4. POR QUE USINAS NUCLEARES? (JUSTIFICATIVAS PARA A IMPLANTAÇÃO DE ANGRA 3)
4.1. JUSTIFICATIVAS TÉCNICAS
4.2. JUSTIFICATIVAS ECONÔMICAS
4.3. JUSTIFICATIVAS SOCIOAMBIENTAIS
4.4. JUSTIFICATIVAS LOCACIONAIS

4. POR QUE USINAS NUCLEARES? (JUSTIFICATIVAS PARA A IMPLANTAÇÃO DE ANGRA 3)

A energia elétrica pode ser gerada a partir de fontes renováveis e não renováveis. As fontes renováveis são a água, o sol, o vento, o mar e a madeira, utilizados para a geração de energia hidrelétrica, eólica, das marés e geotérmica. As não renováveis são o carvão mineral, o gás natural, os derivados de petróleo e o urânio, empregados na geração térmica de energia elétrica.

4.1. JUSTIFICATIVAS TÉCNICAS - topo

Das usinas que utilizam fontes renováveis, as hidrelétricas são as únicas opções viáveis técnica e economicamente para a geração de grandes blocos de energia elétrica firme. As demais, em que pese a possibilidade de seu emprego no atendimento a pequenas demandas em regiões que possuam condições naturais adequadas, não são uma opção garantida de produção contínua de energia elétrica. A luz solar e os ventos são intermitentes, exigindo nas usinas uma capacidade extra de acumulação de energia, para que o fornecimento seja confiável. Por sua vez, a biomassa requer uma área de extensão considerável (400.000 ha para cada 1.000 MWe gerados) para o plantio de árvores. E, a geração de energia a partir das marés, ainda não dispõe de tecnologia suficientemente desenvolvida.

Das usinas que utilizam fontes não renováveis, as melhores opções no caso do Brasil são as usinas nucleares e a gás natural, tendo em vista as limitações das reservas nacionais dos outros combustíveis fósseis e a existência de reservas significativas, além de comprovadas, de gás natural e de urânio.

A fonte térmica para a geração de energia elétrica nas usinas nucleares é a fissão nuclear a partir do elemento químico urânio. Diversos são os tipos de reatores nucleares que produzam calor, para gerar energia elétrica, a partir da fissão nuclear do urânio. No Brasil, as usinas de Angra 1 e Angra 2 utilizam reatores do tipo PWR. Este tipo de reator utiliza o urânio enriquecido e a água leve como refrigerante.

Os reatores do tipo PWR foram desenvolvidos nos Estados Unidos e são utilizados em 27 países, compreendendo 60,37% dos reatores nucleares instalados no mundo. De toda a energia produzida em todas as usinas nucleares do mundo, cerca de 65% são geradas por esse tipo de reator. Das 25 usinas nucleares em construção em agosto de 2004, 56% serão equipadas com reatores do tipo PWR.

Nos Estados Unidos, país detentor do maior parque gerador de energia nuclear do mundo, atualmente com 104 usinas em operação e 98.298 MW de potência instalada em 2003, foi estabelecido um conjunto de ações destinadas a fortalecer a geração de energia nuclear, que inclui a ampliação em cerca de 20 anos da vida útil das unidades em operação, o desenvolvimento de reatores mais econômicos, seguros e não poluidores e o estabelecimento de Yuka Mountain como local de disposição definitiva dos rejeitos radioativos de alta radioatividade, provenientes de todas as atividades nucleares do país (militares, energéticas, industriais e de saúde). Até setembro de 2004, 26 usinas já haviam tido aprovação para ampliação de suas vidas úteis, somando-se assim 22.795 MW de potência, e outras 19 usinas aguardavam a liberação pelo órgão regulador americano – Nuclear Regulatory Comission (NRC).

As usinas PWR, especialmente as projetadas e construídas pela Siemens/KWU, têm apresentado um ótimo desempenho operacional, tanto no que diz respeito à quantidade de energia elétrica gerada, quanto em relação ao fator de disponibilidade acumulado. As dez maiores usinas geradoras de energia elétrica nuclear do mundo são do tipo PWR, sendo que as três primeiras delas e outras cinco são usinas alemãs da Siemens/KWU.

A maior aceitação dos reatores do tipo PWR é atribuída à sua confiabilidade, proporcionada pelo rigor dos princípios de segurança que são aplicados ao projeto, à operação e à manutenção das usinas, e a economicidade, proporcionada pela economia de escala decorrente da construção de reatores de grande porte, pela padronização e a conseqüente redução do tempo de construção, licenciamento e por sua estrutura relativamente simples e compacta, graças à utilização de urânio enriquecido como combustível e às propriedades térmicas e neutrônicas favoráveis da água leve, usada simultaneamente como refrigerante e moderador.

Quanto à segurança na geração nuclear, cabe salientar que, por todo o exposto acima e tendo em vista a experiência de países tecnologicamente mais adiantados, como Estados Unidos, França, Japão e Alemanha, a adoção pelo Brasil de usinas dotadas de reatores do tipo PWR é a mais correta.

4.2. JUSTIFICATIVAS ECONÔMICAS - topo

A característica fundamental do Sistema Elétrico Brasileiro, que o particulariza e o diferencia de outros países, é que quase 90% da capacidade de geração instalada é de origem hidráulica.

Entretanto, as lições aprendidas a partir do racionamento de energia elétrica imposto à população brasileira no período entre junho de 2001 e fevereiro de 2002 recomendam uma maior diversificação da sua matriz elétrica, visando diminuir a grande dependência de fatores sazonais a que a hidroeletricidade está submetida.

Alie-se a essa questão, o fato de que as fontes hídricas mais econômicas e mais próximas às regiões de maior consumo - Sudeste e Sul - já vêm sendo utilizadas em sua maior parte e tendem a se esgotar no médio prazo. As grandes reservas ainda disponíveis encontram-se localizadas na Região Amazônica, cujo aproveitamento exigirá gastos consideráveis na implantação, e na construção de linhas de transmissão, que, devido à distância aos grandes centros consumidores, acarretarão significativas perdas de energia, contribuindo para aumentar os custos, inclusive os custos compensatórios por perdas de ecossistemas pela passagem da linha de transmissão (LT), e das suas áreas laterais de segurança. Além disso, existe o alto custo pela quantidade de equipamentos necessários à construção e manutenção da LT.

Descartando-se a década de 80, que apresenta uma taxa de elasticidade fora do padrão, podese considerar que a tendência do crescimento do consumo de eletricidade se manterá cerca de 40% superior ao crescimento do PIB. Portanto, assumindo que o crescimento econômico médio do país nesta década situe-se em 4,5% ao ano, conforme projeções de especialistas econômicos, o crescimento do consumo elétrico deverá situar-se em torno de 6% ao ano.

Logo, visando garantir suplementos de geração que correspondam a esse crescimento de consumo projetado, o Governo busca formas para diversificar a matriz elétrica nacional, cujo maior exemplo é o Programa Proinfa, no qual está prevista a utilização de diversas fontes energéticas, como por exemplo, a energia eólica e a biomassa, bem como o aproveitamento de pequenos recursos hídricos, por meio das PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas.

Outra opção para a diversificação da matriz é a utilização de fontes térmicas convencionais, representadas principalmente pelo carvão mineral, pelos derivados do petróleo, pelo gás natural e pelo urânio.

Das fontes térmicas comerciais disponíveis para a geração de energia elétrica em grandes blocos, o urânio destaca-se como o de maior conteúdo energético por quilograma. Este dado significa que, quando se compara o custo de produção de energia de todas as fontes térmicas, a que utiliza o urânio é a de menor custo de produção em relação às outras, excetuando-se as que utilizam gás natural, em que os custos de produção se equivalem.

Tabela 5 - Conteúdo energético dos principais combustíveis

Combustível
Pode Produzir Cerca de
1 kg de madeira
2 kWh
1 kg de carvão
3 kWh
1 kg de óleo
4 kWh
1 m3 de gás natural
6 kWh
1 kg de urânio natural Usina nuclear com reator do tipo PWR
60.000 kWh
Usina nuclear com reator do tipo FBR(*)
3.000.000 kWh

(*) FBR – Fast Breeder Reactor.
Fonte:
International Nuclear Societies Council, Report on nuclear power.

Soma-se a isto o fato que o Brasil tem uma das maiores reservas de urânio do mundo ocidental: 309 mil toneladas identificadas em apenas um quarto do território brasileiro (INB, 2001), quantidade suficiente para alimentar 32 usinas nucleares equivalentes a Angra 3 por toda sua vida útil.

Outras justificativas econômicas para a construção de Angra 3:

» Orçamento para conclusão compatível e comparável àqueles oriundos da implantação de usinas nucleares de mesmo porte no exterior;

» Recuperação econômica dos investimentos já realizados (cerca de US$ 750 milhões);

» Interrupção do processo de gastos anuais sem retorno, da ordem de US$ 20 milhões, para a estocagem e conservação de equipamentos e outras despesas (seguros, estruturas, etc.);

» Minimização, comparativamente à geração térmica a gás natural, do risco cambial e do impacto na balança de pagamentos, devido a:

»
»» Uso de combustível de baixo custo e que apresenta somente uma pequena
parcela da sua composição em moeda estrangeira;

»
»» Maior parcela do investimento ainda a ser realizado em moeda nacional.

» Aumento de encomenda à Nuclep (fábrica de equipamentos pesados, criada no âmbito do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, localizada em Itaguaí, RJ), impulsionando sua viabilidade econômica e reduzindo os gastos com recursos orçamentários do Tesouro Nacional;

» Aumento de encomendas em fabricantes e construtores nacionais, com a conseqüente criação de empregos;

» Aumento da receita e garantia de escala econômica à Indústrias Nucleares do Brasil S.A - INB, fabricante do combustível nuclear;

» Desoneração do Tesouro Nacional do custeio às atividades operacionais da INB;

» Utilização do urânio, matéria prima estratégica nacional, beneficiada no país, cujas reservas são a sexta maior em níveis mundiais.

4.3. JUSTIFICATIVAS SOCIOAMBIENTAIS - topo

As fontes com maior potencial de geração hídrica encontram-se na Amazônia, que reúne cerca de 43% do potencial hidrelétrico nacional. Nessa região, que abrange as regiões Norte e Centro-Oeste do país, os rios são caudalosos e a superfície é bastante plana, e pela pouca presença de deltas na região, poucas áreas poderiam ser aproveitadas sem grandes inundações. Qualquer barragem inundaria grandes áreas, o que exigiria a desapropriação de grandes extensões de terras e o deslocamento das populações nelas instaladas. Além disso, a Amazônia concentra uma enorme riqueza biológica e uma grande área protegida na forma de terras indígenas. Assim, a formação de grandes reservatórios certamente traria fortes conseqüências negativas para o meio ambiente.

Em relação às usinas termelétricas a carvão, a fonte de geração de energia elétrica mais utilizada no mundo e responsável por cerca de 40% de toda a energia elétrica gerada no planeta, as vantagens das usinas nucleares sobre elas, em termos ambientais são significativas. Em comparação com uma usina termelétrica moderna, que utiliza carvão pulverizado e técnicas avançadas de redução de emissão de poluentes. Uma usina nuclear do porte de Angra 3 evitaria a emissão anual para a atmosfera de cerca de 2,3 mil toneladas de material particulado, 14 mil toneladas de dióxido de enxofre, 7 mil toneladas de óxidos de nitrogênio e 10 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Em comparação com uma usina termelétrica a gás, as emissões anuais evitadas por uma usina nuclear do porte de Angra 3 seriam de cerca de 30 toneladas de dióxido de enxofre, 12,7 mil toneladas de óxidos de nitrogênio e 5 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

As usinas nucleares contribuem para diminuição do efeito estufa, um problema global hoje em ênfase, que vem sendo objeto de estudos científicos e com preocupação mundial quanto ao futuro do planeta (Protocolo de Quioto).


Figura 17 – Comparação de usina nuclear com usina a carvão.
Fonte:
SIEMENS (*) MP = material particulado


Figura 18 – Comparação de usina nuclear com usina a gás.
Fonte:
International Nuclear Societies Council

Outro aspecto a ser considerado é a área necessária para a implantação de cada tipo de usina.

Para efeito de comparação, apresentamos na Tabela 6 abaixo as áreas requeridas para a implantação de usinas que utilizam fontes de geração renováveis (Hidrelétricas) e não renováveis (Termelétricas), com 1.000 MWe de capacidade, verificando-se que as primeiras exigem áreas muito maiores que as segundas, acarretando, conforme o caso, gastos com desapropriações e com indenização de benfeitorias, deslocamento de população, alagamento de áreas naturais ou produtivas e descaracterização da flora e da fauna, com impactos sociais e biológicos significativos.

Quanto a esses aspectos, as usinas que utilizam fontes não renováveis são mais favoráveis, pois ocupam áreas muito menores, e podem ser implantadas em locais onde esses impactos sejam menores ou não ocorram, além da proximidade aos centros de consumo, com economia em termos de linhas de transmissão.

Para suprir todos esses impactos gerados pela inundação, deslocamento das populações e pela perda da diversidade das espécies, nos projetos hidrelétricos serão exigidos programas ambientais compensatórios de replantios, de infra-estrutura e atendimentos sociais que alterarão o custo do empreendimento e das tarifas inerentes ao mesmo, e que no fundo serão repassadas à população em geral.

Além disso, a eutrofização que ocorre nessas barragens produz gases e também altera a qualidade da água ajusante da represa impactando as populações ribeirinhas.

Por isso, e por tantas considerações, a energia nuclear com todos os seus custos embutidos pela segurança, pelos equipamentos, pela tecnologia e pelo treinamento técnico de seu pessoal, ainda é sem dúvida uma Usina sem grandes comprometimentos com a degradação ambiental, desde que os seus rejeitos estejam sob controle, como demonstrado nesse estudo, e que seu nível de risco de acidentes seja extremamente remoto, como comprovado em operações desse tipo de usina, sem comprometimento à área externa da usina.

Tabela 6 - Áreas necessárias para a implantação de usinas com 1.000 MWe de capacidade

Fonte de energia
Tipo de usina
Área necessária (ha)
Renovável (*) Hidrelétrica.
25.000
Solar foto-voltaica, em local muito ensolarado.
5.000
Eólica, em local com muito vento.
10.000
Biomassa plantada.
400.000
Não renovável Óleo e carvão, incluindo estocagem de combustível.
100
Nuclear e gás natural.
50

(*) Valores indicativos, visto que a área depende da topografia do local de implantação.
Fonte:
International Nuclear Societies Council

As demais fontes renováveis de energia são inviáveis para a geração de grandes quantidades de energia, além de dependerem de fenômenos naturais não controláveis, (como é o caso da energia solar e da energia eólica) e de áreas excessivamente grandes, no qual a energia geotérmica é o exemplo extremo. As fontes térmicas constituem opções viáveis para complementar a demanda de energia, em especial nos períodos hidrologicamente desfavoráveis.

Entretanto, à exceção das usinas nucleares, acarretam danos ambientais consideráveis ou dispêndios, também consideráveis, para o controle das emissões de poluentes.

Adicionalmente, as usinas nucleares podem ser instaladas nas proximidades dos centros de consumo, dispensando extensas linhas de transmissão e evitando o transporte de grandes fluxos de energia entre regiões; não dependem de fenômenos naturais, como o regime hídrico, o que facilita as compensações de potência reativa, ou seja, as regulações de tensão elétrica; e necessitam de áreas pequenas para sua implantação, o que reduz sobremaneira ou até elimina os impactos sociais relacionados ao deslocamento de população.

No caso de Angra 3 em particular, há uma vantagem adicional, que é o fato de a usina estar projetada para ser implantada em local onde já se encontram em operação duas outras usinas nucleares, que dispõem de pessoal com cultura consolidada em termos de proteção e segurança, e com cerca de 30 anos de experiência técnica na área.

Além do mais, estando a usina no sítio da CNAAA, se evitará a degradação do meio ambiente local quanto aos meios físico, biótico e antrópico, ao menos no aspecto da ocupação física do empreendimento e seus efeitos diretos.

Especificamente na área social, a implantação de Angra 3 resultará na criação de maiores oportunidades de trabalho em âmbito regional: terá uma média de 3.613 empregos anuais, atingindo-se um total máximo de 9.100 empregos na fase de pico da construção da usina, dos quais 5.700 associados à montagem eletromecânica. Para a fase de operação, a usina deverá proporcionar aproximadamente 770 empregos por toda a vida útil, sem contar o âmbito nacional, com a crescente participação da mão-de-obra e tecnologia próprias, em virtude da criação de programas de nacionalização e qualificação de peças e componentes em processo de contínuo desenvolvimento.

4.4. JUSTIFICATIVAS LOCACIONAIS - topo

Desde o início da implantação de usinas nucleares no Brasil, a área ocupada pela CNAAA foi dimensionada para comportar três unidades, duas das quais – Angra 1 e Angra 2 – já se encontram em operação. A terceira será Angra 3.

A escolha final do sítio de Angra 1, precedida de estudo de alternativas ao longo do litoral, de dezoito meses de duração, obedeceu à “Norma para Escolha de Locais para Instalação de Reatores de Potência”, objeto da Resolução CNEN – 09/69, de 25 de junho de 1969.

Itaorna, localizada no município de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro, foi escolhida por estar situada em uma baía protegida, em área de baixa densidade populacional, de condições geológicas favoráveis e próxima dos centros de abastecimento e consumo.

A implantação das três unidades no mesmo local, objetivou maximizar o aproveitamento da infraestrutura necessária ao funcionamento das usinas, incluindo os recursos logísticos, técnicos e de mão-de-obra especializada.

Além disso, a CNAAA se encontra a 190 km da Fábrica de Elementos Combustíveis (FEC) do Complexo Industrial de Resende (CIR), pertencente à Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e próxima dos principais centros consumidores de energia elétrica do país (133 km da cidade do Rio de Janeiro, 216 km da cidade de São Paulo e 343 km da cidade de Belo
Horizonte).