A pandemia provocada pelo coronavírus não só mudou a rotina das pessoas e dos hospitais como jogou luz a uma série de situações pessoais e emocionais que estavam camufladas em meio aos hábitos anteriores à covid-19. Sensibilizada pela demanda extraordinária que foi necessária durante esse período, a direção do Hospital de Praia Brava (HPB) abraçou um projeto que busca dar suporte psicológico aos médicos, gestores da unidade e demais colaboradores. A ideia é garantir um entendimento maior sobre como está sendo trabalhado o equilíbrio emocional de quem trabalha pelo bem-estar da população.
O gerente de enfermagem, Glécio Gonçalves, relata que a pandemia abalou os profissionais da saúde principalmente na questão social. “As pessoas ficam com medo de nos encontrar e nós ficamos com medo de encontrar nossos amigos e familiares. Isso fragilizou demais o nosso lado emocional”, relata.
Assim, há cerca de um mês nasceu o “Projeto covid-19: cuidando daqueles que cuidam”, quando foi contratada a psicóloga Luiza Helena Neves para ajudar os colaboradores da Feam a entenderem a importância do autoconhecimento e autoanálise, na busca pela preservação da saúde mental. Os encontros estão sendo feitos no auditório do HPB, sempre às terças e quintas-feiras, com um grupo reduzido de forma a evitar aglomeração. Alguns temas sensíveis estão sendo levantados como autossabotagem, a honestidade consigo mesmo e com o próximo, a qualidade dos pensamentos, a motivação e o medo.
A proposta é atuar em duas frentes. Além de amparar, por meio de suporte psicológico, os profissionais da Feam que já tiveram a covid-19, o projeto visa ainda capacitar as lideranças do HPB a fim de que perceberem os momentos de fragilidade de seus subordinados. Num primeiro momento, foi feita um diagnóstico entre os participantes, através de uma Mapa de Autoavaliação Sistêmico (MAAS). A ideia é estimular os colaboradores a pontuarem de 0 a 10 todos os aspectos que podem garantir a satisfação pessoal, entre eles: questões familiares, sociais, emocionais, conjugais, espirituais, profissionais e de saúde.
A psicóloga revela que ficou surpresa com a sinceridade dos participantes durante a primeira fase do projeto. “Senti que todos entenderam a necessidade de sempre buscar aperfeiçoamento. Não podemos deixar o nosso bem-estar na mão de outras pessoas. Nós somos os responsáveis pela nossa capacitação”, destacou Luiza.
Ela ressalta, ainda, que é preciso identificar quais obstáculos comprometem a evolução pessoal e afirma que muitos dos entraves podem ser dissolvidos com o autoconhecimento. “A pessoa precisa perceber se é insistente demais, se é vítima o tempo todo ou se é extremamente controladora. Esses aspectos ajudam o indivíduo a traçar metas e equilibrar seu comportamento”, finaliza a responsável pelo projeto.
A gerente de Recursos Humanos do HPB, Vanessa Dias, revela que o trabalho está sendo muito bem aceito justamente porque a iniciativa veio da área técnica. Os médicos e toda a equipe de enfermagem enxergam ganhos com o suporte oferecido. “Sempre foi difícil implantar um projeto comportamental como esse aqui no hospital. Precisávamos trabalhar nossas fraquezas para atingirmos nossas metas”, destaca.
O diretor técnico da Feam, Adilson Bernardo, confessa que estava reticente quanto à aceitação desse trabalho, mas garante que a receptividade superou as expectativas. “Ficamos com medo de nossos colaboradores acharem que não tínhamos confiança neles. Mas eles entenderam o propósito, que é dar apoio aos que cuidam”, conclui Adilson.