, interrompendo instantaneamente a reação
em cadeia, ocorre com a queda por gravidade, dentro do núcleo,
de todas as barras de controle, mediante a interrupção
da corrente elétrica nas bobinas de atracamento desses
mecanismos. Os elementos combustíveis e suas respectivas
barras de controle podem ser retirados e recolocados como
uma unidade integrada, durante o recarregamento do núcleo
do reator.

Figura
19 - Elemento combustível com barra de controle.
Fonte: NATRONTEC (1999a)
O
sistema de refrigeração do núcleo do
reator (Figura 20) remove o calor liberado pelo combustível
nuclear (3.765 MWt) e o proveniente da dissipação
de potência das quatro bombas de refrigeração
do reator (17 MWt) e os transporta para os quatro
geradores de vapor. A refrigeração é
proporcionada pela água contida no sistema, que serve
também para reduzir a velocidade dos nêutrons,
propiciando condições adequadas para a fissão
nuclear; para absorver nêutrons, em função
da concentração de boro na água, que
tende a reduzir o número de nêutrons; e para
controlar ou interromper a reação em cadeia.

Figura 20 - Perspectiva isométrica do sistema de
refrigeração do reator.
Fonte:
NATRONTEC (1999a)
A
água de refrigeração do núcleo
circula com uma vazão de 18.800 kg/s, por quatro
circuitos fechados, cada um deles contendo uma bomba de
refrigeração e um gerador de vapor. As quatro
bombas de refrigeração são do tipo
"centrífugo, vertical, de um estágio",
sendo cada uma delas acionada por um motor elétrico
de velocidade constante de grande potência (7,5 MW
operando a temperatura ambiente e 5,6 MW operando com a
água na temperatura nominal de funcionamento). Os
quatro geradores de vapor propiciam a transferência
de energia térmica da água de refrigeração
do reator (circuito primário) para a água
do circuito secundário do reator, em direção
às turbinas e ao gerador elétrico acionado
pelas mesmas (Figura 21).

Figura
21 - Corte longitudinal do gerador de vapor.
Fonte: NATRONTEC (1999a)
A
água de refrigeração entra pela parte
inferior do núcleo do reator à temperatura
de 291,3°C e sai pela parte superior a 326,1°C,
com o reator a plena potência, sendo mantida na condição
de líquido sub-resfriado a uma pressão constante
de 157 barman por meio do pressurizador localizado
em um dos circuitos de refrigeração do reator
(Figura 22). No pressurizador está localizada a única
região do ciclo primário que contém
vapor e líquido saturado. Por meio da vaporização
desse líquido, com aquecedores elétricos,
e da condensação do vapor se mantém
automaticamente constante a pressão do sistema de
refrigeração do reator. Este sistema absorve
os eventuais surtos (contração e expansão
da água de refrigeração provocadas
por desequilíbrios entre a potência do reator
e a carga do grupo turbogerador).

Figura
22 - Corte longitudinal do pressurizador
Fonte: NATRONTEC (1999a)
Os
geradores de vapor são instalados em uma cota superior
à do reator, para promover o resfriamento natural
do núcleo no caso extremo de perda das quatro bombas.
O sistema de refrigeração é fechado
e separado dos circuitos de água e vapor do circuito
secundário, constituindo, assim, uma das barreiras
contra a liberação de radioisótopos
para o meio ambiente, o que torna desnecessária a
blindagem radiológica da turbina. O sistema permite
otimizar as condições químicas da água
e dos materiais empregados nos sistemas dos circuitos primário
e secundário, minimizando a corrosão dos componentes
e a contaminação radioativa dos sistemas do
circuito primário.
2.5.3.2
Circuito Secundário
- topo
O
circuito secundário compreende o espaço entre
os feixes tubulares e a carcaça dos geradores de
vapor; um grupo uniaxial turbogerador com 1.800 rpm de velocidade,
1.350 MWe de potência nominal e 1.275 MWe de potência
líquida, composto de uma turbina de alta pressão
e três de baixa pressão acopladas a um gerador
elétrico; três condensadores; três bombas
de condensado e água de alimentação;
e três conjuntos de aquecedores de baixa e dois de
alta pressão.
O
gerador de vapor é um trocador de calor de superfície
montado verticalmente, com 21,5 m de altura e 480 toneladas
de peso, dotado de um feixe de tubos em forma de U fabricado
com uma liga especial (Incoloy 800). A água de refrigeração
do reator flui dentro dos tubos de cada gerador de vapor
a uma vazão de 4.400 kg/s, transferindo calor para
a água de alimentação, que é
bombeada para o interior das carcaças dos geradores
de vapor.
O
vapor saturado seco a 63,5 barman e 280,3°C,
aí gerado, é conduzido com uma vazão
de 2.056 kg/s para acionar as turbinas e em seguida é
condensado nos condensadores, ao trocar calor com a água
do mar que circula dentro dos tubos. Esse condensado, constituído
de água desmineralizada, hidrazina e amônia
para prevenir a corrosão e combater a presença
de oxigênio dissolvido, é novamente bombeado
para os quatros geradores de vapor pelas bombas de condensado
e de água de alimentação, a uma vazão
de 514 kg/s, com aquecimento gradativo até 218°C
no percurso, por meio de trens de trocadores de calor que
utilizam o vapor extraído das turbinas. Os feixes
tubulares dos geradores de vapor constituem, além
disso, barreiras que impedem a passagem de impurezas radioativas,
eventualmente existentes no circuito primário, para
o circuito secundário de água-vapor.
2.5.3.3
Circuito de Água de Resfriamento
- topo
A
água de resfriamento, utilizada para a condensação
do vapor de exaustão das turbinas de baixa pressão,
é captada no mar, na enseada de Itaorna. Ao atravessar
os condensadores, a elevação de temperatura
da água de resfriamento é de 8°C com a
usina operando com sua potência total. As temperaturas
mínima e máxima da água do mar a 8m
de profundidade na captação de água
de Angra 2 são de 17,5°C a 30,7°C e de 25,5°C
a 38,7°C na descarga.
Para
evitar a incrustação biológica marinha,
também chamada de bioincrustração,
dos equipamentos e sistemas que têm contato com a
água do mar, nela será aplicado hipoclorito
de sódio como biocida. A descrição
sucinta do processo de produção e da aplicação
do biocida é apresentada a seguir (item 2.5.3.4.5).
2.5.3.4
Principais Sistemas Auxiliares
- topo
2.5.3.4.1
Sistema de controle de volume
- topo
Durante
as operações de partida e parada da usina
e nas variações no nível de potência,
ocorrem variações na densidade e na quantidade
da água de refrigeração do reator,
induzidas por variações na temperatura desta.
Tais alterações são compensadas pelo
sistema de controle de volume, que atua em função
da variação de nível do pressurizador,
armazenando temporariamente a água de refrigeração
em excesso e devolvendo-a ao circuito primário quando
a complementação é necessária.
O
fluxo normalmente desviado, por hora, do sistema de refrigeração
do reator continuamente para o sistema de controle de volume
corresponde a 10% da massa total da água de refrigeração,
mas pode chegar a 20% com duas bombas de carregamento operando
simultaneamente. O desvio é feito através
dos trocadores de íons (leitos de resina de troca
iônica) e de um desgaseificador. As partes do sistema
localizadas além do trocador de íons e/ou
do desgaseificador contêm água de refrigeração,
cuja concentração de radionuclídeos
já foi reduzida, ficando de 10 a 1.000 vezes menor,
com exceção do césio. Com a desgaseificação,
a concentração de gases nobres, inicialmente
existentes no refrigerante do reator é reduzida de
100 vezes.
2.5.3.4.2
Sistema de purificação da água de refrigeração
do reator
- topo
As
substâncias radioativas produzidas na fissão
nuclear são predominantemente sólidas, como
os isótopos de césio, cério e estrôncio;
estes ficam retidos na microestrutura do material combustível
e passam para a água de refrigeração
por fissuras microscópicas eventualmente surgidas
nas paredes de algumas varetas de combustível. Na
água de refrigeração, além disso,
devido à sua exposição ao fluxo neutrônico
no núcleo do reator, formam-se radioisótopos
de cobalto, ferro e manganês, a partir de mínimas
quantidades de produtos de corrosão/erosão
presentes nessa água, mas cuja formação
não pode ser totalmente evitada.
Há
também substâncias radioativas gasosas, como
iodo, xenônio e criptônio, que escapam da microestrutura
do combustível e se acumulam nos plenos de gás
de fissão das varetas de combustível, passando
parcialmente para a água de refrigeração
por eventuais fissuras nas paredes de algumas varetas. O
trício, radioisótopo do hidrogênio,
é gerado na própria água de refrigeração
a partir do boro utilizado no controle da reatividade do
reator, enquanto o radioisótopo Nitrogênio-16
resulta da ativação neutrônica sofrida
pelo oxigênio dissolvido na água de refrigeração.
Para
fins de purificação e desgaseificação,
uma parte do fluxo total de água de refrigeração
que circula no reator é extraída continuamente
pelo sistema de controle de volume, purificada em leito
de resinas trocadoras de íons contidas em filtros
de leito misto e reinjetada no sistema de refrigeração
do reator. Um dos leitos é carregado com Li+ e o
outro com H+. O trocador de lítio é o mais
usado e, quando é preciso reduzir a concentração
de lítio ou césio, o trocador de H+ é
posto em operação.
Entretanto,
como essas resinas trocadoras de íons não
podem reter gases nobres (como são os radioisótopos
de xenônio e de criptônio produzidos na fissão
nuclear), nem oxigênio gasoso livre (produzido por
radiólise da água no núcleo do reator),
assim como também não podem reter hidrogênio
gasoso (injetado na água de refrigeração
com a finalidade de reduzir a presença de oxigênio
livre nesse líquido), a extração desses
gases é feita pelo desgaseificador, conectado ao
sistema de controle de volume, após o sistema de
purificação. Esses mesmos gases são
também extraídos continuamente, através
do arraste com nitrogênio gasoso de todos os sistemas
auxiliares que contém água de refrigeração
do reator, e, posteriormente, enviados para o sistema de
tratamento de rejeitos gasosos radioativos.
2.5.3.4.3
Sistema de tratamento e de armazenamento da água
de refrigeração do reator
- topo
Diariamente,
a concentração de ácido bórico
diluído na água de refrigeração
tem que ser reduzida, a fim de compensar a taxa de queima
(burn-up) do combustível, que depende da potência
e do tempo de operação do reator. A redução
é feita mediante a substituição de
parte da água de refrigeração, em quantidades
crescentes ao longo do ciclo de vida do combustível,
determinadas pelo sistema de controle de ácido bórico,
devendo corresponder a uma redução de 3 ppm
de boro por dia. A água de refrigeração
retirada é transferida, após purificação,
para um tanque de armazenamento e posteriormente enviada
ao sistema de tratamento que, por sua vez a separa em água
desmineralizada e solução concentrada de ácido
bórico. Esses produtos são novamente armazenados
e, quando necessário, reinjetados no reator pelo
sistema de controle de ácido bórico.
2.5.3.4.4
Sistema de controle de produtos químicos
- topo
Esse
sistema permite a injeção no sistema de refrigeração
do reator, para fins de inibição de mecanismos
de corrosão, de hidróxido de lítio
(para ajuste do valor do pH) e de hidrazina (para eliminação
de oxigênio dissolvido). A injeção de
hidrazina é feita unicamente no retorno do reator
à operação (após paradas para
recarga de combustível nuclear, por exemplo), caso
necessário.
2.5.3.4.5
Produção de Hipoclorito de Sódio e
sua aplicação como agente biocida na água
do mar
- topo
A
incrustação biológica marinha é
um processo resultante do crescimento de bactérias,
algas e invertebrados sésseis (fixos) sobre superfícies.
Embora a incrustação marinha seja um processo
natural, quando desenvolvida sobre estruturas feitas pelo
ser humano, estimula a corrosão, aumenta a massa
da instalação e confere uma distorção
das configurações iniciais das estruturas.
A
usina Angra 3 será provida de sistema análogo
ao da usina Angra 2 de produção/injeção
de hipoclorito de sódio na água do mar para
resfriamento dos condensadores principais.
O
íon hipoclorito é produzido em unidades de
eletrólise por oxidação anódica
dos íons cloreto disponíveis na água
do mar. Cada usina, , tem seu sistema próprio de
produção de solução a 2,5 g/L
de hipoclorito de sódio em células de eletrólise.
A
água do mar contém cerca de 33 g/L de cloreto
de sódio (NaCl), dos quais aproximadamente 8% são
convertidos em hipoclorito de sódio nos sistemas
de produção. Nesse processo de produção
eletrolítica de hipoclorito de sódio, é
gerado hidrogênio (gasoso) como sub-produto. O hidrogênio
gerado (cerca de 130 m3/h, na unidade de produção
da usina Angra 2) é liberado para a atmosfera sem
sofrer nenhum tratamento, por desnecessário.
A
unidade de produção de hipoclorito de sódio
de Angra 2 produz até 180 m3/h de solução
de hipoclorito de sódio a 2,5 g/L. Mas essa produção
é controlada em função das necessidades
de injeção contínua dessa solução
na água do mar que é captada na Tomada d'Água
(UPC) da usina e é utilizada como água de
resfriamento nos condensadores principais. A solução
de hipoclorito de sódio é injetada nessa água
captada do mar, de modo que, por mistura/diluição
nos até 80 m3/s de água captada,
resulte uma concentração de hipoclorito de
sódio de até 1 ppm (1 miligrama por quilo
de água do mar).
O
parâmetro de controle - nesse processo de produção
e de injeção de hipoclorito de sódio
na água do mar captada - é o valor da concentração
de hipoclorito na água do mar lançada no poço
de selagem principal, mantida em 0,2 a 0,3 ppm (0,2 a 0,3
miligramas por quilo de água do mar) e que depende
do "consumo" de hipoclorito pela matéria
orgânica existente na água do mar captada.
É que o teor de matéria orgânica na
água do mar é variável, dependendo
das estações do ano, temperatura da água,
etc..
O
sistema de produção de hipoclorito de sódio
basicamente não armazena esse produto, que é
injetado na Tomada d'Água (UPC), na mesma quantidade
em que é produzido. Assim, se menos hipoclorito de
sódio é requerido na injeção
na Tomada d'Água (porque o "consumo" desse
produto pela matéria orgânica tenha diminuído),
a produção de hipoclorito de sódio
é reduzida e ajustada ao valor necessário,
através da redução da densidade de
corrente nos eletrodos das células eletrolíticas
das unidades de produção, mantendo-se a vazão
de processo de 160 a 180 m3/h constante. A diminuição
do consumo de energia elétrica nas células
de eletrólise acarreta menores densidades de corrente
elétrica e, conseqüentemente, menor produção
(menor concentração) de hipoclorito de sódio
(e de hidrogênio, como subproduto). Se maiores quantidades
de hipoclorito de sódio são necessárias
em um determinado período de tempo (porque o "consumo"
desse produto pela matéria orgânica presente
na água do mar captada tenha aumentado), aumenta-se
a aplicação de energia nas células
eletrolíticas pelo aumento da densidade de corrente
nos eletrodos; com isso, se produz uma solução
mais concentrada do produto e uma concentração
também maior de hipoclorito de sódio na água
do mar captada, na qual o produto é injetado.
Ocasionalmente,
os bancos de células eletrolíticas precisam
ter removidos os depósitos de cálcio e magnésio
formados no interior das próprias células.
Esses depósitos são formados por carbonatos/hidróxidos
de cálcio e magnésio, derivados da própria
composição da água do mar, que contém
íons Ca 2+ e Mg 2+ em quantidades
apreciáveis, sendo parte inerente ao próprio
processo de eletrólise da água do mar para
a produção de íons hipoclorito. A formação
desses depósitos diminui progressivamente o rendimento
de produção de hipoclorito de sódio,
os quais também tendem a obstruir o fluxo normal
de líquidos que passa através das células
eletrolíticas.
A
remoção desses resíduos sólidos
é simplesmente efetuada pelo tratamento com ácido
clorídrico, injetado em forma de uma solução
a 5% HCl no interior das células. Os resíduos
sólidos de carbonatos/hidróxidos de cálcio
e magnésio reagem prontamente com o ácido
presente, regenerando os íons Ca 2+ e
Mg 2+ em solução, sendo assim completamente
eliminados. Os líquidos resultantes desse tratamento
contém ainda ácido clorídrico livre
e são neutralizados e trazidos à faixa de
pH entre 5 e 9, antes de serem transferidos para o sistema
de tratamento de efluentes líquidos convencionais
de Angra 2, onde são misturados aos demais efluentes
líquidos convencionais de outras fontes.
O
esquema de produção de hipoclorito de sódio
a partir da água do mar na usina de Angra 2 é
mostrado na . É necessário aqui ressaltar
o fato de que o antigo procedimento de "dosagens de
choque" que havia sido previsto no projeto original
do sistema de tratamento biocida da usina Angra 2, foi integralmente
abandonado e jamais praticado. O único procedimento
adotado é o da "dosagem contínua",
nas duas usinas da CNAAA, assim como o será também
na usina Angra 3.

Figura
23 - Angra 2 - Esquema da produção de
solução de hipoclorito de sódio a partir
da água do mar e injeção do produto
na tomada d´água
Fonte: NATRONTEC, 1999a.
2.5.3.5
Principais Sistemas Complementares
- topo
2.5.3.5.1
Sistema de ventilação
- topo
O
ar ambiente na área de acesso controlado pode conter
substâncias radioativas, provenientes de vazamentos
de drenos ou dos trabalhos de manutenção em
sistemas que contenham produtos radioativos. Para remover
essas substâncias, os ramais de exaustão do
sistema de ventilação de Angra 3 serão
equipados com filtros mecânicos, para sólidos
particulados, bem como de carvão ativado, para iodo
gasoso.
No
envoltório da contenção do reator,
a contaminação radioativa pode resultar da
ativação do ar próximo ao vaso de pressão
do reator, por reações de captura de nêutrons,
e de vazamentos eventuais no circuito primário, que
podem liberar pequenas quantidades de substâncias
radioativas no ar circundante. Em todos esses casos, a contaminação
só é capaz de atingir as salas dos equipamentos.
O principal produto da ativação do ar é
o argônio 41 e a ativação ocorre somente
na região imediatamente ao redor do vaso de pressão
do reator. Qualquer produto radioativo disperso no ar e
gases são removidos por filtragem ou purga do ar.
2.5.3.5.2 Sistema de
tratamento de rejeitos gasosos radioativos - topo
Os
espaços vazios dos tanques (exceto o de controle
de volume) e dos componentes que contêm ou processam
a água de refrigeração, são
mantidos com pressão subatmosférica, com o
objetivo de evitar o vazamento de gases de fissão
para a área de acesso controlado da usina. Devido
à redução de pressão nesses
tanques, em sua área livre são encontrados
gases de fissão, hidrogênio e, em caso de vazamento
nos sistemas, ar e oxigênio. Para evitar altas concentrações
de hidrogênio, que tendem a formar misturas explosivas
em contato com o oxigênio, é feita uma renovação
constante do ar na área gasosa dos tanques, através
de uma circulação forçada de nitrogênio
pelos compressores do sistema. Isso mantém a concentração
de hidrogênio em um valor seguro, abaixo de 4%. O
fluxo de circulação é enviado para
um
recombinador, de hidrogênio e oxigênio, formando
água.
Pelos
compressores e nos recombinadores circula também,
continuamente, um fluxo de gases extraídos pelo desgaseificador
dos sistemas que contêm água de refrigeração
ou que são arrastados por meio de nitrogênio.
Uma parte desse fluxo passa por um leito de retardo com
carvão ativado, onde os átomos de xenônio
e criptônio são retidos, por mais de 60 dias
e por mais de 60 horas, respectivamente, através
de sucessivas adsorções e dessorções,
propiciando uma redução substancial de sua
atividade radioatividade.
2.5.3.5.3
Sistema de tratamento de rejeitos líquidos radioativos
- topo
Esse
sistema foi projetado para tratar anualmente cerca de 20.000
m3 de rejeitos líquidos radioativos provenientes
do sistema de refrigeração do reator, dos
laboratórios, dos sistemas de descontaminação
e da lavanderia. O tratamento inclui filtração,
evaporação e precipitação química.
Os rejeitos líquidos tratados são transferidos
para tanques de monitoramento e só são liberados
para descarga quando a concentração de substâncias
radioativas situa-se abaixo dos limites estabelecidos pelos
órgãos de controle ambiental. Se tal concentração
não é obtida, os rejeitos são devolvidos
ao sistema de tratamento e novamente submetidos ao processo
de purificação. Válvulas de descarga
que se intertravam automaticamente impedem a liberação
de efluentes líquidos que contenham doses inadmissíveis
de produtos radioativos para o meio externo.
Os
resíduos dos evaporadores, são descarregados
nos tanques de concentrados, para serem encaminhados ao
sistema de processamento de rejeitos sólidos radioativos.
2.5.4
Sistema de Transmissão de Energia Elétrica
- topo
De
acordo com a configuração atual do circuito
elétrico da CNAAA, a energia elétrica gerada
em 60 Hz e 25 kV pelo gerador elétrico alimenta a
rede de alta tensão de 500 kV, por intermédio
de três transformadores elevadores de tensão
monofásicos conectados em banco de 25/525 kV, situados
na área da usina. Os equipamentos elétricos
auxiliares da usina são normalmente alimentados por
meio de dois transformadores abaixadores de tensão
trifásicos de 25/13,8 kV e através do transformador
de 138 kV para 13,8 kV, em casos de transferências
automáticas ou manuais e desligamentos da usina.
A
energia gerada na CNAAA é transportada na tensão
de 500 kV até a subestação de Furnas
por uma de linha de transmissão de aproximadamente
1.400 m, situada na área da CNAAA, ao ar livre. A
subestação de Furnas, por sua vez, é
interligada às subestações de Grajaú
e São José, no Estado do Rio de Janeiro, e
Cachoeira Paulista, no Estado de São Paulo. Com a
entrada de Angra 3 em operação, será
instalada uma quarta linha que conectará a subestação
de Furnas à subestação de Adrianópolis,
no Estado do Rio de Janeiro.
Para
o suprimento das cargas nas operações de parada
da usina, bem como no caso de perda do sistema de 500 kV,
está prevista uma outra interligação
com o sistema elétrico de Furnas, constituída
de uma linha de transmissão trifásica aérea,
com capacidade contínua de 76 MVA, e de uma subestação
de 138 kV com dois barramentos paralelos, também
instalados na área da usina. A transmissão
será feita por três linhas de 138 kV provenientes
da Usina Termelétrica de Santa Cruz (Sistema Furnas),
e o suprimento por meio de um transformador trifásico
de 138/13,8 kV localizado na usina. Além disso, a
subestação de 138 kV está interligada
à subestação de 500 kV por uma linha
de transmissão e um transformador trifásico
de 138/500 kV, para aumentar a disponibilidade e a confiabilidade
do suprimento elétrico
externo.
Os
transformadores serão com isolamento a óleo,
ficarão situados na área externa aos prédios
da usina, montados sobre bases dotadas de caixa de brita
e tanque para coletar eventuais vazamentos de óleo.
Os tanques terão capacidade para conter todo o volume
de óleo dos transformadores.
2.5.5
Produtos químicos utilizados nas fases de construção,
comissionamento e operação
- topo
Nas
fases de construção, comissionamento e operação
de Angra 3 serão consumidos vários produtos
químicos em quantidades variadas. A Tabela 15 indica
os produtos químicos utilizados na usina de referência
Angra 2, à exceção dos produtos lubrificantes,
óleos isolantes de transformadores e produtos químicos
utilizados em laboratórios de análise (esses
últimos, utilizados em quantidades comparativamente
inexpressivas, entre reagentes, indicadores, padrões,
etc., todos eles caracteristicamente utilizados em laboratórios
de controle de qualidade).
Tabela
15 - Angra 2 - Produtos químicos a serem
utilizados nas fases de construção, comissionamento
e operação da usina, referência para
Angra 3.
Produto
Químico
Observações |
Utilização/Finalidade |
Quantidade |
Comissionamento.
/Operação |
Toxidez |
Ác.
Bórico
(99,9%) |
Controle
de reatividade
No líquido refrigerante do
reator |
500-
600kg/ano |
Operação |
Classe
4 |
Ác.
Bórico
(99,9%) |
Testes
de comissionamento do
Sistema KPC |
100
kg |
Comissionamento |
Classe
4 |
Ác.
Cítrico monohidratado
(98%) |
Limpeza
de superfícies,
também usado em
descontaminação de superfícies |
200-
300kg/ano |
Construção/
Operação |
Classe
4 |
Ác.
Clorídrico
32%) utilizado em
soluções 5% |
Limpeza
de eletrodos de células
eletrolíticas do Sistema PUS |
3.200
kg/ano |
Construção/
Comissionamento /
Operação |
Classe
2 |
Ác.
Fluorídrico
(70%) |
Decapagens
de tubos e
superfícies metálicas |
1.000
kg |
Construção/
Comissionamento |
Classe
1 |
Ác.Nítrico
(65%) |
Decapagens/passivações
de
superfícies metálicas |
10.000
kg |
Construção/
Comissionamento |
Classe
2 |
Ác.
Sulfúrico
(60%) |
Neutralizações/ajustes
de pH,
no Sistema KPF |
1.000
kg/ano |
Operação |
Classe
2 |
Ác.
Sulfúrico
(96%) |
Regeneração
de resinas iônicas,
neutralizações, ajustes de pH,
Sistemas GNB, GDR, LDR,
GC |
150-200
t/ano |
Operação |
Classe
2 |
Amônia
(25%) |
Alcalinizante
utilizado no
líquido do circuito secundário
de água-vapor |
100-120
kg/ano |
Construção/
Operação |
Classe
2 |
Antiespumante
(dodecanol ou
isodecanol) |
Evaporadores
de rejeitos
radioativos de baixa atividade,
Sistema KPF |
150-200
kg/ano |
Operação |
Classe
4 |
Bifluoreto
de
Amônio |
Substituto
do ác. Fluorídrico
utilizado em decapagens |
- |
Construção/
Comissionamento |
Classe
2 |
Butildiglicol
-
[quimicamente,
trata-se do
(2-butoxietil) -
etanol] |
Limpeza
do exaustor de
betuminização de concentrados
radioativos |
150
L/ano |
Operação |
Classe
F |
Carbonato
de
Sódio - uso
eventual, como
alcalinizante
sólido |
Neutralização
de soluções
ácidas no Sistema KPF |
200
kg |
Construção/
Comissionamento |
Classe
5 |
Carvão
ativo (GC)
(carvão obtido de
casca de coco) |
Retenção
de impurezas
cloradas, na entrada do Sistema
GC, de produção de água
desmineralizada |
6.670
L/ano |
Operação |
Classe
F |
Desengraxante
-
alcalino
(polifosfatos e
polifosfonatos
sódio) |
Desengraxamento
/
desengorduramento
de superfícies a serem
decapadas
|
200
kg |
Construção/
Comissionamento |
Classe
4 |
Detergente
"HAKADEKOPU
R RS" - (contém
ác. cítrico e
detergentes nãoiônicos) |
Agente
de limpeza e de
descontaminação de superfícies
contaminadas com impurezas
radioativas |
500-700
kg/ano |
Operação |
Classe
4 |
Detergente
"HAKADEKOPU
R RO" - (contém
tensoativos nãoiônicos
e
aniônicos) |
Agente
de descontaminação de
superfícies |
100-150
kg/ano |
Operação |
Classe
4 |
Detergente
"HAKADEKOPU
R FS 500"
(contém ác.
fosfórico
associado a antiespumantes
e
tensoativos nãoiônicos) |
Agente
de limpeza e de
descontaminação à base de
ácido fosfórico |
500-600
kg/ano |
Operação |
Classe
4 |
Detergente
"DEKOWET"
(contém ácidos
cítrico e fosfórico,
ao lado de tensonão
- iônicos e
anti-espumante) |
Agente
de descontaminação
usado em banhos de ultrassom |
1.500-1.700
kg/ano |
Operação |
Classe
4 |
Detergente
"HAKANIA L 500
S" - (utilizado em
lavanderia) |
Agente
de descontaminação de
superfícies |
1.000-1.200
kg/ano |
Operação |
Classe
4 |
Detergente
"HAKUPUR"
(utilizado na
eliminação de
óleos e graxas) |
Agente
alcalino de
descontaminação de superfícies |
200-220
kg/ano |
Operação |
Classe
4 |
Detergente
"DEKOPUR FS
50" - (agente de
descontaminação) |
Descontaminação
de
superfícies de aços inoxidáveis
e laqueadas (pintadas) |
200-220
kg/ano |
Operação |
Classe
4 |
Detergente
"SEPTOMAN"
(produto
compatível com a
pele humana) |
Descontaminação
de corpo e
mãos |
80-100
kg/ano |
Operação |
Classe
F |
Detergente
"DEKOSOFT"
(Produto
compatível com a
pele humana
degrad |
Limpeza
de pele humana
sensível e/ou duramente
atingid |
20-30
kg/ano |
Operação |
Classe
F |
Dióxido
de
Carbono (99,7%) |
Gerador
elétrico MK |
2.000Nm3/ano |
Operação |
TLV:
5000
PPM |
"EDTA"
- ácido
(Etilenodiaminotet
raacéticohidratado) |
Limpeza
de evaporadores,
Sistema KPF |
400-500
kg/ano |
Operação |
Classe
4 |
Fosfato
dissódico
(anidro agente de
limpeza) |
Limpeza
de tanques da caldeira
auxiliar LBG |
50
kg/ano |
Operação |
Classe
5 |
Fosfato
trissódico,
dodeca-hidratado
(agente de
limpeza) |
Limpeza
de tanques da caldeira
auxiliar LBG |
100
kg/ano |
Operação |
Classe
5 |
Hidrazina
- (64%)
(agente antioxigênio) |
Inibidor
de corrosão da água do
circuito água-vapor
(secundário) |
5.000
kg/ano |
Operação |
Classe
1 |
Hidrogênio
(99,9%) - (UTG)
(agente antioxigênio) |
Condicionamento
da água de
refrigeração do circuito
primário e recombinação de
oxigênio, no Sistema KPL |
20.000-25.000
Nm3/ano |
Operação |
Atóxico |
Hidrogênio
(99,7%) - (MKG) -
(fluido de
transferência de
calor) |
Arrefecimento
do Gerador
Elétrico MKG |
1.000-1.200
Nm3/ano |
Operação |
Atóxico |
Hidróxido
de Lítio
-7 (produto
monoisotópico) |
Agente
alcalinizante do líquido
refrigerante do circuito
primário |
5
kg/ano |
Operação |
Classe
2 |
Hidróxido
de sódio
(50%)
(GC/GD/GNB) |
Regeneração
de resinas iônicas
dos Sistemas GC e GD, agente
alcalinizante / neutralizante, no
Sistema GNB |
200-300
t/ano |
Operação |
Classe
2 |
Metano
/ Argônio
(10/90%) (UTG)
(contagem de
radiação) |
Gás
de contagem de radiação
em monitores de "corpo
inteiro" de radiação |
1.500
Nm3/ano |
Operação |
Atóxico |
NALCOOL
2000
(produto a base de
nitrito de sódio) |
Inibidor
de corrosão nos
circuitos de refrigeração dos
geradores Diesel de emergência |
500-600
L/ano |
Operação |
Classe
2 |
Nitrogênio
(99,99%) (UMA) |
Usado
como gás inerte, no
gerador elétrico MK |
600
Nm3/ano |
Operação |
Atóxico |
Nitrogênio
(99,8%)
(KBA/KPL) |
Usado
como gás de purga, nos
Sistemas KBA e KPL |
60.000-70.000
Nm3/ano |
Operação |
Atóxico |
Oxigênio
(99,5%) |
Recombinação
de Hidrogênio,
no Sistema KPL |
1.800-2.200
Nm3/ano |
Operação |
Atóxico |
Percloroeteno |
Desengorduramento
de
superfícies |
100
L/ano |
Comissionamento
/
operação |
Classe
4
|
Peróxido
de
Hidrogênio (50%) |
Destruição
de hidrazina, no
Sistema GNB |
10-25
m3/ano |
Operação |
Classe
3 |
Fonte:
Eletronuclear
2.6
EMPREENDIMENTOS ASSOCIADOS
- topo
Os
principais empreendimentos associados a Angra 3 são:
•
Angra 1 - usina nuclear de 657 MWe que junto com Angra
2 e Angra 3 compõem a CNAAA;
•
Angra 2 - usina nuclear de 1350 MWe que junto com
Angra 1 e Angra 3 compõem a CNAAA;
•
Centro de Gerenciamento de Rejeitos (CGR) - é
composto de três depósitos, sendo que os Depósitos
1 e 2 recebem os rejeitos de baixo e médio níveis
de radioatividade provenientes de Angra 1. O Depósito
3 do CGR, que está em fase de licenciamento ambiental
junto ao Ibama, receberá adicionalmente os rejeitos
de baixo e médio níveis de radioatividade
de Angra 2. Quanto a Angra 3, esta não utilizará
o CGR (Depósitos 1, 2 ou 3), estando planejado que
a disposição de seus rejeitos de média
e baixa radioatividade se dará no Depósito
Definitivo de Rejeitos Radioativos, cuja entrada em operação
está prevista para ocorrer juntamente com Angra 3.
•
Subestação Principal - onde será
alimentada a rede de alta tensão, por intermédio
de três transformadores de tensão monofásicos
de 25/525 kV, que receberão a energia gerada em Angra
3. A subestação pode ser vista na Figura 24;

Figura
24 - Vista da subestação principal da
CNAAA. Ao fundo as usinas de Angra 1 e 2.
Fonte:
MRS Estudos Ambientais (2003)
•
Rede de Alta Tensão de 500 kV - que receberá
a energia gerada em 60 Hz e 25kV nos geradores;
•
Linha de Transmissão de 1.400 metros, que transportará
a energia (em tensão de 500 kV) gerada na CNAAA;
•
Subestação de Furnas (500 kV) - que
recebe a energia gerada na CNAAA e interliga a rede com
três subestações (duas no Estado do
Rio de Janeiro e uma no Estado de São Paulo). Com
o início das operações de Angra 3,
será instalada uma quarta linha conectando a rede
à outra subestação no Estado do Rio
de Janeiro;
•
Subestação de 138 kV - que realizará
outra interligação com o Sistema Furnas, para
o caso de perdas no sistema de 500 KV;
•
Linha de transmissão de 138 KV - que interligará
a subestação de 138 kV à subestação
de 500 kV, por meio de um transformador trifásico
de 138/500 KV;
•
Estrutura de Descarga da Água de Refrigeração
- um canal / galeria será construído
para interligar o sistema de descarga de água de
refrigeração de Angra 3 à galeria /
túnel que recebe também as águas dos
sistemas de água de refrigeração de
Angra 1 e 2 e conduz os referidos efluentes para lançamento
no Saco Piraquara de Fora. (ver detalhes no Anexo 4, Anexo
7, Anexo 8 e Figura 25);
•
Laboratório de Monitoração Ambiental
(LMA) - criado em 1978, o LMA fica em Mambucaba, a
aproximadamente 10 km da CNAAA, desenvolvendo um trabalho
de monitoração e controle ambiental permanente
na região. Tem como objetivo principal elaborar,
implementar e executar os programas e estudos necessários
para permitir a avaliação dos possíveis
impactos causados pela operação da Central
Nuclear no meio ambiente e na população da
região. Nota: Água pré-tratada, água
potável, água desmineralizada e vapor auxiliar
a serem consumidos na Unidade 3, não serão
produzidos no "site" da usina Angra 3.
A
água pré-tratada a ser utilizada em Angra
3 provirá da Estação de Pré-tratamento
d' Água ("EPTA"), já existente,
que já abastece as Unidades 1 e 2, através
de tubulação de interligação
dessa Estação com a nova Unidade (Ver detalhes
no Anexo 4 - Planta Esquemática das Áreas
Restritas, Pontos de Emissões, Locais de Lançamento
de Efluentes Líquidos e Sistema de Abastecimento
de Água Doce - CNAAA (Unidades 1, 2 e 3)).
A
rede de abastecimento de água potável da Unidade
2 será conectada à da futura Unidade 3, por
meio de tubulação de interligação
entre essas duas usinas.
A
água desmineralizada a ser consumida na Unidade 3,
basicamente como água de processo, será produzida
nas atuais instalações da Unidade 2; haverá
apenas a necessidade de construir uma tubulação
específica de interligação entre essas
Unidades.

Figura
25 - Vista da estrutura de descarga da água
de resfriamento das usinas da CNAAA, no Saco Piraquara de
Fora.
Fonte: MRS Estudos Ambientais (2003)
2.7
CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
- topo
O
cronograma executivo de Angra 3 prevê 66 meses para
a sua implantação, englobando as atividades
de construção civil, a montagem eletromecânica,
o comissionamento de equipamentos e sistemas, bem como a
fase de testes operacionais. Este prazo inicia-se com os
trabalhos de concretagem da laje de fundo do Edifício
do Reator e encerra-se com o fim dos Testes de Demonstração
de Potência da Planta.
Neste
cronograma executivo de 66 meses estão programados
os seguintes marcos principais:
Marco
0: Início da Concretagem da laje de fundo do Edifício
do Reator.
Mês
9: Início da Montagem da Esfera da Contenção.
Mês
10: Início da Montagem dos Tanques "Civil Dependents".
Mês
13: Início da Concretagem do Prédio do Reator
e início da Montagem e Sistemas de Ventilação.
Mês
17: Início da Montagem Elétrica.
Mês
22: Início da Montagem da Tubulação.
Mês
32: Início da Montagem dos Barramentos do Gerador
Elétrico.
Mês
35: Ligação da Rede Externa de 138 kV.
Mês
46: Início do Comissionamento de Sistemas.
Mês
51: Início dos Testes de Pressão do Circuito
Primário e Ligação da Rede Principal
de 500 kV.
Mês
52: Início dos Testes de Pressão da Esfera
de Contenção
Mês
56: Início da Primeira Operação a Quente.
Mês
60: Início do Carregamento do Núcleo do Reator.
Mês
63: Primeira Criticalidade do Núcleo do Reator, Início
dos Testes de Potência e Sincronização
com a Rede Principal de 500 kV.
Mês
66: Fim dos Testes de Potência e Início da
Operação Comercial.
Na
elaboração do cronograma, tomou-se como base
a experiência do planejamento de diversas usinas nucleares
no mundo do tipo PWR de projeto alemão já
construídas e/ou projetadas, e similares a Angra
2, tais como: usina nuclear ISAR 2 (usina do KONVOI da Alemanha);
usina nuclear BROKDORF (Alemanha); projeto alemão
para usina nuclear no Reino Unido (BNFL -British Nuclear
Fuels Limited); usina nuclear AKKUYU (Turquia) etc;
foi levada também em consideração a
experiência adquirida pelo corpo técnico da
Eletronuclear na construção, montagem eletromecânica
e comissionamento de Angra 2.
O
prazo de 66 meses para Angra 3 é perfeitamente exeqüível,
uma vez que basicamente já se dispõe de todo
o projeto. O projeto de Angra 3 é praticamente idêntico
ao de Angra 2 "conforme construído",
status: dezembro/2000, com atualizações na
área de Instrumentação & Controle,
e de outras pequenas alterações ou melhorias
para se manter a planta no "estado da arte"
da tecnologia.
Antes
do início da concretagem da laje de fundo do Edifício
do Reator está programado um período de 9
a 12 meses, a ser utilizado em atividades preliminares,
tais como a execução dos serviços preparatórios
de engenharia, a instalação da infra-estrutura
do canteiro de obras e os procedimentos relativos ao processo
licenciatório.
O
cronograma, apresentado na próxima página,
indica as principais fases, prazos e marcos necessários
para a implantação de Angra 3.
No
tocante ao descomissionamento, tratado de forma mais detalhada
no item 2.8 deste Volume, este é definido como um
conjunto de medidas tomadas para retirar de serviço,
com segurança, uma instalação nuclear,
reduzindo a radioatividade residual a níveis que
permitam liberar o local para uso irrestrito.
Clique
aqui para ver o Cronograma Geral.
2.8
DESCOMISSIONAMENTO
- topo
O
processo de descomissionamento das usinas nucleoelétricas
é regulado no âmbito do licenciamento nuclear
e a análise sobre o final de sua vida econômica
tem sido uma questão permanente para as empresas
proprietárias dessas usinas. No caso das usinas nucleares
brasileiras, desde a entrada em operação de
Angra 1, a questão tem sido tratada com o cuidado
necessário, acompanhando o desenvolvimento do assunto
ao redor do mundo.
Os
primeiros trabalhos desenvolvidos com vistas ao tratamento
da questão remontam à época dos preparativos
para a entrada em operação de Angra 1, oportunidade
em que se obteve do órgão regulador do setor
de energia elétrica autorização para
arrecadar, pela via tarifária, uma quota mensal de
recursos destinados à formação de um
fundo para suportar o descomissionamento da usina, depois
de encerrada sua operação comercial.
Nestes
quase 20 anos desde os primeiros estudos, seguiram-se outros
trabalhos e reavaliações periódicas.
No ano de 2000, com a entrada em operação
de Angra 2, implementou-se um processo de arrecadação
de recursos para o descomissionamento de Angra 2 à
semelhança do adotado para a primeira usina nuclear
brasileira.
A
Usina Nuclear de Angra 1, de 657 MW de potência elétrica
instalada, iniciou sua operação comercial
em 1985, com amparo na Autorização Provisória
para Operação (APO), concedida pelo órgão
regulador brasileiro, a CNEN. Em 1994, recebeu sua Autorização
para Operação Permanente (AOP), para um período
de 30 anos. A Usina Nuclear de Angra 2, de 1350 MW de potência
elétrica instalada, entrou em operação
em 2000, conforme Autorização para Operação
Inicial (AOI) de 24/03/2000 e tem uma vida útil projetada
para 40 anos.
A
extensão da vida útil das usinas da CNAAA
é estratégica, uma vez que com o amadurecimento
da indústria nuclear, vem ocorrendo uma progressiva
melhoria de índices de desempenho e segurança
do parque nuclear em operação, fazendo com
que estas se tornem vantajosamente competitivas, em relação
às outras alternativas de geração de
energia.
O
parque nuclear americano, por exemplo, com mais de 100 usinas,
que na década de 70 apresentava um fator de capacidade
médio ao redor de 70%, vem melhorando progressivamente,
apresentando um fator de capacidade médio acima de
90% em 2000 e 2001. Na CNAAA, a usina de Angra 1 apresenta
fatores de capacidade em torno de 80% desde 1996, com Angra
2 operando com 91% de capacidade no seu primeiro ano de
operação.
No
contexto da viabilização de Angra 3, o CNPE
estabeleceu na sua Resolução Nº 5, de
05 de dezembro de 2001, que autoriza a realização
dos trabalhos para licenciamento nuclear e ambiental, uma
série de requisitos a serem atendidos pela Eletronuclear.
Dentre
as condicionantes apresentadas na Moção No
031 do Conama, referenciada no Parágrafo II do Artigo
1o da Resolução No 5 do CNPE, incluem-se aquelas
relacionadas a preocupação no sentido de assegurar-se
condições técnicas e financeiras para
o futuro descomissionamento das unidades da CNAAA.
A
CNEN, no item 8.10 de sua Norma NE-1.04 - "Licenciamento
de Instalações Nucleares", estabelece
que para o encerramento das atividades de operação
de uma usina nucleoelétrica, a organização
operadora deverá iniciar um procedimento formal de
Cancelamento da Autorização de Operação
Permanente.
De
acordo com essa Norma, a organização operadora
deverá encaminhar à CNEN um requerimento demonstrando
que a desmontagem da instalação e a disposição
de suas partes será realizada de forma segura, de
acordo com as normas específicas a serem estabelecidas
pela CNEN e que não acarretarão prejuízos
à saúde e à segurança da população
do entorno, do trabalhador e do meio ambiente.
Quanto
ao método escolhido para realizar o descomissionamento,
não há uma tendência mundial firmada
a respeito no atual momento, já que cada país
tem suas particularidades próprias. Os principais
métodos atualmente considerados são:
1.
Confinamento provisório;
2.
Desmantelamento parcial;
3.
Desmantelamento total;
4.
Confinamento provisório seguido de desmantelamento
parcial;
5.
Confinamento provisório seguido de desmantelamento
total;
6.
Conversão de uma usina nuclear em um depósito
para armazenamento de rejeitos radioativos.
Dependendo
das particularidades associadas à própria
usina, várias soluções distintas das
apresentadas poderão vir a ser utilizadas. Contudo,
a que vier a ser adotada provavelmente será uma combinação
das alternativas citadas. Com exceção das
alternativas 3 e 5, as demais soluções são
provisórias. Espera-se, contudo, que com o decorrer
do tempo todas as alternativas levem ao desmantelamento
total da usina, variando somente a tecnologia aplicável
a esse processo de desmantelamento.
A
CNEN desenvolve estudos sobre a regulamentação
do assunto, incluindo a escolha dos locais para depósito
de rejeitos e a responsabilidade dos órgãos
oficiais envolvidos, bem como as demais interfaces envolvidas
(meio ambiente, segurança, proteção
radiológica etc).
2.9 RECURSOS NATURAIS
UTILIZADOS - topo
Os
recursos minerais a serem utilizados na construção
de Angra 3, tais como brita e areia para a fabricação
de concreto e aterros serão provenientes dos fornecedores
existentes na região do empreendimento e sua aquisição
estará a cargo da(s) contratada(s) da Eletronuclear
para a execução dos serviços de obras
civis.
Dessa
maneira, o licenciamento oriundo destas atividades estará
a cargo da contratada e seus fornecedores, sendo um item
contratual da Eletronuclear a apresentação
de toda documentação e licenças necessárias
para a execução dos serviços.
2.10 RESÍDUOS
NÃO RADIOATIVOS - topo
Assim
como os rejeitos radioativos gerados nas usinas da CNAAA,
os resíduos não radioativos podem ser gasosos,
líquidos e sólidos ou pastosos. Estes resíduos,
antes de serem liberados para o meio-ambiente, são
processados e tratados de modo que seus poluentes eventualmente
presentes (e/ou que excedam os limites permitidos para liberação
no meio ambiente), sejam trazidos a valores abaixo dos limites
máximos de concentração, para liberação,
tais como definidos e estabelecidos pela Legislação
Ambiental vigente no País.
2.10.1 Resíduos
Sólidos (Não Radioativos) - topo
Os
resíduos sólidos orgânicos e sucatas
a serem produzidos em decorrência da construção
e da operação de Angra 3, seguirão
todas as diretrizes já estabelecidas e praticadas
em toda a CNAAA.
A
CNAAA utiliza para a destinação a ser dada
aos resíduos industriais, o Sistema de Manifesto
de Resíduos Industriais, que consiste no conhecimento
e na destinação a ser dada pelo gerador, pelo
transportador e pelo receptor desses resíduos, através
de formulário próprio da Feema, denominado
"Manifesto de Resíduos". Essa é
a forma pela qual a Eletronuclear ajuda a subsidiar o controle
dos resíduos gerados no Estado do Rio de Janeiro,
evitando seu encaminhamento para locais não-licenciados,
como parte integrante do Sistema de Licenciamento de Atividades
Poluidoras. Na CNAAA, a Divisão de Meio Ambiente
e Segurança do Trabalho, aparece como o principal
responsável e coordenador desse sistema, conforme
mostra a Figura 26.

Figura 26 - Diagrama da Sistemática
Operacional para o descarte de Resíduos Industriais
gerados na CNAAA.
Fonte: Eletronuclear
(*)
Quando pertinente
2.10.1.1 Resíduos
Sólidos (Não Radioativos) - Fase de Construção
- topo
Durante
a fase de desenvolvimento da construção e
montagem de Angra 3, haverá a necessidade do descarte
de resíduos sólidos (não radioativos),
provenientes de restos de materiais orgânicos, lamas,
produtos de limpeza química, esgoto orgânico,
entulhos de obra, sobras de madeira, restos de alvenaria,
pontas de vergalhão de aço de construção,
latas de tinta e solventes vazias, os quais serão
depositados em recipientes de coleta seletiva, em locais
previamente definidos no Canteiro de Obras. Posteriormente,
e se for o caso, serão acondicionados em invólucros
apropriados para descarte por empresa licenciada, contratada
para este fim, à semelhança do que foi efetuado
em Angra 2. Temporariamente, podem ser transportados para
áreas já existentes dentro das instalações
da CNAAA, especificamente destinadas ao armazenamento temporário
e seleção destes resíduos.
Os
resíduos industriais, como restos de sucatas, pontas
de ferro de construção, serão acondicionados
em caçambas metálicas, distribuídas
em pontos estrategicamente definidos, dentro do Canteiro
de Obras, e posteriormente transportados para armazenamento
em áreas já existentes dentro das instalações
da CNAAA, especificamente destinadas à seleção
e posterior alienação para reprocessamento
e reaproveitamento.
Os
resíduos químicos, restos de solventes e latas
de tintas, serão acondicionados em recipientes apropriados
e encaminhados para empresas especializadas no seu descarte
final.
Os
resíduos provenientes da limpeza química das
redes de tubulações dos sistemas da planta,
na fase de montagem e comissionamento, serão conduzidos
através de bombeamento até bacias de coleta
e tratamento com agentes químicos, com vistas à
redução dos níveis de concentração
de poluentes a valores inferiores aos limites máximos
permitidos, antes do descarte dos efluentes no meio ambiente,
após controle e liberação formal para
esse fim.
No
caso dos resíduos dos processos de britagem, se houver,
serão construídos tanques de decantação,
onde serão coletados os resíduos provenientes
do processo de lavagem da brita, para segregação
do material sedimentar e liberação dos efluentes
limpos ao sistema de drenagem pluvial; os resíduos
sólidos coletados serão transportados para
descarte em bota fora apropriado.
2.10.1.2 Resíduos
Sólidos (Não Radioativos) - Fase de Operação
- topo
Como
já dito anteriormente, Angra 3 seguirá as
diretrizes já estabelecidas e praticadas na CNAAA.
Atualmente, os resíduos sólidos não
radioativos derivados da operação da CNAAA
são comercializados, se ainda possuírem valor
comercial residual como nos casos de sucatas (ferrosa, não-ferrosa,
metálica de modo geral, vendidas para reprocessamento),
dos óleos e lubrificantes (vendidos para posterior
refino), ou encaminhados para tratamentos/destinações
específicas, de acordo com cada tipo de resíduo
(reciclagem, reprocessamento, incineração,
etc.), através de contratações de serviço
específicas. Na Tabela 16 são apresentadas
as quantidades anuais (em toneladas) comercializadas e co-processadas
de resíduos sólidos no período de 2001
a 2003.
Tabela 16 - CNAAA
- Destino dado aos Resíduos Sólidos (Não
Radioativos) gerados no período de operação
de 2001 a 2003.
Destino |
Quantidade
(t) |
2001 |
2002 |
2003 |
Reciclagem/reprocessamento/reutilização |
14,77 |
86,11 |
138,33 |
Co-processamento/incineração |
- |
25,73 |
152,27 |
Fonte:
Eletronuclear
Resíduos
que possam ser categorizados como "lixo comum"
são encaminhados definitivamente para aterro licenciado
pela Feema.
As
quantidades anuais dos diferentes resíduos sólidos
não-radioativos, gerados na CNAAA entre 2001 a 2003,
podem ser vistos na Tabela 17, a seguir:
Tabela 17 - CNAAA
- Resíduos sólidos convencionais gerados no
período de 2001 a 2003.
Tipo
de resíduo |
Ano/Quantidade
(t) |
2001 |
2002 |
2002 |
Lâmpadas
fluorescentes |
2,27 |
1,09 |
3,00 |
Resinas
de troca iônica |
- |
21,17 |
89,10 |
Cilindros
de cloro (cheios) |
- |
- |
- |
Cilindros
de cloro (vazios) |
- |
- |
- |
Resíduos
de tinta e solventes |
- |
20,52 |
7,30 |
Isolamento
térmico |
- |
5,0 |
8,60 |
Óleo
lubrificante |
6,20 |
- |
30,40 |
Resíduos
da EPTA - Estação de Prétratamento
de Água |
14,52 |
- |
- |
Pneus |
2,00 |
- |
2,40 |
Material
para piso anticorrosivo |
3,00 |
- |
- |
Sucata
metálica |
54,87 |
49,14 |
6,80 |
Sucata
ferrosa |
586,47 |
741,25 |
92,40 |
Betume |
- |
8,00 |
13,20 |
Aditivos
para concreto |
- |
1,71 |
- |
Pilhas
e baterias |
- |
0,25 |
- |
Baterias
automotivas usadas |
1,00 |
4,38 |
5,40 |
Sílica
gel |
- |
22,00 |
- |
Plásticos |
0,30 |
0,71 |
2,70 |
Poliestireno
expandido - Isopor |
- |
- |
6,50 |
Carvão
ativado |
- |
- |
15,30 |
Resíduos
oleosos |
- |
- |
4,90 |
Produtos
químicos diversos |
- |
3,94 |
2,60 |
Total |
670,63 |
879,16 |
290,60 |
Fonte:
Eletronuclear
2.10.1.2.1 Resíduos
Sólidos Não Radioativos Provenientes das Áreas
Restritas - topo
Todos
os resíduos sólidos não radioativos
gerados nas Áreas Restritas da CNAAA são segregados
e monitorados quanto à contaminação
radioativa que possam conter. Evidentemente, quando os níveis
de contaminação radioativa encontram-se abaixo
dos limites permitidos para liberação no meio
ambiente, os resíduos sólidos são liberados
para as Áreas Livres. Caso contrário, o resíduo
sólido é considerado como "contaminado"
e segue, então, os procedimentos apropriados, tais
como descritos no item 2.12.4.2 - Gerenciamento dos Rejeitos
Sólidos Radioativos.
Materiais
sólidos particulados ou granulados, tais como: areia,
materiais resultantes de reparos de pisos ou paredes, ou
mesmo resinas trocadoras de íons, somente são
removidos das Áreas Controladas após prévia
coleta de amostras pela Proteção Radiológica,
para realização de análises espectrométricas,
antes de serem liberados. Caso os resultados da espectrometria
gama utilizada nessas análises apontem níveis
de radioatividade menores que os definidos na Norma CNEN-NE-5.01
- "Transporte de Materiais Radioativos" e no "Basic
Safety Standards - Safety Series 115", os materiais
são então liberados como "não-contaminados".
No caso específico de resinas trocadoras de íons
já exauridas, utilizadas em sistemas auxiliares das
usinas (p.ex.:unidades de desmineralização
de água), a liberação desse material
é condicionada às normas de manuseio de resíduos
industriais, visto que se trata de materiais utilizados
em sistemas "não nucleares" das usinas,
portanto intrinsecamente não associados a riscos
de contaminação radioativa.
2.10.2 Rejeitos Gasosos
Não Radioativos (Emissões Atmosféricas)
- topo
As
emissões atmosféricas de rejeitos gasosos
convencionais de Angra 3, restringir-seão praticamente
àquelas provenientes da combustão do óleo
Diesel utilizado na Caldeira Auxiliar, bem como dos motores
dos grupos geradores Diesel do Sistema de Emergência
1 e 2, também responsáveis pelo acionamento
alternativo das bombas do sistema de água de alimentação
de emergência. A Caldeira Auxiliar, assim como os
motores Diesel citados, não são operados continuamente.
A Caldeira Auxiliar é praticamente operada quando
a usina nuclear está fora de operação
normal, enquanto os motores Diesel o são por ocasião
da realização de testes rotineiros, ou durante
situações em que tenham que ser operados para
cumprir funções de emergência.
Além
das emissões associadas à combustão
de óleo Diesel mencionadas no parágrafo anterior,
um outro rejeito gasoso deve ser citado, qual seja o gás
hidrogênio que se forma como sub-produto no processo
de produção de hipoclorito de sódio
(utilizado no tratamento da água do mar usada no
resfriamento do vapor de exaustão das turbinas de
baixa-pressão) a partir da eletrólise da água
do mar. O hidrogênio gasoso gerado nesse processo
é, no entanto, lançado na atmosfera sem nenhum
tratamento, por desnecessário. A produção
de hipoclorito é mantida em níveis praticamente
constantes durante a operação normal da usina,
sendo reduzida a valores inferiores, circunstancialmente,
durante as paradas da mesma, quando as necessidades de hipoclorito
de sódio são reduzidas.
Em
Angra 2, o consumo nominal de óleo Diesel, referência
para a usina Angra 3, é de 1.400 kg/hora na Caldeira
Auxiliar e de 30,13 kg/hora nos grupos Diesel-geradores
(com dois grupos de 5.400kW cada e quatro grupos de 900
kW cada, de potência)
Em
Angra 1, o consumo nominal de óleo Diesel é
de 78,78 kg/hora na Caldeira Auxiliar e de 5,11 kg/hora
nos grupos Diesel-geradores (com dois grupos de 5.400 kW
cada, e dois grupos de 2.850 kW cada, de potência).
As
emissões, na atmosfera, de rejeitos gasosos convencionais
da operação futura da usina Angra 3, têm
como referência, as emissões equivalentes derivadas
da atual operação da usina de Angra 2, apresentadas
na Tabela 18.
As
emissões, na atmosfera, de rejeitos gasosos convencionais
atualmente derivadas da operação da usina
Angra 1, estão indicadas na Tabela 19.
Em
ambas as usinas, Angra 1 e Angra 2, as emissões atmosféricas
estão abaixo dos valores máximos fixados pela
Resolução Nº 8/90 do Conama, no que diz
respeito a dióxido de enxofre. Ressalte-se que essa
Resolução restringe-se apenas às emissões
resultantes da combustão de óleo combustível
(não incluindo aí, especificamente, o óleo
Diesel) e de carvão mineral.
Tabela 18 - Angra
2 Emissões atmosféricas convencionais.
Origem |
Quantidade/gás |
Freqüência |
Altura
da liberação |
Caldeira
Auxiliar |
26,60
kg/h SO2 |
720
h/ano |
40
m |
1,75
kg/h SO3 |
13,51
kg/h NO |
2,31
kg/h NO2 |
28,43
kg/h CO |
4.423
kg/h CO2 |
Grupos
Dieselgeradores de emergência |
0,57
kg/h SO2 |
2
h/semana |
18,75
m e 11,10 m |
0,04
kg/h SO3 |
0,29
kg/h NO |
0,05
kg/h NO2 |
0,61
kg/h CO |
95,19
kg/h CO2 |
Sistema
de produção de biocida |
130
m3/h (máx.) de H2 |
Contínua |
12
m |
Fonte:
Eletronuclear
Tabela 19 - Angra
1 - Emissões atmosféricas convencionais.
Origem |
Quantidade/gás |
Freqüência |
Altura
da liberação |
Caldeira
Auxiliar |
1,50
kg/h SO2 |
Intermitente
(partidas, paradas e emergências) |
15
m |
0,24
kg/h SO3 |
0,76
kg/h NO |
0,13
kg/h NO2 |
1,38
kg/h CO |
251,13
kg/h CO2 |
Grupos
Dieselgeradores
emergência |
0,097
kg/h SO2 |
Quando
em suprimento de
emergência e 1 h/mês/gerador
para teste |
22
m e 15 m |
6,40
×10-3 kg/hSO3 |
4,93
×10-2 kg/h NO |
8,4
×10-3 kg/h NO2 |
0,089
kg/h CO |
16,24
kg/h CO2 |
Fonte:
Eletronuclear
2.10.3 Efluentes Líquidos
Não Radioativos - topo
A
operação da usina Angra 3 requererá,
assim como hoje requerem as usinas Angra 1 e Angra 2, grandes
quantidades de água para vários de seus sistemas
que utilizam água desmineralizada (circuitos fechados)
e água do mar (circuito aberto) para fins de resfriamento,
assim como águas pré-tratada e desmineralizada,
em vários sistemas, como insumos de processo. A operação
da usina Angra 3 seguirá o mesmo modelo da usina
Angra 2, no que se refere aos efluentes líquidos
convencionais, inclusive no que diz respeito aos tratamentos
que sofrerão, antes de serem liberados para o meio
ambiente.
Essas
águas, para que possam ser utilizadas, sofrem processos
de tratamento e/ou de condicionamento químico em
função de suas origens e finalidades. Processos
de tratamento, ou de condicionamento de águas, são
praticados com auxílio de produtos químicos
e geram rejeitos convencionais, na forma de efluentes líquidos
derivados desses processos ou dos usos que são feitos
dessas águas como insumos de processo.
Rejeitos
na forma de efluentes líquidos somente serão
liberados para o meio ambiente se conformes com limites
estabelecidos por padrões e normas em vigor no território
nacional, estabelecidos pelos órgãos nacionais
de meio ambiente. Para que essa liberação
tenha lugar, os efluentes líquidos que contenham
níveis de contaminantes em concentrações
superiores aos limites estabelecidos precisam ser previamente
submetidos a tratamentos adequados e capazes de reduzir
essas concentrações aos níveis compatíveis
e dentro dos limites permitidos para liberação
no ambiente externo.
Os
principais efluentes líquidos (rejeitos) convencionais
atualmente gerados no âmbito das usinas da CNAAA,
provêm dos sistemas de resfriamento dos condensadores
do vapor exausto das turbinas de baixa pressão (basicamente
água do mar), assim como do tanque de neutralização
de efluentes, das bacias de tratamento de efluentes, dos
poços de drenos dos respectivos edifícios
das turbinas, dos tanques de separação de
água/óleo dos transformadores principais,
auxiliares e de reserva, assim como dos sistemas de tratamento,
de efluentes sanitários de cada usina (efluentes
sanitários são apresentados separadamente
no sub-item 2.10.3.1).
Os
efluentes líquidos que virão do sistema de
resfriamento dos condensadores principais de Angra 3, assim
como os das demais usinas hoje em operação,
terão o Saco Piraquara de Fora como destino final,
e os demais, provenientes dos respectivos sistemas de tratamento,
serão descarregados no poço de selagem principal.
Águas derivadas de precipitações pluviométricas
serão dirigidas para canais de drenagem que desembocam
em Itaorna.
Os
efluentes líquidos convencionais da usina Angra 3,
potencialmente contaminados quimicamente, serão submetidos
a tratamento prévio nos tanques do sistema de tratamento
de efluentes líquidos convencionais, em modelo idêntico
ao atualmente praticado na usina Angra 2 (e a ser igual
e futuramente implantado na usina Angra 1).
Os
valores dos parâmetros, rotineiramente controlados,
determinados nos efluentes líquidos convencionais
que têm origem na operação da usina
Angra 1 são mostrados na Tabela 20, que apresenta
também as médias anuais e os valores máximos
e mínimos do período de 2001 a 2003. Esses
valores foram obtidos dos Relatórios de Acompanhamento
de efluentes (RAE) integrantes do Programa de Autocontrole
das Unidades 1 e 2 (Angra 1 e 2) da CNAAA, dos relatórios
do Programa de Monitoração e Controle da Qualidade
das Águas PMCQA (PA-MA 09 e 2PA-MA 09) e dos relatórios
do Programa Especial de Controle e Monitoração
dos Efluentes Líquidos Convencionais de Angra 2 (substituído
pelo Programa de Autocontrole, a partir de abril de 2003).
A cada mês, são apresentados os valores mínimos,
médios e máximos relativos a cada parâmetro
de interesse. Nessa mesma Tabela 20, os valores médios
correspondem à média aritmética dos
valores mensais, determinados ao longo de cada ano, e os
valores máximos e mínimos, aos maiores e aos
menores valores dos máximos e dos mínimos
(maximum maximorum e o minimum minimorum), no mesmo
período (anual).
Em
Angra 1, os efluentes líquidos convencionais provenientes
do sistema de resfriamento dos condensadores (água
do mar), principais componentes dessa usina, que operam
continuamente com vazão de 40 m3/s (efluentes
esses que também incluem os efluentes radioativos
tratados), apresentaram no mesmo período considerado
de 2001 a 2003, concentrações de poluentes
inferiores ou no interior das faixas permitidas pela Feema
para lançamento no meio ambiente. Situação
semelhante ocorreu com os demais efluentes convencionais,
da mesma usina e de outros sistemas, com raras exceções.
Tabela 20 - Angra
1 - Valores dos Parâmetros de Controle dos Efluentes
Líquidos Convencionais e Lançados no Meio ambiente,
no Período de 2001 a 2003.
Origem |
Parâmetro |
Limite
Legal (*1) |
Valor |
2001 |
2002 |
2003 |
Sistema
de
resfriamento dos
condensadores |
Temperatura
(ºC) |
<
40 |
Médio |
28,92 |
24,40 |
25,67 |
Máximo |
33,83 |
27,70 |
28,17 |
Boro
(mg/L) |
Máximo
5,0 |
Médio |
9,59E-04 |
1,54E-03 |
2,51E-2 |
Máximo |
3,40E-03 |
1,37E-02 |
2,70E-1 |
pH |
Entre
5 e 9 |
Mínimo |
5,6 |
8,1 |
8,1 |
Médio |
6,97 |
8,1 |
8,1 |
Máximo |
8,35 |
8,1 |
8,1 |
Cloro
(mg/L) |
Máximo
1 |
Médio |
0,11 |
0,146 |
0,13 |
Máximo |
0,157 |
0,284 |
0,19 |
Tanques
de
neutralização |
Temperatura
(ºC) |
<
40 |
Média |
26,74 |
27,45 |
27 |
Máxima |
30,92 |
31,18 |
29,5 |
Boro
(mg/L) |
Máximo
5 |
Médio |
0,2 |
0,69 |
(<LD) |
Máximo |
1,58 |
1 |
(<LD) |
pH |
Entre
5 e 9 |
Mínimo |
5,6 |
5,82 |
6 |
Médio |
7,23 |
7,54 |
7,3 |
Máximo |
8,84 |
8,79 |
8,6 |
Poço
de dreno do edifício da
turbina, lado
leste |
Temperatura
(ºC) |
<
40 |
Média |
38,7 |
30,83 |
29,9 |
Máxima |
<1 |
33,92 |
33 |
Boro
(mg/L) |
Máximo
5 |
Médio |
<1 |
<1,0 |
<
1 |
Máximo |
7,27 |
NA |
<
1 |
pH |
Entre
5 e 9 |
Mínimo |
7,27 |
7,63 |
7,54 |
Médio |
7,92 |
8,19 |
8,14 |
Máximo |
8,45 |
8,92 |
8,73 |
Óleos
e graxas
(mg/L) |
Máximo
20 |
Médio |
Presente |
<20 |
<
10 |
Máximo |
Não
analisado |
Não
analisado |
<
10 |
Materiais
flutuantes |
Virtualmente
ausente |
|
Virtualmente
Ausente |
Virtualmente
Ausente |
Virtualmente
Ausente |
Poço
de dreno do
edifício da turbina,
lado oeste |
Temperatura(ºC) |
<
40 |
Média |
47,60 |
35,42 |
33,4 |
Máxima |
61,20 |
44,58 |
36,3 |
Boro
(mg/L) |
Máximo
5 |
Médio |
<1 |
<1,0 |
<
1 |
Máximo |
<1 |
NA |
<
1 |
pH |
Entre
5 e 9 |
Mínimo |
7,82 |
8,02 |
8,23 |
Médio |
8,53 |
8,68 |
8,65 |
Máximo |
8,84 |
8,91 |
9 |
Óleos
e graxas (mg/L) |
Máximo
20 |
|
Não
analisado |
|
<
10 |
Máximo |
Não
analisado |
<20 |
<
10 |
Materiais
flutuantes |
Virtualmente
ausente |
|
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Tanque
de separação
de água /óleo dos
transformadores |
Temperatura
(ºC) |
<
40 |
Média |
25,83 |
27,89 |
(*
2) |
Máxima |
26 |
29,56 |
(*
2) |
pH |
Entre
5 e 9 |
Mínimo |
7,77 |
6,82 |
(*
2) |
Médio |
7,93 |
7,66 |
(*
2) |
Máximo |
8,1 |
8,49 |
(*
2) |
Óleos
e graxas (mg/L) |
Máximo
20 |
|
<
20 |
<
20 |
(*
2) |
|
|
|
(*
2) |
Materiais
flutuantes |
Virtualmente
ausente |
Médio |
Virtualmente
Ausente |
Virtualmente
Ausente |
(*
2) |
|
Não
analisado |
Não
analisado |
(*
2) |
Sistema
de tratamento de efluentes sanitários |
pH |
Entre
5 e 9 |
Mínimo |
5,04 |
5,15 |
5,2 |
Médio |
5,83 |
6,08 |
6 |
Máximo |
6,63 |
7,14 |
7,5 |
RNFT
(mg/L) |
Máximo:
100 |
Médio |
30,45 |
49,5 |
29,9 |
Máximo |
46,90 |
0,18 |
58,3 |
Materiais
sedimentáveis
(ml/L) |
Máximo:
1 |
Médio |
0,27 |
0,18 |
0,5 |
Máximo |
0,47 |
0,43 |
1,2 |
DBO
(mg/L) |
Máximo:
100 |
Médio |
20,92 |
23,43 |
24,5 |
Máximo |
27,16 |
30,23 |
33 |
Fonte:
Relatório de Acompanhamento de Efluentes - RAE
(Programa de Autocontrole de Efluentes Líquidos de
Angra 1 - Procon Água)
(*
1) Legislação Ambiental
Norma NT-202.R-10 e Diretriz DZ-215.R-3 - Feema
(*
2) Somente houve lançamento para esse sistema nos
meses de janeiro e junho, e os valores obtidos para os parâmetros
temperatura, pH, óleos e graxas e material flutuante
encontravam-se abaixo do limite legal.
(<
LD) - Abaixo do limite detectável.
Em
Angra 2, durante operação normal, os efluentes
líquidos convencionais provenientes do sistema de
resfriamento dos condensadores (água do mar) constituem
também o principal efluente líquido descartado
continuamente no poço de selagem principal, não
sendo submetidos qualquer processo de tratamento antes desse
lançamento, por desnecessário, com vazão
de 77 m3/s. Durante paradas da usina essa vazão
pode ser reduzida, eventualmente. Esse mesmo poço
de selagem principal recebe todos os demais efluentes líquidos
provenientes de todos os demais sistemas dessa usina, inclusive
os efluentes radioativos tratados. Modelo idêntico
será adotado na usina Angra 3. A Tabela 21 resume
os valores dos parâmetros controlados, no período
de 2001 a 2003 das várias correntes de efluentes
geradas em Angra 2, antes do início da operação
do sistema de tratamento de efluentes líquidos convencionais,
ocorrido posteriormente (em 2003).
Tabela 21 - Angra
2 - Valores dos Parâmetros Controlados nas Correntes
de Efluentes Líquidos derivados da Operação
da Usina no Período de 2001 a 2003.
Local
da medição |
Parâmetro |
Limite
(*) |
2001 |
2002 |
2003 |
Sistema
de separação água /óleo
Tanque 1UGX |
Temperatura
(oC) |
<
40 |
29,42 |
25,6 |
(*1) |
pH |
Entre
5.0-9.0 |
8,00 |
7,93 |
Óleos
e graxas
(ml/L) |
Máximo:
20
(óleos
minerais) |
7,5 |
13,93 |
Amoníaco
(mg/L) |
Máximo:
5 |
0,029 |
0,02 |
Boro
(mg/L) |
Máximo:
5 |
1,03 |
1,30 |
Sistama
de separação água / óleo
Tanque 1UGX |
Zinco
(mg/L) |
Máximo:1 |
0,289 |
0,517 |
(*1) |
Hidrazina
(mg/L) |
Máximo:
1 |
2,64 |
1,279 |
Sistema
de separação águaóleo
Tanque 2UGX |
Temperatura
(oC) |
<
40 |
33,44 |
26,71 |
(*1) |
pH |
Entre
5.0-9.0 |
8,71 |
7,78 |
Óleos
e graxas
(ml/L) |
Máximo:
20
(óleos
minerais) |
4,78 |
10,43 |
Amoníaco
(mg/L) |
Máximo:
5 |
0,394 |
0,06 |
Boro
(mg/L) |
Máximo:
5 |
1,156 |
1,44 |
Zinco
(mg/L) |
Máximo:
1 |
0,0151 |
0,152 |
Hidrazina
(mg/L) |
Máximo:
1 |
1,57 |
0,623 |
Sistema
de neutralização LDR |
Temperatura
(oC) |
<
40 |
25,95 |
26,18 |
26,7 |
pH |
Entre
5.0-9.0 |
6,79 |
7,09 |
7,3 |
Sistema
de neutralização GCR |
Temperatura
(oC) |
<
40 |
23,54 |
23,27 |
22,8 |
pH |
Entre
5.0-9.0 |
7,08 |
7,49 |
7,2 |
Sistema
de tratamento de esgoto sanitário
ETE - Tanque UGV |
Temperatura
(oC) |
<
40 |
(*
2)) |
(*
2) |
30,17 |
pH |
Entre
5.0-9.0 |
6,30 |
5,95 |
6,13 |
Fonte:
Relatórios de Acompanhamento de Efluentes - RAE
(Programa
de Autocontrole de Efluentes Líquidos de Angra 2
- Procon ÁGUA);
Relatórios do Programa Especial de Controle e Monitoramento
dos efluentes Líquidos Convencionais de Angra 2
(substituído
pelo Programa de Autocontrole, a partir de abril de 2003).
(* ) Legislação Ambiental
Norma
NT-202.R-10 - "Critérios e Padrões para
Lançamento de Efluentes Líquidos" -
Feema;
Resolução
Conama nº 20, de 18 de junho de 1986 - Artigo 21
(* 1) O sistema de separação água /
óleo (Tanques 1 UGX e 2 UGX) não foi mais
monitorado a partir de abril de 2003,
devido a implantação do Procon ÁGUA
para Angra 2, conforme estabelecido pela Feema.
(* 2) Nos períodos de 2001 e 2002 não foram
realizadas medidas de temperatura na ETE de Angra 2
Em
Angra 2, os efluentes líquidos convencionais provenientes
de drenagens de prédios e tanques, bem como dos transformadores
elétricos, que possam conter óleos como impurezas,
tanto em operação normal quanto em paradas
da usina, são encaminhados para duas estruturas distintas
de separação de água-óleo, respectivamente
1UGX e 2UGX.
O
processo de separação água-óleo
não envolve adição de nenhum produto
químico, pois trata-se apenas de uma separação
física. A fase aquosa, já descontaminada de
óleos, escoa através de vertedouros, em direção
a tanques de coleta intermediários, de onde é
transferida por bombas para os tanques do sistema de tratamento
de efluentes líquidos convencionais da usina Angra
2. A Estrutura 1UGX de Separação de Água-Óleo
pode tratar até 216 m3/hora de efluentes
contendo óleos como impurezas, enquanto que a Estrutura
2UGX tem capacidade para processar até 72 m3/hora
de efluentes contendo óleos. Os teores
de óleos dos efluentes líquidos, após
terem sido tratados em ambas as estruturas, são sempre
inferiores a 20 ppm.
O
sistema de tratamento de efluentes líquidos convencionais
(GNB) instalado na usina Angra 2 tem capacidade para processar
até 608 m3/dia, durante os períodos
de operação normal da usina e nas paradas
da mesma. O GNB é provido de bombas de recirculação
e misturação associadas a misturadores ar-líquido
estáticos submersos e aspersores estáticos
ar-líquido. O sistema é capaz de recircular
até 400 m3/hora de líquidos no
interior de cada bacia, com todo o líquido passando
através dos misturadores ar-líquido/aspersores
ar-líquido.
O
sistema GNB trata efluentes líquidos de várias
origens dessa mesma usina, inclusive os efluentes aquosos,
já livres de óleos, provenientes das duas
estruturas de separação água-óleo.
Os efluentes são tratados em duas bacias de tratamento
(de 608 m3 de capacidade, cada uma), operadas
alternadamente em ciclos diários de "recepção/acumulação
de efluentes" e de "tratamento de efluentes"
propriamente dito. Trata-se de um sistema basicamente destinado
a remover amoníaco (NH3) e hidrazina (N2H4)
contidos nesses efluentes, que devem ser trazidos a níveis
inferiores, respectivamente, a 5 ppm de nitrogênio
amoniacal (correspondentes a 6 ppm NH3) e 1 ppm
N2H4, que são os limites máximos
permitidos para lançamento no meio ambiente. Esse
mesmo sistema é também utilizado para fins
de correção de pH.
A
remoção de amoníaco (NH3)
é feita por aeração dos efluentes,
que precisam ser preliminarmente levados a pH 12, por meio
da adição de quantidades previamente calculadas
de hidróxido de sódio a 50%. Após a
remoção do amoníaco, o pH dos efluentes
é reajustado para a faixa de 5 a 9, através
da adição de quantidades previamente calculadas
de ácido sulfúrico (a 96% H2SO4),
antes de ser lançado no meio ambiente (poço
de selagem principal).O ciclo de processamento de cada carga
de efluentes que demande esse processo de remoção
de amoníaco requer até 20 horas, usualmente,
desde que as concentrações iniciais não
ultrapassem 15 ppm NH3.
A
destruição de hidrazina é praticada
através da adição de peróxido
de hidrogênio a 50% e, nesse processo, a hidrazina
é transformada em nitrogênio e água.
A destruição da hidrazina pode ser feita concomitantemente
com a remoção do amoníaco, caso a carga
de efluentes contenha esses dois poluentes em níveis
superiores aos máximos permitidos para liberação
no meio ambiente. A operação de destruição
de hidrazina requer, usualmente, períodos de processamento
de aproximadamente 6 horas.
Finalmente,
a carga de efluentes que necessite apenas de correção
de pH à faixa de 5 a 9, é tratada ou com hidróxido
de sódio (a 50% NaOH) ou com ácido sulfúrico
(a 96% H2SO4), conforme seja necessário
elevar-se ou diminuir-se o pH, para que seja trazido para
o interior da faixa de 5 a 9.
Após
concluído o tratamento requerido por cada carga de
efluentes líquidos de (até) 608 m3,
amostras dos líquidos tratados são levadas
a exame em laboratório para determinação
dos valores dos parâmetros de controle, os quais,
estando em conformidade com os limites estabelecidos, determinam
a oficialização, através de protocolos
de liberação, dos efluentes tratados para
a subseqüente descarga no poço de selagem principal,
unindo-se ao principal efluente líquido de processo
da usina Angra 2, que são os efluentes derivados
dos condensadores, qual seja, a água do mar utilizada
no resfriamento do vapor exausto das turbinas de baixa pressão
do circuito secundário dessa mesma usina, em direção
ao Saco Piraquara de Fora.
A
Tabela 22 mostra os valores dos parâmetros de controle
de cargas de efluentes líquidos liberados para o
poço de selagem principal da usina Angra 2, após
terem recebido tratamentos para eliminação
de amoníaco e/ou hidrazina, além do tratamento
para ajuste do pH para o interior da faixa de valores permitida
para lançamento no meio ambiente, no seu novo e atual
sistema de tratamento de efluentes líquidos convencionais.
Tabela
22 - Angra 2 - Valores dos Parâmetros Controlados
nos Efluentes Líquidos após Tratamento no
Sistema de Tratamento de Efluentes Líquidos Convencionais,
liberados para o Poço de Selagem Principal, no período
de agosto de 2003 a julho de 2004.
Clique
aqui para visualizar a tabela 22
(*)
O parâmetro SE foi substituído por OGme
RNFT - Resíduos Não Filtráveis Totais
N-NH4 -Nitrogênio AmoniacalOGme - Óleos e Graxas
de origem mineral
SE - "Solúveis em Éter" (Óleos
e Graxas)
Obs.: A parada da Usina de Angra 2 ocorreu no período
de 13/05/04 a 11/06/04.
Os
óleos removidos e/ou recuperados dos efluentes líquidos,
nas duas estruturas de separação de água-óleo
(1UGX e 2UGX), constituem rejeitos não contaminados
com substâncias radioativas, que são acumulados
e alienados, juntamente com os óleos recuperados
de toda a CNAAA, como "óleos usados" para
retratamento, refinamento, etc., por empresas particulares
que os adquirem para reaproveitamento.
Em
Angra 3, haverá apenas uma única e exclusiva
estrutura de separação de água-óleo.
Tal como hoje ocorre em Angra 2, também em Angra
3 os efluentes líquidos, após separados de
óleos, serão encaminhados ao correspondente
sistema de tratamento de efluentes líquidos convencionais
para processamento, antes de serem liberados para o poço
de selagem principal e daí para o meio externo.
Na
usina Angra 2, durante paradas para recarga de combustível
nuclear, o principal rejeito líquido (não
se considerando a água do mar que circula pelos condensadores
principais, que aliás não requer nenhum pós-tratamento
e é descarregada diretamente no poço de selagem
principal) é a água de processo do circuito
secundário de água-vapor. O circuito secundário
de água-vapor contém uma quantidade de líquido
da ordem de 1.800 m3. Esse líquido é constituído
basicamente por água desmineralizada condicionada
apenas com amoníaco/hidrazina, com um teor de amoníaco
(NH3) de até 15 ppm (portanto, além do limite
permitido para lançamento no meio ambiente, que é
de 6 ppm NH3) e de hidrazina (N2H4), da ordem de 0,1 ppm
(portanto, abaixo do limite permitido para lançamento
no meio ambiente, que é de 1 ppm N2H4).
Como
o amoníaco existente na água do circuito secundário
deriva da decomposição térmica sofrida
pela hidrazina, continuamente adicionada à água
como "agente anti-oxigênio", antes das paradas
da usina essa adição é suspensa cerca
de uma semana, com a usina ainda em operação,
nessas circunstâncias, o teor de amoníaco na
água do circuito secundário é paulatinamente
reduzido a teores inferiores a 5 ppm NH3, o que permite
o lançamento direto dessa água no poço
de selagem principal, sem necessidade de ser submetida a
qualquer tratamento. No entanto, essa água, durante
as paradas da usina, é transferida para as bacias
do sistema de tratamento de efluentes líquidos convencionais,
antes de ser descartada no poço de selagem principal,
e é submetida, assim, aos mesmos procedimentos de
liberação para o meio ambiente, usualmente
adotados. Logicamente, por não ser necessário
tratamento, o tempo de processamento dessa água do
circuito secundário é consideravelmente reduzido,
permitindo seu lançamento final no poço de
selagem principal sem dificuldade.
Na Figura 27 é mostrado o esquema
de interligações das várias correntes
de efluentes líquidos convencionais da usina Angra
2 e na Figura 28 o esquema congênere para a futura usina
Angra 3. Na Figura 29 é mostrado o diagrama de blocos
representativo do sistema de tratamento de efluentes líquidos
convencionais de Angra 2, idêntico ao sistema congênere
a ser implantado na usina Angra 3.

Figura
27 - Angra 2 - Esquema das interligações das
várias correntes de efluentes líquidos convencionais
(Rejeitos Líquidos)

Figura
28 - Angra 3 - Esquema das interligações (futuras)
das várias correntes de efluentes líquidos
convencionais (rejeitos líquidos)

Figura
29 - Angra 2 - Diagrama de blocos representativos do sistema
de tratamento de efluentes líquidos convencionais
(rejeitos líquidos)
2.10.3.1 Efluentes
Líquidos Sanitários - topo
O
tratamento dos esgotos sanitários, gerados nas fases
de construção e operação de
Angra 3, também dará origem a efluentes que
serão descartados no meio ambiente aquático
de Itaorna, dentro dos padrões e limites de lançamento
legais em vigor (Resolução Conama Nº
20/86 e NT-202.R.10 da Feema).
Os
esgotos sanitários gerados pelo contingenciamento
na fase de construção e montagem de Angra
3, serão coletados em caixas coletoras de esgoto,
dentro dos padrões normativos, localizadas no Canteiro
de Obras, sendo encaminhados através de ramais, por
vias subterrâneas, até uma Estação
de Tratamento de Esgoto - ETE, a ser construída na
fase de implantação do Canteiro de Obras.
Os
sedimentos de resíduos orgânicos provenientes
da limpeza das cavas de fundação (lama) serão
lançados através do sistema de bombeamento.
O
tratamento a ser implantado, similar à ETE em operação
em Angra 2, é do tipo processo biológico de
lodo ativado e aeração prolongada, sendo os
efluentes lançados subseqüentemente em canais
de drenagem que desembocam na enseada de Itaorna. O fluxograma
esquemático do sistema de tratamento (ETE) de Angra
2, similar ao que será implantado em Angra 3, é
apresentado abaixo, na Figura 30.
Atualmente
há três estações de tratamento
de esgotos sanitários na CNAAA, uma para cada Unidade
em operação (Angra 1 e 2) e a terceira que
atende aos prédios de apoio da CNAAA. São
projetadas para o atendimento nas condições
normais de operação das usinas, como também
nas paradas das mesmas, para troca de elementos combustíveis
ou manutenções. A localização
das quatro ETEs (inclui-se a estação a ser
construída para Angra 3), bem como seus respectivos
locais de lançamento de efluentes pode ser vista
no Anexo 4 - Planta Esquemática das Áreas
Restritas, Pontos de Emissões, Locais de Lançamento
de Efluentes Líquidos e Sistema de Abastecimento
de Água Doce - CNAAA (Unidades 1, 2 e 3).
As
estações de tratamento são monitoradas
quanto à qualidade dos efluentes tratados, por meio
de medições diárias de vazões
e de pH nas saídas dos sistemas de tratamento, bem
como por análises de laboratório efetuadas
em amostras coletadas nos mesmos locais, para fins de avaliação
de materiais sedimentáveis e RNFT (resíduos
não filtráveis totais), com freqüência
semanal, e de DBO5, com freqüência quinzenal.
Os procedimentos adotados atendem a norma técnica
NT-202.R-10 (Critérios e Padrões para Lançamento
de Efluentes Líquidos) e as diretrizes DZ-942.R-7
(Diretriz de Implantação do Programa de Autocontrole
de Efluentes Líquidos, Procon Água) e DZ-215.R-3
(Diretriz de Controle de Carga Orgânica Biodegradável
em Efluentes Líquidos de Origem Não-industrial),
da Feema, bem como a Resolução Conama 20 (em
seu artigo 21).

Figura
30 - Angra 2 - Fluxograma esquemático do sistema
de tratamento de esgotos sanitários.
Fonte: Eletronuclear / Planep Engenharia Ltda.
Os
resultados da monitoração realizada no período
de janeiro/2001 a dezembro/2003 constam da Tabela 23. Verifica-se,
no caso de Angra 1 e 2, que, apesar da variação
havida na carga afluente devida à variação
no número de funcionários presentes durante
a operação normal das usinas e nas paradas,
os efluentes das respectivas estações de tratamento
não apresentaram problemas quanto ao atendimento
do limite de lançamento para a DBO5; entretanto,
no que se refere aos demais parâmetros de controle,
esses apenas ultrapassaram os limites legais pelo menos
uma vez nesse mesmo período.
Tabela 23 - CNAAA
- Características e Parâmetros de Controle dos
Efluentes Sanitários das Usinas Angra 1 e 2 e dos prédios
de apoio da CNAAA lançados nos Canais de Drenagem,
no período de 2001 - 2003.
Usina |
Parâmetro |
Limite |
Média |
Máximo |
Mínimo |
ETE
Angra 1 |
Vazão
(m3/h) |
1,5
Qmédia |
1,85 |
2,5 |
0,57 |
pH |
Entre
5 - 9 |
6,11 |
7,94 |
3,8 |
DBO5,
(mg/L) |
Máximo:
100 |
20,86 |
120 |
4,8 |
Materiais
sedimentáveis
(mg/L) |
Máximo:
1 |
0,35 |
0,9 |
0 |
RNFT
(mg/L) |
Máximo:
100 |
29,99 |
173 |
1 |
ETE
Angra 2 |
Vazão
(m3/h) |
1,5
Qmédia |
1,34 |
3,20 |
0,44 |
pH |
Entre
5 - 9 |
6,23 |
7,9 |
4,12 |
DBO5,
(mg/L) |
Máximo:
100 |
19,28 |
92 |
2,4 |
Materiais
sedimentáveis
(mg/L) |
Máximo:
1 |
0,14 |
1,5 |
0 |
RNFT
(mg/L) |
Máximo:
100 |
28,25 |
81 |
1,7 |
ETE
dos
prédios de
apoio da
CNAAA |
Vazão
(m3/h) |
1,5
Qmédia |
13,61 |
23,9 |
5,3 |
pH |
Entre
5 - 9 |
7,27 |
7,9 |
4,9 |
DBO5,
(mg/L) |
Máximo
100 |
25,13 |
100 |
5 |
Materiais
sedimentáveis
(mg/L) |
Máximo:
1 |
3,24 |
90 |
0 |
RNFT
(mg/L) |
Máximo:
100 |
36,01 |
207 |
2,9 |
Fonte:
Eletronuclear (Programa de Monitoração e Controle
da Qualidade das Águas - PA - MA 09 e 2 PA - MA 09)
O
pH abaixo de 5 (ácido) pode ser explicado pela existência
de menores volumes de carga afluente nos períodos
de operação das usinas, visto que as estações
de tratamento foram projetadas para atender os períodos
de parada, quando a quantidade de pessoas trabalhando é
maior. A maior remoção de DBO5 nos períodos
de operação gera uma quantidade maior de CO2,
o que provoca redução do pH e torna necessária
sua correção antes do lançamento do
esgoto tratado no meio ambiente. Por outro lado, as variações
nas características dos efluentes sanitários
podem também justificar os desvios observados quanto
aos materiais sedimentáveis e aos RNFT (resíduos
não filtráveis totais), pois elas alteram
as condições de operação do
sistema e demandam tempo, para que possam ser adaptadas
às novas condições de processo.
A
monitoração dos efluentes da ETE que atende
aos prédios de apoio da CNAAA apresentou valores
acima dos permitidos para resíduos sedimentáveis,
causados por problemas operacionais na respectiva estação
de tratamento. Por outro lado, a reduzida carga afluente
resultou em "pH ácido" e concentração
máxima de DBO5 acima do limite legal.
Controle
e monitoração da água do mar
No
que se refere ao controle e monitoração dos
efluentes líquidos lançados no mar, os canais
de drenagem das usinas Angra 1 e Angra 2 desembocam em Itaorna
e as águas de resfriamento dos condensadores dessas
duas usinas (assim como, futuramente, também os da
usina Angra 3) são lançadas no Saco Piraquara
de Fora. No âmbito da Eletronuclear, a qualidade da
água é monitorada nos locais de lançamento,
em cinco pontos, tais como caracterizados na Tabela 24.
A
monitoração compreende a realização
de análises físico-químicas e bacteriológicas
dos parâmetros de interesse. A metodologia adotada
(parâmetros, número de amostras, periodicidade
das coletas/análises e os valores permitidos) é
demonstrada na Tabela 25. Os resultados da referida monitoração,
para o período de 2001 - 2003, são apresentados
na Tabela 26.
Tabela 24 - Pontos
de monitoração da qualidade da água do
mar das áreas dos lançamentos de efluentes.
Local
de coleta |
Ponto
de
amostragem |
Localização |
Análise |
Itaorna |
AM
5 |
Cais,
próximo à unidade 2 |
Bacteriológico |
AM
6 |
Cais
de descarga de equipamentos |
Físico-
químico |
Saco
Piraquara de Fora |
AM
7 |
A
50 m do local de descarga |
Físico-
químico |
AM
8 |
A
750 m do local de descarga |
Físico-
químico |
AM
9 |
Praia
do Velho |
Bacteriológico |
Fonte:
Eletronuclear (Programa de Monitoração e Controle
da Qualidade das Águas - PA - MA 09 e 2 PA - MA 09
Tabela 25 - Parâmetros
monitorados nas áreas de lançamento de efluentes.
Parâmetro |
Valor
permitido |
Freqüência
de
amostragem |
Número
de
amostras |
Local |
Materiais
flutuantes |
Virtualmente
ausente |
Mensal |
3 |
AM
6/7/8 |
Óleos
e graxas (mg/L) |
Virtualmente
ausente |
Mensal |
3 |
AM
6/7/8 |
DBO5
(mg/L) |
Máximo
5,0 |
Mensal |
3 |
AM
6/7/8 |
OD
(mg/L) |
Mínimo
6,0 |
Mensal |
3 |
AM
6/7/8 |
Alumínio
(mg/L) |
Máximo
1,5 |
Quinzenal |
3 |
AM
6/7/8 |
Amoníaco
(mg/L) |
Mínimo
0,4 |
Quinzenal |
3 |
AM
6/7/8 |
Boro
(mg/L) |
Máximo
5,0 |
Mensal |
3 |
AM
6/7/8 |
Cromo
hexavalente (mg/L) |
Máximo
0,05 |
Mensal |
3 |
AM
6/7/8 |
Zinco
(mg/L) |
Máximo
0,1 |
Quinzenal |
3 |
AM
6/7/8 |
Hidrazina
(mg/L) |
Máximo
0,1 |
Quinzenal |
3 |
AM
6/7/8 |
Nitrito
(mg/L) |
Máximo
1,0 |
Quinzenal |
3 |
AM
6/7/8 |
pH |
6,5
- 8,5 |
Quinzenal |
3 |
AM
6/7/8 |
6,5
- 8,3 |
Quinzenal |
6 |
AM
5/9 |
Coliformes
fecais (VMP/100 ml) |
Máximo
1.000 |
Mensal |
6 |
AM
5/9 |
Cloro
residual (mg/L) |
Máximo
0,01 |
Semanal |
2 |
AM
6/7/8 |
Fonte:
Eletronuclear (Programa de Monitoração e Controle
da Qualidade das Águas - PA - MA 09 e 2 PA - MA 09)
Tabela 26 - Valores
dos Parâmetros de Controle Monitorados nos Efluentes
Líquidos lançados no Mar, período 2001
a 2003.
Local
da coleta |
Parâmetro |
Limite
(*) |
2001 |
2002 |
2003 |
AM
5
Enseada de Itaorna,
cais próximo a
Unidade 2 |
Coliformes
fecais (NMP/
100 ml) |
Máximo:
1000
/ 100 ml |
Ausente
/
100ml |
Ausente
/
100ml |
Ausente
/
100ml |
pH |
6,5
- 8,3 |
8,14 |
8,16 |
8,18 |
AM
6
Enseada de Itaorna,
cais de descarga de
equipamentos |
pH |
6,5
- 8,5 |
8,22 |
8,1 |
8,18 |
Óleos
e graxas
(mg/L) |
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Amoníaco
(mg/L) |
Máximo:
0,4 |
<0,1 |
<0,4 |
0,16 |
Zinco
(mg/L) |
Máximo:
0,1 |
0,01 |
0,0053 |
0,0038 |
AM
6
Enseada de Itaorna,
cais de descarga de
equipamentos |
Hidrazina
(mg/L) |
Máximo:
0,1 |
<0,05 |
<0,03 |
0,094 |
AM
7
Saco Piraquara de
Fora, a 50 m. do ponto de lançamento |
pH |
6,5
- 8,5 |
8,25 |
8,13 |
8,21 |
Óleos
e graxas
(mg/L) |
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Amoníaco
(mg/L) |
Máximo:
0,4 |
<0,1 |
<0,4 |
0,16 |
Boro
(mg/L) |
Máximo:
5 |
4,28 |
4,60 |
3,97 |
Zinco
(mg/L) |
Máximo:
0,1 |
0,009 |
0,0046 |
0,0026 |
Hidrazina
(mg/L) |
Máximo:
0,1 |
<0,05 |
<0,03 |
0,094 |
AM
8
Saco Piraquara de
Fora, a 750 m. do
ponto de lançamento |
pH |
6,5
- 8,5 |
8,25 |
8,14 |
8,21 |
Óleos
e graxas
(mg/L) |
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Virtualmente
ausente |
Amoníaco
(mg/L) |
Máximo:
0,4 |
<0,1c |
<0,4 |
0,16 |
Boro(mg/L) |
Máximo:
5 |
4,29 |
4,53 |
3,64 |
Zinco
(mg/L) |
Máximo:
0,1 |
0,01 |
0,005 |
0,0025 |
Hidrazina
(mg/L) |
Máximo:
0,1 |
<0,05 |
<0,03 |
0,094 |
AM
9
Marina da Piraquara,
Praia do Velho |
Coliformes
fecais (VMP/
100 ml) |
Máximo:
1000
/ 100 ml |
Ausente
/
100ml |
Ausente
/
100ml |
Ausente
/
100ml |
pH |
6,5
- 8,3 |
8,10 |
8,18 |
8,17 |
Fonte:
Relatórios do Programa de Monitoração
e Controle da Qualidade das Águas (2PA-MA 09).
(*
) Legislação Aplicável
Resolução
Conama nº 20, de 18 de junho de 1986 - Artigo 8
Norma
NT-319 - "Critérios de Qualidade de Água
para Preservação de Fauna e Flora Marinhas
Naturais " Feema;
Norma
NT-311 - "Critérios de Qualidade de Água
de Recreação em Água Salgada - Contato
Primário"- Feema;
Quanto
ao aspecto bacteriológico, não foi constatada
existência de coliformes fecais nas amostras coletadas
nos pontos AM-5 (Enseada de Itaorna), no período
de janeiro/2002 a dezembro/2003, e AM-9 (Praia do Velho,
Saco Piraquara de Fora), no período de janeiro/2000
a dezembro/2003, fato que indica que os efluentes sanitários
não estão contaminando a água do mar
nos locais de lançamento.
Considerando-se
que o sistema de tratamento de esgotos sanitários
da usina Angra 3 será idêntico à usina
Angra 2, seus efluentes sanitários deverão
apresentar, tanto quantitativa quanto qualitativamente,
os mesmos valores e condições apresentados
na Tabela 27 para a usina Angra 2. E, como a monitoração
correntemente levada a efeito na CNAAA já demonstra
a eficiência dos sistemas de tratamento de efluentes
sanitários, inclusive no que se refere especificamente
ao item "coliformes fecais", de fato não
há razões que possam levar à suposição
de que os efluentes sanitários provenientes de Angra
3 venham futuramente alterar a qualidade da água
do corpo hídrico receptor.
Tabela 27 - Angra
2 - Valores dos Parâmetros de Controle Monitorados nos
Efluentes Líquidos lançados no Mar,período
2001 a 2003.
Parâmetro |
Limite |
Valor
médio |
Vazão
(m3/h) |
1,5
Qmédia |
1,45 |
pH |
Entre
5 - 9 |
6,13 |
DBO5
(mg/L) |
Máximo:
100 |
22,41 |
Materiais
sedimentáveis (mL/L) |
Máximo
1 |
0,21 |
RNFT
(mg/L) |
Máximo
100 |
29,89 |
Fonte:
Eletronuclear, Programa de Monitoração e Controle
da Qualidade das Águas (PA - MA 09 e 2 PA - MA 09).
2.11 REJEITOS
RADIOATIVOS - CONCEITOS, CLASSIFICAÇÕES E GENERALIDADES
- topo
2.11.1 Radiação
- topo
Toda
matéria se compõe de átomos e a maioria
deles é estável; as exceções,
os que têm núcleos instáveis, são
chamados de "radioativos", pois para estabilizarem
seus núcleos emitem radiação.
A
radiação pode ser de dois tipos:
•
A ionizante, que, sob forma de partículas
ou radiação eletromagnética, é
capaz de adicionar ou remover elétrons de átomos
ou moléculas, tem como exemplo as partículas
alfa e beta, raios gama, raios-X e nêutrons.
•
A não ionizante, sem a mesma capacidade de
adicionar ou remover elétrons de átomos ou
moléculas, tem como exemplo as ondas de radar, ondas
de rádio, micro-ondas e a luz visível.
A
luz do sol é a forma mais conhecida de radiação
e transporta energia em ondas eletromagnéticas nas
três faixas de freqüência: curta, média
e longa.
A
classificação das ondas de energia em faixas
de freqüência é feita em função
de sua velocidade, comprimento de onda e freqüência.
A freqüência é proporcional ao comprimento
de onda e quanto mais curta for a onda, maior é sua
freqüência e, quanto mais freqüente, maior
é a quantidade de energia por ela conduzida. Neste
extremo, situa-se a faixa de ondas curtas e no outro, a
faixa de ondas longas, que inclui as ondas mais compridas
e, portanto, menos freqüentes e com menor conteúdo
de energia. Na radiação proveniente do sol,
usada como exemplo anteriormente, os raios ultravioletas
pertencem à faixa de ondas curtas e os raios infravermelhos,
à faixa de ondas longas.
A
radiação natural ou "de fundo",
é aquela com a qual o planeta convive. É também
chamada pelos especialistas como background.
O
fallout é a incorporação à biosfera
dos radionuclídeos resultantes das experiências
com bombas atômicas.
A
radiação natural é, apesar das emissões
de radionuclídeos artificiais pelas atividades humanas
e do fallout, a maior fonte de exposição do
ser humano - aproximadamente 88% do total. Ela tem um componente
externo, que compreende os raios cósmicos e a radiação
emitida por elementos naturais existentes na biosfera e
na crosta terrestre, e componentes internos oriundos dos
elementos naturais incorporados pelo homem como, por exemplo,
o potássio 40 e o carbono 14.
A
dose efetiva causada pela radiação natural
varia bastante geograficamente, existindo regiões
onde seu valor chega a ser vinte vezes superior à
média do planeta, que é igual a 2,4 mSv por
ano. No Brasil, os moradores de Guarapari (sede do Município)
e do povoado de Meaípe, no Espírito Santo,
recebem doses significativas de radiação natural,
porque o solo nestas regiões é rico em areia
monazítica, a qual contém elementos radioativos.
Em Guarapari, a dose média anual recebida pela população
residente é da ordem de 12mSv/ano, enquanto que a
de Meaípe está por volta de 38 mSv/ano. Estas
doses médias são muito superiores às
estabelecidas pela CNEN para o controle dos efluentes radioativos
das Centrais Nucleares, que é de 1 mSv/ano.
A
radiação tem origem nos átomos, unidades
básicas de constituição de todas as
formas de matéria. A maior parte dos átomos
é estável, mas há também átomos
instáveis, isto é, átomos radioativos,
que contêm quantidades excessivas de energia e a emitem
num processo de decaimento sucessivo, até atingir
a estabilidade. A emissão é feita sob a forma
de ondas (gama) ou partículas com alta velocidade
(alfa ou beta), que são ionizantes por sua capacidade
de produzir partículas eletricamente ativas, chamadas
íons, nos materiais a elas expostos.
Há
diversos tipos de radiação ionizante. As partículas
alfa são, comparativamente às partículas
beta, de maior dimensão e de maior massa, possuindo
carga elétrica positiva, pouco poder de penetração
na matéria e pequeno alcance no ar. Por outro lado,
as partículas beta (elétrons de alta energia)
são, comparativamente às partículas
alfa, de pequenas dimensões, de muito menor massa,
possuem carga elétrica negativa, maior poder de penetração
na matéria e de alcance no ar (Tabela 28). As partículas
alfa têm densidade relativamente elevada, carga elétrica
positiva e pouco poder de penetração, enquanto
as partículas beta são elétrons em
movimento ultra-rápido. Os raios X e os raios gama,
assim como a luz, são constituídos de energia
deslocada em ondas, portanto sem movimentação
de matéria. No entanto, estas têm enorme poder
de penetração e atravessam o corpo humano
com grande facilidade, sendo que somente podem ser atenuadas
por barreiras de alta densidade como, por exemplo, concreto,
chumbo ou água (Figura 31).

Figura
31 - Poder de penetração das emissões
alfa, beta e gama.
Fonte: EIA da Unidade III do DIRR (MRS Estudos
Ambientais, 2003).
Tabela 28 - Propriedades
dos tipos de radiação ionizante.
Radiação |
Composição |
Carga
Relativa |
Massa
(u) |
Velocidade |
Poder
de
Penetração |
α
(Alfa) |
2
prótons e 2
nêutrons |
+2 |
4 |
5%
a 10% da
velocidade da luz |
muito
baixo |
ß
(Beta) |
elétron |
-1 |
1/1836 |
Até
90% da
velocidade da luz |
baixo |
g
(Gama) |
Onda
eletromagnética |
0 |
0 |
Igual
á velocidade da
luz (3x108 m/s) |
alto |
Fonte:
EIA da Unidade III do DIRR (MRS Estudos Ambientais, 2003).
As
partículas alfa, embora possam ser barradas com facilidade,
pois possuem poder de penetração muito baixo,
são perigosas quando os elementos que as emitem são
inalados ou absorvidos pelo organismo humano através
de ferimentos, uma vez que, pelo seu tamanho, colidem com
os átomos das células e perdem energia rapidamente,
infligindo maior dano biológico que outras formas
de radiação ionizante.
O
ser humano é exposto à radiação
ionizante de duas maneiras diferentes:
•
a fonte emissora está externa a seu corpo;
•
incorporação de elementos radioativos via
inalação, ingestão e/ou absorção
através da pele e/ou ferimentos.
No
primeiro caso, para proteger-se, o ser humano deve aplicar
os três princípios básicos de proteção
radiológica:
•
tempo: a dose recebida é diretamente proporcional
ao tempo de exposição à radiação.
Portanto, quanto menor for este tempo menor será
a sua dose;
•
distância: a dose recebida é inversamente proporcional
à distância entre o ser humano e a fonte de
radiação. Conseqüentemente, quanto mais
distante dela permanecer, menor será também
a sua dose; e
•
blindagem: consiste em uma barreira de material apropriado
colocada entre a fonte radioativa e o homem, a qual tem
por finalidade reduzir a intensidade inicial da radiação
incidente.
A
segunda maneira de exposição à radiação
ionizante, inalada, ingerida e/ou absorvida através
da pele e/ou ferimentos, deve ser evitada através
da utilização de equipamentos de proteção
individual (EPI) apropriados a cada condição
radiológica, tais como: máscaras com filtros
mecânicos, autônomas ou com suprimento externo
de ar; vestimentas especiais de pano, papel e/ou plástico;
luvas de pano, cirúrgicas e/ou de borracha; galochas,
botas e/ou sapatilhas de plástico. Uma vez encontrado,
o material radioativo dentro do organismo humano, o seu
metabolismo deve ser acelerado para diminuir ao máximo
as doses nos diversos órgãos que por ela possam
ser afetados.
2.12 GERAÇÃO
DE MATERIAL RADIOATIVO EM ANGRA 3 - topo
Todos
os elementos radioativos produzidos em uma usina nuclear
têm sua origem no núcleo do reator ou em suas
imediações. Os dois grandes processos responsáveis
pela sua produção são a fissão
nuclear e a ativação por nêutrons.
No
processo de fissão, um núcleo de urânio
absorve um nêutron e divide-se em dois, dando origem
a dois novos elementos, os quais são radioativos.
Estes elementos, resultantes da fissão, são
denominados de produtos de fissão e são eles
os grandes responsáveis pela radioatividade existente
numa usina nuclear. Mas, como eles são produzidos
no interior do combustível, para que possam contaminar
a água do circuito primário, eles têm
que atravessar duas barreiras. A primeira delas é
a própria matriz cerâmica das pastilhas de
combustível. Neste caso, os produtos de fissão
têm que se deslocar por difusão através
da pastilha até atingirem o espaço livre entre
esta e a parede da vareta combustível. Este processo
é muito lento, de modo que apenas uma fração
muito pequena do inventário destes produtos consegue
fazê-lo. Uma vez vencida esta etapa, uma passagem
para a água do primário só é
possível se alguma vareta apresentar defeito perdendo
sua estanqueidade. Rigorosos controles exercidos nas fases
de projeto, fabricação, transporte etc., têm
feito com que a incidência de defeitos no combustível
seja mínima.
A
ativação por nêutrons é um processo
pelo qual reações nucleares, iniciadas pela
absorção de nêutrons em elementos presentes
no campo neutrônico, dão origem a substâncias
radioativas. Este processo pode se dar dentro do combustível
ou fora dele, bastando para isso a presença de nêutrons.
Isótopos de plutônio e netúnio, por
exemplo, são produzidos dentro do combustível
por este processo. Os isótopos radioativos produzidos
fora do combustível podem ter duas origens. A primeira
delas é a partir de elementos estáveis que
constituem o próprio refrigerante primário
ou que nele estejam dissolvidos. Como exemplos, pode-se
citar o nitrogênio (N-16) produzido a partir do oxigênio
da água e o trício (H-3) produzido a partir
do boro, o qual é propositadamente diluído
sob a forma de ácido bórico no refrigerante
para efeitos de controle. A segunda é a partir de
elementos, também estáveis, que constituem
os materiais em contato com o refrigerante, dentro do sistema
primário ou dos demais sistemas a ele conectados.
Estes elementos entram na água do primário
por processos de erosão e corrosão e, ao passarem
pelo núcleo do reator, são ativados. Entre
estes produtos ativados estão o ferro (Fe-59), o
cobalto (Co-60) e o manganês (Mn-54).
2.12.1 Substâncias
Radioativas nos Sistemas da Usina - topo
A
produção e o fluxo de substâncias radioativas
nos sistemas mais relevantes da usina são apresentados
a seguir. Os valores aqui mostrados foram obtidos através
de um cálculo modelo fundamentado em valores típicos
dos vários parâmetros que têm influência
nos níveis de atividade dos sistemas e componentes
da usina. Uma discussão mais detalhada do modelo
utilizado pode ser encontrada em DIAS (1993).
a)
Sistema de Refrigeração do Reator
Produtos
de Fissão:
Durante a operação de uma usina nuclear, é
impossível excluir a ocorrência de pequenos
defeitos no revestimento de varetas, de combustível.
Tais defeitos reduzem a capacidade de retenção
destas varetas, podendo ocasionar uma fuga reduzida de produtos
de fissão para o sistema de refrigeração
do reator. Entretanto, como este é um sistema fechado,
ele permite que mesmo uma quantidade relativamente alta
de produtos de fissão escape para o refrigerante
sem prejudicar a operação da usina.
A
composição dos produtos de fissão que
porventura escapem para o refrigerante corresponde aproximadamente
a uma composição prevista pelo modelo de difusão.
De acordo com este modelo, que é adotado aqui como
base de cálculo para a atividade do sistema de refrigeração
do reator, a razão entre a taxa de liberação
de atividade para o refrigerante, F e a taxa de produção
de atividade no combustível, B é inversamente
proporcional à raiz quadrada da constante de decaimento,
λ do radionuclídeo considerado:

Uma
discussão mais detalhada do modelo de difusão
pode ser encontrada em SCHRÜFER (1974).
A
adequabilidade do modelo de difusão foi verificada
através de inúmeras medições
efetuadas tanto em reatores a água fervente quanto
em reatores a água pressurizada. Ele se aplica muito
bem aos gases nobres e pode ser usado para halogênios
com uma boa aproximação.
Desta
forma, uma taxa de liberação é designada
a um radionuclídeo representativo de cada grupo,
isto é, um gás nobre e um halogênio;
em seguida, são calculadas as taxas de liberação
para os outros radionuclídeos de interesse em cada
grupo, de acordo com o modelo de difusão. Os radionuclídeos
de referência escolhidos e suas respectivas taxas
de liberação são mostrados abaixo:
Xe-133
1,7 x 105 Bq/s.MWt
I-131
7,8 x 104 Bq/s.MWt
Os
valores acima foram escolhidos com base em medições
efetuadas em usinas em operação, de tal forma
que as concentrações de radioatividade assim
obtidas nunca ou apenas raramente sejam excedidas durante
a operação normal.
A
concentração de radioatividade no sistema
de refrigeração do reator não depende
apenas das taxas de liberação de radioatividade
para o mesmo mas, também, da eficiência dos
sistemas de purificação e desgaseificação.
O refrigerante do reator é constantemente purificado
por filtros de troca iônica numa vazão mínima
de 10% de sua massa total por hora. Esta vazão pode
ser duplicada através da operação de
uma segunda bomba de carregamento. O refrigerante pode ser
desgaseificado de modo semelhante, embora a operação
sem desgaseificação seja também possível.
Contudo, o refrigerante é sempre desgaseificado antes
da abertura do sistema de refrigeração do
reator por qualquer razão.
Produtos
de fissão podem também ser produzidos diretamente
no refrigerante como resultado da existência de impurezas
de urânio na superfície externa das varetas
de combustível. Neste caso, as quantidades envolvidas
são muito pequenas e podem ser desprezadas.
Produtos
de Corrosão: O sistema de refrigeração
do reator sempre contém elementos resultantes de
processos de corrosão que acontecem nas superfícies
internas do mesmo. Estes elementos podem ser transportados
através do sistema inteiro, podem ser também
depositados em locais diferentes do sistema e em seguida
arrastados novamente pelo refrigerante. Sempre que eles
passam ou são depositados em regiões de alto
fluxo neutrônico, eles são ativados e se tornam
radioativos. Como os processos envolvidos são complexos
e aleatórios, uma estimativa das concentrações
de radioatividade através de modelos matemáticos
não fornece resultados satisfatórios. Por
esta razão, as concentrações de radioatividade
dos produtos de corrosão são estimadas a partir
da experiência operacional de usinas semelhantes.
Produtos
de Ativação: O produto de ativação
mais importante no que concerne à blindagem do sistema
primário é o isótopo de nitrogênio,
N-16. Ele é formado através de reações
nucleares com nêutrons rápidos, a partir do
oxigênio da água presente no sistema; ele emite
radiações gama de alta energia, mas sua meia-vida
de 7,35 segundos é muito curta para que ele seja
de alguma importância fora do sistema de refrigeração
do reator.
Outros
produtos de ativação de meia vida curta como
N-17, O-19, N-13, F-18 e Na-24 são também
formados por reações nucleares, mas suas concentrações
de radioatividade no sistema são muito baixas e são
normalmente desprezíveis.
Trício:
A presença de trício no sistema de refrigeração
do reator se deve basicamente a dois processos principais:
•
Fissão ternária dentro do combustível
e posterior difusão através do revestimento
para o refrigerante;
•
Reações de captura de nêutrons com o
boro e com o lítio adicionados ao refrigerante.
Pode
ser encontrado na literatura que entre 0,1% e 1% do trício
produzido por fissão ternária no combustível
difundam através do revestimento de zircaloy
em direção ao sistema de refrigeração.
Investigações
efetuadas em usinas nucleares, durante vários ciclos,
com elementos combustíveis defeituosos indicaram
que a liberação através de defeitos
nas varetas não é significativa.
Medições,
repetidamente efetuadas em usinas nucleares, têm indicado
que para usinas com reatores a água pressurizada,
do tipo da de Angra 2 e 3, a produção total
esperada de trício se situe entre 10 e 20 GBq/MWe.
Neste
volume assume-se uma produção anual de 34
TBq de trício.
A
Tabela 29 abaixo mostra as taxas de liberação
de radioatividade, para o sistema de refrigeração
do reator, dos produtos de fissão, ativação,
corrosão e de trício, bem como as respectivas
concentrações de radioatividade resultantes
neste sistema para as várias condições
de operação dos sistemas de purificação
e desgaseificação.
Tabela 29 - Taxas
de Liberação de radioatividade para o sistema
de refrigeração do reator.
Radionuclídeo |
λ
(s-1) |
Taxa
de Liberação
(Bq/s) |
Concentração
de Radioatividade |
(Bq/Mg) |
R=0 |
R=0,l |
R=0,2 |
Kr85m |
4,30E-05 |
6,58E+08 |
5,08E+10 |
3,10E+10 |
2,23E+10 |
Kr85 |
2,05E-09 |
9,99E+05 |
1.72E+10 |
1,21E+08 |
6,05E+07 |
Kr87 |
1,51E-04 |
2,39E+09 |
5,27E+10 |
4,46E+10 |
3,86E+10 |
Kr88 |
6,78E-05 |
2,26E+09 |
U1E+11 |
7,89E+10 |
6,12E+10 |
Xe131m |
6,74E-07 |
2,50E+06 |
9,88E+09 |
3,02E+08 |
1,51E+08 |
Xe133m |
3,67E-06 |
2,81E+07 |
2,95E+10 |
3,63E+09 |
1,79E+09 |
Xe133 |
1,53E-06 |
6,41E+08 |
1,43E+12 |
8,30E+10 |
4,06E+10 |
Xe135m |
7,56E-04 |
2.22E+09 |
4,19E+10 |
4,04E+10 |
2,93E+10 |
Xe135 |
2.12E-05 |
2,34E+09 |
4,67E+11 |
2,29E+11 |
1,34E+11 |
Xe138 |
8,15E-04 |
1.37E+10 |
5,61E+10 |
5,43E+10 |
5,26E+10 |
TOTAL |
- |
- |
2,27E+12 |
5,65E+11 |
3.81E+11 |
|
|
|
|
|
|
I-129 |
1,40E-15 |
9,67E-00 |
- |
1,15E+03 |
5,79E+02 |
I-131 |
9,98E-07 |
2,93E+08 |
- |
3,37E+10 |
1,72E+10 |
I-132 |
8,37E-05 |
3,98E+09 |
- |
1,19E+11 |
9,51E+10 |
I-133 |
9,26E-06 |
2,13E+09 |
- |
1,91E+11 |
1,09E+11 |
I-134 |
2,20E-04 |
1,17E+10 |
- |
1,57E+11 |
1,41E+11 |
I-135 |
2,91E-05 |
3,57E+09 |
- |
2,09E+11 |
1,40E+11 |
TOTAL |
- |
- |
- |
7,08E+11 |
5,03E+11 |
|
|
|
|
|
|
Rb88 |
6,49E-04 |
0,OOE+01 |
1,08E+11 |
7,72E+10 |
5,87E+10 |
Sr90 |
7,55E-10 |
2,94E+04 |
- |
3,69E+06 |
1,85E+06 |
Zr95 |
1,25E-07 |
2,96E+04 |
- |
3,70E+06 |
1,86E+06 |
Cs134 |
1,07E-08 |
1,66E+05 |
- |
1,15E+08 |
5,86E+07 |
Cs137 |
7,33E-10 |
5,03E+05 |
- |
3,48E+08 |
1/77E+08 |
Cs138 |
3.59E-04 |
0,OOE+01 |
5,54E+10 |
5,36E+10 |
5,13E+10 |
TOTAL |
- |
- |
1,63E+11 |
1,31E+11 |
1,10E+11 |
|
|
|
|
|
|
Cr51 |
2,90E-07 |
5,97E+05 |
7,40E+07 |
7,40E+07 |
3,73E+07 |
Mn54 |
2,57E-08 |
5,91E+04 |
7,40E+06 |
7,40E+06 |
3,72E+06 |
Fe59 |
1,80E-07 |
5,94E+04 |
7,40E+06 |
7,40E+06 |
3,73E+06 |
Co58 |
1,13E-07 |
5,93E+05 |
7,40E+07 |
7,40E+07 |
3,72E+07 |
Co60 |
4,17E-09 |
1,77E+05 |
2,22E+07 |
2,22E+07 |
1,11E+07 |
TOTAL |
- |
- |
1,85E+08 |
1,85E+08 |
9,31E+07 |
H-3 |
1,78E-09 |
1,09E+06 |
1,87E+10 |
1,87E+10 |
1,87E+10 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
Legenda: R é a fração da massa
de refrigerante purificada ou desgaseificada por hora.
λ=Constante de decaimento.
b)
Sistema de Controle Volumétrico
Este
sistema está diretamente conectado ao sistema de
refrigeração do reator. Ele opera em condições
de pressão e temperatura bastante inferiores às
do primário e possibilita a condução
de uma certa quantidade de refrigerante através de
um filtro de troca iônica e de um desgaseificador.
O filtro é operado continuamente enquanto que o desgaseificador
pode ser operado intermitentemente.
Todas
as partes de sistemas a montante dos sistemas de purificação
e desgaseificação apresentam as mesmas concentrações
de radioatividade do sistema primário a não
ser no caso do N-16 cuja meia vida é extremamente
curta. As partes de sistemas a jusante dos sistemas de purificação
e desgaseificação, como, por exemplo, as bombas
de carregamento de alta pressão e linhas associadas,
contêm refrigerante purificado, cuja concentração
de radioatividade é reduzida de um fator entre 10
e 1000 (a menos do césio). Se a desgaseificação
estiver em linha, as concentrações de radioatividade
dos gases nobres são reduzidas de um fator de pelo
menos 100. A Tabela 30 abaixo mostra o conteúdo de
radioatividade do tanque de controle volumétrico.
Tabela
30 - Radioatividade no tanque de controle volumétrico
(Bq).
Radionuclídeo |
R=0 |
R=0,1 |
R=0,2 |
Kr85m |
4.72E+11 |
2,88E+09 |
2,08E+09 |
Kr85 |
2,24E+11 |
1,57E+07 |
7,87E+06 |
Kr87 |
2,85E+11 |
2,41E+09 |
2,09E+09 |
Kr88 |
8,83E+11 |
6,29E+09 |
4,88E+09 |
Xe131m |
1,28E+11 |
3,90E+07 |
1,95E+07 |
Xe133m |
3.71E+11 |
4,56E+08 |
2,25E+08 |
Xe133 |
1,83E+13 |
1.06E+10 |
5,20E+09 |
Xe135m |
6,80E+10 |
6,56E+08 |
4,75E+08 |
Xe135 |
5,07E+12 |
2,49E+10 |
1,46E+10 |
Xe138 |
8,52E+10 |
8,24E+08 |
7,98E+08 |
TOTAL |
2,59E+13 |
4,91E+10 |
3,03E+10 |
|
|
|
|
I-129 |
- |
1,50E+01 |
7,52E-00 |
I-131 |
- |
4,34E+08 |
2,22E+08 |
I-132 |
- |
8,68E+08 |
6,96E+08 |
I-133 |
- |
2,28E+09 |
1.31E+09 |
I-134 |
- |
6,71E+08 |
6,04E+08 |
I-135 |
- |
2,13E+09 |
1.44E+09 |
TOTAL |
- |
6,39E+09 |
4,26E+09 |
|
|
|
|
Rb88 |
l.OOE+11 |
7,14E+10 |
5,43E+10 |
Sr90 |
- |
2,40E+06 |
1.20E+06 |
Zr95 |
- |
2,40E+06 |
1,21E+06 |
Cs134 |
- |
1,24E+09 |
6,35E+08 |
Cs137 |
- |
3,77E+09 |
1.92E+09 |
Cs138 |
1.39E+11 |
1.34E+11 |
1.28E+11 |
TOTAL |
2,39E+11 |
2,10E+11 |
1,85E+11 |
|
|
|
|
Cr51 |
- |
4,80E+07 |
2,42E+07 |
Mn54 |
- |
4,81E+06 |
2.41E+06 |
Fe59 |
- |
4,80E+06 |
2,42E+06 |
Co58 |
- |
4,81E+07 |
2,42E+07 |
Co60 |
- |
1,44E+07 |
7,24E+06 |
TOTAL |
- |
l^OE+08 |
6,04E+07 |
|
|
|
|
H-3 |
2.43E+11 |
2,43E+11 |
2,43E+11 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
c)
Sistema de Purificação do Refrigerante
O
sistema de purificação do refrigerante dispõe
de dois filtros de troca iônica. Um deles está
carregado com íons Li+ e o outro com íons
de H+. O filtro carregado com lítio é o mais
freqüentemente usado, pois possui uma boa capacidade
de retenção para a maioria dos radionuclídeos,
exceto o césio. Quando se torna necessário
reduzir a concentração de césio ou
lítio no sistema de refrigeração do
reator, o filtro carregado com H+ é posto em operação.
Os
valores abaixo se aplicam aos fatores de descontaminação
do filtro de purificação do refrigerante:
Iodo
1000
Rubídio
2
Césio
1,2
Estrôncio
20
Produtos
de corrosão
20
O
refrigerante do circuito primário pode ser purificado
através destes filtros, a uma taxa de 10% ou 20%
de sua massa total por hora. As radioatividades acumuladas
em um filtro carregado com Li+ após um ano de operação,
a uma taxa de 10% por hora, são mostradas na Tabela
31 abaixo. Também são mostradas as radioatividades
remanescentes no filtro para vários períodos
de tempo após sua retirada de operação.
Tabela 31 - Radioatividade
no filtro de purificação do refrigerante (Bq).
Radionuclídeo |
T=0 |
T=30
dias |
T=l/4
ano |
T=l/2
ano |
T=l
ano |
1-129 |
3,03E+08 |
3,03E+08 |
3,03E+08 |
3,03E+08 |
3,03E+08 |
1-131 |
2,81E+14 |
2,12E+13 |
1,08E+11 |
4,13E+07 |
6,07E-00 |
1-132 |
U8E+13 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
1-133 |
1/71E+14 |
6,52E+03 |
3,48E-18 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
1-134 |
5,95E+12 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
1-135 |
5,96E+13 |
9,39E-20 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
TOTAL |
5,30E+14 |
2,12E+13 |
1,08E+11 |
3,44E+08 |
3,03E+08 |
|
|
|
|
|
|
Rb88 |
4,96E+11 |
0,OOE+01 |
O.OOE+01 |
0,OOE+01 |
O.OOE+01 |
Sr90 |
9,10E+11 |
9,08E+1
1 |
9,05E+11 |
8,99E+11 |
8,89E+11 |
Zr95 |
2,29E+11 |
1,66E+11 |
8,53E+10 |
3,17E+10 |
4,39E+09 |
Cs134 |
4,27E+12 |
4,15E+12 |
3,93E+12 |
3,61E+12 |
3,05E+12 |
Cs137 |
1,51E+13 |
1,50E+13 |
1.50E+13 |
1.49E+13 |
1.47E+13 |
Cs138 |
2,07E+1
1 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
0,OOE+01 |
TOTAL |
2,12E+13 |
2,03E+13 |
1,99E+13 |
1,94E+13 |
1,87E+13 |
|
|
|
|
|
|
Cr51 |
2,02E+12 |
9,55E+11 |
2,06E+11 |
2,10E+10 |
2,19E+08 |
Mn54 |
1.27E+12 |
1J9E+12 |
1.03E+12 |
8,45E+11 |
5,64E+11 |
Fe59 |
3,24E+11 |
2,03E+11 |
7,83E+10 |
1,89E+10 |
1,10E+09 |
Co58 |
5,03E+12 |
3,75E+12 |
2,06E+12 |
8,42E+11 |
1,41E+11 |
Co60 |
5,19E+12 |
5,14E+12 |
5,03E+12 |
4,86E+12 |
4,55E+12 |
TOTAL |
1,38E+13 |
1,12E+13 |
8,40E+12 |
6,59E+12 |
5,26E+12 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
d)
Sistemas de Tratamento e Armazenagem do Refrigerante
Diariamente,
uma certa quantidade de refrigerante é substituída
por água desmineralizada para compensar a queima
(consumo) de urânio. Esta quantidade aumenta continuamente
ao longo do ciclo, devendo corresponder à retirada
de cerca de 3 ppm de boro por dia. O refrigerante retirado
é dirigido a um tanque de armazenagem. Os tanques
de armazenagem são usados seqüencialmente. Sempre
que um tanque atinge a metade de sua capacidade, a conexão
é intercambiada para o tanque seguinte e o conteúdo
existente é processado na planta de evaporação
do refrigerante após passar por um filtro de troca
iônica. O processo de evaporação resulta
em uma solução de ácido bórico
a 4%, a qual é descarregada para os tanques de armazenagem
de ácido bórico. O vapor resultante da evaporação
é condensado e desgaseificado, podendo retornar ao
sistema para uso posterior ou, então, ser enviado
ao sistema de armazenagem de rejeitos líquidos.
A
radioatividade em um tanque de armazenagem de refrigerante
atinge um valor máximo imediatamente antes do processo
de evaporação. Como a concentração
de boro no refrigerante decresce ao longo do ciclo, o tempo
necessário para encher um tanque também decresce,
tendo como conseqüência um aumento, a cada enchimento,
da radioatividade máxima do tanque. O valor mais
alto ocorre no final do ciclo. De maneira semelhante, o
filtro de troca iônica, o evaporador e o tanque de
armazenagem de ácido bórico atingem sua radioatividade
máxima no final de cada evaporação.
Como a freqüência de evaporação
aumenta ao longo do ciclo e existe um efeito cumulativo
causado pela radioatividade residual oriunda das evaporações
anteriores, as maiores radioatividades nestes componentes
ocorrem, também, no final do ciclo. A Tabela 32 abaixo
mostra estas radioatividades após cerca de 23 evaporações,
assumindo-se uma taxa de purificação do refrigerante
de 10% por hora.
Tabela 32 - Radioatividade
nos sistemas de tratamento e armazenagem do refrigerante (Bq).
Radionuclídeo |
TAR |
FTI |
ERP |
TAB |
1-129 |
6,92E+01 |
1,06E+03 |
2,77E+02 |
2,54E+02 |
1-131 |
1,96E+09 |
8,15E+09 |
3,68E+09 |
4,01E+08 |
1-132 |
1,32E+09 |
9,05E+07 |
4,49E+07 |
3,14E+05 |
1-133 |
8,62E+09 |
8.41E+09 |
4,12E+09 |
8,20E+07 |
1-134 |
6.69E+08 |
U3E+06 |
5,60E+05 |
3,88E+03 |
1-135 |
5,67E+09 |
1,96E+09 |
9/71E+08 |
8,83E+06 |
TOTAL |
1,82E+10 |
1,86E+10 |
8,81E+09 |
4,92E+08 |
|
|
|
|
|
Rb88 |
5,57E+10 |
7,87E+02 |
3,91E+02 |
2,70E-00 |
Sr90 |
U1E+07 |
1,69E+08 |
4,42E+07 |
4,02E+07 |
Zr95 |
U1E+07 |
1,06E+08 |
3,73E+07 |
1,56E+07 |
Cs134 |
5,74E+09 |
6,21E+10 |
3,38E+10 |
2,83E+10 |
Cs137 |
1.74E+10 |
1.99E+11 |
1,04E+11 |
9,48E+10 |
Cs138 |
1.17E+11 |
3,32E+06 |
3,30E+06 |
2,28E+04 |
TOTAL |
1,95E+11 |
2,61E+11 |
1,38E+11 |
1,23E+11 |
|
|
|
|
|
Cr51 |
2,20E+08 |
1.58E+09 |
6,30E+08 |
1.61E+08 |
Mn54 |
2,22E+07 |
2,97E+08 |
8,52E+07 |
6,31E+07 |
Fe59 |
2.21E+07 |
1.88E+08 |
7.01E+07 |
2,39E+07 |
Co58 |
2,21E+08 |
2,18E+09 |
7,56E+08 |
3,34E+08 |
Co60 |
6,66E+07 |
9,97E+08 |
2,65E+08 |
2,34E+08 |
TOTAL |
5,52E+08 |
5,24E+09 |
1,81E+09 |
8,15E+08 |
|
|
|
|
|
H-3 |
1,12E+12 |
0,OOE+01 |
1,30E+11 |
7,60E+1
1 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
Legenda: TAR -Tanque de Armazenagem do Refrigerante;
FTI - Filtro de Troca Iônica ; ERP - Evaporador do
Refrigerante
Primário; TAB - Tanque de Ácido Bórico
e)
Sistema de Processamento de Rejeitos Gasosos
Os
tanques de armazenagem do refrigerante, o tanque de alívio
do pressurizador, o desgaseificador do refrigerante, os
tanques de armazenagem de ácido bórico, os
evaporadores do refrigerante e vários tanques de
dreno estão todos conectados ao sistema de tratamento
de rejeitos gasosos. Os espaços vazios destes componentes
são purgados continuamente por uma mistura de gases
composta predominantemente por nitrogênio. Uma parte
desta mistura é desviada para uma série de
filtros de carvão ativado, que constituem a assim
chamada linha de retardo.
O
sistema de processamento de rejeitos gasosos é projetado
como um sistema fechado. Apenas nos casos em que, por alguma
razão, haja introdução de massa neste
sistema, esta deve ser compensada através da liberação
de uma quantidade correspondente pela chaminé. Isto
é efetuado por uma válvula de controle localizada
a jusante da linha de retardo. A quantidade liberada é
diluída no fluxo total de exaustão da usina
e transferida para a atmosfera.
A
radioatividade no sistema de tratamento de rejeitos gasosos
depende fortemente do regime de operação do
desgaseificador do refrigerante. Quando este não
está em operação, a radioatividade
é muito baixa.
Devido
aos tempos de retardo relativamente longos de 60 dias para
o Xe e 60 horas para o Kr, apenas o Xe-133 e o Kr-85 são
de alguma importância no que concerne à liberação
na atmosfera a partir deste sistema. A Tabela 33 abaixo
mostra as radioatividades na parte de baixa pressão
(volume livre de componentes e tanques) e na parte de alta
pressão (linha de retardo) do sistema. Foi assumida,
neste caso, uma taxa de desgaseificação de
10% por hora. Também são mostradas as taxas
de liberação de radioatividade para a atmosfera
em Bq/h, assumindo-se uma liberação mássica
contínua correspondente a 1Nm3/h. Conservativamente,
tempos de retardo de 40 dias para o Xenônio e 40 horas
para o criptônio foram assumidos neste cálculo.
Tabela 33 - Radioatividade
no sistema de tratamento de rejeitos gasosos (Bq) e liberação
pela chaminé (Bq).
Kadionuclídeo |
Volume
Livre |
Linha
de Retardo |
Liberação |
|
|
|
|
Kr85m |
5.03E+12 |
9,27E+11 |
2,95E+07 |
Kr85 |
1.25E+12 |
1,02E+11 |
3,57E+09 |
Kr87 |
2,31E+12 |
1,21E+11 |
2,24E-00 |
Kr88 |
8,59E+12 |
1.01E+12 |
1.41E+06 |
Xel31m |
3.15E+11 |
3,35E+12 |
8J5E+07 |
Xel33m |
2,58E+12 |
5,58E+12 |
2,31E+04 |
Xel33 |
7,30E+13 |
3,83E+14 |
1,06E+09 |
Xel35m |
4,37E+1
1 |
4,59E+09 |
0,OOE+01 |
Xel35 |
6,52E+13 |
2,44E+13 |
0,OOE+01 |
Xel38 |
5,44E+11 |
5,30E+09 |
0,OOE+01 |
TOTAL |
1,59E+14 |
4,18E+14 |
4,75E+09 |
|
|
|
|
Rb88 |
8,49E+12 |
1,11E+12 |
0,OOE+01 |
Cs138 |
5,33E+11 |
1,71E+10 |
0,00E+01 |
TOTAL |
9,02E+12 |
1,13E+12 |
0,00E+01 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
f)
Sistema de Remoção de Calor Residual
As
bombas de remoção de calor residual são
ligadas, aproximadamente, seis horas após o desligamento
do reator. A redução de volume resultante
do resfriamento do refrigerante é compensada pelo
sistema de controle volumétrico através da
injeção de água. Durante este tempo,
o sistema de purificação do refrigerante não
opera, sendo reativado apenas ao final deste procedimento.
Inicialmente,
o sistema de remoção de calor residual pode
possuir uma concentração de radioatividade
igual ou menor que aquela do sistema de refrigeração
do reator. Esta radioatividade é então reduzida
pelo sistema de purificação da piscina de
elementos combustíveis durante os trabalhos de recarga.
Quando o reator é colocado novamente em operação,
o sistema de remoção de calor residual é
isolado e sua radioatividade continua diminuindo devido
ao decaimento radioativo.
g)
Sistema de Ventilação
O
ar no edifício do reator pode ser contaminado de
duas maneiras distintas:
•
Por ativação, através de reações
de captura de nêutrons nas imediações
do vaso de pressão do reator;
•
Por eventuais vazamentos do sistema de refrigeração
do reator, que podem liberar pequenas quantidades de substâncias
radioativas para o ar deste edifício.
Em
ambos os casos, apenas o ar das salas de equipamentos é
afetado. Isto se deve ao fato de que a pressão nestas
salas é mantida sempre abaixo daquela das salas de
operação, evitando-se assim um espalhamento
da contaminação.
O
principal produto de ativação é o Ar-41
produzido junto ao vaso de pressão do reator no espaço
existente entre este vaso e sua blindagem adjacente. Uma
pequena troca de ar entre este espaço e as salas
de equipamentos (cerca de 1 m3/h) leva a uma liberação
de, aproximadamente, 370 MBq/h para estas salas. Como o
volume total de ar nesta região é de 10.000
m3, e, considerando-se que 1000 m3/h são extraídos
para manter o gradiente negativo de pressão, a concentração
de radioatividade de Ar-41 resultante é de cerca
de 77.000 Bq/m3. As concentrações de radioatividade
de substâncias radioativas devidas aos eventuais vazamentos
do sistema de refrigeração do reator são
obtidas com base em uma taxa de vazamento de 10 kg/h e uma
taxa de recirculação de ar nestas salas de
8000 m3/h. Os valores
resultantes são mostrados na Tabela 34 abaixo, para
as várias condições de operação
dos sistemas de purificação e desgaseificação.
Os
fatores de retenção mínimos assumidos
para o filtro de recirculação são mostrados
abaixo:
Gases
Nobres
1
Halogênios
(orgânico)
10
Halogênios
(elementos)
100
Aerossóis
1000
As
quantidades correspondentes liberadas para a atmosfera são
ilustradas na Tabela 35 seguinte. É importante salientar
que a chaminé de descarga de gases é o único
ponto possível de liberação de radioatividade
para a atmosfera durante a operação normal
da usina.
Tabela 34 - Concentrações
de radioatividades nas salas de equipamentos (Bq/m3).
Radionuclídeo |
R=0 |
R=0,1 |
R=0,2 |
Kr85m |
2,OOE+05 |
1.22E+05 |
8J7E+04 |
Kr85 |
1.72E+05 |
1,21E+03 |
6,07E+02 |
Kr87 |
8,16E+04 |
6,91E+04 |
5,99E+04 |
Kr88 |
3,22E+05 |
2,29E+05 |
1,78E+05 |
Xel31m |
9,65E+04 |
2,96E+03 |
1,48E+03 |
Xel33m |
2,61E+05 |
3,28E+04 |
1.62E404 |
Xel33 |
1.36E+07 |
7,99E+05 |
3,91E+05 |
Xel35m |
4.59E+04 |
4,54E+04 |
3.13E+04 |
Xel35 |
2.75E406 |
1,40E+06 |
8,25E+05 |
Xel38 |
1.85E+04 |
1.79E+04 |
1.73E+04 |
TOTAL |
1,75E+07 |
2,71E+06 |
1,61E+06 |
|
|
|
|
I-129 |
- |
1.29E-03 |
6,49E-04 |
I-131 |
- |
3,76E+04 |
1.92E+04 |
I-132 |
- |
9,95E+04 |
7,97E+04 |
I-133 |
- |
2,06E+05 |
1,18E+05 |
I-134 |
- |
9,33E+04 |
8,39E+04 |
I-135 |
- |
2,09E+05 |
1.41E+05 |
TOTAL |
- |
6.46E+05 |
4,42E+05 |
|
|
|
|
Rb88 |
2,66E+05 |
1.89E405 |
1,47E+05 |
Sr90 |
- |
4,10E-00 |
2,06E-00 |
Zr95 |
- |
4,11E-00 |
2,07E-00 |
Csl34 |
- |
1.28E+02 |
6,52E+01 |
Csl37 |
- |
3,87E+02 |
1,97E+02 |
Csl38 |
3,62E+04 |
3,50E+04 |
3,36E+04 |
TOTAL |
3,03E+05 |
2,25E+05 |
1,81E+05 |
|
|
|
|
Cr51 |
- |
8,22E+01 |
4,15E+01 |
Mn54 |
- |
8,23E-00 |
4J3E-00 |
Fe59 |
- |
8.22E-00 |
4,14E-00 |
Co58 |
- |
8,23E+01 |
4,14E+01 |
Co60 |
- |
2,47E+01 |
1,24E+01 |
TOTAL |
- |
2,06E+02 |
1,04E+02 |
|
|
|
|
H-3 |
1,87E+05 |
1.87E+05 |
1,87E+05 |
Fonte:
PSAR
- Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
Tabela 35 - Liberação
de radioatividades das salas de equipamentos (Bq/h).
Radionuclídeo |
R=0 |
R=0,1 |
R=0,2 |
Kr85m |
2,OOE+08 |
1,22E+08 |
8.77E+07 |
Kr85 |
I.72E+08 |
1.21E+06 |
6.07E+05 |
Kr87 |
8.16E+07 |
6,91E+07 |
5.99E+07 |
Kr88 |
3,22E+08 |
2,29E+08 |
1.78E+08 |
Xe131m |
9,65E+07 |
2,96E+06 |
U48E+06 |
Xe133m |
2.61E+08 |
3,28E+07 |
U62E+07 |
Xe133 |
1,36E+10 |
7,99E+08 |
3,91E+08 |
Xe135m |
4,59E+07 |
4,54E+07 |
3,13E+07 |
Xe135 |
2,75E+09 |
1.40E+09 |
8,25E+08 |
Xe138 |
1,85E+07 |
1J9E+07 |
1,73E+07 |
TOTAL |
1,75E+10 |
2,71
E+09 |
1.61E+09 |
|
|
|
|
I-129 |
- |
1.29E-02 |
6,49E-03 |
I-131 |
- |
3.76E+05 |
1.92E+05 |
I-132 |
- |
9.95E+05 |
7,97E+05 |
I-133 |
- |
2,06E+06 |
1,18E+06 |
I-134 |
- |
9,33E+05 |
8,39E+05 |
I-135 |
- |
2.09E+06 |
1,41E+06 |
TOTAL |
- |
6,46E+06 |
4,42E+06 |
|
|
|
|
Rb88 |
2,66E+05 |
1,89E+05 |
1,47E+05 |
Sr90 |
- |
4,10E-00 |
2,06E-00 |
Zr95 |
- |
4.11E-00 |
2,07E-00 |
Cs
134 |
- |
U8E+02 |
6,52E+01 |
Csl37 |
- |
3,87E+02 |
1,97E+02 |
Csl38 |
3,62E+04 |
3.50E+04 |
3,36E+04 |
TOTAL |
3,03E+05 |
2,25E+05 |
1,81
E+05 |
|
|
|
|
Cr51 |
- |
8,22E+01 |
4,15E+01 |
Mn54 |
- |
8,23E-00 |
4,13E-00 |
Fe59 |
- |
8,22E-00 |
4,14E-00 |
Co58 |
- |
8,23E+01 |
4.14E401 |
Co60 |
- |
2,47E+01 |
1.24E+01 |
TOTAL |
- |
2,06E+02 |
1,04E+02 |
|
|
|
|
H-3 |
U87E+08 |
1.87E+08 |
1,87E+08 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
h)
Sistemas de Armazenagem e Tratamento de Rejeitos Radioativos
Líquidos
Os
rejeitos líquidos produzidos na área de acesso
controlado da usina são coletados em tanques de armazenagem
antes de seu processamento. Dependendo de sua origem e do
seu grau de contaminação, estes rejeitos são
classificados em dois grupos. O primeiro grupo, com concentrações
de radioatividade entre 3,7 e 370 MBq/Mg, consiste em rejeitos
mais fortemente contaminados originários de drenos
de salas que abrigam componentes radioativos, de laboratórios
e de equipamentos de descontaminação. O outro
grupo, com concentrações de radioatividade
entre 37 e 3700 kBq/Mg, consiste de líquidos levemente
contaminados oriundos de ralos de salas de operação,
lavanderias e chuveiros da área controlada, como
também da água de regeneração
do sistema de desmineralização da purga dos
geradores de vapor.
Rejeitos
contaminados são processados por evaporação
e armazenados provisoriamente em tanques de monitoração
até serem liberados para o mar. A unidade de evaporação
garante um fator de descontaminação mínimo
de 106.
Para
que o conteúdo de um tanque de monitoração
seja liberado, sua concentração de radioatividade
não pode exceder 18,5 MBq/Mg. Se a concentração
estiver acima deste valor, o conteúdo do tanque será
reprocessado.
A
lama das unidades de evaporação são
conduzidas aos tanques de concentrado para posterior imobilização
no sistema de processamento de concentrados radioativos.
A
Tabela 36 abaixo mostra o conteúdo de radioatividade
de alguns componentes importantes do sistema em questão.
É
importante salientar que o poço de selagem UQJ, é
o único ponto por onde é efetuada a descarga
de rejeitos líquidos da usina.
Tabela 36 - Radioatividade
nos sistemas de rejeitos líquidos (Bq).
ISÓTOPO |
Grupo
1 |
Grupo
2 |
Evaporador |
Concentrado |
TM |
1-131 |
3,12E+09 |
3,12E+06 |
1,19E+10 |
1/70E+10 |
3,12E+03 |
TOTAL |
3,12E+09 |
3,12E+06 |
1,19E+10 |
1,70E+10 |
3,12E+03 |
|
|
|
|
|
|
Sr90 |
3,90E+07 |
3,90E+04 |
2,50E+08 |
2,24E+09 |
3,90E+01 |
Cs
134 |
3,12E+09 |
3,12E+06 |
1,99E+10 |
1/70E+11 |
3,12E+03 |
Csl37 |
6,50E+09 |
6,50E+06 |
4,16E+10 |
3,73E+1
1 |
6,50E+03 |
TOTAL |
9,66E+09 |
9,66E+06 |
6,17E+10 |
5,45E+11 |
9,66E+03 |
|
|
|
|
|
|
Cr51 |
5,46E+08 |
5,46E+05 |
2,97E+09 |
9,63E+09 |
5,46E+02 |
Mn54 |
6,24E+08 |
6,24E+05 |
3.94E+09 |
3,14E+10 |
6,24E+02 |
Co58 |
5,72E+09 |
5,72E+06 |
3,43E+10 |
1,90E+11 |
5.72E+03 |
Co60 |
2,86E+09 |
2,86E+06 |
1,83E+10 |
1,61E+11 |
2,86E+03< |
Sb
124 |
3,64E+09 |
3,64E+06 |
2,16E+10 |
U1E+11 |
3,64E+03 |
TOTAL |
1,34E+10 |
1,34E+07 |
8,11E+10 |
5,03E+11 |
1,34E+04 |
|
|
|
|
|
|
TOTAL |
2,60E+10 |
2,60E+07 |
1,55E+11 |
1,07E+12 |
2,60E+04 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
TM - Tanque de Monitoração
i)
Sistema Água - Vapor
O
sistema água - vapor é separado do sistema
de refrigeração do reator através dos
tubos dos geradores de vapor e é, por esta razão,
normalmente livre de substâncias radioativas.
Apesar
da ótima experiência operacional obtida até
o presente em usinas semelhantes, pequenos vazamentos nos
tubos dos geradores de vapor são levados em consideração
no projeto dos sistemas.
Liberações
não controladas de radioatividade do sistema secundário
são substancialmente evitadas por várias características
incorporadas ao projeto:
•
O ar removido pelo sistema de vácuo do condensador
é monitorado continuamente e liberado através
da chaminé;
•
As linhas de purga do sistema (i.e. do tanque de água
de alimentação) descarregam para o condensador;
•
Selagem líquida é usada onde necessário
para evitar nuvens de vapor no teto do edifício.
A
radioatividade do sistema de água de alimentação
é monitorada continuamente na purga dos geradores
de vapor para detectar eventuais vazamentos. Adicionalmente,
são colhidas amostras a intervalos de tempo pré-estabelecidos,
as quais são analisadas em laboratório para
a determinação de sua composição.
Amostras adicionais são também colhidas e
analisadas se a radioatividade total sofrer alguma alteração
significativa. Tudo isto faz com que a composição
radioativa da água de alimentação seja
conhecida com precisão a qualquer momento.
A
transferência de iodo radioativo para a fase vapor
só é possível através da umidade
residual do vapor, a qual é normalmente inferior
a 0,25%. Isto é assegurado através de medições
efetuadas durante o comissionamento da usina.
O
nível de radioatividade no sistema secundário
é limitado, de tal forma que a concentração
de radioatividade de I-131 no vapor principal não
exceda o valor de 37 kBq/Mg.
Além
das medições de radiação mencionadas
acima, as linhas de vapor principal são monitoradas
continuamente por detectores posicionados externamente junto
a estas linhas, os quais são capazes de acusar o
ingresso de radioatividade no sistema secundário
e, imediatamente, desencadear as contramedidas necessárias
através do sistema de proteção do reator,
assim como seu desligamento imediato, desligamento da turbina,
etc..
Este
sistema de detecção consiste de 3 contadores
Geiger-Müller e 3 cintiladores de iodeto de sódio
NaI(Tl) em cada linha de vapor principal, segundo uma lógica
2 de 3. Em faixas de potência alta, predomina a medição
de N-16 pelos contadores Geiger-Müller, enquanto que
a potências mais baixas, a detecção
de gases nobres através dos cintiladores de NaI(Tl)
assume uma importância maior.
A
Tabela 37 abaixo, mostra as concentrações
de radioatividade em componentes importantes do sistema
água - vapor. As taxas de purificação
e de desgaseificação do refrigerante assumidas
são de 10% por hora.
Tabela 37 - Concentrações
de radioatividades em componentes do circuito secundário
(Bq/mg).
Radionuclídeo |
GV1 |
GV2 |
CND |
TAA |
FLM |
I-129 |
5.13E-01 |
4J1E-02 |
4,08E-04 |
4,08E-04 |
3,78E+03 |
I-131 |
1,48E+07 |
1.34E+06 |
U7E+04 |
1,17E+04 |
5.03E+10 |
I-132 |
2.58E+07 |
1,05E+06 |
1.78E+04 |
1.76E+04 |
UOE+09 |
I-133 |
7,59E+07 |
6,13E+06 |
5,86E+04 |
5,85E+04 |
3,25E+10 |
I-134 |
1.87E407 |
3,89E+05 |
1.20E+04 |
1.16E404 |
2,89E+08 |
I-135 |
6,79E+07 |
4,36E+06 |
5,02E+04 |
5.00E+04 |
8,86E+09 |
TOTAL |
2,03E+08 |
1.33E+07 |
1,50E+05 |
1,50E+05 |
9,30E+10 |
|
|
|
|
|
|
Rb88 |
3,84E+06 |
6,43E+04 |
6,62E+03 |
4,59E+03 |
9,92E+06 |
Sr90 |
1.67E+03 |
1.78E+02 |
1.63E-00 |
1,54E-00 |
1,21E+07 |
Zr95 |
1.67E+03 |
1J8E+02 |
1.63E-00 |
1,54E-00 |
1,08E+07 |
Cs134 |
1,32E+05 |
8,59E+04 |
1,02E+03 |
7,43E+02 |
3.72E+08 |
Cs137 |
4,01E+05 |
2,60E+05 |
3,10E+03 |
2,25E+03 |
1,14E+09 |
Cs138 |
4,52E+06 |
2,OOE+05 |
1,27E+04 |
8,69E+03 |
7,59E+06 |
TOTAL |
8,90E+06 |
6,HE+05 |
2,34E+04 |
1,63E+04 |
1,55E+09 |
|
|
|
|
|
|
Cr51 |
3,33E+04 |
3,53E+03 |
3,25E+01 |
3,07E+01 |
1,88E+08 |
Mn54 |
3,34E+03 |
3,56E+02 |
3,27E-00 |
3,08E-00 |
2,37E+07 |
Fe59 |
3.34E+03 |
3,54E+02 |
3,26E-00 |
3,07E-00 |
2.06E+07 |
Co58 |
3,34E+04 |
3,55E+03 |
3,26E+01 |
3,08E+01 |
2,19E+08 |
Co60 |
1,OOE+04 |
1,07E+03 |
9,80E-00 |
9,25E-00 |
7,25E+07 |
TOTAL |
8,35E+04 |
8,86E+03 |
8,15E+01 |
7,68E+01 |
5,24E+08 |
|
|
|
|
|
|
H-3 |
3,38E+07 |
3,38E+07 |
3,38E+07 |
3,38E+07 |
0,OOE+01 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
Legenda: GV1 - Gerador de Vapor com Vazamento; GV2
- Geradores de Vapor Intactos; CND - Condensador
TAA - Tanque de Água de Alimentação;
FLM - Filtro de Leito Misto;
2.12.2 Rejeitos Radioativos
- Definição - topo
O
conjunto normativo CNEN-NE-6.05 (Gerência de Rejeitos
Radioativos em Instalações Radioativas), de
dezembro de 1985, define como rejeito radioativo todo e
qualquer material resultante de atividades humanas, que
contenha radionuclídeos em quantidades superiores
aos limites estabelecidos pela Norma CNEN-NE-6.02 (Licenciamento
de Instalações Radioativas) e pelo "Basic
Safety Standards - Safety Series 115", cuja
reutilização seja imprópria ou não
prevista.
2.12.3 Rejeitos Radioativos
- Classificação - topo
Por
normas da CNEN, os rejeitos são classificados em
categorias segundo o estado físico (líquidos,
sólidos ou gasosos), a natureza da radiação
(beta, gama ou alfa), a concentração (em Bq/m³
e Ci/m³) ou taxa de exposição na superfície
do rejeito (em µCi/kg.h e R/h).
Rejeitos
com Emissores BETA / GAMA - Líquidos
Os
rejeitos líquidos contendo emissores beta e/ou gama,
e nos quais os eventuais emissores alfa tenham concentração
total inferior a 3,7 x 108 Bq/m3 (10-2 Ci/m3), são
classificados nas seguintes categorias, de acordo com os
níveis de concentração (Tabela 38).
Tabela 38 - Classificação
de rejeitos líquidos com emissores beta / gama.
CATEGORIA |
CONCENTRAÇÃO
(C) |
(Bq/m3) |
(Ci/m3) |
Baixo
nível de radiação (LBN) |
C
≤ 3,7 x 1010 |
C
≤ 1 |
Médio
nível de radiação (LMN) |
3,7
x 1010 < C ≤ 3,7 x 1013 |
1
< C ≤ 103 |
Alto
nível de radiação (LAN) |
C
> 3,7 x 1013 |
C
> 103 |
Fonte:
EIA da Unidade III do DIRR (MRS Estudos Ambientais, 2003).
Rejeitos
com Emissores BETA / GAMA - Sólidos
Os
rejeitos sólidos contendo emissores beta e/ou gama,
e nos quais os eventuais emissores alfa tenham concentração
total inferior a 3,7 x 108 Bq/m3 (10-2
Ci/m3), são classificados nas seguintes
categorias, de acordo com a taxa de exposição
na superfície do rejeito (Tabela 39).
Tabela 39 - Classificação
de rejeitos sólidos com emissores beta / gama.
CATEGORIA |
TAXA
DE EXPOSIÇÃO (X) NA SUPERFÍCIE |
(μCi/kg.h) |
(R/h) |
Baixo
nível de radiação (SBN) |
x
≤ 50 |
x
≤ 0,2 |
Médio
nível de radiação (SMN) |
50
< x ≤ 500 |
0,2
< x ≤ 2 |
Alto
nível de radiação (SAN) |
x
> 500 |
x
> 2 |
Fonte: EIA da Unidade III do DIRR (MRS Estudos
Ambientais, 2003).
Rejeitos
com Emissores BETA / GAMA - Gasosos
Os
rejeitos gasosos são classificados nas seguintes
categorias, de acordo com os níveis de concentração
(Tabela 40).
Tabela 40 - Classificação
de rejeitos gasosos com emissores beta / gama.
CATEGORIA |
CONCENTRAÇÃO
(C) |
(Bq/m3) |
(Ci/m3) |
Baixo
nível de radiação (GBN) |
C
≤ 3,7 |
C
≤ 10-10 |
Médio
nível de radiação (GMN) |
3,7
< C ≤ 3,7 x 104 |
10-10
< C ≤ 10-6 |
Alto
nível de radiação (GAN) |
C
> 3,7 x 104 |
C
> 10-6 |
Fonte: EIA da Unidade III do DIRR (MRS Estudos
Ambientais, 2003).
Rejeitos
com Emissores ALFA - Líquidos
Os
rejeitos líquidos contendo emissores alfa em concentrações
superiores a 3,7 x 108 Bq/m3 (10-2 Ci/m3) são classificados
nas seguintes categorias, de acordo com os níveis
de concentração (Tabela 41).
Tabela 41 - Classificação
de rejeitos líquidos com emissores alfa.
CATEGORIA |
CONCENTRAÇÃO
(C) |
(Bq/m3) |
(Ci/m3) |
Alfa
de baixo nível de radiação (LαBN) |
3,7
x 108 < C ≤ 3,7 x 1010 |
10-2
< C ≤ 1 |
Alfa
de médio nível de radiação
(LαMN) |
3,7
x 1010 < C ≤ 3,7 x 1013 |
1
< C ≤ 103 |
Alfa
de alto nível de radiação (LαAN) |
C
> 3,7 x 1013 |
C
> 103 |
Fonte:
EIA da Unidade III do DIRR (MRS Estudos Ambientais, 2003).
Rejeitos com Emissores ALFA - Sólidos
Os
rejeitos sólidos contendo emissores alfa em concentrações
superiores a 3,70 x 108 Bq/m3 (10-2 Ci/m3) são classificados
nas seguintes categorias, de acordo com os níveis
de concentração (Tabela 42).
Tabela
42 - Classificação de rejeitos sólidos
com emissores alfa.
CATEGORIA |
CONCENTRAÇÃO
(C) |
(Bq/m3) |
(Ci/m3) |
Alfa
de baixo nível de radiação (LαBN) |
3,7
x 108 < C ≤ 3,7 x 1011 |
10-2
< C ≤ 10 |
Alfa
de médio nível de radiação
(LαMN) |
3,7
x 1011 < C ≤ 3,7 x 1013 |
10
< C ≤ 103 |
Alfa
de alto nível de radiação (LαAN) |
C
> 3,7 x 1013 |
C
> 103 |
Fonte:
EIA da Unidade III do DIRR (MRS Estudos Ambientais, 2003).
Classificação
de Rejeitos Sólidos Radioativos utilizada em Usinas
Nucleares
Em
uma usina nuclear, são estabelecidos limites operacionais
de radioatividade cujos valores são inferiores aos
limites legais. Na maioria delas, são utilizados
para caracterizar um material como rejeito sólido
radioativo, os seguintes valores:
•
níveis de contaminação superficial
fixa mais a transferível (medida direta com monitor
de radiação): dpm = desintegração
por minuto
º
emissores α ≥ 100 dpm / 100 cm2
º
missores ß e γ ≥ 5000 dpm / 100 cm2
•
níveis de contaminação superficial
transferível (avaliada através do teste de
esfregaço)
º
emissores a ≥ 20 dpm / 100 cm2
º
emissores ß e γ ≥ 1000 dpm / 100 cm2
•
atividade específica: ≥ 70 Bq/g
2.12.4 Rejeitos Sólidos
Radioativos - topo
2.12.4.1 Geração
dos Rejeitos Sólidos Radioativos - topo
Os
rejeitos sólidos radioativos de média e baixa
radioatividade, produzidos durante a operação
da CNAAA, recebem a seguinte classificação,
com relação ao tipo/origem:
•
Concentrado do Evaporador - oriundo dos sistemas
de tratamento de efluentes líquidos radioativos das
usinas. Este rejeito é solidificado em matriz de
cimento (Angra 1) e betume (Angra 2 e Angra 3);
•
Resinas do Circuito Primário - utilizadas
na purificação do sistema de refrigeração
do reator. As embalagens com resinas são geradas
quando do encapsulamento do conteúdo do Tanque de
Armazenamento de Resinas Exauridas do Circuito Primário.
Este tipo de rejeito é incorporado em cimento (Angra
1) e em betume (Angra 2 e Angra 3) para solidificação
do conteúdo;
•
Resinas do Circuito Secundário - utilizadas
na purificação da purga do gerador de vapor.
As embalagens com resinas são geradas quando do acondicionamento
do conteúdo do Tanque de Armazenamento de Resinas
Exauridas do Circuito Secundário. Este tipo de rejeito
em Angra 1 é acondicionado diretamente em tambores.
Em Angra 2 e 3 não é prevista a geração
deste rejeito, pois as resinas são regeneradas para
serem reutilizadas;
•
Filtros - tais equipamentos são usados
nos sistemas de purificação e tratamento do
refrigerante do reator. São acondicionados em tambores
de 200 litros e imobilizados em cimento (Angra 1) e betume
(Angra 2 e Angra 3);
•
Rejeitos Compactáveis - são materiais
compressíveis triturados e compactados por prensa
hidráulica para redução do volume,
em tambores de 200 litros. Os rejeitos compactáveis
são constituídos por materiais plásticos,
papéis, luvas, sapatilhas, roupas etc.;
•
Rejeitos Não Compactáveis - ao
contrário dos compactáveis, este tipo de rejeito
não é compressível. São peças,
tubos, materiais metálicos, que, além do processo
de segregação normal, sofrem processo de corte
e re-segregação para otimização
do volume de armazenamento. Para garantir a estabilidade
do conteúdo, estes materiais são imobilizados
em cimento (Angra 1), e em betume, em tambores de 200 litros
(Angra 2 e Angra 3).
2.12.4.2 Gerenciamento
dos Rejeitos Sólidos Radioativos - topo
Os
procedimentos a serem tomados em relação aos
rejeitos sólidos radioativos produzidos em Angra
3 são os já implementados e atualmente em
utilização nas outras unidades da CNAAA. Tais
procedimentos seguem o "Manual de Procedimentos da
Usina (MOU) - Procedimentos Administrativos da Usina"
da Eletronuclear, especificamente os Procedimentos "PA-RG
12 - Rejeitos Sólidos Radioativos" e
"PA-RG 06 - Controle sobre a Movimentação
de Material Radioativo ou Contaminado". Tais documentos
estabelecem a sistemática de controle dos rejeitos
sólidos radioativos gerados durante a operação
das usinas.
2.12.4.2.1 Áreas
Restritas e Áreas Livres - topo
As
Áreas Restritas da CNAAA são as que obedecem
a regras especiais de proteção radiológica,
onde as condições de exposição
possam ocasionar doses equivalentes superiores a um décimo
dos limites ocupacionais para trabalhadores.
Já
as Áreas Livres são isentas de regras especiais
de proteção radiológica onde as doses
equivalentes efetivas anuais, não ultrapassem o limite
primário para o indivíduo do público.
Para
redução de geração de rejeitos
na CNAAA, somente é permitida a entrada na Área
Restrita dos materiais, equipamentos ou ferramentas necessários
à execução dos serviços.
2.12.4.2.2 Procedimentos
com Equipamentos e Ferramentas - topo
Todo
equipamento e/ou ferramenta usado rotineiramente na Área
Restrita é identificado pela Divisão de Proteção
Radiológica com pequeno sinal circular pintado em
amarelo na sua superfície. Somente são transferidos
para a Área Livre, os equipamentos e ferramentas
que apresentem níveis de contaminação
inferiores aos limites estabelecidos.
O
técnico em Proteção Radiológica
responsável pela monitoração sinaliza
o equipamento ou ferramenta com o cartão "Material
Livre de Contaminação Radioativa" (Figura
32) e registra os dados da monitoração em
um formulário, que controla a saída de material
da Área Restrita. Este procedimento de liberação
é aplicado aos equipamentos e/ou ferramentas usados
eventualmente em Área Restrita.
Todo
equipamento e/ou ferramenta com provável contaminação
nos seus componentes internos contém uma etiqueta
"CUIDADO: Material Contaminado" (Figura 33)
para alertar os empregados sobre esta possibilidade, mesmo
que a superfície externa não apresente contaminação
em níveis superiores aos limites. Qualquer procedimento
de desmontagem é acompanhado por um técnico
em Proteção Radiológica.
Se
houver necessidade, durante procedimento de desmontagem
de sistemas, o piso é forrado com lençol plástico
para evitar a difusão da contaminação.
As ferramentas usadas são embaladas em sacos plásticos
amarelos e transferidas para a Sala de Descontaminação
de Equipamentos, imediatamente após a sua utilização.
Qualquer
ferramenta e/ou equipamento estocado na Área Restrita
com níveis de contaminação residual
superiores aos limites definidos, é identificado
também com a etiqueta mostrada na Figura 33.
Entende-se
por contaminação residual aquela remanescente
em superfícies após elas terem sido submetidas
aos processos de descontaminação ou quando
a aplicação destes processos for inviável
tecnicamente.
A
movimentação destes equipamentos, se altamente
contaminados (> 100.000 dpm / 100 cm2 ou 1660
Bq / 100 cm2) dentro de Área Restrita,
é somente realizada após aprovação
da Divisão de Proteção Radiológica,
que define as medidas necessárias para evitar a difusão
de contaminação e exposições
desnecessárias de pessoas à radiação.

Figura 32 - Cartão "Material Livre de Contaminação
Radioativa".
Fonte: EIA da Unidade III do DIRR (MRS Estudos
Ambientais, 2003).

Figura 33 - Etiqueta "Cuidado:
Material Contaminado".
Fonte: EIA
da Unidade III do DIRR (MRS Estudos Ambientais, 2003).
2.12.4.2.3 Procedimentos
com Objetos Pessoais, Papéis de Anotação,
entre outros - topo
Todo
empregado monitora cuidadosamente qualquer tipo de material
ou objeto pessoal ao sair da Área Restrita. A Proteção
Radiológica é imediatamente acionada em caso
de contaminação. Neste caso, a liberação
só ocorre quando são atendidos os limites
radiológicos definidos. O técnico em Proteção
Radiológica responsável pela liberação
sinaliza o objeto com a etiqueta exemplificada na Figura
32 e registra os dados radiológicos em um formulário
que controla a saída de material da Área Restrita.
2.12.4.2.4 Procedimentos
com Rejeitos Sólidos Contaminados - topo
Todo
rejeito sólido contaminado gerado na Área
Restrita é colocado em sacos plásticos amarelos
ou em tambores. Se algum material apresenta dimensões
físicas que impeçam a disposição
dentro do recipiente padrão, este é envolvido
adequadamente em lençol de plástico amarelo
para ser removido do local de origem. O rejeito sólido
não contaminado é colocado em sacos plásticos
incolores.
A
coleta e transferência são realizadas por empregados
responsáveis pelo rejeito sólido da Área
Restrita. Se a transferência for inviável em
curto prazo, a Proteção Radiológica
é imediatamente informada sobre a sua estocagem provisória
para que sejam tomadas as providências de isolamento
e sinalização da área quando a taxa
de dose em contato exceder a 20 µSv/h (2 mrem/h).
2.12.4.2.5
Procedimentos de Segregação de Rejeitos Sólidos
Compactáveis
- topo
O
rejeito sólido contaminado produzido na Área
Restrita é colocado dentro de sacos plásticos
amarelos devidamente sinalizados. Os sacos cujos níveis
de contaminação forem superiores a 10.000
cpm (contagem por minuto, por grama) são enviados
diretamente para a Estação de Encapsulamento.
Os que apresentam nível de contaminação
inferior a este valor são transferidos, por um "carrinho"
apropriado, para a Área de Segregação.
Ao chegar na Área de Segregação, os
materiais são separados de acordo com suas características
físicas (coloração, tipo, forma etc.).
Então,
os materiais são monitorados no monitor de radiação,
que é ajustado para fazer soar alarme quando houver
materiais com nível de contaminação
maior ou igual a 5000 cpm/100 cm2. Quando este
detetor faz o alarme soar, o material é enviado para
a Estação de Encapsulamento. Caso contrário,
os materiais de uso na Área Restrita que ainda estiverem
em bom estado, são limpos e reutilizados, visando
a diminuição do volume de rejeitos. Os que
estiverem danificados são descaracterizados e submetidos
à compactação.
Caso
não seja detectada contaminação no
material, o mesmo também é monitorado no monitor
de radiação, desde que contenha apenas materiais
oriundos do processo de segregação e o seu
peso oscile entre 5,00 kg e 10,00 kg. Não havendo
indicação de alarme, o técnico da Proteção
Radiológica registra os resultados das medições
na planilha de controle e libera o material.
O
material liberado é identificado com etiqueta de
autorização de saída da Área
Restrita - Material Livre de Contaminação
Radioativa (Figura 32).
Os
materiais de uso exclusivo na Área Restrita e de
coloração amarela, como sapatilhas, sacos
etc, danificados e sem contaminação radioativa,
são descaracterizados (picotados) e liberados como
rejeito comum.
2.12.4.2.6 Procedimentos
com os Rejeitos Sólidos Radioativos Não Compactáveis
- topo
Este
tipo de rejeito, como diz o próprio nome, não
é compactável. É constituído
principalmente por material metálico, geralmente
tubos, ferramentas e equipamentos provenientes de manutenção
ou troca.
Em
Angra 1, este tipo de rejeito é colocado em caixas
metálicas e imobilizado com cimento; em Angra 2 e
Angra 3, os rejeitos não compactáveis são
solidificados com betume em tambores de 200 litros. Antes
do encapsulamento, os sólidos contaminados e não
compactáveis passam por rigorosos processos de descontaminação,
que visam a redução do volume de rejeito radioativo
gerado.
2.12.4.2.7 Procedimentos
de Encapsulamento - topo
Antes
de serem enviados para os depósitos iniciais, os
rejeitos são estocados temporariamente na Estação
de Encapsulamento em Angra 1 e, em Angra 2 e 3 no depósito
inicial dentro da área controlada. Esta tem por função,
encerrar completamente os conteúdos radioativos em
embalagens apropriadas, para garantir assim seu isolamento
do meio ambiente, bem como para evitar choques mecânicos.
Os
materiais compactáveis, ao serem encapsulados, são
prensados antes do fechamento das embalagens, para redução
de volume.
Os
materiais compactáveis, inclusive filtros, são
imobilizados em seus recipientes, com cimento em Angra 1
e com material betuminoso em Angra 2 e 3. Em Angra 1, os
filtros são removidos para encapsulamento, mediante
o emprego de ferramenta especial, devidamente blindada,
que reduz as exposições à radiação
dos responsáveis pela execução desta
atividade. Em Angra 3, as trocas de filtros ocorrerão
através de equipamentos mecânicos, a exemplo
do que já ocorre em Angra 2.
Os
demais tipos de rejeitos (concentrado do evaporador, resinas
do circuito primário) são encapsulados em
matriz de cimento (Angra 1) e betume, (Angra 2 e Angra 3),
para garantir solidificação e imobilização
do conteúdo.
Após
o encapsulamento e contabilização, os embalados
produzidos aguardam na Estação de Encapsulamento
a transferência para o depósito inicial, localizado
no próprio Prédio Auxiliar do Reator. Em Angra
1 os embalados são transferidos para o CGR (Centro
de Gerenciamento de Rejeitos), localizado em área
interna à CNAAA.
2.12.4.2.8 Sinalização
e Controle dos Embalados - topo
O
técnico responsável da Proteção
Radiológica classifica os embalados conforme a Norma
CNEN-NE-6.05 - Gerência de Rejeitos Radioativos
em Instalações Radioativas, onde ele mede
as taxas de dose, pesa, sinaliza e identifica o embalado,
avaliando posteriormente o nível de contaminação
externa transferível de sua superfície.
Caso
o embalado apresente um nível de contaminação
externa transferível superior aos limites estabelecidos,
o mesmo passa por um processo de descontaminação.
A transferência dos embalados para o depósito
inicial só é efetuada quando apresentar níveis
de contaminação externa transferível
abaixo dos limites estabelecidos.
Uma
vez que os resultados obtidos após as monitorações
dos embalados apresentem taxa de dose de acordo com o procedimento
acima citado, os mesmos são sinalizados pela Proteção
Radiológica com uma faixa no embalado, caracterizada
por uma das três cores mostradas na Tabela 43.
Tabela 43 - Sinalização
dos Embalados de Rejeito.
Faixa |
Nível
de radiação em contato com a superfície
externa |
Azul |
≤
5 μSv/h |
Amarela |
>
5 μSv/h e ≤ 500 μSv/h |
Vermelha |
>
500 μSv/h |
Fonte:
EIA da Unidade III do DIRR (MRS Estudos Ambientais, 2003).
Além
da faixa, os embalados são identificados com uma
etiqueta adesiva e liberados para transferência para
o depósito inicial. Esta etiqueta apresenta o número
consecutivo do embalado, a identificação do
tipo de rejeito, a taxa de dose em contato e o nível
de contaminação transferível a um metro
de sua superfície externa, data e identificação
do técnico da proteção radiológica
responsável pela identificação.
2.12.4.2.9 Transporte
e Acondicionamento dos Embalados - topo
O
depósito inicial de Angra 3, onde serão acondicionados
os embalados com os rejeitos sólidos radioativos,
estará localizado no Edifício Auxiliar do
Reator (UKA). O transporte de tambores para o armazenamento
no depósito inicial será executado por meio
de um vagonete elétrico operado por controle remoto,
no caso dos tambores com rejeitos imobilizados em matriz
de betume, e por um carrinho manual, para os tambores com
rejeitos compactáveis, até os pontos de transferência
definidos para a ponte rolante que efetuará a deposição
dos tambores no depósito inicial.
2.12.4.3 Equipamentos
dos Sistemas de Processamento de Rejeitos Sólidos Radioativos
- topo
Os
principais equipamentos referentes ao processamento de rejeitos
sólidos radioativos em Angra 3, juntamente com suas
capacidades e tipo de rejeito, podem ser vistos na Tabela
44.
Tabela 44 - Principais
Equipamentos dos Sistemas de Processamento de Rejeitos Sólidos
Radioativos em Angra 3.
Equipamentos |
Meios |
Dados
relevantes |
Tanque
intermediário de concentrados |
Concentrado |
Volume
total: 1,5 m3 |
Tanque
intermediário de resinas |
Resinas
trocadoras de íons |
Volume
total: 1 m3 |
Lavador
de gases |
Água
desmineralizada saturada de ar |
Volume
total: 1,5 m3 |
Tanque
de armazenamento de betume |
Betume |
Volume
total: 20 m3 |
Extrusor
tipo parafuso |
Betume,
concentrado e resinas |
Vazão
(l/s):
betume: 2,8 - 22 ×103
concentrado: 5,5 - 33
× 103
resina: 1,4 - 14 ×
103 |
Tanque
de destilado |
Destilado |
Volume
total: 0,79 m3 |
Gerador
de vapor elétrico |
Água
desmineralizada, vapor e hidrazina |
Volume
total: 1,10 m3 |
Tanque
tampão de água desmineralizada |
Água
desmineralizada |
Volume
total: 1 m3 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
2.12.4.4 Produção
de Rejeitos Sólidos Radioativos - topo
A
Tabela 45 apresenta uma estimativa de produção
anual para Angra 3 (em tambores de 200 litros), dos diferentes
tipos de rejeitos sólidos de baixo e médio
níveis de radioatividade, relacionados com suas concentrações
(em Bq/m3).
Tabela 45 - Tipo
de rejeito, concentração e quantidade dos rejeitos
sólidos radioativos para Angra 3.
Tipo
de rejeito |
Concentração
(Bq/m3) |
Número
de tambores/ano
(Estimativa) |
Compactáveis |
3,7
× 108 a 3,7 × 109 |
30 |
Não
compactáveis |
3,7
× 108 a 3,85 × 1011 |
10 |
Concentrados
do evaporador |
3,7
× 109 a 1,85 × 1011 |
36 |
Resinas |
3,7
× 1011 a 1,48 × 1013 |
48 |
Filtro |
3,7
× 1010 a 1,85 × 1012 |
5 |
Total |
|
129 |
Fonte:
Eletronuclear
2.12.4.5 Rejeitos Sólidos
Radioativos das Unidades 1 e 2 da CNAAA (Angra 1 e Angra 2).
- topo
Em
Angra 1, a embalagem e a solidificação dos
rejeitos foi feita, até 1998, em tambores de 200
litros de capacidade e, a partir daí, em liners
de 1,00 m3 para concentrados e de 0,50 m3
para resinas. Os rejeitos não compactáveis
são colocados em caixas metálicas de 1,00
m3 de capacidade e solidificados com argamassa
de cimento.
Os
rejeitos sólidos gerados por Angra 1, no período
1982-2002, estão armazenados no Centro de Gerenciamento
de Rejeitos (CGR) da CNAAA (Tabela 46). A Tabela 47 fornece
o nível de radioatividade por tipo de rejeito.
Quanto
à Unidade 2 (Angra 2), os rejeitos sólidos
gerados no período 2000-2002 (até julho) foram
acondicionados em apenas 20 tambores, todos contendo rejeitos
compactados, totalizando um volume de 4,00 m3
e com nível de radioatividade baixo, de 1,74 E +
10 Bq, e taxa de exposição inferior a 2,0
mSv/h. Esses tambores estão armazenados na própria
usina, que dispõe de um depósito interno,
localizado no Edifício Auxiliar do Reator.
Tabela 46
- Angra 1, CGR - Número de embalados de rejeitos sólidos
radioativos armazenados - 1982-2002.
Clique
aqui para ver a tabela 46.
Fonte:
Arquivo efluente.xls, de Furnas (1982-1987 e
1996), e relatórios semestrais de efluentes e rejeitos
(1988-1995 e 19972002) da Eletronuclear
Tabela 47 - Angra
1, CGR - Nível de radioatividade por tipo de rejeito.
Clique
aqui para ver a tabela 47.
Fonte:
Eletronuclear
2.12.4.6 Depósitos
de Rejeitos Radioativos - topo
A
CNEN é responsável pelo recebimento e a disposição
dos rejeitos radioativos gerados no país, de acordo
com a Lei Federal Nº 7.781, de 27 de junho de 1989.
Os critérios para a disposição final
desses rejeitos, incluindo os relacionados à seleção
de locais, à construção, ao licenciamento,
à operação, à fiscalização,
aos custos, às indenizações, à
responsabilidade civil e à segurança dos depósitos,
estão definidos na Lei Federal Nº 10.308, de
20 de novembro de 2001.
A
CNEN elaborou uma série de normas relacionadas à
manipulação de materiais radioativos: "Normas
de Segurança e Radioproteção para Sistemas
de Barragem de Rejeitos contendo Radionuclídeos"
(CNEN-NE-1.10); "Gerência de Rejeitos Radioativos
em Instalações Radioativas" (CNEN-NE-6.05);
"Seleção e Escolha de Locais para Depósitos
de Rejeitos Radioativos" (CNEN-NE-6.06) e "Critérios
de Aceitação para Deposição
de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médios Níveis
de Radiação" (CNEN-NN-6.09), além
de uma Instrução Técnica relacionada
à "Deposição Final dos Rejeitos
Radioativos Armazenados em Abadia de Goiás"
(CNEN IT-01).
Para
cada instalação nuclear, a CNEN exige a elaboração
de um plano de radioproteção, que deve incluir
a descrição do sistema de gerenciamento de
rejeitos radioativos e de tratamento de efluentes, de acordo
com a Norma CNEN-NN-3.01 ("Diretrizes Básicas
de Proteção Radiológica"). A
liberação de efluentes radioativos pelas usinas
nucleares deve atender os limites fixados nessa norma e
o plano deve ser submetido à aprovação
da CNEN.
Para
a instalação de uma usina nuclear, seu operador
deve submeter à aprovação da CNEN um
Relatório Preliminar de Análise de Segurança,
normalmente citado pela sigla PSAR (de Preliminary Safety
Analisys Report). Esse Relatório deve conter uma
estimativa da geração de efluentes gasosos
e líquidos e de rejeitos sólidos, elaborada
com base em usinas similares em operação,
e incluir um levantamento dos níveis de radioatividade
natural e artificial oriundos das explosões atômicas
na atmosfera, de modo a permitir uma avaliação
das doses de radiação e da concentração
de radionuclídeos no meio ambiente antes da operação
da usina.
Quanto
à disposição final dos rejeitos radioativos,
a Lei Federal Nº 10.308 regulamenta a instalação
e a operação de três tipos de depósitos
de rejeitos: inicial, intermediário e final. O projeto,
a construção, a instalação e
a operação dos depósitos iniciais são
de responsabilidade do Empreendedor (operador, proprietário)
e beneficiário da autorização concedida
pela CNEN para a operação da unidade onde
são gerados os rejeitos, cabendo à CNEN projetar,
construir, instalar e operar os depósitos intermediários
e finais.
A
remoção de rejeitos dos depósitos iniciais
para os depósitos intermediários é
atribuição do operador ou proprietário
da unidade nuclear, cabendo-lhe arcar com todas as despesas
diretas e indiretas decorrentes e responder ainda por danos
radiológicos pessoais, patrimoniais e ambientais
causados durante a operação. O transporte
de rejeitos dos depósitos intermediários para
os depósitos finais é atribuição
da CNEN, que responde ainda por eventuais danos radiológicos
causados durante a operação.
Os
depósitos podem ser operados por terceiros, desde
que preencham os requisitos estabelecidos pela CNEN e ofereçam
garantias para cobertura de eventuais indenizações
por danos radiológicos. Neste caso, cabe à
CNEN fiscalizá-los em suas áreas de competência,
sem prejuízo da fiscalização das atividades
da empresa prevista na legislação e exercida
por outros órgãos.
A
seleção de locais para a disposição
final de rejeitos de baixo e médio níveis
de radiação foi iniciada em 1978, pela CNEN.
Com base em critérios adotados pela International
Atomic Energy Agency (IAEA) para a disposição
final de rejeitos radioativos em trincheiras, foram definidas
cinco regiões de interesse e, dentre elas, foram
selecionadas áreas relativamente homogêneas
quanto a critérios ambientais (ecossistema, uso do
solo, recursos minerais, demografia), de engenharia (relevo,
hidrogeologia), sociais, institucionais e econômicos.
Os rejeitos radioativos e subprodutos contendo materiais
nucleares gerados ao longo dos últimos 40 anos no
Brasil encontram-se armazenados em depósitos pertencentes
ou supervisionados pela CNEN.
A
destinação final de rejeitos nucleares é
uma questão tecnicamente equacionada, dispondo-se
de processos seguros para seu controle, armazenagem e disposição
até que deixem de oferecer riscos ao ser humano e
ao meio ambiente.
2.12.4.7 Geração
de Combustíveis Nucleares Irradiados - topo
Durante a operação de um reator nuclear, parte
do urânio-238 existente no combustível nuclear
é convertida em isótopos do plutônio por
sucessivas capturas de nêutrons e subseqüentes
decaimentos beta. Assim, a captura de um nêutron pelo
núcleo de urânio-238 leva à formação
inicial de urânio-239, que se transforma em neptúnio-239
por decaimento beta, que, por sua vez, dá origem ao
plutônio 239, também por decaimento beta sucessivamente.
Por seu turno, o plutônio-239, ao absorver nêutrons,
fornece os isótopos plutônio-240,-241,-242 e
-243, principalmente, assim como pode dar origem a radioisótopos
de elementos de número atômico ainda mais elevado,
tais como o amerício e o cúrio. Elementos de
número atômico superior a 92 (que corresponde
ao urânio) são denominados "transurânicos"
e os elementos de número atômico superior a 94
(que corresponde ao plutônio) são denominados
"transplutônicos". A quantidade de urânio-238
convertida em plutônio, no interior do combustível
nuclear, aumenta com o aumento do tempo de irradiação
do combustível.
O
combustível irradiado contém, além
do urânio inicial que não é totalmente
consumido e dos isótopos de plutônio produzidos,
cerca de 30 diferentes elementos químicos e mais
de 100 isótopos diferentes. A maioria dos produtos
de fissão é inicialmente radioativa e decai
com a emissão de partículas beta e raios gama
até que seja produzido um isótopo estável.
A maioria dos radioisótopos tem meia-vida em torno
de até 30 anos, mas alguns têm meia-vida mais
longa.
Na
Tabela 48 estão apresentadas as radioatividades (em
Bq/EC) e as taxas de dose correspondentes a 1 elemento combustível
de reator tipo PWR submetido a uma "queima"
(burn-up) média de 33.000 MWd/t de urânio (U),
removido do núcleo desse reator. A radioatividade
sofre sensível redução com o passar
dos anos, como também a taxa de dose na superfície
do elemento combustível.
Tabela 48 - Redução
da Radioatividade e da Taxa de Dose de Superfície de
um Elemento Combustível (EC) Irradiado removido do
Núcleo de um Reator do Tipo PWR, submetido a uma "queima"
de 33.000 MWd/t de U.
TEMPO
(anos) |
RADIOATIVIDADE
(Bq/EC) |
TAXA
DE DOSE NA
SUPERFÍCIE (Sv/h) |
1 |
9,25
× 1016 |
2340 |
5 |
2,22
× 1016 |
468 |
10 |
1,48
× 1016 |
234 |
50 |
3,70
× 1015 |
86,4 |
100 |
1,85
× 1015 |
21,5 |
500 |
9,25
× 1013 |
0,58 |
1000 |
6,29
× 1013 |
0,0096 |
5000 |
2,22
× 1013 |
0,025 |
10000 |
1,66
× 1013 |
0,018 |
Fonte:
NFB, 1985 / NATRONTEC (1999a).
Unidade
1 da CNAAA - os elementos combustíveis irradiados
de Angra 1 estão armazenados na piscina de combustível
usado, localizada junto ao reator, que tem a capacidade
de estocar 1252 elementos combustíveis, quantidade
suficiente para toda a sua vida útil. Até
dezembro de 1997, havia 285 elementos combustíveis
irradiados armazenados nesta piscina, com 1.500 kg de urânio
235 e 900 kg de plutônio total (Pu238, Pu239, Pu240,
Pu241 e Pu242). Considerando-se que a mesma quantidade desses
radioisótopos será produzida por elemento
combustível em um mesmo período de tempo,
pode-se estimar que a piscina completa de elementos combustíveis
irradiados conterá cerca de 6.589 kg de urânio
235 e 3.957 kg de plutônio total.
Unidades
2 e 3 da CNAAA - Os reatores das usinas Angra 2 e Angra
3 têm uma vida operacional prevista para 40 anos,
com burn-up entre 30.000 MWd/t e 40.000 MWd/t de urânio
(U). Para se calcular, aproximadamente, a quantidade de
urânio e plutônio acumulados durante este período,
utilizam-se os parâmetros típicos de um reator
do tipo PWR com burnup de 33.000 MWd/t, conforme apresentado
na Tabela 49, a seguir.
Tabela 49 - Parâmetros
de Quantidade de Urânio e Plutônio em Elementos
Combustíveis Irradiados e outros parâmetros -
Angra 2 ou Angra 3.
PARÂMETRO |
VALORES |
Potência
elétrica (MWe) |
1.250 |
Carga
de U-235 em equilíbrio (kg/ano) |
1.081 |
Carga
total de U em equilíbrio (kg/ano) |
33.778 |
Descarga
de U-235 (kg/ano) |
272 |
Descarga
total de U (kg/ano) |
32.261 |
Descarga
total de Pu (kg/ano) |
316 |
Fonte:
NFB, 1985 / NATRONTEC (1999a)
A Tabela 50 abaixo, apresenta a estimativa das quantidades
de urânio e plutônio acumuladas nos elementos
combustíveis durante 40 anos de operação
das usinas, usada como referência para os cálculos,
e que indica a ordem de grandeza das quantidades desses
materiais nos elementos combustíveis irradiados de
Angra 2 e Angra 3, no fim do seu ciclo de vida operacional.
Tabela 50 - Estimativa
das quantidades de urânio e plutônio a serem acumulados
após 40 anos de operação de um reator
do tipo de Angra 2 e Angra 3.
MATERIAL |
ACÚMULO
EM 40 ANOS (kg) |
Urânio
235 |
10.880 |
Plutônio
total |
12.640 |
Fonte:
NATRONTEC (1999a)
2.12.4.8 Gerenciamento
de Combustíveis Nucleares - topo
Os
elementos combustíveis são utilizados no núcleo
do reator por um período de aproximadamente três
anos, sendo 1/3 deles anualmente transferidos para uma piscina
situada dentro do envoltório de contenção.
A piscina é revestida com aço inoxidável
austenítico e mantida ininterruptamente cheia com
água borada, com volumes máximo de 1.330 m3
e mínimo de 1.310 m3, para manter o fator de multiplicação
- kef - menor que 1, de forma a impedir o estabelecimento
de uma reação em cadeia. A água é
circulada através de sistema de resfriamento, para
remover o calor de decaimento dos elementos combustíveis
armazenados.
A
piscina dispõe de um sistema de purificação,
constituído de filtros mecânicos e de resinas
iônicas de leito misto, cuja finalidade é remover
as impurezas sólidas e os produtos de fissão
e de ativação; manter constante a concentração
de boro na água durante a purificação;
purificar a água armazenada nos tanques de armazenagem
de água borada; manter a transparência adequada
da água da piscina, necessária para a operação
de recarregamento do núcleo do reator; e manter o
nível de água da piscina, compensando as perdas
por evaporação, mediante injeção
de água desmineralizada.
O
nível de líquido na piscina é controlado
ininterruptamente e mantido na faixa de 13,35 a 13,55 metros,
sendo que as perdas de líquido decorrem exclusivamente
da evaporação natural. A água evaporada
é removida continuamente pelo sistema de ventilação
e as perdas são compensadas mediante a adição
de água desmineralizada.
A
piscina não produz efluentes líquidos, porém
dispõe, para a segurança do sistema, de uma
linha de transbordamento que leva eventuais excessos de
líquido para o sistema de processamento de líquidos
radioativos.
Originalmente,
o projeto da piscina de combustível da usina Angra
2 previa a instalação de grades de aço
borado a 1,2%, com capacidade para armazenar 768 elementos
combustíveis, correspondente a nove ciclos de operação.
Um estudo desenvolvido para aumentar essa capacidade estabeleceu
um arranjo de racks em duas regiões (1 e 2), com
capacidade para armazenar 264 e 820 elementos combustíveis,
respectivamente, totalizando 1.084 posições,
correspondentes a 15 ciclos completos de operação
e a uma autonomia de cerca de 20 anos. O aumento foi obtido
mediante a redução da distância entre
elementos combustíveis na região 2, possibilitada
pela adoção de aço borado a 1,7%, e
pela simplificação dos racks, que incluiu
a eliminação dos meios de centragem automática
da máquina de recarga.
O
emprego de aço borado a 1,7% permite também
a utilização de elementos combustíveis
com níveis de enriquecimento de até 4,2%,
o que possibilitará ciclos de operação
mais longos, de cerca de dezoito meses, bem como a aplicação
no futuro de técnicas de rod consolidation, o que
permitirá a estocagem dos elementos combustíveis
irradiados dentro do próprio edifício do reator
por toda a vida útil da usina, de cerca de 40 anos.
Embora sejam altamente radioativos, os elementos combustíveis
usados não são considerados como rejeitos,
pois contêm uma grande quantidade de materiais de
alto valor, como o urânio e o plutônio, que
podem ser reciclados. Até que se estabeleça
uma política para sua destinação final,
esses combustíveis poderão permanecer estocados
na piscina de elementos combustíveis.
2.12.5 Rejeitos Gasosos
Radioativos - topo
Os
rejeitos gasosos radioativos que serão gerados em
Angra 3 terão três origens:
•
gases provenientes diretamente do circuito primário,
incluindo os gases de fissão, o oxigênio e
o hidrogênio resultantes da decomposição
da água pelo fluxo neutrônico (radiólise)
e o nitrogênio (gás carreador de purga);
•
gases e aerossóis potencialmente radioativos, gases
de ativação eventualmente arrastados pelo
sistema de ventilação da área de acesso
controlado da usina, e gases e aerossóis potencialmente
radioativos succionados pelo sistema de ventilação
do Edifício Auxiliar do Reator e do annulus;
•
gases não condensáveis provenientes diretamente
do circuito secundário (das bombas de vácuo
dos condensadores).
O
fluxograma do sistema de rejeitos gasosos radioativos pode
ser visto na Figura 34.
O
sistema de processamento de rejeitos gasosos destina-se
à redução das doses de radiação
liberadas para o meio ambiente, bem como tem a função
de evitar a formação de misturas quimicamente
explosivas, através das seguintes operações:
•
remover os gases liberados das colunas de evaporação
dos sistemas auxiliares do reator;
•
purgar com gás inerte todos os tanques que contêm
refrigerante despressurizado do reator para remover os gases
de fissão liberados;
•
manter pressão subatmosférica nos tanques
com refrigerante despressurizado para evitar a fuga de gás
radioativo para a atmosfera;
•
recombinar o hidrogênio e o oxigênio no fluxo
de gás de purga, produzindo água, de modo
a manter a fração volumétrica de hidrogênio
abaixo de 4% e a de oxigênio abaixo de 0,1%;
•
retardar os gases nobres até que tenham decaído
na maior parte, para reduzir a taxa de dose liberada para
o meio ambiente;
• liberar os efluentes gasosos para o meio ambiente
de maneira controlada, quando necessário, através
da chaminé de descarga de gases; e
• reduzir a concentração de H2 dentro
do Envoltório de Contenção após
acidente com perda de refrigerante.

Figura 34 - Fluxograma do Sistema
de Rejeitos Gasosos Radioativos (Fonte: PSAR - Preliminar
Safety Analysis Report - Angra 3 (Eletronuclear, 2002).
O
sistema está localizado no Edifício Auxiliar
do Reator e é formado por duas seções
principais: subatmosférica e pressurizada. A seção
subatmosférica compreende os espaços vazios
dos tanques e componentes que contêm ou tratam a água
de refrigeração no interior do envoltório
de contenção, dois recombinadores catalíticos
de H2 e O2, dois circuitos de medida de concentração
de H2 e O2 e três sistemas de injeção
de H2, O2 e N2 para ajuste de concentrações
de processo.
A
seção pressurizada compreende os leitos de
retardo para decaimento; três linhas de compressão
de gases, com um compressor acoplado a cada uma delas; um
pré-secador de gases; uma linha de secagem de gases,
com três secadores de sílica-gel e dois aquecedores
de gases para regeneração dos secadores; linha
de decaimento, equipada com 10 leitos de retardo de carvão
ativado em série e oito interresfriadores; e linha
de exaustão de gases, com filtro, medidores de radiação
e descarga para a chaminé.
2.12.5.1 Parâmetros
Radiológicos - topo
A
atividade radioativa no sistema de processamento de rejeitos
gasosos decorre do fato de que esse sistema captará
todos os gases com radioisótopos, provenientes da
operação da usina. Quando o líquido
não é desgaseificado é porque a radioatividade
no sistema é muito baixa. Devido ao tempo relativamente
longo de decaimento - 60 dias para o xenônio e 60
horas para o criptônio, praticamente só o Xe-133
e o Kr-85m são importantes do ponto de vista da liberação
de rejeitos gasosos no meio-ambiente.
A
Tabela 51 apresenta as radioatividades nas seções
subatmosférica e pressurizada, considerando-se uma
taxa de desgaseificação da água de
refrigeração de 10% por hora, bem como as
taxas de liberação efetivas, medidas em Bq/h,
considerando-se uma taxa de liberação para
a atmosfera de 1 m3/h. Na realidade, a abertura da descarga
para a chaminé pelo sistema de controle é
descontínua e os gases liberados terão em
geral passado fisicamente várias vezes pelos leitos
de retardo, com maior decaimento. Os tempos de retardo usados
serão de 40 dias para o xenônio e de 40 horas
para o criptônio, os mais altos que devem ser esperados.
Tabela 51 - Rejeitos
gasosos - Radioatividades e taxas de liberação.
Radioisótopos |
Radioatividade
(Bq) |
Taxa
de liberação efetiva
pela chaminé (Bq/h) |
Seção
subatmosférica |
Seção
pressurizada |
Kr
85 metaestável |
5,03
×1012 |
9,27×1011 |
2,95×107 |
Kr
85 |
1,25
×1012 |
1,02×1011 |
3,57×109 |
Kr
87 |
2,31×1012 |
1,21×1011 |
2,24×100 |
Kr
88 |
8,59×1012 |
1,01×1012 |
1,41×106 |
Xe
131 metaestável |
3,15×1011 |
3,35×1012 |
8,75×107 |
Xe
133 |
7,30
× 1013 |
3,83
× 1014 |
1,06×109 |
Xe
133 metaestável |
2,58×1012 |
5,58×1012 |
2,31×104 |
Xe
135 metaestável |
4,37×1011 |
4,59×109 |
0,00×100 |
Xe
135 |
6,52×1013 |
2,44×1013 |
0,00×100 |
Xe
138 |
5,44×1011 |
5,30×109 |
0,00×100 |
Total |
1,59×1014 |
4,18×1014 |
4,75×109 |
|
|
|
|
Rb
88 |
8,49×1012 |
1,11×1012 |
0,00×100 |
Cs
138 |
5,33×1011 |
1,71×1010 |
0,00×100 |
Total |
9,02×1012 |
1,13×1012 |
0,00×100 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
2.12.5.2 Sistemas de
Tratamento dos Rejeitos Gasosos Radioativos - topo
O
tratamento dos rejeitos gasosos depende da origem destes,
isto é, se são gases do circuito primário
ou gases e aerossóis succionados pelo sistema de
ventilação da área de acesso controlado
da usina (Figura 35). No primeiro caso, a seção
subatmosférica é preenchida com N2, usado
como gás de purga contínua. As linhas individuais
de purga são recolhidas num coletor, que conduz o
gás a um recombinador, através de um secador
de gases. Os recombinadores da seção subatmosférica
são componentes passivos, preenchidos com um catalisador
que possibilita a reação do H2 com o O2, formando
água. As concentrações de hidrogênio
e oxigênio são medidas a montante dos recombinadores
e, se estiverem fora dos limites fixados, H2 ou O2 é
injetado no sistema.
Após
passar pelo recombinador, o fluxo de gases é novamente
analisado para a determinação das concentrações
de H2 e O2. Em seguida, os gases são comprimidos
e, em sua maior parte, reconduzidos à seção
subatmosférica para a purga do tanque de alívio
do pressurizador e do tanque de controle volumétrico.
Os gases restantes são secados e transferidos para
leitos de retardo. A linha de secagem é dotada de
um pré-secador e de secadores de sílica gel.
O pré-secador destina-se a promover a redução
do teor de água nos gases, bem como aumentar a "performance"
dos leitos de decaimento, que diminui com o aumento da umidade,
porém aumenta a temperaturas mais baixas. A sílica-gel
é usada para proteger o carvão ativo nos leitos
de decaimento, pois uma pequena quantidade de água
já é suficiente para diminuir sua eficiência.
A
linha de decaimento é composta de dez leitos arranjados
em série, contendo carvão ativo. Para os isótopos
de xenônio e criptônio (Xe-133 e Kr-85m), os
leitos de decaimento fornecem um fator de descontaminação
de aproximadamente 1.000 vezes. A atividade radioativa é
medida e registrada na entrada do conjunto de leitos de
retardo e na saída para a chaminé. A eficiência
da linha de retardo pode ser medida através de comparações
com amostras de gases retiradas na entrada do primeiro,
do terceiro e do sexto leitos, bem como na saída
da linha de retardo.

Figura 35 - Esquema de tratamento
de rejeitos gasosos radioativos.
Fonte: NATRONTEC (1999a).
Durante
a operação da usina, o sistema funciona continuamente
em circuito fechado e com a válvula de controle fechada
e, portanto, sem emissões para a chaminé.
Entretanto, isto não ocorre durante todo o tempo,
porque há sempre entradas de ar externo na parte
subatmosférica do sistema, o que demanda a abertura
da válvula de controle da chaminé. A operação
com a válvula de controle fechada resulta na passagem,
repetidas vezes, pelos leitos de retardo, dos mesmos 10
m3/h da parte dos gases destinados à linha de retardo.
No entanto, é computada uma descarga de 1 m3/h, correspondente
à abertura mínima da válvula de controle
em direção a chaminé, para efeito de
fechamento de balanço de massas e cálculo
da radioatividade liberada, feitos com o emprego de modelo
matemático.
No
período de início de operação
da usina, o aumento da temperatura faz com que cerca de
120 m3 de água de refrigeração fluam
do circuito primário para os tanques de armazenamento,
provocando a contração do mesmo volume de
purga para o sistema de processamento de rejeitos gasosos.
Visto que esse sistema não dispõe de tanques
de armazenamento, o volume equivalente de gase é
descarregado pela chaminé, através dos leitos
de retardo e de uma válvula de controle localizada
a jusante dos leitos. No período de desligamento
da usina, há quatro fases importantes:
•
desgaseificação da água de refrigeração
- nesta fase, o H2 removido é enviado para
o sistema de processamento de rejeitos gasosos, ocasião
na qual ocorre a mais alta concentração de
H2 nos recombinadores;
•
resfriamento da água de refrigeração
- nesta fase, a contração da água
de refrigeração resulta no fornecimento de
120 m3 de água para o circuito primário pelo
tanque de armazenamento de água de refrigeração,
o que provoca uma redução de gases no sistema
de processamento de rejeitos gasosos e exige, em conseqüência,
a injeção de igual quantidade de N2 no sistema
para não perturbar suas condições de
operação;
•
diminuição do nível de água
do reator - após o resfriamento e a despressurização
do circuito primário, cerca de 200 m3 de água
de refrigeração são enviados para os
tanques de armazenamento, o volume de purga do sistema de
processamento de rejeitos gasosos diminui na mesma quantidade
e a taxa de vazão correspondente de N2, que começa
com 70 Nm3/h, diminui lentamente; para não perturbar
as condições de operação do
sistema, o excesso de gás é liberado para
a chaminé, via leitos de retardo e válvula
de controle (no projeto do sistema, esse caso de operação
é denominado motive gas);
• purga do reator - após a redução
do nível de líquidos no reator, o circuito
primário é purgado com N2 para reduzir a atividade
dentro dele, sendo que a taxa de vazão de descarga
para a chaminé corresponde à taxa de vazão
de gás de purga que é injetado no sistema.
A
linha de exaustão de gás para a atmosfera
localiza-se a jusante dos leitos de decaimento e é
equipada com sensores gama e beta, cujos sinais são
registrados continuamente. Ocorrendo liberação
acima do limite estipulado, um alarme soa na sala de controle
principal, e a liberação é interrompida.
A
operação do sistema de processamento de rejeitos
gasosos não é diretamente afetada pelas condições
de carga da usina. Em qualquer condição, o
sistema funciona com apenas um compressor de gás,
que fornece 0,043 kg/s ou 120 Nm3/ h de um gás que
é praticamente só N2. A parte pressurizada
do sistema é mantida em uma pressão de 8 bar
(absoluta) e a parte subpressurizada, de 0,8 bar (absoluta).
A temperatura do sistema está, em geral, entre 10°C
e 20°C e apenas alguns pontos apresentam temperaturas
acima ou abaixo desses valores. No caso de acidente com
perda de água de refrigeração, o sistema
permite isolar e usar um conjunto composto de um recombinador
e de um compressor para reduzir a concentração
de H2 dentro do envoltório de contenção.
Nesta condição, o gás tratado retorna
para a contenção.
Quanto
aos gases e aerossóis succionados pelo sistema de
ventilação da área de acesso controlado
da usina, sua presença no sistema deve-se a difusões
através de fissuras ou a escapamentos durante os
trabalhos de manutenção. O sistema de ventilação
mantém uma pressão subatmosférica definida
dentro da contenção do Edifício do
Reator, para garantir o fluxo de ar das áreas de
baixo potencial de contaminação para as áreas
de potencial elevado, e retira as substâncias radioativas
do ar do ambiente para impedir sua dispersão na atmosfera.
A contenção, o Edifício Auxiliar do
Reator e o annulus são supridos por um sistema comum
de admissão de ar, dotados de dois ventiladores com
69,87 m3/s ou cerca de 251.500 m3/h de capacidade total.
No
envoltório da contenção (annulus),
o suprimento de ar é dirigido a três áreas
principais e independentes: compartimento dos grandes equipamentos
(não acessíveis), compartimento dos pequenos
equipamentos (acessíveis com restrições)
e compartimentos operacionais (acessíveis). Durante
a operação normal da usina, a contenção
recebe 1,39 m3/s de ar e, no compartimento dos grandes equipamentos,
parte do ar é filtrado e a radiação
diluída através de um by-pass quando o nível
de radioatividade medida ultrapassar os valores permissíveis.
Assim que a radiação voltar aos valores normais,
o sistema é desligado. No Edifício Auxiliar
do Reator, o ar é suprido a três áreas:
compartimento dos equipamentos (cinco trens), laboratórios
e vestiários e banheiros. Cada um dos cinco trens
que servem ao compartimento dos equipamentos pode ser dirigido,
conforme o nível da radioatividade medida, para os
filtros do sistema de manutenção de pressão
subatmosférica (estação de filtração)
do sistema de ventilação. No annulus, o ar
é suprido de forma independente e, se necessário,
dependendo da radioatividade medida, o fluxo de exaustão
pode ser direcionado para os filtros do sistema de manutenção
de pressão subatmosférica.
O
sistema de ventilação utiliza filtros finos
de fibra de vidro, filtros de aerossol, que servem para
reter os aerossóis suspensos no ar e são instalados
nos trens de exaustão de ar do sistema de ventilação
da área controlada; e filtros de carvão ativado,
que removem o iodo ou os compostos contendo iodo radioativo
eventualmente presentes no ar. Todos estes filtros são
interligados em série e inseridos em estruturas fabricadas
em aço inoxidável, permitindo a conexão
entre si e com a rede de dutos.
Pelos
filtros da esfera da contenção, instalados
no by-pass, passam constantemente cerca de 8.000 m3 de ar
por hora. A subpressão no interior da esfera de contenção
é assegurada pela exaustão de 5.000 m3/h,
dos quais, 1.000 m3/h são provenientes das salas
de equipamentos e, o restante, das demais salas de operação.
Esse ar é liberado para a atmosfera pela chaminé,
após passar por uma central de filtros localizada
no Edifício Auxiliar do Reator, cujos fatores de
descontaminação são: gases nobres -
1; organo-halogenados - 10; halogênios em estado elementar
- 100; e aerossóis - 1.000. Durante as paradas do
reator para a troca de elementos combustíveis ou
manutenção de equipamentos, a esfera de contenção
é purgada com uma vazão de cerca de 25.000
m3/h de ar, que são liberados para a atmosfera depois
de filtrados. No annulus, a vazão é de cerca
de 30.000 m3/h e, se necessário, o ar é filtrado
antes de ser liberado pela chaminé.
Para
detectar a presença de radioatividade na área
de acesso controlado, o sistema de ventilação
é provido de um sistema de monitoramento que conduz
ar proveniente de diferentes dutos de exaustão do
Edifício do Reator, do annulus e do Edifício
Auxiliar, para os instrumentos de medição
de radioatividade. A chaminé de exaustão de
ar também é monitorada. Em caso de acidente
com perda de água de refrigeração,
o sistema de proteção do reator isola o sistema
de ventilação do envoltório de contenção
e do annulus, aciona o sistema de exaustão deste
último, mantém aí a subpressão
necessária e garante que o ar extraído do
local só seja descarregado para a atmosfera após
filtragem por meio de um duto estanque.
Em
uma usina nuclear como Angra 2, a radioatividade é
monitorada continuamente por um detector e por um sistema
de amostragem, permitindo que a liberação
seja feita de maneira controlada. O detector monitora os
efluentes gasosos liberados na atmosfera pela chaminé
(gases nobres, iodo radioativo, aerossóis radioativos,
trício e carbono-14) e os efluentes líquidos
liberados no mar pela água de circulação;
registra os valores da radiação nos pontos
de liberação e aciona o alarme quando os limites
fixados são ultrapassados. O sistema coleta amostras
de efluentes, para avaliação de níveis
de radionuclídeos em laboratório, para atendimento
aos limites fixados pela CNEN.
Os
efluentes gasosos são liberados da usina para o meio
ambiente pela chaminé, de formas contínua
e descontínua. No primeiro caso, o sistema de ventilação
da área de acesso controlado dispõe de um
sistema de exaustão que libera o ar proveniente do
envoltório de contenção, do annulus
e do Edifício Auxiliar do Reator. No caso do envoltório
de contenção, o ar passa sempre por uma central
de filtros; no annulus e no Edifício Auxiliar do
Reator, isso só ocorre se o monitoramento do ar acusar
a presença de radioatividade.
A
liberação de forma descontínua ocorre
durante a operação normal da usina, quando
o sistema de processamento de rejeitos gasosos radioativos
libera efluentes gasosos para compensar a pressão
decorrente do ingresso de massa no sistema. No início
de operação da usina, quando a água
de refrigeração do reator se expande, o excesso
de água de refrigeração é descarregado
no tanque de armazenamento, reduzindo o volume livre de
gases; conseqüentemente, o volume correspondente de
gases deslocado é descarregado no sistema de processamento
de rejeitos gasosos radioativos. O volume correspondente
à redução do volume livre de gás
deslocado é liberado na seção subatmosférica
que é descarregado pela chaminé.
2.12.5.3 Monitoramento
- topo
O
monitoramento da chaminé de descarga dos efluentes
gasosos destina-se a medir a concentração
de radioatividade presente no ar liberado, acionar o alarme
na eventualidade de concentrações excessivas
e promover o balanceamento das quantidades liberadas de
gases nobres, aerossóis, iodo e trício radioativos
em suspensão no ar para avaliação dos
possíveis efeitos radiológicos.
Os
pontos de medição de radioatividade na chaminé
estão localizados na sala de medição
de radioatividade do ar, que possui uma radiação
de fundo particularmente baixa. Uma amostra de ar representativa
é retirada da chaminé e levada a pontos específicos
dessa sala para:
•
a determinação da radioatividade dos gases
nobres do ar de exaustão da chaminé -
dois medidores de radiação monitoram a radioatividade
dos gases nobres durante a operação normal
da usina;
•
a medição dos radionuclídeos de gases
nobres - paralelamente aos pontos de medição
de beta total, um medidor de radiação gama
específico para radionuclídeos monitora os
gases nobres liberados com o ar de exaustão;
•
a medição de alta radioatividade e de altas
taxas de dose - após acidentes, descargas de
gases nobres de alta radioatividade são monitoradas
por dois medidores, um dos quais mede a taxa de dose usando
uma câmara de ionização sensível
à radiação gama instalada dentro da
chaminé;
•
a monitoração da radioatividade de aerossóis
e iodo presentes no ar de exaustão da chaminé
-monitores de radioatividade de aerossóis e
iodo são usados para acionar o alarme;
•
o balanço de gases nobres, iodo, aerossóis,
trício e carbono 14 - é feito a partir
da taxa de liberação total, em Bq/h, tomando-se
as razões das quantidades individuais na mistura
total. As quantidades de iodo e aerossóis são
feitas mediante a inserção de filtros no duto
de amostragem de ar. Amostras de ar, incluindo vapor e dióxido
de carbono, são extraídas da chaminé
da usina a cada três meses, para avaliar o conteúdo
de trício e carbono 14.
A
Tabela 52 relaciona os itens monitorados, os equipamentos
utilizados, o tipo de análise e a faixa de medição,
em Angra 2,
Tabela 52 - Monitoramento
de efluentes gasosos radioativos.
Elementos
medidos |
Detetores |
Tipos
de
análises |
Faixas
de medição |
Gases
nobres |
Contador
plástico de cintilação |
Beta
total |
2
x 103 a 109 Bq/m3 |
Radionuclídeos
dos gases
nobres |
Detector
de germânio |
Espectrométrica |
5,5
x 10-8 a 5,5 x 102
(Sv/h) / (m/s3) |
Medida
alta radioatividade |
Barreira
de Superfície |
Beta
total |
107
- 1013 Bq/m3 |
Medida
de taxa de dose |
Câmara
de ionização |
Gama
total |
10-7
- 102 Gy/h |
Aerossol |
Contador
de NaI (Tl) |
Gama
Total |
6
- 106 Bq |
Iodo |
Contador
de NaI (Tl) |
Gama
Total |
6
- 106 Bq |
Fonte:
NATRONTEC (1999a)
2.12.5.4 Síntese
das Emissões Gasosas Radioativas - topo
Em
cada usina integrante da CNAAA, os gases radioativos do
circuito primário são continuamente removidos.
Em Angra 1, esses gases são acondicionados em tanques
de decaimento, onde permanecem armazenados pelo tempo necessário
até que sua radioatividade decaia aos níveis
permitidos para liberações no meio ambiente.
Em Angra 2, os gases radioativos são processados
no sistema de tratamento de efluentes gasosos radioativos,
no qual estão instalados os chamados "leitos
de retardo", onde os gases radioativos permanecem
retidos até que seus níveis de radioatividade
sejam compatíveis e permitidas suas liberações
para o meio ambiente. Os gases radioativos existentes no
interior do circuito primário, em ambas as usinas
Angra 1 e Angra 2, são removidos antecipadamente
e muito especialmente durante a despressurização
do circuito primário para recarregamento de combustível
ou eventuais interrupções para manutenções,
de modo que, nas operações de abertura dos
componentes desse circuito primário, trabalhadores
possam entrar no interior da contenção, através
da eclusa de acesso à mesma, sem necessidade de utilização
de máscaras, podendo, assim, executar suas funções
de maneira segura e sem exposições a níveis
de radiações impróprios.
Os
sistemas de ventilação das áreas controladas
das usinas recebem mínimas quantidades de contaminantes
radioativos derivados da difusão em componentes que
os contenham, dentro e fora da contenção;
na usina Angra 1, também provenientes do sistema
de remoção de ar (gases não-condensáveis),
do interior dos condensadores do vapor exausto das turbinas
existentes no circuito secundário
No
caso de despressurização do circuito primário,
seja para fins de recarregamento ou de manutenção,
a desgaseificação prévia do líquido
refrigerante do circuito primário é feita
para a remoção de radioisótopos de
gases nobres, bem como do hidrogênio, de modo que
o vaso de pressão do reator possa ser aberto sem
riscos para os trabalhadores, assim como as eclusas de acesso
ao prédio do reator possam ser abertas, também
sem riscos de contaminações, por inexistência
de contaminantes, das áreas externas a esse prédio.
As
demais fontes de rejeitos gasosos radioativos são
o sistema de ventilação da área controlada
da usina, que recebe pequenas quantidades de elementos radioativos
provenientes de vazamentos em componentes dos sistemas radioativos
instalados fora do envoltório de contenção,
e do sistema de ejeção de ar dos condensadores
da turbina no circuito secundário.
Em
Angra 2, antes da liberação no meio ambiente,
os rejeitos gasosos radioativos são removidos dos
circuitos primário e secundário e conduzidos
para leitos de carvão ativado, onde os radioisótopos
dos gases nobres xenônio e criptônio são
adsorvidos pelo carvão ativo, ao mesmo tempo que
decaem formando isótopos estáveis (não-radioativos)
e/ou radioisótopos de meias-vidas extremamente longas
e de baixa radioatividade específica. Os rejeitos
permanecem nos leitos até que seus níveis
de radioatividade decaiam para níveis inferiores
aos limites máximos estabelecidos pela CNEN para
lançamento no meio ambiente, pela chaminé
da usina, em bateladas.
Em
ambas as usinas Angra 1 e Angra 2, aerossóis eventualmente
existentes na atmosfera interna da contenção,
recolhidos pelos respectivos sistemas de ventilação
nas áreas controladas, são retidos por filtros
especiais, de modo que suas emissões no meio ambiente,
como aliás atestam os sistemas de monitoração
contínua, que os detectam, sejam extremamente baixas
e compatíveis com os níveis e limites permitidos
para lançamento no meio ambiente.
As
previsões de projeto para as emissões radioativas
gasosas anuais das três unidades da CNAAA estão
sumarizadas na Tabela 53.
Tabela 53 - Sumário
das liberações gasosas radioativas para as Unidades
1, 2 e 3 da CNAAA
Radioisótopos |
Angra
1 |
Angra
2 |
Angra
3 |
Gases
nobres para a atmosfera (Bq/ano) |
Kr-85m |
1,59
E +11 |
1,85
E +13 |
1.85
E + 13 |
Kr-85 |
2,41
E + 12 |
1,85
E + 13 |
1,85
E + 13 |
Kr-87 |
9,03
E + 10 |
9,25
E + 12 |
9,25
E + 12 |
Kr-88 |
2,72
E +11 |
2,31
E +13 |
2,31
E +13 |
Xe-131m |
|
1,85
E +13 |
1,85
E + 13 |
Xe-133
m |
1,39
E +11 |
|
|
Xe-133 |
7,37
E +12 |
7,40
E + 14 |
7,40
E + 14 |
Xe-135
m |
2,74
E + 10 |
|
|
Xe-135 |
4.49
E + 1 1 |
9,25
E + 13 |
9.25
E + 13 |
Xe-138 |
5,29
E + 10 |
4,63
E + 12 |
4,63
E + 12 |
Total |
1,10
E + 13 |
9,25
E + 14 |
9,25
E + 14 |
lüdo
e aerossóis para a atmosfera (Bq/ano) |
Co-58 |
|
4,63
E + 09 |
4,63
E + 09 |
Co-60 |
|
6,48
E + 09 |
6,48
E + 09 |
Cs-134 |
|
1,85
E + 09 |
1,85
E + 09 |
Cs-137 |
|
4,63
E + 09 |
4,63
E + 09 |
Ce-
144 |
|
7,40
E + 08 |
7,40
E + 08 |
Sr-90 |
|
1,85
E + 08 |
1,85
E + 08 |
Pu-239 |
|
1,85
E + 06 |
L85E
+ 06 |
Pu-240 |
|
1,85
E + 06 |
1.85
E + 06 |
I-131 |
7,00
E + 08 |
9,25
E + 09 |
9,25
E + 09 |
I-132 |
2,00
E + 08 |
|
|
I-133 |
LIO
E + 09 |
9,25
E + 09 |
9,25
E + 09 |
I-134 |
1,26
E + 08 |
|
|
I-135 |
5,85
E + 08 |
|
|
Total |
2,71
E + 08 |
3,70
E + 10 |
3,70
E + 10 |
Fontes:
PSAR Angra 3 (Eletronuclear, 2002), FSAR Angra 1 (Eletronuclear,
2004) e FSAR Angra 2 (Eletronuclear, 2001).
A
radioatividade dos gases nobres (radioisótopos de
xenônio e criptônio) prevista no Relatório
Final de Análise de Segurança (Final Safety
Analisys Report, FSAR - Eletronuclear, 2004) de Angra
1 para as liberações da usina é de
1,1 E+13 Bq/ano (Tabela 53). A radioatividade das liberações
ocorridas no período 1982-2002 consta da Tabela 54.
Tabela 54 - Angra
1 - Radioatividade das emissões gasosas efetuadas no
período 1982-2002.
Ano |
Liberações
(Bq) |
N°
de liberações |
Gases
nobres |
Trícto |
Partículas
e iodo |
Radioatividade
total |
LLRG |
Anormais |
1982 |
7,04
E + 06 |
7,59E+04 |
0,OOE+00 |
7,12
E + 06 |
8 |
0 |
1983 |
2,24
E + 09 |
5,25
E + 09 |
0,00
E + 00 |
7,50
E + 09 |
16 |
2 |
1984 |
5,62
E +10 |
1,06
E + 09 |
2,44
E + 05 |
5,73
E +10 |
67 |
2 |
1985 |
2,91
E +11 |
8,44
E + 09 |
6,62
E + 05 |
2,99
E +11 |
135 |
0 |
1986 |
7,96
E + 10 |
4,77
E +10 |
5,40
E + 03 |
1,27
E +11 |
44 |
0 |
1987 |
8,40
E +11 |
2,99
E +10 |
9,84
E + 00 |
8,70E+
11 |
58 |
0 |
1988 |
1,85
E + 11 |
8,18
E +10 |
0,00
E + 00 |
2,67
E +11 |
34 |
0 |
1989 |
9,88
E + 12 |
L59E
+ 11 |
0,00
E + 00 |
1,00
E +13 |
111 |
1 |
1990 |
3.18E+11 |
5,85
E + 09 |
0,00
E + 00 |
3,24
E +11 |
107 |
1 |
1991 |
6,88
E + 11 |
2,
78 E +10 |
4,74
E + 01 |
7,16E+11 |
100 |
4 |
1992 |
2,01
E +13 |
2,93
E + 12 |
4,51
E + 08 |
2,30
E + 13 |
163 |
0 |
1993 |
4,48
E + 13 |
6,11
E+ 11 |
4,81
E + 08 |
4,54
E +13 |
78 |
0 |
1994 |
1,71
E +11 |
2,25
E + 09 |
L18E
+ 08 |
1,73
E +11 |
45 |
0 |
1995 |
2.29
E +11 |
1,74
E + 10 |
1,54
E +06 |
2,46
E + 11 |
80 |
0 |
1996 |
7.73
E + 12 |
1,10
E + 11 |
1,04
E + 07 |
7.84
E + 12 |
72 |
0 |
1997 |
6.14
E + 13 |
3,85
E +12 |
4,10
E + 09 |
6,51
E +13 |
106 |
0 |
1998 |
6,40
E +12 |
7,07
E +10 |
3,52
E + 08 |
6,30
E + 12 |
91 |
0 |
1999 |
2,20
E +11 |
1,05
E +10 |
1,81
E + 03 |
2,31
E +11 |
113 |
0 |
2000 |
9,77
E + 10 |
7,44
E + 12 |
6,88
E + 06 |
7,55
E + 12 |
89 |
0 |
2001 |
3,96
E + 10 |
1,47
E +11 |
1,34
E + 06 |
L87E+11 |
88 |
0 |
2002
(até out) |
5,29
E + 10 |
9,43
E +10 |
8,10
E + 07 |
1,48
E +11 |
71 |
0 |
Fontes:
Arquivo efluente.xls, de Furnas (1982-1987 e 1996), e relatórios
semestrais de efluentes e rejeitos (1988-1995 e 1997-2002)
da Eletronuclear
LLRG
- Licença de Liberação de Rejeitos
Gasosos
O
FSAR de Angra 2 (Eletronuclear, 2001) prevê, para
as liberações dessa usina, atividades de 9,25
× 1014 Bq/ano para gases nobres (radioisótopos
de xenônio e criptônio), 1,85 × 1010 Bq/ano
para aerossóis e 9,25 × 109 Bq/ano para iodo-131
(Tabela 53). As liberações ocorridas no período
2000-2002 constam da Tabela 55.
Tabela 55 - Angra
2 - Radioatividade das emissões gasosas efetuadas no
período - 2000-2002.(*)MDA = Atividade mínima
detectável.
Ano |
Liberações
(Bq) (*) |
Nº
de liberações |
Gases
nobres |
Trício |
Partículas
e iodo |
Radioatividade
total |
LLRG |
Anormais |
2000 |
1,70
E + 10 |
<
MDA |
<
MDA |
1,70
E + 10 |
0 |
0 |
2001 |
4,72
E + 10 |
1,21
E + 10 |
<
MDA |
5,94
E + 10 |
0 |
0 |
2002
(até jul) |
8,38
E + 10 |
2,16
E + 10 |
<
MDA |
1,05
E + 11 |
0 |
0 |
Fonte:
Relatórios semestrais de efluentes e rejeitos da
Eletronuclear
LLRG - Licença de Liberação de
Rejeitos Gasosos
2.12.6 Rejeitos Líquidos
Radioativos - topo
Os
rejeitos líquidos radioativos gerados na usina são
segregados, em função de seus níveis
de radioatividade e origens. Os rejeitos com maior nível
de radioatividade compreendem o material drenado de salas
com componentes radioativos, laboratórios e instalações
de descontaminação de equipamentos, ferramentas
e materiais. Os rejeitos com menor nível de radioatividade
são provenientes de compartimentos de operação
e serviços, lavanderia, chuveiros da área
controlada e do sistema de regeneração dos
desmineralizadores.
Os
sistemas mecânicos da usina podem apresentar pequenas
perdas de líquidos, razão pela qual os prédios
que abrigam sistemas que contêm ou possam conter material
radioativo são dotados de sistemas especiais de drenagem,
que coletam os líquidos drenados em poços
de coleta, situados no nível mais baixo de cada prédio.
Esses rejeitos, se necessário, são bombeados
para tanques de armazenamento para posterior tratamento.
Durante
a operação da usina, uma fração
da água de refrigeração do circuito
primário é removida pelo sistema de controle
volumétrico para desgaseificação e
purificação para reduzir a concentração
de radionuclídeos. Além disso, a quantidade
de boro diluído na água para compensar a taxa
de queima (burn up) do combustível, é controlada.
O
sistema de tratamento de rejeitos líquidos radioativos,
dimensionado para armazenar e processar aproximadamente
20.000 m3 por ano, está situado no Edifício
Auxiliar do Reator.
O
sistema é composto de tanques de armazenagem, colunas
de evaporação, estação de transferência
de concentrados ou resinas exauridas e estação
de produtos químicos.
Os
rejeitos líquidos radioativos são coletados
em tanques de armazenamento, segregados de acordo com suas
composições químicas e níveis
de radioatividade.
Os
tanques de coleta de rejeitos líquidos são
os seguintes:
•
três tanques de monitoração, para permitir
a preparação e a liberação de
efluentes para o meio ambiente;
•
três tanques para estocagem de concentrado, e
•
seis tanques para armazenagem de produtos químicos
usados no tratamento dos rejeitos líquidos, concentrados
e nas unidades de evaporação.
Tabela 56 - Angra
3 - Origens, quantidades e atividades dos rejeitos líquidos
radioativos por grupo e origem.
Origens |
Quantidades
produzidas (normal- max.) |
Radioatividade
(Bq/m3) |
Águas
de drenagem das salas de equipamentos |
2
a 50 m3/dia |
3,7
× 106 a 3,7 × 1010 |
Rejeitos
do laboratório químico na área
controlada |
1
a 3 m3/dia |
3,7
× 105 a 3,7 × 108 |
Rejeitos
dos sistemas de descontaminação |
2
a 5 m3/dia |
3,7
× 106 a 3,7 × 108 |
Água
do sistema de purificação da piscina de
combustível usado |
0
a 70 m3/dia |
3,7
× 105 a 3,7 × 108 |
Líquidos
decantados dos tanques de concentrados |
0
a 15 m3/dia
3 a 4 vezes/ano |
3,7
× 107 a 3,7 × 1010 |
Líquidos
dos evaporadores |
0
a 8 m3/dia |
3,7
× 107 a 3,7 × 109 |
Destilado
do sistema de processamento de concentrados radioativos |
3
a 12 m3/dia |
3,7
× 108 a 3,7 × 1010 |
Líquidos
do sistema de amostragem nuclear |
1
m3/dia |
3,7
× 108 a 3,7 × 1010 |
Água
de drenagem dos poços dos compartimentos de operação |
5
a 50 m3/dia |
3,7
× 104 a 3,7 × 107 |
Água
da lavanderia |
5
a 15 m3/dia |
3,7
× 104 a 3,7 × 107 |
Rejeitos
dos chuveiros e lavatórios da área controlada |
8
a 20 m3/dia |
3,7
× 104 a 3,7 × 106 |
Destilado
do sistema de processamento de água de refrigeração
do reator |
6
a 70 m3/dia |
3,7
× 104 a 3,7 × 106 |
Água
de lavagem e solução regenerativa dos
filtros de leito misto |
40
a 60 mv/ano |
3,7
× 107 a 3,7 × 108 |
Água
de lavagem e solução regenerativa de purga
do gerador de vapor |
70
m3/semana |
Inativo
(3,7 × 104 a 3,7 × 108
com vazamento no gerador de vapor) |
Água
de lavagem do filtro eletromagnético |
1,5
m3/dia |
Inativo
(3,7 × 104 a 3,7 × 108
com vazamento no gerador de vapor) |
Fonte:
PSAR
- Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
2.12.6.1 Monitoramento
- topo
A
monitoração de efluentes líquidos é
feita no Edifício da Turbina, no sistema de água
de serviço e nas linhas de descarga dos tanques de
monitoração, onde são coletadas amostras
semanalmente com o objetivo de localizar a origem de descargas
de produtos radioativos nos efluentes líquidos. Os
efluentes líquidos totais descarregados pela usina
no meio ambiente também são monitorados, de
modo a detectar eventuais descargas não intencionais.
Durante
a descarga dos tanques de monitoração, a radioatividade
e a taxa de descarga são medidas e registradas continuamente.
A radioatividade é monitorada por meio de um medidor
de radiação gama, e se o valor máximo
permitido (1,9 ×10+7 Bq/m3) for ultrapassado ou for
detectado distúrbio na medição, a operação
de descarga é automaticamente bloqueada.
O
monitoramento de Césio-137 é feito com contador
de NaI (T1) e análise de gama total. As faixas de
medição são de 2 × 105 a 5 ×
107 Bq/m3, para cada efluente líquido, e de 4 ×
103 a 2 × 108 Bq/m3, para o efluente líquido
total.
2.12.6.2 Processamento
- topo
O
sistema foi projetado para processar aproximadamente 20.000
m3 de rejeitos líquidos por ano, capacidade determinada
pela quantidade de rejeitos líquidos produzidos na
área de acesso controlado da usina.
Conforme
o esquema mostrado na Figura 37, os rejeitos são
coletados nos tanques de armazenamento, que são direcionados
para as unidades de evaporação, e, quando
cheios, são alinhados ao sistema de tratamento pertinente,
de acordo com a radioatividade e as características
químicas dos rejeitos, ou diretamente aos tanques
de monitoração. A lama que eventualmente se
acumule no fundo dos tanques pode ser bombeada para os tanques
de concentrado. A estação de produtos químicos
fornece a solução necessária para o
tratamento. O sistema também pode ser visualizado,
de forma mais simplificada, na Figura 36. O fluxograma,
contendo inclusive os níveis de radioatividade dos
rejeitos em cada processo e os limites de liberação,
pode ser visto na Figura 38.
Os
rejeitos líquidos são armazenados em tanques
e tratados, conforme necessário, com o emprego de
evaporadores ou de filtro, antes de serem transferidos para
os tanques de monitoração. O conteúdo
dos tanques de monitoração é analisado
e, se atender os limites radiológicos requeridos,
é liberado para o meio ambiente de forma controlada.
Quando os limites não são atendidos, o conteúdo
dos tanques de monitoração é reconduzido
aos tanques de armazenamento, para novo tratamento.
De
acordo com a concentração e as características
químicas de cada rejeito líquido, são
aplicados processos de evaporação ou filtragem
para reduzir a radioatividade e a quantidade de sólidos
não dissolvidos.

Figura 36 - Esquema Simplificado do Sistema de Processamento
e Armazenamento de Rejeitos Líquidos Radioativos.
Fonte: NATRONTEC (1999a)

Figura 37 - Esquema dos processos
de tratamento dos rejeitos líquidos radioativos
Fonte: Eletronuclear

Figura 38 - Fluxograma do Sistema
de Rejeitos Líquidos Radioativos (Fonte: PSAR - Preliminar
Safety Analysis Report - Angra 3 - Eletronuclear, 2002).
No processo de evaporação, o rejeito líquido
é bombeado para a coluna de evaporação,
aquecido a uma temperatura de 100ºC, evaporado e condensado
(Figura 39). O destilado obtido no condensador é
conduzido para um divisor de refluxo, que retorna cerca
de 20% da quantidade total para a coluna. O restante é
desgaseificado, resfriado e conduzido para um tanque de
monitoração. A mistura de gases e vapor de
água proveniente do desgaseificador é resfriada,
o vapor de água condensado é devolvido ao
condensador e os gases são direcionados para o sistema
de ventilação. O resíduo do evaporador
é concentrado e levado para os tanques de concentrado
em bateladas. O sistema é dotado de dois evaporadores,
cada um com capacidade para processar 1,1 kg/s de líquidos.

Figura 39 - Esquema do processo de evaporação.
Fonte: NATRONTEC (1999a).
No
processamento dos rejeitos líquidos radioativos são
usados ácido sulfúrico (H2SO4 - 20 %), para
o ajuste do valor do pH nos tanques de armazenamento, de
monitoração e de concentrados e nas colunas
do evaporador; soda cáustica (NaOH - 40 %), para
o ajuste do pH nos tanques de armazenamento, de monitoramento
e de concentrados e para a descontaminação
e a limpeza das colunas do evaporador; agentes anti-espumantes,
para evitar a formação de espuma nos tanques
de armazenamento e nas colunas do evaporador; agentes complexantes
(EDTA - Ácido Etilenodiaminotetraacético),
para que os sais presentes no fundo das colunas do evaporador
permaneçam em solução por um período
mais longo, de modo que se obtenha uma concentração
mais alta de sais, sem riscos de incrustação
no feixe de tubos do evaporador; solução de
H2O2/CuSO4 para a destruição de hidrazina
nos tanques de armazenamento; e precipitantes, para a precipitação
química nos tanques de armazenamento, antes do tratamento
nas unidades do evaporador.
Após
o processamento, o líquido resultante é transferido
para os tanques de monitoração, sendo colhidas
amostras para análises, feitas em laboratório.
Os resultados das análises devem estar de acordo
com a Tabela 57 para que o efluente contido nos tanques,
resultante do tratamento, possa ser liberado para o meio
ambiente.
Tabela 57 - Parâmetros
para liberação dos rejeitos líquidos
no meio ambiente.
Césio
equivalente |
<
1,9 × 107 Bq/m3 |
Valor
do pH |
5
- 9 |
Hidrazina |
<
1 mg /kg |
Ferro
total |
<
15 mg/kg |
Boro |
5
mg/kg |
Fonte:
Eletronuclear
A
descarga é interrompida automaticamente, se a concentração
de radioatividade for superior a 1,9 × 107 Bq/m3.
Em 1,1 × 107 Bq/m3, o alarme soa no painel local e
na sala de operação da usina.
A
Tabela 58 e a Tabela 59 fornecem as características
dos principais componentes do sistema de processamento de
rejeitos líquidos radioativos.
Tabela 58 - Características
dos tanques.
Tanques |
Quantidades |
Volumes
aproximados |
Armazenamento |
5 |
70
m3 |
Monitoração |
3 |
70
m3 |
Concentrado |
3 |
35
m3 |
Medida
de radioatividade |
1 |
0,025
m3 |
Produtos
químicos |
6 |
4
× 500 1 e 2 × 100 1 |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
Tabela 59 - Características
dos demais componentes do sistema.
Componentes |
Quantidades |
Características |
Coluna
do evaporador |
2 |
1,1
kg/s de capacidade líquida de evaporação |
Evaporador |
2 |
90
m2 de superfície de transferência
de calor |
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
2.12.6.3 Síntese
dos Lançamentos - topo
As
fontes de efluentes líquidos radioativos têm
origem nas usinas da CNAAA e provêm de drenagens de
líquido refrigerante do circuito primário,
do processamento de rejeitos radioativos sólidos,
líquidos e gasosos, de operações de
limpeza e/ou de descontaminação de pisos,
paredes e equipamentos a serem reparados e/ou recuperados,
e de líquidos provenientes de descargas de válvulas
de alívio, de lavanderias, das operações
de transferência de resinas gastas que contenham impurezas
radioativas, ao lado de outras pequenas fontes eventuais
e de importância relativa não-significativa.
Todos esses rejeitos líquidos convergem para os respectivos
sistemas de processamento de rejeitos líquidos radioativos
de cada usina, armazenados em tanques e submetidos subseqüentemente
aos processos usuais de tratamento: filtração,
adsorção em leitos de resinas iônicas,
evaporação acondicionamento dos rejeitos sólidos
por imobilização em cimento (Angra 1) ou em
betume (Angra 2 e 3).
O
conteúdo dos tanques de monitoração
e de armazenamento é controlado mediante coleta de
amostras e realização de análises em
laboratório para determinação de níveis
de radioatividade, de composição radioisotópica,
e química. Liberações de rejeitos líquidos
para o meio ambiente somente ocorrem após comprovação
de que seus níveis de radioatividade e parâmetros
químicos estejam realmente abaixo dos limites legais
estabelecidos pela CNEN e órgãos ambientais.
Os concentrados de rejeitos líquidos derivados dos
tratamentos, assim como os rejeitos sólidos secundários
que possam ter resultado desses mesmos tratamentos, são
transferidos para os respectivos sistemas de processamento
de rejeitos sólidos de cada usina, onde são
convertidos em formas sólidas e acondicionados em
tambores. A maior parte dos líquidos radioativos
é reutilizada e o restante é lançado,
com uma vazão de 6 l/s, no canal de descarga da água
de resfriamento, que deságua no mar, no Saco Piraquara
de Fora. Os resíduos do tratamento são transferidos
para o sistema de processamento de rejeitos sólidos.
A
Tabela 60 adiante sumariza as previsões de projeto
das liberações radioativas nos efluentes líquidos
das três Unidades da CNAAA.
Tabela 60 - Sumário
das liberações radioativas de efluentes líquidos
das Unidades 1, 2 e 3 da CNAAA (previsões de projeto).
Radioisótopos |
Angra
1 |
Angra
2 |
Angra
3 |
Efluentes
líquidos para o mar (Bq/ano) |
Co-58 |
1,03
E + 08 |
7,03
E +10 |
7,03
E +10 |
Co-60 |
2,83
E + 07 |
7,40
E + 10 |
7,40
E + 10 |
Sr-90 |
|
3,70
E + 09 |
3,70
E + 09 |
Mo-99 |
7,66
E + 07 |
|
|
I-131 |
8,10
E + 07 |
3,70
E + 10 |
3,70
E + 10 |
I-133 |
1,09
E + 08 |
|
|
Cs-134 |
1,46
E + 08 |
7,40
E + 10 |
7,40
E + 10 |
Cs-137 |
5,07
E + 08 |
1,11
E + 11 |
1,11
E + 11 |
Ce-144 |
1,18
E + 07 |
|
|
Total |
1,06
E + 09 |
3,70
E + 11 |
3,70
E + 11 |
Trício
para o mar (Bq/ano) |
H-3 |
4,03
E + 12 |
5,92
E + 13 |
5,91
E + 13 |
Fontes:
PSAR
Angra 3 (Eletronuclear, 2002), FSAR Angra 1 (Eletronuclear,
2004) e FSAR Angra 2 (Eletronuclear, 2001).
O
FSAR de Angra 1 (Eletronuclear, 2004) prevê, para
as liberações dessa usina, radioatividades
de 1,06 E + 09 Bq/ano para miscelânea e de 4,03 E
+ 12 Bq/ano para trício (Tabela 60). As liberações
ocorridas no período 1982-2002 constam da Tabela
61.
Tabela 61 - Angra
1 - Radioatividade dos efluentes líquidos liberados
no período - 19822002.
Clique
aqui para ver a tabela 61.
Fonte:
Arquivo efluente.xls, de Furnas (1982-1987 e 1996), e relatórios
semestrais de efluentes e rejeitos (1988-1995 e 19972002)
da Eletronuclear
LLRG
- Licença de Liberação de Rejeitos
Gasosos
O
FSAR de Angra 2 (Eletronuclear, 2001) prevê, para
as liberações dessa usina, radioatividades
de 3,7 × 10 E + 11 Bq/ano, para todos os radioisótopos,
exceto trício e de 5,92 × 10 E + 13 Bq/ano
para trício (Tabela 60). As liberações
ocorridas no período 2000-2002 constam da Tabela
62.
Tabela 62 - Angra
2 - Radioatividade dos efluentes líquidos liberados
no período 2000-2002.
Ano |
Liberações
(Bq) |
Volumes
(m3) |
Nº
de liberações |
Gases
nobres |
Trício |
Partículas
e
iodo |
Radioatividade
total |
Liberado |
de
diluição |
LLRG |
Anormais |
2000 |
<
MDA |
1,40
E + 11 |
<
MDA |
1,40
E + 11 |
7,28
E + 03 |
1,26
E + 09 |
121 |
0 |
2001 |
<
MDA |
2,49
E + 12 |
9,82
E + 07 |
2,49
E + 12 |
7,12
E + 03 |
2,30
E + 09 |
125 |
0 |
2002
(até jul) |
<
MDA |
8,99
E + 09 |
1,92
E + 08 |
9,18
E + 09 |
5,31
E + 03 |
1,03
E + 09 |
94 |
0 |
(*)
MDA = Atividade mínima detectável.
Fonte: Relatórios
semestrais de efluentes e rejeitos da Eletronuclear
2.12.7 Limites e Estimativas
de Emissões (Para Rejeitos Líquidos e Gasosos
Radioativos) - topo
Os
valores de liberação de substâncias
radioativas propostos para o licenciamento de Angra 3 no
Relatório Preliminar de Análise de Segurança
(Preliminary Safety Analysis Report, PSAR - Eletronuclear,
2002), constam da Tabela 63. A composição
dos efluentes líquidos e gasosos prevista para Angra
3 no PSAR consta da Tabela 64.
Tabela 63 - Valores
de liberação propostos para Angra 3.
Meios
receptores |
Substâncias |
Liberações
(Bq/ano) |
Atmosfera |
Gases
nobres |
9,25
× 1014 |
Aerossóis |
1,85
× 1010 |
Iodo
131 |
9,25
× 109 |
Aquático |
Trício |
5,92
× 1013 |
Outros
(mistura sem rádio e trício) |
3,70
× 1011 e 5,50 × 1010
Bq/mês |
Fontes:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002) ; NCN/FUR-5062.6.
Tabela 64 -Composição
dos efluentes líquidos e gasosos (Angra 3).
Efluentes
líquidos |
Gases
nobres nos efluentes gasosos |
Aerossóis
nos efluentes gasosos |
Radionuclídeos |
Composições
(%) |
Radionuclídeos |
Composições
(%) |
Radionuclídeos |
Composições
(%) |
Co-58 |
19 |
Kr-85
m |
2 |
Co-58 |
25 |
Co-60 |
20 |
Kr-85 |
2 |
Co-60 |
35 |
Sr-90 |
1 |
Kr-87 |
1 |
Cs-134 |
10 |
I-131 |
10 |
Kr-88 |
2,5 |
Cs-137 |
25 |
Cs-134 |
20 |
Xe-131
m |
2 |
Ce-144 |
4 |
Cs-137 |
30 |
Xe-133 |
80 |
Sr-90 |
1 |
|
|
Xe-135 |
10 |
Pu-239/240 |
0,01 |
|
|
Xe-138 |
0,5 |
|
|
Fonte:
PSAR - Preliminar Safety Analysis Report - Angra
3 (Eletronuclear, 2002).
2.13
SISTEMAS DE SEGURANÇA DE ANGRA 3
- topo
No
projeto das usinas nucleares está incorporado um
conjunto de sistemas de segurança redundantes, independentes
e fisicamente separados, que abrange, entre outros, os sistemas
de resfriamento de emergência do núcleo e de
água de alimentação de emergência,
projetados para fornecer água aos circuitos primário
e secundário - especificamente ao núcleo do
reator e aos geradores de vapor, respectivamente - com vistas
à remover o calor residual do núcleo do reator,
e o sistema de isolamento da contenção, que
visa o confinamento das substâncias radioativas no
interior do envoltório da contenção,
na ocorrência de condições anormais
e acidentais. No circuito primário, água borada
é injetada por bombas de alta pressão do subsistema
de injeção de segurança e por bombas
de baixa pressão do subsistema de remoção
de calor residual. Além destes subsistemas, existe
também o subsistema de acumuladores de água
pressurizada, que atua de modo passivo, i.e., automático,
injetando água no circuito primário no caso
de ocorrência de vazamento de refrigerante do circuito
primário por ruptura de uma das linhas de refrigeração
do reator. O sistema de água de alimentação
de emergência alimenta o circuito secundário
dos geradores de vapor - que se constituem na fonte fria
do sistema de refrigeração do reator, para
a remoção do calor de decaimento dos produtos
de fissão no núcleo do reator.
Os
sistemas de segurança têm as seguintes possibilidades
- fontes - de alimentação; suprimento
proveniente do gerador principal através dos transformadores
auxiliares de 25 kV para 13,8 kV, duas possibilidades de
suprimento das redes externas, uma de 500 kV via transformador
principal de 525 kV para 25 kV para 13,8 kV e outra de 138
kV via transformador reserva de 138 kV para 13,8 kV, e dois
sistemas de emergência com geração autárquica
de energia dentro da área da central, compostas de
grupos Diesel geradores. Todas as possibilidades acima são
projetadas para suprir a potência necessária
para levar a central a uma condição segura
e mantê-la nesta condição em caso de
falhas e acidentes postulados. Os sistemas autárquicos
de geração de emergência possuem quatro
grupos Diesel-gerador de emergência de partida rápida
de 4.160 V com potência nominal de 5.400 kW e quatro
de 480 V com potência nominal de 900 kW, também
redundantes, independentes e fisicamente separados entre
si. Os grupos Diesel-gerador de emergência são
acionados automaticamente, no caso de perda de energia elétrica
externa - blecaute. Do mesmo modo, os sistemas de instrumentação
e controle, e de iluminação de emergência
e escape da usina, que requerem suprimento ininterrupto,
possuem alimentação elétrica de emergência
redundante, independente e fisicamente separada entre si,
através de bancos de baterias.
A
segurança nuclear, no entanto, incorpora conceitos,
sistemas e procedimentos adicionais, apresentados a seguir,
conforme estabelecido anteriormente para Angra 2, em operação,
e uma usina similar à Angra 3.
2.13.1
Segurança das Usinas Nucleares
- topo
A
fissão nuclear produz grande quantidade de radiação
ionizante, liberada pelos produtos de fissão e de
ativação - estes constituídos pelo
material do reator, elementos do refrigerante e produtos
de corrosão/erosão tornados radioativos pela
interação com o fluxo neutrônico do
núcleo - no seu processo de decaimento radioativo.
O
objetivo precípuo da segurança nuclear é
a proteção do pessoal da usina, do indivíduo
do público e do meio ambiente contra os efeitos deletérios
que possam provir da usina, por meio do estabelecimento
e da manutenção de mecanismos efetivos de
proteção contra os riscos da radioatividade.
Um
dos conceitos básicos do projeto de segurança
das usinas nucleares é o da aplicação
de rígidos preceitos de garantia e controle da qualidade,
já consagrados universalmente, no desenvolvimento
do projeto, na seleção dos materiais, na fabricação
dos equipamentos, na construção e montagem,
no comissionamento, na operação e manutenção,
e no descomissionamento da usina. Assegura-se assim, com
alto grau de confiabilidade, que os componentes e serviços
executados atendam a todos os requisitos especificados,
em conformidade com as Normas CNEN-NN-1.16 -"Garantia
da Qualidade para Segurança de Usinas Nucleoelétricas
e outras Instalações" e CNEN-NE-1.26
- "Segurança na Operação
de Usinas Nucleoelétricas".
Não
menos importante é a contribuição para
a segurança, advinda do desenvolvimento de uma cultura
de segurança entre o responsável pelo empreendimento,
seus trabalhadores, fornecedores, consultores e outros setores
envolvidos tanto no projeto como na fabricação,
construção e operação da usina
nuclear.
A
integridade e eficácia das barreiras de proteção
radiológica, projetadas para prover confinamento
adequado dos produtos radioativos no interior da usina,
são asseguradas não só durante a operação
normal e sob condições anormais, mas também
na hipótese de acidentes postulados, de modo a assegurar
a proteção contra a exposição
à radiação. Se necessário, deve
sempre ser possível desligar a usina com segurança,
manter o reator em uma condição subcrítica
segura, de modo a extinguir a reação em cadeia
do processo de fissões, e remover o calor residual
do seu núcleo proveniente do decaimento radioativo
dos produtos de fissão.
Condições
de acidente são evitadas mediante a observância
rigorosa dos requisitos de projeto, fabricação,
operação e manutenção especificados
para aumentar a segurança nuclear, tais como:
•
margens de segurança adequadas no projeto de sistemas
e componentes da usina;
•
seleção cuidadosa dos materiais, juntamente
com ensaios abrangentes dos mesmos;
•
garantia da qualidade abrangendo as etapas de fabricação,
construção, montagem, comissionamento, operação,
manutenção e descomissionamento da usina;
•
controle repetido e independente do nível de qualidade
alcançado;
•
supervisão da qualidade ao longo da vida útil
da usina, com inspeções periódicas
de rotina;
•
facilidade de manutenção de sistemas e componentes
da usina;
•
monitoração confiável das condições
operacionais;
•
registro, avaliação e utilização
das experiências adquiridas durante a operação,
com vistas a aprimorar a segurança operacional;
•
treinamento sistemático e rigoroso do pessoal de
operação; e
•
desenvolvimento de cultura de segurança entre o responsável
pelo empreendimento e todos os setores envolvidos com a
fabricação de componentes, projeto, construção
e operação da usina.
A
necessidade de proteger a vida humana e o meio ambiente
dos efeitos adversos da radioatividade requer a utilização
nas usinas nucleares de sofisticados sistemas de proteção
e segurança - dispositivos ativos - e de sucessivas
barreiras radiológicas - dispositivos passivos. A
Figura 40 (próxima página) ilustra os princípios
e ações envolvidos na segurança de
uma usina nuclear tipo PWR.
A
experiência corrente da engenharia demonstra que,
apesar das providências acima descritas, podem ocorrer
falhas em componentes e sistemas capazes de levar a condições
operacionais anormais durante a vida útil da usina
nuclear. A fim de controlar tais ocorrências, os sistemas
são projetados para serem tão inerentemente
seguros e com tantas precauções no que se
refere ao controle e à monitoração
dos processos, que são evitados acidentes que possam
resultar dessas condições operacionais anormais.
Por essa razão, a segurança inerente é
um critério central no projeto do núcleo do
reator.
A
segurança inerente do núcleo do reator PWR
baseia-se na sua característica de autoregulação,
devido aos coeficientes de temperatura negativos e aos sistemas
independentes de limitação de parâmetros
operacionais críticos, a qual impede a fusão
do núcleo mesmo na hipótese de perda de função
dos sistemas de controle. Na hipótese improvável
de perda de controle do reator em operação
normal, esses sistemas independentes de limitação,
com quatro canais redundantes, entram em ação
para impedir condições operacionais inadmissíveis
que, de outro modo, causariam o início de ações
de desligamento rápido do reator.

Figura
40 - Princípios e Ações envolvidos
na segurança de uma usina tipo PWR.
Fonte: PSAR - Preliminar Safety Analysis
Report - Angra 3 (Eletronuclear, 2002).
Esses
sistemas também agem como "limitações
de condição", para assegurar que as
variáveis de processo sejam aquelas postuladas no
PSAR (Eletronuclear, 2002). São também em
quatro canais as "limitações protetoras",
que iniciam ações para atenuar perturbações
que não sejam tão sérias a ponto de
necessitar que o sistema de proteção do reator
entre em ação.
A
indicação e registro de falhas diretamente
na sala de controle da usina possibilitam que as funções
de controle de processo sejam acompanhadas e/ou atuadas
pelo pessoal de operação. A fim de minimizar
o recurso às ações manuais, existem
sistemas de limitação além dos sistemas
de controle, que iniciam contramedidas corretivas em situações
anormais antes que sejam alcançados os valores-limites
do sistema de proteção do reator. Esses sistemas
incluem, por exemplo, a limitação da potência
do reator e da pressão do refrigerante.
Apesar
de todas as medidas e das precauções tomadas
para se evitar acidentes, postula-se, no dimensionamento
dos sistemas, a ocorrência de eventos anormais improváveis
durante a vida útil da usina. Os acidentes postulados
que servem como base para o dimensionamento do projeto,
de forma que a usina seja capaz de suportá-los e
controlá-los, são os seguintes:
•
acidentes originados no interior da usina, tais como a ruptura
de uma tubulação principal de refrigerante,
de uma tubulação de vapor principal ou de
água de alimentação, ou a falha do
sistema de controle do reator; e
•
acidentes devidos a impactos externos, tais como terremotos
e ondas de pressão de explosão.
Os
dispositivos de segurança disponíveis para
contornar esses acidentes são basicamente de dois
tipos. Em primeiro lugar, existem os sistemas passivos;
esses sistemas não precisam de sinal de atuação,
nem de suprimento de energia elétrica para executar
a sua função protetora, agindo pela sua mera
presença. As numerosas barreiras protetoras de concreto
e aço são, por exemplo, dispositivos de segurança
passivos. Em segundo lugar, estão os dispositivos
de segurança ativos para entrar em operação,
quando necessário, sob o controle do sistema de proteção
do reator.
2.13.2
Dispositivos de Segurança Passivos
- topo
A
maior parte - aproximadamente 95% - das substâncias
radioativas presentes em uma usina nuclear, deriva da fissão
nuclear do combustível no núcleo durante o
funcionamento do reator. Esses produtos de fissão
são confinados em relação ao meio ambiente
mediante uma série de barreiras sucessivas (Figura
41) definidas abaixo, que utilizam o conceito de defesa
em profundidade e cuja integridade é garantida através
de um conjunto de medidas e sistemas automáticos
próprios para esse fim:
•
a barreira mais interna dos produtos de fissão é
o combustível nuclear, i.e., o próprio dióxido
de urânio (UO2). Na sua maior parte, os produtos que
se originam da fissão dos núcleos de urânio
ocupam posições vazias na estrutura cristalina
da matriz cerâmica do UO2, onde são retidos.
Apenas uma pequena fração dos fragmentos de
fissão voláteis e gasosos é capaz de
escapar da estrutura do combustível;
•
para impedir que esta parcela que escapa da estrutura do
combustível atinja o refrigerante, o dióxido
de urânio (em forma de pastilhas) é colocado
no interior de tubos de revestimento do combustível,
fabricados com uma liga especial de zircônio e estanho,
denominada zircaloy 4, e selados com solda estanque a gás;
•
apesar do extremo cuidado com que esses tubos são
fabricados e dos exames e testes não-destrutivos
rigorosos a que são submetidos, não pode ser
totalmente descartada a possibilidade de difusões
através de microfissuras em algumas varetas de combustível
individuais, durante a operação da usina.
Por essa razão, os sistemas de purificação
e desgaseificação do refrigerante são
dimensionados para possibilitar que o reator continue operando
com segurança mesmo com algumas poucas varetas de
combustível defeituosas. Nesses casos, o sistema
de refrigeração do reator se apresenta como
uma barreira estanque, evitando a liberação
de produtos radioativos para dentro da esfera de contenção;
e
•
a fim de impedir a liberação não-controlada
de produtos radioativos para o meio ambiente na hipótese
de vazamentos postulados no sistema de refrigeração
do reator, este é envolvido por uma esfera de contenção
de aço, estanque. Como esta é a barreira final,
deve permanecer plenamente íntegra, caso todas as
outras barreiras falhem. Ou seja, é dimensionada
para resistir ao mais sério acidente de perda de
refrigerante, no qual é assumido que todo o conteúdo
do sistema de refrigeração do reator e do
lado do circuito secundário de um gerador de vapor
se vaporize completamente. A esfera de contenção,
por sua vez, está encerrada dentro de um edifício
de proteção de concreto armado - denominado
Edifício do Reator -, projetado para resistir a terremotos
e ondas de pressão.

Figura 41 - Barreiras contra liberação
de produtos radioativos
Fonte: NATRONTEC (1999a).
Em
operação normal, a pressão no interior
do envoltório de contenção é
mantida inferior à pressão atmosférica
externa - visando impedir que produtos radioativos escapem
dos seus compartimentos para o meio ambiente - pela exaustão
de 5.000 m3/h de ar, que é devidamente filtrado antes
de ser liberado para o meio ambiente pela chaminé
de 150 m de altura em relação ao nível
do mar. A Figura 42 ilustra os sistemas de ventilação
do envoltório da contenção.
A
integridade das barreiras de retenção dos
produtos radioativos é monitorada mediante medição
contínua dos níveis de radioatividade nos
vários sistemas e compartimentos.
Além
das barreiras acima descritas, existem blindagens de aço
e concreto com a finalidade de atenuar a radiação
direta proveniente do núcleo do reator e de componentes
e locais contaminados.

Figura
42 - Sistemas de ventilação do envoltório
de contenção
Fonte: NATRONTEC (1999a).
2.13.3
Dispositivos de Segurança Ativos
- topo
A
eficácia das barreiras precisa ser mantida não
só durante a operação normal e sob
condições anormais de eventos operacionais
transitórios, mas também na hipótese
de acidentes mais sérios, de modo que a proteção
do pessoal da usina, do público e do meio ambiente
esteja assegurada sob todas as circunstâncias. Por
esta razão, são tomadas precauções
para controlar também aqueles acidentes cuja ocorrência
seja tão improvável que, na realidade, não
seria necessário postulá-los, tendo em vista
o espectro de providências já tomadas para
evitá-los.
Para
controlar esses acidentes, Angra 3 estará equipada
com um sistema especial de segurança, composto por
um sistema de proteção do reator e pelos dispositivos
de segurança atuados por ele, da mesma forma que
já ocorre em Angra 2. O funcionamento do sistema
de proteção do reator não depende da
identificação da causa da falha, pois elimina
as condições anômalas por ele detectadas
e evita, assim, a necessidade de uma identificação
prévia de todas as causas de falha possíveis,
na fase de projeto do sistema.
Para
assegurar a alta confiabilidade dos sistemas de segurança
ativos, são observados os seguintes princípios
de projeto:
Redundância
As
conseqüências de falhas simples aleatórias
são evitadas mediante a aplicação do
princípio da redundância.
A
redundância implica em multiplicidade de componentes
e sistemas, que são instalados em número maior
do que o necessário para cumprir suas funções.
Assim, o sistema de remoção de calor residual
do núcleo do reator, por exemplo, é do tipo
de redundância "2 entre 4", ou seja, se
funcionarem pelo menos 2 dos seus 4 trens disponíveis,
esse sistema, que propicia o resfriamento de emergência
do núcleo será ainda capaz de desempenhar
a sua função de segurança.
Nas
considerações a respeito da redundância,
supõe-se que:
•
um trem falhe por causa de uma única falha - falha
simples;
•
outro trem esteja isolado para manutenção;
e
•
os dois trens remanescentes sejam 100% capazes de atender
as condições anormais.
Diversidade
Com
a aplicação desse princípio evitam-se
falhas comuns, tais como erros de projeto ou de fabricação
em áreas específicas do sistema de proteção
do reator.
A
diversidade implica na utilização de modalidades
diferentes de grandezas físicas de medida, fabricantes
de equipamentos, etc. Assim, critérios diversos são
avaliados para a iniciação de um desligamento
rápido do reator na hipótese de condições
anormais. Por exemplo, um aumento da potência do reator
é indicado inicialmente por um aumento do fluxo neutrônico,
que provoca a elevação da temperatura do refrigerante
e, devido à expansão térmica deste,
eleva o nível de água no pressurizador do
sistema de refrigeração do reator. Só
isso já proporciona três critérios diversos
para o desligamento rápido do reator.
Separação
Física
Para
proteção contra falhas que possam afetar os
trens redundantes e adjacentes de um sistema, os mesmos
são separados fisicamente entre si. Proporciona-se
uma proteção estrutural adequada onde componentes
não-repetidos devam ser protegidos, ou onde não
seja possível ou apropriada a instalação
fisicamente separada dos trens redundantes.
Princípio
de Falha no Sentido Seguro
Em
certos casos, a aplicação do princípio
de fail-safe proporciona proteção adicional,
visto resultar em uma ação no sentido do aumento
da segurança. Sempre que possível, os sistemas
de segurança são projetados de tal maneira
que falhas nos próprios sistemas ou no suprimento
de energia elétrica iniciem ações direcionadas
para o lado seguro. Por exemplo, as barras de controle do
reator são mantidas fora do reator por eletroímãs.
Se faltar suprimento de energia elétrica, as bobinas
de acionamento serão desenergizadas, o que ocasiona
a queda e inserção das barras de controle
no núcleo sob ação da gravidade, provocando
o desligamento rápido do reator.
Automação
Ações
para o controle de ocorrências anormais são
iniciadas automaticamente, independentemente da atenção
e da capacidade de tomada de decisões por parte da
equipe de operação da usina. Com vistas à
diminuição da probabilidade de decisões
incorretas tomadas sob pressão nos primeiros minutos
após o início da ocorrência, todas as
funções essenciais de segurança são
operadas automaticamente desde o começo do incidente
até no mínimo 30 minutos após. A experiência
internacional tem mostrado que o automatismo em usinas nucleares
tem contribuído de forma marcante para evitar acidentes
passíveis de ocorrer por falhas humanas.
O
sistema de proteção do reator monitora continuamente
as principais variáveis de processo da usina e inicia
contramedidas de segurança, sempre que forem iminentes
as condições de risco. Nesses casos, são
atuados, conforme necessário, os sistemas de segurança
projetados com base nos princípios acima descritos.
Alguns dispositivos de segurança ativos estão
descritos a seguir:
•
o sistema de desligamento rápido do reator - utiliza
as barras de controle, sustentadas magneticamente em posição
quase totalmente fora do núcleo durante a operação
de potência do reator. Além disso, existe um
segundo sistema de desligamento distinto, capaz de desligar
o reator mediante a injeção de grande quantidade
de solução de ácido bórico no
refrigerante;
•
o sistema de isolamento do envoltório de contenção
- veda o mesmo contra a atmosfera externa no decorrer de
acidentes em que se espera a presença de produtos
radioativos no interior da esfera de contenção.
Todas as tubulações de penetração
no envoltório de contenção - salvo
aquelas utilizadas por sistemas que controlem e mitiguem
o acidente em causa- são bloqueadas por, pelo menos,
duas válvulas de isolamento montadas em série,
uma interna e outra externa à contenção;
•
o sistema de resfriamento de emergência do núcleo
- apresentado na Figura 43, assume a tarefa de resfriar
o núcleo do reator nas paradas da usina e também
na hipótese de acidentes com perda de refrigerante.
Em caso de acidente com pequenas perdas de refrigerante
- denominado, em inglês, de small LOCA - atuam as
bombas do subsistema de injeção de segurança,
de alta pressão, para compensar essas pequenas perdas,
de forma a manter a pressão do sistema de refrigeração
do reator. Durante a fase final do processo de resfriamento
e despressurização do sistema de refrigeração
do reator, nas paradas da usina, e em caso de acidente com
grandes perdas de refrigerante e despressurização
do sistema de refrigeração do reator - denominado,
em inglês, de large LOCA - atuam as bombas do subsistema
de remoção de calor residual, de baixa pressão;
•
sistema de água de alimentação de emergência
- se os circuitos de água e/ou de vapor do circuito
secundário forem afetados por um acidente com falha
do sistema de água de alimentação normal
dos geradores de vapor, esse sistema de emergência
garantirá o suprimento continuado de água
para os geradores de vapor, assegurando, dessa forma, a
manutenção da fonte fria do sistema de refrigeração
do reator; e
•
o sistema de suprimento de energia elétrica de emergência
- grupos Diesel-geradores de partida rápida garantem
a pronta alimentação dos sistemas da usina
relacionados com a segurança em caso de blecaute,
ou seja, de falha de alimentação elétrica
da usina pelo gerador e pela subestação/linhas
de transmissão de 138 kV.

Figura 43 - Sistema de resfriamento
de emergência do núcleo do reator.
Fonte: NATRONTEC (1999a)
2.13.4
Fatores Humanos
- topo
As
interações humanas provocam mais ou menos
erros, conforme o tipo de sistema operado, que podem conduzir
a variados tipos de acidentes. Estatísticas diversas
indicam que na aviação, de 60 a 87% dos casos
de quedas de aparelhos, essas são causadas por erro
humano; na indústria química 80 a 90% dos
incidentes envolvem o elemento humano e na indústria
nuclear a contribuição do erro humano para
a falha de sistemas durante a seqüência do acidente
é de 50 a 85%, de acordo com o documento WASH-1400
(NUREG-75/014, OCT/75).
Além
dos princípios de segurança aplicados a usinas
nucleares e descritos anteriormente, as mesmas são
projetadas e construídas levando-se em conta a otimização
dos aspectos da interface homem-máquina, particularmente
no projeto de salas e painéis de controle, de maneira
a facilitar a atuação dos operadores e assim
diminuir a ocorrência de incidentes ou acidentes provocados
por erros humanos.
Na
usina de Angra 3, assim como já ocorre em Angra 1
e 2, a operação será conduzida por
uma equipe de operadores em turnos de 8 horas: cada turno,
com um supervisor e um encarregado, licenciados como Operadores
Sênior de Reator (OSR); operadores de painel licenciados
como Operador de Reator (OR) e operadores de campo. Adicionalmente,
fazem parte da equipe da usina Supervisores de Proteção
Radiológica licenciados; técnicos de proteção
radiológica; químicos e radioquímicos;
encarregados da manutenção mecânica,
elétrica, e de instrumentação e controle;
mecânicos, eletricistas, instrumentistas e engenheiros
de sistemas, além da equipe de engenharia de apoio
e administrativa.
Como
condição fundamental para garantir a segurança
operacional e um elevado fator de disponibilidade da usina,
todos esses técnicos são submetidos a prolongados
cursos gerais e específicos, administrados e conduzidos
por especialistas nas instalações do Centro
de Treinamento Avançado com Simulador (CTAS), situado
na vila residencial de Mambucaba, com duração
em média de dois a três anos.
Adicionalmente,
o pessoal a ser licenciado como Operador Sênior de
Reator e operador de reator, incluindo equipe de operação,
chefias da usina e alguns engenheiros das áreas de
suporte técnico, deve passar, conforme norma da CNEN,
por treinamento em um simulador integral específico
desta usina (full-scope simulator), instalado no CTAS desde
maio de 1985. Esse simulador, que é uma réplica
da sala de controle, contém praticamente toda a instrumentação
da usina e pode reproduzir o mesmo comportamento dinâmico
observado na operação normal, anormal e emergencial
da mesma. Esse treinamento é altamente especializado
e ministrado no idioma nacional por instrutores brasileiros.
O
treinamento do pessoal técnico licenciável
- Operadores Sênior de Reator, Operadores de Reator
e Supervisores de Proteção Radiológica
- inclui também o denominado treinamento em-serviço
(on-the-job-training) em usinas semelhantes de outros países,
caso dos gerentes e operadores, e em Angra 1, caso dos supervisores
de proteção radiológica. Além
disso, toda a equipe técnica irá participar
dos testes pré-operacionais e operacionais de Angra
3, na sua fase de comissionamento.
O
treinamento em simulador está consagrado como a ferramenta
mais eficaz e econômica para o desenvolvimento e manutenção
da competência da equipe de operação
da usina. Isso porque fatores econômicos e de segurança
tornam impraticável a realização de
manobras freqüentes em uma usina nuclear, tais como
partida, parada e variações de carga, como
também o treinamento em condições de
mau funcionamento, reproduzindo condições
anormais e de acidente. O instrutor do simulador conta com
a facilidade de poder simular, além da operação
de partida e parada normal, toda uma série de condições
de funcionamentos anormais e de emergência da usina.
O treinamento é ministrado para grupos de quatro
pessoas em regime de turno, de forma a reproduzir no simulador
a atuação da equipe da sala de controle da
usina - um supervisor e um encarregado de turno e dois operadores
de painel - e visa a sua familiarização com
o comportamento da usina nas diversas situações
operacionais. As condições que simulam os
mais variados tipos de eventos são introduzidas durante
o treinamento, sem que os operadores tomem conhecimento
prévio das mesmas.
Além
do treinamento do pessoal de operação de Angra
2, o simulador em questão foi muito usado para treinamento
de pessoal de operação e gerência de
usinas da Alemanha, Suíça, Espanha e Argentina,
sob a orientação e controle dos próprios
instrutores da Eletronuclear, vários dos quais iniciaram
suas carreiras de instrutores durante as fases de projeto
e fabricação da usina. Esses instrutores brasileiros
que ministram cursos de treinamento para pessoal licenciável
e de suporte técnico de outros países, desenvolveram
alto nível de competência e alto grau de especialização.
Essa considerável experiência adquirida será
extremamente benéfica para o treinamento dos gerentes-chave,
operadores e especialistas de Angra 3.
A
operação das usinas nucleares obedece a rígidos
procedimentos escritos, revisados e aprovados periodicamente,
no sentido de minimizar as falhas humanas. São procedimentos
administrativos, de operação normal, de operação
anormal, de emergência, de testes, de manutenção,
de proteção radiológica, de controle
e garantia da qualidade, e de proteção física,
entre outros.
Assim,
é importante salientar que, sendo o simulador do
CTAS um simulador específico para usinas similares
a Angra 3, todos os procedimentos operacionais poderão
ser testados e validados, antes mesmo de sua utilização
na usina, o que contribuirá para reduzir possíveis
erros humanos operacionais por eventuais deficiências
dos próprios procedimentos.
O
simulador é também um excelente instrumento
para a análise e a avaliação das árvores
de eventos utilizadas para estudos de avaliação
probabilística de segurança. A presença
do simulador, próximo ao local onde se encontra a
usina, facilita enormemente a análise de eventos
operacionais, contribuindo para a experiência operacional
de Angra 3 e para a minimização da ocorrência
de acidentes provocados por erros humanos.
Dentre
as equipes técnicas a serem submetidas a cursos de
treinamento, somente os operadores sênior de reator,
os operadores de reator e os supervisores de proteção
radiológica serão licenciados pela CNEN, sendo
o treinamento em simulador aplicado apenas para operadores.
Estes deverão satisfazer os requisitos das normas
CNEN-NE 1.01 "Licenciamento de Operadores de Reatores
Nucleares", CNEN-NE 1.06 - "Requisitos de Saúde
para Operadores de Reatores Nucleares" e CNEN-NE 3.03
- "Certificação da Qualificação
de Supervisores de Radioproteção". Os
exames escritos e prático-orais, conduzidos pela
CNEN, serão realizados nas instalações
do CTAS e na própria usina. Uma vez aprovado, o pessoal
licenciável receberá a licença de Operador
de Reator e licença de Operador Sênior de Reator,
com validade de dois anos.
Os
Operadores Sênior de Reator e os Operadores de Reator
serão retreinados obrigatoriamente a cada período
de dois anos, porém o retreinamento no simulador
será anual, ocasião em que serão simuladas
as condições de operação anormais,
incidentais e acidentais, de modo a mantê-los ativos
no conhecimento e na resposta a essas circunstâncias
e capazes de gerenciar bem as situações de
emergência da usina.
O
pessoal técnico licenciável (OPERADORES SÊNIOR
DE REATOR, OPERADORES DE REATOR e SUPERVISORES DE PROTEÇÃO
RADIOLÓGICA) será submetido a treinamento
que inclui o denominado "treinamento em serviço"
(on-the-job training) em usinas semelhantes. No caso de
Angra 3, o "treinamento em serviço",
na fase pré-operacional, ocorrerá em Angra
2. Além disso, toda a equipe técnica participará
dos testes pré-operacionais e operacionais, durante
o comissionamento de Angra 3.
2.13.5 Cultura de Segurança
- topo
2.13.5.1
Aspectos Gerais
- topo
A
relevância da segurança em instalações
nucleares é considerada desde o início do
uso pacífico da energia nuclear. Mas foi no fim dos
anos 70, devido à ocorrência do acidente de
Three Miles Island (TMI 2), que essa relevância aumentou.
O
termo "Cultura de Segurança" foi primeiramente
introduzido pelo Grupo Internacional sobre Segurança
- INSAG/AIEA, no relatório INSAGs Summary Report
on the Post-Review Meeting on the Chernobyl Accident, sobre
o acidente de Chernobyl 4, publicado em 1986 pela Agência
Internacional de Energia Atômica - AIEA como Safety
Series No. 75 INSAG 1 e posteriormente complementado no
Safety Series No. 75 - INSAG 3, publicado em 1988.
O
Grupo Internacional sobre Segurança - INSAG/AIEA
define o termo "Cultura de Segurança"
como o conjunto de características e atitudes vigentes
nas organizações que estabelece, como prioridade
absoluta, que os assuntos relacionados com a segurança
de instalações nucleares recebam atenção
compatível com a importância dos mesmos.
Considera
esse mesmo Grupo ainda, que qualquer problema em uma instalação
nuclear envolve falhas humanas e que qualquer organização
com responsabilidades sobre a segurança nuclear,
deve implementar e manter uma Cultura de Segurança,
com a intenção de evitar ou diminuir a ocorrência
de erros humanos, bem como para trazer benefícios
decorrentes do aspecto positivo da ação humana
na detecção e eliminação de
problemas potenciais que possam causar impacto na segurança.
O
aspecto mais positivo do uso, como um princípio gerencial
fundamental, da "Cultura de Segurança",
é que as organizações e os indivíduos
prestem atenção ampla à segurança.
Aspectos
relevantes da "Cultura de Segurança"
que incluem a dedicação e a responsabilidade
de todas as pessoas envolvidas, com uma mentalidade impregnada
desta cultura, resultam em:
•
atitude de permanente questionamento;
•
prevenção da complacência;
•
comprometimento com a excelência; e
•
promoção da responsabilidade pessoal e da
autoregulamentação institucional dos assuntos
de segurança.
Uma
"Cultura de Segurança" engloba atitudes,
hábitos pessoais e estilos de organizações,
que são aspectos geralmente intangíveis que
levam, no entanto, a manifestações tangíveis,
sendo a sua meta principal utilizar tais manifestações
tangíveis para o desenvolvimento de meios que permitam
chegar ao que seja fundamental.
As
boas práticas da "Cultura de Segurança"
em si, embora componentes essenciais, não são
suficientes, se aplicadas mecanicamente. Deve-se ir além
da implementação pura e simples dessas boas
práticas, de tal modo que todas as obrigações
importantes relacionadas com a segurança sejam desempenhadas
de modo satisfatório e com:
•
a devida atenção,
•
o pensamento correto,
• o perfeito entendimento,
•
o julgamento adequado; e
•
a justa percepção da responsabilidade.
A
atenção para a segurança envolve ainda
outros elementos, tais como:
•
a consciência individual da importância da segurança,
•
o conhecimento e a competência,
•
a motivação,
•
a supervisão,
•
a responsabilidade, etc...
Ainda
no contexto dos dispositivos universais da Cultura de Segurança,
é importante salientar que ela depende dos seguintes
aspectos:
•
requisitos de nível político, em relação
aos quais são estabelecidas as bases da Cultura de
Segurança;
•
requisitos de gerenciamento, para o estabelecimento das
práticas de uma efetiva Cultura de Segurança,
de acordo com a política de segurança e objetivos
da organização;
•
resposta dos indivíduos que se esforcem pela excelência
em assuntos que afetam a segurança nuclear, caracterizada
por uma atitude de questionamento, e um rigoroso e prudente
processo de reconhecimento e mais,
•
a comunicação, cujo resultado final traduz-se
numa contribuição maior para a segurança.
São
três os objetivos principais de segurança aplicáveis
a uma usina nuclear, a saber:
a)
Objetivo Geral de Segurança Nuclear: proteger as
pessoas envolvidas com a operação da usina,
a sociedade circunvizinha e o meio ambiente pela implantação
e manutenção de mecanismos de defesa contra
riscos de acidentes radiológicos.
b)
Objetivo da Proteção Radiológica: assegurar
que, em operação normal na usina nuclear,
a exposição à radiação
ou as liberações de materiais radioativos
sejam mantidas em níveis tão baixos quanto
possíveis (ALARA), abaixo dos limites pré-estabelecidos
e assegurar a minimização da exposição
à radiação nos casos de acidentes.
c)
Objetivos Técnicos da Segurança, os quais
são:
•
Prevenir, com alto grau de confiabilidade, a ocorrência
de acidentes na usina nuclear; assegurar que todos os acidentes
considerados no projeto da usina, mesmo aqueles com baixa
probabilidade de ocorrência mas com conseqüências
radiológicas, caso existam, serão minimizados;
e assegurar que os acidentes severos, com sérias
conseqüências radiológicas, terão
possibilidades extremamente baixas de ocorrência;
e
•
Prevenir acidentes deve ser a preocupação
maior de projetistas e operadores da usina nuclear, que
é conseguida pela utilização de estruturas,
componentes, sistemas e procedimentos confiáveis
na usina, operada por pessoal que tenha desenvolvido uma
forte Cultura de Segurança.
2.13.5.2
Na Eletronuclear
- topo
Desde
1997, a Eletronuclear formalizou sua Política de
Segurança, onde estabeleceu seus princípios,
compromissos, objetivos e tudo o mais relacionado com a
segurança, inclusive as diretrizes que norteiam a
base conceitual da sua "Cultura de Segurança",
ou seja, o Safety Series no. 74 - INSAG 4: Safety
Culture, da AIEA.
No
final de 1999 e início de 2000, implementou-se uma
auto-avaliação de "Cultura de Segurança",
com suporte operacional da AIEA, a partir do qual foi desenvolvido
um programa de melhorias.
Desde
então, várias ações para a melhoria
contínua de sua "Cultura de Segurança",
foram realizadas:
•
Implementou-se um programa tri-anual de Avaliações
Externas e de Auto-Avaliação para as duas
usinas em operação, Angra 1 e Angra 2;
•
Mantém-se um ciclo intenso de palestras de "Cultura
de Segurança";
•
Participa-se de missões externas, em conjunto com
a WANO e a AIEA;
•
Participa-se de encontros internacionais de "Cultura
de Segurança";
•
Organizou-se, em conjunto com a AIEA, uma Conferência
Internacional de Cultura de Segurança, em dezembro
de 2002, no Rio de Janeiro;
•
Organizou-se um workshop em novembro de 2003, para os seus
diretores e gerentes em geral; e
•
Incluiu-se seminários de "Cultura de Segurança"
na formação e retreinamento dos seus empregados
em geral.
2.13.6
Experiência em Usinas Semelhantes
- topo
Em
Angra 3 utilizar-se-á o método de Gerenciamento
do Processo de Experiência Operacional Externa (EOE),
atualmente utilizado pela Eletronuclear nas Unidades 1 e
2 da CNAAA, que busca o uso eficiente e efetivo das experiências
externas obtidas em plantas similares e, conseqüentemente,
tem por objetivo o aumento da segurança e da confiabilidade
nas operações das usinas.
O
processo de EOE consiste basicamente em analisar a aplicabilidade
das informações e, se houver relevância
operacional, avaliá-las e divulgá-las para
as diferentes áreas de apoio técnico e a todos
os funcionários envolvidos. A partir daí,
são implementadas medidas preventivas para evitar
a ocorrência de eventos similares.
São
considerados no processo de EOE os diferentes organismos
internacionais geradores de informações (por
exemplo: WANO, INPO, VGB) e os fabricantes Westinghouse
(Angra 1) e Framatome (Angra 2 e 3), bem como a troca de
experiências entre as diferentes Unidades da CNAAA.
Acrescente-se
a isso que, a Eletronuclear é associada ao EPRI (Electric
Power Research Institute), instituto que desenvolve pesquisas
em várias áreas, muitas das quais destinadas
à solução de problemas identificados
através da experiência operacional de plantas
nucleares.
2.14
SITUAÇÃO DA ENERGIA NUCLEAR NO MUNDO
- topo
Desde
a crise do petróleo de 1979, o consumo de energia
elétrica no mundo tem crescido mais rapidamente do
que o de outras fontes, tendo passado de 7.418 TWh, em 1980,
para 12.833 TWh, em 1999, o que correspondeu a um crescimento
médio anual de 2,9%. No mesmo período, o consumo
total de energia primária cresceu a uma taxa média
anual de 1,5%, o de petróleo, 0,9%, o de carvão,
0,7%, e o de gás natural, 2,5%.
Embora
tenha começado a ser empregada há menos de
quarenta anos, a energia nuclear já é a segunda
maior fonte de energia elétrica em países
integrantes da Organization for Economic Cooperation and
Development (OECD), com uma participação de
24% no total gerado (Figura 44 (b)), e a terceira fonte
mais utilizada no mundo, com uma participação
de 17% (Figura 44 (a)), juntamente com a energia de origem
hidrelétrica, cuja tecnologia vem sendo empregada
há cerca de um século e que, por razões
econômicas e ambientais, tem suas perspectivas de
aumento limitadas.

Figura
44 - (a) Mundo e (b) OCDE - Composição
da energia elétrica gerada - 2003
Fonte:
IEA - International Energy Agency
A
Tabela 65 mostra a evolução da geração
de energia elétrica no mundo no período 1951-1999,
segundo sua origem, verificando-se que o crescimento da
geração de energia nuclear foi superior ao
de todas as demais fontes. Na Figura 45 é comparado
o crescimento da geração hidrelétrica
com o da geração térmica no período
1980-2000.
Tabela
65 - Mundo - Evolução da geração
de energia elétrica - 1951-1999.
Discriminação |
Período |
Térmica |
Hidrelétrica |
Nuclear |
Outras
|
Total |
Geração
(TWh) |
Até
1950 |
9.600 |
6.400 |
- |
100 |
16.100 |
1951-1960 |
10.900 |
5.400 |
- |
- |
16.300 |
1961-1970
(A) |
26.500 |
9.400 |
400 |
- |
36,.300 |
1971-1980
(B) |
46.900 |
14.700 |
4.000 |
- |
65.600 |
1981-1990
(C) |
65.400 |
19.600 |
14.100 |
200 |
99.300 |
1991-1999
(D) |
72.400 |
22.000 |
19.900 |
1.300 |
115.600 |
Total |
231.700 |
77.500 |
38.400 |
1.600 |
349.200 |
Crescimento
(%) |
D/A |
2,7 |
2,3 |
49,8 |
- |
3,2 |
D/B |
1,5 |
1,5 |
5,0 |
- |
1,8 |
D/C |
1,1 |
1,1 |
1,4 |
6,5 |
1,2 |
Fonte:
UN Energy Statistics Year-books e US DOE/EIA-AIEA Energy
& Economic Data Base.

Figura
45 - Mundo - Evolução da geração
hidrelétrica e nuclear - 1980-2000.
Fontes: U.N. / USDOE / IAEA
A
geração de energia nuclear líquida
no mundo em 2003 foi de 2.527,15 TWh, com o emprego de 439
reatores (Tabela 66). Esse valor é da mesma ordem
de grandeza da energia elétrica gerada no mundo por
todas as fontes em 1960 (2.306 TWh) e representa quase oito
vezes a energia elétrica bruta gerada no Brasil em
2000, também por todas as fontes (323 TWh).
Tabela
66 - Mundo - Composição do parque
gerador de energia nuclear - 2003.
País |
Usinas
em operação |
Capacidade
Instalada |
Geração
(em 2003) |
Unidades |
% |
MWe |
% |
MWh |
% |
África
do Sul |
2 |
0,46 |
1.930,00 |
0,50 |
13.244.190 |
0,52 |
Alemanha |
18 |
4,10 |
21.693,00 |
5,61 |
165.087.397 |
6,53 |
Argentina |
2 |
0,46 |
1.005,00 |
0,26 |
1.989.413 |
0,08 |
Arménia |
1 |
0,23 |
408,00 |
0,11 |
1.729.814 |
0,07 |
Bélgica |
7 |
1,59 |
6.101,00 |
1,58 |
47.379.239 |
1,87 |
Brasil |
2 |
0,46 |
2.007,00 |
0,52 |
13.336.037 |
0,53 |
Bulgária |
4 |
0,91 |
2.880,00 |
0,74 |
17.277.709 |
0,68 |
Canadá |
17 |
3,87 |
15.426,00 |
3,99 |
75.668.456 |
2,99 |
China |
9 |
2,05 |
6.587,00 |
1,70 |
41.589.000 |
1,65 |
Coreia
do Sul |
19 |
4,33 |
16.768,00 |
4,33 |
129.639.156 |
5,13 |
Eslováquia |
6 |
1,37 |
2.640,00 |
0,68 |
17.885.398 |
0,71 |
Eslovênia |
1 |
0,23 |
707,00 |
0,18 |
5.207.279 |
0,21 |
Espanha |
9 |
2,05 |
7.895,00 |
2,04 |
61.894.663 |
2,45 |
EUA |
104 |
23,69 |
104.779,00 |
27,08 |
695.578.978 |
27,52 |
Finlândia |
4 |
0,91 |
2.760,00 |
0,71 |
22.731.066 |
0,90 |
França |
59 |
13,44 |
66.042,00 |
17,07 |
441.100.059 |
17,45 |
Holanda |
1 |
0,23 |
480,00 |
0,12 |
4.018.109 |
0,16 |
Hungria |
4 |
0,91 |
1.866,00 |
0,48 |
11.031.410 |
0,44 |
índia |
14 |
3,19 |
2.720,00 |
0,70 |
18.266.125 |
0,72 |
Japão |
54 |
12,30 |
45.742,00 |
11,82 |
230.078.000 |
9,10 |
Lituânia |
2 |
0,46 |
3.000,00 |
0,78 |
15.482.360 |
0,61 |
México |
2 |
0,46 |
1.350,00 |
0,35 |
10.501.508 |
0,42 |
Paquistão |
2 |
0,46 |
462,00 |
0,12 |
1.963.722 |
0,08 |
Reino
Unido |
23 |
5,24 |
13.760,00 |
3,56 |
90.570.830 |
3,58 |
República
Tcheca |
6 |
1,37 |
3.760,00 |
0,97 |
24.400.653 |
0,97 |
Romênia |
1 |
0,23 |
706,00 |
0,18 |
4.905.663 |
0,19 |
Rússia |
30 |
6,83 |
22.266,00 |
5,75 |
148.608.209 |
5,88 |
Suécia |
11 |
2,51 |
9.844,00 |
2,54 |
68.366.902 |
2,71 |
Suíça |
5 |
1,14 |
3.352,00 |
0,87 |
27.300.506 |
1,08 |
Formosa
(Taiwan) |
6 |
1,37 |
5.144,00 |
1,33 |
38.891.575 |
1,54 |
Ucrânia |
14 |
3,19 |
12.880,00 |
3,33 |
81.422.301 |
3,22 |
Total |
439 |
100 |
386.960,00 |
100,00 |
2.527.145.727 |
100,00 |
Tabela
67 - Mundo - Participação da energia
nuclear na geração de energia elétrica
- 1990-2003.
Clique
aqui para ver a tabela 67.
(*)As
falhas nos dados devem-se aos fatos de os países
ainda integrarem (a) a União Soviética, (b)
a Tchecoslováquia e (c) a Iugoslávia no período,
(d) o território alemão só ter sido
reunificado em outubro de 1990 e (e) dados não disponibilizados
pelo país. Fonte:
AIEA, Power Reactors Information System (PRIS) |