6.
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL
A
expressão diagnóstico ambiental tem sido usada
com diferentes conotações por órgãos
ambientais, universidades, associações profissionais,
etc.. Contudo, diagnóstico ambiental pode ser definido
como o conhecimento de todos os componentes ambientais de
uma determinada área (país, estado, bacia
hidrográfica, município) para a caracterização
da sua qualidade ambiental. Portanto, elaborar um diagnóstico
ambiental é interpretar a situação
ambiental dessa área, a partir da interação
e da dinâmica de seus componentes, quer relacionado
aos elementos físicos e biológicos, quer aos
fatores socioculturais. A caracterização da
situação ou da qualidade ambiental (diagnóstico
ambiental) pode ser realizada com objetivos diferentes.
Um deles, é servir de base para o conhecimento e
o exame da situação ambiental, visando traçar
linhas de ação ou tomar decisões para
prevenir, controlar e corrigir problemas ambientais (políticas
ambientais e programas de gestão ambiental).
Todos
os estudos realizados mostram a situação ambiental
das Áreas de Influência Direta (AID de 5km
e AID de 15km) e a Área de Influência Indireta
(AII de 50km).
6.1.
MEIO FÍSICO - topo
O
Meio Físico é o conjunto das condições
físicas de uma área caracterizado pelo ar,
água, solo e clima. Os aspectos físicos da
região do empreendimento compõem o Estudo
de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental.
6.1.1.
Qual o clima na região do empreendimento? -
topo
A
situação geográfica de Itaorna, onde
está localizada a CNAAA, apresenta algumas interessantes
características climáticas. O padrão
climático é subtropical, com mudanças
da temperatura no inverno e chuvas no verão devido
à aproximação de frentes frias provenientes
do hemisfério sul. Sendo uma região costeira,
está freqüentemente sob a influência do
grande anticiclone (vento) subtropical do Atlântico
Sul, apresentando aumento substancial desses valores médios
quando, após a passagem de uma frente fria, predominam
as massas frias com altas pressões provenientes da
região Antártica.
A
temperatura média ao longo do ano varia entre 19°C
e 26°C, e, nos anos de 2002 e 2003, os valores permaneceram
dentro desta variação. Quanto aos valores
de umidade relativa, o mês de julho é o período
mais seco, devido às entradas de fortes massas de
ar frio e o maior afastamento do sol, e no mês de
outubro, período de mudança de inverno para
verão, as chuvas passam a ser mais significativas,
o que levou ao máximo de umidade, com valores próximos
a 90%. O trimestre mais chuvoso é o formado pelos
meses de dezembro, janeiro e fevereiro, enquanto o trimestre
menos chuvoso equivale aos meses de junho, julho e agosto.
As
chuvas causam, entre tantos outros benefícios, a
remoção de poluentes do ar, em maior ou menor
grau, dependendo de suas intensidades. Na região
de Angra dos Reis e entorno estão associadas diversos
componentes atmosféricos, tais como: frentes frias
(todo o ano), linhas de instabilidade (primavera-verão)
e formações convectivas regionais (primavera,
verão e outono), originadas de sistemas provenientes
do setor norte-noroeste. As entradas de frentes frias, normalmente,
são de caráter mais intenso para chuvas e,
principalmente, ventos, após o sistema frontal passar
por Parati e adentrar a baía de Ilha Grande.
A
direção e velocidade dos ventos estão
associadas às muitas escalas de circulação
atmosférica. De um modo geral, predominam os regimes
marítimos de circulação próxima
ao nível da superfície na área litorânea,
desde Sepetiba até o litoral de Parati, passando
por Angra dos Reis.
Trata-se
de parâmetro de extrema relevância nas avaliações
da poluição do ar, pois representam o sentido
do deslocamento da pluma e sua forma de dispersão.
Para
a área de interesse há regimes predominantes
do setor sul, proveniente da área oceânica,
e que podem ser sentidos nos pontos mais afastados das áreas
onde se localizam prédios das Unidades 1 e 2 da Central
Nuclear.
Para
os anos de 2002 e 2003, a direção e a velocidade
dos ventos seguiram o padrão estabelecido nos últimos
20 anos de dados. E constatou-se que:
»
Em abril e de maio a junho, as direções predominantes
foram S/SE, S e N/NE, respectivamente;
»
Janeiro e junho foram os meses de maior freqüência
de calmaria e março o de menor ocorrência.
6.1.2.
Condições de transporte -
topo
Foram
realizadas simulações de trajetórias
para avaliar as diferentes direções tomadas
pelo vento acompanhando o ciclo diurno do aquecimento continental,
que certamente influi sobre a circulação local
e regional centrada em Angra dos Reis. Os resultados mostraram
que os caminhos da atmosfera livre tendem a se afastar do
continente dirigindo-se para o Oceano Atlântico, sendo
que às 6 horas da manhã no verão é
quando as trajetórias mais se afastam do continente.
No inverno, às 6 e às 9 horas locais, todas
as trajetórias são totalmente voltadas para
o mar.
6.1.3.
Como é a Geologia da Região? -
topo
Geologia
é a ciência que estuda a origem, composição
e evolução da Terra, bem como os processos
que ocorrem no seu interior e superfície.
»
Litoestatigrafia e Mapeamento Geológico
»»»
Contexto Geológico Regional
A
região do empreendimento é formada por rochas
cristalinas formadas entre 540 milhões de anos e
2 bilhões de anos aproximadamente e sedimentos recentes.
Devido à idade e aos processos das transformações
que as rochas sofrem ao longo dos anos, pode-se afirmar
que a geologia da região é bastante complexa.
6.1.4.
Unidades Litoestatigráficas Indicadas -
topo
Unidades
litoestratigráficas são conjuntos rochosos
caracterizados por um tipo ou combinação de
vários tipos litológicos, ou por certas feições
litológicas marcantes.
As
unidades litológicas das Áreas de Influência,
Direta e Indireta, são principalmente formadas por
rochas cristalinas e rochas sedimentares. As rochas cristalinas
estão localizadas, principalmente nas encostas enquanto
que as sedimentares são encontradas principalmente
nas praias e nos rios em toda área.
»»»
Sismos Regionais e Locais
Numa
área de algumas centenas de quilômetros em
torno de Angra dos Reis, foram registrados vários
episódios sísmicos que são relevantes
para a caracterização do risco na área
da CNAAA.
Genericamente,
são eventos de pequena magnitude e que não
caracterizam um risco maior para instalações
com especificações construtivas como as de
Angra 3.
»»»
Avaliação técnica da análise
de risco sísmico para Angra 3
Na
avaliação da mais recente análise de
risco sísmico para Angra 3, ficou demonstrado um
baixo risco sísmico para o empreendimento, devido
a estabilidade da geologia local e a baixa intensidade dos
sismos que ocorreram na região.
»
Aspectos Geotécnicos
Os
aspectos geotécnicos constituem um conjunto de operações
destinadas a determinar a natureza, a disposição,
os acidentes e outras características de um terreno.
Por
isso é importante conhecer a geologia e geomorfologia
da área de influência do empreendimento que
apresenta características da Serra do Mar, onde predominam
rochas cristalinas recobertas por solos.
Nos
sopés das escarpas rochosas, com taludes quase verticais,
também se observam depósitos de talus (fragmento
rochoso de tamanho e forma variáveis, originado por
efeito de gravidade e depositado na base de um morro ou
encosta), colúvios (material que se deposita no sopé
das encostas dos morros trazido pela ação
da gravidade, do alto da vertente) e solos residuais.
»»»
As encostas na área da CNAAA
As
encostas no sítio das usinas e em seu entorno, caracterizam-se
por apresentarem movimentos que podem ser intensificadas
nos períodos de chuvas, que superam os 2.000 mm anuais,
ocorrendo, em sua maioria, nos meses de verão (novembro-março).
O problema é agravado em função das
fortes chuvas que ocorrem na região e da cobertura
inconsolidada da área, a qual é representada
por solos residuais, colúvios e talus em encostas
íngremes e pela brusca transição solos-rocha.
A
característica principal no trecho da Rodovia Rio
Santos que vai do km 519,5 ao 522,5 decorre do grande volume
de material, composto por solo, blocos de rocha e vegetação.
O intenso fissuramento da rocha causa o surgimento de inúmeros
“olhos d’água” com bicas d’água
construídas ao pé da encosta junto ao leito
da rodovia.
»»»
Considerações sobre a estabilidade de taludes
Nas
condições atuais de ocupação,
os problemas de estabilidade dos taludes na região
estão ligados a três fatores: variedade litológica
(das rochas) e produtos de alteração decorrentes;
geomorfologia,
fruto de um relevo muito jovem; e chuvas fortes.
»»»
Características geológicas e geotécnicas
no sítio da usina de Angra 3
As
áreas estudadas para o empreendimento foram: o maciço
rochoso de Ponta Grande e áreas adjacentes próximas,
baixadas de saco Fundo e Itaorninha.
Na
área de Ponta Grande, sondagens geotécnicas
indicam que os prédios da Usina estarão assentados
em rocha sã, portanto em condições
geotécnicas favoráveis, definindo-se o local
para a construção de Angra 3.
»
Recursos Minerais
As
pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro não identificaram depósitos minerais
significativos na região considerada. Os recursos
minerais de interesse para exploração comercial,
ou já em exploração, caracterizam-se
quase totalmente por materiais utilizados na construção
civil, como granitos, brita, areia, cascalho, argilas e
saibro. A localização do empreendimento não
sofre interferência das áreas de interesse
mineral. Entretanto, a implantação da usina
de Angra 3 poderá inclusive incrementar as atividades
de extração mineral, no que tange a materiais
de interesse para a construção civil.
6.1.5.
Como é a Geomorfologia da Região? -
topo
Geomorfologia
é a ciência que estuda o relevo da superfície
terrestre, sua classificação, descrição,
natureza, origem e evolução, incluindo a análise
dos processos formadores da paisagem.
Na
Área de Influência Indireta (ver Figura 20)
foram identificados dois grandes domínios morfoestruturais
(grandes conjuntos estruturais, que geram arranjos regionais
de relevo, guardando relação ou causa entre
si): o Planalto Atlântico e Depressões Tectônicas
Cenozóicas. O Planalto Atlântico caracteriza-se
por se estender de uma costa recortada até uma região
serrana, que se apresenta na forma de encostas abruptas
e quase lineares. As Depressões Tectônicas
Cenozóica constituem uma superfície com suave
inclinação, formada por processos de erosão,
menos irregular do que os planaltos e que se encontram em
áreas encaixadas entre os maciços antigos
e as unidades sedimentares.

Figura 20 – Perfil em varredura tridimensional de
direção N-S que corta transversalmente a Região
do Planalto e Escarpas da Serra da Mantiqueira, Região
da Depressão do médio vale do rio Paraíba
do Sul e Região do Planalto e Escarpas da Serra da
Bocaina.
Fonte: “Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA – Vol III (Eixo 3 – Geomorfologia e
Solos)”, IGEO/UFRJ.
A
Área de Influência Direta (ver Figura 21) é
caracterizada pelo contaste das escarpas que demarcam a
borda escarpada da Região do Planalto e escarpas
da Serra da Bocaina em contato direto com as feições
morfológicas quaternárias de planícies
flúvio - marinhas, que caracterizam as enseadas da
baía de Angra dos Reis.

Figura 21 – Mapa esquemático dos Domínios
e Regiões Morfoestruturais utilizados como base para
a subdivisão das formas de relevo reconhecidas para
o Estado do Rio de Janeiro.
Fonte:
SILVA, 2002.
6.1.6.
Quais São os Solos da Região? -
topo
O
solo é a superfície sólida da terra
que fica na camada mais superficial do globo terrestre.
Na
região onde está localizada a CNAAA, são
encontrados solos pertencentes a apenas cinco dessas ordens,
a saber:
a)
Cambissolo - pouco profundo que ocorre nas encostas;
b)
Latossolo - espesso de boa drenagem;
c)
Neossolo - solo pouco evoluído, que ocorre nas encostas
mais íngremes;
d)
Argissolo - solo argiloso;
e)
Espodossolo - solo arenoso, associado às áreas
de litoral.
6.1.7.
Como São os Recursos Hídricos da Região?
- topo
Os
recursos hídricos correspondem às águas
dos rios (águas continentais), do oceano (oceanografia)
e do subsolo (hidrogeologia).
6.1.8.
Águas continentais -
topo
As
águas continentais estão associadas aos corpos
hídricos de superfície, como rios e demais
formas de drenagens.
»»»
Bacias Hidrográficas
As
bacias hidrográficas são áreas de drenagem,
delimitadas topograficamente pelo relevo, onde todas as
águas drenam para um mesmo local, geralmente um rio.
(Figura 22). As bacias hidrográficas situadas dentro
da área de raios 15 e 30 km a partir da CNAAA englobam
dois conjuntos de sistemas de drenagem: aqueles que drenam
para as diversas enseadas do litoral da baía de Ilha
Grande e um outro conjunto de bacias fluviais que constituem
os tributários de alguns dos afluentes da margem
sul do rio Paraíba do Sul.

Figura 22 – Esquema de Bacia Hidrógráfica.
Fonte: www.ana.gov.br
É
importante destacar que as características do relevo
da região da baía da Ilha Grande influenciam
decisivamente no aumento da ocupação urbana
ao longo das principais rodovias, resultando em áreas
de grande ocupação populacional. Essa população
utiliza-se dos recursos hídricos que sofrem os impactos
do desmatamento e da ocupação desordenada,
o que leva à piora das condições de
qualidade e quantidade das águas dos rios. Os principais
processos de degradação encontrados estão
listados a seguir naTabela 8.
Tabela
8 - Principais atividades relacionadas e reflexos sobre
os recursos hídricos das bacias hidrográficas
litorâneas na região do empreendimento.
Processo |
Principais
atividades relacionadas |
Reflexos
sobre os recursos hídricos |
Desmatamento |
Extração
de palmito, lenha, madeira de lei, atividades agrícolas
(plantio da banana, especialmente), pecuária |
Diminuição
da capacidade de infiltração (aumento
do runoff), comprometimento da produção
e da qualidade das águas, assoreamento dos
corpos hídricos superficiais, aumento da instabilidade
das encostas e enchentes |
Expansão
urbana |
Estabelecimento
de moradias de baixa renda, casas de veraneio, estabelecimentos
hoteleiros, condomínios de luxo, estabelecimentos
industriais, comerciais e de prestação
de serviços |
Poluição
hídrica (lançamento de esgoto in-natura
e de resíduos sólidos nos corpos d’água),
aumento da demanda sobre os recursos hídricos,
estrangulamento e assoreamento dos cursos d’água,
enchentes e descaracterização da região
costeira |
Destruição
de manguezais |
Aterramentos
para instalação de
construções |
Alterações
nos padrões de drenagem e de penetração
das águas marinhas, além da capacidade
de retenção de sedimentos |
Captação
nãoordenada
de recursos hídricos |
Abastecimento
humano, dessedentação de animais, atividades
de lazer, uso industrial, irrigação,
“carros-pipa” |
Significativa
diminuição sazonal dos volumes d’água
nos corpos hídricos |
Extração
de areia |
Utilização
na construção civil |
Alargamento
dos canais fluviais, mudanças na hidrodinâmica
dos cursos d’água e agravamento do assoreamento |
Disposição
inadequada dos
resíduos sólidos |
Produção
de lixo doméstico e
industrial |
Contaminação
dos corpos d’água e lençóis
freáticos |
Fonte: “Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA – Vol III (Eixo 3 – Geomorfologia e
Solos)”, IGEO/UFRJ - com base no Relatório
de Diagnóstico Ambiental da baía da Ilha Grande
- MMA/SEMA-RJ (1997), e observações de campo.
Os
manguezais se apresentam como um dos principais ecossistemas
impactados nas bacias hidrográficas litorâneas,
uma vez que têm sido o alvo principal do crescimento
urbano desordenado e dos diversos empreendimentos turísticos
e industriais instalados na região (Tabela 9). São
considerados ecossistemas importantes especialmente para
a manutenção da qualidade das águas
costeiras, e também para garantir a continuidade
da pesca.
Tabela 9 - Situação
dos Manguezais na Bacia da Baía
da Ilha Grande.
Localidade |
Situação
dos manguezais |
Monsuaba |
Estreita
faixa, tendo sido a maior parte aterrada para a instalação
da Vila de Monsuaba dos funcionários da PETROBRAS,
no inicio da década de 1970. |
Jacuecanga |
Completamente
eliminado em virtude da instalação do
estaleiro Verolme e demais dependências na década
de 1950. |
Praia
da Chácara |
Praticamente
eliminado pela expansão do bairro do Balneário,
sendo em parte recuperado a partir de 1989 através
de plantio induzido. |
Retiro |
Completamente
eliminado pela expansão imobiliária. |
Japuíba |
Área
parcialmente ocupada pelas instalações
do aeroporto de Angra dos Reis e por população
de baixa renda, apresentando ainda expressiva formação
de mangues. |
Gamboa |
Parcialmente
aterrado pela instalação de loteamento
seccionado pela abertura da rodovia BR–101, que
vem sendo assoreado em virtude da saibreira situada
a montante da rodovia. |
Pontal |
Parcialmente
aterrado para a instalação de loteamentos,
marinas e hotéis, apresentando ainda significativa
formação de manguezais naturais, bem como
de parcela de manguezais recuperados. |
Ariró-Jurumirim |
É
o maior dos mangues continentais da região, apresentando
as melhores condições ambientais e conservando
a maioria de suas características originais;
sofre reflexos da retificação do rio Jurumirim. |
Itanema |
Parcialmente
aterrado para a instalação dos empreendimentos
imobiliários Porto Itanema, Porto Marisco e de
estaleiro, porém ainda expressivo. |
Bracuí
/Cansado |
Um
dos maiores mangues do município de Angra dos
Reis, parcialmente desmatado, dragado e aterrado, visando
a instalação de grande loteamento e marina. |
Bracuí |
Completamente
aterrado para instalação de loteamento
e marina de mesmo nome. |
saco
do Bracuí |
Parcialmente
impactado pela construção de via de acesso
ligando a BR–101 ao loteamento da Ilha do Jorge;
apresenta sinais de recuperação natural,
mas com alteração de suas comunidades
vegetais. |
Ponta
do Quitumba |
Parcialmente
aterrado visando a instalação de loteamento. |
Frade |
Completamente
aterrado para a instalação de dependências
hoteleiras e do loteamento associado. |
Mambucaba |
Parcialmente
aterrado pelas obras de dragagem do Rio Mambucaba na
década de 1970, atualmente sofre intervenções
devidas ao hotel situado no local que tenta
desenvolver atividades de ecoturismo associadas à
presença do manguezal. |
saco
Grande |
Apresenta
interferência física introduzida pela BR–101. |
Mangue
do Tu |
Apresenta
situação semelhante à do mangue
do saco Grande. |
Jabaquara |
Parcialmente
aterrado para a instalação de loteamentos
e cortado por via de acesso que liga a Praia do Jabaquara
à BR–101. |
Terra
Nova |
Desenvolvido
em frente ao centro histórico de Parati, gerou
o comprometimento visual do conjunto arquitetônico
tombado; foi cortado pela Prefeitura sob condições
polêmicas. |
Ilha
das Cobras |
Praticamente
100% de sua área original foi aterrada visando
à instalação do aeroporto e de
suas residências. |
Boa
Vista |
Mangue
cortado pela BR–101 e aterrado parcialmente visando
a instalação de marina. |
Parati-Mirim |
Sofre
problemas associados à presença de quiosques,
situados sobre a restinga, que o utilizam fisicamente
como área de armazenamento, e tem sido aterrado
para construção de segundas residências. |
saco
Grande e saco do Fundão |
Sem
informações. |
Caetana/Meros/Turvos/Itatinga |
Vem
sofrendo perturbações pela presença
de vazadouro de lixo de Parati, situado junto à
BR–101, que despeja chorume sobre a planície
contígua ao mangue. |
Mamanguá |
Não
sofre praticamente grandes perturbações,
a não ser a captura de caranguejos, a exemplo
dos outros. |
Praia
do Sul e do Leste |
Manguezal
de franja localizado na Ilha Grande, que recobre as
margens de ambas as lagunas, caracterizando-se como
o menos perturbado de todo o Litoral Sul Fluminense.
Toda a sua área se inclui na Reserva Biológica
da Praia do Sul. |
Fonte: Relatório de Diagnóstico
Ambiental da Baía da Ilha Grande - MMA/SEMA - RJ
(1997).
No
município de Angra dos Reis, os sistemas e a rede
de captação de água para abastecimento
público são controlados pelo Serviço
Autônomo de Água e Esgotos (SAAE) municipal,
e apresenta muitos problemas.
»
Ocorrência de enchentes
Observa-se
uma tendência à ocorrência de enchentes
na região litorânea de Angra dos Reis, em localidades
próximas às margens dos rios, nos períodos
das chuvas mais intensas.
»
Disponibilidade hídrica
na bacia do rio do Frade
Na
bacia do rio do Frade há uma captação
da Eletronuclear situada no próprio rio, denominada
captação ETN 1, e outra no córrego
do Sacher, tributário do rio do Frade, denominada
ETN 2. Esta bacia oferece disponibilidade hídrica
para abastecer o canteiro de obras de Angra 3.
»
Qualidade das águas
Foram
coletadas amostras nas bacias dos seguintes cursos fluviais:
»»»
Rio Ambrósio, situado na localidade do Frade, em
três locais distintos:
nascente - Bica, vala (jusante das ocupações
urbanas) e nascente – Capatação para
o Serviço de Abastecimento de Águas e Esgoto/
SAAE);
»»»
Rio São Gonçalo, localizado próximo
ao limite com o município de Parati, em dois locais
distintos, no baixo curso do rio, fora do alcance da maré
e foz do rio;
»»»
Rio Mambucaba, próximo à estação
fluviométrica do baixo curso deste rio, em dois locais
distintos, margem direita e esquerda, e também na
foz desse rio,
um local;
»»»
Rio Bracuí, um local;
»»»
Bacia do Rio do Frade, em dois locais distintos, um no Córrego
Sacher na captação para o SAAE e na foz do
rio do Frade;
»»»
Rio Japuíba, em dois locais distintos na captação
para o SAAE e na foz do rio;
Aplicando-se
o Índice de Qualidade das Águas (IQA) para
os resultados obtidos nas análises efetuadas, verifica-se
que as águas dos rios monitorados podem ser consideradas
boas (51 < IQA = 79), com exceção da amostra
Ambrósio 2, que pode ser considerada regular (36
< IQA = 51).
Segundo
os limites estabelecidos pela legislação vigente,
todos os parâmetros estão de acordo os mesmos,
com exceção dos parâmetros fosfato,
oxigênio dissolvido, nitrito, detergentes e coliformes
fecais da amostra Ambrósio 2 (Vala).
6.1.9.
Oceanografia - topo
»»»
Batimetria
Batimetria
pode ser definida como a medida da profundidade de uma massa
de água, como os mares, lagos, rios. A baía
de Ilha Grande apresenta um litoral bastante recortado e
forma típica de área de submersão,
com algumas “rias” (sacos do Mamanguá
e de Parati-Mirim) e depósitos quaternários
pouco desenvolvidos.
No
saco Piraquara de Fora o relevo de fundo, segundo a batimetria
realizada em 1981, mostra a maior parte da área com
profundidades acima de 5 m e máxima entre 10 e 11
m. Em termos de variação, tem-se, conforme
os dados de 1981, uma região dominada, em sua maior
parte, por declives suaves (< 2 graus), com valores acima
desse patamar (> 20 graus) nas áreas próximas
à costa, seguindo o contorno desta, e nos flancos
do molhe submerso.
Com
base no estudo realizado, foi possível afirmar que:
o saco Piraquara de Fora possui relevo de fundo característico
de enseadas localizadas em áreas próximas
a encostas, com pequena planície sedimentar e pequeno
aporte de sedimentos. A parte rasa está nas margens
e próxima a elevações batimétricas
e afloramentos; o relevo de fundo fica mais raso na parte
S/SE da área mais externa em direção
ao fundo da enseada, local da saída d’água
das usinas; o relevo de fundo foi duramente afetado pelo
deslizamento de encosta ocorrido em 1985, com variações
de profundidade de aproximadamente 8 m; o volume total do
assoreamento da área submersa é da ordem de
509.000 m3; com o deslizamento, foi criado um grande leque
deposicional, no qual, de acordo com os dados sedimentológicos,
encontra-se uma frente de sedimentos grossos compostos por
cascalho com areia e lama.
»»»
Temperatura da água do mar
A
temperatura máxima registrada em Piraquara de Fora
foi 31ºC, e a mínima 24,1ºC, na parte externa
do saco (na enseada).
»»»
Circulação
O
fluxo da água, na parte mais exterior do saco Piraquara
de Fora, tende a entrar pela extremidade sul e sair pelo
lado norte, juntando-se com a água que segue pela
área adjacente na direção da baía
da Ribeira. Na parte mais interna do saco, o baixo fluxo
dá uma impressão de imobilidade. De acordo
com os estudos de dispersão térmica realizados
na área, para o mesmo período de maré,
verificou-se que a água mais quente espalha-se igualmente
pelo interior do saco, próximo ao ponto de lançamento
do efluente térmico das Usinas.
Nos períodos de maré vazante a circulação
em Piraquara de Fora é mais intensa, a água
penetra pela extremidade norte, circula na parte interna
do saco e sai pelo lado sul. A circulação
superficial evidencia a entrada de água mais fria
no saco pela extremidade sul e uma saída de água
mais quente pelo lado norte, indicando tendência a
um sentido contrário da circulação
profunda, isto na parte mais exterior do saco.
6.1.10.
Como é a Qualidade do Ar da Região? -
topo
As
informações disponíveis, referentes
à emissão de efluentes gasosos, foram retiradas
do Estudo de Impacto Ambiental de Angra 2, e fornecidas
pela Eletronuclear. Esses dados contribuem para estudos
de caso, que são realizados através dos modelos
de qualidade do ar e dispersão de efluentes.
As
emissões atmosféricas de Angra 2 são
provenientes dos gases de combustão de óleo
utilizado na caldeira auxiliar e no grupo gerador diesel
do sistema de emergência. O consumo de óleo
da caldeira é de 1.400 kg/h e o consumo dos grupos
geradores é de 30,13 kg/h.
A
Figura 23 abaixo ilustra as características topográficas
peculiares do sítio da CNAAA, formando um paredão
devido à presença da Serra do Mar junto a
Itaorna. Nas simulações são considerados
os efeitos topográficos sobre o mecanismo de dispersão
de efluentes radioativos e convencionais na atmosfera. A
presença deste paredão em conjunto ao condicionamento
da atmosfera da região, onde há uma predominância
de classes de estabilidade estável, aumenta o nível
de concentração no entorno imediato da CNAAA,
e diminui significativamente a concentração
de poluentes nas regiões fora da zona de exclusão.

Figura 23 - Topografia da região da CNAAA.
Fonte: “Levantamento e Diagnóstico
Ambiental (Meio Físico) da Área de Influência
da CNAAA – Vol I (Eixo I – Meteorologia)”,
IGEO/UFRJ.
Pode-se
concluir, com as simulações realizadas ao
longo desse trabalho, que a região onde está
inserida a CNAAA, bem como as condições atmosféricas
da região não são favoráveis
à dispersão de poluentes. O que se observa,
no entanto, é que, devido à baixa taxa de
emissão dos poluentes convencionais, proveniente
da CNAAA, as quantidades verificadas nas regiões
próximas apresentam valores máximos inferiores
aos valores que excederiam os padrões nacionais de
qualidade do ar.
»
Efluentes Radioativos
O
cálculo das concentrações médias
normalizadas pela intensidade da fonte são realizados
para vários períodos particulares. O resultado
para as deposições médias dos efluentes
radioativos, normalizados pela intensidade da fonte, para
a usina de Angra 3, mostra que as deposições
são encontradas espalhadas uniformemente, dentro
de um raio de 20 km.
As
maiores concentrações de poluentes ocorreram
no eixo nordeste - sudoeste, sendo que os valores máximos
estimados ocorreram dentro de um raio de 5 km, tendo como
centro as fontes de emissão.
»
A Qualidade do Ar na Região
do Empreendimento
Em
virtude da preocupação existente, no que tange
aos fluxos atmosféricos de substâncias químicas
(poluentes primários ou secundários), procedentes
de emissões derivadas de atividades humanas, efetuou-se
um levantamento dos dados de estudos realizados, e divulgados,
na região da bacia da baía de Sepetiba, tomando-a
como a mais similar à Área de Influência
do empreendimento.
Para
o caso de Angra dos Reis, numa primeira análise,
parece não haver fontes relevantes que possam alterar
a química da água das chuvas na atmosfera
da região. As emissões de SO2 e NOX
que ocorrem na Unidade 3 da CNAAA, serão esporádicas,
de curta-duração e quantitativamente irrelevantes
para impactar a qualidade do ar e a composição
química das águas das chuvas, conforme pode
ser verificado a partir dos dados de projeto.
6.2.
MEIO BIÓTICO - topo
O
Meio Biótico compreende a fauna (animais) e flora
(vegetais) da região, que foram estudados por especialistas
da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.
6.2.1.
Como É a Flora Terrestre da Região? -
topo
A
região de Angra dos Reis possui um litoral bastante
recortado e diversos ecossistemas em sua extensão:
florestas, manguezais, restingas e costões rochosos.
Esses ecossistemas têm sofrido fortes pressões
(antrópico), desde o tempo colonial, de modo que hoje
se verifica a extinção de espécies
e o desaparecimento de comunidades e ecossistemas, que ocasionam
profundas modificações na paisagem.
Todavia,
é crescente a conscientização da necessidade
de conservação e de recuperação
ambiental, sendo o Estado do Rio de Janeiro responsável
por 39 unidades de conservação, na esfera
Federal e Estadual, representando aproximadamente 5.700
km2 protegidos no domínio da Mata Atlântica.
Destaca-se ainda a região da “Costa Verde”,
onde se localiza o empreendimento, que representa um dos
maiores núcleos representativos da Mata Atlântica.
»
Como está a Floresta
Atlântica da Região?
A
designação atual para o ambiente florestal
do que é conhecido como a Floresta Atlântica
é Floresta Ombrófila Densa (Ellenberg e Mueller-Dombois
1965/6), sendo caracterizada por plantas lenhosas situadas
acima de 0,25 m do solo, alcançando até 50
m de altura, dominadas pelas formas de 30 a 50 m de altura
e de 20 a 30 m de altura, além de lianas lenhosas
e epífitas. A Floresta Ombrófila Densa (RADAMBRASIL,
1983) divide-se em subtipos conforme a altitude, sendo reconhecidas
para a região da Costa Verde a: Floresta das Terras
Baixas, Floresta Submontana, Floresta Montana e Floresta
Alto Montana.
A
formação considerada neste estudo foi a Submontana,
com variações em seu estado de conservação.
Parte
da cobertura vegetal é atualmente constituída
por uma vegetação secundária em estágios
diversos de regeneração, ao passo que outras
áreas são recobertas por florestas alteradas
em sua composição e estrutura originais, tendo
em vista a extração seletiva de madeiras,
à qual foram submetidas ao longo dos anos. Por outro
lado, remanescentes florestais em melhor estado de conservação
podem ser observados em certos trechos, onde o acesso e
a agricultura são dificultados.

Figura 24 - Vista da Floresta Ombrófila Densa na
serra em frente à Central Nuclear Almirante Álvaro
Alberto
Fonte: Levantamento e Diagnóstico
Ambiental da Área de Influência da CNAAA, Instituto
de Biologia/UFRJ 2003.
Neste
levantamento, foram inventariadas duas fisionomias da Floresta
Ombrófila Densa, que diferem principalmente com relação
aos seus estados de conservação. Uma delas
está situada na cadeia montanhosa adjacente à
CNAAA, que também apresenta indícios da atividade
humana. A outra região, situada na bacia do córrego
Praia Brava, área da antiga captação
de águas, apresenta indícios de extração
seletiva, persistindo, porém, exemplares com porte
elevado, e indícios de ocupação humana
antiga. Não foram encontradas nas áreas amostradas
espécies ameaçadas de extinção.
As
florestas estudadas apresentam três estratos bem definidos.
Assim, nota-se que as duas áreas florestais amostradas
se encontram em estágio de sucessão. Isso
confirma ainda que a região da Costa Verde apresentou
um aumento em sua extensão, e provavelmente avançaram
na sucessão ecológica.
»
Como estão as Restingas
da Região?
As
restingas do Rio de Janeiro ocupam uma área aproximada
de 1200 km2, ou seja, 2,8 % do território do Estado
(Araújo & Maciel, op. cit.). Elas recobrem as
planícies costeiras como uma gama de comunidades
com características próprias e diversificadas.
Possui vegetação rala de gramíneas,
agrupada em moitas, áreas de brejo com plantas aquáticas
e matas fechadas. Todas abrangendo uma flora e fauna rica
e variada, restrita algumas vezes, a manchas remanescentes
(Araújo, 2000).

Figura 25 - Vista da restinga junto à foz do rio
Mambucaba
Fonte: Levantamento e Diagnóstico
Ambiental da Área de Influência da CNAAA, Instituto
de Biologia/UFRJ 2003
As
planícies costeiras, com exceção da
Praia do Sul localizada na Ilha Grande, são geralmente
estreitas, caracterizadas por uma vegetação
de praia, seguida por uma transição de restinga
com floresta atlântica. A vegetação
de praia é constituída de espécies
principalmente herbáceas, comum a todo o litoral
brasileiro, que formam um emaranhado de rizomas e estolões
sobre a areia. A restinga apresenta também vegetação
arbustiva-arbórea, com altura cada vez maior à
medida que se aproxima da mata de encosta.
Foram
amostradas duas áreas: a restinga da Praia da Batanguera
e de Mambucaba. Foram identificadas várias espécies
vegetais, dentre as quais se destaca o feijão de
porco (Ipomea pescrape), uma herbácea que se desenvolve
por crescimento vegetativo, estando bem adaptada a substratos
instáveis.
Embora
não tenha sido encontrada nenhuma espécie
vegetal ameaçada de extinção, ambas
as áreas apresentam um grau de antropização,
devido ao fluxo de banhistas, principalmente durante o verão.
»
Como está o Manguezal
da região?
Este
ecossistema é típico de áreas estuarinas
tropicais e subtropicais, sendo regido por um sistema de
variação de marés que o inunda duas
vezes ao dia, onde a mistura da água do mar com a
água doce, proveniente do continente, confere um
caráter salobre a estas águas. Esta condição
típica exerce um fator de seleção importante,
quando referente ao tipo vegetal que colonizará este
ambiente, ou seja, propicia que apenas algumas espécies
sejam capazes de habitar este ecossistema.
No
intuito de efetuar uma caracterização dos
manguezais mais próximos à CNAAA, foram selecionadas
cinco localidades onde ocorrem estes ecossistemas. São
estas: o manguezal do Bracuí, o manguezal da praia
do Recife, o manguezal da Ilha do Jorge Grego, da Pousada
do Bosque, e do rio Ariró.
Os
dados indicaram que os manguezais dos perfis do Bracuí,
Ariró e Pousada do Bosque foram representados por
um bosque do tipo branco, enquanto que os manguezais dos
perfis da Praia do Recife e da Ilha do Jorge foram representados
por um bosque do tipo vermelho. As fisiografias dos manguezais
estudados são de franja.
Os
manguezais existentes nas áreas de estudo, de um
modo geral, encontram-se antropizados, estando, portanto,
descaracterizados quanto ao seu estado nativo. Estes começaram
a sofrer as primeiras modificações a partir
da década de 70, pela construção da
BR-101 e pela instalação de empreendimentos
turísticos. Referências (Moscatelli et al.,
1993; Kjerfve & Lacerda, 1993 apud NATRONTEC (op. cit.),
indicam que 50 a 60% de manguezais já foram perdidos
em toda a baía de Ilha Grande.

Figura 26 - Visão geral do manguezal do Bracui onde
destaca-se a dominância de exemplares de Laguncularia
racemosa (mangue branco).
Fonte: Levantamento e Diagnóstico
Ambiental da Área de Influência da CNAAA, Instituto
de Biologia/UFRJ 2003
Nos
manguezais estudados foram evidenciados impactos como desmatamento,
aterros, construção de residências,
construção de estradas, alteração
do padrão de circulação das águas
e lançamento de lixo. A ocorrência de um grande
número de troncos observado em parcelas do Manguezal
do Ariró e da Pousada do Bosque são reflexos
do corte de madeira e da deposição de areia,
respectivamente. Apesar de apresentarem boa estrutura de
bosque em todos os manguezais estudados, foi observado um
intenso corte de troncos de mangue.
Assim,
baseando-se nas informações obtidas para elaboração
deste Relatório, pode-se listar os manguezais estudados
de acordo com seu estado de conservação em:
Ariró; Praia do Recife; Pousada do Bosque; Ilha do
Jorge e Bracuí.
6.2.2.
Como É a Fauna Terrestre da Região? -
topo
»
A herpetofauna (anfíbios
e répteis)
A
região onde está localizada a CNAAA, representa
uma área de concentração e reprodução
de muitas espécies de anfíbios e répteis.
Constatou-se a presença de uma mata recuperada em
seu entorno, com boa vegetação e diversos
micro-ambientes propícios para a herpetofauna.
O
número de espécies encontradas para anfíbios
e répteis foi superior ao registrado no levantamento
realizado na ocasião da elaboração
do Plano de Manejo da Estação Ecológica
de Tamoios (Fase 1).
Dentre
as três ilhas visitadas, a Pingo d’Água
foi que apresentou ambientes mais propícios a existência
de anfíbios e répteis.
A
presença de serpentes peçonhentas levanta
sempre a questão de riscos com acidentes ofídicos.
Porém, nada foi apurado em relação
a qualquer caso de envenenamento, supostamente não
usual para a região, pois as espécies em questão
são encontradas apenas dentro da mata, não
chegando habitualmente nas áreas de moradia humana.
Constatou-se que a área do entorno imediato à
CNAAA está bem preservada, enquanto que a região
de Angra dos Reis sofre um acelerado processo de degradação
ambiental por desmatamento. Esta situação
é devida, certamente, ao respeito da população
com relação à área da usina,
e ao fato de que sobre esta se mantém uma vigilância
permanente.
»
A avifauna (aves)
Ao
todo, foram registradas 331 espécies de aves nas
baixadas e matas sub-montanas. Dentre estas, 16 espécies
são consideradas ameaçadas de extinção
globalmente e 26 espécies quase ameaçadas.
Merecem
destaque o papa-formigas-de-cabeça-negra Formicivora
erythronotos, espécie endêmica da Costa Verde,
o não-pode-parar Phylloscartes paulistus, espécie
só registrada para a região nos últimos
cinco anos (D.Buzzetti, com. pess.) e o anambezinho Iodopleura
pipra, cujos vários registros recentes tornam a área
uma das mais importantes para sua conservação.
Durante o estudo, constatou-se que o vale do Mambucaba e
a baixada do Ariró, localidades inseridas na área
de influência da usina Angra 3, abrigam mais de 90%
da população total do papa-formigasde- cabeça-negra
(Mendonça & Gonzaga, 1999).
Fora
do período reprodutivo (abril a junho), a região
recebe migrantes latitudinais, que deixam o sul do país
fugindo do inverno austral. Chegam também à
região, visitantes procedentes do norte durante o
inverno setentrional (novembro a abril). A composição
da avifauna local sofre ainda alterações durante
os meses frios, com a chegada de migrantes altitudinais.
Espécies com distribuição predominantemente
serrana visitam as terras baixas da Costa Verde nos meses
de julho a agosto, fugindo das baixas temperaturas das grandes
altitudes.
As
atividades reprodutivas da avifauna local se concentraram
de meados de agosto a início de fevereiro. Esse período
coincide com o padrão geral observado para as aves
do Hemisfério Sul (Skutch 1950, Pinto 1953, Snow
1976 e Sick 1997).
Exceções
ao padrão reprodutivo da avifauna local foram observadas
para insetívoros. Essas variações podem
ser resultados das atividades humanas na região,
alterando o padrão normal de oferta de insetos no
ambiente. Segundo Oniki & Willis (1982, 1983), aves
granívoras e insetívoras com capacidade de
se beneficiarem da disponibilidade constante de alimento
produzida pela ação humana (sinantropia) como
a irrigação de plantas, podendo se reproduzir
ao longo de todo o ano.
A
destruição dos habitats, a caça, a
introdução de predadores, competidores e doenças
exóticas, têm sido as principais causas da
extinção das aves. Particularmente no Estado
do Rio de Janeiro, a destruição e fragmentação
da Mata Atlântica é a principal ameaça
para a maior parte da avifauna nativa (Alves et al., 2000).
O tamanho dos fragmentos remanescentes pode não ser
suficiente para abrigar espécies que exigem um espaço
mais amplo para a sua sobrevivência.
O
segmento de aves aquáticas é constituído
por espécies que vivem em ambientes relacionados
à água, tais como mares, lagoas, manguezais,
brejos e banhados, podendo ser divididas em três grupos
básicos: marinhas; dulcícolas e mistas.
Os
registros de campo, somados aos dados secundários
já existentes para a região, considerando-se
as áreas de influência do empreendimento, totalizam
56 espécies de aves aquáticas.
Na
Estação Ecológica de Tamoios, o levantamento
da avifauna aquática identificou 13 espécies
de aves. Foram levantados aproximadamente 500 indivíduos
de trinta-réis-de-bico-amarelo (Sterna eurygnatha),
uma ave muito sensível a interferências humanas,
cujas populações necessitam proteção
em seus poucos sítios reprodutivos conhecidos. É
a espécie costeira mais ameaçada de extinção
no Brasil (Antas,1991).
Os
trabalhos de campo nas ilhas da Estação Ecológica
de Tamoios, em outras 37 ilhas e lajes da região
e nos manguezais do saco do Bracuí, Cansado e Ariró,
listaram 24 espécies de aves aquáticas, incluindo
três novas ocorrências para a região.
Foram
registradas 56 espécies de aves aquáticas
para Angra dos Reis e Parati; destas, 24 foram observadas
nos trabalhos de campo realizados nas ilhas da Estação
Ecológica, em outras ilhas da região e nos
manguezais de Ariró, Cansado e saco do Bracuí.
Na
área da Estação Ecológica de
Tamoios, a maior diversidade de espécies aquáticas
foi encontrada nos Rochedos de São Pedro, seguido
das ilhas Sabacu e Zatin, com dominância de uma espécie
de gaivotão, seguida por três espécies
de trinta-réis.
As
excursões para outras ilhas da região de Angra
dos Reis objetivaram reunir mais informações
sobre o grupo das aves aquáticas. Assim, foram pesquisadas
37 ilhas onde foram identificadas 19 espécies de
aves aquáticas.
Em
regiões alagadas de mata atlântica, ocorre,
dentre outras espécies, o pato-do-mato (Cairina moschata),
espécie muito perseguida por caçadores (Sick,
1997). Para as restingas, são citadas espécies
muito comuns e de ampla distribuição. Para
manguezais podem ser verificadas muitas espécies
migrantes, dentre outros registros, que buscam neste ecossistema
alimento, abrigo e locais para reprodução.
Os manguezais do saco do Bracuí e Cansado apresentaram
maior número de espécies registradas. Nesta
formação, a ocorrência de Chloroceryle
aenea (martim pescador-anão) é nova para a
região.
Dentre
as 24 espécies observadas em campo, 16 são
piscívoras. Estas aves, no entanto, complementam
a dieta consumindo itens como lulas, crustáceos,
ovos e filhotes de outras aves marinhas, insetos aquáticos,
anfíbios e répteis.
Aves
aquáticas, de modo geral, são espécies
indicadoras da qualidade ambiental das águas e dos
ecossistemas associados; dependem, para sua sobrevivência,
de recursos alimentares encontrados exclusivamente no meio
aquático.
Não
há registros de aves aquáticas ameaçadas
de extinção para a região. Por outro
lado, ocorrem três espécies consideradas provavelmente
ameaçadas no Estado do Rio de Janeiro (Alves et al.,
2000) e outras três, cujas informações
atuais não permitem uma avaliação de
seu status.
Áreas
litorâneas vêm sendo destruídas a um
ritmo intenso, e inúmeros manguezais já foram
destruídos. A região de Angra dos Reis não
é diferente. Os ecossistemas insulares também
sofrem pressões diversas; apesar de distantes e de
acesso em geral difícil, recebem o impacto de atividades
de pesca em seus arredores, perturbações em
suas colônias de aves marinhas, uso de seus ovos como
alimento, utilização de filhotes destas aves
como iscas vivas, introdução de fauna e flora
exóticas, construções de moradias,
desmatamentos etc.
»
A mastofauna (mamíferos)
O
inventário de dados existentes sobre a mastofauna
da área de influência de Angra 3 está
fundamentado em trabalhos recentes e na identificação
de material depositado nas coleções do Museu
Nacional e do Museu de Zoologia da Unicamp.
A
coleção do Museu Nacional foi estudada, com
o intuito de se identificar os mamíferos da região
da baía da Ilha Grande e localidades adjacentes,
em um raio de aproximadamente 20 km da área da usina,
abrangendo, dessa forma, as áreas de influência
direta. Um levantamento bibliográfico foi também
realizado e parte das ocorrências de mamíferos,
relacionadas a seguir, foram feitas a partir de informações
constantes destas publicações.
Quando
comparado ao número de espécies previamente
levantadas na literatura para a região, onde nove
ordens e aproximadamente 46 espécies de pequenos
mamíferos silvestres foram registrados em um raio
de 15 km da Usina Angra 3, observa-se que o número
compilado na primeira campanha foi bastante inferior (20
espécies).
É
interessante notar que somente uma espécie de marsupial
(Didelphis aurita) foi amostrada na região no período
da campanha. Embora este marsupial tenha sido uma das espécies
mais abundantes na área, não foram registradas
do presente estudo diversas outras espécies de marsupiais
que potencialmente deveriam estar presentes na área.
Com
relação aos roedores, o número de espécies
coligido na campanha (nove espécies) também
se situou abaixo do esperado, daquele previamente levantado
na literatura (25 espécies). Presume-se que um dos
fatores que contribuiram para esta escassez, possa ter sido
a época do ano em que a campanha foi realizada, que
corresponde ao final da estação de chuvas
na região. Para pequenos mamíferos, marsupiais
e roedores em especial, o período do ano em que as
populações apresentam maiores densidades é
coincidente com o final da estação seca, que
na região de Angra dos Reis situa-se em setembro.
Apesar
desta limitação, cabe destacar a presença,
nas matas situadas em torno da área de implantação
do projeto de espécies aparentemente exigentes em
termos da qualidade do habitat relativamente à estratificação
arbórea, pelo menos. Certamente, um maior esforço
de coleta proporcionaria acréscimos a presente lista,
e considerando as espécies coligidas até o
momento não seria surpreendente a revelação
de espécies raras ou mesmo consideradas desaparecidas
na região, uma vez que a área sob influência
direta do projeto tem sido poupada das modificações
impostas pela presença humana, tanto no estabelecimento
de lavouras como na ocupação urbana não
planejada, fato que pode ser facilmente constatado pela
comparação com áreas vizinhas.
6.2.3.
Como É a Fauna Aquática da Região?
- topo
O
litoral do Estado do Rio de Janeiro corresponde à
porção norte da Plataforma Continental do
Sudeste (PCS) do Brasil. Esta área é marcada
pela presença da Corrente do Brasil, que transporta
águas quentes para o sul. Do encontro da Corrente
das Malvinas, de águas frias e ricas em nutrientes,
que se desloca no sentido sul-norte, com a Corrente do Brasil,
aproximadamente na altura da desembocadura do rio da Prata,
resulta uma massa de água denominada Convergência
Subtropical, que acarreta variações sazonais
nas condições ambientais marinhas no sul do
Brasil. Em conseqüência de tais variações,
ocorrem oscilações espaciais e temporais na
distribuição e abundância dos recursos
marinhos vivos da região (Vazzoler, 1975), sendo
considerada até mesmo uma região de transição
para a fauna, apresentando uma rica ictiofauna (Figueiredo,
1981).
Anjos
(1993) destacou o potencial de biodiversidade deste trecho
da costa brasileira, que apresenta quatro setores com alta
produtividade, os quais, à exceção
de Cabo Frio, são todos relacionados a sistemas estuarinos,
nas três maiores baías do Estado: baías
de Guanabara, Sepetiba e Ilha Grande.
A
baía da Ilha Grande caracteriza-se por apresentar
uma planície costeira pouco desenvolvida, uma linha
de costa de traçado irregular, onde se alternam pontas
rochosas e pequenas enseadas, baías e ilhas. Observa-se
ainda, a presença de manguezais desenvolvendo-se
em fundo de enseadas, em locais mais abrigados da influência
de ondas.
»
Os mamíferos e os répteis marinhos
»»»
O que são os Cetáceos?
Os
cetáceos pertencem ao grupo dos mamíferos
aquáticos representados pelas baleias, golfinhos,
botos, entre outros. A seguir, são apresentadas as
características das 14 espécies de cetáceos
registradas na baía de Ilha Grande:
»»»
Baleia-franca-do-sul (Eubalaena australis)
A
baleia-franca-do-sul é uma espécie endêmica
do hemisfério Sul. Os indivíduos realizam
grandes migrações latitudinais, ocupando,
durante o inverno e a primavera, período de reprodução,
águas costeiras da costa brasileira, sendo observada
do Rio Grande do Sul até o sul da Bahia (Lodi et
al., 1996). Na baía de Ilha Grande, a espécie
tem sido observada nos meses de inverno e primavera e os
registros reportados na literatura confirmam que a área
tem sido utilizada durante a migração. Observações
de pares mãe-filhote são mais comuns, embora
indivíduos solitários também sejam
vistos na região (Fragoso et al., 1995).
»»»
Baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae)
A
baleia-jubarte é encontrada em todos os oceanos e
realiza longas migrações latitudinais entre
as áreas de reprodução (baixas latitudes)
e alimentação (altas latitudes) (Jefferson
et al., 1993). A espécie utiliza águas brasileiras
para reprodução, principalmente durante os
meses de inverno e primavera. A região dos Abrolhos,
Sul da Bahia, é a principal área de concentração
da espécie no Brasil (Siciliano, 1997). Pares de
mãe e filhote têm sido observados na baía
de Ilha Grande. Os registros reportados na literatura evidenciam
que a baleia-jubarte utiliza a região durante sua
migração. Assim como a baleia-franca-do-sul,
o hábito costeiro expõe a espécie a
diversas ameaças, especialmente o envolvimento em
operações de pesca. Capturas acidentais de
indivíduos adultos e filhotes têm sido reportadas
para a região, sempre em redes de emalhar (Fragoso,
1995; Pizzorno et al., 1998).
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Baleia-de-Bryde (Balaenoptera edeni)
A
baleia-de-Bryde não realiza longas migrações
latitudinais. A espécie é encontrada em águas
costeiras e oceânicas em regiões tropicais
e subtropicais (Jefferson et al., 1993). Muito pouco se
conhece sobre a utilização do habitat e abundância
da espécie na costa brasileira. Contudo, a baleia-de-Bryde
parece estar presente ao longo de todo o ano na costa sudeste
do Brasil. Na baía de Ilha Grande, algumas observações
têm sido realizadas, incluindo relatos de predação
sobre cardumes de sardinha e um encalhe na década
de 80 (Fragoso et al., 1995).
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Baleia-minke (Balaenoptera acutorostrata)
A
baleia-minke possui distribuição muito ampla
e ocorre preferencialmente em águas oceânicas
(Jefferson et al., 1993). Na costa brasileira, a espécie
é raramente avistada em águas costeiras. Na
baía de Ilha Grande, os registros da espécie
são raros (Hetzel & Lodi, 1996).
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Cachalote (Physeter macrocephalus)
O
cachalote tem distribuição ampla, preferencialmente
em águas oceânicas (Jefferson et al., 1993).
No Brasil, a espécie é raramente avistada
em águas costeiras. Na baía de Ilha Grande,
o cachalote foi observado em uma única oportunidade
(Hetzel & Lodi, 1996).
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Falsa-orca (Pseudorca crassidens)
A
falsa-orca ocorre em águas oceânicas tropicais
e temperadas quentes (Jefferson et al., 1993). Devido a
esta distribuição, a espécie é
rara em águas costeiras. Na baía de Ilha Grande,
o único registro da espécie trata de um crânio
encontrado em uma praia da região (Fragoso, 1995).
»»»
Baleia-piloto-de-peitorais-curtas (Globicephala macrorhynchus)
As
baleias-piloto-de-peitorais-curtas são encontradas
em águas tropicais e temperadas quentes de todos
os oceanos, geralmente, em áreas oceânicas
(Jefferson et al., 1993). Assim como a falsa-orca, o hábito
oceânico da espécie é responsável
pela baixa freqüência de observação
da espécie em águas costeiras. Na baía
de Ilha Grande, existe um único registro da espécie,
reportado por Hetzel et al. (1994).
»»»
Orca (Orcinus orca)
A
orca é encontrada em todos os oceanos e mares, de
regiões polares até regiões equatoriais
(Jefferson et al., 1993).
Na
costa do Estado do Rio de Janeiro, a espécie parece
estar presente, preferencialmente, nos meses de primavera
e verão (Siciliano et al., 1999). Sua ocorrência
na baía de Ilha Grande também parece seguir
esta sazonalidade, além de estar relacionada à
ocupação oportunista da área em atividade
de forrageamento. Dentre os registros de Orca na baía
de Ilha Grande, destaca-se a observação de
indivíduos próximos a Ilha da Jipóia
e o encalhe de uma fêmea na Ilha Comprida. Os grupos
observados na baía de Ilha Grande têm sido
compostos de adultos imaturos e, em alguns casos, de filhotes.
As poucas informações disponíveis não
permitem definir o padrão de utilização
da espécie na baía de Ilha Grande, embora
haja indícios de que a espécie se alimente
na região.
»»»
Golfinho-comum (Delphinus sp.)
O
golfinho-comum ocorre em águas temperadas, tropicais
e subtropicais de todos os oceanos (Jefferson et al., 1993).
Na costa do Estado do Rio de Janeiro, a ocorrência
da espécie, que tem hábitos preferencialmente
oceânicos, parece estar relacionada a áreas
de alta produtividade.
Na
baía de Ilha Grande, já foram reportados encalhes
e observado o golfinho-comum (Fragoso, 1995) e a espécie
parece ocorrer de forma oportunista em função
da oferta de alimento e variação de fatores
oceanográficos.
»»»
Golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus)
O
golfinho-nariz-de-garrafa ocorre em águas temperadas
e tropicais de todos os oceanos (Jefferson et al., 1993).
A espécie possui hábitos oceânicos e
costeiros, habitando saídas de estuários na
região sul do Brasil (Pinedo et al., 1992). Na baía
de Ilha Grande, encalhes e observações da
espécie têm sido registrados (Fragoso 1995;
Lailson-Brito et al., 1998), e sua ocorrência parece
ser oportunista, em função da disponibilidade
de alimento e fatores oceanográficos, que influenciam
a distribuição da espécie.
»»»
Golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis)
O
golfinho-de-dentes-rugosos tem sido reportado como uma espécie
de hábitos oceânicos, que ocorre em águas
tropicais e sub-tropicais (Jefferson et al., 1993). No Brasil,
entretanto, tem sido freqüentemente observado em águas
costeiras (Lailson-Brito et al., 1996b). A espécie
é um dos delfinídeos mais freqüentemente
registrado na baía de Ilha Grande, seja por observação
ou por animais encontrados mortos nas praias da região
(Hetzel & Lodi, 1993; Fragoso, 1995).
Apesar
de estar sempre presente na região, a ausência
de estudos sistemáticos não permite o conhecimento
do uso da área pela espécie.
»»»
Golfinho-pintado-do-Atlântico (Stenella frontalis)
O
golfinho-pintado-do-Atlântico é uma espécie
endêmica do Oceano Atlântico, podendo ser encontrado
em águas costeiras e oceânicas de regiões
tropicais e sub-tropicais (Jefferson et al., 1993). Assim
como o golfinho-de-dentes-rugosos, a espécie é
freqüentemente registrada na baía de Ilha Grande,
seja por observação ou encalhes (Hetzel &
Lodi, 1993; Fragoso, 1995). Contudo, não se conhece
a área de vida e a utilização da área
por estes golfinhos.
»»»
Boto-cinza (Sotalia fluviatilis)
A
forma marinha do boto-cinza distribui-se em águas
costeiras do Atlântico Ocidental desde Santa Catarina
até a Nicarágua (Jefferson et al., 1993).
Na baía de Ilha Grande, o boto-cinza é o cetáceo
com maior número de registros e grupos de centenas
de indivíduos têm sido reportados na literatura
(Lodi & Hetzel, 1999). Diferentemente de outros botos,
a espécie utiliza a região ao longo de todo
o ano. Estudos pretéritos apontam para a existência
de áreas preferenciais de ocorrência da espécie
em algumas seções da baía, como nas
proximidades de Parati e da Ribeira.
»»»
Franciscana (Pontoporia blainvillei)
A
franciscana habita águas costeiras do Atlântico
Ocidental, da Argentina até o Espírito Santo
(Jefferson et al., 1993). A espécie é um dos
cetáceos mais ameaçados do litoral brasileiro
(Ibama, 2001). Esta condição é devida,
principalmente, à sua restrita distribuição
mundial e ao hábito costeiro que a torna vulnerável
aos impactos ligados às atividades humanas, especialmente
a captura acidental em redes de pesca.
Apenas
recentemente, a espécie foi registrada na baía
de Ilha Grande, por meio de três encalhes, dois deles
ocorridos nas proximidades de Itaorna (Azevedo et al., 2001).
Tais registros ampliaram os limites da distribuição
da espécie para o Estado do Rio de Janeiro, já
que o litoral sul fluminense era considerado uma área
de hiato na sua distribuição (Siciliano &
Santos, 1994; Zerbini et al., 2000).
As
poucas informações acerca da presença
da espécie na baía de Ilha Grande não
permitem um diagnóstico mais preciso de sua situação
na região. Contudo, a franciscana não costuma
realizar longos movimentos e, por isso, a espécie
deve estar presente ao longo de todo o ano nas águas
da baía de Ilha Grande.
Das
espécies registradas na região de Itaorna,
duas possuem hábitos exclusivamente costeiros, não
realizam longos movimentos e, provavelmente, utilizam a
região ao longo de todo o ano: o boto-cinza (Sotalia
fluviatilis) e a franciscana (Pontoporia blainvillei).
A
utilização da baía de Ilha Grande e
da região de Itaorna pela franciscana, espécie
cujo status de conservação é definido
como vulnerável, foi confirmada somente em 2001 (Azevedo
et al., 2002).
Dentre
as baleias que freqüentam a baía de Ilha Grande,
a baleia-franca-do-sul, durante sua migração
(meses de inverno e primavera) merece especial atenção.
Ela teve suas populações extremamente reduzidas
pela caça e a recuperação populacional,
atualmente, está ameaçada pela interação
com atividades humanas em águas costeiras rasas.
Na baía de Ilha Grande, pares de mãe e filhote
se expõem a uma série de ameaças, que
são representadas principalmente pelo emalhe em redes
de pesca e o molestamento intencional. Registros de mãe
e filhote desta espécie foram realizados recentemente
nas praias de Mambucaba e Itaorna. O período de permanência
dos indivíduos nesta região, variou de poucos
dias até uma semana. Devido às características
externas (ausência de nadadeira dorsal) e ao seu comportamento
de permanecer à deriva por longos períodos,
o risco de choques com embarcações e enredamento
em artefatos de pesca não deve ser desprezado, visto
haver registros anteriores na região.
»
Quem são os Quelônios?
Na
região, os únicos representantes de répteis
que utilizam o mar para se reproduzir ou sobreviver são
os quelônios – grupo representado pelas tartarugas
marinhas.
No
Brasil, ocorrem cinco das sete espécies de tartarugas
marinhas, todas consideradas ameaçadas (TAMAR, 1999).
No Sudeste, as áreas de desova localizam-se no Espírito
Santo e norte do Estado do Rio de Janeiro, e as demais áreas
da região são utilizadas para alimentação.
Alguns dados mostram que a costa da região Sudeste
é uma importante área para o desenvolvimento
do ciclo de vida das cinco espécies de tartarugas
marinhas que ocorrem no litoral brasileiro (Sanches, 1999).
Os
dados sobre quelônios na baía da Ilha Grande
são escassos. Contudo, a região pode ser uma
importante área de alimentação para
as tartarugas marinhas, como tem sido observado para o extremo
norte do litoral paulista.
Devido
às dificuldades de observação e identificação
das tartarugas durante cruzeiros de pesquisa, e à
ausência de áreas de desova, as informações
sobre a utilização da região baseiam-se
na captura acidental dos animais. O monitoramento das comunidades
costeiras pode fornecer informações sobre
a ocorrência das tartarugas, por meio de entrevistas
com habitantes da região, e também pela notificação
de animais que eventualmente se afoguem após enredamento
acidental.
A
baía da Ilha Grande reúne as características
necessárias para sua utilização como
área de alimentação das cinco espécies
de tartarugas marinhas, principalmente a tartaruga-verde
(Chelonya mydas). A presença da tartaruga-de-couro
(Dermochelys coriacea) já foi confirmada por encalhes
na Ilha Grande.
Nas
áreas de alimentação, as atividades
de pesca são a principal ameaça direta à
sobrevivência das tartarugas marinhas.
Levando-se
em consideração que as cinco espécies
estão ameaçadas, reforça-se a necessidade
de estudos básicos nesta região, a fim de
verificar os padrões de uso da área e sua
importância para as populações.
6.2.4.
Como se caracterizam os peixes da região? -
topo
Diversos
estudos realizados a partir da década de 1980, além
do Programa de Monitoração da Fauna e Flora
Marinhas (PMFFM), retratam a ictiofauna da região
sob diversos aspectos. Não foram constatadas alterações
substanciais na comunidade íctica, embora seja constatado
um incremento nas diversidades ao longo dos anos desde o
início do funcionamento da CNAAA.
A
partir de alguns dados (de 1980 até 1995, por Furnas),
foi sugerida a existência de um favorecimento para
o aumento em número e em proporção
de algumas espécies de peixes no saco Piraquara de
Fora, em detrimento de outras populações de
peixes, conforme a categoria de alimentação
e tamanho.
A
área adjacente a do lançamento do efluente
térmico apresenta uma ictiofauna menos diversificada,
constituída na maior parte por juvenis de espécies
de baixa seletividade ambiental, além de observar-se
um menor número de predadores.
»
Ictiofauna Marinha e Continental
Foram
registrados 57 espécies, com um total de 2.994 indivíduos
coletados através de rede de arrasto-com-portas nos
setores de Itaorna, Piraquara de Fora e Piraquara de Dentro.
Conforme
os levantamentos demonstraram, existe uma evidência
qualitativa de várias espécies de ocorrência
restrita a Itaorna. Neste local, os peixes também
se apresentam em maior diversidade de espécies. Foi
observada uma grande atividade, e diversidade particularmente
sobre os fundos de corais e entre as rochas, que formam
grande quantidade de abrigos para os peixes.
Quanto
às avaliações subaquáticas,
realizadas principalmente em Piraquara de Fora, essa se
mostrou como uma área de baixa diversidade, quando
comparada com o costão de Itaorna, principalmente
próximo ao ponto de lançamento do efluente
térmico, onde existe uma forte e contínua
corrente.
Todos
os resultados avaliados sobre a abundância e diversidade
da ictiofauna demonstram que o impacto do lançamento
do efluente termo-químico é extremamente localizado,
necessitando de ampliarmos as avaliações futuras
na área de Piraquara de Fora, ficando o monitoramento
de controle em Itaorna e Piraquara de Dentro.
»
Ictiofauna Dulcícola
A
região contribuinte à baía da Ilha
Grande, situada a sudoeste do Estado do Rio de Janeiro,
apresenta relevo acidentado e linha de costa bastante recortada.
Outra característica peculiar na bacia hidrográfica
da baía de Ilha Grande é a grande quantidade
de rios e córregos, com inúmeras quedas de
água e cachoeiras.
A
bacia em questão apresenta uma baixa riqueza de espécies,
quando comparada com as demais bacias do Estado (Bizerril
& Primo, 2001).
Não
se observaram diferenças estatisticamente significativas
entre os pontos das áreas tratadas e controle nos
rios estudados. Tal observação permite a inferência
de que os fatores associados às usinas não
exercerão influência na redução
da abundância da biota local.
6.2.5.
Unidades de Conservação -
topo
O
litoral sudoeste do Estado do Rio de Janeiro abriga importantes
remanescentes de Mata Atlântica protegidos em quatro
Unidades de Conservação principais: a Área
de Proteção Ambiental do Cairuçu, a
Reserva Ecológica da Juatinga e o Parque Nacional
da Serra da Bocaina, sendo esse último a maior Unidade
de Conservação Federal, que inclui esse tipo
de ecossistema.
Destaca-se
também a Estação Ecológica de
Tamoios, unidade de conservação de proteção
integral criada para a pesquisa e monitoramento da Mata
Atlântica, especificamente do ecossistema insular
marítimo e seu entorno aquático marinho.
Atualmente,
a região da bacia da baía de Ilha Grande é
a segunda microrregião em área de Unidades
de Conservação do Estado do Rio de Janeiro
(Mendonça et al.1996) e tornou-se uma importante
área de preservação a partir da criação
das seguintes Unidades de Conservação:
» Parque
Estadual da Ilha Grande (Decreto Estadual 16.067 de 04/06/1973),
Reserva Biológica da Praia do Sul (Decreto Estadual
4.972 de 02/12/1981), APAs (Área de Proteção
Ambiental) de Cairuçu (Decreto Federal 89.242 de
27/12/1983) e Tamoios (Decreto Estadual 9.452 de 05/12/1986),
Reserva Biológica da Ilha Grande (Decreto Estadual
9.728 de 06/03/1987) e Parque Marinho de Aventureiro (Decreto
Estadual 15.983 de 27/11/1990).
A
região, por possuir alta diversidade e elevado número
de espécies endêmicas e/ou ameaçadas
de extinção, está incluída em
um dos centros brasileiros de diversidade de plantas reconhecidos
pela WWF - World Wildlife Fund for Nature e IUCN –
International Union for Conservation of Nature and Natural
Resources (Davis et al., 1997). Apesar disso, as espécies
desta região, ainda estão pouco representadas
nos levantamentos, demonstrando lacunas no conhecimento
científico (Marques, 1997).
Entre
os principais processos de degradação dos
ecossistemas florestais da bacia da baía da Ilha
Grande estão o desmatamento, o corte de madeira de
lei, a caça, a retirada de palmito e plantas ornamentais,
a extração de terra, os aterros, a expansão
urbana e as atividades agropecuárias (SEMA, 1997).
A partir da análise de fotos aéreas e informações
da população local, constatou-se que, nas
baixadas e encostas adjacentes, a ampliação
de áreas de pastagem, o cultivo de monoculturas e
o crescimento urbano, têm sido os principais fatores
responsáveis pela descaracterização
da vegetação nos últimos quarenta anos.
A situação dessas terras, torna-se ainda mais
crítica, se for considerado que a maior parte de
sua área não está inserida em unidades
de conservação, além de estar sujeita
a uma das mais fortes pressões de especulação
imobiliária do estado.
6.3.
MEIO SOCIOECONÔMICO
- topo
6.3.1.
Como se caracteriza a área de influência da
CNAAA quanto ao seu patrimônio arqueológico,
natural e cultural?
- topo
A
região possui privilegiada paisagem e uma das poucas
faixas de Mata Atlântica que ainda restam no Brasil
cobrindo a Serra do Mar, o que estimula a criação
de áreas protegidas, voltadas à preservação
ambiental dos ecossistemas existentes.

Figura 27 - Igreja Matriz
Nossa Senhora dos Remédios, localizada no Centro
Histórico de Parati, tombada pelo IPHAN em 13/02/1962,
Parati - RJ.
Fonte: “Análise do ambiente
socioeconômico da área de influência
da CNAAA”, Science.
Os
diferentes momentos históricos pelos quais passou
a região deixaram uma grande herança artística
e cultural. Em Parati e Angra dos Reis há praças,
capelas, igrejas e fortes tombados pela sua importância
como marco histórico. A Fazenda Morcego, na Ilha
Grande, é tombada, e próximo a CNAAA, há
o conjunto arquitetônico da Vila Histórica
de Mambucaba, com diversas construções que
espelham a organização dos sítios urbanos
dos séculos XVIII e XIX, sendo destacável
a Igreja do Rosário. Esse conjunto foi reconhecido
como patrimônio histórico desde dezembro de
1969.
O
patrimônio arqueológico da região está
relacionado, principalmente, a marcos de grande importância
deixados por populações indígenas.
Na área de estudo haviam tribos Tupinambá
ou Tamoios (Tupi) e os Guaianá (não-Tupi),
que disputavam aquele litoral.
Os
Tupinambá faziam acampamentos no litoral em função
das expedições guerreiras que realizavam duas
vezes por ano, além da prática da pesca e
da coleta de moluscos. Os marcos arqueológicos foram
identificados em vários acampamentos no Rio de Janeiro,
em Guaratiba e na Baía da Guanabara.
Os
Guainá ocupavam as adjacências do território
que corresponde à faixa de Angra dos Reis até
o Rio Cananéia do Sul (SP). Ali tinham contato com
a tribo Carijó (Guarani), indo para o interior da
Serra da Mantiqueira e, ao norte o vale do Jequitinhonha;
ao Sul tomavam os Estado do Paraná, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul. Todo o território possuía
inúmeros caminhos, que ligavam pontos do interior
ao litoral, que foram utilizados mais tarde pelos colonizadores,
por muitos séculos, dando origem a algumas das estradas
utilizadas atualmente.
O
período de exploração do ouro também
proporcionou a formação de uma série
de caminhos pelo Sul Fluminense, embora grande parte das
trilhas usadas para o contrabando do ouro ainda fossem aquelas
feitas pelos índios da região.
Estão
registrados ainda vestígios de povos pré-colombianos
em variados sítios, revelados em sambaquis encontrados
e estudados na região.
De
acordo com levantamentos realizados pela Science para o
Estudo Ambiental de Angra 3, OLIVEIRA e AYROSA (1991) relatam
a identificação de um sambaqui e três
amoladores na região do saco Piraquara de Fora (Figura
28), nas imediações da praia do Velho. Apontam,
ainda, a existência de um bloco rochoso de granito
com marcas de uso para polimento na Ilha Sandri.
Do
período colonial e do império do Brasil, relatam
o encontro de ruínas, fundações de
uma construção (Figura 29), também
no saco Piraquara de Fora, que atribuem à residência
do Padre Salvador Francisco da Nóbrega, sesmeeiro
da região de Angra dos Reis em 1797. Do século
XIX apontam as ruínas de uma construção
à esquerda da anterior.
O
sítio arqueológico está sendo objeto
de estudos minuciosos por equipe de pesquisadores da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, com o patrocínio da
Eletronuclear.

Figura 28 - Polidores /Amoladores. Saco Piraquara de Fora.
Fonte: Eletronuclear.

Figura 29 - Fortificação. Saco Piraquara de
Fora.
Fonte:
Eletronuclear
Alicerces
de construções dos séculos XVIII e
XIX, localizados no saco Piraquara de Fora, também
serão estudados, buscando correlacioná-los
com os processos de ocupação pretérita
da região.
6.3.2.
Como se caracterizam as terras indígenas na área
de influência da CNAAA? -
topo
No
entorno da CNAAA, num raio de 50 km de afastamento, há
3 áreas indígenas e uma remanescente de quilombos.
Estas áreas estão relacionadas ao Parque Nacional
da Serra da Bocaína, duas na área denominada
Zona de Amortecimento e outra dentro do Parque. As reservas
da área de amortecimento são: os grupos Parati-Mirim
- Área de Proteção Ambiental Cairuçu,
no município de Parati e Guarani do Bracuí,
localizada no vale do rio Bracuí, no distrito de
Cunhambebe, em Angra dos Reis. A Reserva Indígena
Guarani-Araponga está situada no Parque, que está
inserido no município de Parati.
Estes
grupos vivem do extrativismo vegetal, da caça, da
lavoura de subsistência e da venda de artesanato.
O número de habitantes não é preciso,
em função da intensa mobilidade espacial destes
grupos.
O
Povo Guarani é mais numeroso, e se dedica à
agricultura, especialmente de milho, batata doce, aipim,
amendoim e erva-mate. A espiritualidade do grupo está
presente na música, embora sejam silenciosos. O idioma
falado é o Guarani, e por ele transmitem sua cultura
em lendas, crenças, músicas e expressões.
O artesanato é rico e cheio de significados estéticos
ao representarem neles a mata e os seres vivos.
A
localidade onde se encontra a reserva dos Guarani-Araponga
é considerada boa pelo grupo, porém, é
uma área pequena para o seu “modo de vida”
visto que a terra ou a delimitação territorial
para os Guaranis tem especial significado ao ser ali estabelecida
uma situação histórica e social.
No
passado, habitavam áreas em números muito
maiores e mais compatíveis com a qualidade de vida
do grupo. A Portaria nº 494, de 14 de julho de 1994,
do Ministério do Estado da Justiça delimitou
a Reserva Indígena Guarani-Araponga.
6.3.3.
Como se apresenta a dinâmica populacional das áreas
de influência da usina nuclear Angra 3? -
topo
A
AII-50 engloba 14 municípios paulistas e fluminenses.
A população total de todo este território,
segundo o IBGE (Censo Demográfico 2000), é
de 658.615 habitantes, sendo que mais de 18% desta população
está em Angra dos Reis (119.247 habitantes) e 4,49%
em Parati (29.544 habitantes), municípios diretamente
relacionados ao complexo da CNAAA.

Figura 30 - Áreas de Influência Direta e Indireta
de Angra 3.
Fonte: “Análise do ambiente
socioeconômico da área de influência
da CNAAA”, Science 2002.
Quase
90% da população dos municípios que
fazem parte da AII-50 ocupam a área urbana. De 1991
a 2000, em média, houve um crescimento populacional
urbano de quase 20%. Em Angra dos Reis, este crescimento
ultrapassou os 45% e em Mangaratiba, aproximadamente 52%.
Em
termos históricos, a região conheceu o apogeu
econômico inicialmente pelos caminhos do ouro, e após,
pela expansão cafeeira e da cana-de-açúcar.
Com o declínio dessas atividades e o fim do trabalho
escravo, a pecuária, o turismo e a indústria
passaram a caracterizar os movimentos de estruturação
da área.
Formam
as relações sociais de cunho econômico
as instalações para a infra-estrutura do turismo
e de lazer, a unidade para a geração termonuclear
da energia elétrica, terminais portuários
para exportação e importação
de produtos naturais e manufaturados e o uso agrícola
e florestal das parcelas do solo incorporadas ao processo
produtivo.
Atualmente,
Angra dos Reis e Parati são importantes centros turísticos,
que convivem com a deterioração de sua infra-estrutura.
A população de Angra dobrou entre as décadas
de 50 e 60, antecipando-se à dinâmica das transformações
que teriam início em 1972, com a construção
da BR-101, ligando o trecho litorâneo Santos-Parati-Angra
dos Reis-Rio de Janeiro. A obra, concluída em 1974,
estimulou a indústria do turismo na região,
que com seus hotéis, marinas, condomínios
e loteamentos, não só modificou por completo
a paisagem costeira, como se tornou o principal agente transformador
do ambiente natural da região.
Em
termos de ocupação urbana, na área
de influência direta, considerando a área mais
próxima da CNAAA, destacam-se a Vila Residencial
da Eletronuclear - mais um conjunto habitacional do que
uma vila, situado em Praia Brava, a Vila Histórica
de Mambucaba, sede do distrito de Mambucaba, o Hotel do
Frade e parte expressiva da vila do Frade, sede do distrito
de Cunhambebe, ambos distritos de Angra dos Reis. Ainda
em Mambucaba, próximo à foz do Rio Perequê,
destaca-se a localidade do Perequê, e no distrito
de Tarituba no município de Parati, a Vila Residencial
de Mambucaba, também da Eletronuclear.
A
ocupação das vilas caracteriza-se pelo convívio
de residências com pouca estrutura e condomínios
de alto padrão econômico e da rede lazer -
hotelaria. O processo de expansão urbana nos sítios
de ocupação tradicional, Mambucaba e Cunhambebe,
ameaçam os limites sul do Parque Nacional da Serra
da Bocaina e invade por completo a faixa de domínio
da BR-101.
Além
disso, existe uma pressão exercida sobre a infra-estrutura
de Angra dos Reis, por um crescente número de pessoas
que são atraídas pela oferta de empregos na
indústria do turismo (clubes, pousadas, hotéis,
e condomínios com serviços de hotelaria) e
em outras atividades e serviços relacionados com
a CNAAA.
A
absorção da mão-de-obra local e dos
municípios vizinhos, em especial, Rio Claro e Barra
Mansa, e o estímulo à vinda de trabalhadores
sem a família reduziria a permanência após
as obras, evitando a ampliação do contingente
de desempregados e a irregular ocupação das
encostas.
A
grande maioria das pessoas que migrou há pelo menos
11 anos para a região mais próxima da CNAAA
não dispõe de qualificação profissional
e pertence a um segmento que vive do setor terciário,
provavelmente prestação de serviços,
e deve representar os excedentes de mão-de-obra dos
empreendimentos Verolme, atual Brasfels, e Angra 1. Ainda
se tomando como referência o corte de 11 anos ou mais
de permanência, tem-se como principais agentes motivadores
do fluxo migratório as diversas etapas de implantação
da CNAAA, Angra 1, de 1973 a 1985, e Angra 2, iniciada em
1974. Mesmo não caracterizando exclusivamente a AID-5
km, não pode ser desconsiderada como agente facilitador
da imigração para a área a conclusão,
em 1976, do trecho municipal da BR-101. O contingente de
imigrantes forma a principal concentração
da AID-5 km, 59,5% da população desta área,
vindos principalmente de outras unidades da federação
(57%), enquanto que do Rio de Janeiro, (41,9%).
O
movimento migratório reduz sua intensidade entre
1992 e 1996, período que corresponde ao tempo de
residência entre seis a dez anos. Considerando que
as obras de Angra 2 foram retomadas em 1993, pode-se deduzir
que neste caso não houve o mesmo impulso demográfico
observado durante as obras de Angra 1, ou mesmo nas fases
iniciais de Angra 2.
Assim,
uma nova leva de migrantes escolheu Angra dos Reis como
local de moradia a partir de 1997, caracterizando um novo
grupo, com até cinco anos de residência. Este
novo impulso demográfico pode ser atribuído
ao crescimento observado na indústria do turismo,
fenômeno que caracteriza os municípios litorâneos
do Estado do Rio de Janeiro, onde é significativo
o aumento de domicílios de uso ocasional, como demonstram
os resultados do último censo realizado pelo IBGE.
6.3.4.
Como se caracterizam os distritos dos municípios
de Angra dos Reis e Parati em sua infra-estrutura? -
topo
»
ANGRA DOS REIS
Os
distritos que formam o município de Angra dos Reis
dispõem de serviço de saneamento básico.
O
tratamento do esgoto sanitário é realizado
em cinco distritos, e o seu destino final é a baía
da Ilha Grande. A limpeza urbana e a coleta de lixo contemplam
todos os distritos. No final, o lixo é depositado
em aterro controlado, usinas de reciclagem e usina de compostagem,
localizados dentro e fora do perímetro urbano.
Em
1991, segundo levantamento da Fundação Centro
de Informações e Dados do Estado do Rio de
Janeiro - CIDE, o município possuía 20.829
domicílios. O Censo Demográfico do IBGE, realizado
em 2000, o município possuía nesta data 50.604
domicílios, um aumento, portanto, de mais de 142%.
»»»
Saúde
Angra
dos Reis dispõe, atualmente, de três hospitais
credenciados pelo Sistema Único de Saúde -
SUS, sendo um deles do próprio município,
oferecendo 266 leitos em várias especialidades resultando
numa taxa de 2,4 leitos por mil habitantes, maior que a
taxa disponível na microrregião (2,2%). No
município existem 17 postos de saúde, quatro
clínicas particulares credenciadas pelo SUS, cinco
postos do Programa de Saúde Familiar (PSF) e um Programa
de Saúde ao Índio (PSI), totalizando 652 funcionários,
entre médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem
e pessoal administrativo.
Em
relação à infra-estrutura, as unidades
particulares oferecem 11 ambulatórios, 09 berçários,
05 centros cirúrgicos, 09 unidades para serviço
radiológico, 01 laboratório para análises
clínicas, 9 Unidades de Tratamento Intensivo e 01
farmácia para distribuição de remédios
gratuitos.
Vale
ressaltar que o atendimento médico no município,
devido à grande procura, não consegue atender
às reais necessidades da população,
levando a grande maioria a procurar os hospitais mais próximos,
entre eles o Hospital da Fundação Eletronuclear
de Assistência Médica (Feam) e o Hospital Maternidade
Codrato de Vilhena, ambos da rede particular.
Segundo
a Secretaria Municipal de Saúde, a carência
nas unidades hospitalares do município é significativa,
seja pela falta de infra-estrutura, seja pelo quadro de
funcionários admitidos em Angra dos Reis. Os empreendimentos
instalados no município, sobretudo a partir da década
de 1970, atraíram pessoas de baixo poder aquisitivo
e baixa qualificação profissional, que ocuparam,
inclusive, áreas sem os serviços básicos
de água e esgoto, contribuindo, desta forma, para
a proliferação de doenças e para o
aumento considerável no atendimento nas unidades
de saúde.
A
falta de informação, aliada à ausência
de saneamento básico adequado em muitos distritos
do município, representa uma das causas apontadas
pelo aumento do número de atendimentos na rede pública
municipal de saúde. Para reduzir esse quadro foi
criado o Programa de Saúde Familiar (PSF), que atende
as famílias carentes de forma preventiva, no sentido
de conscientizá-las dos cuidados e dos hábitos
necessários para reduzir o número de doenças.
Atualmente,
o município sofre com o intenso fluxo de pacientes,
tanto locais, quanto dos municípios próximos,
como Parati, que procuram as unidades hospitalares de Angra
dos Reis para um atendimento de boa qualidade. A grande
maioria recebe o atendimento necessário, sendo que
os casos de alta complexidade são encaminhados para
municípios vizinhos, como Volta Redonda, Resende,
Barra Mansa e Rio de Janeiro. Neste caso, os pacientes recebem
toda ajuda necessária, inclusive remédios
e o transporte por conta da Prefeitura, até o local
do tratamento.
Além
disso, está prevista a criação de um
programa pela Secretaria Estadual de Saúde, que deverá
regionalizar os serviços entre o município
de Angra dos Reis e os municípios da região
do Vale do Paraíba, no sentido de evitar o grande
afluxo de pacientes para a capital do Estado, contribuindo
para um atendimento mais rápido e eficaz. Enquanto
isso, a Secretaria Municipal de Saúde realiza uma
parceria com a Defesa Civil e o Colégio Naval, além
do Hospital de Praia Brava, que serve de referência
no atendimento de pacientes, sobretudo daqueles procedentes
de Parati e Mangaratiba.
Apesar
das dificuldades enfrentadas, as taxas de mortalidade no
município, diferentes daquelas observadas para o
Estado do Rio de Janeiro, entre 1997 e 2000, sofreram uma
redução significativa, embora ainda mereçam
atenção do poder público. Vale ressaltar
que as unidades de saúde têm condições
de atender a aproximadamente 90 mil pessoas, quando, na
verdade, a população já soma cerca
de 119.247 habitantes, sem considerar o período de
alta temporada, entre dezembro e março, quando a
população duplica e os casos de internação
tendem a aumentar.
Segundo
a Secretaria de Saúde, qualquer que seja o empreendimento
realizado no município, é fundamental que
se absorva e qualifique a mão-de-obra local. A saúde
não pode ser vista isoladamente, mas, sim como um
reflexo das condições sociais e ambientais.
Nesse sentido, deve haver um programa de qualificação
profissional que permita absorver e qualificar a mão-de-obra
local.
»»»
Educação
Em
2000 o município de Angra dos Reis contava com 80
estabelecimentos de ensino fundamental, que apresentava
27.467 matrículas. Quanto ao ensino médio,
o município contava com 18 estabelecimentos e 6.526
matrículas. O município de Angra dos Reis
conta com uma unidade de ensino superior da Universidade
Federal Fluminense que oferece o curso de pedagogia.
Em
função da pequena oferta de cursos superiores
no município, a grande maioria da população,
em especial, dos professores que atuam na rede pública
de ensino de Angra dos Reis se dirigem para municípios
vizinhos (Volta Redonda, Barra Mansa e Rio de Janeiro) em
busca de cursos profissionalizantes para aprimorar a sua
formação profissional.
Dados
da pesquisa socioeconômica realizada na região,
alcançando assim os distritos de Angra dos Reis (sede),
Cunhambebe e Mambucaba do município de Angra dos
Reis e Tarituba em Parati revelam que, dos 91.006 moradores
em domicílios particulares permanentes com idade
igual ou superior a 7 anos, 91% sabem ler e escrever e 9%
não sabem. A proporção entre homens
e mulheres que sabem ler e escrever é bastante semelhante.
A taxa mais alta de analfabetismo encontra-se entre os moradores
de Cunhambebe (10%) e, em contraposição, a
mais alta taxa de alfabetização entre os moradores
de Tarituba (98%).
A
taxa média de anos de estudo para o território
é de 6,4 anos, significando que a população
de 15 anos, ou mais, não completou o ensino fundamental.
Cunhambebe encontra-se na pior posição, com
uma população, nesta faixa etária,
cuja média de anos de estudo é de 5,7 anos.
Verifica-se
que há uma relação inversa entre a
média de anos de estudo e a idade refletindo a importância
cada vez maior do investimento em educação
para facilitar o acesso da população ao emprego.
As pessoas com 50 anos, ou mais, apresentam médias
de anos de estudo menores que as faixas de idade anteriores.
Em média, estas pessoas completaram apenas o primeiro
segmento do ensino fundamental. Em Cunhambebe nem esta média
é atingida (3,5 anos).
»»»
Comunicação
O
município de Angra dos Reis possui quatro agências
dos Correios.
Em
relação aos veículos de comunicação,
o município possui três estações
de rádio (uma AM e duas FM), além de sete
jornais, sendo seis de circulação semanal.
Entre as emissoras que apresentam programação
diária no município, encontram-se a Rede Globo,
Rede Bandeirantes, Record e o Sistema Brasileiro de Televisão
- SBT.
Em
2000, foram instalados no município, aproximadamente
4.500 terminais telefônicos, além de 119 telefones
residenciais e 66 centrais telefônicas.
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Segurança Pública
O
município conta com uma delegacia de polícia
(civil e militar), uma superintendência da Defesa
Civil, um subgrupamento do Corpo de Bombeiros e um Batalhão
da Polícia Florestal Militar.
O
subgrupamento do Corpo de Bombeiros é formado por
três grupamentos:
»
No distrito sede, contando com uma corporação
de 191 militares, dos quais 26 são oficiais;
»
No Frade, com 60 militares, sendo um oficial;
»
Em Mambucaba, que dispõe de 69 militares, sendo um
oficial.
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Rede Viária e Transporte
A
região possui uma única rodovia federal, a
BR-101, sentido de nordeste a sudoeste da CNAAA.
A
rodovia apresenta capeamento asfáltico recém
recuperado, boa sinalização e passarelas em
pontos críticos, localizadas nas áreas de
maior concentração urbana. Possui também
uma rodovia estadual que liga o município de Angra
dos Reis ao município de Rio Claro, a RJ 155. Os
caminhos vicinais são precários, normalmente
com revestimento de saibro, apresentando manutenção
deficiente, caso da Estrada do Sertão de Mambucaba
ou do Cativeiro, que se desenvolve a margem esquerda do
Rio Mambucaba, a partir dos limites norte do Parque Perequê,
até o Rio do Funil, afluente do Mambucaba pela margem
direita. Outros caminhos vicinais podem ser observados na
planície do Frade, dando acesso ao Sertãozinho
do Frade; na planície do Grataú; na planície
do Bracuí, dando acesso aos locais denominados Gamboa
Bracuí e Santa Rita do Bracuí.
Os
caminhos vicinais de acesso aos grandes condomínios
apresentam revestimento asfáltico em boas condições
de rodagem, que é o caso do Condomínio do
Frade e do Bracuí.
O
serviço de transporte é realizado pelas linhas
interestaduais, intermunicipais, municipais e circulares,
além de frotas de táxis e vans que circulam
pelo município, devido à carência de
veículos coletivos para atender a população
residente de Angra dos Reis. A empresa que realiza o transporte
urbano no município é a Senhor do Bonfim,
enquanto que a Empresa Colitur realiza o serviço
intermunicipal (entre Angra dos Reis e Parati). As cooperativas
de transporte alternativo dispõem de uma frota com
60 vans. O município conta ainda com uma cooperativa
de táxi, com uma frota de 54 carros.
O
serviço público de transporte marítimo
regular para a Ilha Grande, a partir do cais do porto, é
realizado em horários pré-determinados. Pequenas
embarcações promovem passeios marítimos,
sobretudo no período de alta temporada. No município,
existe também um aeroporto de pequeno porte construído
para receber pequenas aeronaves.
»
PARATI
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Saneamento Básico
Os
três distritos que formam o município de Parati
apresentam serviço de saneamento básico insuficiente.
A rede geral de distribuição de água
é realizada em apenas um distrito (sede). Nos distritos,
não existe o tratamento de esgoto sanitário.
A alternativa encontrada foi à utilização
de fossas sépticas e sumidouros. A limpeza urbana
e a coleta de lixo são realizadas em todos os distritos,
no entanto, o destino final do lixo é realizado em
depósitos a céu aberto, distante da cidade
e próximos às áreas de proteção
ambiental. O lixo é composto pelo resultado da limpeza
urbana, da coleta de lixo residencial e da coleta seletiva
(ainda em estágio inicial). Esses depósitos,
além do incômodo olfativo e visual, causam
a poluição das águas pelo chorume e
a poluição do ar pela fumaça de sua
combustão, além de propiciar ambiente para
a proliferação de insetos e doenças.
A
falta de investimento do governo, associada à ausência
de recursos, sobretudo da população rural,
pode ser um dos motivos que contribuem para o quadro atual
no município. Vale ressaltar que a coleta deficitária,
principalmente nos períodos de alta temporada, e
a inadequação das áreas de disposição
de lixo, criam verdadeiros “lixões” (vazadouros
a céu aberto).
Outra
grande preocupação é o lançamento
de resíduos de combustível, seja pelas embarcações
de pesca ou turismo, das quais vazam ou são despejados
no mar. Esses resíduos espalham-se por áreas
mais extensas do que os esgotos domésticos, poluindo
de maneira crescente as áreas ao redor das baías
ou enseadas de maior movimento.
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Saúde
Parati
dispõe de um hospital municipal credenciado pelo
SUS, oferecendo 48 leitos, o que resulta num quadro de 1,6
leitos por mil habitantes. Além do hospital, existem
12 postos de saúde localizados na zona rural, nos
quais são prestados serviços preventivos e
curativos. Vale ressaltar que o atendimento médico
no município não contempla as reais necessidades
da população, levando parte da clientela a
procurar os hospitais mais próximos, entre os quais
o Hospital da Praia Brava (pertencente a Eletronuclear)
e as unidades ambulatoriais localizadas no centro de Angra
dos Reis.
Se
o atendimento médico for realizado fora do município,
sobretudo nos casos de alta complexidade, as estatísticas
referentes aos óbitos poderão não registrar,
na sua totalidade, os casos ocorridos dentro do município.
A
carência no atendimento médico-hospitalar de
Parati exige, portanto, melhores condições
e unidades hospitalares capazes de oferecer um serviço
de boa qualidade no próprio município, evitando
deslocamentos desnecessários. Isto contribuirá,
também, para reduzir a sobrecarga no atendimento
realizado em Angra dos Reis que sofre com a redução
de investimentos e com a alta procura de pacientes oriundos
de municípios vizinhos, o que reduz a qualidade dos
serviços prestados.
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Educação
Considerando-se
a população residente no distrito sede de
Parati com sete anos ou mais de idade, o índice de
analfabetismo indica 9,1%. Tem-se um resultado maior no
índice de analfabetismo para o segmento feminino,
que apresenta 9,8%, contra 8,3% para o masculino.
Além
disso, apenas 5,4% da população residente
no distrito sede de Parati, têm 12 anos ou mais de
estudo o que equivale ao nível de ensino superior,
resultado este melhor que o distrito sede de Angra dos Reis.
Uma análise considerando os anos médios de
estudo indica que, dentre a população de 15
anos ou mais de idade, o número médio de anos
de estudo é de 6,6 para o total da população.
Se considerada a idade, observa-se uma diferença
significativa no segmento das pessoas com idade entre 15
e 49 anos (7,3 anos de estudo, em média) contra apenas
4,2 anos no segmento de 50 anos ou mais de idade. Sob a
ótica da população ocupada de Parati
o número médio de anos de estudo da força
de trabalho local, é ligeiramente superior à
média de escolaridade da população
brasileira adulta, que é de 6 anos.
Deve
ser ressaltado que essa ligeira superioridade, quando comparado
com a escolaridade da população adulta brasileira,
ainda está abaixo do nível de escolaridade
desejado.
Outro
aspecto a ser observado é a má distribuição
do nível de escolarização ressaltado
nas diferenças entre grupos de idade e sexo. Esse
fato, certamente aponta para a necessidade de se investir
na educação e aprimoramento do nível
educacional da força de trabalho atual e futura,
de modo a garantir maior produtividade bem como buscar amenizar
as dificuldades inerentes à inserção
no mercado de trabalho e minimizar as desigualdades sociais
existentes na área.
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Comunicação
Dentre
as emissoras que podem ser sintonizadas em Parati estão:
Rede Globo, TV Educativa, Rede Bandeirantes e Sistema Brasileiro
de Televisão - SBT (IBGE, 2000).
Atualmente,
o município possui uma estação de rádio
FM e um jornal de circulação semanal (Jornal
Comunitário de Parati). Além deste, existe
um jornal de circulação diária apresentando
as notícias, tanto da região da baía
da Ilha Grande, como do Vale do Paraíba Fluminense,
intitulado A Voz da Cidade, fundado em 1970. Parati possui
somente uma agência dos Correios.
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Segurança Pública
Existe
uma delegacia de polícia (civil e militar), uma superintendência
da Defesa Civil, uma companhia da Guarda Municipal e um
subgrupamento do Corpo de Bombeiros.
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Rede Viária e Transporte
A
Rodovia BR-101, que atravessa o município de Parati
no sentido norte-sul, dá acesso ao maior número
de localidades situadas nas adjacências do Parque
Nacional da Serra da Bocaina, atravessando seus limites
na região da divisa estadual entre Parati (RJ) e
Ubatuba (SP) e nas proximidades da Vila do Frade e do Perequê,
este no Distrito de Mambucaba, no município de Angra
dos Reis. Outra importante rodovia é a estadual RJ-165,
servindo de acesso para o município no sentido leste-oeste.
Além
das rodovias, encontram-se em Parati atracadouros e aeródromos.
O transporte rodoviário é realizado pelas
linhas interestaduais intermunicipais, municipais e circulares,
além de frotas de táxis e vans. O transporte
municipal urbano é realizado pela Empresa Colitur,
enquanto que a Viação Eval é a responsável
pelo transporte intermunicipal (realizado entre o Rio de
Janeiro, Angra dos Reis e Parati).
O
transporte coletivo é caracterizado por diversas
linhas de ônibus que ligam as vilas distritais à
sede municipal. A presença da BR-101 contribui para
a circulação entre sub-centros regionais e
a capital dos Estados do Rio de Janeiro e de São
Paulo. A freqüência de linhas e horários
mostra-se suficiente para o atendimento da demanda.
A
distribuição da energia elétrica é
atendida pelo sistema CERJ, atual AMPLA atingindo toda a
área urbana e rural.
6.3.5.
Quanto ao Lazer e Turismo, qual a dinâmica destes
setores e qual o seu efeito para os moradores dos municípios
de Angra dos Reis e Parati? -
topo
No
litoral do município de Angra dos Reis, a indústria
hoteleira foi o principal agente modificador do ambiente
natural que surgiu na década de 70 do século
passado, atingindo o seu clímax nos anos 80. Modificou
não apenas a paisagem costeira como se tornou o principal
agente das transformações espaciais. Algumas
das áreas de manguezais foram aterradas surgindo
na paisagem hotéis, condomínios, marinas e
loteamentos. Foi também responsável por alterações
significativas no corpo social, processo iniciado com a
valorização especulativa dos terrenos, como
é característico dos empreendimentos associados
ao capital imobiliário. Essas alterações
podem ser observadas com a redução das atividades
do setor primário como agricultura e a pesca pois
as terras foram transferidas para a atividade do turismo.
Nos dias atuais as atividades terciárias predominam
em Angra dos Reis, e o setor de comércio e serviço
é a segunda atividade econômica de maior expressão
no município.
O
Hotel do Frade e o Golf Resort formam um complexo de condomínios
e hotéis instalados na planície do Rio do
Frade, ao sul da Vila de Cunhambebe, ocupando 178 milhões
de metros quadrados de área. Trata-se de um empreendimento
turístico de grande dimensão iniciado nos
anos 70 do século passado e que no arranjo sócio-espacial,
contribui com a fixação de significativo contingente
populacional nas áreas periféricas de Cunhambebe.
Na
vila histórica de Mambucaba, distrito de Angra dos
Reis, existem pequenas pousadas com instalações
improvisadas, que atendem ao turismo sazonal intenso do
local.
A
população flutuante chega a se equiparar ou
até superar a população residente.
De acordo com o Censo Demográfico de 2000, 20,8%
dos domicílios de Angra dos Reis estavam destinados
ao uso ocasional.
Parati
conta com 164 estabelecimentos de hospedagem, totalizando
cerca de 5.580 leitos, aproximadamente. O município
apresenta tradição e grande potencial para
o desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo - cerca
de 44% dos turistas que visitam Parati durante o ano são
do Estado de São Paulo, que são beneficiadas
pelo desenvolvimento de eventos culturais e a criação
da estrada que liga Parati ao município de Cunha.
Especialmente em função da importância
das atividades ligadas à pesca e ao turismo, os serviços
portuários e de apoio náutico apresentam potencial
para crescimento no município. Isso demonstra que
os setores hoteleiros, voltados para o turismo, merecem
destaque nesses municípios mostrando a importância
das atividades deste setor.
O
turismo, apontado como a vocação natural do
município para o desenvolvimento, conta com 73 estabelecimentos
de hospedagem, totalizando 1.401 unidades habitacionais.
O comércio local está relativamente estruturado
para receber todo tipo de turista, com grande variedade
de hotéis e instalações para muitos
níveis de renda, inclusive os mais sofisticados,
que contam com cinco hotéis de grande porte.
A
pesquisa socioeconômica “Análise do ambiente
socioeconômico da área de influência
da CNAAA” realizada pela Science, constatou que o
baixo nível de escolaridade da população
interfere fortemente nos hábitos de lazer da população
pesquisada.
Dentre
as pessoas entrevistadas, com idade igual ou superior a
15 anos, cerca de 80% respondeu não praticar esportes
e atividades físicas, não ir ao cinema, nem
ao teatro. Pode-se afirmar, mediante a pesquisa “Análise
do ambiente socioeconômico da área de influência
da CNAAA” realizada pela Science, que assistir à
televisão e a fitas de vídeo é o lazer
mais frequente de 80% dos moradores, principalmente na faixa
etária entre 31 e 60 anos (43%), em todos os distritos
angrenses.
Em
segundo lugar, vem a opção de leitura de livros
e jornais, envolvendo 44% da população pesquisada.
Em seguida, receber e visitar amigos, com 42% dos moradores
indicando esta atividade entre as alternativas realizadas
habitualmente.
Analisando
agora os dados sobre os hábitos de freqüentar
praia em Angra dos Reis ou Parati, verifica-se que 42% dos
moradores dos distritos desta área de investigação
freqüentam e 58% não.
Entre
os distritos, os moradores de Tarituba freqüentam praias
em proporção maior que os demais (57%) e os
de Cunhambebe em proporção menor (36%). Entre
os freqüentadores das praias da região, a maioria
encontra-se nas faixas etárias compreendidas entre
0 e 19 anos e 20 a 39 anos.
Quanto
ao lazer no distrito sede de Parati, seguem algumas questões
relativas aos principais hábitos de lazer da população
residente, bem como os hábitos e usos que ela faz
das praias de Parati e Angra dos Reis.
Considerando-se
a população residente com 15 anos de idade
ou mais, observa-se que esta população usualmente
não pratica esportes e atividades físicas.
Apenas 23,1% declaram praticar esportes e desenvolver atividades
físicas.
Aqueles
que praticam esportes e atividades físicas o fazem
pelo menos duas vezes por semana e são, principalmente,
jovens (entre 15 a 30 anos).
Considerando-se
as demais alternativas apresentadas como hábitos
de lazer, pode-se afirmar que assistir televisão
e fitas de vídeo é a atividade preferida pelos
moradores de Parati.
No
sentido oposto, 93,6% declaram nunca ir ao shopping, 98,1%
ao cinema e 98,5%, a teatro e concertos.
Em
contrapartida, o hábito de visitar e receber amigos
é bastante expressivo dentre a população
residente com 15 anos de idade ou mais. Cerca de 41,3% declaram
freqüentemente visitar e receber amigos, enquanto 44,3%
às vezes visitam e recebem amigos e apenas 14,4%
declaram não praticar estas atividades sociais. Além
disso, assistir e participar de eventos religiosos também
é uma atividade praticada entre 52,8% dos moradores
de Parati.
Mais
de 48% dos moradores de Parati declaram freqüentar
praias em Parati e Angra dos Reis e a maioria dos freqüentadores
encontra-se na faixa etária compreendida entre 20
e 39 anos.
6.3.6.
Qual a percepção das populações
dos municípios de Angra dos Reis e Parati frente
às suas condições de vida e como se
configuram suas organizações sociais? -
topo
»
ANGRA DOS REIS
Os
resultados da pesquisa Análise do Ambiente Socioeconômica
da Área de Influência da CNAAA, realizada pela
Science na região, revelam a opinião dos moradores
sobre as condições de vida no município
de Angra dos Reis. A questão chave é a percepção
quanto à melhora, manutenção ou piora
das condições de vida no município
nos últimos anos. Destaca-se o alto percentual (48%)
de moradores que consideram que houve mudanças positivas
em relação às condições
de vida no município de Angra dos Reis. Dentre os
que consideram que não ocorreram mudanças
nas condições de vida no município,
14% tinham, em março de 2002, entre 31 e 60 anos.
É também nessa faixa etária que se
concentra o maior número de moradores que declararam
que as condições de vida no município
pioraram. Dos que consideram que houve melhora nas condições
de vida, 60% atribuem esta situação aos investimentos
governamentais e 16% atribuem as melhores condições
à melhoria nos serviços públicos.
Os
resultados apresentados demonstram que, tomando a área
de influência direta como um todo, e considerando-se
a população de 15 anos de idade ou mais, a
avaliação das condições de vida
do município de Angra dos Reis é positiva.
Contudo, há que se extender à mesma avaliação
a um nível territorial mais amplo, neste caso, os
distritos, para que estas conclusões sejam confirmadas,
considerando-se as desigualdades sociais e econômicas
existentes entre os distritos. Neste caso, vale mencionar
que no distrito de Cunhambebe, 54% dos moradores revelaram
ter havido melhora nas condições de vida.
Em relação aos que declararam que as condições
pioraram, Mambucaba apresenta a mais alta taxa: 28%.
Em
se tratando da posse de documentos pessoais, esta pode facilitar
a organização e mobilização
da população local. A pesquisa registrou que
85% dos moradores dos distritos de Angra dos Reis têm
carteira de identidade, carteira de trabalho, CPF/CIC, certificado
de reservista (para moradores do sexo masculino com 18 anos
ou mais) e título de eleitor, ou seja, a documentação
básica para qualquer cidadão.
A
análise dos resultados quanto ao grau de associativismo
dos moradores com 15 anos de idade ou mais na área
da pesquisa, que vivem em domicílios particulares
permanentes, revela o baixo grau de participação
comunitária dos moradores. Estas associações
e/ou mobilizações são elementos fundamentais
no exercício da cidadania e podem resultar, numa
motivação para o associativismo. Além
disso, está ligada diretamente ao fomento de uma
melhor condição de vida da população
no território.
Dentre
os que declararam participar de alguma entidade, a maioria
informa estar ligada à associação de
moradores, e, em segundo lugar, a algum movimento religioso.
»»»
PARATI
No
que tange à percepção quanto às
condições de vida no município de Parati,
o custo de vida e a violência são algumas das
desvantagens de morar no distrito sede de Parati, citadas
pelos moradores de 15 anos de idade ou mais.
Quanto
às condições de vida, 45,6% da população
de 15 anos de idade ou mais, avaliam que não ocorreram
mudanças significativas nas condições
de vida nos últimos anos no município de Parati.
Para 30,1%, houve mudanças positivas e 24,2% avaliaram
que as condições pioraram.
Entretanto,
se analisados os resultados por distrito, os habitantes
de Tarituba têm uma avaliação mais positiva
que aqueles residentes no distrito sede (Parati).
Dentre
aquelas pessoas que consideram que houve melhora nas condições
de vida, 30,8% atribuem esta situação às
melhorias nos serviços públicos, enquanto
para 29,8%, aos investimentos governamentais, 9,8%, aos
benefícios patrocinados por empresas privadas; 13,4%
atribuem a melhora na qualidade de vida à geração
de novos empregos. De um modo geral, a avaliação
das condições de vida no município
de Parati é positiva.
Uma
análise no tema da cidadania indica que 80% dos moradores
de Parati têm a documentação básica
para qualquer cidadão, carteira de identidade, carteira
de trabalho, CPF / CIC e título de eleitor. Já
a carteira de reservista foi declarada por apenas 36,8%
da população residente com idade superior
a 18 anos, e a carteira de motorista foi declarada por 27,3%
dos moradores paratinenses.
A
análise dos resultados quanto ao grau de associativismo
dos moradores de Parati com 15 anos de idade ou mais, revela,
como em Angra dos Reis, baixo grau de participação.
Dentre
os que declaram participar de alguma entidade, 84,4% informam
estarem ligados à associação de moradores,
enquanto 20,9% se dizem associados a movimentos religiosos;
19,9% a associações filantrópicas e
13,6% a algum órgão / associação
ligada a movimentos ambientalistas.
Para
10,5% dos moradores de Parati, para o exercício da
cidadania é importante a vinculação
a um sindicato ou a algum órgão de classe
(principalmente entre o segmento de pessoas com idade entre
31 e 60 anos).